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O que é marketing? 23 1.3 Mercados de marketing Vídeo Quando paramos para pensar nas possibilidades de mercados de marketing que podemos considerar, em um primeiro momento é comum lembrar do varejo e dos serviços, mas depois percebemos que na realidade são muitas. Assim como existem grandes possibilidades de se trabalhar com o marketing, existem possibilidades de mercado! Em uma perspectiva de gestão, as principais formas de segmentar as estratégias de marketing são em varejo, serviços e institucional. Os dois primeiros conseguem promover mais estudos e desenvolvimentos de técnicas que podem ser adaptados em diversas realidades de negócios, já o institucional podemos dizer que está mais focado em perspectivas não lucrativas. Conhecer como trabalhar com os mercados de varejo e serviços nos fornece uma visão de possibilidades de desdobramentos do marketing. A seguir, vamos apresentar um pouco sobre essas possibilidades. Começando pelos serviços, a primeira coisa que precisamos saber é que há pontos bastante complexos que necessitam ser considerados, mas que também oferecem boas oportunidades. Os serviços podem ser definidos como “qualquer ato ou desempenho, essencialmente intangível, que uma parte pode oferecer a outra e que não resulta na propriedade de nada” (KOTLER; KELLER, 2018, p. 382), o que significa que os principais benefícios são abstratos, mas servem para atender a necessidades reais dos consumidores. Em contrapartida, o fato de ser intangível, ou seja, não palpável, faz com que haja a possibilidade de adaptá-los ou realizar ajustes nos serviços com maior facilidade. Existem outras características importantes dos serviços que precisamos lembrar, como a questão de não poderem ser armazenados e de existir uma simultaneidade da oferta e do consumo que permite haver maior troca de informações e que exige maior cuidado com a padronização. Os serviços estão cada vez mais em evidência, muito por conta da realidade digital. Percebemos a natureza “impalpável” da internet, afinal, “muitas prestadoras de serviços propriamente ditas usam a Internet para chegar aos clientes; algumas são inteiramente virtuais” (KOTLER; KELLER, 2018, p. 382). Uma forma de o marketing conseguir aumentar a confiança no serviço e diminuir um pouco da sua característica abstrata seria investir em fortalecer a imagem da marca. Desse modo, é possível conferir uma Call to action Inteligência de mercado Comportamento do consumidor pesquisa de mercado crm Análise de comportamento Neuromarketing Planejamento estratégico e operacional User experience MARKETING SENSORIAL MARKETING DIGITAL Resultados -chave FUNDAMENTOS DE FUNDAMENTOS DE marketingmarketing Jeanne Botelho Maciel comunicação integrada Fundam ent os de M arket ing Jeanne B ot elho M ac iel Código Logístico 00000 Código Logístico I000588 ISBN 978-65-5821-136-5 9 786558 211365 Fundamentos de Marketing Jeanne Botelho Maciel IESDE BRASIL 2022 Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br © 2022 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito da autora e do detentor dos direitos autorais. Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Iurii Motov/Shutterstock - Envato/Pixflow - Envato/PureSolution - Envato/VProxy CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ M188f Maciel, Jeanne Botelho Fundamentos de marketing / Jeanne Botelho Maciel. - 1. ed. - Curiti- ba [PR] : IESDE, 2022. . 110 p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-65-5821-136-5 1. Marketing. 2. Comportamento do consumidor. 3. Marketing digital. I. Título. 22-77234 CDD: 658.8 CDU: 658.8 Jeanne Botelho Maciel Mestre em Administração pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Docente no Ensino Superior, na pós-graduação presencial e a distância. Sócia-fundadora de consultoria de estratégia de empresas multinacionais nacionais e internacionais e head de marketing com experiência em áreas de tecnologia, saúde, finanças e bebidas em empresas internacionais e nacionais nos mercados português e brasileiro. Expert nas áreas de negócios com viés digital em posições estratégicas ou de alta gestão. Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! SUMÁRIO 1 O que é marketing? 9 1.1 Definições e conceitos de marketing 10 1.2 Segmentação, pesquisa e inteligência de mercado (BI) 16 1.3 Mercados de marketing 23 1.4 Ética no marketing 26 2 Conhecendo o comportamento do consumidor 30 2.1 Definições e processos do comportamento do consumidor 31 2.2 Comportamento do consumidor nas estratégias de marketing 35 2.3 Processo de decisão do consumidor 39 3 Estratégias de marketing off-line e on-line 47 3.1 Planos e ações de marketing 48 3.2 O consumidor on-line nas estratégias de marketing 51 3.3 Indicadores de gestão de marketing (KPI e OKR) 56 3.4 Inovação e empreendedorismo no marketing 60 4 Marketing no digital 67 4.1 Experiência do consumidor on-line 68 4.2 UX e UI 72 4.3 Relacionamento com o consumidor on-line 75 4.4 Marketing de mídias sociais 78 5 Tendências de marketing 85 5.1 Marketing e comunicação integrada 86 5.2 Marketing de relacionamento 89 5.3 Neuromarketing e marketing sensorial 94 5.4 Geração de conteúdo pelo consumidor on-line 98 Resolução das atividades 105 Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! Por que algumas empresas fazem sucesso e outras não? O que diferencia uma organização bem sucedida de uma que não teve adesão dos consumidores? Parece simples, mas a verdade é que cada vez mais o mercado assimila que tratar de estratégias em negócios envolve conhecer o marketing. Os gestores e tomadores de decisão já entenderam que – principalmente com a realidade digital – obter resultados para a organização exige conhecer bem o seu público, a sua concorrência e como evidenciar os diferenciais da sua marca. Por essa razão, destacar-se em diferentes áreas organizacionais exige entender como aplicar pelo menos alguns fundamentos do marketing estratégico, e é exatamente isso que veremos neste livro. No primeiro capítulo, nosso ponto de partida será conhecer o que realmente é o marketing – termo que escutamos com tanta frequência – e quais as suas principais definições, conceitos e características-chave. O passo seguinte será saber como segmentar corretamente o mercado e como desenvolver e aplicar pesquisas de mercado, o que nos ajudará a conhecer como a inteligência de mercado participa das estratégias e decisões no ambiente on-line e off-line. Outro ponto vital do qual trataremos será entender que todos os posicionamentos estratégicos, ações e mecanismos precisam seguir valores éticos propostos no país. No segundo capítulo, conheceremos as principais definições e características-chave do comportamento do consumidor e sua relevância para as estratégias de marketing off-line e digital. Esse passo nos ajudará a compreender como o marketing pode participar do processo de decisãosação/motivação para praticamente todos os momentos de sua vida. Nessa história, é possível acompanhar como a protagonista pensa antes de comprar, como surge o impulso, a satisfação pós-compra e, muitas vezes, o arrependimento por ter comprado o que não devia. É um filme leve, que apresenta alguns aspectos mais complexos do comportamento de compra, quando se torna uma compulsão e como trabalhá-lo. Direção: HOGAN, J. P. EUA: Touchstone Pictures; Jerry Bruckheimer Films, 2009. Filme Conhecendo o comportamento do consumidor 35 por isso deve ser mais amplo. De acordo com Solomon (2016, p. 34), uma “visão mais abrangente enfatiza o processo de consumo, o que inclui as questões que influenciam o consumidor antes, du- rante e depois da compra”. Somente dessa forma as marcas conse- guem se manter presentes na memória do consumidor, alcançando assim melhores resultados. Com isso, podemos afirmar que o comportamento do consumi- dor vai analisar como o público identifica uma necessidade e como seria possível a sua conversão em um desejo. Esse público pode ser um indivíduo, um grupo de pessoas ou até mesmo uma orga- nização. O comportamento do consumidor vai buscar identificar padrões e tendências que ajudem nessa conversão de uma neces- sidade em desejo. 2.2 Comportamento do consumidor nas estratégias de marketing Vídeo Conhecer o comportamento do consumidor permite que toda or- ganização consiga otimizar as suas estratégias, das compras de maté- ria-prima até a promoção da marca. Tudo passa por entender o que o seu público-alvo percebe como um diferencial, ou seja, como algo que entrega valor e se converte no desejo de consumo. O mesmo vale para empresas que buscam se manter competitivas, independentemente do mercado, do segmento ou da orientação, se é para o público final ou para outras organizações (B2B e B2C 1 ). Ou seja, estar voltada para o mercado e para conhecer o seu consumidor influencia o desempe- nho corporativo. Para ilustrar a importância do comportamento do consumidor, va- mos lembrar o que consideramos quando precisamos escolher um presente para alguém. Se você conhece a pessoa, o que ela gosta, o que ela tem interesse, fica mais fácil de fazer essa escolha, certo? O mesmo acontece no marketing para que se consiga entregar uma de suas funções-chave: atender às necessidades dos consumidores e ge- rar valor mútuo nesse processo. Tanto é assim que a própria definição de administração de marketing o apresenta como “a arte e a ciência de selecionar mercados-alvo e captar, manter e fidelizar clientes por meio da criação, entrega e comunicação de um valor superior para o cliente” 36 Fundamentos de Marketing (KOTLER; KELLER, 2018, p. 3). Ou seja, o marketing é responsável por fazer com que a empresa entenda o mercado, como os seus clientes se comportam, como converter, nesse processo, as suas necessidades em desejos e, assim, gerar a demanda. Complementando essa visão, Kotler e Keller (2018, p. 38) apresentam que: Os principais ingredientes do processo de administração de marketing são as estratégias e os planos criteriosos e criativos, capazes de orientar as atividades de marketing. Desenvolver a estratégia certa de marketing ao longo do tempo requer uma combinação de disciplina e flexibilidade. As empresas devem se ater a uma estratégia sem deixar, porém, de aprimorá-la cons- tantemente. Devem também desenvolver estratégias para uma gama de produtos e serviços dentro da empresa. É o conhecimento sobre o comportamento do consumidor que vai ajudar o marketing a ter essa capacidade de flexibilização e atualização. Solomon (2016) reforça que esse conhecimento ajuda as empresas a definir o mercado e identificar ameaças e oportunidades para uma marca. Esses são os pontos de partida para as estratégias de marketing. Como funciona essa questão de gerar valor para o negócio? Existem diferentes maneiras de verificar o valor. A mais conhecida – e erronea- mente considerada por muitos o foco exclusivo do marketing – é o fa- turamento, mas o marketing busca também gerar o brand equity (que em português significa patrimônio da marca), geralmente associado à valorização da marca na perspectiva financeira, e o brand awareness (que em português significa consciência da marca), associado ao reco- nhecimento que a marca possui do público em geral. Gerar valor Brand equity Brand awareness Para haver essa geração de valor, Kotler e Keller (2018) indicam que seriam necessárias três etapas, são elas: Michael Solomon, autor de O comportamento do consumidor: comprando, possuindo e sendo, é consi- derado um dos principais pesquisadores sobre o tema e possui uma boa vivência de mercado. Essa obra é uma leitura obrigatória para entender o que monitorar e como incluir o comportamento do consumidor nas estra- tégias de marketing. SOLOMON, M. Porto Alegre: Bookman, 2016. Livro Ar to s/ Sh ut te rs to ck Conhecendo o comportamento do consumidor 37 2.2.1 Seleção de valor Devemos conhecer quais diferenciais serão mais interessantes para o público da organização. Neste ponto, evidencia-se a importância de segmentar o público-alvo para entender o que é visto como valioso pe- los consumidores e prováveis consumidores da marca – esse deve ser o ponto de partida para qualquer estratégia. Uma constatação interes- sante é que cada vez mais as pessoas buscam a sensação de ser úni- co, diferente e individual, buscando marcas que entendem e oferecem esse tipo de sensação (SOLOMON, 2016). Solomon (2016) reforça que os consumidores possuem caracterís- ticas diferentes, estão em lugares e sob influências diversas, por isso comportam-se e reagem de maneiras distintas. Com isso, a maneira como irão selecionar e identificar o que lhes é valioso será diferente. Por exemplo, com a realidade do e-commerce, marcas como a Amazon primam pela velocidade da entrega, por isso o consumidor, caso con- suma outros produtos, como o Amazon Prime (do segmento de en- tretenimento), não precisará pagar a taxa do frete. Fora isso, para se diferenciar ainda mais da concorrência que já oferece o frete grátis, a marca avisa o consumidor quando o produto adquirido saiu para entrega, possibilitando que ele avise alguém para receber a encomen- da em seu lugar caso não esteja em casa. Por esse motivo, algumas pessoas não compram em outros marketplaces 2 Marketplace pode ser considerado um shopping on-line. Trata-se de um portal de divulgação de várias lojas, de diversos segmentos, que anunciam seus produtos e concor- rem pela atenção e aquisi- ção do consumidor. 2 . 2.2.2 Fornecimento de valor Para conseguir fornecer valor, a marca precisa combinar o conhe- cimento do que o seu público busca com o que ela consegue entre- gar. Isso significa que o marketing precisa conhecer profundamente a própria organização, os atributos do seu produto e/ou serviço e como melhor se posicionar em relação à sua distribuição, ao seu preço e ao seu valor (KOTLER; KELLER, 2018). Devemos diferenciar valor de preço na perspectiva do marketing: preço é o que é pago pelo bem ou serviço, já valor é a percepção da importân- cia, ou seja, se algo é acessível, justo, caro etc. O que as marcas buscam é obter a percepção de que valem mais do que o custo de aquisição. Esse valor fornecido pela organização é encontrado no alinhamento das expec- tativas do público-alvo, mapeado por meio do conhecimento do que a mar- 38 Fundamentos de Marketing ca efetivamente consegue entregar de diferente, ou seja, melhor do que a concorrência. 2.2.3 Comunicação de valor Podemos resumir esse ponto afirmando que no mercado não basta ser, é preciso comunicar que se é. Ou seja, a sua capacidade de fornecer valor precisa estar evidenciada, ser comunicada para o público-alvo. A empresa precisa divulgar o seu nome e gerar associações positivas de valor para o consumidor ao ponto de ele se sentir confortável para reco- mendar a marca. O boca a boca (WOM – em inglês, word of mouth)possui um poder ainda maior na realidade on-line. Basta pensarmos na veloci- dade com que uma opinião, positiva ou negativa, pode se espalhar em fóruns on-line e mídias sociais, por isso todas as etapas das estratégias de marketing devem contemplar também o digital. Etapas que podem ajudar a evidenciar o valor da marca precisam manter um olhar estra- tégico sobre a coerência do que é comunicado. Portanto, devemos nos atentar a algumas áreas que influenciam diretamente a divulgação de valor, como a comunicação, a força de vendas, o atendimento e o endo- marketing 3 O endomarketing está associado a estratégias de marketing para o público interno da organização (funcionários, revendedo- res e acionistas). 3 – lembrando que os colaboradores são grandes multiplica- dores de opinião sobre uma empresa. Este último passo complementa o que é conhecido como o ciclo virtuoso das estratégias de marketing. Conforme Kotler e Keller (2018), os gestores, de diferentes áreas, precisam ter em mente que os resultados das empresas não são defi- nidos pela técnica e eficácia que seus produtos e serviços podem en- tregar por si só. É preciso entender o que pode ser percebido como valor, saber como abordar e como entregá-lo ao seu público, tanto no contexto digital como no presencial. Dessa maneira, fica mais evidente a necessidade de as empresas in- vestirem em segmentar e conhecer seu público-alvo, o que gerará valor para toda a empresa e contribuirá para todas as etapas das estratégias organizacionais e de marketing. Devemos buscar também a diferencia- ção perante a concorrência, a satisfação de expectativas e a geração de valor para que o consumidor tenha interesse na marca, levando-o eventualmente a desenvolver um relacionamento com essa organiza- ção. Para isso, o comportamento do consumidor deve ser constante- mente estudado, monitorado pelo marketing e compartilhado com as demais áreas da empresa. Conhecendo o comportamento do consumidor 39 2.3 Processo de decisão do consumidor Vídeo O primeiro fato que precisamos ter em mente é: se não consegui- mos saber com quem estamos falando, não saberemos quais são as suas necessidades, seus estímulos e suas influências de decisão (SOLO- MON, 2016). O segundo é que todo o processo de decisão ocorre, ini- cialmente, com a identificação, de maneira consciente ou inconsciente, de uma necessidade ou de um problema das pessoas. O terceiro é que o objetivo das estratégias de marketing, de maneira geral, é ser a marca da qual o consumidor se recorda e que é por ele escolhida. Para isso, é preciso entendermos em que o marketing pode influenciar nesse pro- cesso. Existem algumas etapas (Figura 2) nessa construção das quais precisamos estar cientes. Ra ul Al m u/ Sh ut te rs to ck Pr em iu m ve ct or s/ Sh ut te rs to ck Fi tri d ia nt i8 8/ Sh ut te rs to ck AN TS TU DI O/ Sh ut te rs to ck Identificação Estímulos Influências Decisão Figura 2 Construção da decisão Fonte: Elaborada pela autora. Explorando mais esse processo na perspectiva gerencial, o que é preciso saber para conseguir fazer com que a nossa marca faça parte do processo? Precisamos conhecer quais são as necessidades do pú- blico e a que tipo de estímulos ele responde mais, isto é, influências sociais, situacionais, culturais, psicológicas e/ou pessoais, por exemplo (CHURCHILL JR.; PETER, 2012). Outro motivo que permite que pessoas 40 Fundamentos de Marketing identifiquem que precisam adquirir algo pode ser a ideia preconcebida do que seria a “situação ideal” e o que pode estar faltando para isso. Kotler e Keller (2018, p. 179) complementam afirmando que: o processo de compra começa quando o comprador reconhece um problema ou uma necessidade desencadeada por estímulos internos ou externos. No primeiro caso, uma das necessidades normais de uma pessoa – fome, sede, sexo – sobe para o nível de consciência e se torna um impulso. No segundo caso, em que a necessidade é provocada por estímulos externos, uma pessoa admira o carro novo de um amigo ou vê uma propaganda de férias no Havaí na televisão, o que desencadeia ideias sobre a possibilidade de fazer uma compra. Ou seja, a constatação de necessidade e a construção do impulso podem ser compostas de diversas entradas sensoriais. Além dos cinco sentidos – olfato, audição, tato, paladar e visão –, temos pelo menos mais 22 entradas sensoriais, responsáveis por estímulos externos e internos, o que significa que há muitas possibilidades para o marke- ting conseguir participar da construção de uma decisão. Para entender como adotar estratégias eficazes, devemos compreender quais são as diferenças entre estímulos externos e internos de reconhecimento de necessidades. De acordo com Churchill Jr. e Peter (2012): Estímulos internos: a percep- ção do indivíduo de que algo falta para atender a uma neces- sidade fisiológica, de recursos (financeiros e de acesso), de suas preferências e de conhecimento. Algo de que precisa devido aos seus valores pessoais, ao seu es- tilo de vida, à sua personalidade e à crença na relevância de tal compra para a sua vida. Estímulos externos: envolve os estímulos do ambiente, como a sociedade na qual o indivíduo está inserido, o espaço, a cultura e a sua estrutura, além das rela- ções familiares. Am m us /S hu tte rs to ck Conhecendo o comportamento do consumidor 41 Assim, começamos a entender por que é tão importante entender os estímulos, pois é exatamente aí que o marketing entra em jogo, já que ele visa converter necessidades em desejos, buscando convencer o cliente de que tal marca seria a melhor opção (se não a única) para complementar o que lhe falta. E esse é o ponto de partida de todo o processo decisório que, segundo Kotler e Keller (2018), ocorre em cinco etapas, podendo ser invertidas ou até mesmo não utilizadas de acordo com mercado e o segmento. Só para deixar claro, não se trata de passos obrigatórios em uma determinada ordem ou estrutura que engessa esse processo, entretanto é importante conhecer cada uma das etapas e entender como funcionam em qualquer situação. Então, vamos lá, quais são essas etapas e como elas funcionam? 1. Reconhecimento de necessidade/problema Já vimos que esse é o ponto de partida, que consiste na identificação dos estímulos (SOLOMON, 2016). De acordo com Kotler e Keller (2018, p. 180), “os profissionais de marketing precisam identificar as circuns- tâncias que desencadeiam determinada necessidade pela coleta de in- formações entre vários consumidores. Assim, eles podem desenvolver estratégias de marketing que provoquem o interesse do consumidor”. Ou seja, é preciso saber quem é o seu público, estudar o seu compor- tamento, para então entender como converter essa necessidade em desejo e o que oferecer. 2. Busca de informações Nesse passo, o consumidor busca se informar sobre quais possi- bilidades de escolha ele teria. Existem diferentes graus de busca, ou melhor, de adesão à busca, que podem variar de acordo com o perfil do produto e/ou serviço e com a percepção de valor e de risco, caso se faça a escolha errada. Essa percepção de risco geralmente está associada a um ticket médio mais elevado (preço médio), que pode ge- rar prejuízo financeiro ou social (opinião dos outros). Segundo Kotler e Keller (2018), essa é uma das etapas que muitos consumidores pulam. Somente cerca de 30 a 50% das pessoas se informam, estudam e com- param antes de adquirir um produto e/ou serviço, mesmo no caso de 42 Fundamentos de Marketing bens duráveis (itens geralmente mais caros, com uma duração de utili- zação maior, como eletrodomésticos e carros, por exemplo). Ainda sobre a busca por informações, precisamos lembrar que a influência das fontes também pode variar. As que o público entende que podem ser fornecidas pelo marketing (geralmente são as mais dis- poníveis, acessíveis em comerciais, sites, blogs etc.), teriam menos re- levância do que as fornecidas por conhecidos ou independentementedas marcas (KOTLER; KELLER, 2018). 3. Conjunto de escolhas Pode ser entendido como um processo de triagem em que somente algumas marcas passam a ser consideradas concorrentes ou opções que podem ser escolhidas. Esses conjuntos seriam condensados em: Total: todas as marcas de um segmento. Conscientização: as marcas que mais cativaram a atenção e são consideradas possibilidades. Consideração: as marcas que se destacaram na conscien- tização passam a ser consideradas mais aptas para aten- der às expectativas e serem escolhidas. 4. Avaliação das alternativas As marcas que não geram valor são descartadas. Geralmente esse processo é diferente para cada pessoa e aquisição, o que motiva o marketing a estar preparado para fornecer o máximo possível de infor- mação (promoção, publicidade e formadores de opinião), ter coerência no posicionamento antes e depois da compra, considerar tendências de mercado e feedbacks sobre a experiência de aquisição e funcionali- TA RA SI RI /S hu tte rs to ck Conhecendo o comportamento do consumidor 43 dades do produto ou serviço e se atentar ao que é divulgado nos fóruns e mídias sociais. Nessa etapa a informação influencia muito o comportamento do consumidor e as crenças e atitudes prévias associadas ao processo de aprendizagem do indivíduo. De acordo com Kotler e Keller (2018, p. 181-182), “uma crença é o pensamento descritivo que alguém man- tém a respeito de alguma coisa. Tão importante quanto essa crença são as atitudes, que correspondem a avaliações, sentimentos e ten- dências de ação duradouras, favoráveis ou não, em relação a algum objeto ou ideia”. Muitas dessas decisões são tomadas levando em con- sideração aspectos que podem interferir na avaliação das alternativas, como os atalhos mentais ou as heurísticas, ou seja, a pessoa não pre- cisaria “pensar muito”. Solomon (2016) complementa afirmando que essas decisões (escolhas ou julgamentos) rápidas quase sempre são apoiadas em crenças, atitudes e atributos, os quais funcionam como gatilhos, por exemplo: “se o estabelecimento está vazio, ele não é tão bom”, “o barato pode sair caro” e por aí vai. O hábito também entra nessa listagem de gatilhos heurísticos, pois o cérebro prefere escolher algo já conhecido, não exigindo o esforço de identificar vantagens entre diversas alternativas. 5. Decisão Dentre as alternativas disponíveis em um segmento, algumas se destacam e passam para a decisão. É aqui que o consumidor vai ter duas etapas de decisão: a intenção de compra e a efetivação. Por que é importante essa divisão? Porque muitas vezes a intenção pode ser a de adquirir uma marca, mas outros fatores podem impedir isso, como al- teração de preço, ruptura de estoque, experiência negativa ou um novo comentário negativo nas mídias sociais. Justamente para ser eficaz, o marketing deve ter planos de ação para ambas as situações, a fim de evitar prejuízos à imagem da marca, perder a venda e facilitar a venda para concorrentes. Solomon (2016) observa que o marketing também precisa desen- volver relacionamentos mais fortes com o cliente para promover de- cisões de consumo orientadas por emoções e associações positivas com a marca (emocional), pelo almejo do cliente em pertencer a um determinado grupo (social) ou por necessidades primárias (como as heurística: gatilho mental que ajuda a tomar deci- sões de maneira rápida, quase automática. Glossário 44 Fundamentos de Marketing fisiológicas). Inclusive, para Kotler e Keller (2018, p. 184), a maioria das pessoas busca a validação da sua decisão, ou seja, a confirmação de que fez a melhor escolha: “o consumidor pode experimentar uma dis- sonância cognitiva. Ele ficará então atento a informações que apoiem sua decisão. As comunicações de marketing devem proporcionar cren- ças e avaliações que ajudem o consumidor a se sentir bem em relação a sua escolha”. 