Prévia do material em texto
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL WWW.SIMPLESEAD.COM.BR NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL WWW.SIMPLESEAD.COM.BR SUMÁRIO INTRODUÇÃO 4 CONCEITO E CLASSIFICAÇÃO 5 2.1 CONCEITO MATERIAL 5 2.2 CONCEITO FORMAL 5 2.3 CONCEITO SOCIOLÓGICO 5 2.4 CONCEITO JURÍDICO 5 2.5 CONCEITO POLÍTICO 6 2.6 CONTEÚDO 6 2.7 ALTERABILIDADE 6 2.8 FORMA 6 2.9 EXTENSÃO 6 2.10 MODO DE ELABORAÇÃO 7 2.11 ORIGEM 7 EFICÁCIA DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS 8 PODER CONSTITUINTE 10 4.1 PODER CONSTITUINTE ORIINÁRIO 10 4.2 PODER CONSTITUINTE DERIVADO 11 4.2.1 Poder Constituinte derivado reformador 11 4.2.2 Poder Constituinte Derivado Recorrente 12 PRINCÍPIOS DE INTERPRETAÇÃO 13 5.1 PRINCÍPIO DA SUPREMACIA DA CONSTITUIÇÃO 13 5.2 PRINCÍPIO DA INTERPRETAÇÃO CONFORME A CONSTITUIÇÃO 13 5.3 PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE CONSTITUCIONALIDADE DAS LEIS 13 5.4 PRINCÍPIO DA UNIDADE DA CONSTITUIÇÃO 14 5.5 PRINCÍPIO DA FORÇA NORMATIVA 14 5.6 PRINCÍPIO DO EFEITO INTEGRADOR 14 5.7 PRINCÍPIO DA CONCORDÂNCIA PRÁTICA OU HARMONIZAÇÃO 14 5.8 PRINCÍPIO DA MÁXIMA EFETIVIDADE OU DA EFICIÊNCIA (INTERVENÇÃO EFETIVA) 14 5.9 PRINCÍPIO DA CONFORMIDADE FUNCIONAL OU JUSTEZA 15 5.10 PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE 15 ELEMENTOS DA CONSTITUIÇÃO 16 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS 17 7.1 ESPÉCIES DE DIREITOS FUNDAMENTAIS 18 7.2 DIMENSÕES DOS DIREITO FUNDAMENTAIS 18 7.3 CARACTERÍSTICAS 19 7.3.1 Universalidade 20 7.3.2 Historicidade 20 7.3.3 Indivisibilidade 20 7.3.4 Imprescritibilidade / inalienabilidade 20 7.3.5 Relatividade 21 7.3.6 Inviolabilidade 21 7.3.7 Complementariedade 21 NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL WWW.SIMPLESEAD.COM.BR 7.3.8 Efetividade 21 7.3.9 Interdependência 21 ORGANIZAÇÃO DO ESTADO 22 8.1 DIVISÃO DA FEDERAÇÃO 24 8.2 SISTEMAS DE GOVERNO 27 FORMAS DE PARTICIPAÇÃO POPULAR 29 9.1 LEIS DE INICIATIVA POPULAR 29 9.2 PLEBISCITO E REFERENDO 29 9.3 HISTÓRICO DE REFERENDOS E PLEBISCITOS NO BRASIL 30 AVALIAÇÃO Erro! Indicador não definido. REFERÊNCIAS 32 NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL 4 WWW.SIMPLESEAD.COM.BR 01 INTRODUÇÃO De início, o Grupo INTRA-EAD deseja aos seus alunos sucesso nos estudos e um excelente aprendizado. O presente material visa um estudo introdutório sobre Direito Constitucional, apresentando noções gerais e os principais conceitos que compõe o tema. O Direito como um todo constitui um sistema normativo reflexo de uma apresentação histórico-cultural da realidade. Este sistema pode ser dividido didaticamente em unidades estruturais que contemplam diferentes aspectos normativos da realidade. A doutrina os denomina ramos da ciência jurídica. O Direito Constitucional constitui um destes ramos, pertencendo à subdivisão do direito denominada Direito Público Fundamental, pois abrange a organização e o funcionamento do Estado como um todo. José Afonso da Silva, renomado doutrinador Brasileiro, assim define o Direito Constitucional: “(...) ramo do Direito Público que expõe, interpreta e sistematiza os princípios fundamentais do Estado.”1 Nas palavras do mestre Paulo Mascarenhas, temos que o Direito Constitucional é: “Ramo do Direito Público que estuda os princípios indispensáveis à organização do Estado, à distribuição dos poderes, os órgãos públicos e os direitos individuais e coletivos”. 1 SILVA, José Afonso da, Curso de Direito Constitucional Positivo. Editora Malheiros. 2005. p. 34. NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL 5 WWW.SIMPLESEAD.COM.BR 02 CONCEITO E CLASSIFICAÇÃO A Constituição de um Estado pode receber diferentes conceituações a depender da acepção sob a qual é vista. Na doutrina destacam-se 05 conceitos de Constituição: a) Material; b) Formal; c) Sociológico; d) Jurídico e) Político. Vejamos de forma sintética estes 05 conceitos: 2.1 CONCEITO MATERIAL De acordo com esta classificação o que determina a essência constitucional da norma é a sua materialidade, a sua natureza, portanto, seriam normas constitucionais todas aquelas que tratem sobre: i) Organização do Estado; ii) Aquisição, exercício e transmissão de poder; iii) Limitações ao poder do Estado; 2.2 CONCEITO FORMAL De acordo com esta classificação a forma prevalece sobre a matéria e são normas constitucionais aquelas que estão escritas no texto da constituição federal; 2.3 CONCEITO SOCIOLÓGICO Conceituação clássica de Ferdinand Lassale compreende que a Constituição é a “soma dos fatores reais de poder que regem uma nação”. De acordo com esta classificação a constituição escrita apenas formaliza a Constituição real; Para esta classificação a Constituição é um fato social, não uma norma ou conjunto de normas. 2.4 CONCEITO JURÍDICO NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL 6 WWW.SIMPLESEAD.COM.BR Conceituação da Escola de Hans Kelsen. De acordo com esta classificação a constituição seria uma norma fundamental hipotética, em seu sentido lógico-jurídico, e seria ainda a norma positiva suprema, em seu sentido jurídico-positivo; 2.5 CONCEITO POLÍTICO Conceituação de Carl Schmitt. De acordo com esta acepção Constituição é uma decisão política fundamental e não se confunde com as leis constitucionais. Vistas as principais acepções de Constituição, faz-se necessário expor de que forma podem ser as Constituições classificadas: a) pelo conteúdo; b) pela alterabilidade; c) pela forma; d) pela extensão; e) pelo modo de elaboração; f) pela origem. Vejamos: 2.6 CONTEÚDO De acordo com esta classificação as constituições podem ser materialmente ou formalmente constitucionais. O Brasil adota a classificação formal; 2.7 ALTERABILIDADE De acordo com esta classificação as constituições podem ser: i) imutáveis – não podem ser modificadas; ii) rígidas – possuem um rígido procedimento para sua modificação. O Brasil adota esta classificação rígida. iii) Flexíveis – O procedimento para sua modificação é igual ao das outras leis; iv) Semirrígida ou Semiflexível – Parte da Constituição é rígida, parte flexível; 2.8 FORMA De acordo com esta classificação, a Constituição pode ser: i) escrita – formalizada num único documento (O Brasil adota esta classificação); ou ii) não escrita – Não formalizada em um único documento; 2.9 EXTENSÃO NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL 7 WWW.SIMPLESEAD.COM.BR De acordo com esta classificação a Constituição pode ser: i) Sintética ou concisa - trata somente de temas essenciais à organização do Estado; ii) Analítica ou prolixa - trata de temas materialmente constitucionais e de temas formalmente constitucionais. O Brasil adota esta classificação. 