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S15P1 – SISTEMA REPRODUTOR FEMININO EMBRIOLOGIA DO SISTEMA REPRODUTOR FEMININO 1. O Estado Indiferente: A Base Bipotencial (Até a 7ª Semana) Inicialmente, todos os embriões, independentemente do sexo gené�co (46,XX ou 46,XY), desenvolvem um sistema reprodutor idên�co e indiferenciado. Este é o estado indiferente. • Gônadas Indiferenciadas: As gônadas se desenvolvem a par�r de três fontes: 1. Mesoderma Intermediário: Forma as cristas gonadais na parede posterior do abdome. 2. Epitélio Celômico: Que recobre as cristas gonadais, prolifera e forma os cordões sexuais primários. 3. Células Germina�vas Primordiais (CGP): Migram do saco vitelino para as cristas gonadais por volta da 6ª semana. São os precursores dos ovócitos. • Ductos Genitais Indiferenciados: Dois pares de ductos estão presentes: 1. Ductos Mesonéfricos (de Wolff): São os ductos do sistema mesonéfrico (rim primi�vo). Em um embrião 46,XY, serão es�mulados a formar os ductos do sistema reprodutor masculino. 2. Ductos Paramesonéfricos (de Müller): Desenvolvem-se lateralmente aos ductos de Wolff a par�r de uma invaginação do epitélio celômico. Estes são os precursores fundamentais do sistema reprodutor feminino interno. 2. Diferenciação Gonadal: A Formação do Ovário A diferenciação do ovário é um processo mais tardio do que a do tes�culo. Enquanto o tes�culo começa a se diferenciar por volta da 7ª semana, o ovário só se torna histologicamente reconhecível por volta da 10ª semana. • Ausência do Fator Determinante do Tes�culo (TDF): Em embriões 46,XX, o gene SRY no cromossomo Y está ausente. Sem o SRY e, consequentemente, sem a produção de TDF, a gônada indiferenciada segue o caminho padrão de diferenciação ovariana. • Formação dos Cordões Cor�cais: O epitélio celômico da gônada feminina con�nua a proliferar, formando uma segunda leva de cordões epiteliais, os cordões cor�cais, que penetram no mesênquima subjacente, mas permanecem próximos à super�cie (córtex). • Incorporação das Células Germina�vas: As CGP incorporam-se aos cordões cor�cais. Elas se diferenciam em ovogônias e iniciam intensas mitoses, aumentando seu número. • Início da Meiose e Formação dos Folículos: Por volta da 16ª-20ª semana, as ovogônias param de se dividir por mitose e entram na prófase da primeira divisão meió�ca, tornando-se oócitos primários. Simultaneamente, os cordões cor�cais se fragmentam, isolando grupos de células foliculares (derivadas do epitélio celômico) que envolvem cada oócito primário, formando os folículos primordiais. Este é o evento definidor do ovário. É crucial notar que todos os oócitos primários de uma mulher são formados durante a vida fetal e permanecem em prófase meió�ca até a ovulação, décadas depois. 3. Diferenciação dos Ductos: O Desenvolvimento das Tubas, Útero e Vagina O des�no dos ductos pares (de Müller e de Wolff) é determinado pela presença ou ausência de hormônios tes�culares. • Regressão dos Ductos de Wolff: Na ausência de testosterona (produzida pelas células de Leydig do tes�culo fetal), os ductos mesonéfricos (de Wolff) regridem. Seus remanescentes podem persis�r como estruturas ves�giais, como o ducto de Gartner ao lado da vagina e do útero. • Desenvolvimento dos Ductos de Müller: Na ausência da Substância Inibidora Mülleriana (MIS ou AMH), produzida pelas células de Sertoli do tes�culo fetal, os ductos paramesonéfricos (de Müller) desenvolvem-se plenamente. Este desenvolvimento ocorre da seguinte forma: 1. Fusão Craniocaudal: As porções craniais dos ductos de Müller, que não se fusionam, desenvolvem-se nas tubas uterinas (trompas de Falópio). Suas extremidades abrem-se na cavidade celômica, formando as �mbrias. 2. Fusão Medial: As porções caudais dos dois ductos de Müller se aproximam na linha média, fundem-se e dão origem a um único ducto, o cordão uterovaginal. 3. Formação do Útero: O cordão uterovaginal se canaliza para formar a luz do útero e do canal vaginal. A parede muscular espessa do útero (miométrio) e o tecido conjun�vo (perimétrio) derivam do mesênquima circundante. 