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APS de Homem e Sociedade

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UNIVERSIDADE PAULISTA
CAMPUS LIMEIRA
CURSO DE BIOMEDICINA
APS
HOMEM E SOCIEDADE
Homem e Sociedade				Profº João Augusto
Amanda Novello					B3678B-1
Ester Geciana Camargo				B4589A-6
Luana Suaiden Gonçalves				B29081-1
Rafael Domingos Ferreira				B401GH-3
Vanessa Camargo Conceição 			B4054C-0
1º SEMESTRE 2012
SUMÁRIO
1. O HOMEM
1.1 - Principais visões sobre a origem humana: o evolucionismo e o debate das determinações biológicas versus processo cultural. 
Evolucionismo e teoria da evolução
A teoria da evolução, também chamada evolucionismo, afirma que as espécies animais e vegetais, existentes na Terra, não são imutáveis.
Alguns pesquisadores afirmam que as espécies sofrem, ao longo das gerações, uma modificação gradual que inclui a formação de novas raças e de novas espécies. Depois da sua divulgação, tal teoria se transformou em fonte de controvérsia, não somente no campo científico, como também na área ideológica e religiosa em todo o mundo.
Até o século XVIII, o mundo ocidental aceitava com muita naturalidade a doutrina do criacionismo. De acordo com essa doutrina, cada espécie animal ou vegetal teria sido criado independentemente por ato divino.
O pesquisador francês Jean-Baptiste Lamarck foi um dos primeiros a negar esse postulado e a propor um mecanismo pelo qual a evolução se teria verificado. A partir da observação de que fatores ambientais podem modificar certas características dos indivíduos, Lamarck imaginou que tais modificações se transmitissem à prole: os filhos das pessoas que normalmente tomam muito sol já nasceriam mais morenos do que os filhos dos que não tomam sol.
A necessidade de respirar na atmosfera teria feito aparecer pulmões nos peixes que começaram a passar pequenos períodos fora d'água, o que teria permitido a seus descendentes viver em terra mais tempo, fortalecendo os pulmões pelo exercício; as brânquias, cada vez menos utilizadas pelos peixes pulmonados, terminaram por desaparecer.
Assim, o mecanismo de formação de uma nova espécie seria, em linhas gerais, o seguinte: alguns indivíduos de uma espécie ancestral passavam a viver num ambiente diferente; o novo ambiente criava necessidades que antes não existiam, as quais o organismo satisfazia desenvolvendo novas características hereditárias; os portadores dessas características passavam a formar uma nova espécie, diferente da primeira.
A doutrina de Lamarck foi publicada em Philosophie zoologique (1809; Filosofia zoológica), e teve, como principal mérito, suscitar debates e pesquisas num campo que, até então, era domínio exclusivo da filosofia e da religião. Estudos posteriores demonstraram que, apenas o primeiro postulado do lamarckismo, estava correto; de fato, o ambiente provoca no indivíduo modificações adaptativas; mas os caracteres assim adquiridos não se transmitem à prole.
Em 1859, Charles Darwin publicou The Origin of Species (A origem das espécies), livro de grande impacto no meio científico que pôs em evidência o papel da seleção natural no mecanismo da evolução. Darwin partiu da observação segundo a qual, dentro de uma espécie, os indivíduos diferem uns dos outros. Há, portanto, na luta pela existência, uma competição entre indivíduos de capacidades diversas. Os mais bem adaptados são os que deixam maior número de descendentes.
O darwinismo estava fundamentalmente correto, mas teve de ser complementado e, em alguns aspectos, corrigido pelos evolucionistas do século XX para que se transformasse na sólida doutrina evolucionista de hoje. As ideias de Darwin e seus contemporâneos sobre a origem das diferenças individuais eram confusas ou erradas. Predominava o conceito lamarckista de que o ambiente faz surgir nos indivíduos novos caracteres adaptativos, que se tornam hereditários.
Um dos primeiros a abordar experimentalmente a questão foi o biólogo alemão August Weismann, ainda no século XIX. Tendo cortado, por várias gerações, os rabos de camundongos que usava como reprodutores, mostrou que nem por isso os descendentes passavam a nascer com rabos menores. Weismann estabeleceu também a distinção fundamental entre células germinais e células somáticas.
Origem das raças: As mutações, as recombinações gênicas, a seleção natural, as diferenças de ambiente, os movimentos migratórios e o isolamento, tanto geográfico como reprodutivo, concorrem para alterar a frequência dos genes nas populações de animais e são, assim, os principais fatores da evolução.
Duas raças geograficamente isoladas evoluem independentemente e se diversificam cada vez mais, até que as diferenças nos órgãos reprodutores, ou nos instintos sexuais, ou no número de cromossomos, sejam grandes a ponto de tornar o cruzamento entre elas impossível ou, quando possível, produtor de prole estéril. Com isso, as duas raças transformam-se em espécies distintas, isto é, populações incapazes de trocar genes. Daí por diante, mesmo que as barreiras venham a desaparecer e as espécies passem a compartilhar o mesmo território, não haverá entre elas cruzamentos viáveis. As duas espécies formarão, para sempre, unidades biológicas estanques, de destinos evolutivos diferentes.