6. Comportamento pós-compra Estrategicamente é importante saber como foi a experiência de aquisição do produto ou serviço, de utilização e até mesmo do seu pos- sível descarte. Esses pontos devem ser analisados com estímulos exter- nos e internos para ajudar a identificar novas necessidades e padrões de comportamento do público-alvo. Nessa fase, é possível observar um ponto sensível do marketing: a satisfação do cliente. Vale acrescentar que essa satisfação está associada à superação positiva das necessida- des ou à ideia construída em relação à marca. Constantemente, fazer entregas com valor percebido para o cliente permite que haja a possibi- lidade de desenvolver um relacionamento entre o consumidor e a em- presa (SOLOMON, 2016). Conseguir construir esse “ciclo de feedback” ajuda a gestão a direcionar esforços e orçamento. Reforçando que há diferenças em como o marketing pode influenciar também no consu- mo de bens, ideias, serviços e personalidades. Toda essa jornada de influência no processo de decisão precisa contemplar o conhecimento sobre as especificidades do público com o qual se trabalhará e do mer- cado de atuação. Outra etapa importante a ser observada no pós-compra é o descar- te do produto por ele fazer parte do ciclo de compra. Para o marketing é essencial entender como os vínculos entre as empresas e o consu- midor influenciam a forma desse descarte e como ele acontece, pois, dessa maneira, podem ser adotadas estratégias de descarte consciente ou elaboradas justificativas para que o produto se torne algo colecioná- vel ou para que se atrase o descarte. Kotler e Keller (2018) indicam que a preocupação com a sustentabilidade e com o meio ambiente deve ser considerada desde o design do bem, ou seja, já na criação se deve prever como a maioria dos consumidores farão o descarte de maneira correta e ética. A proposta do filme Obso- lescência Programada (The Light Bulb Conspiracy) é mostrar como organiza- ções estão utilizando a estratégia de obsolescên- cia programada para criar uma compra. Pelas regras de marketing, esse tipo de compra por atualização de modelo é promovido por argumentos de cunho social e emocional, e o documentário apresenta como empresas estão incluindo um “tempo de vida útil” para o que é produzido para “forçar” uma nova compra. A obra convida a questionar a ética desse tipo de posicionamento. Direção: Cosima Dannoritzer, Steve Michelson. Espanha: RTVE, Televisão da Catalunha, Televisión Española, 2010. Disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=pSPeuUOJqzI. Acesso em: 25 jan. 2022. Documentário https://www.youtube.com/watch?v=pSPeuUOJqzI https://www.youtube.com/watch?v=pSPeuUOJqzI Conhecendo o comportamento do consumidor 45 Sendo assim, o processo de decisão visa evidenciar as etapas que gestores precisam considerar para participar e influenciar as escolhas do consumidor. Para isso, é preciso entender como o conhecimento em relação ao comportamento do público-alvo e do produto pode me- lhorar as ações de marketing. Essa é a chave para se desenvolver es- tratégias de marketing mais assertivas e obter um retorno melhor dos investimentos. Outro aspecto importante é entender como funciona o processo de- cisório dos indivíduos e como exercer influência sobre essas escolhas. É preciso lembrar que o processo de decisão não é algo padronizado e engessado, ele pode variar de acordo com as pessoas e o segmento. Saber o que influencia desde a conscientização da necessidade até o descarte (ou troca de marca), quando o produto ou serviço não aten- de mais às expectativas, é extremamente importante. O gestor preci- sa estar preparado para constantemente buscar entender nuances de comportamento em busca de obter a satisfação e, possivelmente, a fidelidade do consumidor. Dessa forma, será possível obter mais van- tagem em relação à concorrência. CONSIDERAÇÕES FINAIS O ponto de partida para todo processo de decisão é a constatação pelo indivíduo de que algo lhe falta, por isso as marcas buscarão ser as mais qualificadas para atender àquela necessidade ou àquele desejo. Por isso,investir em maneiras de mapear os consumidores da marca e conhe- cer o seu comportamento é decisivo para o resultado. Por essa razão, o comportamento do consumidor precisa ser constantemente estudado e incorporado às estratégias de marketing e organizacionais. Outro ponto que precisa ser avaliado pelos gestores é como participar corretamente do processo decisório do consumidor, sabendo que esse processo possui etapas que funcionam como um funil, permitindo que o indivíduo escolha a que mais lhe convém dentre a ampla concorrência, in- dependentemente do segmento, e como essa marca em questão conse- guirá entregar valor ao seu dia a dia. A decisão passa por conseguir gerar satisfação recorrente, o que permitirá que a empresa comece a desenvol- ver um relacionamento com o cliente pautado no ganha-ganha, ou seja, na geração de valor mútuo. Esse relacionamento ajuda a manter a vanta- gem competitiva e, eventualmente, a construção da fidelidade da marca. 46 Fundamentos de Marketing ATIVIDADES Atividade 1 Se o comportamento do consumidor se dedica a identificar e analisar padrões e tendências de consumo, seria mais eficaz que a análise da realidade digital, que possui um público mais amplo, fosse feita por um software? Justifique. Atividade 2 O que pode acontecer quando a perspectiva de valor da organiza- ção e o que o público busca estão desalinhados? Explique. Atividade 3 Se o marketing participa do processo de decisão influenciando o consumidor, em qual etapa ele se torna evidente? Explique. REFERÊNCIAS CHURCHILL JR., G. A.; PETER, J. P. Marketing: criando valor para os clientes. Trad. de Cecília C. Bartalotti. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. HOLBROOK, M. B. What is consumer research? Journal of Consumer Research, v. 14, p. 128- 132, jun. 1987. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1086/209099. Acesso em: 9 fev. 2022. KOTLER, P.; KELLER, K. L. Administração de marketing. 15. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2018. SCHIFFMAN, L. G.; KANUK, L. L. Consumer behavior. 7. ed. Upper Saddle River: Prentice-Hall, 2000. SHETH, J. N.; MITTAL, B.; NEWMAN, B. I. Comportamento do cliente: indo além do comportamento do consumidor. Trad. de Antônio Carlos de Almeida. São Paulo: Atlas, 2001. SOLOMON, M. R. O comportamento do consumidor: comprando, possuindo e sendo. Trad. de Beth Honorato. 11. ed. Porto Alegre: Bookman, 2016. Estratégias de marketing off-line e on-line 47 3 Estratégias de marketing off-line e on-line Todos nós, em algum momento da vida, já ouvimos falar sobre estra- tégia. Esse termo tem sido amplamente utilizado em diferentes contextos, mas quase sempre associado a um plano, e essa associação não está muito longe da realidade. A estratégia está relacionada à definição de um objetivo, sabendo claramente onde se quer chegar, o que proporciona a identificação das melhores rotas e do melhor planejamento para o atingir. Na realidade organizacional, a estratégia formalizada ajuda a melhorar o posicionamento da organização, a minimizar possíveis pontos de atenção, a identificar metas e a aperfeiçoar resultados. O marketing contribui forte- mente para a identificação e definição da estratégia organizacional, tendo em vista o conhecimento que possui sobre quem é e como se comporta o consumidor da empresa. Para entendermos o que é essencial considerar para atingir o po- tencial da organização, neste capítulo vamos conhecer as possibilidades estratégicas de marketing off e on-line. Para tal, faz-se necessário avaliar aspectos estratégicos a serem considerados nos planos de marketing para melhorar a assertividade, de acordo com o comportamento do consumidor-alvo em ambas as realidades. É interessante um olhar mais atencioso para a tendência de mercado digital e para o que precisa ser considerado e analisado nas suas estratégias. Para saber como gerir a estratégia na prática, é importante conhecer indicadores de gestão, como os Objectives and Key Results (OKRs) e os Key Performance Indicator (KPIs), e também como a inovação e o empreende- dorismo precisam ser considerados estrategicamente para contribuírem no dia a dia com os resultados organizacionais. Pronto para conhecer mais desse mundo estratégico? Este capítulo contribuirá para o entendi- mento das perspectivas estratégicas – independentemente do segmento ou da realidade – e de como fazer a sua gestão. 48 Fundamentos de Marketing Com o estudo deste capítulo, você será capaz de: • entender os aspectos estratégicos a serem considerados nos planos de marketing para melhorar a assertividade, com base no comportamento do consumidor-alvo, tanto off-line como on-line; • compreender como o comportamento do consumidor on-line pode ser analisado e incorporado às estratégias de marketing; • entender como atribuir e implementar os indicadores de gestão no marketing; • compreender o papel da inovação e do empreendedorismo no marketing em diferentes realidades. Objetivos de aprendizagem 3.1 Planos e ações de marketing Vídeo Apesar de o termo estratégia ter se popularizado nos últimos 30 anos na realidade dos negócios, ele é um conceito milenar. A primeira vez que se registrou uma referência à estratégia foi no livro do general chinês Sun Tzu, A arte da guerra (século IV a.C.), no qual são aborda- dos táticas e métodos que permitiriam ao exército chinês ampliar as suas possibilidades de vitória em territórios diversos. Inclusive, a ca- pacidade de encontrar rotas para obter essa vitória pode ser a razão para o termo ser tão utilizado em quase todas as áreas da sociedade. Na realidade corporativa, as empresas precisam de estratégias para se manterem competitivas e manterem a sua vantagem perante o merca- do, pois essa seria uma vitória mercadológica. Além de alternativas para atingir um objetivo, as estratégias nos ne- gócios permitem que saibamos como os recursos internos (que incluem a perspectiva financeira) podem ser alocados de maneira mais assertiva e com melhores resultados. Para Harrison (2004), conseguir desenvolver a estratégia seria o equivalente a guiar a organização pelo melhor ca- minho para atingir um objetivo. Esse objetivo organizacional pode ser considerado a arquitetura estratégica do negócio – é a visão a longo pra- zo de o que a empresa quer e onde deseja estar no futuro. Com isso, é preciso planejar como alcançar esse objetivo, procurando desenvolver estratégias que permitam visualizar a rota que permitirá elaborar a arquitetura estratégica. Em paralelo, é necessário garantir que os meios Estratégias de marketing off-line e on-line 49 e a execução desse plano estratégico recebam o mesmo cuidado que o seu desenvolvimento, para que a implementação da estratégia seja bem-sucedida. É importante reforçar que o planejamento estratégico deve contemplar a ideia do negócio como um todo (HAYDEN, 2004), sendo chamado de planejamento estratégico organizacional. Em organizações com foco no mercado, o planejamento estraté- gico organizacional e o de marketing precisam ser próximos. Basta se lembrar de que o marketing se dedica a monitorar e entender o comportamento do público-alvo, e isso deve orientar todas as entregas da organização. O marketing também precisa atender à visão estra- tégica da organização, ou seja, para o negócio cumprir a sua visão, o marketing deve saber onde precisa estar e o que deve fazer bem-feito no presente (HAMEL; PRAHALAD, 1995). Se observarmos, esse plano para atender a um objetivo organizacional pode ser comparado a um plano de guerra, em que se avalia os recursos que possui, quem são os adversários (nesse caso, os concorrentes), como é o campo de batalha, que nesse caso é o mercado, e qual a melhor maneira de aumentar as chances de vitória. O que seria, na realidade dos negócios, o planejamento estratégico? Uma definição clássica é proposta por Mendonza e Planellas (1995): planejamento estratégico é um processo em que a tomada de decisão é formalizada e assim se traça o caminho ou a rota para se atingir umobjetivo. Nessa rota, precisam estar claros e formalizados os meios e as ações específicas a serem tomadas para que seja possível concre- tizar a visão do negócio. Pode parecer estranho, mas é bem simples. Vamos a um exemplo ilustrativo: se você sabe que quer ir de São Paulo a Curitiba, o plano estratégico é aquele que te ajuda a identificar qual a melhor estrada para chegar, como um mapa. Por isso, o planejamento estratégico precisa ser compartilhado com toda a organização – ou no caso de ser específico de uma área, com o time –, deixando claro o que e quando será feito e o resultado que se pretende alcançar. Esse cami- nho possui metas, conhecidas também como indicadores, que permi- tem que os gestores consigam monitorar a evolução e o retorno do plano, além de mensurar os resultados obtidos. Quando se fala em marketing, o planejamento precisa ser dinâmico, cíclico e formalizar o que será feito a curto, médio e longo prazo. Essa formalização, no entanto, não deve engessar o processo, pois o plano estratégico precisa prever uma flexibilidade para possíveis alterações e Estima-se que o livro A arte da guerra foi escrito 500 anos a.C. e consegue, ainda hoje, ter ensina- mentos estratégicos que podem ser adaptados a diferentes contextos. As estratégias e recomenda- ções do general ensinam a melhorar nossa percepção e a conhecer o comportamento humano. É um livro obrigatório para quem acredita que as estratégias podem ajudar a obter melhores resultados em reali- dades competitivas, independentemente do campo de batalha e das dificuldades. Se você não conhece a si mesmo e ao inimigo, sucumbirá a todas as batalhas. TZU, S. São Paulo: Jardim dos Livros, 2017. Livro 50 Fundamentos de Marketing adaptações. O marketing se orienta pelo comportamento do consumi- dor – e este pode ter mudanças de padrão – ou mesmo por oportuni- dades ou ameaças do mercado, e essa margem de flexibilização ajuda a identificar os aspectos que precisam ser considerados ou atualizados para atender aos indicadores (ou metas) macro da área. Esses indica- dores passam pela visibilidade, lucratividade, fidelidade e lealdade do consumidor, promovendo a rentabilidade da empresa a longo prazo. Para isso, é preciso lembrar que: o plano de marketing é o instrumento central para direcionar e coordenar o esforço de marketing. Ele funciona em dois níveis: estratégico e tático. O plano de marketing estratégico estabelece os mercados-alvo e a proposta de valor a ser oferecida com base em uma análise das melhores oportunidades de mercado. O plano de marketing tático especifica as táticas de marketing, incluindo características do produto, promoção, merchandising, determi- nação de preço, canais de vendas e serviços. (KOTLER; KELLER, 2018, p. 39, grifos do original) Isso significa que é preciso combinar a estratégia e a opera- ção. Existem, no entanto, algumas diferenças sutis entre o plano de marketing tático e o operacional. O tático busca monitorar e mensurar as ações propostas pelo planejamento estratégico, já o operacional está encarregado de executar as ações propostas. Assim, ao mesmo tempo que o planejamento de marketing estratégico descreve as ideias, o tático aponta os meios para alcançar os objetivos e o operacional garante a execução. Se o mapeamento e o conhecimento do compor- tamento do consumidor estiverem bem-feitos, os designs da estraté- gia organizacional e de marketing estarão alinhados às expectativas de mercado. Caso a empresa consiga obter essa combinação sinérgica, é quase uma garantia do sucesso estratégico. O cuidado, o estudo e o alinhamento das estratégias permitem, inclusive, que haja maior retorno dos investimentos (também conhe- cido como ROI, de return of investments) – um indicador financeiro importante de assertividade do planejamento e das ações de marketing. No design estratégico, esse ponto já precisa ser contemplado e apre- sentado como será medido. Na prática, para desenhar um bom plano de marketing, o gestor precisa combinar elementos como técnica, sensibilidade, adaptabilida- de e flexibilidade. A técnica seria necessária para entender e definir as Joy: o nome do sucesso conta a história de uma mãe solteira que, sem o apoio da família, resolve apostar na sua invenção. A obra retrata a importân- cia de se ter estratégias e métricas para gerir um negócio e evitar ataques de concorrentes, bem como de identificar as melhores oportunida- des. No filme, também é possível entender as dificuldades e o que é necessário para lançar um novo produto, conseguir investidores e criar uma marca de sucesso. Direção: David O. Russell. EUA: Fox 2000 Pictures; Davis Entertainment Company; Annapurna Pictures; TSG Entertainment, 2016. Filme Estratégias de marketing off-line e on-line 51 etapas, os meios e os investimentos necessários, quase como desenhar um mapa de guerra. A sensibilidade vai ajudar a captar alterações no comportamento do consumidor, na empresa ou no mercado e a identi- ficar o que pode ser feito. A adaptabilidade serve para identificar a rapidez das mudanças com potencial de influenciar os resultados. Por fim, a flexibilidade é a capacidade de ajustar pontos necessários para manter a competitividade. É importante lembrar que o plano estratégico deve equilibrar uma margem de formalismo com a flexibilidade que o mercado exige. A formalização ajuda para que todos na organização e nas áreas dos planos específicos saibam o que fazer e quais os resultados esperados. No planejamento de marketing, além de conjugar o conhecimento sobre a capacidade de entrega da organização, é preciso ter um amplo conhe- cimento dos concorrentes e do comportamento do consumidor, para otimizar as estratégias ou propor as mudanças com rapidez. Esse plano precisa contemplar o que, quando e como será feito. Vale reforçar que as estratégias e as ações propostas precisam estar alinhadas com as necessidades e expectativas do público-alvo, levar em consideração como ocorre o processo decisório nesse segmento e, as- sim, obter um posicionamento que evidencie a proposta de valor e a possibilidade de desenvolver a fidelidade de marca. 3.2 O consumidor on-line nas estratégias de marketing Vídeo Cada vez mais, o mundo está adotando a realidade digital como uma extensão do que vive no off-line. Os indivíduos buscam informa- ção, socializam, partilham opiniões e compram on-line. A verdade é que, em muitos segmentos, o virtual já possui mais adesão do que o mundo real, sendo que em alguns casos, parece até que a vida off-line é uma extensão da realidade digital. Com a Pandemia de Covid-19, a internet se tornou vital para a sobrevivência de muitos negócios, que antes eram pautados na experiência no ponto de vendas (PDV). Com a impossibilidade de se deslocar a uma loja física, e-commerce, mídias sociais e aplicativos ganharam impulso, tanto para se relacionar com as marcas como para a aquisição. Com isso, soluções que estimulam 52 Fundamentos de Marketing a curiosidade, a interação e a imersão sensorial passaram a ser mais estudadas e adotadas pelas empresas. Do ponto de vista estratégico, ainda há muitas oportunidades a serem consideradas no marketing digital. As possibilidades se ampliam à medi- da que surgem novas tecnologias de conexão e meios a serem incluídos nessa estratégia. As empresas que querem se manter competitivas já perceberam que a inclusão do digital não pode ocorrer simplesmente como algo meramente replicado do que é feito off-line nem deve ser encarada somente como uma forma a mais de comunicação. Para crescer no digital, é preciso assimilar, na cultura organizacional e nas estratégias, que se trata de um mercado paralelo, com grande potencial e regras próprias, o qual precisa estar integrado com o off-line. Afinal, é preciso conhecer quem é o consumidor e como ele se comporta em cada realidade. O comportamento do consumidor on e off-line geralmente é diferente, mesmo quando sabemosque uma pessoa pode perfeita- mente comprar de uma marca na sua loja em um momento e no seu site em outro. A necessidade, o comportamento e o processo de decisão serão diferentes em cada contexto, e precisamos nos lembrar disso. Com isso em mente, fica mais evidente que, apesar das estratégias se complementarem e de precisarem estar integradas, elas se comportam de maneira diferente e, por isso, necessitam ser diferenciadas. Essa possibilidade de contato em diferentes realidades e contextos aumenta a necessidade de haver sinergia e coerência entre o que é desenvolvido pelas marcas on e off-line. O consumidor hoje está atento à coerência, à autenticidade e ao boca a boca sobre as marcas, desde com relação ao que elas vendem até a como as pessoas se sentem em trabalhar nessas organizações. Valorizam-se as empresas que buscam desenvolver um relacionamento com o consumidor pautado no ganha-ganha, na transparência e na interação, isto é, que investem em canais de contato e relacionamentos responsivos e acessíveis. Essas marcas são percebi- das como as que se preocupam em conhecer o consumidor e as suas necessidades e que investem em oferecer algo a mais, além da qualida- de do produto e serviço. Elas investem em uma boa logística, em formas de pagamento descomplicadas e na confidencialidade de dados, tanto com sites seguros para dados bancários como com cuidados para que os dados pessoais e de contato não sejam utilizados de maneira errada – de modo a compartilhar com empresas parceiras ou bombardear informa- ções que não são interessantes para o consumidor, por exemplo. m rm oh oc k/ Sh ut te rs to ck Outro ponto importante a ser contemplado na estratégia virtual é que, nessa realidade, é mais perceptível que o indivíduo pode ser, ao mesmo tempo, consumidor e fornecedor de informações sobre produ- tos e serviços. A diferença da realidade off-line é que no on-line a esca- la de influência dessas informações, impressões e opiniões do boca a boca é muito maior. As pessoas podem ser consideradas influenciado- ras de opinião em determinados segmentos e públicos e, até mesmo, tornar-se multiplicadoras de marcas, seja por bons ou maus motivos. O grau de exigência e de assertividade estratégica do planejamento pre- cisa ser muito maior. A chave para obter bons resultados no marketing digital é entender que, nessa realidade, o objetivo é cativar e engajar o consumidor, a ponto de ele se sentir próximo e relacionado à marca e, então, comprar. No on-line, se o foco for em vendas imediatas sem o relacionamento, a chance de ser canibalizado por um concorrente por preço é grande. Além das possibilidades de termos os consumidores como gerado- res de conteúdo e informações sobre as marcas no digital, a internet hoje é vista pelas pessoas como um ponto de apoio importante a ser considerado, tanto para adquirir informação quanto para entrete- nimento, como uma forma de manter contato com as pessoas já co- nhecidas ou conhecer novas, bem como suas opiniões, experiências e histórias. O acesso às plataformas digitais tem se ampliado tanto que, muitas vezes, para se obter uma informação, consulta-se primeiro a internet, e não as mídias tradicionais (GOYANES; LAVIN, 2018). Dentro da estratégia, é possível incentivar a adoção dos canais digitais, sejam fóruns ou mídias sociais, para que as pessoas interajam com as marcas de maneira direta (em sites, blogs, e-commerces e redes sociais da O livro A bíblia do marketing digital: tudo o que você queria saber sobre marketing e publicidade na internet e não tinha para quem perguntar busca esclare- cer alguns pontos que precisam ser observa- dos quando se trata de marketing no ambiente digital, apresentando algumas teorias e conceitos que ajudam a entender mais sobre a realidade virtual. A obra contextualiza o avanço da adoção do marketing no mundo e no Brasil e apresenta dicas de como integrar estratégias para esse ambiente. TORRES, C. São Paulo: Novatec, 2018. Livro Estratégias de marketing off-line e on-lineEstratégias de marketing off-line e on-line 5353 54 Fundamentos de Marketing própria organização) e indireta (incentivando o compartilhamento de informações, experiências e opiniões entre os indivíduos). Segundo Goyanes e Lavin (2018), para direcionar as estratégias on-line, é importante entender o que motiva o público-alvo a acessar o digital. Isso pode ocorrer por vários motivos, como obter informa- ção, aprender sobre algo ou até mesmo se descontrair. Além da moti- vação, o comportamento do consumidor on-line pode ser influenciado por aspectos demográficos (idade, gênero etc.) e situacionais (como a percepção da frequência de postagem de conteúdos e o número de compartilhamentos, seguidores e acessos da marca). Parece que não, mas esses critérios são capazes de afetar a probabilidade de o indiví- duo se engajar, compartilhar e gerar informações espontâneas sobre a marca. Idealmente, para conhecer a mecânica do comportamento do consumidor on-line, é preciso entender os tipos de relacionamento (podendo ser de laços fortes ou fracos) que se pode mapear entre as pessoas e as motivações destas para utilizarem a internet, pois não se pode ignorar que o comportamento das pessoas no digital também é influenciado pelo tipo de relacionamento entre os usuários de internet, mais especificamente em mídias sociais. Para entender melhor a dinâmica que o consumidor pode ter na realidade virtual, Abrantes et al. (2013) propuseram duas teorias: 1. Teoria dos usos e gratificações (TUG) Por que as pessoas navegam na internet? É isso que a TUG busca entender: a motivação de utilização. Com isso, é possível perce- ber qual o objetivo de a pessoa estar ali, o que ela busca e o que poderia ser percebido como valioso pela estratégia de marketing. Essa teoria busca analisar se as pessoas nessa realidade já estão cientes das suas necessidades ou se é algo que identificam na rede e as faz selecionar a marca à qual seriam capazes de gerar gratificação. Essas motivações podem ser: • Válvula de escape (ou escapismo): a pessoa busca entretenimento e distração, quase como se quisesse escapar da realidade off-line. As pessoas com essa motivação preferem consumir conteúdos de baixa complexidade. • Valorização do aprendizado experiencial: a pessoa busca adquirir conhecimento sobre diversos temas e/ou aprender como fazer algo ou sobre alguma coisa de que precisa ou em que tem interesse. • Interação social: o objetivo de estar on-line é conseguir contatar sua rede de conhecidos ou conhecer pessoas novas. Também se refere à motivação de quem navega para saber sobre novidades e curiosidades de personalidades. 2. Paradigma da rede social É a teoria que busca entender o boca a boca virtual (eWOM) e como este está associado aos relacionamentos e laços fracos (membros de diferentes grupos) ou fortes (familiares e amigos) que os indivíduos têm nas suas redes. Vale reforçar que ambos são importantes para o eWOM. Outro ponto importante a ser considerado é quando o consumi- dor engaja com a marca. Esse engajamento pode ocorrer a nível de comentar sobre o que a marca (ou outra pessoa) escreveu ou, em um nível ainda maior, ele mesmo começa a gerar conteúdo. É natural que o engajamento promova o boca a boca digital, que, na busca por informações, é apontado como algo capaz de interferir nas atitudes, na adesão e nos processos de decisão do consumidor, influenciando as estratégias de marketing digital e o posicionamento que a marca preci- sa adotar. Os profissionais de marketing precisam estar atentos e mo- nitorar o conteúdo gerado pelo usuário, o user generated content (UGC), principalmente sobre marcas, pelo seu poder eWOM (KIM et al., 2015). Cada tipo de plataforma presente no ciberespaço proporciona a ge- ração de um tipo de conteúdo. Além do conteúdo, é preciso entender cada possibilidade de divulgação on-line, respeitando e, até mesmo, potencializando suas característicasbásicas. 13_Phunkod/Shutterstock Estratégias de marketing off-line e on-lineEstratégias de marketing off-line e on-line 5555 56 Fundamentos de Marketing Sites, blogs, Facebook, WhatsApp, Instagram, Twitter, TikTok etc. possuem métricas, estilos e até linguagens (estilo de conteúdo) pró- prios, que precisam ser considerados pelo marketing. Sendo assim, o marketing precisa estar preparado para integrar, com coerência e sinergia, as estratégias off e on-line. Para tal, é necessá- rio conhecer bem o seu negócio, o mercado e o comportamento do seu consumidor no ambiente digital. Nessa realidade, que já possui grande relevância estratégica, as marcas precisam contemplar conteúdos criados por elas próprias, assim como acompanhar o boca a boca e os conteúdos gerados por utilizadores do ciberespaço. O marketing pre- cisa entender o que motiva o indivíduo a estar on-line, o que engaja e o que o incentiva a interagir e a falar sobre a empresa. Esses pontos, além de influenciarem o comportamento do consumidor, influenciam o posicionamento estratégico da organização e os seus resultados. 