4. Formação da Vagina: A origem da vagina é um pouco mais complexa e envolve uma contribuição dupla: Seio Urogenital: Uma evaginação do seio urogenital, chamada de broto vaginal, forma a maior parte da luz e do epitélio vaginal. Cordão Uterovaginal: A fusão dos ductos de Müller contribui para a formação do útero e da porção superior da vagina. A membrana que inicialmente separa o broto vaginal do cordão uterovaginal se rompe, estabelecendo a comunicação. o O himen é um remanescente da membrana que separava o seio urogenital do cordão uterovaginal. 4. Diferenciação da Genitália Externa Assim como os ductos, a genitália externa passa por um estágio indiferente antes de se diferenciar. • Estágio Indiferente (8ª semana): Composto pelo tubérculo genital, pregas urogenitais e proeminências labioescrotais. • Diferenciação Feminina (a par�r da 12ª semana): Na ausência de di-hidrotestosterona (DHT), que é um metabólito da testosterona, ocorre o seguinte: o O tubérculo genital cresce moderadamente e forma o clitóris. o As pregas urogenitais não se fusionam na linha média e formam os pequenos lábios. o As proeminências labioescrotais não se fusionam e formam os grandes lábios. Elas também se fundem posteriormente para formar a comissura posterior. o O seio urogenital (a parte do seio urogenital não envolvida na formação da vagina) permanece aberto e forma o ves�bulo vaginal, onde desembocam a uretra e a vagina. 5. Anomalias Congênitas e Correlações Clínicas • Agenesia Mülleriana (Síndrome de Mayer-Rokitansky-Küster-Hauser - MRKH): Falha no desenvolvimento dos ductos de Müller. Resulta na ausência congênita do útero e do terço superior da vagina, embora os ovários e as caracterís�cas sexuais secundárias sejam normais (já que a função ovariana é preservada). • Útero Didelfo ou Bicorno: Resulta de uma fusão incompleta dos ductos de Müller. Pode variar desde um útero com um septo interno (útero septado) até dois cornos uterinos completamente separados, frequentemente associado a um septo vaginal. • Vagina com Septo Transverso: Resulta de uma falha na canalização do broto vaginal ou do cordão uterovaginal. • Intersexualidade (DSD - Distúrbios do Desenvolvimento Sexual): Por exemplo, uma pessoa com 46,XX e Hiperplasia Adrenal Congênita (HAC) é exposta a altos níveis de andrógenos adrenais durante a vida fetal. Isso pode causar virilização da genitália externa (fusão labial, clitóromegalia), enquanto o útero e os ovários se desenvolvem normalmente, ilustrando o princípio de que a genitália interna é sensível à MIS/AMH e a externa aos andrógenos. Referência MOORE, Keith L.; PERSAUD, T. V. N.; TORCHIA, Mark G. Embriologia Básica. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016. Capítulo 13: Sistema Urogenital, p. 110-115. HISTOLOGIA DO SISTEMA REPRODUTOR FEMININO 1. Introdução e Visão Geral Capítulo de Referência: Capítulo 22 – Sistema Genital Feminino O sistema reprodutor feminino é composto por órgãos internos (ovários, tubas uterinas, útero e vagina) e externos (vulva). Suas principais funções são a gametogênese (produção de óvulos), a recepção dos espermatozoides, o local para a fer�lização e implantação do embrião, o suporte ao desenvolvimento fetal e o parto. A histologia de vários desses órgãos, especialmente o endométrio do útero, sofre profundas modificações em resposta aos hormônios ovarianos (estrogênio e progesterona) durante o ciclo menstrual. 2. Ovários Os ovários são os órgãos pares responsáveis pela produção dos óócitos (gametas femininos) e pela síntese dos hormônios sexuais esteroides. São estruturas ovoides, divididas em duas regiões principais: • Córtex Ovariano: Região periférica, altamente cellularizada. É onde se localizam os folículos ovarianos em vários estágios de desenvolvimento, os corpos lúteos ealbicans, todos embebidos em um estroma de tecido conjun�vo frouxo rico em fibroblastos. • Medula Ovariana: Região central, composta principalmente de tecido conjun�vo frouxo, com vasos sanguíneos, vasos linfá�cos e nervos que entram e saem pelo hilo do ovário. 