Se, entretanto, o isolamento geográfico entre duas raças é precário e desaparece depois de algum tempo, o cruzamento entre elas tende a obliterar a diferenciação racial e elas se fundem numa mesma espécie, monotípica, porém muito variável. É o que está acontecendo com a espécie humana, cujas raças se diferenciaram enquanto as barreiras naturais eram muito difíceis de vencer e quase chegaram ao ponto de formar espécies distintas; mas os meios de transporte, introduzidos pela civilização, aperfeiçoaram-se antes que se estabelecessem mecanismos de isolamento reprodutivo que tornassem o processo irreversível. Os cruzamentos inter-raciais tornaram-se frequentes e a humanidade está-se amalgamando numa espécie cada vez mais homogênea, mas com grandes variações.
Populações que se intercruzam amplamente apresentam pequenas diferenças genéticas, mas as populações isoladas por longo tempo desenvolvem diferenças consideráveis. Em teoria, raças são populações de uma mesma espécie que diferem quanto à frequência de genes, mesmo que essas diferenças sejam pequenas. A divisão da humanidade em determinado número de raças é arbitrária; o importante é reconhecer que a espécie humana, como as demais, está dividida em alguns grupos raciais maiores que, por sua vez, se subdividem em raças menos distintas, e a subdivisão continuam até se chegar a populações que quase não apresentam diferenças.
As subespécies representam o último estádio evolutivo na diferenciação das raças, antes do estabelecimento dos mecanismos de isolamento reprodutivo. São, portanto, distinguíveis por apresentarem certas características em frequência bem diferentes. Não se cruzam, por estarem separadas, mas são capazes de produzir híbridos férteis, se colocadas juntas.
Por esse critério, que é o aceito pela biologia moderna, os nativos da África e da selva amazônica, por exemplo, são raças que atingiram plenamente o nível de subespécies. O mesmo pode-se dizer dos italianos e os esquimós etc., mas não há grupos humanos que se tenham diferenciado em espécies distintas, pois espécies são grupos biológicos que não se intercruzam habitualmente na natureza, mesmo quando os indivíduos habitam o mesmo território.
O debate das determinações biológicas no comportamento humano
Já é antiga e muito conhecida a ideia segundo a qual as diferenças de comportamento humano de uma cultura para outra, são totalmente provenientes das características biológicas de um povo (sua carga genética) ou ainda totalmente provenientes do meio ambiente (ecossistema, clima) onde ele se desenvolve.
A antropologia discorda dessas ideias, que denominamos de teorias deterministas, por pretenderem que um povo é determinado por variáveis sobre as quais não há controle humano. Ou seja, essas teses deterministas descartam a possibilidade do comportamento e valores de um povo ser provenientede sua historia e das características humanas que giram em torno da experiência de mundo. 
Da perspectiva biológica, o ser humano é uma única espécie. Somos todos partes de uma mesma família que foi dividida ao longo do tempo por sucessivas migrações.
Esse movimento de populações resultou em aparências distintas para cada grupo populacional, popularmente conhecida como “raças humanas”. Vamos esclarecer alguns aspectos importantes.
Cada indivíduo possui um fenótipo, que corresponde à aparência física. Entretanto somos portadores de genótipos, que são os genes que carregamos e podem ser determinantes nos resultados de nossa reprodução. Um indivíduo com o fenótipo “pele clara e olhos azuis” carrega genes com essa informação, mas também é portador de informações genéticas outras. Assim, cada indivíduo vai resultar de uma combinação genética de seus antepassados, formando um fenótipo próprio.
 	Durante muito tempo a sociedade em geral, e a ciência, debateram sobre essa questão. Acreditava-se que a cada raça correspondia uma cultura. Dessa perspectiva ultrapassada, surgiram as teorias deterministas.
O determinismo biológico defendia que a herança genética seria a responsável pelo comportamento diferenciado do ser humano dentro de cada cultura. Bem, é importante ressaltar que esse tipo de afirmação logo encontrou “furos”, pois nem sempre a totalidade dos herdeiros de genes “brancos” ou “negros” apresentavam comportamentos semelhantes entre si. Multiplicavam-se os exemplos de comportamentos diferentes para pessoas da mesma “raça”. Assim, somou-se a esse equívoco científico um outro, que pretendia ser complementar ao anterior e preencher as lacunas explicativas. 
Trata-se do determinismo geográfico, que defendia que a ecologia (o meio ambiente) no qual essa ou aquela população se desenvolveu, também seria um fator DETERMINANTE para a cultura ali desenvolvida. Portanto, populações de lugares com clima muito quente, ou muito frio teriam sofrido influências que, somadas ao fator biológico, explicariam costumes, mentalidade, valores e tradições.