3.3 Indicadores de gestão de marketing (KPI e OKR) Vídeo Uma coisa é fato: o sucesso estratégico só existe com a visão, o plane- jamento e a execução bem estruturados e integrados. Esses aspectos pre- cisam estar constantemente interagindo; além disso, é preciso identificar pontos de melhoria, ajustes ou oportunidades que devem ser considera- dos na estratégia, tanto no organizacional quanto, no marketing, muito pela margem de flexibilidade que o conhecimento e o monitoramento do com- portamento do consumidor conseguem proporcionar. Para simplificar a gestão dessa integração, existem metodologias e ferramentas que ajudam nesse processo, permitindo-nos visualizar, monitorar e medir os resultados de cada ação do planejamento. Esses indicadores, que equivalem as metas, podem e devem existir para gerir e acompanhar o plano estratégico organi- zacional e de cada área. É importante ter em mente que nem sempre adotar uma metodologia significa investir em softwares e ferramentas específicas; isso facilita, mas não é obrigatório, afinal os indicadores já não exigem esse investimento ou formalismo para serem aplicados. Algumas possibilidades podem ser adaptadas ao perfil do negócio. A metodologia mais conhecida no mercado começou como uma ferramenta que possuía etapas prescritivas: o balanced scorecard (BSC). Essa metodolo- gia foi criada por Kaplan e Norton (1997) e esses autores defendem que nela Estratégias de marketing off-line e on-line 57 as organizações possuem perspectivas-chave que precisam ser analisadas e distribuídas em indicadores de tendência ou de ocorrência. Essas perspec- tivas englobam aspectos internos e externos, e os indicadores propostos passam a monitorar e a medir os seus resultados. Segundo Kaplan e Norton (1997, p. 16), “a construção do Scorecard, com sua ênfase nas causas e efei- tos, induz o raciocínio sistêmico e dinâmico. Profissionais dos diversos seto- res da organização passam a entender como as peças se encaixam, como seus papéis influenciam outras pessoas e, por fim, a empresa inteira”. Para seus criadores, o BSC seria mais do que uma ferramenta de indica- dores, uma vez que “complementa as medidas financeiras do desempenho passado com medidas dos vetores que desempenham o desenvolvimento futuro” (KAPLAN; NORTON, 1997, p. 8). É devido a essa metodologia que surge o termo key performance indicator (KPI), que, na prática, corresponde aos indicadores que precisam ser monitorados. Nessa metodologia, os in- dicadores são propostos pelos gestores e comunicados às equipes. Podem ser metas tangíveis ou intangíveis e, por isso, as formas de mensurar esses indicadores podem ser quantitativas ou qualitativas e exigem um bom ali- nhamento sobre como medir cada um deles. As perspectivas-chave estão associadas a algumas áreas da empresa e os seus planejamentos estratégicos para as áreas estão subordinados à es- tratégia organizacional. Todas essas perspectivas precisam estar integradas, conforme apresenta a Figura 2. Financeiro Processos internos Visão e estratégia Aprendizagem e crescimento Cliente Fonte: Kaplan; Norton, 1997, p. 10. Figura 2 Perspectivas BSC A B C D An dr ew K ra so vit ck ii/ Sh ut te rs to ck 58 Fundamentos de Marketing Observando a figura proposta pelos autores, fica mais fácil entender que as perspectivas estão integradas entre si para atender ao objetivo da visão e do plano estratégico da organização e, em paralelo, para incentivar o sistema de comunicação, da informação e do aprendiza- do. Os indicadores propostos para cada perspectiva seguem o mes- mo princípio; então, quais seriam os objetivos das perspectivas? Veja a seguir. Financeira: avalia, geralmente, a rentabilidade e o risco financeiro que estratégias e ações das demais perspectivas podem gerar para a organização. Processos internos: consideram as estratégias de negócios e de processos que melhorem a rentabilidade e a satisfação de clientes e acionistas da empresa. Aprendizado e crescimento: analisam a possibilidade de incluir inovatividade, inovação e métricas que motivem o aprendizado (tomando como base o histórico de processos e ações que funcionaram) e o crescimento organizacional. Cliente: engloba o posicionamento de mercado que a empresa possui e busca entender como potencializar a proposta de valor da marca e a diferenciação sob a perspectiva do consumidor. Vy ac he sl av ik us /S hu tte rs oc k Essa metodologia já é bem conhecida nos segmentos industrial, de bens, varejo e serviços, devido à vantagem da boa adaptabilidade desses indicadores a diferentes arquiteturas estratégicas de diver- sos segmentos. Esses indicadores precisam estar integrados a ou- tras perspectivas e os gestores devem ser assertivos na atribuição dessas metas. Com a evolução das necessidades de negócios – principalmente pela realidade digital, que convida a rever alguns preceitos de mode- los corporativos, como hierarquia muito formalizada ou processos mais demorados –, nessa busca por velocidade e escalabilidade de resultados em empresas que ainda não estão totalmente desenvolvi- das (como as startups, que trabalham principalmente com tecnologia), surge a metodologia OKRs. O termo deriva do inglês objectives and key results e, na prática, tem como função acompanhar e mensurar a ges- Estratégias de marketing off-line e on-line 59 tão estratégica, analisando os objetivos e resultados-chave (KRs) das áreas organizacionais. Como os indicadores são propostos pelas equipes, os OKRs preci- sam que elas tenham um nível de conhecimento e engajamento maior, afinal, essas metas precisam dosar o que é possível e a necessidade de ser feito, o que estimula a equipe a se desafiar e o que é inviável de se proposto nesse momento, mesmo que os gestores desejem o contrá- rio. Ao contrário do que acontece com os KPIs, não é muito interessan- te propor um objetivo que se superou bastante ou que faltou mais de 50% para ser atingido. Esses dois casos denotam um desconhecimen- to sobre a área e sobre as capacidades de entrega. Essa metodologia, desenvolvida na Google, já possui muitas empresas adeptas no Brasil, especialmente as do segmento de tecnologia, sobretudo em razão des- sa proposta de compartilhar a responsabilidade com todas as áreas da empresa para atingimento do objetivo organizacional. Os OKRs, na prática, possuem uma mecânica que funciona de maneira semelhante a uma árvore de decisão, na qual os objetivos e resultados-chave – que, nesse caso, possuem a mesma função dos in- dicadores do BSC – são apresentados por áreas. Os resultados-chave podem ser quantitativos ou qualitativos e devem possuir uma raiz, isto é, uma estratégia maior ou principal que diga respeito a toda a organi- zação (Figura 3). Ser o maior estaleiro tecnológico do Brasil Obter um faturamento de 23 milhões por ano via site. Desenvolverum novo modelo a cada seis meses. Conseguir construir uma comunidade aquática com 1 milhão de inscritos em um ano. rik ky al l/S hu tte rs to ck Fonte: Elaborada pela autora. Figura 3 Estrutura OKRs 60 Fundamentos de Marketing O objetivo principal desse exemplo é inspiracional, mas alcançável em determinado período de tempo, que pode variar de acordo com a estratégia da empresa. A partir desse ponto, é possível traçar metas ou resultados-chave que ajudem a alcançar esse objetivo e, ao mesmo tempo, sejam mensuráveis. O fato de se conseguir medir o resultado das ações propostas permite identificar a eficácia da estratégia e, até mesmo, motivar a alcançar o objetivo. Os OKRs possuem indicado- res KRs, que podem ser quantitativos e analisados em percentuais ou milestone (termo inglês associado a marcos históricos), que basicamen- te é uma atividade ou uma meta que só consegue contribuir para a estratégia – isto é, gerar valor – se for totalmente entregue. De maneira geral, quase sempre envolvem projetos ou KRs mais estratégicos. Para a longetividade e sustentabilidade da empresa, é estratégico que os gestores passem a considerar, também, a etapa de gestão de indicadores, pois ela permite o monitoramento e a mensuração dos re- sultados obtidos nas ações de cada área, além de evidenciar o seu im- pacto na estratégia organizacional. As metodologias mais conhecidas no mercado, os KPIs e OKRs, podem ser adotadas em diversos segmen- tos, devendo ser considerada a que mais se adequar ao negócio. Ambas as metodologias permitem visualizar a evolução da operacionalização da estratégia por área organizacional e propor ajustes ou melhorias, caso seja necessário. Nas duas possibilidades, os indicadores serão atribuídos mediante uma visão ou uma arquitetura estratégica; assim, no planejamento, consegue-se visualizar quais ações podem impactar os resultados e, portanto, quais precisam ter indicadores atribuídos. 3.4 Inovação e empreendedorismo no marketing Vídeo Não é novidade que o mercado está cada vez mais concorrido. Em diversos segmentos, a busca por manter uma vantagem competi- tiva é demanda constante, e muito dessa competitividade se deve ao fato de vivermos em uma realidade dinâmica. As mudanças podem ocorrer por um conjunto de influências, como transformações tecnoló- gicas, ou por aspectos geopolíticos (que envolvem limites geográficos, processos migratórios, novas áreas produtivas etc.) e econômicos. Em paralelo, os negócios podem se modificar, também, em uma perspecti- va mais ampla, por uma transformação social e de posicionamento. Estratégias de marketing off-line e on-line 61 Ou seja, nesse contexto, é preciso encarar o fato de que houve uma mudança quanto aos padrões do que é esperado de uma organização. Em outras palavras, há um escopo maior de expectativa a ser atendido. Um impacto positivo dessas mudanças no comportamento do consumidor foi a atenção a tudo o que a empresa faz, para além da sua estratégia de marketing. Questões como sustentabilidade, ética e inovação passaram a influenciar o posicionamento e a imagem de uma organização. A busca por inovação, por exemplo, é perceptível de maneira transversal nos segmentos de mercado, pois mesmo as empresas que possuem estratégias de marketing pautadas na tradi- ção acabam inovando em um processo para manter a produtividade na divulgação, nas vendas e no que mais for permitido. Pode-se dizer que inovar é essencial para a proposta e entrega de valor para o cliente e, idealmente, deve envolver todas as áreas das organizações, inde- pendentemente de estas possuírem fins lucrativos ou não, serem de produtos e/ou serviços ou atuarem no meio digital ou off-line. A inovação é, geralmente, definida como uma novidade ou o ato de inovar. Na literatura, é possível encontrar definições já voltadas às estruturas organizacionais, como a seguinte: “um contexto multidimen- sional que inclui a intenção de ser inovativo, a infraestrutura que dá suporte à inovação, o comportamento de nível operacional necessário para influenciar o mercado e a orientação de valor e o ambiente para implementar a inovação” (DOBNI, 2008, p. 540). Parece complexo, mas resumidamente significa que a busca por inovar, no contexto organi- zacional, não seria importante somente pela concorrência, mas sim pela necessidade de evolução da organização e das necessidades do público-alvo. É relevante mencionar que, dentro da realidade de uma empresa, a inovatividade é vista como um sinônimo da inclusão da inovação no pensamento estratégico (QUANDT; BEZERRA; FERRARESI, 2015). Para gerar resultados, essa inovatividade precisa estar no DNA da empresa. É comum encontrar na literatura referências de que a inova- ção deve estar presente não só na estratégia, como também já fazer parte da cultura organizacional. Com isso, tudo que for desenvolvi- do pela empresa será com a perspectiva inovativa. Para Quandt, Bezerra e Ferraresi (2015), é possível encontrar diversos conceitos que tangenciam a inovação nos negócios (Figura 4). No filme Jobs, é possível acompanhar a histó- ria de Steve Jobs, CEO da Apple, entre a fase de implementação da empresa e o lançamento do iPod. Na perspectiva do marketing, a obra nos ajuda a entender como funciona o processo criati- vo quando se tem uma cultura organizacional ino- vadora e a necessidade de integração entre o marketing e as demais áreas da organização. Direção: Joshua Michael Stern. EUA: Silver Reel, 2013. Filme 62 Fundamentos de Marketing Inovação Associação: inovação na forma de gestão, inovação aberta, inovação em serviços e inovação organizacional. Contexto intra e/ou interorganizacional: inovação de estruturas e de procedimentos organizacionais. Tipologia: inovação em produtos/serviços, em processos, no marketing e organizacional. Figura 4 Conceitos de inovação nos negócios Vamos nos centrar na inovação no contexto de marketing. Com esse foco, a inovação em si envolve diversos processos interfuncionais e de geração de ideias para levar tecnologias ao mercado (DESCHAMPS, 2013), sendo que, nesse caso, refere-se à tecnologia como uma possi- bilidade de entregar soluções diferentes para os problemas regulares. Por essa razão, a inovatividade precisa estar presente nos negócios, para auxiliar as empresas em dois escopos: o primeiro é a tomada de decisões estratégicas que envolvem crescimento, investimentos tecno- lógicos, portfólio de projetos e criação de novas empresas; e o segundo se relaciona aos desafios de efeito a longo prazo (vistos por alguns como mais leves), por exemplo, favorecer a criatividade e a disciplina, estimular o empreendedorismo e a aceitação de riscos, incentivar o tra- balho em equipe, promover a aprendizagem, criar redes de comunica- ção interna e com o consumidor, entre outros. Estratégias de marketing off-line e on-line 63 Kotler e Keller (2018) complementam afirmando que, desse modo, fica mais evidente a necessidade da inovatividade no pla- no estratégico de marketing, uma vez que essa área precisa ser inovadora para o mercado e para influenciar a visão, a gestão e o posicionamento do próprio negócio. De acordo com os autores, a “inovação em marketing é fundamental. Ideias criativas sobre estratégia existem em muitos lugares dentro de uma empresa” (KOTLER; KELLER, 2018, p. 46), o que reforça a necessidade de a inovatividade permear diversas áreas da organização e buscar uma postura empreendedora e inovadora. Empreender está associado à habilidade de inovar e de pensar em novas soluções, de maneira autônoma, mesmo que envolvam riscos. Por isso, empreendedorismo é definido no dicionário eletrônico Houaiss como a “disposição ou capacidade de idealizar, coordenar e realizar projetos, serviços, negócios” (HOUAISS, 2009). Logo, por essa definição, já se percebe que é importante empreender em todas as áreas, utilizando as melhores competências individuais para gerar valor com autonomia. Isso significaque a equipe estaria disposta a aceitar desafios e correr riscos para uma entrega mais inovadora e que gere mais resultados. Isso não se traduz automaticamente em estruturas de gestão que não tenham hierarquia (conhecidas como estruturas horizontais), mas sim no fato de que é preciso deixar aber- to o canal de comunicação com a equipe e lhe dar uma margem de autonomia e confiança, de acordo com a função de cada um. Isso se torna menos complexo quando todos na equipe conhecem a visão e o planejamento estratégico da empresa e da área. Como na estratégia tudo é cíclico, a inovação e o empreendedo- rismo se alimentam mutuamente e, principalmente no marketing, eles se evidenciam nas soluções e ações. Quando esses valores es- tão no DNA da empresa, o marketing consegue gerar adaptações, alterações e novidades com mais facilidade e rapidez. Essa cultura organizacional inovativa motiva inclusive a integração mais fluida entre as áreas, pela troca de ideias constantes. Esses questionamen- tos sobre o que fazer de diferente com o conhecimento do mercado e do comportamento do consumidor que o marketing deve ter ge- ram valor para o cliente e refletem na organização. 64 Fundamentos de Marketing Sendo assim, é possível perceber que, em uma realidade dinâmi- ca e exigente, como a promovida pela transformação digital, as orga- nizações voltadas para o mercado precisam estar preparadas para inovar. A inovação deve estar presente desde a visão estratégica do DNA do negócio até as ações que são propostas para o marketing. Com o digital, as empresas já estão mais conscientes de que o valor de inovação, inovatividade e empreendedorismo, principalmente no marketing, impacta os resultados. Essa inovação, no entanto, vai mui- to além de soluções no âmbito da informática, estando mais voltada à tecnologia, no sentido de motivar soluções diferentes e capazes de gerar valor. A busca por inovação deve ser partilhada pelas diferentes áreas da organização. Só assim será possível desenvolver e executar as es- tratégias que serão percebidas pelo consumidor como inovadoras, diferenciadas e de valor agregado superior. Esse é um dos objetivos- -chave do marketing estratégico. CONSIDERAÇÕES FINAIS As estratégias nos ajudam a entender para onde vamos e como podemos chegar lá. Desde a arquitetura estratégica, que é capaz de fornecer a visão e o norte para a organização, até o desenho do pla- no para alcançar esse objetivo, o marketing precisa estar integrado com todas as áreas da empresa. Afinal, o conhecimento de mercado e do comportamento do consumidor gera informações vitais para en- tender o que pode ser percebido como inovador, como diferencial e como valor pelo cliente. Estimular uma cultura organizacional que valorize o pensamento estratégico permite evidenciar sua importân- cia, para não perder o foco no dia a dia, e identificar, com mais velo- cidade, possibilidades de inovação e necessidades de ajustes. Esses pontos geralmente são identificados quando há a gestão da imple- mentação da estratégia, com o conhecimento das metas e dos indi- cadores necessários para cumprir o plano e atingir as expectativas do público-alvo. É preciso incentivar uma cultura que valorize a postura empreende- dora da equipe perante o mercado, por isso o marketing estratégico quase sempre combina valores, como inovação e empreendedorismo, tanto na gestão de estratégias com foco na organização quanto no que é desenvolvido para gerar valor ao cliente. Estratégias de marketing off-line e on-line 65 ATIVIDADES Atividade 1 Se o plano estratégico de marketing precisa ser formalizado, como organizações menos formais, como as da realidade digital, o aplicam? Explique. Atividade 2 Se o consumidor pode fazer suas compras on e off-line, por que as organizações precisam investir em conhecer o comportamento do consumidor digital paralelamente? Explique. Atividade 3 No caso dos indicadores de gestão OKRs, a equipe propõe os indicadores ou os resultados-chave. Como gestor, o que é possível fazer quando se acredita que as propostas de KRs estão subesti- madas? Discorra. Atividade 4 Com a realidade digital, como é possível inovar se constantemente o mercado está se alterando? Justifique. REFERÊNCIAS ABRANTES, J. L. et al. Drivers of in-group and out-of-group electronic word-of-mouth (eWOM). European Journal of Marketing, v. 47, n. 7, p. 1.067-1.088, jul. 2013. Disponível em: https://hull-repository.worktribe.com/output/469415/drivers-of-in-group-and-out-of- group-electronic-word-of-mouth-ewom. Acesso em: 28 fev. 2022. DESCHAMPS, J. P. What is innovation governance? Definition and scope. Innovation Management, 2013. Disponível em: https://innovationmanagement.se/2013/05/03/what- is-innovation-governance-definition-and-scope/. Acesso em: 28 fev. 2022. DOBNI, C. B. 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Entretanto, para conse- guir obter esses resultados, ao invés de fazer parte das estatísticas de marcas que foram “destruídas” por subestimarem a opinião e a voz que o consumidor – ou um cliente insatisfeito – possui no meio on-line, é preciso ter estratégia. Nesse caso, o marketing possui grande participação, por isso é importante saber o que contemplar e o que analisar. É isto o que propomos neste capítulo: olhar para aspectos estratégicosdo marketing no meio digital. Um dos primeiros pontos que fazem a dife- rença para o gestor de marketing é conhecer como funciona a experiência desse consumidor on-line. Para isso, vamos apresentar aspectos vindos da experiência off-line – que podem ser adaptados – e relacioná-los com o que é específico da web. Entre os aspectos da experiência do usuário on-line, não podemos deixar de lado a usabilidade (muito associada à experiência do usuário) e a apresentação (associada ao design) da interfa- ce de uma marca, isto é, sua presença digital. Outro aspecto que é vital em qualquer negócio – seja ele virtual ou não – é a construção de um relacionamento com o consumidor. Por isso, vamos focar esse desenvolvimento na realidade digital, que precisa ser considerado para gerar valor para o cliente de uma marca. Fechamos o capítulo com a visão do marketing nas mídias sociais, explorando como incorporá-la nas estratégias de marketing sem desca- racterizar a natureza espontânea dessas plataformas ou sem que sejam rejeitadas logo de cara. Preparado para essa jornada? Depois de conhecer mais sobre o mundo digital, seu olhar de gestor não será mais o mesmo. Com o estudo deste capítulo, você será capaz de: • conhecer as necessidades do consumidor on-line a serem contempladas para desenvolver uma experiência positiva, abordando aspectos do UX e UI; • explorar características e vantagens do UX e UI para os resulta- dos no digital; • compreender como as metodologias e a inteligência artificial po- dem ajudar a identificar um possível consumidor e a melhorar o relacionamento on-line; • entender como trabalhar o marketing das marcas nas mídias sociais. Objetivos de aprendizagem 4.1 Experiência do consumidor on-line Vídeo Pode parecer algo abstrato falar de experiência – que é um conceito tão amplo e que precisa ser considerado na estratégia de maneira específica –, mas uma das formas de trabalhar esse aspecto é considerar o seguinte: quais são os elementos-chave da experiência do consumidor da marca que precisam ser abordados estrategicamente? Apesar de pa- recer claro que a estratégia deva ser abordada no posicionamento da organização – mais especificamente da área de marketing –, muitos ges- tores ainda falham em considerá-la nos seus planejamentos. No entan- to, a experiência é um trunfo decisivo na busca para conquistar o cliente, algo que já é defendido pelo teórico Philip Kotler desde 1973. Focar só os atributos funcionais dos produtos ou serviços, seja no meio on-line ou não, quando tratamos de segmentos com concorrência, é quase garan- tia de perda da vantagem competitiva (KOTLER; KELLER, 2018). 13 _P hu nk od /S hu tte rs to ck 6868 Fundamentos de MarketingFundamentos de Marketing Marketing no digital 69 As publicações mais modernas – como a de Gilovich, Kumar e Jampol (2015) – apresentam que, no geral, as pessoas preferem comprar quando adquirem uma experiência agradável, ou seja, quan- do conseguem obter satisfação e até mesmo felicidade no processo da aquisição de algo. Na prática, o que esses autores querem dizer é que o mercado mudou, de modo que o indivíduo busca mais do que mera- mente produtos e/ou serviços; ele busca uma experiência de consumo que consiga fornecer elementos com significado emocional, que, de certa forma, contribuam para a construção/manutenção de suas iden- tidades sociais (HOLBROOK, 1987). Mesmo de maneira não intencional, as marcas criam a experiência do seu consumidor em diferentes etapas do desenvolvimento organi- zacional, por exemplo, quando selecionam a equipe, os fornecedores, a forma como a logística trabalha e – o mais aparente – quando es- truturam o seu atendimento. Ter a noção da experiência que se quer proporcionar, desde a construção do DNA organizacional, ajuda a ter clareza sobre as estratégias para toda a empresa; mesmo assim, o de- partamento responsável por direcionar esse processo com intenciona- lidade será o de marketing. É muito comum haver a utilização dos termos experiência de consumo e experiência do consumidor como sinônimos, mas, segundo Walls (2013), existem diferenças que precisam ser observadas. Nessa perspectiva, conseguimos perceber que a experiência de consumo pode abranger aspectos de comunidade, da vivência familiar, de crenças, de cidadania e de mercado. Somente quando falamos de mercado é que entramos na área da experiência do consumidor (EDGALL; HETHERINGTON; WARDE, 1997). Para Walls (2013, p. 180) – citando o estudo feito em 2000 por Robert Lewis e Richard Chambers –, a experiência do consumidor “é a impressão ou resultado de um contato multidimensional, normalmente na forma de um encontro emocional ou cognitivo positivo formado pelo encontro das pessoas com produtos, serviços e negócios”. Devido a essa definição, é possível perceber que a experiência envolve várias etapas. Muitas podem ser, inclusive, desafiadoras para serem acessadas no meio on-line, como os aspectos sensoriais. Porém, isso não é um impeditivo para que a experiência do consumidor on-line seja bem estruturada. Para autores como Rose et al. (2012), a experiên- cia do consumidor on-line é uma percepção psicológica subjetiva do 70 Fundamentos de Marketing indivíduo sobre um site. Sabendo que a presença digital não se limita somente ao site, essa definição pode ser ajustada para o contato do consumidor com uma navegação on-line. Mas atenção: essa subjeti- vidade da leitura de uma marca no mundo virtual muitas vezes é in- fluenciada pela sua presença no mundo real e isso impacta, também, a experiência do consumidor digital. Como é possível aprimorar essa experiência do consumidor on-line? O marketing pode utilizar diferentes maneiras e até mesmo os aspectos sensoriais podem ser ativados para, assim, estimular o desenvolvimen- to do afeto nesse processo. “Imagens, vídeos e áudios até então eram as formas disponíveis para desenvolver estímulos afetivos nos consu- midores, que os interpretam cognitivamente e afetivamente, forman- do a sua ‘impressão’ sobre o website” (GENTILE; SPILLER; NOCI, 2007 apud ROSE et al., 2012, p. 309). Isso porque quanto mais positiva – e até mesmo afetiva – é essa experiência, maior é a probabilidade de o consumidor voltar a acessar, perceber valor na sua marca, engajar-se com a empresa e, quem sabe, chegar a espontaneamente recomendar essa organização para a sua rede de contatos. Isso quer dizer que é possível “desenhar” uma jornada para o con- sumidor da marca, de modo que se consiga promover essa construção de um relacionamento e, se bem construído, obter a recomendação do consumidor. Esse design da jornada tem, ainda, a vantagem de poder ser adaptado a diferentes segmentos de negócios. Para desenvolver essa jornada de compra no meio digital, é preciso primeiramente ter clareza de quem é o seu público – sabendo que, mesmo conhe- cendo o público off-line, não significa que no on-line o seu consumi- dor tenha as mesmas características e/ou comportamentos. Com base nesse conhecimento, é possível desenvolver elementos em cada ponto de contato do consumidor com a marca enquanto está trilhando essa jornada. Esse mapeamento de etapas percorridas pelo consumidor – apesar de ser muito aplicado no marketing digital – tem suas origens na década de 1920, com um modelo que pretendia facilitar às empresas saberem o que precisavam desenvolver. Esse modelo é conhecido como AIDA e se propõe a ser “o passo a passo” do marketing de conversão; ele é muito utilizado, também, para a construção do funil de vendas. Mas o que significa AIDA? A sigla é só para lembrar que as marcas devem ser Marketing no digital 71 capazes de atrair a atenção, capturar o interesse, despertar o desejo e motivar a ação. No digital, essa etapa de atrair a atenção é mais associada à gera- ção de valor, que pode ser traduzida em informação. Por isso, uma técnica muito utilizada é o marketing de conteúdo. Nesse contexto – em que a concorrência é muito acelerada –, o modelo AIDA teriado consumidor on-line e off-line. Na sequência, no terceiro capítulo, começaremos a compreender os aspectos estratégicos a serem considerados nos planos de marketing para melhorar a assertividade da estratégia com base no APRESENTAÇÃO Vídeo 8 Fundamentos de Marketing comportamento do consumidor-alvo. Ainda, exploraremos os indicadores de gestão no marketing e como os atribuir e implementar. No quarto capítulo, o foco será a realidade digital. Entenderemos as necessidades do consumidor on-line, as quais precisam ser consideradas no desenvolvimento de uma experiência do consumidor positiva, como aspectos de usabilidade e interface da presença digital das marcas com o usuário (UX e UI). Também analisaremos como a inteligência artificial pode ajudar nessa experiência e na construção de um relacionamento on-line e entenderemos como trabalhar o marketing das marcas nas mídias sociais. Para conseguirmos incrementar novas oportunidades de mercado, no quinto capítulo analisaremos as tendências a serem adotadas nas estratégias de marketing, como a integração do marketing com a comunicação e a importância de investir na construção e no desenvolvimento de relacionamentos fortes entre as marcas e seus consumidores. Nessa etapa, refletiremos como o neuromarketing e outras possibilidades de acessar o consumidor podem ser adotados estrategicamente. Exploraremos um pouco mais do consumidor on-line e verificaremos como analisar e contemplar o conteúdo gerado pelo consumidor na realidade digital. Preparados para conhecer mais sobre essa área estratégica? Com a leitura, você se sentirá mais à vontade para ampliar sua atuação no marketing, otimizar seu posicionamento de mercado e obter melhores resultados. O que é marketing? 