2.1. Desenvolvimento Folicular (Foliculogênese) É o processo de maturação do folículo, que envolve tanto o óócito quanto as células foliculares circundantes. • Folículo Primordial: É o folículo em repouso, formado durante a vida fetal. Consiste em um óócito primário (parado na prófase da primeira divisão meió�ca) envolto por uma única camada de células foliculares achatadas. Milhares destes folículos estão presentes no córtex ao nascimento. • Folículo Primário: Sob es�mulo hormonal (FSH), o folículo primordial é a�vado. O oócito aumenta de volume e as células foliculares achatadas tornam-se cúbicas ou colunares e depois proliferam, formando um epitélio estra�ficado, agora chamado de membrana granulosa. Simultaneamente, forma-se uma camada glicoproteica espessa e acelular ao redor do óócito, a zona pelúcida. • Folículo Secundário (ou em Crescimento): Caracteriza-se pelo aparecimento de cavidades cheias de líquido entre as células da granulosa, que se fundem para formar o antro (uma única cavidade repleta de liquor folliculi). O estroma circundante diferencia-se em duas camadas concêntricas ao redor do folículo: a teca interna (células epitelioides, vascularizada, produtora de andrógenos) e a teca externa (células de músculo liso e tecido conjun�vo). • Folículo Terciário ou Maduro (Folículo de De Graaf): É o folículo pré-ovulatório, de grande tamanho. O óócito, envolvido por um monte de células da granulosa (cumulus oophorus), projeta-se para o interior do antro. As células da granulosa imediatamente ao redor do óócito formam a coroa radiata. 2.2. Ovulação e Formação do Corpo Lúteo • Ovulação: O pico de LH desencadeia a ruptura da parede do folículo maduro e a liberação do oócito (ainda um oócito primário) juntamente com a coroa radiata. • Corpo Lúteo: Após a ovulação, o folículo rompido colapsa e se transforma em uma estrutura endócrina temporária, o corpo lúteo. As células da granulosa e da teca interna hipertrofiam-se e transformam-se em células luteínicas granulosa (grandes, claras, produtoras de progesterona) e células luteínicas da teca (menores, escuras, produtoras de estrogênio). Se não houver gravidez, ele degenera após 10-14 dias, formando uma cicatriz hialina, chamada corpo albicans. 3. Tubas Uterinas (Trompas de Falópio) São ductos pares que conectam os ovários ao útero, sendo o local usual da fer�lização. Sua parede é composta por três túnicas: • Mucosa: Apresenta pregas mucosas longitudinais complexas e ramificadas, que preenchem quase totalmente o lúmen, especialmente na região da ampola (local da fer�lização). O epitélio é simples colunar, composto por dois �pos celulares: o Células Ciliadas: Batem em direção ao útero, ajudando no transporte do óócito. o Células Secretoras (Peg Cells): Secretam um fluido que nutre o óócito e os espermatozoides. • Muscular: Camada dupla de músculo liso (interna circular e externa longitudinal), responsável pelos movimentos peristál�cos. • Serosa: Reves�mento externo de mesotélio. 4. Útero Órgão muscular oco onde o embrião se implanta e se desenvolve. Sua parede é espessa e dividida em três camadas: • Perimétrio: Camada serosa externa. • Miométrio: Espessa camada média de músculo liso, organizada em feixes entrelaçados. Durante a gravidez, suas células hipertrofiam-se e proliferam intensamente. • Endométrio: Mucosa interna, altamente dinâmica, que sofre as modificações do ciclo menstrual. É composta por: o Epitélio: Simples colunar, com células ciliadas e secretoras. o Lâmina Própria (Estroma Endometrial): Tecido conjun�vo frouxo rico em células estromais e glândulas tubulares simples. O endométrio divide-se funcionalmente em duas camadas: • Camada Funcional (Stratum Func�onalis): Camada mais superficial, que sofre todas as modificações cíclicas e é eliminada durante a menstruação. • Camada Basal (Stratum Basalis): Camada mais profunda, adjacente ao miométrio, que permanece intacta durante a menstruação e é responsável pela regeneração da camada funcional a cada ciclo. 