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MICROBIOLOGIA AULA 3 ABERTURA Olá! Logo após a descoberta das bactérias, houve uma série de problemas relacionados com a classificação, pois elas claramente não eram animais e nem plantas com raízes. A partir da década de 70, o conhecimento das bactérias a nível molecular se expandiu a tal ponto que foi possível classificá-las precisamente em filos. Primariamente, se dividiu o grupo dos procariontes em dois grandes grupos distintos: as bactérias verdadeiras (eubactérias ou simplesmente bactérias) e as arqueobactérias (do grego Archaea = antigo, ancestral), consideradas inicialmente como grupo mais basal em relação às bactérias. Atualmente, sabe-se que as arqueobactérias são mais próximas evolutivamente dos eucariontes do que dos demais procariontes do grupo das bactérias. Devido a esta característica, prefere-se empregar o termo Archaea e não arqueobactéria, uma vez que esses elementos não se constituem em bactérias. Veja mais detalhes nesta aula. Bons estudos. Procariotos: Domínio Bacteria e Archaea REFERENCIAL TEÓRICO O conhecimento a respeito das bactérias está bem evoluído, desde a década de 70 quando foi possível classificá-las em filos. No capítulo "Procariotos: Domínios Bacteria e Archaea", da obra Microbiologia, você irá aprofundar seu conhecimento referente ao grupo de microrganismos e quais fazem parte dos domínios Bactéria e Archaea. Ao final, você será capaz de: • Identificar as proteobactérias. • Diferenciar os grupos de bactérias gram-positivas e gram-negativas. • Determinar a morfologia e a organização das bactérias. Boa leitura. Domínios Bacteria e Archaea Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar as proteobactérias. Diferenciar os grupos de bactérias gram-positivas e gram-negativas. Determinar a morfologia e a organização das bactérias. Introdução A microbiologia é a ciência que estuda os microrganismos e sua in- teração com o ambiente e/ou hospedeiro. O mundo que habitamos é composto por inúmeros organismos vivos, que interagem com o meio em que sobrevivem e com outras células de forma dinâmica. A microbiologia descreve os tipos de bactérias e sua evolução através de ferramentas de biologia molecular (MADIGAN et al., 2016; TORTORA; FUNKE; CASE, 2016). As classificações dos seres vivos são realizadas através da taxonomia, a partir da qual características comuns são agrupadas e descritas. A análise das estruturas internas da célula bacteriana as classifica em dois grandes grupos: procariotos e eucariotos (MADIGAN et al., 2016; TORTORA; FUNKE; CASE, 2016). Neste capítulo, você vai aprender sobre o grupo de microrganismos procariotos que fazem parte dos domínios Bacteria e Archaea. Além disso, vai ver como caracterizar as proteobactérias, diferenciando os grupos de bactérias gram-positivas e gram-negativas e determinando a morfologia e a organização das bactérias. As proteobactérias A divisão das espécies em domínio Bacteria e Archaea é defi nida pelas ca- racterísticas similares e recentemente pela avaliação dos genes de RNAr 16S. No grupo Archaea, as espécies estão descritas em cinco fi los: Crenarchaeota, Euryarchaeota, Nanoarchaeota, Korarchaeota e Thaumarchaeota. Entre Bac- teria, foram descritos quatro fi los: Actinobacteria, Firmicutes, Proteobacteria e Bacteroidetes (MADIGAN et al., 2016). Figura 1. Domínios: Bacteria, Archaea, Eukarya. Fonte: Adaptada de Udaix/Shutterstock.com. As proteobactérias possuem muitas formas bacterianas com condições fisio- lógicas distintas e habitam ambientes diversos da terra em temperaturas frias e quentes. Neste filo, observamos uma vasta variedade fisiológica de tipos micro- bianos (MADIGAN et al., 2016). As proteobactérias incluem as bactérias gram- -negativas patogênicas ao homem, são o maior grupo bacteriano e são classificadas em cinco grupos: alfaproteobactérias, betaproteobactérias, gamaproteobactérias, deltaproteobactérias e epsilonproteobactérias (TORTORA; FUNKE; CASE, 2016). As alfaproteobactérias (Quadro 1) são bactérias capazes de crescer com poucos nutrientes, têm grande importância na agricultura e possuem alguns patógenos humanos e