9 1 O que é marketing? Publicidade, design, comunicação, cada uma dessas atividades, em algum momento ou por alguma pessoa com quem tivemos contato, foram adotadas como sinônimo de marketing. Na verdade, podemos considerá-las parte dele, afinal, o marketing é uma área multidisciplinar que envolve muitas atividades e ele é capaz de influenciar praticamente todas as áreas de um negócio. Portanto, um bom ponto de partida para um gestor de qualquer área entender a influência do marketing é saber exatamente o que ele é. Sendo assim, iniciamos este capítulo conhecendo as principais definições, os conceitos e as características-chave do marketing que podemos identificar no dia a dia. Um dos pontos-chave do marketing é conhecer o seu público-alvo. Para entender a dimensão desse conhecimento, é necessário vermos como podemos segmentar corretamente o mercado e qual a melhor maneira de desenvolver e aplicar pesquisas de mercado de acordo com o que precisamos saber. Vamos conhecer o papel da inteligência de mercado, como ela pode nos ajudar a entender e alavancar negócios on e off-line. Por último, evidenciaremos a importância da ética em todas as estratégias e ações desempenhadas pelo marketing. Preparado para começar esta jornada? Este é um conhecimento que contribuirá muito para o seu desenvolvimento profissional, independentemente da área de atuação. Com o estudo deste capítulo, você será capaz de: • conhecer as principais definições, conceitos e características-chave do marketing; • compreender como segmentar corretamente o mercado e como de- senvolver e aplicar pesquisas de mercado; • conhecer o papel e a contribuição da inteligência de mercado on e off-line; • entender a relevância da ética em todas as estratégias de marketing. Objetivos de aprendizagem 10 Fundamentos de Marketing 1.1 Definições e conceitos de marketing Vídeo Em algum momento da vida, nós já ouvimos falar sobre marketing. Seja porque escutamos que determinada empresa investe muito pou- co nesse segmento ou que outra organização faz tudo pelo marketing, ou ainda porque dizem que o marketing manipula o consumidor para comprar, citando alguns exemplos mais comuns. Por ser tão falado, pode parecer algo muito básico analisar definições e conceitos de algo que já é tão conhecido, mas será que as pessoas que realmente usam esse termo sabem o que ele é ou não? A verdade é que muitas vezes o marketing é adotado sem o conhecimento real do que seja e, principalmente, do potencial que realmente possui. Para Motta (1983, p. 37), “Marketing é uma disciplina nova de prática bem antiga”, ou seja, de maneira mais empírica, mas pouco estruturada, o termo já faz parte da realidade dos negócios a bastan- te tempo. Há registros de uma primeira aplicação desse termo nos Estados Unidos, no início do século XX, em um contexto que focava aspectos comerciais, entretanto, com a evolução das indústrias, dos serviços e do varejo, o marketing passou a englobar aspectos com maior complexidade e robustez estratégica. De acordo com Kotler e Keller (2018), desvendar esse entendimento sobre o que seria o marketing também tem sido amplamente feito por pesquisadores importantes da área de administração. Para eles, a busca por uma definição do que é o marketing acontece desde os anos 1960, no entanto, alguns aspectos importantes ainda não eram analisados, como questões de segmentação de mercado e de público-alvo, além da compreensão de que as empresas precisam ter uma diferenciação com relação aos concorrentes de mercado. Por conta disso, já é possível perceber que uma definição de marketing teria ramificações e interligações com mais aspectos do que somente o escopo comercial. De maneira geral, essa terminologia está diretamente associada ao mercado, no sentido de que, como forma de diferenciação, as empresas deveriam focar suas estratégias para atender às expectativas dos clientes e do mercado (KOTLER; KELLER, 2018). Isso porque a grande vantagem que o marketing pode trazer para as organizações é a vantagem competitiva sustentável. Todavia, O que é marketing? 11 mesmo com essa amplitude e complexidade de objetivos, precisamos selecionar as definições da literatura que melhor sintetizam a atuação do marketing. Essa atuação será a base para o entendimento de tudo que veremos nesta obra. Existem muitas possibilidades, por isso selecionadas as que mais conseguem traduzir a atuação dinâmica do termo na atual realidade com o digital. Um ponto de partida é a definição original de Kotler e Keller (2018, p. 3), em que eles indicam que “o marketing envolve a identificação e a satisfação das necessidades humanas e sociais”. Esse ponto de vista é reforçado por Solomon (2016), quando ele diz que o marketing deve identificar e entender as necessidades do consumidor, pois, ao contrário do que se pode imaginar, seu papel não é criar tais necessidades, mas permitir que as pessoas se tornem conscientes da sua existência. Ou seja, em uma primeira abordagem já conseguimos perceber que é preciso investir em entender o que está na mente, nos hábitos e no comportamento do consumidor, para assim identificar tendências de mercado a serem adotadas. Outro viés importante do marketing pode ser identificado na definição de Kotler e Armstrong (2015, p. 3), ela aponta para “a gestão de relacionamentos lucrativos com o cliente”, porque construir relacionamentos fortes é um objetivo essencial para a competitividade de uma organização, especialmente com grande oferta de fornecedores no mercado. Se formos explorar algumas definições de mercado, podemos citar a da Associação Americana de Marketing (AMA), que o descreve como “uma atividade, um conjunto de conhecimentos e de processos que permitem criar, comunicar, entregar e trocar ofertas que tenham valor para consumidores, clientes, parceiros e sociedade como um todo” (AMA, 2017, tradução nossa). Com isso, já observamos a ramificação operacional do termo, que envolve os processos de geração de valor do produto ou serviço para o mercado de acordo com informações adquiridas em diversas áreas da organização ou de contato com o mercado. Em escopo gerencial, esse conhecimento faz grandealguns ajustes: • Conhecimento: a promoção da descoberta da marca e a captu- ra de atenção ocorrem. Muitas vezes, inicia-se por uma dúvida ou questionamento da pessoa – em ferramentas de busca como o Google ou Yahoo – sobre algo que a sua marca entrega. No marketing de conteúdo, o que irá aparecer é uma explicação so- bre aquela dúvida, sem dizer (diretamente e ostensivamente) que é necessário comprar o nosso produto. Logo, apresentamos so- luções que por “coincidência” nossa marca é capaz de oferecer e que estão associadas à sua questão. • Interesse: o conteúdo conseguiu cativar o leitor e o motivou a querer conhecer mais sobre a empresa. Principalmente no meio on-line, o consumidor gosta de sentir que as marcas têm inte- resse em se relacionar e não “empurrar” o seu produto, bem como que querem ajudar entregando soluções que, tecnica- mente, ele mesmo descobriu que valem a pena. • Decisão de compra: o consumidor efetivamente entendeu que essa marca consegue sanar a necessidade daquele momento e que entrega mais valor que a concorrência. Pode-se dizer que esse é um dos objetivos dessa jornada, que precisa ser somado ao engajamento, ao relacionamento e à recomendação, lembra? • Retenção ou relacionamento: algo que é bem importante e di- fícil de conseguir; para isso, a regra é continuar mantendo um padrão superior de experiência com a marca. Isso envolve conhe- cer o que pode gerar valor para o seu consumidor em todas as etapas da sua jornada de compra. Um aspecto importante de se conseguir desenvolver em um relacionamento é motivar o cliente a fornecer feedbacks sobre como está sendo a experiência de compra e, até mesmo, da utilização do produto. Sentir que a empresa se importa ajuda nessa etapa e permite coletar infor- mações de possíveis melhorias (SOLOMON, 2016). 72 Fundamentos de Marketing • Recomendação: o sonho de consumo de qualquer marca no meio digital. Significa que seu consumidor percebeu uma entre- ga de valor constante, a ponto de se sentir à vontade para reco- mendar a sua marca e, se for preciso, defendê-la perante a sua rede de contatos (SHETH; MITTAL; NEWMAN, 2001). Nesse ponto, pode-se dizer que a lealdade passou a ser uma possibilidade mais próxima. Vale reforçar a relevância da experiência positiva para se conseguir a poderosa recomendação no on-line, já que, nessa realidade, a expe- riência do consumidor fortalece a imagem de uma marca e aumenta a percepção de seu valor. Para além da recomendação, também dá a possibilidade de haver uma maior divulgação espontânea – pelas ca- racterísticas das próprias plataformas de redes sociais –, e o ato reco- mendar uma empresa no “boca a boca” digital tem bastante peso. Aliás, tanto o ato de recomendar como o de reclamar podem ter um alcance e uma relevância considerável pela internet; esse é mais um motivo para se investir na experiência digital. De modo geral, a experiência positiva do consumidor pode ser considerada uma boa precursora da construção de um relacionamento em que o cliente se sente confortável em engajar e recomendar a marca para a sua rede de contatos. Isso ocorre quando se tem atenção à jornada de compra e a que tipo de sentimentos se pretende despertar no consumidor, além de como trabalhar cada ponto de contato. Assim, fica mais evidente que a experiência do consumidor precisa ser consi- derada na estratégia de marketing. 4.2 UX e UI Vídeo A experiência do consumidor on-line também precisa ser consi- derada no design da presença e dos pontos de contato da marca na internet. Apesar de parecer redundante, nessa etapa é ainda mais vi- tal conhecer quem é o seu público-alvo e o comportamento dele. Para aprofundar esse conhecimento, geralmente as marcas investem no de- senvolvimento de personas, que seria quase como personificar quem é o consumidor (ideal) da marca, bem como quem é a organização. No desenvolvimento das personas, são adotadas algumas ferramen- tas utilizadas pelo marketing, como as pesquisas de mercado – para realizá-las, pode-se recorrer a dados do histórico da organização, de O livro O jeito Disney de encantar os clientes: do atendimento excepcional ao nunca parar de crescer e acreditar, traduzido por Cristina Yamagami, apresenta as estratégias de negócio de uma refe- rência na experiência de consumo: a Disney. Nele, o leitor pode entender como são potencializados os diferenciais, como há a incorporação da inovação e como o ato de manter o foco na satisfação do cliente gera uma percepção favorável para a marca. BRANSON, R. São José dos Campos: Benvirá, 2012. Livro Marketing no digital 73 institutos oficiais e de relatórios que forneçam informações sociode- mográficas (de poder aquisitivo também será relevante). Outra ferramenta muito utilizada é o mapa de empatia; apesar de nosso foco não ser voltado à construção de personas, é impres- cindível entender como acontece a sua construção. Dessa forma, o mapa de empatia (Figura 1) é uma ferramenta que permite conhecer mais o seu consumidor, permitindo visualizar aspectos-chave que influenciam o seu comportamento em um modelo (ou canva). Com as informações levantadas na pesquisa, é possível analisar quais as suas necessidades, os seus desejos e as suas dores e o que ele pen- sa, sente, vê, escuta, fala e faz. Pensar e sentir Escutar Ver Dizer e fazer Dores Ganhos Hu ge th an k/ Sh ut te rs to ck Figura 1 Mapa de empatia Para responder a esses pontos, geralmente são adotadas pesquisas qualitativas que permitem identificar esses detalhes dos padrões e do momento de vida dos indivíduos e as características comportamentais. Uma marca pode ter até quatro personas; uma quantidade maior do que isso pode comprometer a assertividade das ações. Por que, então, é importante conhecer a persona? Com a realidade di- gital, não existem mais barreiras geográficas e há uma enorme facilidade de acesso à informação e a concorrentes. Com isso, quanto mais o seu consumidor-alvo sente que uma marca parece que o conhece, maior é a probabilidade de ele se lembrar e de se interessar por essa empresa – isso é um diferencial e uma vantagem competitiva. Nessa busca por proporcio- nar o sentimento de identificação do cliente, a experiência on-line faz mui- ta diferença, pois esse conhecimento da persona permite orientar melhor a jornada do consumidor e, também, de certa maneira, fazê-la ser tangível e, assim, aproximar-se do cliente. Para quem se interessa pelo design de personas, é interessante entender mais sobre essa ferra- menta. O vídeo Mapa de Empatia – Entendendo seu usuário, do canal Guilia Yosue, explica o passo a passo de como preencher o mapa de empatia, além de quais questões podem ajudar a identificar o que precisa ser considerado em cada parte, como apli- car as informações etc. Disponível em: https://www.you- tube.com/watch?v=C7uLhCf5tgA. Acesso em: 21 mar. 2022. Vídeo https://www.youtube.com/watch?v=C7uLhCf5tgA https://www.youtube.com/watch?v=C7uLhCf5tgA 74 Fundamentos de Marketing Foi essa necessidade de entender, tangibilizar e melhorar a expe- riência do consumidor on-line que fez surgir o termo experiência do uti- lizador – do inglês, user experience (UX). Essa função – que, geralmente, é desempenhada por designers – permite entender o que motivou o indivíduo a navegar no site e a clicar em uma aba e como adaptar a jornada com esse olhar. O designer de UX normalmente é investigativo e curioso e está sempre otimizando a forma como o utilizador nave- ga em um espaço virtual, que pode ser um site ou e-commerce, por exemplo. Os aplicativos para smartphones também tem a sua forma de utilização proposta por esses designers, que, por sua vez, têm a se- guinte missão: tornar a utilização mais fácil, intuitiva e atrativa para o público de uma marca. Para isso, os designers de UX desenvolvem muitos testes de arqui- teturas em sites de pesquisa de reação e de usabilidade, questionando como foi a experiência de acessar a determinado portal,se foi fácil, se sentiu falta de algo, se foi prazeroso e do que gostou. Essas informa- ções serão importantes tanto para esses designers como para aqueles que estão relacionados à área denominada interface do utilizador – do inglês, user interface (UI). Então, qual seria a diferença entre eles? O UX, que também é conhecido como design de experiência, tem o foco na experiência emocional de usabilidade, isto é, no que o consu- midor sente no acesso a determinado espaço virtual. Procura deixar a navegação mais simples e agradável (em inglês, é adotado o termo user friendly). Nessa análise, podem ser estudadas soluções de softwares integrados ao site ou alterações de plataformas, por exemplo. É uma posição cada vez mais valorizada dentro do marketing e que busca pro- fissionais que realmente saibam como analisar o comportamento hu- mano e o modo como este interage com o design. Já o UI – também conhecido como design de interface – está muito associado à área de web design ou de design gráfico. Nessa etapa, to- dos os pontos identificados pelo UX e delimitados em uma proposta de arquitetura são postos em prática, como o tipo de imagem, a cor do botão, a legibilidade da fonte, a estética, a construção do menu, a funcionalidade dos links, ou seja, tudo que for visual e que possa me- lhorar a interação do consumidor com a marca. Para evitar confundir ambas as funções, a dica seria pensar no UX como a etapa que analisa e desenha como o utilizador pode se sentir Marketing no digital 75 na navegação, estudando inclusive como gerar uma aproximação e uma emoção, enquanto o UI seria o processo de fazer esses critérios identificados tangíveis ao usuário, isto é, o que materializa a interação do consumidor com a marca no virtual. Entretanto, as duas estratégias andam muito juntas, tanto que, com frequência, são executadas pelo mesmo profissional. Para conseguir realizar essa etapa de design da experiência do consu- midor on-line, é preciso investir em conhecer quem é o seu cliente mais a fundo e desenvolver pontos de contato nessa jornada digital. Deve-se considerar, também, aspectos comportamentais e culturais dos indiví- duos e combiná-los em soluções que conjuguem com a identidade da marca. Isso é o que permite construir e tangibilizar uma presença on-line que convide o consumidor a se relacionar com a marca. 4.3 Relacionamento com o consumidor on-line Vídeo Um dos objetivos do marketing é construir um relacionamento forte entre as marcas e os consumidores. Para Kotler e Keller (2018, p. 129), “a essência de uma orientação de marketing bem concebida é o forte relacionamento com os clientes. Os profissionais de marketing devem se conectar com os clientes – informá-los, engajá-los e talvez até fazer com que participem ativamente do processo”. Uma pergunta pertinente sobre isso é: por que as organizações investem tanto em se relacionar com a sua persona? Existem muitas vantagens, como evitar que seu cliente troque a sua empresa por outra, poder manter uma estimati- va de faturamento, conseguir interagir e receber feedbacks constantes dos consumidores (que ajudam a atualizar a estratégia). Para que isso aconteça, o marketing precisa ser capaz de manter o índice de satisfa- ção do consumidor da marca bem elevado, para, assim, obter o engaja- mento e a conexão de maior longevidade com o público-alvo. Como a internet fornece a facilidade de acesso à informação de maneira rápida, a construção de um relacionamento on-line se torna ainda mais importante para a marca, de certa maneira, neutralizar a possibilidade de perder espaço para outros fornecedores. É muito co- mum, inclusive, que diversos concorrentes apareçam listados em um 76 Fundamentos de Marketing mecanismo de pesquisa (Google, Yahoo, Bing etc.) ou em um marke- tplace (que são como shoppings virtuais) pela sua relevância. Nesses casos, se já há uma relação construída com a marca, é possível que ela se destaque perante as demais. Para isso, as estratégias de marketing e a experiência on-line promovida precisam ser constantemente oti- mizadas, no sentido de superar as expectativas do seu público, de não perder a percepção de valor e – se possível – de desenvolver vínculos afetivos (como as conhecidas love brands, marcas que possuem um vín- culo de afeto forte). Seybold e Marshak (1998) defendem que a construção de um re- lacionamento com o consumidor é importante para toda a empresa. Ter esse foco pode inclusive ajudar para que os planos estratégicos das áreas estejam integrados, alinhados e considerando a perspectiva de geração de valor mútuo. Para que isso ocorra, podem ser adotadas algumas estratégias de marketing: • Personalização: é, também, conhecida como one-to-one, sendo composta de conteúdos e campanhas que estejam dentro dos interesses das personas dos consumidores-alvo. • Participação: permite que o consumidor sinta que a sua opinião é ouvida e valorizada pela marca. • Permissão: trata-se da marca respeitar o seu espaço e só enviar comunicações se for autorizada (marketing não invasivo). No ambiente on-line – até pouco tempo atrás –, era comum o cliente se sentir incomodado com ações do marketing digital, mais especifi- camente do marketing digital mal utilizado. A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) foi criada exatamente para diminuir o contato não autorizado de empresas com o consumidor, dando a possibilidade desse último efetivamente escolher com quais marcas quer se relacio- nar. Esse contexto motiva ainda mais a marca a promover experiên- cias positivas ao consumidor, para que se comece a construir esse bom relacionamento. Para ajudar na construção do relacionamento on-line, a tecnologia pode ser uma grande aliada (KOTLER; KELLER, 2018). No meio digital, existe um fluxo muito alto de informação, por isso a manutenção desse relacionamento pode ter a inclusão de metodologias e de automações que permitam ajudar na coleta e análise dos dados e, até mesmo, fa- cilitar a comunicação com os consumidores interessados. Nesse caso, Marketing no digital 77 podem ser adotadas metodologias de gestão do relacionamento com o cliente – em inglês, customer relationship management (CRM). De manei- ra sintetizada, pode-se propor que o CRM seria uma forma de operacio- nalizar a estratégia de marketing de relacionamento, que desempenha a função de fornecer informações sobre os clientes e o mercado e de permitir o desenvolvimento de ações sistematizadas de contato com o consumidor, podendo ou não ser automatizado por softwares. Brown (2001) acrescenta que essa metodologia tem a vantagem de permitir que a organização acompanhe os consumidores nas diferentes etapas da jornada de compra, verificando os alinhamentos entre as estratégias de relacionamento desenvolvidas e as respostas dos consu- midores, o que possibilita haver uma relação próxima entre a marca e seu público. No mercado, existem diversas soluções de automação, sendo algumas delas gratuitas. Essas tecnologias permitem facilitar o mapeamento da jornada de compra, os padrões de interesse ou de aquisição do cliente e o envio automático de comunicações. Sobre a adoção de softwares de CRM, Kotler e Keller (2018, p. 144) fazem uma ressalva: “funciona melhor para aquelas [empresas] que costumam co- letar uma grande quantidade de informações individuais dos clientes e comercializam uma grande quantidade de produtos que se prestam à venda cruzada, requerem substituição ou atualização periódicas e oferecem alto valor”. Isso ocorre porque nem todo perfil e dimensão organizacional teriam muita vantagem com a automação. Outro aspecto importante é evitar acreditar que um software conse- gue gerir sozinho o relacionamento com o consumidor. Os softwares não são obrigatórios e, quando adotados, ajudam, mas ainda assim é preciso haver a participação humana para construir uma relação mais próxima, tanto para desenvolver as estratégias – que envolvem sensibi- lidade do gestor para interpretar os padrões comportamentais– como para contactar o consumidor. Em situações de atrito ou em segmentos de ticket médio mais elevado, por exemplo, a humanização do relacio- namento é muito valorizada, mesmo no meio virtual. Para que exista o relacionamento com o consumidor digital, é preci- so ter muita clareza tanto de quem é a organização como de quem é o cliente. Saber quem são as personas ajuda a entender quais estratégias são mais valorizadas pelo público, lembrando que as três que vimos anteriormente – personalização, participação e permissão – são consi- deradas elementos-chave no relacionamento on-line com o consumi- 78 Fundamentos de Marketing dor. Para adotar a metodologia de CRM – com ou sem a adoção de softwares –, será preciso contar com o esforço integrado de todas as áreas da organização, a fim de continuar a gerar valor mútuo. 4.4 Marketing de mídias sociais Vídeo Para entender o alcance das redes sociais não é preciso muita coi- sa. Segundo o relatório da organização We Are Social em 2022 (DIGI- TAL..., 2022), 58,4% de toda população mundial (incluindo crianças) tem uma conta em algum tipo de mídia social e passa pelo menos – em uma média global – 2 horas e 27 minutos se socializando nesses meios, o que significa que 4,68 bilhões de pessoas são utilizadores ativos. Presume-se que esse número tão alto é devido ao uso dos smartphones, os quais tornaram ainda mais rápido e fácil acessar e passar horas nessas plataformas. Até mesmo os planos de operado- ras de celulares usam o bônus da franquia para a utilização das redes como argumento de venda. Entretanto, apesar de ter se tornado mais popular com o avanço da internet, esse conceito existe há muito tem- po na realidade off-line e está associado à conexão de pessoas que compartilham interesses. Um ponto pertinente a ser esclarecido é que, teoricamente, há dife- renças entre a rede social e a mídia social. No cotidiano, é comum esses dois conceitos se confundirem, mas o termo redes – no meio digital – está associado ao seu significado off-line. Isto é, as redes sociais exis- tem para promover e facilitar o relacionamento entre as pessoas – são os sites e aplicativos –, já o que é publicado nas diversas plataformas de redes sociais (como fotos, vídeos e mensagens) são as mídias sociais. As redes possuem objetivos diferentes: algumas são mais focadas no networking (rede de contatos), sejam elas sociais ou profissionais; outras possuem um perfil mais voltado para imagens ou para textos; e outras para vídeos. Ainda, cada uma delas possui um perfil de com- portamento e de expectativa de público diferente. Na realidade das re- des, o termo networking é bastante relacionado à interação digital, com diferentes necessidades, podendo ser para o entretenimento, para as informações ou para a construção de comunidades, em que se pode conversar com outras pessoas sobre um tema em comum, ou de fó- runs sobre diversos assuntos. Marketing no digital 79 É comum nessas interações on-line ocorrer troca de conhecimento, de percepções, de opiniões e de experiências. Esse fato abre a possibi- lidade de existir a versão do boca a boca na internet, o qual também é conhecido como electronic word of mouth (eWOM). O eWOM possui um potencial de alcance enorme no ambiente digital também para as mar- cas. Contextualizando essa visão, Kotler e Keller (2018, p. 75) indicam o seguinte: graças à explosão de pontos de feedback disponíveis na Internet (painéis de avaliação de consumidores, fóruns de discussão, salas de bate-papo e blogs), as experiências ou a avaliação de um cliente para outros potenciais compradores e, é claro, para empresas que buscam informações sobre os consumidores e a concorrência podem ser facilmente disseminadas. Existe um grande potencial na utilização das redes sociais como ferramentas de marketing. Elas são tão poderosas que possuem a ca- pacidade de atuar em diversas possibilidades, desde a política até a comercialização de produtos, e muitas vezes já são consideradas como a primeira fonte a ser consultada para buscar informações sobre as marcas, ideias e personalidades. Muito disso é devido à sua característica fundamental de permitir que indivíduos compartilhem informações espontaneamente e pela livre interação; o que é dito nessas plataformas tem o peso da reco- mendação boca a boca. Kotler e Keller (2018) defendem que o poder de influência das mídias sociais ainda pode ser mais bem explorado pelo marketing, pois ainda não atingiu o seu potencial. Um exemplo desse potencial é o metaverso – realidade virtual onde as pessoas do mundo real convivem com outras de diversos lugares como avatares –, que começa a ser mais difundido e aparece como sendo o próximo nível das redes sociais. Dessa forma, torna-se evidente que as empresas precisam conside- rar as redes de maneira estratégica para se manterem à frente da con- corrência do seu segmento. Essa possibilidade passa obrigatoriamente por entender que o planejamento de marketing do off-line precisa estar integrado (no caso das organizações que estão presentes em ambas as realidades) e que as características de cada mídia precisam ser conside- radas. Respeitando os elementos-chave de cada plataforma, as marcas podem obter retornos importantes, como o engajamento, que permite otimizar a identidade/imagem, potencializar campanhas – com o eWOM A obra Snow Crash é apontada como o ponto de partida para as funcio- nalidades do metaverso e do seu potencial. A trama parece ser somente de um livro de ficção científica que conta a história de Hiro, que é um entregador de pizza na sua vida real, mas um príncipe samurai no me- taverso. O livro apresenta a contextualização das realidades paralelas e a interação entre as duas. STEPHENSON, S. São Paulo: Aleph, 2015. Livro 80 Fundamentos de Marketing – e aumentar a sua visibilidade com o marketing de conteúdo. Para isso acontecer, é comum que a comunicação nessas mídias tenha caracterís- ticas que motivem o consumidor a agir, apresentando uma construção conhecida como call to action (em português, chamar para a ação). LEIA MAIS SAIBA MAIS AGENDE AGORA ASSISTA AGORA COMPRE AGORA DOWNLOAD Figura 2 Exemplos de chamadas para a ação Ke lvi n De gr ee /S hu tte rs to ck Para Muntinga, Moorman e Smit (2011), as mídias sociais, como Facebook, Twitter, TikTok e YouTube, possuem como característica o fato de permitir que as pessoas possam interagir entre si e com as marcas, além de se expressarem e criarem conteúdo sobre diversos temas. Algumas organizações conseguem construir uma imagem posi- tiva de tal maneira que os indivíduos podem, inclusive, gerar conteúdos espontâneos sobre elas. As mídias sociais permitem que as empresas possam ampliar o alcance e a visibilidade de suas marcas, apresentando a sua proposta de valor para mais pessoas, com uma experiência do consumidor on-line mais positiva, e tornando a marca mais próxima do seu público. Além disso, elas permitem disponibilizar informações sempre atuali- zadas, testar a resposta para novas possibilidades a serem lançadas e dar suporte com um atendimento mais ágil (KOTLER; KELLER, 2018). A necessidade de considerar estrategicamente as mídias sociais se deve também ao impacto que se consegue ter. Atualmente, a resposta de ações realizadas nessas mídias consegue ter um impacto maior do que Marketing no digital 81 aquela nas possibilidades mais tradicionais de marketing. Sendo assim, esse contexto exige que o profissional responsável pelo marketing te- nha conhecimento sobre o comportamento de cada plataforma e do perfil humano e comportamental de cada possibilidade, para assim en- tender que tipo de conteúdo é capaz de gerar engajamento, comparti- lhamento e ação efetiva (MUNTINGA; MOORMAN; SMIT, 2011). Esses autores indicam que outro aspecto a ser analisado pelas marcas é o que motiva o acesso às redes sociais: entretenimento, busca de informações, mais conhecimento sobre determinado tema e opi- niões de outraspessoas, troca de experiências ou somente interação com pessoas da sua rede sobre assuntos do cotidiano. A frequência com que as pessoas costumam acessar os conteúdos das mídias sociais e o tempo que permanecem acessando também ajudam a entender tanto o que é dito sobre a marca como o que ela pode e deve produzir de conteúdo, além de, claro, qual seria a melhor maneira de se fazer isso. Olhando para essas possibilidades, Muntinga, Moorman e Smit (2011) propuseram classificações que podem ajudar na identificação do tipo do comportamento do consumidor nas mídias sociais com relação às empresas e que ajudam a entender as possíveis reações dos indivíduos: • Pouco ativo e participativo: segue o conteúdo, as postagens e as comunidades associadas a uma marca. • Contribuinte: já tem algum tipo de engajamento com comentá- rios sobre os conteúdos da marca. • Criador: está mais engajado com a marca e desenvolve conteúdos espontaneamente sobre ela. Pode-se dizer que essas classificações são evolutivas, no que diz respeito à adesão ao conteúdo e/ou presença das marcas nas mídias sociais. Após a categoria dos criadores, pode ser acrescentada a dos influenciadores digitais, que são personalidades reconhecidas e des- tacadas na realidade on-line – como as e-celebridades ou os especia- listas em um campo. As impressões, experiências e informações que essas personalidades divulgam são valorizadas pelos seus seguidores, de modo que conseguem influenciar a opinião da sua audiência. Esses influenciadores podem, ainda, desenvolver ações em conjunto com as empresas, desde que eles estejam corretamente alinhados ao perfil do público da marca e à identidade da empresa. 