2.10 MODO DE ELABORAÇÃO De acordo com esta classificação a Constituição pode ser: i) Dogmática - expressa os anseios da sociedade em um determinado período da história (O Brasil adota esta classificação); ou ii) Histórica – Reflete um longo período de desenvolvimento histórico. 2.11 ORIGEM De acordo com esta classificação a Constituição pode ser: i) Promulgada – implementada com a participação popular. O Brasil adota esta classificação; ii) Outorgada– A Constituição é imposta sobre o povo; ou iii) Cesarista – A Constituição é inicialmente outorgada, mas posteriormente aceita pelo povo. Diante disto, vale sintetizar que consoante o que foi exposto acima, a Constituição Brasileira é classificada da seguinte forma: formal, rígida, escrita, analítica, dogmática e promulgada. NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL 8 WWW.SIMPLESEAD.COM.BR 03 EFICÁCIA DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS Outro tema de fundamental importância no estudo do Direito Constitucional, diz respeito à Eficácia das Normas Constitucionais. A Teoria Clássica Brasileira no que tange à Eficácia das Normas Constitucionais tem por pai o mestre José Afonso da Silva. De acordo com o citado autor, as normas constitucionais podem ser: I) de eficácia plena e aplicabilidade imediata; II) de eficácia contida e aplicabilidade imediata; e de III) eficácia limitada ou reduzida, subdividindo-se em: definidoras de princípio institutivo/orgânicos e definidoras de princípios programáticos. Normas de eficácia ilimitada seriam aquelas livres de quaisquer restrições oriundas de outras fontes do direito e aptas à produção total de efeitos a partir de sua entrada em vigor. Normas de eficácia contida são aquelas sobre as quais o legislador deixou pairar a possibilidade de restrição futura pelo legislador através de regras de contenção. São também chamadas de normas de eficácia relativa restringível. Normas de eficácia limitada são aquelas que possuem uma eficácia mínima com sua entrada em vigor, mas que dependem de regulamentação posterior para que possam exercer eficácia plena. Observe-se a seguir um resumo2 das normas constitucionais no que tange a sua eficácia e aplicabilidade: 2 Tabela ilustrativa criada por Roberto Troncoso, Marcelo Leite e Thiago Strauss. NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL 9 WWW.SIMPLESEAD.COM.BR NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL 10 WWW.SIMPLESEAD.COM.BR 04 PODER CONSTITUINTE De Acordo com o doutrinador Alexandre de Morais, “Poder constituinte é a manifestação soberana da suprema vontade política de um povo, social e juridicamente organizado”. A doutrina moderna entende que o titular do poder constituinte de forma predominante será sempre o povo, pois a própria manutenção do Estado Democrático de Direito decorre diretamente da soberania popular, desta forma tem-se que a vontade do constituinte originário, imbuído do poder constituinte, é a própria expressão e reflexo da vontade do povo. O poder constituinte, por sua vez, possui diferentes espécies e pode apresentar-se de diferentes formas numa sociedade a depender do momento em que é exercido e por quem é exercido. Observe-se a seguir a tabela extraída da obra do doutrinador Alexandre de Morais: 4.1 PODER CONSTITUINTE ORIINÁRIO O poder Constituinte originário é a fonte de todos os poderes e autoridade que estruturarão o Estado, sendo responsável por estabelecer a nova Constituição de um Estado. Este poder pode decorrer de outorga através de uma declaração unilateral, por meio de um agente NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL 11 WWW.SIMPLESEAD.COM.BR revolucionário, ou pode advir de uma convenção cujo nascedouro se dá em assembleia nacional constituinte. Como exemplos brasileiros oriundos de outorga destacam-se as Constituições de 1824, 1937 e o Ato Institucional nº 1, de 09 de abril de 1964. Como exemplos brasileiros de convenções nascidas em assembleias nacionais constituintes destacam-se as Constituições de 1891, 1934, 1946, 1967 e 1988. Vejamos a seguir as principais características do poder constituinte originário: Inicial – A Constituição cria os pilares para uma nova ordem jurídica; Ilimitado – Não precisa respeitar os limites impostos pela ordem jurídica anterior; Incondicionado – Não está condicionado a qualquer procedimento preestabelecido; Permanente – É um poder latente que se manifesta sempre que surge um novo ato revolucionário ou uma nova assembleia nacional constituinte. 4.2 PODER CONSTITUINTE DERIVADO O Poder constituinte derivado, por sua vez, diferentemente do poder constituinte originário, é secundário, subordinado e condicionado. Primeiramente deve-se compreender que sua classificação como secundário está relacionada ao seu nascimento, já que surge por força do poder constituinte originário. É subordinado, pois possui limitações prefixadas expressas e tácitas no texto constitucional. É condicionado, pois deve existir pautado nas regras constitucionais. O poder constituinte derivado divide-se em reformador e decorrente. 