 	Mesmo tendo sido totalmente desacreditadas pela ciência, esses determinismos ainda hoje permeiam a visão de mundo do senso comum. É fácil encontrarmos pessoas que atribuem ao clima, à vegetação, aos animais circundantes, e ao fenótipo de cada população a explicação sobre “porque essas pessoas desse lugar agem de tal forma”.
TODOS OS SERES HUMANOS EXISTENTES HOJE DESCENDEM DE UM ÚNICO GRUPO HUMANO ORIGINÁRIO DO CONTINENTE AFRICANO.
 	Essa é uma afirmação resultante de um século e meio de pesquisas, cujo material arqueológico foi mais recentemente reforçado pelo conhecimento genético. Não há como refutar que qualquer indivíduo humano, seja ele um esquimó, um indiano, um escocês, um dinamarquês, um japonês e assim por diante são descendentes de grupos oriundos da África.
Sim, todos os indivíduos carregam genes desses primeiros agrupamentos humanos, apesar de terem fenótipos diferentes. Portanto, somos uma mesma família, que foi desenvolvendo aparências distintas como resposta adaptativa ao meio.
A geografia desempenhou um importante papel para a diversidade de tipos humanos? Sem dúvida! Ao longo do processo evolutivo, mudanças importantes ocorreram para permitir a sobrevivência de nossa espécie em diferentes meios. A quantidade de melanina na pele e a dimensão do aparelho nasal foram sendo modelados para permitir nossa sobrevivência.
Como a grande família humana foi seguindo rumos diferentes, os grupos que migravam para esse ou aquele lugar, carregavam um conjunto genético que foi se estabilizando ao longo de séculos e séculos. Isso foi criando fenótipos próprios a cada população humana, que viveram praticamente isoladas umas das outras durante tempo suficiente para que fosse surgindo um tipo de “padrão” que chamamos etnia.
 	Mas, até que ponto a essa herança biológica e essa influência do meio têm relação com a diversidade cultural? De fato, há um LIMITE para tal influência, e nem biologia, nem ecologia são isolados ou em conjunto a única explicação para o comportamento diferenciado do ser humano dentro de cada cultura. Portanto, NÃO EXISTE UMA DETERMINAÇÃO BIOLÓGICA/GEOGRÁFICA que sustente a explicação sobre a diversidade cultural.
 	O que se aceita hoje é que esses são fatores importantes na relação do ser humano com o meio, seja para sobreviver, seja para se relacionarem uns com os outros. Mas não são determinantes.
Tomemos o caso da “facilidade” de indivíduos afrodescendentes para o desempenho em alguns esportes, como o basquete ou atletismo e que é popularmente divulgado. Não há dúvidas sobre a base biológica que fundamenta essa associação. Mas vamos refletir melhor sobre o comportamento humano, e não apenas sobre seu legado biológico. Desculpe, mas vou formular a seguinte questão sem qualquer preocupação científica ou política. O que o senso comum diria a esse respeito: “Um indivíduo descendente de brancos pode se desempenhar tão bem quanto um descendente de negros nesses esportes?” Sim!
Entretanto, vamos considerar o que se segue. O ser humano depende de desejos, estímulos e condições para chegar a objetivos. Concorda? Um indivíduo descendente de brancos que se determine a ser “exemplar” no basquete ou no atletismo pode atingir esse objetivo perfeitamente. Ele não necessita dos genes para ser isso ou aquilo. Basta que se dedique a aperfeiçoar o que deseja ser. O que ocorre é que um indivíduo com facilidades genéticas chega ao mesmo resultado com mais facilidades. Aquele que tem a genética “contra si”, precisa se dedicar mais para atingir igual resultado. Isso para qualquer coisa que você possa pensar.
A genética e a geografia são elementos na relação do homem com o meio, e não fatores determinantes. Os genes podem ser facilitadores para certas coisas, mas acima de tudo está a determinação, os desejos e o investimento social que cada indivíduo pode dispor para desenvolver certas características de seu comportamento.
 	O que explica a diversidade cultural, se não há determinismos? O ser humano é uma espécie moldável e criativa. Em cada grupo social, as respostas às necessidades e a qualidade dos vínculos sociais resultam de uma história que é única àquele grupo. Portadores das marcas da história, das experiências coletivamente vividas, das soluções criadas, cada grupo vai construindo um conjunto absolutamente único que é sua cultura.
 	Vamos supor que você tome uma parcela da população norte-americana de hoje e os coloque para viver durante um longo período de tempo em um outro local, com características ambientais muitos semelhantes às quais estão acostumados. Daqui a algumas gerações, se você for analisar esse grupo e o grupo de origem, poderá ver que existem características que os diferenciam. E assim se dá quanto mais o tempo passa. Qualquer coletividade está sujeita a um destino próprio. E a cultura é o resultado, a cada momento, dessa experiência de vida que não se repete exatamente com os mesmos eventos, da mesma forma em todos os lugares.