vegetais. Domínios Bacteria e Archaea2 Fonte: Adaptado de Madigan et al. (2016). Identificação bacteriana Características Pelagibacter ubique Pequeno organismo encontrado nos oceanos. Azospirrilum Encontrada no solo, com associação em raízes de plantas. Acetobacter e Gluconabacter Espécies encontradas no processo de fabricação do vinagre. Rickettsia prowazekii Bacilos gram-negativos responsáveis por zoonoses no homem e em animais. Exemplo de manifestação: febre maculosa. Ehrlichia Bacilo gram-negativo que causa doença fatal. Caulobacter e Hyphomicrobium Bactérias encontradas no ambiente aquático. Rhizobium Bactérias encontradas no solo, gerando impacto na agricultura. Bartonella Bacilo gram-negativo, responsável por infecções em humanos. Principal manifestação em doença de arranhadura do gato. Brucella Microrganismos sem motilidade que causam grave infecções em humanos. Nitrobacter e Nitrosomonas Bactérias encontradas no meio ambiente. Wolbachia Causa infecção em humanos, mas não é detectada na rotina laboratorial, pois não cresce em meios de cultivo. Quadro 1. Alfaproteobactérias As betaproteobactérias possuem muitas espécies importantes responsáveis por infecções em humanos, veja-as no Quadro 2, a seguir. 3Domínios Bacteria e Archaea Fonte: Adaptado de Madigan et al. (2016). Identificação bacteriana Características Acidithiobacillus Envolvidas no ciclo do enxofre. Spirillum Sphaerotilus Encontradas na água doce, em forma de espiral, apre- sentando motilidade. Burkholderia Bacilo gram-negativo responsável por infecções em humanos, principalmente no trato respiratório, tendo como principal representante a Burkholderia cepacia. Bordetella Bordetella pertussis é o agente responsável pela coqueluche. Neisseria São diplococos gram-negativos, importantes espécies em infecções clinicas. Neisseria gonorrhoeae é causada- dora da gonorreia e N. meningitidis é responsável pela meningite. Zoogloea Encontradas no meio ambiente, envolvidas em pro- cesso de tratamento de esgotos. Quadro 2. Betaproteobactérias As gamaproteobactérias (Quadro 3) constituem o maior grupo das prote- obactérias, estão envolvidas em diversas infecções clínicas e algumas espécies estão relacionadas à microbiologia industrial. Identificação bacteriana Características Thiotrichales e Francisella Patógeno causador da tularemia devido a contato com animais selvagens. Beggiatoa Encontrada em ambiente aquático. Pseudomonas Bacilos gram-negativos, oxidase positiva, detectados em laboratório como importantes patógenos em infecções hospitalares. Azotobacter e Azomonas Encontradas no ambiente, principalmente no solo. Quadro 3. Gamaproteobactérias (Continua) Domínios Bacteria e Archaea4 As deltaproteobactérias (Quadro 4) são bactérias predadoras de outras bactérias e também estão envolvidas no ciclo do enxofre. Essas espécies não estão envolvidas em infecções em humanos e são de difícil isolamento. Fonte: Adaptado de Tortora, Funke e Case (2016). Identificação bacteriana Características Bdellovibrio, Desulfovibrionales, Myxococcales Bactérias que se aderem a células bacterianas de outras espécies e são redutoras do enxofre. Quadro 4. Deltaproteobactérias Fonte: Adaptado de Tortora, Funke e Case (2016). Identificação bacteriana Características Moraxella São cocobacilos relacionados a processos inflamató- rios, como sinusite. Acinetobacter Seu principal representante é Acinetobacter baumanii, responsável por pneumonias associadas à ventilação mecânica. Haemophillus É um gênero muito importante, causador de diversas infecções clínicas no trato respiratório e meningites. Legionella Relacionadas a infecções por contaminação de água, são de difícil isolamento no laboratório clínico. Vibrios Vibrio cholerae é o principal agenteconhecido res- ponsável pela cólera. Enterobacteriales São os principais bacilos gram-negativos detectados na rotina laboratorial, são encontrados no trato intes- tinal e causam muitas infecções clinicas. Os principais representantes são: Escherichia coli, Klebsiella pneumo- niae, Samonella spp., Enterobacter sp., Proteus sp. Quadro 3. Gamaproteobactérias (Continuação) 5Domínios Bacteria e Archaea As