4.2.1 Poder Constituinte derivado reformador O poder constituinte reformador diz respeito à possibilidade de alteração do próprio texto constitucional. Neste sentido destacam-se os artigos 60 e 5º, § 3º, da Constituição Federal. Faz-se oportuna a leitura dos dois dispositivos: Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta: I - de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal; II - do Presidente da República; III - de mais da metade das Assembleias Legislativas das unidades da Federação, manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus membros. NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL 12 WWW.SIMPLESEAD.COM.BR § 1º A Constituição não poderá ser emendada na vigência de intervenção federal, de estado de defesa ou de estado de sítio. § 2º A proposta será discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, três quintos dos votos dos respectivos membros. § 3º A emenda à Constituição será promulgada pelas Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, com o respectivo número de ordem. § 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: I - a forma federativa de Estado; II - o voto direto, secreto, universal e periódico; III - a separação dos Poderes; IV - os direitos e garantias individuais. § 5º A matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida por prejudicada não pode ser objeto de nova proposta na mesma sessão legislativa. Art. 5º (...) (...) § 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais. 4.2.2 Poder Constituinte Derivado Recorrente No que diz respeito ao poder constituinte derivado decorrente, este consiste na possibilidade dos Estados-membros da Federação, dada a sua autonomia político-administrativa, se estruturarem através de suas próprias constituições estaduais, sempre e quando estas obedeçam devidamente os limites impostos pela Constituição Federal. Um exemplo claro encontra-se no artigo 29, caput, da Constituição Federal, in verbis: Art. 29. O Município reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos, com o interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços dos membros da Câmara Municipal, que a promulgará, atendidos os princípios estabelecidos nesta Constituição, na Constituição do respectivo Estado e os seguintes preceitos. NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL 13 WWW.SIMPLESEAD.COM.BR05 PRINCÍPIOS DE INTERPRETAÇÃO Para compreender o texto constitucional, suas nuances, peculiaridades, complexidade e contextualização é preciso interpretá-lo de acordo com uma série de princípios consagrados pela doutrina pátria. Frise-se ainda que estes princípios não são utilizados apenas para interpretar apenas o texto constitucional, mas além deste todo o sistema normativo pátrio, já que a Constituição Federal é o pilar supremo que reúne todos os mandamentos princípios lógicos aos quais o sistema de normas infraconstitucionais deve obedecer. Observemos a seguir os principais princípios de interpretação constitucional: 5.1 PRINCÍPIO DA SUPREMACIA DA CONSTITUIÇÃO Estabelece que toda a estrutura normativa de nosso ordenamento jurídico somente será válida se estiver pautada e em acordo com a Constituição Federal; 5.2 PRINCÍPIO DA INTERPRETAÇÃO CONFORME A CONSTITUIÇÃO Refere-se às normas plurissignificativas ou polissêmicas. Estabelece que, se a partir de uma norma são possíveis leituras interpretativas plúrimas, deve-se considerar como adequada aquela que esteja em harmonia com o texto da Constituição Federal. Gera a chamada ‘interpretação conforme’. Nota de concurso: De acordo com o Supremo Tribunal Federal: a interpretação conforme só é "utilizável quando a norma impugnada admite, dentre as várias interpretações possíveis, uma que a compatibilize com a Carta Magna, e não quando o sentido da norma é unívoco". 5.3 PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE CONSTITUCIONALIDADE DAS LEIS Considerando que os poderes públicos extraem suas competências diretamente da própria Constituição, presume-se que agem em estrita harmonia com a mesma. Esta é, no entanto, NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL 14 WWW.SIMPLESEAD.COM.BR uma presunção relativa, já que as normas infraconstitucionais estão sujeitas ao controle de constitucionalidade; 5.4 PRINCÍPIO DA UNIDADE DA CONSTITUIÇÃO Determina que o texto constitucional deve ser compreendido como uma unidade, como um todo harmônico e ordenado, constituindo um consistente grupo de paradigmas idealmente integrados. É deste princípio que decorre a ideia de ausência de hierarquia normativa entre as normas constitucionais; 5.5 PRINCÍPIO DA FORÇA NORMATIVA A Constituição Federal não é apenas um símbolo ou um norte que orienta o ordenamento jurídico. Seu texto não somente possui força normativa, como em verdade trata-se da norma suprema do ordenamento jurídico; 5.6 PRINCÍPIO DO EFEITO INTEGRADOR A interpretação constitucional deve manter harmonia também com a unidade política instituída pelo texto constitucional, desta forma deve-se favorecer a resolução dos problemas jurídico-constitucionais sob o prisma da integração da unidade política da nação; 5.7 PRINCÍPIO DA CONCORDÂNCIA PRÁTICA OU HARMONIZAÇÃO De acordo com Inocência Coelho este princípio “consiste, essencialmente numa recomendação para que o aplicador das normas constitucionais, em se deparando com situações de concorrência entre bens constitucionalmente protegidos, adote a solução que otimize a realização de todos eles, mas ao mesmo tempo não acarrete a negação de nenhum”; 5.8 PRINCÍPIO DA MÁXIMA EFETIVIDADE OU DA EFICIÊNCIA (INTERVENÇÃO EFETIVA) NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL 15 WWW.SIMPLESEAD.COM.BR Estabelece que a interpretação constitucional deve ser feita de modo a propiciar a máxima efetividade dos direitos e garantias fundamentais, otimizando-os e explorando todo o potencial protetivo das normas constitucionais; 5.9 PRINCÍPIO DA CONFORMIDADE FUNCIONAL OU JUSTEZA Este princípio impede a alteração da organização política do Estado, bloqueando qualquer interpretação constitucional que ameace o esquema organizatório funcionado Estado; 5.10 PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE Aduz que toda e qualquer interpretação Constitucional deve estar pautada pelos subprincípios da adequação, da necessidade e da proporcionalidade e sentido estrito. Estes são apenas alguns dos princípios constitucionais de interpretação constitucional, selecionados por serem os mais citados por diversos doutrinadores. Para conhecer mais, aprofunde os estudos na bibliografia proposta. Passemos agora ao tema dos Elementos Constitucionais. NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL 16 WWW.SIMPLESEAD.COM.BR 06 ELEMENTOS DA CONSTITUIÇÃO Os elementos constitucionais correspondem aos tipos de normas que compõe a Constituição Federal, devendo ser compreendidos como grupos ou categorias normativas. Estes grupos de forma harmoniosa preenchem e constituem a substância do texto constitucional. De acordo com a classificação pensada pelo professor José Afonso da Silva, os elementos constitucionais podem ser divididos em: a) elementos