4.1. Ciclo Menstrual e Alterações Histológicas do Endométrio • Fase Prolifera�va (Estrogênio-dominante): Ocorre após a menstruação. Sob influência do estrogênio, a camada funcional se regenera a par�r da basal. As glândulas endometriais são retas e estreitas, o estroma é denso e os vasos sanguíneos (artérias espirais) crescem rapidamente. • Fase Secretora (Progesterona-dominante): Ocorre após a ovulação. A progesterona, do corpo lúteo, induz mudanças marcantes: as glândulas tornam-se tortuosas, saculadas e cheias de secreção glicoproteica no seu lúmen. O estroma torna-se edematoso e altamente vascularizado. Estas alterações preparam o endométrio para a recepção do embrião (janela de implantação). • Fase Menstrual: Na ausência de gravidez, a queda hormonal causa espasmos das artérias espirais, levando à isquemia e necrose da camada funcional. A descamação do tecido necró�co e o sangramento dos vasos rompidos cons�tuem o fluxo menstrual. 5. Vagina Canal fibromuscular que se estende do colo do útero até a vulva. Sua parede é composta por: • Mucosa: Possui pregas transversais. O epitélio é pavimentoso estra�ficado não quera�nizado, que sofre influência hormonal: as células superficias acumulam glicogênio, que é metabolizado pela flora bacteriana, acidificando o ambiente vaginal (proteção). Não há glândulas; a lubrificação vem das glândulas do colo uterino e das glândulas de Bartholin. • Muscular: Camada de músculo liso, com feixes circulares internos e longitudinais externos. • Adven�cia: Camada externa de tecido conjun�vo que a conecta às estruturas pélvicas adjacentes. 6. Glândulas Mamárias São glândulas sudoríparas apócrinas modificadas, cujo desenvolvimento e função são integralmente controlados por hormônios reprodu�vos. • Estrutura Ina�va: Consiste em um sistema de ductos (ductos lac�feros) terminando em estruturas ramificadas, com poucos e pequenos ácinos, embebidos em um estroma de tecido conjun�vo e adiposo. • Estrutura A�va (durante a Gravidez e Lactação): Sob a influência de estrogênio, progesterona, prolac�na e lactogênio placentário, ocorre uma proliferação alveolar massiva. Os ácinos tornam-se proeminentes e o estroma adiposo é dras�camente reduzido. As células dos ácinos (células epiteliais cúbicas) sinte�zam os componentes do leite (proteínas, lactose, lipídios), que são liberados no lúmen por mecanismos apócrinos (go�culas lipídicas) e merócrinos (proteínas). Referência Bibliográfica JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO, J. Histologia Básica. 13. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. ANATOMIA DO SISTEMA REPRODUTOR FEMININO 1. Conceito Fundamental e Organização Geral O sistema reprodutor feminino é um conjunto de órgãos especializados localizados na pelve menor, com funções inter- relacionadas de produção de gametas (ovários), recepção de gametas masculinos, local de fer�lização e desenvolvimento embrionário-fetal (útero), e canal de parto. É dividido anatomicamente em órgãos genitais internos e externos. 2. Órgãos Genitais Internos A) Ovários • Localização: São duas glândulas mistas (endócrinas e exócrinas) situadas um de cada lado da pelve, fixadas ao útero pelo ligamento útero-ovárico e à parede pélvica pelo ligamento suspensor do ovário. • Função: Produção de hormônios (estrogênio e progesterona) e desenvolvimento dos folículos ovarianos que contêm os ovócitos. • Estrutura Macroscópica: Apresentam formato de amêndoa, medindo aproximadamente 3 cm de comprimento, 1,5 cm de largura e 1 cm de espessura. A super�cie é irregular no período pós-puberal devido aos ciclosovulatórios sucessivos. B) Tubas Uterinas (Trompas de Falópio) • Localização: São dois ductos musculares que se estendem de cada lado do útero, capturando o ovócito liberado pelo ovário. • Divisões Anatômicas: o Infundíbulo: Porção final em forma de funil, com projeções digi�formes chamadas �mbrias que capturam o ovócito. o Ampola: Porção mais longa e dilatada, local usual da fer�lização. o Ístmo: Porção mais estreita, próxima ao útero. o Porção Intramural: Segmento que atravessa a parede uterina. • Função: Local de fer�lização e transporte do ovócito/zigoto para o útero. C) Útero • Localização: Órgão muscular oco situado no centro da pelve menor, entre a bexiga (anteriormente) e o reto (posteriormente). • Divisões Anatômicas: o Fundo: Porção superior arredondada, acima da entrada das tubas uterinas. o Corpo: Parte principal e mais larga do útero. o Istmo: Porção estreita entre o corpo e o colo. o Colo do Útero (Cérvice): Porção inferior cilíndrica que se projeta na vagina. • Camadas da Parede Uterina: o Perimétrio: Camada serosa externa. o Miométrio: Espessa camada muscular média, responsável pelas contrações uterinas. o Endométrio: Camada mucosa interna, altamente vascularizada, que sofre modificações cíclicas durante o ciclo menstrual e é local de implantação do embrião. D) Vagina • Localização: Canal fibromuscular que se estende do colo do útero até o ves�bulo vaginal. • Função: Recebe o pênis durante a relação sexual, serve como canal de parto e via de saída para o fluxo menstrual. • Caracterís�cas: Possui parede elás�ca com pregas transversais (rugas vaginais) e um ambiente ácido que fornece proteção contra microrganismos. 3. Órgãos Genitais Externos (Vulva) A) Monte Púbis • Estrutura: Proeminência arredondada de tecido adiposo situada sobre a sínfise púbica, coberta por pelos após a puberdade. B) Lábios Maiores • Caracterís�cas: Duas pregas cutâneas proeminentes e pigmentadas, análogas ao escroto masculino, que protegem as estruturas vulvares mais internas. C) Lábios Menores • Caracterís�cas: Duas pregas cutâneas menores e mais delicadas, localizadas medialmente aos lábios maiores, altamente vascularizadas e inervadas. D) Clitóris • Estrutura: Pequeno órgão eré�l localizado na junção anterior dos lábios menores, homólogo ao pênis masculino, com alta concentração de terminações nervosas sensi�vas. E) Ves�bulo Vaginal • Localização: Área entre os lábios menores que contém: o Ori�cio Uretral Externo (anteriormente) o Ori�cio Vaginal (posteriormente) o Glândulas Ves�bulares Maiores (de Bartholin): Secretam muco para lubrificação durante a excitação sexual. 4. Vascularização e Inervação • Vascularização Arterial: Principalmente pelas artérias uterinas e ováricas (ramos da aorta abdominal). • Drenagem Venosa: Segue o trajeto arterial, formando plexos venosos pélvicos. • Inervação: Recebe fibras autonômicas (simpá�cas e parassimpá�cas) e somá�cas, com destaque para o nervo pudendo, responsável pela inervação sensi�va da vulva e pela motricidade do assoalho pélvico. 5. Suporte Ligamentar e Relações Anatômicas O sistema reprodutor feminino é man�do em posição por um complexo sistema de ligamentos e fáscias do assoalho pélvico, incluindo: • Ligamentos Largos: Dobras peritoneais que sustentam o útero e as tubas uterinas • Ligamentos Redondos: Mantêm o útero em anteversão • Ligamentos Cardinais (de Mackenrodt): Principais suportes laterais do colo uterino Referência ABNT (2025) SILVERTHORN, Dee Unglaub. Fisiologia Humana: Uma Abordagem Integrada. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. GAMETOGÊNESE NO APARELHO REPRODUTOR FEMININO (OVULOGÊNESE) A gametogênese feminina, denominada Ovulogênese ou Oogênese, é o processo de formação e desenvolvimento do gameta feminino, o ovócito (também chamado de óvulo, embora este termo seja mais adequado para a célula completamente madura). Sua principal caracterís�ca é a sua longa duração, iniciando-se antes do nascimento e podendo levar décadas para ser finalizada. 