 	A diversidade cultural é inerente ao ser humano. Onde quer que se forme um grupo social, o resultado será sempre o mesmo: uma cultura própria.
O Processo da Cultura - Cultura e Civilização
Os problemas que se colocam a uma filosofia da cultura estão mal resolvidos por duas razões. Em primeiro lugar, devido ao ponto de partida errôneo fundada no evolucionismo positivista, segundo o qual os homens primitivos são como bestas no estado de natureza, e como tal irreligiosos e estúpidos. Em segundo lugar, devido ao uso incorreto das palavras civilização e cultura. Os primitivos, por definição, não têm cultura, nada contribuíram em relação ao modo de vida que é próprio do Estado de Natureza. Os primitivos não são providos de cultura, logo nada oferecem de novo aos olhos de observadores providos de cultura. Mas então pergunta-se: o homem primitivo poderá ser considerado homem?
A etnografia mostrou-nos que todos os povos primitivos se caracterizam pela posse de um conjunto de crenças (que se exprimem atravésde narrativas), de instituições e de ritos. Ora as instituições, fundadas sobre as crenças e expressas pelos ritos, implicam uma civilização. Enquanto os animais apenas sobrevivem, mesmo os homens primitivos procuram dar sentido à vida. Os primitivos são, portanto, homens.
As três famosas questões colocadas por Kant no fim da Crítica da Razão Pura, e que ele apresenta como ponto de partida de toda a filosofia: Que posso saber? Que devo fazer? Que me é permitido esperar? – A estas três questões respondem todas as sociedades primitivas através dos mitos e dos ritos, e é esta transcendência que coloca o homem espiritual acima do animal biológico.
O primeiro caráter imanente a toda a civilização é que ela é anterior à cultura. Todas as sociedades possuem uma civilização, não só as que primeiro conquistaram as técnicas de domínio da natureza ou que possuem ciência e literatura, mas inclusive aquelas que com muito esforço se desligaram do estado de natureza. A civilização precede toda a cultura e pode sobreviver indefinidamente sem cultura. O que muda são os fenômenos da civilização, que constituem ao mesmo tempo as suas formas de manifestação e as suas formas de transmissão: e esta mudança é o acontecimento da cultura. A tradição intelectual europeia criou a imagem de um homem primitivo que nada tem de humano antes de ter cultura e que passa à humanidade através da cultura. Essa passagem é nesta tradição um mistério processo metafísico que outros situam entre a natureza e a humanidade.
Segundo o estruturalismo de Lévis Strauss, os arquétipos, que encontramos em todas as diversificações culturais, constituem a civilização a priori. O ponto de partida do estruturalismo é a constatação da repulsa da consanguinidade nas instituições primitivas, fato universal no seio da humanidade e ausente nas espécies animais, e que situam a natureza humana para lá do instinto, metafisicamente ao nível do espírito. Estas instituições estas condutas como o incesto fazem parte da civilização. Ela manifesta o homem essencial antes da cultura, é ela que o conserva na sua essência antes da cultura. A civilização é essencialmente social, os indivíduos são moldados pela civilização que preexiste.
A palavra civilização é descendente de civis: o cidadão, o homem da cidade organizada e regido pelas instituições, pelas quais ele professa uma profunda reverência, e pelas quais ele modela a sua vida – a sua vida de homem, que é a vida do espírito.
Assim, a civilização não é apenas um fato social, é também um fato universal. A cultura, por sua vez, desenvolve indefinidamente os valores secundários, os valores de empréstimo e de facticidade, não apenas no universo exterior e sócio-temporal, mas também e, sobretudo na interioridade humana; porque é o homem que deseja e instaura os seus valores, e a sua razão de ser está em si próprio. Quanto mais a cultura cresce, mais a personalidade é levada à vertigem do acessório.
Na cultura, sociedade e personalidade, social e universal estão em oposição; na civilização, eles coincidem. A cultura desloca a interioridade ao separar a inteligência da vontade, a explicação da ação; o homem cultural pode ser um puro metafísico, que raciocina sem aderir a qualquer valor fundamental, assim como um moralista, que adota uma conduta digna sem lhe achar um fundamento. 
A cultura produziu o pensador, o homem douto e grave, cujo objetivo constante é a verdade, cuja ocupação ordinária é manejar as ideias e fundamentar os argumentos.
Ainda que a civilização preceda a cultura e que o primitivo não tenha acedido à cultura, não podemos deduzir que as sociedades primitivas possuem a civilização, ou a perfeição das instituições que exprime com clareza os valores fundamentais da existência.
1.2 - O conceito de cultura através da história
Cultura: Um Conceito Antropológico
Desde a antiguidade, tem-se tentado explicar as diferenças de comportamento entre os homens, a partir das diversidades genéticas ou geográficas.
As características biológicas não são determinantes das diferenças culturais: por exemplo, se uma criança brasileira for criada na França, ela crescerá como uma francesa, aprendendo a língua, os hábitos, crenças e valores dos franceses.