orgânicos; b) elementos limitativos; c) elementos sócio ideológicos; d) elementos de estabilização constitucional; e) elementos formais de aplicabilidade. Para melhor compreensão observe-se a tabela3 a seguir: 3 Tabela ilustrativa criada por Roberto Troncoso, Marcelo Leite e Thiago Strauss. NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL 17 WWW.SIMPLESEAD.COM.BR 07 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS No Direito Brasileiro a materialidade da Constituição está intimamente relacionada aos valores resguardados pela Carta Magna. Estes valores possuem um coração axiológico: a dignidade da pessoa humana. Os direitos fundamentais foram um organismo coerente e em harmonia com este coração axiológico. Toda a estrutura formada pelos direitos fundamentais tem por fundamento e por finalidade a proteção da dignidade humana. Faz-se oportuno esclarecer, de antemão, a relação entre direitos fundamentais e direitos humanos, estabelecendo semelhanças e ou diferenças. Direitos humanos e direitos fundamentais são sinônimos no que tange às suas naturezas, entretanto são distintos no que diz respeito à sua exigibilidade. Sobre o tema, observem-se as palavras da doutrinadora Nathalia Masson: “Doutrinadores de destaque preceituam em seus escritos não haver diferença digna de destaque entre as expressões "Direitos Fundamentais" e "Direitos Humanos"; aliás, rotineira é a identificação de autores que as têm por sinônimas. Como tanto os direitos fundamentais quanto os direitos humanos buscam assegurar e promover a dignidade da pessoa humana, e são direitos ligados, sobretudo, a valores caros à sociedade - tais como a liberdade e a igualdade -, reconhece-se que, quanto à finalidade, as expressões, de fato, se assemelham. Nada obstante, majoritariamente a doutrina identifica uma diferença entre os termos, referente ao plano em que os direitos são consagrados: enquanto os direitos humanos são identificáveis tão somente no plano contrafactual (abstrato), desprovidos de qualquer normatividade, os direitos fundamentais são os direitos humanos já submetidos a um procedimento de positivação, detentores, pois, das exigências de cumprimento (sanção), como toda e qualquer outra norma jurídica "Direitos fundamentais" e "direitos humanos" afastam-se, portanto, apenas no que tange ao plano de sua positivação, sendo os primeiros normas exigíveis no âmbito estatal interno, enquanto estes últimos são exigíveis no plano do Direito Internacional.” NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL 18 WWW.SIMPLESEAD.COM.BR Nota-se, portanto,que se trata apenas de uma distinção conceitual vinculada unicamente à positivação das normas. Evidentemente que a raiz de diversos direitos humanos internacionalmente reconhecidos estará na doutrina dos direitos fundamentais. Esta doutrina, por sua vez, vem sendo dividida em gerações, também denominadas de dimensões de direitos fundamentais, como costuma falar a moderna doutrina sobre o tema. 7.1 ESPÉCIES DE DIREITOS FUNDAMENTAIS Os direitos fundamentais, na Constituição Federal de 1988, estão divididos em 05 espécies distintas da seguinte forma: Direitos e deveres individuais e coletivos. Topograficamente expostos no Título II, Capítulo I da Constituição Federal. Art. 5º, principalmente. – Correspondem à proteção individual e coletiva dos indivíduos. São exemplos destes direitos: direito à honra, à vida, à liberdade, dentre outros; Direitos sociais. Topograficamente expostos no Título II, Capítulo II da Constituição Federal. Artigos º aos 11. – Correspondem à proteção das condições de vida dos indivíduos em situação de hipossuficiência e almejam à igualdade social; Direito de nacionalidade. Topograficamente expostos no Título II, Capítulo III da Constituição Federal. Artigos 12 e 13. – Corresponde ao vínculo que une o indivíduo ao Estado e possibilita ao indivíduo demandar proteção de seu Estado; Direitos políticos. Topograficamente expostos no Título II, Capítulo IV da Constituição Federal. Artigos 14 a 16. – Correspondem à cidadania do indivíduo, permitindo-lhe participar na vida política de sua sociedade; Direitos ligados aos partidos políticos. Topograficamente expostos no Título II, Capítulo V da Constituição Federal. Artigo 17. – Correspondem a própria organização e estruturação do instrumento (partidos políticos) que possibilita a existência do sistema representativo em nosso ordenamento jurídico; 7.2 DIMENSÕES DOS DIREITO FUNDAMENTAIS A doutrina reconhece atualmente a existência de 05 dimensões de direitos fundamentais: NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL 19 WWW.SIMPLESEAD.COM.BR 1ª Dimensão: Refere-se à proteção das liberdades negativas. Expliquemos: protege as liberdades dos indivíduos consagrando “não fazeres” por parte do Estado, ou seja, a este deve ser vedada a interferência na liberdade religiosa do indivíduo, na liberdade política, no direito à propriedade, entre outros. Logo, se exige do Estado que se abstenha de negar ao indivíduo estas liberdades; 2ª Dimensão: Refere-se a preservação do princípio da igualdade entre os indivíduos. Está intimamente ligada aos direitos econômicos, sociais e culturais, denominados ‘direitos do bem-estar’. Por esta geração de direitos fundamentais subtende-se que é possível exigir do Estado uma atuação positiva para implementar ações Estatais diretas que tenham por objetivo fornecer: trabalho, moradia, saúde, educação, etc. 3ª Dimensão: Esta geração de direitos fundamentais consagra àqueles direitos ligados à fraternidade ou a solidariedade. Está voltada para a coletividade e para uma visão macro contextual, holística e voltada para a qualidade da vida humana na Terra. Nas palavras da doutrinadora Nathalia Masson: “Em síntese, são direitos que não se ocupam da proteção a interesses individuais, ao contrário, são direitos atribuídos genericamente a todas as formações sociais, pois buscam tutelar interesses de titularidade coletiva ou difusa, que dizem respeito ao gênero humano. É, pois, a terceira geração dos direitos fundamentais que estabelece os direitos "transindividuais", também denominados coletivos - nos quais a titularidade não pertence ao homem individualmente considerado, mas a coletividade como um todo”. 