epsilonproteobactérias (Quadro 5) são bacilos gram-negativos que se apresentam em forma de vírgula quando observadas em microscopia, responsáveis por distúrbios gastrointestinais em humanos. Fonte: Adaptado de Tortora, Funke e Case (2016). Identificação bacteriana Características Campylobacter Campylobacter jejuni é a principal espécie de origem alimentar responsável pela gastroenterite. Helicobacter Responsáveis pelas ulcerações no estômago e uma das causas do câncer nesse órgão. Quadro 5. Epsilonproteobactérias A taxonomia e a nomenclatura bacteriana sofrem alterações devido às descobertas de técnicas de biologia molecular. Para acompanhar as atualizações, acesse a revista científica International Journal of Systematic and Evolutionary Microbiology (IJSEM) no link a seguir. https://qrgo.page.link/a3di7 Diferenciação dos grupos de bactérias gram- positivas e gram-negativas A técnica de coloração de Gram é a primeira etapa para caracterização das bactérias e permite avaliar a coloração e a morfologia bacteriana. A análise pode ocorrer da colônia bacteriana através de uma suspensão de solução salina em lamina ou através da análise do material clínico enviado ao laboratório (TORTORA; FUNKE; CASE, 2016). Domínios Bacteria e Archaea6 O método de coloração de Gram é um teste rápido e de fácil execução. É a principal coloração no laboratório de microbiologia e consiste em quatro reagentes: cristal violeta, lugol, álcool-acetona e fucsina. Algumas técnicas sugerem a troca do corante de fucsina pela safranina, ambas com a mesma finalidade (XAVIER; DORA; BARROS, 2016). Veja, a seguir, como aplicar o método de coloração de Gram: cobrir a lamina com cristal violeta por 1 minuto; lavar com água corrente; cobrir com lugol por 1 minuto; lavar com água corrente; descorar com álcool-acetona; lavar com água corrente; cobrir com fucsina ou safranina por 30 segundos; lavar com água corrente, secar e examinar ao microscópio com imersão de 100× (XAVIER; DORA; BARROS, 2016). Na avaliação microscópica, observam-se dois grupos, os microrganismos gram-positivos, que retêm o corante cristal violeta e apresentam-se de co- loração roxa, e os microrganismos gram-negativos, que foram descorados e retêm a fucsina ou a safranina, identificados pela coloração rosa (XAVIER; DORA; BARROS, 2016 e BROOKS et al., 2014). A diferenciação na coloração de Gram ocorre pelas características na estrutura da parede celular das bactérias. A parede celular das bactérias gram- -positivas é composta por uma camada espessa de peptideoglicanos quando comparada com a parede celular das bactérias gram-negativas, conforme demonstrado na Figura 2 (LEVINSON, 2016). Os estafilococos apresentam-se microscopicamente na morfológica de cocos gram-positivos em aglomerado, e o agente mais comum é Stpahylococcus aureus, responsável por infecções de pele e partes moles. Nos gram-negativos, a Escherichia coli é o principal representante; na morfologia de bacilo, são descorados por álcool-acetona e absorvem a fucsina. É um microrganismo pre- sente na flora intestinal, mas está relacionado a infecções clínicas (HÖFLING; GONÇALVES, 2008). 7Domínios Bacteria e Archaea Figura 2. Diferenciação entre membranas plasmáticas gram-negativa e gram-positiva. Fonte: Adaptada de Designua/Shutterstock.com. Morfologia e organização das bactérias A morfologia das bactérias pode ser dividida em três grupos: bacilos, cocos e espiroquetas. Os bacilos são curvos e pequenos e podem apresentar cáp- sula, como, por exemplo, a Klebsiella pneumoniae. Pode ser caracterizado como bacilo gram-negativo Salmonella spp. e como bacilo gram-positivo Corynebacterium spp. Já os cocos são esféricos e podem se apresentar iso- lados, aos pares, em aglomerado ou em cadeias. Na Figura 3, observamos alguns exemplos, como Streptococcus pyogenes, cocos gram-positivos em cadeia, e o Strepocococcus pneumoniae, cocos gram-positivos aos pares com presença de cápsula. As Neisserias são representantes dos diplococos ou cocos aos pares, corados por fucsina ou safranina, caracterizados como gram-negativos. As bactérias variam no tamanho de 0,2 a 5 mm e a carac- terização da sua morfologia é determinada