82 Fundamentos de Marketing Essa dinâmica de as marcas trabalharem em parcerias com e-celebridades estaria, também, associada a entender de que maneira o eWOM influencia o que pode ser gerado sobre a empresa. A forma como a organização se apresenta afeta tanto a interação do seu público com a empresa quanto os conteúdos criados pelos indivíduos no meio digital. Por isso, é preciso construir uma jornada que proporcione uma experiên- cia do consumidor on-line positiva (CARVALHO; FERNANDES, 2018). Voorveld et al. (2018) reforçam a importância de o marketing entender qual perfil de mídia social está associado ao público-alvo e ao perfil de negócio. É preciso haver coerência quanto a qual mídia utilizar, considerando a identidade da empresa e o seu segmento. Se- ria um equívoco investir em estar presente em plataformas que não promovem essa sinergia entre a organização e o seu consumidor. Cada plataforma tem um perfil de utilizadores que, de antemão, ajuda a entender se é interessante a sua inclusão no planejamento de marke- ting ou não, qual o tipo de abordagem e de conteúdo que funcionaria melhor e quais ferramentas podem ser incorporadas para melhorar a experiência do consumidor on-line. Nessa análise, é preciso incluir as ferramentas que mais se adéquem ao tipo de conteúdo a ser apresen- tado, visto que, por exemplo, algumas dessas mídias sociais são mais voltadas para promover a interação social – como Facebook, Instagram e Twitter – e outras mais dedicadas a fornecer informações e entreteni- mento – como YouTube, Pinterest, TikTok e grupos de Telegram. Sendo assim, é preciso ter clareza sobre o planejamento estratégico de marketing, para que seja possível selecionar as possibilidades de mí- dias sociais mais adequadas. Dessa maneira, as marcas estariam pre- paradas para a concorrência on-line, ambiente em que a competição pela atenção do público é muito agressiva, mas que, em compensação, oferece a possibilidade de aumentar substancialmente a visibilidade de uma organização. Para isso, é preciso entender quais elementos são capazes de promover uma conexão mais forte entre a marca e o seu público e o que pode incentivar uma resposta comportamental e emo- cional. Isso também requer muito acompanhamento e conhecimento sobre o comportamento do consumidor e sobre as características de cada possibilidade de mídia. Marketing no digital 83 CONSIDERAÇÕES FINAIS O marketing precisa considerar o potencial da realidade digital nas suas estratégias. Quando corretamente trabalhada, a marca pode ampliar a sua visibilidade e o seu alcance de maneira exponencial e com menor in- vestimento. É preciso investir na configuração de uma jornada de compra que permita desenvolver uma experiência do consumidor on-line positiva, a ponto de influenciar o engajamento e a possibilidade de fortalecer o relacionamento entre a marca e o cliente. A internet permite, inclusive, que a organização tenha maior intera- ção com seu público-alvo, motivando o utilizador de plataformas de mí- dias sociais a engajar com as marcas e a compartilhar com sua rede de contatos suas experiências, impressões e opiniões sobre a empresa. Esse compartilhamento funciona como um boca a boca digital e pode ser responsável por erguer ou prejudicar uma organização. Assim, o gestor de marketing precisa estar preparado para desenvolver estratégias que permitam obter geração de conteúdo pelos utilizadores e que sejam posi- tivas e multiplicadas espontaneamente. ATIVIDADES Atividade 1 Se o marketing não tem como foco realizar vendas, por que ele se preocupa com a jornada de compra? Atividade 2 Se o UX é algo que contempla o comportamento do consumidor on-line, a presença digital de marcas de um mesmo segmento será padronizada? Atividade 3 Os softwares de CRMs, por poderem fazer envios de comunicação automáticos, são considerados invasivos? 84 Fundamentos de Marketing Atividade 4 Se elas são mais reconhecidas por serem espontâneas, como uma marca poderia utilizar as mídias sociais? REFERÊNCIAS BROWN, S. A. CRM: customer relationship management. São Paulo: Makron Books, 2001. CARVALHO, A.; FERNANDES, T. 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Para atender à expectativa crescente de inovações, diferentes áreas do conhecimento estão trabalhando em parceria com o marketing para ampliar o campo de estudos sobre o que motiva e influencia o com- portamento humano no contexto tecnológico, seja otimizando práticas já conhecidas de comunicar, seja propondo novos caminhos para aproxi- mar as empresas do seu público. Neste capítulo, apresentamos possibilidades que podem ser conside- radas por negócios de diversos segmentos, começando pela comunicação integrada de marketing (CIM), que é uma forma de melhorar a assertivida- de do posicionamento de uma organização, a qual, apesar de não ser um conceito desconhecido, ainda tem dificuldades referentes à sua adoção nas estratégias. Em seguida, abordamos as possibilidades dentro do marketing de relacionamento, o que é preciso considerar para implementá-lo e de que maneira o consumidor pode participar da estratégia digital com a geração de conteúdo. Para finalizar, serão apresentadas práticas de comunicação não verbal que estão sendo adotadas no marketing, como o neuromarketing e o marketing sensorial, e que podem ser desenvolvidas no meio digital ou não. Com o estudo deste capítulo, você será capaz de: • entender como o marketing precisa ser integrado com a comuni- cação para atender aos objetivos estratégicos; • compreender como o marketing de relacionamento pode ajudar nas estratégias de marketing; • refletir sobre como incorporar o neuromarketing nas estratégias de marketing; • entender como analisar e contemplar o conteúdo gerado pelo consumidor na realidade digital. Objetivos de aprendizagem 86 Fundamentos de Marketing 5.1 Marketing e comunicação integrada Vídeo Em diferentes segmentos – digitais ou não – notamos um ponto em comum: os consumidores estão mais conscientes e exigentes. Essa é uma tendência que segue em alta, já que as pessoas têm mais acesso a informações, comparações e opiniões antes de fazerem a escolha de adquirir algo. Nessa realidade, as empresas precisam ir além de focar nos benefícios práticos do que produzem e o discurso voltado à quali- dade. As organizações são avaliadas pelo que são, produzem e dizem ser, isso porque os consumidores buscam coerência, consistência e en- trega de valor real também na maneira como elas se comunicam. Para conseguir esse feito, é preciso investir estrategicamente na integração de sua comunicação com os objetivos do marketing, isto é, na CIM. Mas o que seria isso? De maneira literal, é a comunicação integrada de marketing, que, apesar de ser ainda pouco adotada no mercado, não é uma possibilidade recente. As primeiras referências à CIM datam da década de 1980. Ela surgiu pela aceleração da promoção de produtos e serviços multicanais, ou seja, televisão, rádio, revistas, jornais, eventos e mídias exteriores começaram a ser mais utilizados para a publicidade de diferentes marcas. Na década de 1990, o professor norte-americano Don Schultz apre- sentou uma tese com base nas suas experiências de mercado e estudos que defendia a necessidade de as empresas passarem a se comunicar de maneira estratégica. Na prática, Schultz afirmava que as diversas possibilidades de divulgação precisariam estar alinhadas com o DNA das marcas e entre si para se tornarem mais assertivas. Existem diferentes definições para a CIM, entretanto é sempre bom co- meçar por aquela que deu origem ao termo, que é de Schultz (1993, p. 17): um conceito de planejamento de comunicação de marketing que reconhece o valor agregado de um plano abrangente que avalie os papéis estratégicos de uma série de disciplinas da comunica- ção – por exemplo, propaganda geral, resposta direta, promoção de vendas e relações públicas – e combine-as para oferecer clare- za, consistência e impacto máximo nas comunicações. Outra definição mais atual que ajuda a entender a CIM é de Reid, Luxton e Mavondo (2005, p. 12), que a apresentam como “uma filosofia ou um processo voltado a gerenciar estrategicamente todas as mensa- Tendências de marketing 87 gens de marca de forma que auxilie na construção de marcas fortes”. Já segundo Kotler e Keller (2018, p. 512), a comunicação integrada teria o potencial de ampliar a relevância de uma empresa diante do seu mer- cado para “informar, persuadir e lembrar os consumidores – direta ou indiretamente – sobre os produtos e as marcas que comercializam”. A comunicação integrada de marketing auxilia na diferenciação das mar- cas e na criação de uma vantagem competitiva. Diante disso, é possível propormos uma definição adicional à CIM: ser um conjunto de estratégias de coerência, convergência e consis- tência na divulgação das marcas. A convergência e a reafirmação da mensagem multicanal têm a possibilidade de evidenciar o posiciona- mento da marca e aumentar a sua recordação pelo consumidor. O ges- tor precisa desenvolver uma estratégia de comunicação que transmita o alinhamento da essência da organização – que pode ser vista como a persona organizacional – e as expectativas do público-alvo, contem- plando todos os pontos de contato com a marca ( BELCH; BELCH, 2007). Isso significa que é preciso trabalhar o marketing e a comunicação da empresa desde o seu público interno (colaboradores, fornecedores e parceiros) até o mercado em uma perspectiva mais ampla. Essa necessidade de integrar estratégias internas e externas reforça a entrega de valor e a autenticidade que o público exigente e atento da realidade digital busca. Essa preocupação com o alinhamento entre as áreas da organização com o que é comunicado existe principalmente pela facilidade com que o consumidor consegue ter acesso à informa- ção. Por exemplo, se uma organização se posiciona como preocupada com causas humanitárias, mas utiliza mão de obra infantil no Oriente, essa informação em algum momento será divulgada e poderá causar danos irreparáveis à marca. A falta de coerência no posicionamento é acompanhada de perto pelo público com muita facilidade e velocidade. No Brasil ainda há dificuldades na implementação correta da CIM, primeiro por ainda estar muito associada somente à integração entre os meios de comunicação em vez de estar integrada às estratégias de marketing; segundo por erroneamente se acreditar que ela serve so- mente para divulgar campanhas de vendas; e terceiro pela complexi- dade envolvida. Essa dificuldade ocorre porque é preciso integrar toda a promoção da organização, desde o que é apresentado para seus stakeholders (acionistas, funcionários e fornecedores) com acesso ao marketing interno até o provável consumidor. A obra Planejamento de co- municação integrada: ma- nual de sobrevivência para as organizações do século XXI, escrita por Luciene Ricciotti Vasconcelos, é um guia que busca des- complicar a CIM, apresen- tando de maneira objetiva e simples o que o gestor precisa considerar para desenvolver um plano de comunicação integrada. São Paulo: Summus Editorial, 2013. Livro 88 Fundamentos de Marketing Isso envolve, por exemplo, o endomarketing – estratégia de marke- ting para o público dentro do universo organizacional –, que, além de poder influenciar na experiência do consumidor, é multiplicador poten- cial do posicionamento da empresa ( KOTLER; KELLER, 2018). Conseguir condensar a mensagem da organização em um único tom de voz é o desafio e, ao mesmo tempo, o diferencial da CIM, pois permite adaptar o que é dito a cada tipo de divulgação sem desvirtuar a estratégia ou a mensagem. Shimp (2002) indica algumas ações-chave da comunicação integradade marketing: • Considerar todos os possíveis pontos de contato entre o consu- midor e a organização (canais de divulgação e possíveis fontes de informação). Todos esses pontos precisam estar alinhados, e é necessário reforçar a mensagem que se pretende passar. • Adotar diversas formas de comunicação para atingir o seu pú- blico em diferentes pontos da jornada de compra e despertar o interesse nos novos clientes. • Contribuir com a informação para as áreas organizacionais e agregar inovação. Galão, Crescitelli e Baccaro (2011, p. 88) acrescentam que a CIM nas organizações é responsável pela “correta combinação das ferramentas e técnicas de comunicação à sua disposição, e, principalmente, a coor- denação no uso destas ferramentas”. Essas ferramentas podem ser to- das as possibilidades adaptadas ao negócio, inclusive o “boca a boca” e o eWOM (“boca a boca” virtual). Kotler e Keller (2018) reforçam a neces- sidade da assertividade na mensagem de comunicação, respeitando a pluralidade de particularidades de cada canal. Com isso se consegue perceber que a CIM é muito mais do que uma campanha publicitária, com a função de desdobrar uma mensagem com um tema de comuni- cação para diversos veículos. Na prática, ela é responsável por articular estrategicamente as campanhas publicitárias. Kotler e Keller (2018, p. 512) ainda complementam que a comuni- cação de marketing exige uma perspectiva de marketing holístico, que consiste em considerar todas as possibilidades de marketing e comu- nicação de maneira estratégica. “Posicionando a marca na memória e criando uma imagem de marca, a comunicação de marketing pode con- tribuir com a formação do brand equity, bem como impulsionar as ven- Tendências de marketing 89 das e até mesmo afetar seu valor para os acionistas”. Existem alguns aspectos-chave que ajudam a identificar se a CIM está bem executada: Fi re of he ar t/ Sh ut te rs to ck Precisa ser considerada no marketing para ser bem delimitada. Envolve aspectos e papéis estratégicos. Deve ser consistente, coerente e convergente. É multidisciplinar no âmbito da comunicação. Exige que seja planejada (não é aleatória e sem propósito). 1 2 3 4 5 Aspectos-chave de uma CIM Sendo assim, a comunicação integrada de marketing é muito mais do que meramente alinhar as campanhas de publicidade da marca. Ela possui um caráter estratégico dentro do planejamento de marketing e adapta a mensagem organizacional para todos os possíveis pontos de divulgação e de contato, alinhados a estratégia de marketing.. Além de comunicar os diferenciais da empresa para um público-alvo, a CIM permite que a comunicação da marca tenha coerência e convergência entre a comunicação interna e a externa. 5.2 Marketing de relacionamento Vídeo Seja na realidade off-line, seja na digital, as marcas esforçam-se para conseguir desenvolver um relacionamento com o seu cliente, tanto no B2B (de uma empresa para outra) quanto no B2C (da organização para o consumidor final). No decorrer da história do marketing, notamos que uma das suas metas deveria ser construir uma relação o mais for- te possível com o cliente e gerar benefícios a longo prazo para ambos. Assim, surgiu o marketing de relacionamento, que pode ser definido como um processo que promove a interação, o engajamento e os rela- cionamentos de longo prazo com cooperação mútua entre a organiza- 90 Fundamentos de Marketing ção e seu público ( GUMMESSON, 2010). Desse modo, para existir uma relação sólida entre as marcas e seus consumidores, é preciso existir a geração de valor recíproca constante. É claro que para haver o interesse em se relacionar com uma mar- ca é preciso que o consumidor sinta que a empresa o conhece e que haja uma valorização da opinião, da escolha e da fidelidade que um relacionamento precisa ter. Para isso, Kotler e Keller (2018) refor- çam a necessidade de conhecer bem o perfil do público-alvo, suas necessidades, dores e expectativas para assim conseguir satisfazer a essas necessidades, um processo que precisa ser constantemente revisitado e acompanhado para identificar mudanças de comporta- mento ou de expectativas. É natural que o feedback também tenha uma grande participação na manutenção do relacionamento com melhorias e inovações, afinal, torna-se menos complexo ajustar algo quando já se sabe o que os indivíduos buscam. O relacionamento ideal funcionaria quase como uma escala evolu- tiva (Figura 2): para existir o primeiro degrau, é necessário conhecer quem é o público (segmentar); já o segundo degrau trata da satisfação constante das expectativas, o que acaba despertando o interesse de valorizar uma marca e assim evoluir para o terceiro degrau: desejar se engajar com ela. O engajamento – que pode acontecer com mais faci- lidade no meio digital – fornece uma matéria-prima importante para a manutenção do marketing de relacionamento e para as estratégias de marketing globais, que é o quatro grau: o feedback. O feedback funciona como uma informação privilegiada das necessidades, do momento de vida e dos hábitos de compra dos clien- tes. Com base nisso, o marketing que atua de maneira estratégica, consegue subir os dois últimos níveis: a construção de uma relação de fidelidade em que a marca tenta agradar o público-alvo, fazendo com que o consumidor se sinta confortável em comprar sempre dela. Por isso, Kotler e Keller (2018) defendem que construir um relaciona- mento forte é a melhor maneira de se chegar ao último degrau, que é a lealdade da marca. Isso significa que o consumidor percebe que a marca tem interesse em atender às suas expectativas – validando os feedbacks, inovando, interagindo com um atendimento de qualidade e posicionando-se on-line de maneira coerente – e é capaz de pro- mover uma satisfação constante na experiência de compra, o que faz com que se estabeleça uma confiança na marca ( GUMMESSON, 2010). No vídeo Building sustainable relationships that bring brands and people closer, do canal TEDx Talks, Mark Morin explica sobre o marketing de relacio- namento na realidade moderna e o desenvolvi- mento da confiança para se relacionar com uma empresa. O vídeo está em inglês, mas o conteúdo é muito valioso. Disponível em: https:// www.youtube.com/ watch?v=Hp0Q8Z5Isz4. Acesso em: 11 abr. 2022. Vídeo https://www.youtube.com/watch?v=Hp0Q8Z5Isz4 https://www.youtube.com/watch?v=Hp0Q8Z5Isz4 https://www.youtube.com/watch?v=Hp0Q8Z5Isz4 Tendências de marketing 91 Segmentação do público-alvo Engajamento Satisfação positiva contínua Feedbacks Fidelidade de marca Lealdade de marca Fonte: Elaborada pela autora. Figura 1 Escala de relacionamento im Gh an i/S hu tte rs to ck Na perspectiva das marcas, Kotler e Keller (2018) defendem que a cons- trução de um relacionamento forte deve ser um objetivo das empresas, por gerar algumas vantagens para a organização, como: • conhecer a opinião do consumidor no desenvolvimento de produtos e serviços para aumentar a qualidade do que é oferecido; • ajuda a marca a inovar com a recomendação de desenvolvimento de produtos ou serviços que não haviam sido identificados internamen- te (pelas pesquisas da organização ou pela área de desenvolvimento); • a obter a satisfação positiva contínua do cliente para motivar o enga- jamento e a recompra; • ajuda a alcançar a fidelidade e até mesmo a lealdade do cliente, ce- nário em que ele passa a divulgar a marca espontaneamente para seus contatos e até a defendê-la quando necessário (com a realidade digital, esse estágio é extremamente benéfico, pois aumenta a visibili- dade e expande o público consumidor); • permite haver a estimativa de faturamento com clientes regula- res ou consumidores leais; 92 Fundamentos de Marketing • diminui a possibilidade de impacto de ataques da concorrência, fazendo com que a marca não seja trocada apenas por aborda- gens financeiras. Embora nem sempre a satisfação positiva sejagarantia na construção de um relacionamento, é um ponto de partida interessante e apreciado, mesmo que o indivíduo só esteja interessado em uma compra pontual. Se a experiência de consumo for positiva e até emocional, em outra oportu- nidade, a marca passa na frente na avaliação de concorrentes. Esse é o cenário ideal da evolução da jornada do consumidor no meio digital ou não. Entretanto, não há como negar a possibilidade de haver o desgaste do relacionamento, principalmente quando o marketing não consegue acompanhar as mudanças de mercado ou a velocidade que a realidade digital exige. Infelizmente, essa segunda possibilidade de evolução é mais corriqueira do que a primeira. No e-commerce, por exemplo, é comum que somente uma média entre 10 e 20% das plataformas abertas continue a existir depois de um ano e meio. Claro que existem outros fatores que dificultam a sobre- vivência da empresa no meio virtual, mas a falha na construção da experiência e no desenvolvimento de relacionamento é mais visível. Dwyer, Schurr e Oh (1987) propõem um ciclo de vida do relaciona- mento padrão com cinco fases, que podem ser adaptadas para a rea- lidade on-line, como mostra a figura a seguir. Figura 2 Ciclo de vida do relacionamento bs d st ud io /S hu tte rs to ck Conscientização ExpansãoExploração Comprometimento Declínio ou dissolução Tendências de marketing 93 Na conscientização conhecemos o perfil de público, que por sua vez conhece e começa a perceber valor na entrega da organização. Já na exploração ocorre a verificação do alinhamento da percepção de valor entre a empresa e o consumidor e começam a ser estipuladas as regras de troca entre ambos. Essa fase é o processo de comprar para testar. Na expansão há o aumento da comunicação, da cooperação e do compro- misso na relação de consumo. Já houve a percepção de valor, o que moti- vou a repetição da compra. No comprometimento – que é o ponto mais elevado do relacionamento – existe um vínculo de confiança entre a marca e o seu público regular. A marca investe para manter o seu consumidor e, em contrapartida, ele se sente confortável em comprar somente dela. O marketing atua para manter o nível de comprometimento do cliente ele- vado e, se possível, com recomendação para outras pessoas. É nesse pon- to que, se não houver a manutenção de uma entrega de valor superior, a fim de manter a superação da expectativa do cliente, o relacionamento entre o consumidor e a marca pode ser dissolvido. Este é o declínio, no qual a insatisfação se torna recorrente e o consumidor sente que a marca perdeu o padrão de entrega ou que não está conseguindo acompanhar a evolução do mercado. Quando se atinge esse patamar, é muito difícil re- conquistar o indivíduo, pois há uma quebra de confiança na relação entre a empresa e o consumidor. No meio digital existem algumas possibilidades que ajudam na ma- nutenção desse ciclo e que utilizam inteligência artificial para mapear o padrão do comportamento do consumidor. São adotados recursos como data mining (também conhecido como mineração de dados) para obter da- dos de tendência do comportamento de compra. Essa mineração, quan- do somada a relatórios qualitativos que as marcas precisam ter, ajuda a identificar como manter o relacionamento com o consumidor da empresa mais próximo da trajetória ideal. Outro fato importante a ser mencionado é que o relacionamento pode ser desenvolvido de maneira ideal com uma das personas do público-alvo e não responder muito bem com outra, chegando ao declínio. Para man- ter a existência do negócio, é preciso garantir que haja um equilíbrio en- tre a quantidade de evasão e a entrada de novos consumidores para a empresa. O atendimento desempenha um papel importante nesse pro- cesso, pois é considerado como uma personificação da organização. Isso acontece de maneira positiva quando a experiência com o atendimento de uma marca (virtual ou presencial) é coerente com o posicionamento da organização, alinhada ao perfil do público, é capacitada tecnicamente e é capaz de demonstrar empatia genuína. Dessa forma, ajuda a fortalecer o relacionamento, pois quando a experiência não atende as expectativas e necessidade do consumidor, o efeito é o enfraquecimento e/ou declínio do relacionamento. De maneira geral, o marketing de relacionamento ( off-line ou on-line) busca analisar dados e estratégias de marketing que permitam manter o interesse e as expectativas do consumidor com um saldo positivo. Manter a vantagem competitiva sustentável torna-se real quando a marca conse- gue desenvolver um relacionamento forte e duradouro com seu público, e isso é ainda mais evidente quando pelo menos uma parte desses consu- midores se torna leal à marca. 5.3 Neuromarketing e marketing sensorial Vídeo A necessidade de entender como desenvolver uma aproximação maior entre as marcas e seu público está cada vez mais presente. Construir um relacionamento forte é mais desafiador com a sobrecarga de possibilida- des de fornecedores que é possível encontrar no digital, e com isso captar o interesse do consumidor passa a ser decisivo. Morin (2001) defende que as organizações precisam aprender com o seu público em que contexto a sua proposta de valor se destaca e como apresentar isso de maneira perceptível. Para o pesquisador, a contex- tualização é uma condição essencial para a eficácia do cognitivo. Na busca dessa maior compreensão sobre como aumentar a aproximação com o público, o marketing procura reforços em outras áreas do conhecimento, como a tecnologia, a me- dicina (fisiologia e neurologia) e a psicologia (comportamento humano). Nessa tentativa de obter maior entendimento do que po- deria ser adotado no âmbito não verbal, na década de 1990, os estudiosos do marketing começaram a analisar teorias emergentes da neurociência. Nessa área foram desen- volvidas investigações que se propunham a conhecer como a mente humana funciona e 9494 Fundamentos de MarketingFundamentos de Marketing Tendências de marketing 95 como, por meio de uma linguagem, os neurônios compreendem e per- mitem “reprogramar o cérebro”. A possibilidade de adoção de elementos da programação neurolinguística nas estratégias de marketing e comu- nicação funcionou como um gatilho para o surgimento de outra área de pesquisa mais ampla dentro do marketing: o neuromarketing. Segundo Orso, Trevisol e Santos (2011), os estudos do neuromarketing teriam realmente surgido em 2009. Criado por Jerry Zaltman, esse concei- to teve muita adesão pelo seu potencial estratégico no “refinamento” da oferta de produtos (DIAS, 2012). Isso acontecia à medida que as pesqui- sas de neurociência identificavam que o cérebro humano, apesar de mais desenvolvido neurologicamente, ainda respondia a estímulos primários. Segundo Camargo (2010, p. 131), “a maioria dos nossos atos econômicos é irracional, tem, no fundo, motivações físico-químicas que, no final, visam [...] à sobrevivência dos nossos predecessores, dos nossos genes”. Essa visão é reforçada por Luria (1981, p. 60) quando defende que: o homem não somente reage passivamente a informações que chegam a ele como também cria intenções, forma planos e progra- mas para as suas ações, inspeciona a sua realização e regula o seu comportamento de modo a que ele se conforme a esses planos e programas; finalmente, o homem verifica a sua atividade conscien- te, comparando os efeitos de suas ações com as intenções originais e corrigindo quaisquer erros que ele tenha cometido. Dessa abordagem do funcionamento do psicológico humano em um sentido mais abrangente, Soares Neto, Dias e Alexandre (2010) definem o neuromarketing como a convergência de saberes da psicologia, da neuro- ciência e dos próprios fundamentos de marketing. Esses estudos de como acessar o sistema límbico 1 Conjunto de estruturas encontradas no cérebro responsáveis por nossas respostas emocionais a estímulos. 