4ª Dimensão: Nesta geração de direitos fundamentais estão consagrados os direitos fundamentais conectados ao desenvolvimento da própria sociedade, à sua maturidade enquanto organismo de relações de convivência. Esta dimensão de direitos fundamentais dá destaque à democracia, ao pluralismo, à disseminação da informação. Etc. 5ª Dimensão: Esta dimensão ainda não ocupa predominância na doutrina pátria, muito embora seja de importância evidente e esteja absolutamente entrelaçada ao desenvolvimento da humanidade. Esta dimensão de direitos fundamentais estaria representada especificamente pelo direito à paz. 7.3 CARACTERÍSTICAS NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL 20 WWW.SIMPLESEAD.COM.BR Os direitos fundamentais tem por principais características: a) a universalidade; b) a historicidade; c) a indivisibilidade; d) a imprescritibilidade, inalienabilidade; e) a relatividade; f) a inviolabilidade; g) a complementaridade; h) a efetividade; e por fim i) a interdependência. Vejamos o significado de cada uma destas características. 7.3.1 Universalidade Refere-se a um núcleo mínimo de direitos aos quais toda e qualquer pessoa deva ter acesso em qualquer lugar que esteja; 7.3.2 Historicidade Esta característica relaciona-se ao caráter histórico-evolutivo dos direitos fundamentais, dada a variação que podem sofrer entre uma época e outra, entre um momento histórico e outro. A historicidade está intimamente ligada aos anseios do povo, às suas lutas, às suas necessidades humanas e às circunstâncias que caracterizem o momento histórico em que estejam; 7.3.3 Indivisibilidade Sobre os direitos fundamentais paira a ideia de unidade. Não podem ser desarmônicos entre si. Os direitos fundamentais serão necessariamente dotados de uma coerência estrutural que não permite contradições ou indissociabilidades em seu corpo, tanto no que se refere à sua concretização como que tange à sua interpretação; 7.3.4 Imprescritibilidade / inalienabilidade Todos os direitos fundamentais são indisponíveis, irrenunciáveis, inegociáveis. Não é possível alienar, vender ou doar direitos fundamentais. Sua essência não comporta a ideia de disponibilidade. Esta vedação advém da própria proteção que paira sobre a dignidade da pessoa humana. Observe-se que esta característica não quer dizer que um direito fundamental deva se sobrepor sobre o outro. Deve haver um equilíbrio entre os mesmos, para que seus núcleos essenciais possam sempre ser preservados, quando contrapostos. Desta forma evita-se a mitigação total de um ou de outro direito fundamental. No que diz respeito à imprescritibilidade, veja-se o que diz Nathalia Masson sobre o tema: “Por fim, são imprescritíveis, eis que a prescrição é instituto jurídico que apenas alcança a exigibilidade de direitos de cunho patrimonial, nunca a de direitos personalíssimos. Estes NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL 21 WWW.SIMPLESEAD.COM.BR últimos são sempre exercíveis, de forma que não há intercorrência temporal de não-exercício que possa fundamentar a impossibilidade da exigibilidade na prescrição.” 7.3.5 Relatividade Esta relatividade refere-se à contraposição de direitos entre si. Diante de conflitos entre direitos fundamentais não pode haver a prevalência absoluta e total de um em relação ao outro. A partir do confronto aparente ou factual entre direitos fundamentais o intérprete deve valer-se da regra da mínima restrição entre direitos, isto é, deve fazer uso da máxima observância dos direitos fundamentais preservando ao máximo seus núcleos essenciais. 7.3.6 Inviolabilidade Por esta característica temos que a norma infraconstitucional é absolutamente proibida de desrespeitar direitos fundamentais; 7.3.7 Complementariedade Esta característica está intimamente ligada à ideia de coerência entre os direitos fundamentais. Nenhum direito fundamental pode ser interpretadoisoladamente, devendo sempre ser visto dentro de um sistema semântico voltado para a proteção da dignidade humana; 7.3.8 Efetividade É possível a utilização de meios coercitivos por parte dos poderes públicos para a efetivação dos direitos e garantias fundamentais; 7.3.9 Interdependência Todos os direitos fundamentais estão conectados e são interdependentes entre si, formando uma verdadeira teia de direitos. NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL 22 WWW.SIMPLESEAD.COM.BR 08 ORGANIZAÇÃO DO ESTADO A organização político político-administrativa do Estado Brasileiro pressupõe necessariamente a adoção do princípio federativo e está expressamente exposta no artigo 1º da Constituição Federal. Observe-se: Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I - a soberania; II - a cidadania III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo político. Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição. De acordo com o princípio federativo, observa-se a existência de uma descentralização do poder político, característica esta própria das federações, dada a sua natureza. Há, portanto, uma ordem jurídica primária que envolve todos os indivíduos da nação; uma ordem jurídica secundária, referente às parcelas de poder próprias dos entes federados e uma terceira ordem jurídica, formada pela comunidade jurídica composta por todos os entes federados, a chamada comunidade jurídica total. O Estado Brasileiro constitui um Estado Federado, isto é, há uma pluralidade de entes federados (entidades políticas autônomas) formando uma unidade denominada Estado Federal, através de um vínculo indissolúvel. Esta estrutura política possui características próprias. Vejamos algumas destas: Descentralização no exercício do poder político: Trata-se de divisão política e não de mera divisão administrativa, por esta razão cada estado que compõe a federação pode possuir Constituição estadual própria, sempre e desde que obedeça aos limites impostos pela Constituição Federal. NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL 23 WWW.SIMPLESEAD.COM.BR As unidades federadas são autônomas entre si, inexistindo qualquer tipo de subordinação entre as mesmas. Esta autonomia (parcial) que caracteriza as unidades federadas divide-se em 03 aspectos: Auto-organização – refere-se especificamente a capacidade de elaboração de legislação própria; Autogoverno – refere-se à capacidade de eleição de seus representantes; Autoadministração – refere-se à capacidade de exercício de atribuições de ordem administrativa, tributária, legislativa, etc; Indissolubilidade do vínculo federativo Refere-se à vedação absoluta ao direito de secessão. Isto significa que o vínculo entre as entidades componentes da Federação (União, Estados, Distrito Federal e Municípios) é indissolúvel, ou seja, nenhuma delas pode abandonar o restante para fundar um novo país; Rigidez Constitucional Refere-se à imutabilidade da forma federativa, sendo defeso ao legislador ordinário realizar mutações no núcleo essencial da federação; Tribunal Constitucional Pressupõe a existência de um Tribunal capaz de interpretar a Constituição. No ordenamento jurídico brasileiro a função de intérprete da Constituição Federal é exercida pelo Supremo Tribunal Federal; Princípio da Participação Pressupõe a existência de um órgão ou casa legislativa que assegure a participação do povo na formação da vontade nacional. No Brasil o Senado Federal é o órgão legislativo que cumpre com tal função. O Estado Federado, entretanto é apenas uma das formas sob as quais um Estado pode existir. Em todo o mundo existem diversas outras formas de Estado. Citemos algumas: Estado unitário; Estado regional; Estado autônomo; Confederação; O Estado Brasileiro já foi, no passado, um Estado unitário. A partir de seu desfazimento surgiu à possibilidade de um Estado Federado, em 1891, com a Constituição republicana. NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL 24 WWW.SIMPLESEAD.COM.BR A Constituição de 1988, por sua vez, consagrou o Estado Brasileiro enquanto federação em seu artigo 1º, conforme visto anteriormente e estabeleceu proibição expressa contra o desfazimento da federação em seu artigo 60, § 4º, inciso I. Observe-se: Art. 60... § 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: I - a forma federativa de Estado; A forma federativa de Estado constitui, portanto, cláusula pétrea. Os entes que a compõe são: a União, os Estados-membro, o Distrito-Federal e os municípios. 8.1 DIVISÃO DA FEDERAÇÃO A União é o chamado ente autônomo e central e conserva funções distintas das dos outros entes da Federação. Vajamos algumas destas, de acordo com o que leciona a doutrinadora Nathalia Masson: “Dentre suas funções identifica-se uma de acentuada importância: a de representar a República Federativa do Brasil nas relações internacionais, o que não nos autoriza a confundir as duas entidades: muito embora sejam representadas pela mesma pessoa física (o Presidente da República, que ora atua como chefe de Estado - representando a República Federativa do Brasil; ora atua na chefia de Governo - representando a União) e possuam o mesmo território físico (o nacional), são pessoas jurídicas distintas; afinal a República Federativa do Brasil, entidade soberana (e não meramente autônoma como a União) é pessoa jurídica de direito público internacional.” Os Estados-membros, por sua vez, são as denominadas organizações políticas típicas das federações, pois é a própria materialização da descentralização do exercício do poder político que constitui a essência das federações. Esta sua autonomia possibilita-lhes estruturar seus poderes Legislativo (Artigo 27 da CF/88), Executivo (Artigo 28 da CF/88) e Judiciário Artigo 125 da CF/88). Observemos o conteúdo dos 03 dispositivos constitucionais mencionados: Art. 27. O número de Deputados à Assembleia Legislativa corresponderá ao triplo da representação do Estado na Câmara dos Deputados e, atingido o número de trinta e seis, será acrescido de tantos quantos forem os Deputados Federais acima de doze. § 1º Será de quatro anos o mandato dos Deputados Estaduais, aplicando- sê-lhes as regras desta Constituição sobre sistema eleitoral, inviolabilidade, imunidades, remuneração, perda de mandato, licença, impedimentos e incorporação às Forças Armadas. NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL 25 WWW.SIMPLESEAD.COM.BR § 2º O subsídio dos Deputados Estaduais será fixado por lei de iniciativa da Assembleia Legislativa, na razão de, no máximo, setenta e cinco por cento daquele estabelecido, em espécie, para os Deputados Federais, observado o que dispõem os arts. 39, § 4º, 57, § 7º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I. § 3º Compete às Assembleias Legislativas dispor sobre seu regimento interno, polícia e serviços administrativos de sua secretaria, e prover os respectivos cargos. § 4º A lei disporá sobre a iniciativa popular no processo legislativo estadual. Art. 28. A eleição do Governador e do Vice-Governador de Estado, para mandato de quatro anos, realizar-se-á no primeiro domingo de outubro, em primeiro turno, e no último domingo de outubro,em segundo turno, se houver, do ano anterior ao do término do mandato de seus antecessores, e a posse ocorrerá em primeiro de janeiro do ano subsequente, observado, quanto ao mais, o disposto no art. 77. § 1º Perderá o mandato o Governador que assumir outro cargo ou função na administração pública direta ou indireta, ressalvada a posse em virtude de concurso público e observado o disposto no art. 38, I, IV e V. § 2º Os subsídios do Governador, do Vice-Governador e dos Secretários de Estado serão fixados por lei de iniciativa da Assembleia Legislativa, observado o que dispõem os arts. 37, XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I. Art. 125. Os Estados organizarão sua Justiça, observados os princípios estabelecidos nesta Constituição. § 1º A competência dos tribunais será definida na Constituição do Estado, sendo a lei de organização judiciária de iniciativa do Tribunal de Justiça. § 2º Cabe aos Estados a instituição de representação de inconstitucionalidade de leis ou atos normativos estaduais ou municipais em face da Constituição Estadual, vedada a atribuição da legitimação para agir a um único órgão. § 3º A lei estadual poderá criar, mediante proposta do Tribunal de Justiça, a Justiça Militar estadual, constituída, em primeiro grau, pelos juízes de direito e pelos Conselhos de Justiça e, em segundo grau, pelo próprio Tribunal de Justiça, ou por Tribunal de Justiça Militar nos Estados em que o efetivo militar seja superior a vinte mil integrantes. § 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos crimes militares