1. Fase Mul�plica�va (Fetal) Este estágio ocorre exclusivamente durante o desenvolvimento fetal, dentro do útero materno. • Origem das Células Germina�vas: As células germina�vas primordiais migram para os ovários em desenvolvimento. • Mitoses Sucessivas: No ovário fetal, essas células, agora chamadas de Oogônias, sofrem numerosas divisões mitó�cas, aumentando significa�vamente seu número. • Formação dos Oócitos Primários: Por volta do terceiro mês de gestação, as oogônias param de se dividir por mitose e iniciam a primeira divisão meió�ca, tornando-se Oócitos Primários. Cada oócito primário fica rodeado por uma camada de células epiteliais achatadas (células foliculares), formando uma estrutura chamada Folículo Primordial. Ponto Crucial: A Prisão Meió�ca Os oócitos primários não completam a primeira divisão meió�ca. Eles param no estágio de Prófase I da Meiose, mais especificamente na subfase do Diplóteno. Esta pausa, conhecida como "pausa dictyate", é man�da por sinais das células foliculares circundantes e é um evento exclusivo da ovulogênese. Uma mulher nasce com seu pool vitalício de oócitos primários, es�mado entre 1 a 2 milhões, já em prisão meió�ca. 2. Fase de Maturação (Pós-Puberdade) Esta fase só se inicia após a puberdade, com o estabelecimento dos ciclos menstruais. A cada ciclo, um pequeno grupo de folículos primordiais é "despertado" para iniciar seu desenvolvimento, mas geralmente apenas um alcança a maturação completa. • Rea�vação Meió�ca: Sob o es�mulo do pico do Hormônio Luteinizante (LH) no meio do ciclo menstrual, o oócito primário dentro do folículo dominante finalmente completa a Meiose I. • Divisão Assimétrica (Citodiferenciação): A conclusão da Meiose I é extremamente assimétrica. O citoplasma divide-se de forma desigual, gerando: 1. Oócito Secundário: Recebe a esmagadora maioria do citoplasma e dos organelos, sendo a célula funcional. 2. Primeiro Glóbulo Polar: Uma pequena célula quase sem citoplasma, que degenera. Esta divisão desigual assegura que o gameta feminino tenha reservas nutri�vas suficientes (o vitelo) para sustentar os estágios iniciais do desenvolvimento embrionário caso a fer�lização ocorra. • Início da Segunda Meiose e Nova Prisão: Imediatamente após a Meiose I, o oócito secundário inicia a Segunda Divisão Meió�ca (Meiose II). No entanto, ele para novamente, desta vez na Metáfase II. Esta é a segunda e úl�ma prisão meió�ca. A ovulação (liberação do oócito do ovário) ocorre com o oócito secundário neste estágio. 3. A Finalização da Meiose (Fer�lização) A conclusão final da gametogênese feminina só ocorre se houver fer�lização. • Es�mulo Final: A penetração do espermatozoide no oócito secundário desencadeia uma cascata de sinalização intracelular que "libera" a prisão na Metáfase II. • Conclusão da Meiose II: O oócito secundário completa a Meiose II, novamente por uma divisão assimétrica, formando: 1. Ovó�de (Óvulo Maduro): A célula grande e madura, cujo núcleo haploide se fundirá com o núcleo do espermatozoide. 2. Segundo Glóbulo Polar: Outra pequena célula que degenera. Resumo da Linha do Tempo: 1. Vida Fetal: Oogônias -> Oócitos Primários (Prisão em Prófase I). 2. Puberdade até a Menopausa (Ciclicamente): Oócito Primário -> Oócito Secundário + 1º Glóbulo Polar (Prisão em Metáfase II) -> Ovulação. 3. Fer�lização (Se Ocorrer): Oócito Secundário -> Ovó�de + 2º Glóbulo Polar. MUDANÇAS CORPORAIS FEMININAS DURANTE A GRAVIDEZ (ANATÓMICAS E FISIOLÓGICAS) 1. Mudanças no Sistema Reprodu�vo A) Útero • Anatomia: Sofre a mais dramá�ca transformação. Passa de um órgão pélvico de cerca de 70g e 10 mL de volume para um órgão abdominal de 1.100g e 5 a 10 L de volume no final da gestação. Este crescimento ocorre principalmente por hipertrofia das fibras musculares lisas do miométrio (aumento do tamanho das células) e, em menor grau, por hiperplasia (aumento do númerode células). • Fisiologia: O miométrio torna-se menos irritável no início da gestação (efeito da progesterona), prevenindo contrações prematuras. A vascularização aumenta enormemente para formar o fluxo útero-placentário. B) Colo do Útero (Cérvice) • Anatomia: Forma uma barreira �sica protetora. Sob a influência hormonal, o tecido conjun�vo torna-se mais frouxo e edemaciado, e as glândulas cervicais proliferam, formando o tampão mucoso (uma barreira �sica e an�bacteriana). • Fisiologia: No final da gravidez, o colo "amadurece", tornando-se mais macio, curto e começando a dilatar, preparando- se