Podemos citar, ainda, o fato de que muitas atividades que são atribuídas às mulheres numa cultura são responsabilidade dos homens em outra.
O ambiente físico também não explica a diversidade cultural. Por exemplo, os lapões e os esquimós vivem em ambientes muito semelhantes – os lapões habitam o norte da Europa e os esquimós o norte da América. Era de se esperar que eles tivessem comportamentos semelhantes, mas seus estilos de vida são bem diferentes. Os esquimós constroem os iglus amontoando blocos de gelo num formato de colmeia e forram a casa por dentro com peles de animais. Com a ajuda do fogo, eles conseguem manter o interior da casa aquecido. Quando quer se mudar, o esquimó abandona a casa levando apenas suas coisas e constrói um novo iglu.
Outro exemplo são as tribos de índios que habitam uma mesma área florestal e têm modos de vida bem diferentes: algumas são amigáveis, enquanto outras são ferozes; algumas se alimentam de vegetais e sementes, outras caçam; têm rituais diferentes; etc.
O comportamento dos indivíduos depende de um aprendizado, de um processo chamado endoculturação ou socialização. Pessoas de raças ou sexos diferentes têm comportamentos diferentes não em função de transmissão genética ou do ambiente em que vivem, mas por terem recebido uma educação diferenciada.
Assim, podemos concluir que é a cultura que determina a diferença de comportamento entre os homens. O homem age de acordo com os seus padrões culturais, ele é resultado do meio em que foi socializado.
Para Edward Tylor, 1871: Cultura é o todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem enquanto membro de uma sociedade.
Tylor foi o primeiro a formular o conceito de cultura do ponto de vista antropológico da forma como é utilizado atualmente. Na verdade, ele formalizou uma idéia que vinha crescendo desde o iluminismo. John Locke, em 1690, afirmou que a mente humana era uma caixa vazia no nascimento, dotada de capacidade ilimitada de obter conhecimento, através do que hoje chamamos de endoculturação, Tylor enfatizou a idéia do aprendizado na sua definição de cultura.
O homem é um ser predominantemente cultural. Graças à cultura, ele superou suas limitações orgânicas. O homem conseguiu sobreviver através dos tempos com um equipamento biológico relativamente simples.
Um esquimó que deseje morar num país tropical adapta-se rapidamente, ele substitui seu iglu e seus grossos casacos por um apartamento refrigerado e roupas leves – enquanto o urso polar não pode adaptar-se fora de seu ambiente.
A cultura é o meio de adaptação do homem aos diferentes ambientes. Ao invés de adaptar o seu equipamento biológico, como os animais, o homem utiliza equipamentos extraorgânicos. Por exemplo, a baleia perdeu os membros e os pelos e adquiriu nadadeiras para se adaptar ao ambiente marítimo. Enquanto a baleia teve que transformar-se ela mesma num barco, o homem utiliza um equipamento exterior ao corpo para navegar.
A cultura é um processo acumulativo. O homem recebe conhecimentos e experiências acumulados ao longo das gerações que o antecederam e, se estas informações forem adequada e criativamente manipuladas, permitirão inovações e invenções. Assim, estas não são o resultado da ação isolada de um gênio, mas o esforço de toda uma comunidade.
Não existe um consenso, na antropologia moderna, sobre o conceito de cultura. Roger Keesing, antropólogo, em seu artigo "Theories of Culture" (1974), define cultura de acordo com duas correntes:
• As teorias que consideram a cultura como um sistema adaptativo: culturas são padrões de comportamento socialmente transmitidos que servem para adaptar as comunidades humanas ao seu modo de vida (tecnologias, modo de organização econômica, padrões de agrupamento social, organizaçãopolítica, crenças, práticas religiosas, etc.) 
• As teorias idealistas da cultura são divididas em três abordagens: 
• A primeira considera cultura como sistema cognitivo: cultura é um sistema de conhecimento, "consiste de tudo aquilo que alguém tem de conhecer ou acreditar para operar de maneira aceitável dentro da sociedade" 
• A segunda abordagem considera cultura como sistemas estruturais: define cultura como “um sistema simbólico que é a criação acumulativa da mente humana”. O seu trabalho tem sido o de descobrir na estruturação dos domínios culturais – mito, arte, parentesco e linguagem – os princípios da mente que geram essas elaborações culturais. 
• A terceira abordagem considera cultura como sistemas simbólicos: cultura é um sistema de símbolos e significados partilhados pelos membros dessa cultura que compreende regras sobre relações e modos de comportamento.
A cultura é uma lente através da qual o homem vê o mundo - pessoas de culturas diferentes usam lentes diferentes e, portanto, têm visões distintas das coisas.
O fato de que o homem vê o mundo através de sua cultura tem como consequência a propensão em considerar o seu modo de vida como o mais correto e o mais natural (isso é denominado etnocentrismo), depreciando o comportamento daqueles que agem fora dos padrões de sua comunidade – discriminando o comportamento desviante. Comportamentos etnocêntricos resultam em apreciações negativas dos padrões culturais de povos diferentes, práticas de outros sistemas culturais são vistas como absurdas.