definidos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a competência do júri quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças. NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL 26 WWW.SIMPLESEAD.COM.BR § 5º Compete aos juízes de direito do juízo militar processar e julgar, singularmente, os crimes militares cometidos contra civis e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, cabendo ao Conselho de Justiça, sob a presidência de juiz de direito, processar e julgar os demais crimes militares. § 6º O Tribunal de Justiça poderá funcionar descentralizadamente, constituindo Câmaras regionais, a fim de assegurar o pleno acesso do jurisdicionado à justiça em todas as fases do processo. § 7º O Tribunal de Justiça instalará a justiça itinerante, com a realização de audiências e demais funções da atividade jurisdicional, nos limites territoriais da respectiva jurisdição, servindo-se de equipamentos públicos e comunitários. Como se pode observar da leitura dos artigos suso mencionados da Constituição Federal, existe de fato e de direito uma autonomia legislativa, executiva e judiciária no âmbito dos Estados-membro da Federação. No que diz respeitos aos Municípios, estes gozam de plena autonomia. Esta, no entanto, recebe severas críticas. Vejamos o pensamento de Nathalia Masson condensando os ensinamentos de José Afonso da Silva: “Muito criticada foi a opção brasileira de alçar os Municípios ao patamar de ente federado, afinal esta escolha traz em si três dificuldades: (i) nenhuma outra federação o faz; (ii) eles não participarão da formação da vontade nacional (pois não terão membros na Casa Legislativa que representa os entes da federação); e (iii) tampouco serão objeto de intervenção federal acaso afrontem o princípio da indissolubilidade do pacto federativo (são passíveis somente de intervenção estadual).” É possível ainda a formação de novos Estados no âmbito da Federação Brasileira. Esta nova conformação pode se dar através de incorporação, subdivisão ou desmembramento de Estados e são os requisitos que podem possibilitar tais ocorrências: A população deve ser previamente consultada através de plebiscito; Devem ser realizadas consulta às Assembleias Legislativas dos Estados involucrados; Deve haver aprovação do ato, pelo Congresso Nacional, através de Lei Complementar. A forma federativa de Estado pressupõe a repartição de competências entre os entes. No que diz respeito à União, a Constituição Federal estabeleceu suas competências da seguinte forma: Art. 21 – tarefas materiais exclusivas; Art. 22 – atribuições privativas de cunho legislativo; NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL 27 WWW.SIMPLESEAD.COM.BR Art. 23 – competências materiais comuns (entre a União e os demais entes da federação); Art. 24 – atribuições legislativas concorrentes (com os Estados-membro e o Distrito Federal). No que se refere aos Estados-membro, a Constituição Federal estabeleceu suas competências da seguinte forma: Art. 25, §1º - matérias exclusivas; Art. 18, §4º e Art. 25, §1º e §3º; - legislativas privativas; Art. 23 – materiais comuns; Art. 24 – legislativas concorrentes. No que diz respeito aos Municípios, a Constituição Federal estabeleceu suas competências no artigo 30 e respectivos incisos (fazer leitura na constituição). É importante destacar que para os concursos públicos, merecem destaque duas manifestações importantes sobre o tema: Súmula 645/STF: É competente o Município para fixar o horário de funcionamento de estabelecimento comercial. Súmula 19/STJ: A fixação do horário bancário, para atendimento ao público, é da competência da União. 8.2 SISTEMAS DE GOVERNO Enquanto que o Estado Brasileiro é dotado de forma Federativa, o Sistema de governo possui natureza de Presidencialismo e o Regime de Governo possui natureza de Democracia. O Sistema de governo presidencialista possui por principais caracteristicas: A interdependência entre os poderes; Chefia monocrática; Mandato por prazo certo; Responsabilização governamental perante a população. O Regime de governo democrático brasileiro é de viez participativo ou semidireto e adota mecanismos específicos de participação popular. Vejamos alguns exemplos destes mecanismos: Sufrágio universal; Voto direto e secreto; Plebiscito; Referendo; NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL 28 WWW.SIMPLESEAD.COM.BR Iniciativa popular. No que diz respeito à forma de governo, o ordenamento jurídico pátrio adotou a forma republicana de governo. Esta tem por principais características: A temporalidade no exercício do poder; A legitimidade e representatividade popular; O dever (do governante) de prestar contas. Portanto, em resumo a tudo o que foi exposto neste subitem, no que tange a Organização do Estado Brasileiro, tem que: Forma de Estado: Federação; Sistema de Governo: Presidencialista; Regime de Governo: Democrático; Forma de Governo: Republicana. NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL 29 WWW.SIMPLESEAD.COM.BR 09 FORMAS DE PARTICIPAÇÃO POPULAR A Constituição Federal e a Lei 9.709/98 estabeleceram e regularam as formas de participação popular no Brasil, visando garantir um legítimo poder do povo. Em um discurso democrático, o povo é a principal fonte de validação para que a palavra democracia se torne efetivamente válida. As formas descritas no artigo 14 da Constituição Federal são formas de participação direta, uma vez que o povo expõe diretamente sua posição e ela será o resultado final de alguma questão que afeta a sociedade. Já na forma indireta, ou semidireta, o povo exerce sua soberania através de seus representantes, que são escolhidos mediante voto direto. A participação é indireta, pois o representantepopular é que decidirá sobre questões políticas e sociais que afetará o cidadão que o elegeu. 9.1 LEIS DE INICIATIVA POPULAR Na Iniciativa Popular de Lei, os eleitores têm o direito de apresentar projetos ao Congresso Nacional desde que reúnam assinaturas de pelo menos 1% do eleitorado nacional, localizado em pelo menos cinco estados brasileiros. Esse percentual representa a coletânea de aproximadamente 1,3 milhão de assinaturas em todo o País. Desde que o instrumento de iniciativa popular foi assegurado pela Constituição, em 1988, quatro projetos elaborados pela sociedade foram convertidos em lei. O mais recente foi a Lei da Ficha Limpa (Lei Complementar 135/2010), resultado de uma ampla mobilização da sociedade civil, e que impede que políticos condenados judicialmente possam concorrer nas eleições. Além disso, a lei tornou inelegíveis candidatos que tenham renunciado a seus mandatos para fugir de cassações. 