1 dos indivíduos (que rege padrões,normas e reações instintivas) permitiram que as estratégias de marketing desenvol- vidas pela comunicação integrada conseguissem despertar respostas ins- tintivas e entendessem como se aproximar e gerar reações direcionadas do indivíduo em relação às marcas ( ORSO; TREVISOL; SANTOS, 2011). Entre essas possibilidades, os estímulos sensoriais têm demostrado a capacidade de acessar o emocional e o sistema límbico dos consumi- dores, promovendo a ação. Antes mesmo de se saber o que poderia estar associado ao neuromarketing, Kotler (1974) escreveu um artigo em que defendia a criação de uma atmosfera no ambiente de ven- das que promovesse a imersão dos sentidos humanos. Dessa forma, as associações despertadas na experiência de compra seriam ainda 96 Fundamentos de Marketing mais positivas e intensas nos pontos de venda de varejos e serviços. As empresas precisariam estar mais atentas aos aspectos não verbais associados ao seu posicionamento de marketing e à sua comunicação ( KOTLER; KELLER, 2018). É preciso haver uma proposta de desenvolvi- mento de uma “atmosfera de compra” estratégica, com uma intenção bem definida e alinhada com o perfil do consumidor. Com base nesse conceito, as marcas passaram a investir mais na apresentação do ponto de venda, levando em consideração, de ma- neira estratégica, iluminação, som ambiente e aroma ( LINDSTROM, 2011). O sensorial é identificado como capaz de desenvolver vínculos emocionais com a marca e aumentar a conexão ( VEGA-GÓMEZ et al., 2020). Complementando essa visão, Krishna (2012, p. 332) indica que o marketing sensorial pode ser considerado como algo que, por meio dos sentidos, tem essa capacidade de influenciar as percepções e os comportamentos das pessoas com um sentido estratégico. De uma perspectiva gerencial, marketing sensorial pode ser usado para criar gatilhos subconscientes que caracterizam per- cepções do consumidor de noções abstratas do produto (por exemplo, sua sofisticação ou qualidade). Dada a gama de apelos explícitos de marketing feitos aos consumidores todos os dias, gatilhos subconscientes que apelam aos sentidos básicos podem ser uma maneira mais eficiente de engajar os consumidores. No segmento de alimentação e bebidas, por exemplo, a possibili- dade de incluir o olfato na experiência sensorial tem sido adotada em restaurantes, panificadoras, lanchonetes e supermercados. A adoção mais rápida por esses segmentos acontece principalmente porque o consumidor seria “diretamente” influenciado pelo acréscimo do tercei- ro sentido (para além dos audiovisuais), promovendo o maior consu- mo, aumentando o tempo de permanência ou ainda influenciando na percepção do sabor ( SPENCE, 2015). Com a constatação do seu potencial, o marketing sensorial tem sido cada vez mais utilizado pelas marcas na realidade off-line. Com essa influência dos sentidos na percepção do indivíduo e na criação de um relacionamento com a marca, os pesquisadores evidenciam a necessidade de adaptar o marketing de sensações para o contex- to digital. Para Petit, Velasco e Spence (2018), a experiência sensorial precisa ser adaptada para o on-line levando em consideração as fun- cionalidades psicofisiológicas dos sentidos. Mas como fazer isso? No O livro Brandsense: segredos sensoriais por trás das coisas que compramos, de Martin Lindstrom, apresenta diferentes possibilidades de adicionar a estratégias de marketing sensorial para melhorar a intenção de consumo e a interação com as marcas. LINDSTROM, M. Porto Alegre: Bookman, 2011. Livro Tendências de marketing 97 caso do meio digital, sentidos como olfato, tato e paladar são acio- nados por meio de recursos audiovisuais, principalmente pela visão. Imagens estáticas, filmes e animações em 3D recebem edições capa- zes de despertar memórias desses sentidos. Principalmente o olfato – o terceiro na hierarquia de utilização dos sentidos e o mais indicado, pois é capaz de desenvolver conexões e emoções mais intensas – pode ser despertado on-line. Seja por trata- mento das imagens, seja pelas novas tecnologias emergentes, passa a ser possível combinar estímulos visuais com olfativos, otimizando a experiência do consumidor on-line ( OLOFSSON et al., 2017). Os efeitos da inclusão desse terceiro sentido no meio digital ainda estão sendo estudados. Muitos teóricos estão se dedicando a desenvolver experimentos que testem na prática a possibilidade técnica de disponibilizar o aroma em sites e mídias sociais e verifi- car as influências que podem ser promovidas no comportamento do consumidor ( MACIEL, 2022). Quando o aroma de uma loja faz o cliente lembrar de algo positivo, a marca mantém-se mais tempo na memória e é mais facilmente reconhecida e contextualizada como familiar à realidade da pessoa, podendo, assim, instintivamente de- senvolver o afeto. Esse efeito é o mesmo que se busca obter com a sua inclusão na realidade digital. O desenvolvimento na área de tecnologia não para. Em paralelo às pesquisas para disponibilizar o aroma virtualmente, estudos indicam que os próximos passos seriam soluções que permitissem reproduzir o sabor de alimentos e bebidas e a textura de materiais. Por enquanto, Petit, Velasco e Spence (2018) reforçam que os gestores podem utilizar os tratamentos de imagem ou os sons para ativar a memória de outros sentidos, como algo crocante ou suave, ou usar o som de “bip” (que avi- sa quando algo acabou de sair do forno, por exemplo) para despertar a sensação de aroma e sabor de biscoitos. Sendo assim, o neuromarketing e o marketing sensorial são re- cursos que as estratégias de marketing podem utilizar para promo- ver a conexão e o relacionamento do público-alvo com a marca. A imersão sensorial no ponto de venda off-line demonstra ter uma capacidade muito elevada de despertar emoções e gerar resultados interessantes para a estratégia de marketing. Os gestores atentos a essa possibilidade adotam os recursos disponíveis para gerar estí- 98 Fundamentos de Marketing mulos sensoriais no meio digital, de modo a também influenciar, de maneira intencional, o comportamento do consumidor e os resulta- dos da marca no meio on-line. 5.4 Geração de conteúdo pelo consumidor on-line Vídeo Um dos diferenciais do marketing na realidade digital é a possibili- dade de obter/promover mais o engajamento do consumidor. No meio digital, as marcas podem explorar na sua identidade/imagem aspectos que motivem a interação do público de acordo com o seu perfil, utilizando gatilhos mentais de texto – muito associados ao call to action 2 Expressões que funcio- nam como um gatilho mental e incentivam uma ação rápida. No meio digital, são muito utilizadas para fazer com que o usuário não saia da página ou que compre imediatamente determi- nado produto. 2 , que pode ocorrer em vários níveis – e técnicas de neuromarketing. Entretanto, ob- servamos no mercado que nem sempre as estratégias de marketing no digital estão preparadas para aproveitar da melhor maneira esse poten- cial da rede. Uma das possibilidades de promover essa interação é a inclusão es- tratégica das mídias sociais. Segundo Kaplan e Haenlein (2009), trata-se de um grupo de aplicações com base na internet que permite a criação e troca de conteúdo gerado pelo próprio usuário. Para esses autores, exis- tem diversas possibilidades de mídias que podem ser utilizadas para isso, como comunidades de conteúdo específicas (por tema de interesse), vlogs e fóruns, por exemplo. Effing e Spil (2016) complementam que o mesmo risco de adotar e negligenciar mídias sociais ( Facebook, Instagram, Twitter e TikTok) está na liberdade de expressar opiniões, impressões e experiên- cias sobre diversos assuntos, inclusive sobre as marcas. Para funcionar bem, as empresas precisam desenvolver uma presença com base no entendimento e perfil do consumidor digital e com o posicio- namento da organização. Outro erro comum é tratar de todas as mídias sociaisda mesma maneira ou como se funcionassem da mesma forma que a comunicação off-line. As empresas precisam desenvolver uma presença com base no entendimento e perfil do consumidor digital e no posicionamento da organização ( UZUNOGLU; MISCI KIP, 2014). Dessa ma- neira, começa a haver a possibilidade de estrategicamente conseguir con- tar com o conteúdo gerado pelo utilizador ou consumidor (UGC) 3 , como o eWOM, capaz de influenciar tanto as atitudes quanto os interesses dos destinatários dessa mensagem das marcas (KIM et al., 2015). Sigla em inglês para user-generated content, é todo conteúdo pro- duzido pelos próprios usuários da rede, como um comentário ou uma avaliação de algo. 3 O documentário O dilema das redes apresenta o lado menos positivo dos bas- tidores das redes sociais. Conta com o testemunho de especialistas do Vale do Silício que trabalha- ram em grandes nomes das mídias sociais que “abrem o jogo” e explicam quais são os objetivos e influências de cada mídia. Indicam como foram projetadas para moldar o comportamento e facilitar o acesso a dados de pa- drões de consumo. Diretor: Jeff Orlowski. EUA: Exposure Labs; The Space Program; Agent Pictures, 2020. Documentário Tendências de marketing 99 mulos sensoriais no meio digital, de modo a também influenciar, de maneira intencional, o comportamento do consumidor e os resulta- dos da marca no meio on-line. 5.4 Geração de conteúdo pelo consumidor on-line Vídeo Um dos diferenciais do marketing na realidade digital é a possibili- dade de obter/promover mais o engajamento do consumidor. No meio digital, as marcas podem explorar na sua identidade/imagem aspectos que motivem a interação do público de acordo com o seu perfil, utilizando gatilhos mentais de texto – muito associados ao call to action 2 Expressões que funcio- nam como um gatilho mental e incentivam uma ação rápida. No meio digital, são muito utilizadas para fazer com que o usuário não saia da página ou que compre imediatamente determi- nado produto. 2 , que pode ocorrer em vários níveis – e técnicas de neuromarketing. Entretanto, ob- servamos no mercado que nem sempre as estratégias de marketing no digital estão preparadas para aproveitar da melhor maneira esse poten- cial da rede. Uma das possibilidades de promover essa interação é a inclusão es- tratégica das mídias sociais. Segundo Kaplan e Haenlein (2009), trata-se de um grupo de aplicações com base na internet que permite a criação e troca de conteúdo gerado pelo próprio usuário. Para esses autores, exis- tem diversas possibilidades de mídias que podem ser utilizadas para isso, como comunidades de conteúdo específicas (por tema de interesse), vlogs e fóruns, por exemplo. Effing e Spil (2016) complementam que o mesmo risco de adotar e negligenciar mídias sociais ( Facebook, Instagram, Twitter e TikTok) está na liberdade de expressar opiniões, impressões e experiên- cias sobre diversos assuntos, inclusive sobre as marcas. Para funcionar bem, as empresas precisam desenvolver uma presença com base no entendimento e perfil do consumidor digital e com o posicio- namento da organização. Outro erro comum é tratar de todas as mídias sociais da mesma maneira ou como se funcionassem da mesma forma que a comunicação off-line. As empresas precisam desenvolver uma presença com base no entendimento e perfil do consumidor digital e no posicionamento da organização ( UZUNOGLU; MISCI KIP, 2014). Dessa ma- neira, começa a haver a possibilidade de estrategicamente conseguir con- tar com o conteúdo gerado pelo utilizador ou consumidor (UGC) 3 , como o eWOM, capaz de influenciar tanto as atitudes quanto os interesses dos destinatários dessa mensagem das marcas (KIM et al., 2015). Sigla em inglês para user-generated content, é todo conteúdo pro- duzido pelos próprios usuários da rede, como um comentário ou uma avaliação de algo. 3 O documentário O dilema das redes apresenta o lado menos positivo dos bas- tidores das redes sociais. Conta com o testemunho de especialistas do Vale do Silício que trabalha- ram em grandes nomes das mídias sociais que “abrem o jogo” e explicam quais são os objetivos e influências de cada mídia. Indicam como foram projetadas para moldar o comportamento e facilitar o acesso a dados de pa- drões de consumo. Diretor: Jeff Orlowski. EUA: Exposure Labs; The Space Program; Agent Pictures, 2020. DocumentárioEffing e Spil (2016) propõem alguns passos relevantes para essa incor- poração da UGC em mídias sociais na estratégia de marketing, como: • definir quais grupos-alvo pretende-se abordar; • escolher qual canal utilizar; • alinhar os objetivos da empresa; • direcionar recursos financeiros; • elaborar algumas regras básicas para a comunicação corporativa (inclusive orientar a de funcionários); • monitorar o progresso da empresa no ambiente on-line e o que é divulgado sobre ela, sobre parceiros ou de maneira espontânea; • elaborar um plano claro das atividades de conteúdo (gerado pela própria empresa e pelos parceiros) nas mídias sociais. Como essas etapas são trabalhadas na estratégia de mídias sociais, muitas empresas já possuem profissionais especializados nessas redes para desenvolver e implementar um planejamento que permita trans- mitir a essência organizacional. Complementando a importância de considerar o conteúdo gerado pelo consumidor, isso indica que o crescimento da adesão das platafor- mas digitais para acesso à informação fez com que muitas vezes elas fossem capazes de substituir as mídias tradicionais. Esse fenômeno pode ser entendido pelos achados de Chu e Sung (2015), em que é vis- to que o consumidor – na realidade das redes sociais – se tornou mais “empoderado” para partilhar suas opiniões e experiências com as mar- cas até mesmo de modo espontâneo, instantâneo e com poucos filtros, o que fez com que essas opiniões fossem percebidas como autênticas. No caso desse contexto do “boca a boca” nas redes sociais, não se- ria necessário haver um relacionamento preexistente entre os indiví- duos para que houvesse a partilha de informações e que elas fossem consideradas pelos demais seguidores. No entanto, quando se trata dos conteúdos associados a marcas, os indivíduos só compartilhariam experiências marcantes, sejam elas positivas ou negativas. Para isso, Chu e Sung (2015) defendem que diversos fatores podem influenciar o eWOM e por consequência o UGC, embora ainda não tenham conse- guido identificar exatamente qual gatilho uma mensagem de marketing deve utilizar para incentivar o compartilhamento ou tornar-se “viral”. O Ra wp ixe l.c om /S hu tte rs to ck 100100 Fundamentos de MarketingFundamentos de Marketing fato é que esse conteúdo pode ser gerado por qualquer pessoa e sobre qualquer marca. Um recurso utilizado para esse fim é conquistar o apoio de influen- ciadores digitais, que são considerados formadores de opinião, (tam- bém conhecidos como e-celebridades) para disseminar a mensagem de marca sem parecer algo forçado e intrusivo ou uma publicidade. Sobre isso, Djafarova e Rushworth (2017) reforçam o potencial e a in- fluência dessas personalidades no endosso de uma marca e em como são capazes de transmitir confiança e valor. Esse endosso do eWOM e do UGC pode vir de uma e-celebridade inspiracional – que tem um estilo de vida que inspira outras pessoas – ou de um especialista em uma área – o qual os seguidores respeitam e confiam na autentici- dade –, o que pode fortalecer a confiança em uma aquisição de mar- cas no mercado off-line ou não. Por essa razão, quando uma marca está corretamente associada a um influenciador digital, há quase um senso comum entre os seguidores de não fazer postagens negativas sobre as empresas por acreditar que as celebridades dificilmente abusariam das suas posições com recomendações erradas, mesmo quando são pagas ( DJAFAROVA; RUSHWORTH, 2017). Sendo assim, nem sempre as estratégias de eWOMpara promo- ver a geração de conteúdo pelo utilizador funcionam perfeitamente. Em alguns casos, o “boca a boca” na rede e o conteúdo produzidos Tendências de marketing 101 espontaneamente podem ser prejudiciais para as estratégias de marketing, por darem uma escala de visibilidade maior a opiniões negativas e críticas às marcas (sejam elas empresas ou personalida- des, principalmente do cenário político). Precisamos lembrar de que as mídias sociais possuem como diferencial a capacidade de permi- tir que os indivíduos possam interagir, expressar-se e criar conteúdo sobre diversos temas, inclusive sobre as organizações. Essa geração de conteúdo tem a capacidade de influenciar o comportamento do consumidor on-line, e a sua interação que em alguns casos, possui um impacto que pode ser muito maior que outras formas tradicio- nais de marketing e comunicação. CONSIDERAÇÕES FINAIS Não é novidade que a internet alterou substancialmente a oferta de produtos e serviços em todo o mundo. A concorrência, indepen- dentemente do segmento, tornou-se mais agressiva com a queda de barreiras geográficas e a rapidez de conexão. Nesse contexto, cada vez mais se evidencia a necessidade de as organizações investirem em diferenciação, aproximarem-se do seu público-alvo e construírem um relacionamento com o cliente. Para isso, as estratégias de marketing passaram a integrar a comunicação também de maneira mais eficaz. Desenvolver aproximação, vínculos afetivos e emocionais com o con- sumidor – mesmo no meio digital – passou a ser uma maneira de se diferenciar e estar mais presente na memória dos consumidores. In- diretamente, essa possibilidade de imersão consciente na mente dos indivíduos – reforçada em diferentes pontos de contato – influencia o “boca a boca” da realidade digital (eWOM), o conteúdo gerado pelos consumidores on-line e os resultados da empresa dentro e fora da internet. ATIVIDADES Atividade 1 Como podemos diferenciar a comunicação integrada de marketing e o planejamento estratégico de marketing? 102 Fundamentos de Marketing Atividade 2 Com a velocidade e A agressividade da concorrência na reali- dade digital, como é possível manter o relacionamento entre a marca e o consumidor? Atividade 3 O marketing sensorial funcionaria em segmentos não associados aos alimentícios e de bebida? Justifique sua resposta. Atividade 4 Se os influenciadores podem ser pagos pelas marcas, como po- dem ser considerados conteúdos autênticos? REFERÊNCIAS BELCH, G.; BELCH, M. Advertising and promotion: an integrated marketing communications perspective. Nova York: McGraw-Hill, 2007. CAMARGO, P. C. J. Comportamento do consumidor: a biologia, anatomia e fisiologia do consumo. Ribeirão Preto: Novo Conceito, 2010. CHU, SC.; SUNG, Y. Using a consumer socialization framework to understand electronic word-of-mouth (eWOM) group membership among brand followers on Twitter. 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Philip Kotler, que é considerado uma grande referência dessa área, adaptou e reviu sua definição do termo com o tempo, porque cada uma delas estava associada a um contexto do mercado que teria como eixo central uma série de processos para otimizar a relação entre as organizações e o seu público-alvo. Acreditamos que essas definições revisadas podem ser combinadas para criar uma nova proposta para definir como seria o marketing na prática: a área da administração que tem como foco atender e superar as necessidades e expectativas de consumidores de uma marca para manter a competitividade sustentável da organização. Um dos primeiros mitos que precisamos desconstruir com relação ao marketing é o de que ele se limita a vender. É compreensível pensar dessa forma, já que as empresas com fins lucrativos precisam do faturamento para existir. Peter Drucker (1973), considerado um dos pais da administração moderna, reforça que a necessidade de vender já é algo intrínseco, e o marketing possui uma missão mais ampla: ter a capacidade de identificar, conhecer e compreender as necessidades de seu público-alvo para chegar a respostas que agreguem valor para o consumidor. Com essa abordagem, a venda seria uma consequência desse conhecimento, além do planejamento e do desenvolvimento de ações bem direcionadas. Portanto, fica mais evidente entender a diferença entre ter um foco no fim, que seria a venda, e promover condições para que o cliente esteja mais favorável a comprar e a recomprar, em que o foco é o consumidor e o mercado. Essa missão do marketing pode ser percebida pela tendência do mercado em falar sobre “marketing holístico”, conforme Figura 1. Para Kotler e Keller (2018), essa nomenclatura é devido à necessidade da área de desenvolver estratégias, planejamentos e atividades que considerem os demais departamentos da organização para que o marketing possa ser corretamente executado e gerar resultados. O que é marketing? 13 Figura 1 Marketing holístico Marketing holístico Departamento de marketing Gerência sênior Outros departamentos Marketing interno Comunicações Produtos e serviços Canais Marketing integrado Clientes Canal Parceiros Marketing de relacionamento Receita de vendas Brand e customer equityÉtica Ambiente Legislação Comunidade Marketing de desempenho Fonte: Kotler; Keller, 2018, p. 18. Kotler e Keller (2018, p. 21) afirmam que precisamos considerar no marketing holístico (ou marketing moderno) quatro dimensões. 11 Marketing interno: assegura que todos na organização adotem os princípios de marketing apropriados, especialmente a alta gerência. 22 Marketing integrado: assegura que múltiplos meios para criar, entregar e comunicar valor sejam empregados e combinados de maneira ideal. 33 44 Marketing de relacionamento: estabelece relacionamentos profundos e multifacetados com clientes, membros de canal e outros parceiros de marketing. Marketing de desempenho: compreende os ganhos do negócio como decorrência das atividades e programas de marketing, além de abordar questões mais amplas e seus efeitos jurídicos, éticos, sociais e ambientais. Essa perspectiva é mais evidente quando pensamos na realidade digital, em que as organizações precisam estar ainda mais integradas e conscientes do mercado para se destacar da concorrência. Outro ponto que o ambiente ampliou foram as possibilidades de atuação de marketing. Isso porque a missão de atuação da área passa por 14 Fundamentos de Marketing entender as necessidades dos clientes e perceber como entregar melhores soluções para o público, gerar uma aproximação e construir relacionamentos fortes entre as marcas e o consumidor, ou seja, o marketing atua em diversos contextos de negócios on e off-line, afinal, em toda realidade que existir uma troca, uma necessidade a ser sanada, há oportunidade para o marketing. 1.1.1 Possibilidades de atuação do marketing Já havia muitas chances de negócios adotarem o marketing, mas a verdade é que a realidade digital aumentou substancialmente esse volume. Marcas de bens, serviços e até personalidades, como os influenciadores digitais, utilizam estratégias, processos e ações de marketing para ampliarem seu alcance, sua notoriedade e conversão em resultados. Las Casas (2012, p. 10) declara que o marketing deve gerar satisfação positiva de necessidades dos consumidores, para assim atingir “determinados objetivos de empresas ou indivíduos e considerando sempre o ambiente de atuação e o impacto que essas relações causam no bem-estar da sociedade”. Essa versatilidade da administração de marketing é um ponto forte que, quando se conhece bem a área, facilita fazer as adaptações necessárias. Dentre um universo de possibilidades de atuação para o marketing, Kotler e Keller (2018), na atualização do seu livro, dedicam-se a explicar algumas mais adotadas na realidade contemporânea, conforme Figura 2. Figura 2 Possibilidades de atuação do marketing Marketing Produtos Serviços Lugares Eventos Pessoas Fonte: Adaptada de Kotler; Keller, 2018, p. 4. O que é marketing? 15 A seguir, explicamos um pouco mais sobre as formas em que é mais evidente a adoção do marketing no mercado. Cu be 29 /Shutterstock Produtos Em um sentido mais específico, estão associados à produção de bens tangíveis, palpáveis. Nesse grupo, podemos falar de alimentos, carros, flores, roupas, canetas, perfumes, e em cada uma dessas realidades de negócio, as estratégias de gestão de marketing são adaptadas de acordo com as necessidades do seu público. Serviços São uma área extremamente dinâmica e em grande expansão com o digital. Possuem o desafio e a vantagem de haver a simultaneidade entre o desenvolvimento do serviço e o seu consumo. Um serviço precisa trabalhar fortemente a experiência como um modo de agregar valor ao que está sendo desenvolvido, além disso, conta muito com a questão humana para ser desempenhado. Pode ser adaptado ou ajustado com mais facilidade que a produção de um bem material, mas também exige maior esforço para padronizar sua entrega. Podemos citar como exemplos de serviços: cabeleireiros, oficinas mecânicas, hotéis, médicos, nutricionistas, entre outros. da vo od a/Shutterstock Eventos Podem ser trabalhados de duas maneiras, como ações periódicas em que o próprio evento seria o produto (venda de ingressos de uma palestra) ou como momento em que o objetivo é aproximar os consumidores e a marca. As estruturas, etapas e necessidades de cada uma dessas possibilidades podem ser trabalhadas em paralelo ou de maneira individualizada de acordo com o objetivo estratégico. Um ponto importante a ser considerado é elaborar métricas que permitam medirmos se os resultados propostos para o evento foram atingidos, como volume de venda de tickets, de participantes, de inscrições, entre outras. M -ve cto r/Shutterstock Pessoas O objetivo deste tipo de marketing é desenvolver um indivíduo como uma marca. Isso quer dizer que vai trabalhar em nível de desenvolvimento de uma identidade individual que seja capaz de refletir os interesses, aspirações e, de certa maneira, representar um grupo-alvo. Um bom exemplo desse tipo de marketing são os influenciadores digitais, ou self-brands (marcas de indivíduos), estesorientation. Journal of Advertising, v. 34, n. 4, p. 11-23, 2005. Disponível em: http://www.guillaumenicaise.com/wp-content/ uploads/2013/10/Relationship-between-Marketing-and-Brand-orientation.pdf. 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É preciso sempre considerarmos as necessidades do seu público-alvo e, com isso, acompanhar as mudanças e tendências do comportamento humano, e analisar o mercado. Desse modo, será capaz de entregarmos valor para o consumidor e aumentarmos a visibilidade e a lucratividade das atividades de marketing. 2. A inteligência de mercado é capaz de suprimir a necessidade de realização de pesquisas de mercado? Explique. É uma relação de complementaridade. As pesquisas de mercado precisam existir para que haja dados a serem analisados pela área. Mesmo que recorramos às pesquisas e às bases de dados pagas, é preciso entendermos que, da mesma maneira, a organização está adquirindo uma pesquisa de mercado e que na verdade a sua análise por Bis ou os analistas de inteligência melhora a qualidade do conhecimento gerado, mas ainda assim é necessário obtermos o dado para analisarmos. 3. Ao analisar as possibilidades de mercados, discorra sobre como o varejo de luxo poderia ser explorado na realidade digital. O varejo, por definição, está associado ao comércio, a oferecer algo que o consumidor precisa para o seu consumo/utilização pessoal por uma contrapartida financeira. Nessa lógica, no on-line, as métricas de marketing precisam ser adaptadas para esse contexto, mas não existe uma limitação de mercado. Os elementos de diferenciação, de valorização, de unicidade que os produtos de luxo adotam no off-line podem e devem ser aplicados na sua apresentação virtual. Sua presença pode ser trabalhada na perspectiva de visibilidade, construção de relacionamento e, até mesmo, de vendas, tanto de produtos quanto de serviços de luxo. Resolução das atividades 105 4. Quando se pensa em normas éticas, como funciona a regulamen- tação das relações comerciais on-line? Descreva. Assim como na realidade off-line, a on-line também está subordinada ao Código de Defesa do Consumidor e às demais instituições, como a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon) e o Sistema Nacional do Consumidor (SNDC), que envolve também o Procon. Apesar de necessitar de ajustes para a realidade digital, se observarmos as recomendações e regras do CDC na comercialização on-line já será de grande ajuda. 2 Conhecendo o comportamento do consumidor 1. Se o comportamento do consumidor se dedica a identificar e analisar padrões e tendências de consumo, seria mais eficaz que a análise da realidade digital, que possui um público mais amplo, fosse feita por um software? Justifique. Os softwares são de grande ajuda no tratamento de dados matemáticos que avaliam informações de histórico das organizações e vindos do mercado, pois focam a geração de relatórios que analisam dados numéricos que o analista de dados ou o data scientist colhe de diversas fontes, estabelecendo relações. Entretanto, conhecer o comportamento do consumidor exige que também sejam analisados dados subjetivos do contexto do público-alvo e como as necessidades e expectativas do consumidor podem ser atingidas por essa realidade. Essa análise precisa ser desenvolvida por analistas capazes de converter esses dados em informações que os auxiliem na decisão. 2. O que pode acontecer quando a perspectiva de valor da organização e o que o público busca estão desalinhados? Explique. Nesses casos, torna-se mais difícil e demorado obter resultados, além de exigir mais investimento. Basta lembrar que, para fornecer efetivamente valor, a organização precisa combinar umamplo conhecimento sobre seu público-alvo e sobre o que a própria marca é capaz de oferecer. Ainda assim, a organização vai perceber que precisa investir em conhecer bem o comportamento do consumidor para saber o que realmente será percebido como uma entrega de valor. 