O etnocentrismo é um comportamento universal. É comum a crença de que a própria sociedade é o centro da humanidade. A reação oposta ao etnocentrismo é a apatia. Em lugar da superestima dos valores de sua própria sociedade, num momento de crise os indivíduos abandonam a crença naquela cultura e perdem a motivação que os mantém unidos.
Embora nenhum indivíduo conheça totalmente o seu sistema cultural, é necessário que o indivíduo tenha um mínimo de conhecimento da sua cultura para conviver com os outros membros da sociedade. Nenhum indivíduo é perfeitamente socializado. São estes espaços que permitem a mudança.
Qualquer sistema cultural está num contínuo processo de mudança. Existem dois tipos de mudança cultural: interna, resulta da dinâmica do próprio sistema cultural. Esta mudança é lenta; porém, o ritmo pode ser alterado por eventos históricos, como catástrofe ou uma grande inovação tecnológica. A mudança externa é resultado do contato de um sistema cultural com outro. Esta mudança é mais rápida e brusca. O tempo é um elemento importante na análise de uma cultura. Assim, da mesma forma que é importante para a humanidade a compreensão das diferenças entre os povos de culturas diferentes, é necessário entender as diferenças que ocorrem dentro do mesmo sistema.
- Abordagem Antropológica
A existência humana é marcada pela cultura e é ela a própria fundamentação da humanidade. Cultura é criação/ aprendizagem/ criação. É modificada, enriquecida, num processo constante, consciente e inconsciente, por acaso e por necessidade. Por isso a cultura marca, registra e pauta as condutas humanas. O ser humano é muito pouco programado.
- A Antropologia e Suas Teorias Acerca Das Culturas
Com o avanço da colonização e a partir das viagens do século XVIII, os europeus passaram a manter contato com outros povos e a incluí-los na reflexão sobre a evolução da humanidade. Várias maneiras de interpretar a evolução humana surgiram; dentre elas, as versões monogenista e poligenista. A monogenia, seguindo a idéia de "perfectibilidade" defendida por Rousseau, considerava a evolução da humanidade um gradiente que ia desde o estágio menos avançado (primitivo) ao mais avançado (civilização). As dissimilitudes entre os entre os homens eram consideradas provas dos diferentes estágios pelos quais passavam no seu processo evolutivo. Essa forma de interpretação foi adotada pelos etnólogos na reconstrução do passado dos povos "primitivos". A poligenia considerava que os diferentes centros de criação explicavam as diferenças físicas e morais entre os homens. Os poligenistas acreditavam que mesmo que tivessem ancestrais comuns, os homens diferenciaram-se tanto num dado momento que não restou a possibilidade de cruzamento sem que dele resultasse degeneração.
A partir da obra de Darwin, A origem das espécies, publicada em 1859, vários ramos do conhecimento passaram a adotar uma perspectiva evolucionista: a linguística, a pedagogia, a sociologia, a filosofia, a política. Na política, o imperialismo europeu se valeu da idéia de sobrevivência dos mais aptos para justificar o avanço do colonizador. Uma teoria sobre as raças foi sistematizada a partir do darwinismo social, preconizado por Herbert Spencer. Essa teoria estabelecia um paralelo comparativo entre as diferenciações entre os homens e as diferenças que existem entre os animais - o asno e o cavalo, por exemplo - e rejeitava a idéia de livre arbítrio do homem, pois que ele estaria fadado a receber características étnico-culturais do meio ao qual pertenciam e condenava a miscigenação, valorizando os "tipos puros" considerava a miscigenação. Essa teoria surgiu dos poligenistas e veio a legitimar o domínio de um grupo étnico sobre outro. 
Nesse contexto, surge a Antropologia, que teve o evolucionismo como princípio orientador. Dividindo a evolução em estágios, os etnólogos abandonaram o uso convencional do tempo e utilizou-se de etapas construídas logicamente para referenciar o homem. Na escala evolutiva. Morgan, em sua obra Ancient Society, descreve três estágios que seriam aplicáveis na explicação da escala de evolução humana: selvageria, barbárie e civilização.
O estudo das sociedades "primitivas" era feito tendo por base documentos escritos, onde havia o relato dos costumes, mitos, objetos utilizados pelos "selvagens" etc. Através da utilização do método comparativo, os antropólogos analisaram essas sociedades, guiados pela idéia de progresso. Esse método recebeu vários ataques, sendo Franz Boas o seu principal crítico. Uma das críticas dizia respeito ao fato de os elementos culturais serem analisados fora do seu contexto: a partir de uma parcela mínima da cultura inferia-se sobre a totalidade.