na replicação celular por fi ssão binária (LEVINSON, 2016). Domínios Bacteria e Archaea8 Figura 3. Morfologia bacteriana. Fonte: Alila Medical Media/Shutterstock.com. As células bacterianas organizam-se através da membrana celular, composta por peptidioglicanos; nas bactérias gram-positivas, observam-se ácidos teicoicos e, nas gram-negativas, lipopolissacarídeos. A estrutura externa à membrana celular é denominada cápsula, uma camada gelatinosa que reveste a bactéria com- posta de polissacarídeos. Possuem um núcleo que contém DNA e é circundado pelo citoplasma, onde as proteínas são sintetizadas e a energia é gerada através dos ribossomos. No citoplasma, também encontramos os plasmídeos, unidade de DNA de dupla fita capazes de se reproduzir independentemente. Podemos observar algumas estruturas assessórias como flagelos, gerando motilidade para as bactérias, e o pili ou fimbrias, que são mais curtos que os flagelos e estendem-se ao longo das célula — são encontrados principalmente em bactérias gram-negativas. Observe as estruturas celulares na Figura 4 (LEVINSON, 2016). 9Domínios Bacteria e Archaea Figura 4. Célula bacteriana. Fonte: Adaptada de Sakurra/Shutterstock.com. Para saber mais sobre a detecção e a identificação de bactérias de importância médica, acesse o link a seguir. https://qrgo.page.link/DrC6o Uma paciente realizou cesárea e, após 72 horas, foram observados sinais de infecção na ferida operatória. Material foi coletado e encaminhado para o laboratório. Observe, na Figura a seguir, o crescimento bacteriano em meio de cultura de ágar sangue e a coloração de Gram em lâmina. Os achados laboratoriais sugerem infecção por Staphylococcus aureus. Domínios Bacteria e Archaea10 Fonte: Sirirat/ Shutterstock.com. Fonte: Fon_napath/Shutterstock.com. BROOKS, Geo. F. et al. Microbiologia médica de Jawetz, Melnick & Adelberg. 26. ed. Porto Alegre: McGraw-Hill, 2014. HÖFLING, J. F; GONÇALVES, R. B. Microscopia de luz em microbiologia: morfologia bac- teriana e fúngica. Porto Alegre: Artmed, 2008. LEVINSON, W. Microbiologia e imunologia médicas. 13. ed. Porto Alegre: AMGH, 2016. MADIGAN, M. T. et al. Microbiologia de Brock. 14. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016. TORTORA, G. J.; FUNKE, B. R.; CASE, C. L. Microbiologia. 12. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016. XAVIER, R. M.; DORA, J. M.; BARROS, E. Laboratório na prática clínica: consulta rápida. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016. 11Domínios Bacteria e Archaea Leituras recomendadas ANVISA. Detecção e identificação de bactérias de importância médica. Brasília, DF, 2004. Disponível em: http://www.anvisa.gov.br/servicosaude/microbiologia/mod_5_2004. pdf. Acesso em: 26 set. 2019. MICROBIOLOGY SOCIETY. International journal of systematic and evolutionary micro- biology. London: [S. n.], 2019. Disponível em: https://www.microbiologyresearch.org/ content/journal/ijsem. Acesso em: 26 set. 2019. Domínios Bacteria e Archaea12 PORTFÓLIO As bactérias englobam uma gama de microrganismos que são classificados quanto às suas características morfológicas, estruturais, nutricionais dentre outras. Uma das melhores formas de agrupar estes microrganismos é quanto à composição de sua parede celular, que é composta por uma ou mais camadas de peptídeoglicanos. Com base na parede celular, Christian Gram desenvolveu um método de coloração em 1884, chamadode Coloração Gram, que acabou por dividir as bactérias em dois grandes grupos: gram-positivas e gram-negativas. Descreva quais as características da parede celular que possibilitam tal diferenciação. PESQUISA Reino Archaea https://www.youtube.com/watch?v=HjhfjrTwLqU O sistema de classificação de três domínios (Archaea, Bacteria e Eukaryota) foi introduzido por Carl Woese em 1990. Quando registradas pela primeira vez, em ambientes extremos, as Archaea foram classificadas como bactérias e eram chamadas de Archaebacterias. As Archeae são conhecidas por serem extremófilas, vivem em condições ambientais com pH ácido, altas temperaturas, em presença de metano e de altas concentrações de salinidade. São evolutivamente distintas das bactérias. N