106 Fundamentos de Marketing 3. Se o marketing participa do processo de decisão influenciando o consumidor, em qual etapa ele se torna evidente? Explique. A melhor resposta é: em todas! Em algumas de maneira mais ostensiva que outras, mas em todas as etapas do processo decisório é possível perceber a influência do marketing. Desde a conversão de necessidades identificadas por estímulos de impulsos e desejos até a compra. Em todo o processo o marketing pode participar, até mesmo na experiência de utilização do consumidor e na forma como pode trocar de marca ou descartar o produto adquirido. Sua participação pode ser mais evidente quando as alternativas estão sendo avaliadas e na busca por informações, mas na decisão, ou seja, quando o consumidor efetivamente está disposto a comprar, se a experiência de compra for negativa ou algum elemento de marketing estiver abaixo da expectativa, essa aquisição passa a ser de uma marca concorrente. Isso reafirma a necessidade de atenção ao planejamento e à execução do marketing para participar corretamente do processo decisório. 3 Estratégias de marketing 1. Se o plano estratégico de marketing precisa ser formalizado, como organizações menos formais, como as da realidade digital, o aplicam? Explique. É preciso atenção para não confundir formalização com burocracia. Quando nos referimos à formalização do plano, trata-se de registrá-lo e fazer com que ele esteja claro para a área de marketing e, possivelmente, para todos da organização. Outro motivo para a existência dessa formalização é o acompanhamento da realização correta para assegurar um resultado. O plano estratégico de marketing irá trabalhar o posicionamento da organização para gerar valor para o consumidor, bem como para ela ser a escolhida no processo de decisão, e isso se torna mais simples quando se tem um mapa dizendo onde, o que e quando precisa ser feito. 2. Se o consumidor pode fazer suas compras on e off-line, por que as organizações precisam investir em conhecer o comportamento do consumidor digital paralelamente? Explique. A resposta para essa questão está na assertividade estratégica. Apesar de o consumidor poder escolher em qual realidade fazer suas compras, o seu comportamento geralmente diverge on e off-line. Por essa razão, é preciso entender quais são esses pontos de diferenças comportamentais e como integrar as necessidades e o comportamento de compra em ambas as realidades para ser mais assertivo no plano de marketing, com as ações e com o investimento. Resolução das atividades 107 3. No caso dos indicadores de gestão OKRs, a equipe propõe os indicadores ou os resultados-chave. Como gestor, o que é possível fazer quando se acredita que as propostas de OKRs estão subestimadas? Discorra. Um dos diferenciais dos OKRs para os KPIs é o fato de a equipe propor quais são os indicadores e qual a escala de mensuração (meta a ser atingida em percentual ou milestone). Isso exige engajamento e conhecimento técnico ou mesmo maturidade profissional, para propor algo que esteja alinhado com o objetivo da área e da organização e que a desafie a atingi-lo. Quando acontece de a equipe não conseguir propor indicadores adequados, a causa quase sempre está associada à falta ou à insuficiência de algum desses pontos. Nesse cenário, o gestor precisaria diagnosticar qual a causa efetiva para realizar esclarecimentos, ajustes ou mesmo modificações. Em alguns casos, a organização pode ter uma equipe que ainda não consegue visualizar como contribui para a organização com o que faz. 4. Com a realidade digital, como é possível inovar se constantemente o mercado está se alterando? Justifique. Exatamente devido à realidade digital, cada vez mais o marketing estratégico é reconhecido: ele permite que as empresas consigam identificar tendências de mercado antes de se tornarem evidentes. Isso só acontece quando há o conhecimento de quem é o público, com o monitoramento do seu comportamento, e quando a organização valoriza a inovação dentro da sua estratégia. A combinação desses fatores reflete na competitividade da empresa e na sua capacidade de entregar soluções diferentes e que agreguem valor para o cliente. 4 Marketing no digital 1. Se o marketing não tem como foco realizar vendas, por que ele se preocupa com a jornada de compra? Nesse caso, é preciso lembrar que o marketing cuida de vários aspectos associados à marca. As vendas de fato aparecem como uma consequência de quando a experiência no processo de conhecer e adquirir um produto ou serviço é positiva. Essa jornada de compra procura incentivar que se observem estrategicamente todos os pontos de contato da marca com o consumidor. Ainda, essa clareza do tipo de sentimento que se pretende promover e a coerência entre as ações fazem com que a pessoa possa se sentir à vontade para adquirir, engajar e recomendar uma marca. 108 Fundamentos de Marketing 2. Se o UX é algo que contempla o comportamento do consumidor on-line, a presença digital de marcas de um mesmo segmento será padronizada? Na verdade, não. O desenvolvimento da arquitetura de usabilidade de um site, por exemplo, precisa combinar as características da própria marca (a sua identidade) ao que o seu público-alvo em específico busca. A experiência de navegação digital deve traduzir a personalidade da marca. Mesmo em soluções pré-configuradas de sites, apesar de – devido a um padrão – terem os mesmos recursos de navegabilidade (quase sempre propostos por nicho), as empresas promovem experiências diferenciadas para seu público, que estão alinhadas com a identidade da sua marca. 3. Os softwares de CRMs, por poderem fazer envios de comunicação automáticos, são considerados invasivos? O software vai funcionar de acordo com os parâmetros da legislação vigente (como a Lei Geral de Proteção de Dados - LGPD) e com os critérios estipulados pelo gestor de marketing. Ou seja, se será invasivo o profissional de marketing não seguir as recomendações das boas práticas do marketing e da LGPD. Se o interesse é construir um relacionamento forte entre o consumidor e a marca, é importante investir em personalizar a comunicação, de acordo com os interesses do cliente, e ter uma maior aproximação. A informação ou campanha enviada deve motivar o indivíduo a ler e a saber mais e não sentir que está sendo “bombardeado” com informações desnecessárias, o que na realidade, pode ser considerado invasivo. 4. Se elas são mais reconhecidas por serem espontâneas, como uma marca poderia utilizar as mídias sociais? As mídias sociais podem ser utilizadas pelas empresas para fornecer informação e interagir com o público. Quando as marcas tratam essa inclusão de maneira estratégica, é possível fortalecer o relacionamento entre a organização e o seu consumidor, promover o compartilhamento de vários conteúdos ou até mesmo possibilitar que os indivíduos compartilhem impressões e informações sobre a marca. Isso se torna muito positivo quando bem trabalhado. 5 Tendências de marketing 1. Como podemos diferenciar a comunicação integrada de marketing e o planejamento estratégico de marketing? Resolução das atividades 109 A diferença entre ambas está na amplitude: o planejamento estratégico de marketing envolve todas as áreas que podem influenciar o posicionamento e a apresentação da empresa para o mercado. Tem como função mapear o mercado e identificar oportunidades de diferenciação diante da concorrência, bem como de prever a comunicação. A CIM, por sua vez, é uma estratégia da comunicação que busca integrar todas as possibilidades de divulgação em uma mensagem única, ou seja, integrar a comunicação interna e externa para que seja consistente e convergente,favorecendo a visibilidade e a memorização da marca. 2. Com a velocidade e a agressividade da concorrência na realidade digital, como é possível manter o relacionamento entre a marca e o consumidor? Com mapeamento de necessidades constantes e adaptações de estratégias para supri-las. Quando uma marca consegue engajar o seu público-alvo no meio digital, é possível contar com feedbacks públicos, que junto a relatórios de comportamento de compra e de tendências de mercado ajudam as organizações a ficarem mais atentas e a identificarem o que se pode alterar na entrega de valor para manter a satisfação positiva e, assim, evoluir a relação com o cliente rumo à lealdade e não ao declínio. 3. O marketing sensorial funcionaria em segmentos não associados aos alimentícios e de bebida? Justifique sua resposta. O marketing sensorial consiste em acessar os sentidos do indivíduo, podendo gerar conexão e influenciar o comportamento do consumidor com um objetivo estratégico. Para ter eficácia, pode ser adotado em diversos segmentos, tanto na realidade off-line – a qual ainda possui mais possibilidades – quanto na digital – pela estimulação de memorias dos demais sentidos por estímulos audiovisuais. No caso de alimentos e bebidas, geralmente são os que mais utilizam o marketing olfativo para incentivar o consumo, entretanto a eficácia do sensorial no marketing já foi identificada em museus, companhias aéreas, hotéis e diversos negócios não associados a comidas e bebidas. 4. Se os influenciadores podem ser pagos pelas marcas, como podem ser considerados conteúdos autênticos? Os utilizadores das mídias sociais estão cientes da possibilidade de as personalidades da realidade on-line fazerem parcerias ou até serem pagos para divulgar marcas. No entanto, para manter a autenticidade e haver a percepção de integridade – tanto da organização quanto da celebridade digital –, é necessária a sinergia entre a essência, o posicionamento da empresa e o perfil do influenciador e da plataforma utilizada. 110 Fundamentos de Marketing 22 Fundamentos de Marketing com que os comportamentos humanos mudam pela facilidade de acesso à informação. Com isso, identificar padrões e conseguir traçar cenários futuros para os negócios fez com que fosse evidenciada a necessidade de formar e desenvolver profissionais que consigam ler os dados e gerar informações capazes de agregar para a decisão do gestor. Pode ser uma área dentro da própria organização (as de grande porte optam por essa solução para obterem mais velocidade), pode ser uma empresa especializada nisso, mas a inteligência de mercado deve condensar dados primários (coletados propositalmente para uma empresa), secundários (de outros estudos de mercado pagos, base de dados ou de institutos), pesquisas qualitativas e quantitativas, em um conhecimento simplificado e, ao mesmo tempo, robusto sobre o que o gestor precisa considerar sobre o mercado. A verdade é que, na maioria das vezes, o volume de dados analisados pela inteligência de mercado é mais de quantitativos, muito pela facilidade de softwares conseguirem coletar e disponibilizar coletas de mercado que podem ser tratados para encontrar padrões e fazer projeções. Volume de vendas, preço, oscilação de aquisição por região são alguns exemplos de dados que podem ser conseguidos e tratados pela base da própria organização ou coletados em pesquisas de mercado por segmento, como a Euromonitor. Geralmente, os profissionais de Business Intelligence condensam as informações em dashboards (quadros simplificados) em que conseguem apresentar o histórico, o cenário atual e a projeção de maneira atualizável e dinâmica. Algumas soluções tecnológicas no mercado se propõem a elaborar esses quadros e fornecer esses inputs com inteligência artificial e até mesmo interligados a bases de dados pagas, entretanto, é preciso notarmos que, para interpretar os dados, ainda são necessários a capacidade interpretativa, o conhecimento e a sagacidade humana. Ainda não há uma inteligência artificial que consiga superar o nosso cérebro. Portanto, esse tipo de solução pode facilitar o trabalho do profissional de inteligência de mercado, mas seria um erro acreditar que poderia substituí-lo. Vale reforçar que a segmentação do mercado-alvo, o conhecimento de quem é o consumidor, como conhecê-lo melhor e como gerar inputs que auxiliem nas atividades e nas tomadas de decisão são importantes em qualquer segmento de negócio. A necessidade de investimento quase sempre é proporcional à abrangência e à dimensão das organizações, podendo ser desempenhada por empresas de qualquer porte e alimentar o marketing e toda estratégia organizacional. Call to action Inteligência de mercado Comportamento do consumidor pesquisa de mercado crm Análise de comportamento Neuromarketing Planejamento estratégico e operacional User experience MARKETING SENSORIAL MARKETING DIGITAL Resultados -chave FUNDAMENTOS DE FUNDAMENTOS DE marketingmarketing Jeanne Botelho Maciel comunicação integrada Fundam ent os de M arket ing Jeanne B ot elho M ac iel Código Logístico 00000 Código Logístico I000588 ISBN 978-65-5821-136-5 9 786558 211365podem ser celebridades que já possuem um nome consolidado ou uma personalidade com reconhecimento em um serviço, como médicos, professores, entre outros profissionais que são basicamente transformados em marcas. Estratégias de gestão de marca também são capazes de influenciar bastante os resultados nesse caso. ks en vit aln/Shutterstock Lugares As localidades geográficas também podem ser transformadas em marcas. As place brands (marcas de lugares) são trabalhadas com diferentes objetivos, como captação de residentes, de congressos, de estudantes (cidades universitárias), de indústrias ou até mesmo de turismo profissional ou de férias. Nesse caso, o que será trabalhado são aspectos que componham uma identidade de cidades, estados, países e regiões que seja capaz de conversar com o público que pretende cativar. La nd cen k Art/Shutterstock 16 Fundamentos de Marketing Quando visualizamos as definições e os conceitos de marketing, fica mais fácil entendermos que se trata de uma área versátil, que preci- sa ser integrada a outros departamentos dentro de uma organização, devendo ser contextualizado na realidade da pessoa, do evento ou da localidade a ser trabalhado. O foco deve ser o público-alvo, a atenção ao mercado e o conhecimento sobre o próprio negócio. No que diz res- peito aos processos, muitas etapas estratégicas são comuns a todos esses segmentos, entretanto é importante saber que também é preciso respeitar as características de cada segmento e estar preparado para atender às especificidades de cada um deles. 1.2 Segmentação, pesquisa e inteligência de mercado (BI) Vídeo Para ficar evidente a importância da segmentação de mercado, apresentamos uma analogia com o início de uma conversa. É muito mais fácil saber o que falar, como dizer, a melhor maneira de abordar um determinado assunto quando sabemos quem é a pessoa com quem vamos conversar; se é uma pessoa mais acelerada, se tem conhecimento prévio sobre o tema, ou se deve usar uma linguagem mais formal ou informal, enfim, conseguimos saber como comunicarmos melhor e direcionarmos o discurso a quem é o alvo de um determinado assunto. Por conta disso, é comum adotarmos o termo público-alvo ou mercado- alvo quando a pretensão é saber se agregará valor e fará sentido o que está sendo entregue pela empresa. Para Kotler e Armstrong (2015), se um negócio tem interesse em atingir consumidores e prováveis clientes, ele precisa estar voltado para o mercado. Em outras palavras, precisamos conhecer e considerar quem são as pessoas ou organizações que a marca tem interesse em atingir ou que podem perceber valor naquilo que a empresa oferece. Fica fácil entender essa necessidade de conhecer o mercado-alvo quando pensamos nas definições de marketing apresentadas. Elas estão associadas ao atendimento das necessidades dos seus consumidores e ter esse conhecimento é uma forma mais eficiente de desenvolver um marketing mais assertivo, que pode ser traduzido em uma melhor aplicação orçamentária e na melhora dos resultados (KOTLER; KELLER, 2018). Este é um dos princípios fundamentais do marketing: conhecer o O que é marketing? 17 público-alvo da marca e o consumidor, sendo que, para isso, é necessário também conhecer bem a empresa e o que ela entrega. Vale reforçar que, nesse caso, o objetivo de conseguir identificar o consumidor o mais precisamente possível de uma empresa se deve ao fato desses conhecimentos influenciarem em aspectos sensíveis para toda a organização, como a lucratividade e a rentabilidade das estratégias. É interessante perceber que nem sempre esses aspectos são traduzidos somente em vendas. A lucratividade de fato está mais associada a uma resposta financeira, que, verdade seja dita, é vital para qualquer organização que quer se manter competitiva, entretanto a rentabilidade pode ser considerada algo mais amplo, como as métricas de respostas almejadas. Por exemplo, a métrica de rentabilidade de uma organização não governamental (ONG) pode ser conseguir mais doações, mais voluntários. Em qualquer um dos casos, é necessário conhecer e direcionar os esforços e orçamentos para quem a organização precisa convencer, e existem algumas possibilidades que podem ser consideradas para segmentar o mercado, como veremos a seguir. 1.2.1 Tipos de segmentação de mercado O processo de segmentação de mercado pode iniciar quando conhecemos bem o que a organização é capaz de entregar. Fica mais simples entender isso quando olhamos pela perspectiva do que conseguimos oferecer de diferente, de superior em relação à concorrência. Tendo essa consciência no desenho das estratégias da organização, podemos passar à busca por entender quem teria interesse no que a empresa produz ou entrega. Para iniciar a identificação do público-alvo, é possível utilizarmos dados de pesquisas de mercado desenvolvidas especificamente para a implementação do mercado, ou de um novo produto ou serviço, ou ainda fazer esse mapeamento com dados secundários de relatórios de institutos de geografia analítica, como o IBGE, ou de outras pesquisas com dados gerais de mercado. Na prática, quais dados serão importantes para segmentar o mercado? Alguns foram propostos por Weinstein (1995) e, mesmo na realidade digital, ajudam a nortear sobre quem é o público de uma organização. Esse pesquisador propôs que fossem analisadas algumas métricas, dispostas a seguir, que são básicas, mas que ajudam na tarefa de triagem do público. Mera Coincidência conta a história de uma estratégia de marketing com o obje- tivo de tirar o foco de um escândalo envolvendo o presidente dos EUA. Nes- se caso, até uma ofensiva militar foi contemplada na estratégia para melhorar a credibilidade do líder da nação. O filme mostra os bastidores de como mapear o mercado e reali- zar pesquisas de mercado para monitorar os resul- tados do plano. Apesar de a trama ser focada na realidade política, muitas das estratégias e formas de buscar entender o pú- blico também podem ser adotadas pelas empresas. Direção: Barry Levinson. EUA: Tribeca Productions; Baltimore Pictures; New Line Cinema; Punch Productions, 1998. Filme 18 Fundamentos de Marketing • Perfil geográfico: esta métrica ajuda na presença de uma assertividade de direcionamento de esforços e orçamentos ao nível territorial. Neste perfil é possível entender onde estão os consumidores ou clientes da empresa, por meio da análise de acordo com alguns enfoques, por exemplo: localizar os consumidores que mais compram, onde há maior poder aquisitivo para adquirir o seu produto ou onde tem mais pessoas com uma busca pelo que a sua organização pretende oferecer (novos mercados). Como o próprio nome já indica, este perfil leva em consideração critérios geográficos, como cidade, estado, região ou país, que nos ajudam a ter uma noção da dimensão de um mercado consumidor e, portanto, do seu potencial de negócio. É um ponto relevante reforçarmos que a internet mesmo tenha acabado com as “barreiras geográficas”, entender a concentração territorial dos consumidores é igualmente essencial no marketing digital. Cálculo de frete, de base de impostos para chegar à composição de preço, normas ou legislações específicas precisam ser contempladas e é o perfil geográfico que permite obtê-los. • Perfil demográfico: observa critérios como faixa etária, estimativa do número de membros da família (composição familiar) da área geográfica em que pretende atuar. Esse perfil permite aprofundar o conhecimento de quem é o consumidor e entender mais sobre o momento de vida e as necessidades do consumidor. Nesse perfil podem ser avaliados os consumidores diretos (a quem o produto ou serviço pode atender diretamente) e indiretos (que podem ser responsáveis pela aquisição, mas não necessariamente quem vai utilizar). • Perfil socioeconômico: abrange mapear aspectos sociais e econômicos, como gênero, classe social (por exemplo, pessoas que pretendem fazer partede um grupo social por meio do que compram para analisar o poder de compra real e aspiracional), renda familiar (qual a capacidade financeira ou de compra dos indivíduos ativos em certa família), nível de instrução (escolaridade), também podendo fornecer informações quanto a composição familiar, a religião e a etnia predominantes em uma localidade. Entender esses aspectos em realidades como a brasileira, em que tantas culturas variadas participaram da sua formação, ajuda a direcionarmos a estratégia. • Perfil psicográfico: são questões mais sensíveis, como crenças, culturas, valores e estilos de vida, que o público em uma determinada região pode ter em comum. Em uma mesma localidade, como é O que é marketing? 19 o caso do Brasil, é possível identificarmos influências de culturas diferentes. Solomon (2016) pontua que nesse tipo de perfil é possível analisarmos particularidades do público, critérios que nos permitem identificar como as pessoas classificam a elas próprias, de acordo com suas preferências pessoais: o que gostam de fazer, como gastam seu dinheiro, entre outras. • Perfil comportamental: mais questionador, exige conhecimento para interpretar a subjetividade. Permite entendermos como o público-alvo se comporta na hora de consumir, o que ele busca, o que o motiva a comprar. Por meio desse perfil, uma marca consegue inclusive observar quais diferenciais investir mais para captar atenção e fidelizar o seu público. É preciso buscar algumas respostas, por exemplo: como os clientes buscam informação? O que os faz engajar com uma marca? Nessa localidade, as pessoas se fidelizam com maior ou menor facilidade? Apesar de exigir mais preparo e conhecimento para analisar esse tipo de perfil, o comportamento permite que a empresa entenda o que motiva a aquisição, o que move as pessoas, quais são as suas necessidades, emoções e atitudes, principalmente de consumo. Quando observamos essas informações, percebemos como todas elas estão interligadas. Esses aspectos podem ser adotados principalmente para entendermos e identificarmos padrões dos indivíduos (B2C, do inglês business to consumer ou, em português, do negócio para o consumidor), mas também colabora quando o cliente é uma outra empresa (B2B, do inglês business to business ou, em português, de negócio para negócio). Em paralelo, uma boa forma de conseguirmos direcionar mais os dados que poderão ser utilizados para esclarecer pontos importantes para desenvolvermos ações e para a tomada de decisão estratégica é o desenvolvimento de pesquisas de mercado. 1.2.2 Pesquisas de mercado As pesquisas ou estudos de mercado são instrumentos e metodologias capazes de gerar informações preciosas para os gestores de diferentes áreas da empresa sobre o momento do mercado. A realização de estudos pode atender a diferentes necessidades e responder a diversas questões que o plano organizacional precisa. A primeira coisa é que para realizarmos uma pesquisa de mercado precisamos responder a quatro questões básicas: qual o objetivo deste estudo? Qual é a amostra? Como posso ter acesso a essas respostas? Qual o prazo e o orçamento de que disponho? 20 Fundamentos de Marketing Toda pesquisa de mercado precisa ter um objetivo claro e definido. Em alguns casos, o grau de complexidade é maior, por haver mais desdobramentos dentro do objetivo, por exemplo: entender o que os jovens de 17 a 24 buscam do Ensino Superior, e depois compreender se as necessidades são as mesmas nas diferentes regiões brasileiras. Nesse exemplo, conseguimos inclusive perceber que existe um objetivo e uma delimitação da amostra e do perfil do público que devemos considerar para realizar o estudo. Tendo esse tipo de informação base é possível fazer o design, o desenho do que é necessário para desenvolver a pesquisa. Nesse exemplo, também podemos notar que quando sabemos que tipo de pergunta precisamos responder, para quem ou a quantas pessoas perguntar, conseguimos identificar se é preciso um estudo qualitativo ou quantitativo. Isso porque se precisamos de profundidade nas respostas, entender a raiz e o motivo de alguns comportamentos, as pesquisas qualitativas são a melhor opção. Nesse caso, existem diferentes métodos que podem ser utilizados: entrevistas com roteiros estruturados (com questões previamente definidas) ou semiestruturados (questões que permitem adaptações e a adição de outras perguntas), questionários de perguntas abertas, grupos focais e observação no próprio local. Essas são as formas mais utilizadas e que nos permitem entender bem sobre o porquê de um determinado fenômeno que precisamos ponderar. Esse tipo de metodologia exige muito profissionalismo e isenção do profissional que conduz tanto a coleta quanto o tratamento de dados, para evitar influenciar as respostas fornecidas ou enviesar os resultados pela sua opinião ou seu direcionamento. Outra possibilidade são as pesquisas quantitativas. Nesse caso, nós já sabemos o motivo de algo acontecer, de um fenômeno, e precisamos conhecer a abrangência, o quanto aquele comportamento é representativo junto ao público-alvo. Podemos utilizar questionários com escala de intensidade de concordância, que nos permite identificar o quanto a pessoa concorda com uma determinada situação proposta. Podemos também adotar questões objetivas (selecionar apenas um item), de ordenação por prioridade (da mais importante para a menos, por exemplo) e de escalas sobre temas já pesquisados por outros pesquisadores. É importante notarmos que, no caso das pesquisas quantitativas, a quantidade de respondentes precisa ser considerável para que tenha relevância ou representatividade das pessoas em uma determinada realidade. O que é marketing? 21 É muito comum que para atender o objetivo da pesquisa seja necessário o desenvolvimento de uma etapa qualitativa, a fim de entender em profundidade os motivos, seguida de uma etapa quantitativa para saber o quanto é relevante ou com que periodicidade acontece. No exemplo proposto anteriormente, é preciso entendermos o que os jovens buscam e, depois, o quanto essas dores são representativas no território nacional. Isso está relacionado a uma necessidade qualitativa e quantitativa com um grupo (amostra) bem específico: jovens de 17 a 24 anos. Outro aspecto importante é que as pesquisas de mercado normalmente são metodologias que exigem investimentos maiores por parte das organizações e precisam ser realizadas em um tempo predeterminado. No caso do exemplo proposto, a pesquisa precisaria ser realizada em três meses e com abrangência nacional, ou seja, tanto a etapa de entrevistas (qualitativas) quanto a dos questionários (quantitativa) precisariam ter respondentes de todas as regiões, na fase qualitativa com menor número de pessoas, mas com um volume considerável na quantitativa. Elaborar metodologias adequadas, capazes de atender ao objetivo da análise, exige técnica e conhecimento de pesquisa. Esse tipo de recurso precisa ou de investimento para manter um departamento interno para responder as questões, ou da contratação de uma empresa ou instituto especializado nesse tipo de ação. Essas pesquisas geram um relatório que forneça exatamente os inputs que o gestor precisa para estruturar as atividades e aumentar a assertividade da tomada de decisão, entretanto, o que é mais comum de acontecer é realizar a busca de informações a mais que possam aju- dar a identificar tendências e a desenvolver planos estratégicos de longo prazo. Essa busca ajuda a conseguir mais fontes e maior robustez das in- formações a serem consideradas, para que sejam elaborados planos de longo prazo. Umas das possibilidades de se conseguir condensar dados de diversas fontes é conhecida como inteligência de mercado. 