Dessa breve digressão, podemos concluir que, apesar de não podermos considerar os usos advindos dos estudos antropológicos da época como os mais "honestos", sem dúvida nenhuma foi um grande avanço o abandono da análise dos dados coletados por viajantes e a adoção da pesquisa de campo como meio de investigação. Da mesma forma, pode ser considerado um passo significativo o abandono da utilização da perspectiva evolucionista na análise dos povos não europeus, bem como das suas explicações psicológicas e intelectualistas. Porém, o surgimento da corrente funcionalista na Antropologia - da qual Malinowski foi o precursor - trouxe consigo certa dose de determinismo, ao considerar o processo de colonização como dado, como algo inevitável. A necessidade do estudo dessas sociedades era justificada pelo avanço do imperialismo europeu sobre os povos "primitivos" e as comparações feitas entre essas sociedades e a sociedade da qual fazia parte o pesquisador não se preocupavam em situá-las mecanicamente numa escala evolutiva. Os povos estudados eram focalizados em situação, ou seja, seu processo de autoconstrução era avaliado a partir da contextualização dos fenômenos culturais.
Bronislaw Malinowski, tocado pelo "nojo à civilização", dedicou-se ao estudo das sociedades "primitivas" imbuído do objetivo de "apreender o ponto de vista do nativo, sua relação com a vida, compreender a sua visão de mundo." Malinowski procedeu a explicação do todo social a partir da construção de unidades significativas de análise, que seriam compostas por elementos representativos do todo e, assim, ulteriormente, encadeadas na análise. A essas unidades ele chamou isolats, e utilizou as instituições como objeto de análise. Para ele, as necessidades biológicas (primárias), determinavam a existência de outrasnecessidades: as necessidades culturais (secundárias). A cultura seria o aparato instrumental que inicialmente estaria ligado à satisfação das necessidades biológicas, e na medida em que houvesse o desenvolvimento, o crescimento da população e a diferenciação estrutural, ela passaria a constituir-se num meio próprio. Os padrões culturais determinariam o surgimento do estatuto, que é o liame entre as intuições. No processo de análise da realidade, Malinowski vê como fundamentais três procedimentos metodológico: a observação de todos os costumes dos nativos, a apreensão das narrativas orais e a utilização do método estatístico. Para ele, através da observação do comportamento dos nativos seria captados os "imponderáveis da vida real" - os elementos não abarcados pela análise estatística e que são "a carne e o sangue" do arcabouço teórico da pesquisa.
A antropologia de Malinowski dava maior visibilidade aos sujeitos integrantes da cultura em estudo, como forma de garantir a legitimidade científica da investigação. O abandono de pré-noções, para ele seria fundamental: "Conhecer bem a teoria científica e estar a par de suas últimas descobertas não significa estar sobrecarregado de ideias preconcebidas. Se um homem parte numa expedição decidida a provar certas hipóteses e é incapaz de mudar seus pontos de vista constantemente, abandonando-os sem hesitar ante a pressão da evidência, sem dúvida seu trabalho será inútil”.
Radcliffe-Brown, também funcionalista, propunha a combinação das tarefas de pesquisa de campo e de gabinete. Ele apontava a necessidade de estudos comparativos sistemáticos para que a Antropologia não se tornasse mera etnografia. O método indutivo, proposto também por ele, possibilitaria o estabelecimento de regularidades e leis gerais. Ele enfatiza o aspecto funcional de costumes como o rapto da noiva, hostilidade inter-grupal, entre outros, baseando-os na idéia de oposição que fundaria sociedades divididas em metades exogâmicas. Radcliffe-Brown chegou à explicação histórica de cada uma dessas sociedades em particular e, consequentemente, ao problema do totemismo e da natureza e funcionamento das relações e estruturas sociais baseadas em "oposição", que são fenômenos gerais. Dessa forma, ele articulou os métodos histórico e comparativo (aliás, numa articulação que ele propunha aos estudos antropológicos em geral), considerando, entretanto, que o método histórico seria específico da Etnologia e o método comparativo mais afeito à Antropologia Social.
Radcliffe-Brown, que também considerava de suma importância a pesquisa de campo, rejeitava o uso do conceito de cultura em sua análise, pois considerava-o desprovido do caráter empírico necessário à análise social. A abstração que o termo sugere seria substituída pela realidade empírica das estruturas sociais, que eram o seu objeto de estudo. Para ele, o indivíduo adquire relevância analítica quando inserido nessa rede de relações, desempenhando os seus diversos papéis. Aliado a esse conjunto de relações que se dão entre os indivíduos, está o conceito de forma estrutural. Para Radcliffe-Brown, a forma estrutural seria o padrão das relações que ocorrem na estrutura, tendo como maior característica a constância do mesmo. Ele não nega mudanças na forma estrutural, porém, admite que elas ocorrem de uma maneira mais lenta. A totalidade fica assim melhor explicada na teoria de Radcliffe-Brown, pois possibilita a visualização da mesma através dos conceitos de estrutura e forma estrutural. Com a idéia de coerência funcional, ele exprime a necessidade de que os elementos estejam interligados por uma mutualidade de relações que, se não forem observadas, levam ao surgimento de conflitos.