9.2 PLEBISCITO E REFERENDO NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL 30 WWW.SIMPLESEAD.COM.BR Recebem o nome de plebiscito e referendo duas modalidades de consulta ao povo para decidir sobre matéria de relevância nacional. As regras de ambos os institutos estão na lei 9.709, de 18 de novembro de 1998, que regulamenta o artigo 14 da constituição federal. Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante: I - plebiscito; II - referendo; III - iniciativa popular. A lei 9.709/98 estabelece que nas questões de relevância nacional e nas previstas no § 3º do artigo 18 da constituição (que aborda incorporação, subdivisão ou desmembramento dos estados), o plebiscito e o referendo são convocados mediante decreto legislativo. Nas demais questões, de competência dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, o plebiscito e o referendo respeitam os dispositivos previstos nas constituições estaduais e com a lei orgânica. Outro dispositivo constitucional fundamental sobre o tema é o artigo 49 da carta magna diz que o congresso nacional é o responsável por decidir se uma medida de interesse nacional deve ser submetida a plebiscito ou referendo. É o congresso também que convoca a consulta e enumera as perguntas que serão realizadas. Isso tudo deixa claro a limitação de poderes do presidente da república, como chefe do Executivo, neste caso em particular. O presidente pode mesmo sugerir um plebiscito ou um referendo, mas só deputados e senadores podem aprová-lo. Tanto o plebiscito como o referendo são formas de consulta popular que ocorrem através de votação secreta e direta. Em ambos os tipos não há impedimento para incluir quantas perguntas forem necessárias em um questionário a ser respondido pela população. A diferença entre o plebiscito e o referendo está na perspectiva que cada uma privilegia da mesma questão. No plebiscito, o cidadão se manifesta sobre um assunto antes de uma lei ser constituída. Quando há uma consulta popular sobre lei que já foi aprovada pelo Congresso Nacional, a modalidade adequada é o referendo. 9.3 HISTÓRICO DE REFERENDOS E PLEBISCITOS NO BRASIL Referendo sobre a escolha da forma de governo de 1963: em 1961, no calor da disputa entre esquerda e direita no Brasil, reflexo da Guerra Fria a nível mundial, o congresso nacional aprovou a Emenda Constitucional nº 4, que garantiu a posse do então presidente João Goulart. NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL 31 WWW.SIMPLESEAD.COM.BR A mesma medida também instituiu o parlamentarismo no país, uma forma de neutralizar as ações do presidente, que despertava o terror dos setores mais à direita da política nacional. Dois anos depois, em janeiro de 1963, a população foi consultada sobre a manutenção do regime parlamentarista ou do presidencialismo. Realizado o referendo, os eleitores decidiram pelo retorno ao presidencialismo. Muitos historiadores e juristas, porém, não consideram essa consulta popular um referendo, e sim um plebiscito. Plebiscito parlamentarismo x presidencialismo e monarquia x república de 1993: Ocorreu no dia 21 de abril de 1993, e nele, o eleitor deveria responder a duas questões: escolher entre a forma de governo, república ou monarquia e o sistema de governo, presidencialismo ou parlamentarismo. Como resultado, a república e o sistema presidencialista de governo foram mantidos pela população. O plebiscito fora determinado pelo artigo 2º do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) da Constituição Federal de 1988. A consulta popular estava marcada para ocorrer no dia 7 de setembro de 1993, mas foi antecipada para 21 de abril de 1993 pela Emenda Constitucional nº 2, de 25 de agosto de 1992. Referendo sobre o estatuto do desarmamento de 2005:No dia 23 de outubro de 2005 foi realizado o referendo envolvendo o Estatuto do Desarmamento (lei nº 10.826/2003), que já havia sido aprovado na câmara dos deputados e no senado. Um de seus artigos previa uma consulta para que a população opinasse sobre a proibição da venda de armas. A alteração no art. 35 do tornava proibida a comercialização de arma de fogo e munição em todo o território nacional, salvo para as entidades previstas no art. 6º do estatuto. Como as modificações causariam impacto sobre a indústria de armas do país e sociedade brasileira, o povo deveria concordar ou não com ele. O resultado foi contra a alteração da lei, por cerca de 63,94% dos eleitores; Plebiscitos no estado do Pará: Dois plebiscitos foram realizados no estado do Pará, no dia 11/12/2011, e tratavam da possibilidade de divisão do estado e a consequente criação de mais dois estados na região: Carajás e Tapajós. Pelo projeto de criação dos novos estados, Tapajós ocuparia 58% do atual território do Pará e teria 27 municípios; Carajás teria 25% do território com 39 cidades. O Pará ficaria com 17% do território. Nas urnas eletrônicas, os paraenses responderam a duas perguntas: “Você é a favor da divisão do Estado do Pará para a criação do estado do Carajás?” e “Você é a favor da divisão do Estado do Pará para a criação do estado do Tapajós?”. O resultado foi desfavorável à criação desses dois novos estados, com cerca de 66% da população assinalando a opção “não” em ambas as questões. NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL 32 WWW.SIMPLESEAD.COM.BR REFERÊNCIAS COELHO, Inocêncio Mártires. Curso de Direito Constitucional. 5ª ed. São Paulo: Saraiva, 2010. Constituição Federal, disponível em: . DINIZ, Maria Helena. Norma Constitucional e seus Efeito. 9ª ed. São Paulo: Saraiva, 1997. Lei nº 9.709, de 18 de Novembro de 1998. Disponível em:. MASSON, Nathalia. Manual de Direito Constitucional. 3ª ed. Salvador: JusPodvm Editora, 2015. MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet; MORAIS, Alexandre de. Direito Constitucional. 32ª ed. São Paulo: Atlas, 2016. SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 25ª ed. São Paulo: Malheiros Editora, 2005.