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Seção 5.4: ESTRUTURAS DE GOVERNANÇA A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, criada em 2005, tem o objetivo de “executar propostas, sugerir caminhos, definir políticas públicas, lutar para a efetivação das mesmas, realizar mudanças e projetos alternativos de sobrevivência e produção econômica nas comunidades”. Destacam-se na APIB as ações de “preparação/formação das lideranças indígenas para que as mesmas cada vez mais possam falar em nome dos seus povos”, a “articulação dos povos, regionalmente, para que os mesmos discutam suas carências e demandas, e as direcionem ao centro, representado pela APIB em Brasília”, e “o trabalho de parceria [...] com as entidades de apoio e com o próprio Estado” (SANTOS et al., 2021) Cabe citar os arranjos produtivos locais apoiados e/ou fomentados pelo Plano Nacional de Promoção das Cadeias dos Produtos da Sociobiodiversidade. Esses arranjos envolvem iniciativas comunitárias de produção e comercialização não formalizadas, associações, cooperativas, redes, empresas, comitês de certificação de origem de produtos e outros atores da sociedade civil, privados e governamentais, para promover a produção e comercialização dos produtos de povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais e da economia solidária Essas políticas e espaços de decisão geralmente se valem de instrumentos formais comuns para o alcance de seus objetivos, tais como: Planos de Manejo (no caso das Unidades de Conservação); Planos de Utilização; Acordos de Gestão Compartilhada; Acordos de Pesca; Planos de Gestão Territorial Ambiental (Indígena, Quilombola); Protocolos de Consulta; Termos de Compromisso; e Termos de Ajuste de Conduta Por outro lado, os Conselhos Deliberativos são defendidos por serem arenas de aprendizado político, onde responsabilidades podem ser delegadas e parcerias formalizadas. Esses Conselhos e demais espaços representam conquistas por inaugurarem a possibilidade de espaços participativos de gestão de territórios. Um grande desafio é que pelo menos oito conselhos/comitês estão ameaçados pelo Decreto nº 9.759/2019, que extingue e estabelece diretrizes para colegiados da administração pública. Na prática, desde final de 2019, a participação da sociedade civil está paralisada mesmo naqueles colegiados instituídos por lei Há acúmulo de aprendizado sobre avanços e desafios: avanços no empoderamento das organizações de base comunitária, melhorias nas políticas públicas e legislação e inclusão do conhecimento ecológico local/tradicional em iniciativas oficiais de manejo. Entre os desafios estão a dificuldade de mobilização e participação de povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais, o não reconhecimento das instituições comunitárias informais e dos conhecimentos e práticas tradicionais, o baixo nível de capacidade e experiência dos atores para a gestão compartilhada e a falta ou descontinuidade de financiamento O surgimento de redes para troca e construção de conhecimento é outro avanço; há necessidade de melhorar a disseminação e o uso de resultados de pesquisa sobre gestão colaborativa em políticas públicas e ações de manejo. Esforços de melhor capacitar gestores públicos têm ajudado a diminuir a inflexibilidade desses gestores frente à necessidade de implementar agendas conflitantes Assegurar a continuidade dos processos participativos e das políticas que os embasam, bem como a real implementação das decisões tomadas, pode contribuir para um maior desempenho e contribuição dos povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais na gestão colaborativa costeira O conceito de manejo florestal comunitário envolve o manejo de recursos florestais madeireiros e não madeireiros por comunidades tradicionais locais, com sustentabilidade social e ecológica. Esse processo pressupõe a devolução de poder para os usuários, em grande parte povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais. Há diversidade e arranjos locais para o manejo, envolvendo questões técnicas, sociais e de relação com o mercado, com participação de comunidades, agências governamentais, ONGs e empresas, embora a participação de organizações sociais de base e movimentos sociais seja muito baixa (SANTOS et al., 2021)