para o trabalho de parto. C) Ovários e Ciclo Menstrual • Fisiologia: A ovulação e os ciclos menstruais são suspensos devido à alta e constante secreção de estrogênio e progesterona pela placenta, que suprime a secreção de FSH e LH pela hipófise. O corpo lúteo é man�do inicialmente pelo hCG, mas após a 12ª semana, a placenta assume totalmente a produção hormonal. D) Mamas (Glândulas Mamárias) • Anatomia: Aumentam de tamanho e tornam-se mais nodulares devido à proliferação dos ductos e dos alvéolos glandulares (efeito do estrogênio, progesterona, hPL e prolac�na). A aréola escurece e as glândulas de Montgomery (na aréola) tornam-se mais proeminentes. • Fisiologia: A produção de leite (lactogênese) é preparada, mas a sua ejeção é inibida durante a gravidez pelos altos níveis de estrogênio e progesterona. A secreção de colostro (um líquido rico em proteínas e an�corpos) pode ocorrer no final da gestação. 2. Mudanças no Sistema Cardiovascular • Débito Cardíaco (DC): Aumenta em 30 a 50%, a�ngindo o pico por volta da 25ª a 30ª semana. Isso é necessário para perfundir a placenta e atender às demandas metabólicas aumentadas da mãe e do feto. • Frequência Cardíaca: Aumenta em cerca de 10 a 15 ba�mentos por minuto. • Volume Sanguíneo: Aumenta em 40 a 50% (cerca de 1,5 a 2 litros). O aumento do volume plasmá�co (cerca de 50%) é proporcionalmente maior que o aumento da massa de hemácias (cerca de 25%), levando à anemia fisiológica da gravidez (hematócrito dilucional). • Pressão Arterial: A resistência vascular periférica diminui (vasodilatação pela progesterona), o que tende a baixar a pressão arterial, especialmente no segundo trimestre. 3. Mudanças no Sistema Respiratório • Anatomia: O diafragma é elevado em até 4 cm pelo útero gravídico. • Fisiologia: Apesar da elevação do diafragma, a capacidade residual funcional diminui. No entanto, a ven�lação minuto aumenta em 30 a 50% devido a um aumento no volume corrente (quan�dade de ar inalado em repouso). Isso é impulsionado pela progesterona, que age como um es�mulante respiratório. O resultado é uma alcalose respiratória fisiológica (PaCO₂ cai para cerca de 28-32 mmHg) e um leve aumento na PaO₂, facilitando a transferência de oxigênio para o feto. 4. Mudanças no Sistema Renal • Anatomia: Os rins aumentam ligeiramente de tamanho e os ureteres dilatam-se (efeito relaxante da progesterona e compressão pelo útero). • Fisiologia: A taxa de filtração glomerular (TFG) e o fluxo plasmá�co renal aumentam em 40 a 50%. Isso leva a um aumento na depuração de crea�nina e ureia, fazendo com que seus níveis plasmá�cos caiam. A glicosúria (glicose na urina) é comum, não necessariamente indicando diabetes, devido ao excesso de filtração que supera a capacidade de reabsorção tubular. 5. Mudanças no Sistema Gastrointes�nal e Metabólicas • Mo�lidade Gastrointes�nal: A mo�lidade está diminuída (efeito relaxante da progesterona), o que pode levar à cons�pação e ao refluxo gastroesofágico (azia), pois o es�ncter esofágico inferior também relaxa. • Metabolismo: O estado metabólico é anabólico no início (armazenamento de gordura) e catabólico no final (mobilização de ácidos graxos). Desenvolve-se uma resistência à insulina progressiva (induzida pelo hPL, cor�sol e progesterona) para desviar glicose da mãe para o feto. Isso pode predispor ao diabetes gestacional. • Ganho de Peso: O ganho de peso médio é de 11 a 16 kg, distribuído entre feto, placenta, líquido amnió�co, útero, mamas, volume sanguíneo e depósitos de gordura maternos. 6. Mudanças no Sistema Endócrino A placenta atua como um órgão endócrino temporário, secretando: • hCG: Mantém o corpo lúteo no primeiro trimestre. • hPL (Lactogênio Placentário): Promove a lipólise e a resistência à insulina, garan�ndo substratos energé�cos para o feto. • Estrogênio e Progesterona: Fundamentais para a manutenção da gravidez e preparação das mamas. Referência ABNT (2025) SILVERTHORN, Dee Unglaub. Fisiologia Humana: Uma Abordagem Integrada. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.