1.2.3 Inteligência de mercado ou Business Intelligence (BI) A inteligência de mercado é uma área em franca expansão na realidade dos negócios, muito promovida pela necessidade de se manter à frente da concorrência,cada vez mais agressiva com a realidade digital e pela rapidez input: em inglês, significa literalmente entrada, isto é, no cotidiano das empresas, quando se tem acesso ou entrada de informações. Glossário 22 Fundamentos de Marketing com que os comportamentos humanos mudam pela facilidade de acesso à informação. Com isso, identificar padrões e conseguir traçar cenários futuros para os negócios fez com que fosse evidenciada a necessidade de formar e desenvolver profissionais que consigam ler os dados e gerar informações capazes de agregar para a decisão do gestor. Pode ser uma área dentro da própria organização (as de grande porte optam por essa solução para obterem mais velocidade), pode ser uma empresa especializada nisso, mas a inteligência de mercado deve condensar dados primários (coletados propositalmente para uma empresa), secundários (de outros estudos de mercado pagos, base de dados ou de institutos), pesquisas qualitativas e quantitativas, em um conhecimento simplificado e, ao mesmo tempo, robusto sobre o que o gestor precisa considerar sobre o mercado. A verdade é que, na maioria das vezes, o volume de dados analisados pela inteligência de mercado é mais de quantitativos, muito pela facilidade de softwares conseguirem coletar e disponibilizar coletas de mercado que podem ser tratados para encontrar padrões e fazer projeções. Volume de vendas, preço, oscilação de aquisição por região são alguns exemplos de dados que podem ser conseguidos e tratados pela base da própria organização ou coletados em pesquisas de mercado por segmento, como a Euromonitor. Geralmente, os profissionais de Business Intelligence condensam as informações em dashboards (quadros simplificados) em que conseguem apresentar o histórico, o cenário atual e a projeção de maneira atualizável e dinâmica. Algumas soluções tecnológicas no mercado se propõem a elaborar esses quadros e fornecer esses inputs com inteligência artificial e até mesmo interligados a bases de dados pagas, entretanto, é preciso notarmos que, para interpretar os dados, ainda são necessários a capacidade interpretativa, o conhecimento e a sagacidade humana. Ainda não há uma inteligência artificial que consiga superar o nosso cérebro. Portanto, esse tipo de solução pode facilitar o trabalho do profissional de inteligência de mercado, mas seria um erro acreditar que poderia substituí-lo. Vale reforçar que a segmentação do mercado-alvo, o conhecimento de quem é o consumidor, como conhecê-lo melhor e como gerar inputs que auxiliem nas atividades e nas tomadas de decisão são importantes em qualquer segmento de negócio. A necessidade de investimento quase sempre é proporcional à abrangência e à dimensão das organizações, podendo ser desempenhada por empresas de qualquer porte e alimentar o marketing e toda estratégia organizacional. O que é marketing? 23 1.3 Mercados de marketing Vídeo Quando paramos para pensar nas possibilidades de mercados de marketing que podemos considerar, em um primeiro momento é comum lembrar do varejo e dos serviços, mas depois percebemos que na realidade são muitas. Assim como existem grandes possibilidades de se trabalhar com o marketing, existem possibilidades de mercado! Em uma perspectiva de gestão, as principais formas de segmentar as estratégias de marketing são em varejo, serviços e institucional. Os dois primeiros conseguem promover mais estudos e desenvolvimentos de técnicas que podem ser adaptados em diversas realidades de negócios, já o institucional podemos dizer que está mais focado em perspectivas não lucrativas. Conhecer como trabalhar com os mercados de varejo e serviços nos fornece uma visão de possibilidades de desdobramentos do marketing. A seguir, vamos apresentar um pouco sobre essas possibilidades. Começando pelos serviços, a primeira coisa que precisamos saber é que há pontos bastante complexos que necessitam ser considerados, mas que também oferecem boas oportunidades. Os serviços podem ser definidos como “qualquer ato ou desempenho, essencialmente intangível, que uma parte pode oferecer a outra e que não resulta na propriedade de nada” (KOTLER; KELLER, 2018, p. 382), o que significa que os principais benefícios são abstratos, mas servem para atender a necessidades reais dos consumidores. Em contrapartida, o fato de ser intangível, ou seja, não palpável, faz com que haja a possibilidade de adaptá-los ou realizar ajustes nos serviços com maior facilidade. Existem outras características importantes dos serviços que precisamos lembrar, como a questão de não poderem ser armazenados e de existir uma simultaneidade da oferta e do consumo que permite haver maior troca de informações e que exige maior cuidado com a padronização. Os serviços estão cada vez mais em evidência, muito por conta da realidade digital. Percebemos a natureza “impalpável” da internet, afinal, “muitas prestadoras de serviços propriamente ditas usam a Internet para chegar aos clientes; algumas são inteiramente virtuais” (KOTLER; KELLER, 2018, p. 382). Uma forma de o marketing conseguir aumentar a confiança no serviço e diminuir um pouco da sua característica abstrata seria investir em fortalecer a imagem da marca. Desse modo, é possível conferir uma 24 Fundamentos de Marketing margem de tangibilidade (LAS CASAS, 2012). Em paralelo, Kotler e Keller (2018) reforçam que é preciso considerarmos que os serviços geralmente envolvem a participação de pessoas para serem oferecidos. Kotler e Keller (2018) complementam afirmando que os serviços podem inclusive ser combinados com produtos para aumentar a vantagem competitiva, que já não é uma prática muito recente, mas continua a dar resultados. Outro aspecto interessante a ser recordado é que os serviços podem ser desenvolvidos em uma perspectiva privada (empresas que comercializam um serviço de diversas possibilidades) e pública que, por exemplo, envolve a esfera governamental, podendo ser federal, estadual ou municipal, que prestam serviços de saúde, segurança e educação à população. Quando falamos de possibilidades de mercado de varejo, elas também são muito vastas. Também conhecido como comércio, o varejo é caracterizado por vender bens para atender às necessidades das pessoas. É a ação de comercializar algo para um cliente final consumir, ou seja, o comércio é constituído pela combinação entre o produto que a empresa oferece e o que os seus consumidores buscam. Apesar de popularmente acreditarmos que o varejo está associado a bens populares, isto é, com valor mais acessível, o que ocorre é que eles transitam pelos dois tipos de mercados, ou melhor, pelos dois macromercados, de luxo e popular, que possuem características próprias e englobam diversos segmentos. Vale somente reforçarmos que ambos os mercados podem e devem ser trabalhados nas realidades on e off-line, preferencialmente em conjunto. O mercado de luxo existe principalmente com a lógica de converter necessidades em desejos, a partir do momento que busca identificar necessidades que o consumidor possa ter e desenvolver estratégias para ser percebida como a única marca capaz de atendê-las (KOTLER, 1998). Segundo Castarède (2005), na realidade da globalização, o mercado de luxo foi desenvolvido com a proposta de diferenciação, sofisticação, qualidade superior e exclusividade. Fora isso, o marketing nesse tipo de mercado busca trabalhar a sensação de pertencimento a um determinado grupo social e a experiência que o próprio processo de compra é capaz de proporcionar. Assim, conseguimos, de certa maneira, justificar o investimento de aquisição, e funcionar como uma forma de atender não somente às necessidades práticas, ou seja, o que o produto ou serviço efetivamente entrega, mas às emocionais, de sentir que faz parte de um grupo, que é especial ou que fez uma excelente compra (CASTARÈDE, 2005). O que é marketing? 25 Sobre esse macromercado, Schweriner (2005) acrescenta que também precisamos entender afinalidade da aquisição, por isso propôs a segmentação dos tipos de consumidores em quatro, conforme Quadro 1. Quadro 1 Motivacionais de consumo no mercado de luxo Tipo de consumidores Finalidade da aquisição Utilitários Consomem artigos e serviços de luxo pela sua qualidade, desempenho ou durabilidade. Exibidos Motivam-se a consumir pela exclusividade, pelo glamour, pela sensação de fazer parte de um grupo de pessoas bem-sucedidas. Desfrutadores Como um prêmio para si mesmos. Autoindulgentes Buscam uma recompensa psicológica com a aquisição. Fonte: Elaborado pela autora com base em Schweriner, 2005. No caso do mercado popular, que inclusive alguns autores ainda chamam de baixa renda, Parente e Barki (2006) alertam que esse tipo de ruído pode levar a crer que o mercado popular responde exclusivamente ao preço baixo, mas isso não é verdade. Os autores afirmam que ele está centrado em três pilares (PARENTE; BARKI, 2006, p. 40). 11 Ênfase em preço baixo: é o que muitas empresas adotam, mas que pode ser mais perigoso. Quando um produto ou serviço trabalha sua estratégia de marketing com base na oferta do menor preço, pode acabar entrando em uma “guerra de preços” que pode prejudicar a imagem da marca e, até mesmo, comprometer a margem de contribuição dos seus produtos ou serviços. 22 Ênfase em benefícios: neste caso, a aposta das estratégias é investir em um conjunto de benefícios que podem ser apresentados para o consumidor como diferenciais da marca. Atributos como o atendimento, as instalações, a variedade e a apresentação quase sempre são utilizados para justificar o investimento maior no produto ou serviço. 33 Ênfase em proximidade: geralmente são negócios de menor porte que investem na capilarização, ou que estão geograficamente próximos do seu público-alvo, buscando desenvolver um relacionamento com o cliente. Outro fato importante de termos em mente é que, apesar de ser mais uma realidade paralela, o digital é algo que veio para ficar. É vital O vídeo A História da Ama- zon: a história de Jeff Bezos – Histórias de Sucesso #7, do canal Elementar, conta a história da Amazon, que revolucionou o varejo de produtos na realidade digital e provocou mudan- ças também na realidade de varejo off-line. Apre- senta também como são realizadas as pesquisas, como manter o foco no mercado e nas necessida- des do cliente de maneira ética. A combinação des- ses fatores permitiu que esse portal/marketplace (para comercializar produ- tos de outras lojas) tivesse aceitação do público internacional. Disponível em: https://www. youtube.com/watch?v=ttU4V7i_ mmo. Acesso em: 29 dez. 2021. Vídeo capilarização: quando há uma boa distribuição de algo; quando está presente em diversos lugares. Glossário https://www.youtube.com/watch?v=ttU4V7i_mmo https://www.youtube.com/watch?v=ttU4V7i_mmo https://www.youtube.com/watch?v=ttU4V7i_mmo 26 Fundamentos de Marketing que os gestores estejam preparados para trabalhar com o marketing digital, pois há empresas que já nascem 100% virtuais. Essa é uma possibilidade que não pode ser desperdiçada nem na perspectiva acadêmica e muito menos na prática. Para os negócios que nasceram no off-line, é essencial entendermos como integrar (não meramente replicar) os planos de marketing a essa realidade e como se relacionar com o consumidor on-line, ou seja, nos mercados de marketing há possibilidades de valorização do produto ou serviço e pontos que precisam de atenção, seja no on ou no off-line. Portanto, vale reforçarmos que, seja no mercado de luxo ou no popular, sempre o foco da estratégia deve ser combinar o que a empresa é capaz de entregar às necessidades do consumidor, desse modo, gerando valor e, em contrapartida, sendo capaz de obter melhores retornos. 1.4 Ética no marketing Vídeo O conhecimento sobre o comportamento do consumidor, as tendências e o constante monitoramento do mercado permitem ao marketing entender como ele pode participar, influenciando o processo de decisão do consumidor e isso pode até não parecer, mas confere um grande poder ao marketing que, muitas vezes, pode ser utilizado de maneira incorreta. Com a concorrência cada vez mais agressiva, tanto no passado quanto, infelizmente, ainda hoje, algumas marcas caem na tentação de utilizar esse conhecimento para manipular o consumidor, ao prometer um diferencial, um benefício que o público busca, mas que a empresa não é capaz de entregar. Para evitar entrar em um sistema de vale-tudo, as estratégias de marketing precisam considerar critérios éticos no seu planejamento e na sua execução. A ética, por definição, representa os valores, as normas e os padrões morais em uma determinada sociedade. Essas normas são convencionadas de acordo com a cultura, a crença e o comportamento padrão de uma sociedade. De maneira simplista, a ética ajuda a entender o que é aceitável, correto pela convenção de um grupo de pessoas. Esses padrões quase sempre são subjetivos e podem variar de acordo com o contexto e a interpretação do indivíduo. Para evitar falhas nesse sentido, é recomendado que seja formalizado um manual com um código de ética dentro da empresa, assim todos conseguem O que é marketing? 27 ter ciência do que é aceitável ou não, e são diminuídos os problemas de interpretação. Nas estratégias de marketing, durante algum tempo, não havia essa delimitação do que é correto e do que não é. Com o propósito de evitar danos para os consumidores e, de certa maneira, proteger as organizações, na década de 1960, nos Estados Unidos da América, foi homologada o que seria uma legislação capaz de atender tanto aos interesses dos consumidores como o das organizações (BLACKWELL; MINIARD; ENGEL, 2005). Nos anos 1990, essa legislação deu origem ao que, no Brasil, foi chamado de Código de Defesa do Consumidor (CDC). Nesse código, estão apresentadas as boas práticas de comercialização e consumo, além de já prever punições e sanções, caso haja algum descumprimento. A proposta é ter mecanismos capazes de proteger e sanar possíveis danos na relação entre organizações de produtos, serviços e clientes, em diferentes mercados on e off-line. De maneira resumida, podemos dizer que o CDC também lista os direitos dos consumidores em forma de legislação. Dentre as questões relacionadas ao nível de contratos e à proteção com relação ao que é oferecido, estão abrangidos principalmente os direitos considerados básicos do consumidor (BRASIL, 2013), dispostos a seguir. Proteção da vida e da saúde: caso haja, ser avisado por quem comercializa o produto ou serviço quanto a possíveis riscos tanto à saúde quanto à segurança. Educação para o consumo: ser orientado pelos fornecedores sobre a correta utilização do produto ou serviço. Liberdade de escolha de produtos e serviços: poder escolher o produto ou serviço de acordo com sua preferência. Informação: apresentar as informações de modo evidente sobre suas características e utilização. Proteção contra publicidade enganosa e abusiva: entregar o que prometer. Proteção contratual: proteger o consumidor de cláusulas obscuras, abusivas ou descumpridas. Indenização: compensar o consumidor quando houver danos de qualquer natureza (física, patrimonial e moral). Qualidade dos serviços públicos: empresas públicas ou concessionárias devem prestar serviços de qualidade. Essas são algumas das leis previstas pelo CDC, que, de certa maneira, orienta quanto aos critérios éticos e subordinados à justiça, por exemplo, a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), que No livro A felicidade paradoxal: ensaio sobre a sociedade de hiperconsumo, o autor Gilles Lipovetsky busca apresentar alguns questionamentos quanto ao paralelo que se tende a fazer entre os hábitos de consumo da sociedade contemporânea e a busca pelo sentimento de felicidade. A proposta é promover o debate e a reflexão sobre a mudança dos gatilhos que atuamsobre as necessidades do indivíduo e o que está por trás da compra. Essa leitura ajuda a situar o gestor acerca de pontos que podem ser potencializados em estratégias de marketing, mas também convida a avaliar os limites éticos. LIPOVETSKY, G. Lisboa: Edições 70, 2007. Livro 28 Fundamentos de Marketing regula o planejamento, a coordenação e execução da Política Nacional das Relações de Consumo e o Sistema Nacional do Consumidor (SNDC). A Senacon trabalha em conjunto com o SNDC, que é composto pelo Procon, o Ministério Público, a Defensoria Pública, as delegacias de defesa do consumidor e os juizados especiais cíveis (O QUE..., 2022). Como podemos perceber, as normas previstas pelos códigos de ética são para simplesmente garantirem que as relações entre as organizações e os consumidores sejam transparentes, pacíficas e que consigam agregar valor tanto para o indivíduo quanto para o negócio, sabendo que a própria ética regulará as melhores práticas de concorrência também na realidade on-line. CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste capítulo, entendemos um pouco mais sobre o que é o marketing e como a sua definição e suas características podem ser desdobradas em etapas das quais as organizações precisam seguir para melhorar seus resultados, por exemplo, conhecer a organização e o público-alvo, bem como a vantagem que a pesquisa e a inteligência de mercado são capazes de agregar para as estratégias e ações de marketing. Em todas essas etapas, a ética é essencial para que o equilíbrio entre as relações de mercado e as empresas seja mantido, além de possuir órgãos que regulem essa integração. ATIVIDADES Atividade 1 Explique como conhecer o conceito de marketing pode ajudar a melhorar a sua aplicação na prática. Atividade 2 A inteligência de mercado é capaz de suprimir a necessidade de realização de pesquisas de mercado? Explique. O que é marketing? 29 Atividade 3 Ao analisar as possibilidades de mercados, discorra sobre como o varejo de luxo poderia ser explorado na realidade digital. Atividade 4 Quando se pensa em normas éticas, como funciona a regulamen- tação das relações comerciais on-line? Descreva. REFERÊNCIAS AMA. American Marketing Association. Definitions of Marketing, 2017. Disponível em: https://www.ama.org/the-definition-of-marketing/. Acesso em: 28 nov. 2021. BLACKWELL, R. D.; MINIARD, P. W.; ENGEL, J. Comportamento do consumidor. Trad. de Eduardo Teixeira Ayrosa. 8. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2005. BRASIL. Secretaria Nacional de Defesa do Consumidor. Código de proteção e defesa do consumidor. Brasília, DF: Ministério da Justiça, 2013. Disponível em: https://www.novo. justica.gov.br/seus-direitos-2/consumidor/Anexos/cdc-portugues-2013.pdf/view. Acesso em: 28 abr. 2022. CASTARÈDE, J. O luxo: os segredos dos produtos mais desejados do mundo. Trad. de Mário Vilela. São Paulo: Barcarolla, 2005. DRUCKER, P. Management: tasks, responsibilities, practices. New York: Harper and Row, 1973. p. 64-65. KOTLER, P. Marketing Management. 3. ed. 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Muitas vezes o marketing e essa dis- ciplina se confundem, quase como se fossem uma coisa só; isso ocorre porque o comportamento do consumidor é uma parte do marketing que envolve diferentes áreas do conhecimento e nos ajuda a entender mais sobre os indivíduos e, claro, como eles se comportam, tanto individual quanto coletivamente. Acompanhar e captar as sutilezas de mudanças de hábitos, de expectativas e necessidades faz com que empresas de dife- rentes segmentos busquem no marketing esse conhecimento valioso de aspectos humanos e subjetivos dos indivíduos. Essa perspectiva é o que torna essencial a dimensão de conhecer o comportamento do consumi- dor e possibilita otimizar estratégias, conseguir gerar mais valor percebido e assim obter maior retorno do consumidor. Para começar, veremos exatamente o que é, o que faz e como o com- portamento do consumidor pode nos ajudar na gestão das empresas de maneira mais ampla, com o foco não apenas no marketing. Para isso, va- mos conhecer suas definições mais emblemáticas e suas características- -chave. Também é necessário entendermos como o comportamento do consumidor é importante e como este participa das estratégias de marke- ting, influenciando os resultados. Por fim, vamos analisar como ocorre o processo de decisão do consumidor. Com o estudo deste capítulo, você será capaz de: • conhecer as principais definições e características-chave do comportamento do consumidor; • explorar a relevância do comportamento do consumidor para as estratégias de marketing off-line e digital; • entender o processo de decisão do consumidor on-line e off-line. Objetivos de aprendizagem Conhecendo o comportamento do consumidor 31 Conhecendo o comportamento do consumidor 2.1 Definições e processos do comportamento do consumidorVídeo Quando se pensa em comportamento do consumidor, um fato precisa estar evidente na memória do gestor: todos nós somos consumidores. Isso quer dizer que é fácil e simples conhecer o comportamento do consu- midor? Pelo contrário! Pessoas são seres complexos, podendo ser influen- ciadas por uma série de fatores sobre como pensam, sentem e agem; consequentemente o mesmo acontece conosco, constantemente adqui- rindo ideias, bens e/ou serviços de empresas como gestores ou consumi- dores. Assim, temos nossas marcas preferidas, que amamos e que nos representam, e aquelas que não fazem sentido naquele momento de nos- sa vida. Isso acontece com as pessoas de maneira geral. Conhecer como o público-alvo se comporta permite que as estratégias mantenham a marca presente positivamente na memória do consumidor, incentivando a re- compra e, se possível, fazendo com que os clientes passem a recomendar a empresa para seus conhecidos. Essa recomendação espontânea posi- tiva, em uma realidade digital, é o sonho de consumo das organizações! Devido à necessidade de identificar e conhecer os padrões comporta- mentais do público, bem como suas preferências e tendências de atitudes, com antecedência, surgiu essa especialidade, cuja origem é confundida por estar tão associada ao marketing. Algunsteóricos a consideram uma área de pesquisa, tendo em vista que o estudo do comportamento do con- sumidor busca analisar e monitorar as alterações na forma de adquirir do público-alvo. Desde os anos 1960, essa busca por entender o comporta- mento do consumidor tem se tornado cada vez mais decisiva para que as organizações obtenham vantagem competitiva. Para Holbrook (1987), autor de um dos artigos considerados ainda hoje basilar na área, a relevância e a busca pela sustentabilidade, proporcio- nadas pelo comportamento do consumidor, fizeram com que esse co- nhecimento se tornasse um núcleo de estudo específico em mestrados e doutorados, já que, além de na prática ser uma necessidade das organiza- ções, deve ser constantemente estudado e atualizado. Vale reforçar que, apesar de estar diretamente associado ao marketing, o comportamento do consumidor é importante para diversos departamentos da organiza- ção, desde a logística até o financeiro. 32 Fundamentos de Marketing Portanto, como o comportamento do consumidor pode ser definido? Para Schiffman e Kanuk (2000), seria uma forma de investigar como ocor- re o processamento direto da captação de atenção, da aquisição e da re- compra de produtos e serviços. Complementando essa definição, Sheth, Mittal e Newman (2001) definem o comportamento do consumidor como o estudo ou a análise que deve contemplar as atividades mentais, físicas e sociais dos clientes e como elas influenciam o posicionamento e a per- cepção de uma marca pelo cliente, da aquisição ao descarte. Nesse estu- do, deve-se também considerar que o comportamento analisa o processo decisório, o que ocorre antes dessa decisão e quando o interesse pela or- ganização – de todos os tipos de negócios e segmentos, sendo o mesmo princípio para as ideias e marcas pessoais – acaba. Michael Solomon (2016, p. 33), pesquisador muito conhecido por seus estudos na área, apresenta uma das definições mais adotadas. Segundo o autor, “o campo do comportamento do consumidor abrange uma ampla área: é o estudo dos processos envolvidos quando indivíduos ou grupos selecionam, compram, usam ou descartam produtos e serviços, ideias ou experiências para satisfazer necessidades e desejos”. Se analisarmos as definições apresentadas, podemos propor que o comportamento do consumidor seja considerado a prática de investigar os desejos, as neces- sidades e os processos decisórios das pessoas com relação a produtos, serviços, experiências e ideias, desde o conhecimento sobre uma marca até, quando cabível, seu possível descarte. É importante perceber que, cada vez mais, o comportamento do con- sumidor é estudado por diferentes áreas. Antes, as mais acessadas eram a medicina/fisiologia, a psicologia e a sociologia, entretanto, devido à necessidade de velocidade e de identificação de padrões proporcionada pela realidade digital, outras áreas, como programação, neuroengenharia e integração entre homens e máquinas, foram agregadas. A área de pro- cessamento de dados, inclusive, fez com que surgissem novas profissões dentro do marketing, como o analista de dados e o data scientist, que pro- curam e condensam dados do histórico da própria organização e os de mercado (quando o produto ou serviço já está implementado), buscando dentro do segmento que se posiciona, encontrar padrões de consumo e/ ou tendências, por exemplo. quando possível, olhando para o seu segmento em busca de encontrar padrões de consumo e tendências, por exemplo. De fato, devido ao uso Conhecendo o comportamento do consumidor 33 da internet há muitos números que podem ser analisados por inteligência artificial (e softwares), identificando-se assim padrões matematicamente, mas a sua análise precisa ainda ser interpretada considerando o contexto, possíveis influências e os aspectos psicológicos, ou seja, a análise matemá- tica complementa, mas não exclui a análise humana. Conhecer o comportamento do consumidor é muito importante para as empresas porque dá a elas a possibilidade de conhecer e entender quais necessidades e expectativas do público precisam ser atendidas. Nesse contexto, essas necessidades seriam “os requisitos básicos do ser humano, como [...] ar, comida, água, roupas e abrigo. Os seres humanos também sentem forte necessidade de recreação, instrução e diversão” (KOTLER; KELLER, 2018, p. 8). Para entender mais sobre a priorização das necessidades das pessoas, o marketing se apoiou nos estudos do psicó- logo Abraham Maslow, que, por meio das observações dos seus pacien- tes – e do cotidiano das pessoas –, identificou que o indivíduo se orienta por uma escala de prioridade das necessidades a serem atendidas. Nessa teoria, somente depois de atender às necessidades de um determinado nível é que as pessoas passariam a sentir a falta do que está mapeado no próximo nível. Na figura a seguir é possível ver um pouco mais sobre cada um desses níveis da pirâmide. Necessidades de autorrealização: quando a pessoa busca alcançar o que identificou como seu potencial de realização pessoal e profissional. Necessidades de estima: contemplam aspectos associados à confiança, à autoestima e ao respeito. Necessidades de segurança: envolvem o quanto a pessoa se sente segura no ambiente, tanto física como socialmente. Necessidades sociais: o quanto o indivíduo sente que faz parte, que é acolhido por um grupo (família, amigos etc.). Necessidades fisiológicas: incluem as necessidades consideradas básicas à sobrevivência (vitais), como fome, sede, sono, dor etc. Figura 1 Pirâmide de Maslow Re be lli on W or ks /S hu tte rs to ck 1 2 3 4 5 34 Fundamentos de Marketing Para o marketing, entender como participar em cada um desses ní- veis é importante para todos os mercados e segmentos, podendo esse esquema ser adaptado quando o público da organização é outra em- presa. Nesse ponto, torna-se ainda mais evidente que acompanhar o comportamento do consumidor e se dedicar a depurar estudos da área é importante para os resultados. Esse conhecimento ajuda a identificar inclusive quando há mudanças mais rápidas ou lentas em cada um dos níveis. Há um outro aspecto importante do conhecimento da pirâmide de Maslow que é essencial para o marketing: quando uma necessi- dade se torna um desejo para o cliente? Esse ponto é obtido quan- do a pessoa associa que uma marca é a mais indicada ou a única capaz de atender a uma necessidade específica. Um bom exemplo é a necessidade de comprar uma roupa, que pode ser convertida em um desejo quando alguém sente que precisa comprar o vesti- do de uma determinada marca. Kotler e Keller (2018) afirmam que esses desejos estão associados a padrões de comportamentos cul- turais, os quais podem ser alterados de acordo com a sociedade, reforçando a importância de conhecer o comportamento do consu- midor e seu ambiente para desenvolver estratégias que façam com que uma marca se torne um desejo do cliente. É preciso esclarecer um engano recorrente: o de que o mar- keting cria necessidades. Não é isso o que acontece. Como exis- te uma percepção geral de que o marketing muitas vezes reforça que somente uma determinada marca seria capaz de suprir nossas necessidades, há a confusão de que isso seria a criação de uma necessidade básica. Nesse caso, muitas vezes estamos observan- do o nível errado, já que a vontade de comprar algo não essencial deriva mais de uma necessidade social ou de estima do que de uma necessidade fisiológica ou de segurança. Para essa análise, também devemos lembrar que, apesar de o termo ser consumidor, esse conhecimento é importante e aplicável de maneira transver- sal, abrangendo indivíduos ou até mesmo uma outra organização, o que varia de acordo com o público-alvo. Outro aspecto que precisa ser reforçado é que analisar o com- portamento do consumidor é um processo contínuo e não linear, No filme Os delírios de consumo de Becky Bloom, o enredo apresenta uma jornalista que compra roupas e acessórios como uma compen-