Vê-se que o funcionalismo possibilitou o diálogo entre pesquisador e pesquisado a partir da adoção de uma postura flexível e menos dogmática perante o seu objeto de estudo, porém, nota-se que a utilização do relativismo como princípio orientador proporcionava um certo distanciamento e faz com que o investigador, ao abordar o "nativo", estabeleça uma relação na qual o entrevistado realiza o papel de mero informante, sem que haja uma troca de experiências visando ao conhecimento e questionamento culturais mútuos. Esse procedimento decorre do fato de que para os relativistas, as culturas são válidas em si mesmas, consequentemente, não há porque questionar as normas e valores nela imbricados. A postura do investigador que utiliza-se do relativismo é a de um mero coletor de informações. O relativismo, a partir da sua proposta de validade das práticas inerentes às varias culturas, inspirada no alemão Herder, não dá margem a uma interação subjetiva efetiva entre os envolvidos na relação e não possibilita a disseminação de valores universais como a liberdade e a igualdade.
- Cultura: Um Conceito Antropológico
Pretende-se aqui delinear a evolução do conceito de cultura, pinçando ideias defendidas no passado tais como, o determinismo biológico, geográfico, antecedentes históricos do conceito de cultura, mostrando a conciliação da unidade biológica e da grande diversidade cultural da espécie humana. O desenvolvimento do conceito de cultura, ideias sobre a origem da cultura e teorias modernas sobre cultura organizacional e, fatores que compõem a cultura brasileira. Porém, ressalta-se que não se pretende esgotar a discussão nesta apresentação, pois a natureza e a amplitude do tema não permite findar esta discussão devido às perspectivas multidisciplinares e das diversas abordagens em que se pode visualizar o emprego e a intersecção do estudo da cultura, tais como a semiótica e a hermenêutica.
- Origem da cultura e antecedentes históricos do conceito de cultura 
O termo cultura segundo o Novo Dicionário da língua portuguesa significa “ato, efeito ou modo de cultivar. Complexo dos padrões de comportamento, das crenças, das instituições e de outros valores espirituais e materiais transmitidos coletivamente e característica de uma sociedade" (p.508). Porém no final do século XVIII e no princípio do século XIX, o termo germânico Kultur era utilizado para simbolizar todos os aspectos espirituais de uma comunidade, enquanto a palavra francesa Civilization referia-se principalmente às realizações materiais de um povo. Mais tarde Edward Tylor (1832-1917) sintetizou os dois termos no vocábulo inglês Culture, que "tomado em seu amplo sentido etnográfico é este todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade".
- Desenvolvimento do Conceito de Cultura 
O determinismo biológico, bem como o geográfico são ideias que no passado foram consideradas relevantes para conceituar cultura. Com o passar do tempo diversas investigações foram realizadas e chegou-se a conclusão de que estas teorias, apesar de terem sido importantes para o entendimento de algumas dimensões da natureza humana, apresentando limitações e inconsistência para o entendimento do conceito de cultura. Aí então, inaugura-se uma nova fase de estudos e interpretação de culturas. 
A comunicação é um instrumento decisivo para a assimilação da cultura, pois a experiência de um indivíduo é transmitida aos demais, criando assim um interminável processo de acumulação permeado por valores cristalizados, o que nos leva a afirmar que a linguagem humana é um produto da cultura. Daí a necessidade de identificar as determinadas formas de comunicação que atinja todas as pessoas da organização quando da transmissão de uma mensagem. 
Comportamentos compartilhados são componentes da cultura o que nos leva inclusive a afirmar que, teorias behavioristas (Watson - condicionamento), Cognitivista (Piaget-psicogenética) quando aplicadas, mesmo que inconscientemente por um grupo de pessoas determinam algumas características culturais em relação ao padrão de comportamento. Normas impostas por organizações determinam padrões de comportamento, marcando de forma indelével a cultura organizacional. Portanto, pode-se afirmar quediferenças culturais não são genéticas e sim adquiridas no decorrer do tempo. 
"Possuidor de um tesouro de signos que tem a faculdade de multiplicar infinitamente, o homem é capaz de assegurar a retenção de suas ideias (...), comunicá-las para outros homens e transmiti-las para os seus descendentes como herança sempre crescente."
De acordo com Kluckhohn apud Geertz (1989: 14) cultura pode ser vista como: “...o modo de vida global de um povo; 2) legado social que o indivíduo adquire do seu grupo; 3) uma forma de pensar, sentir e acreditar; 4) uma abstração do comportamento; 5)Uma teoria, elaborada pelo antropólogo, sobre a forma pela qual o grupo de pessoa se comporta realmente; 6) um celeiro de aprendizagem em comum; 7) um conjunto de orientações padronizadas para os problemas recorrentes; 8) comportamento aprendido; 9) um mecanismo para regulamentação normativa do comportamento; 10) um conjunto de técnicas para se ajustar tanto ao ambiente externo como em relação aos outros homens; 11) um precipitado da história.”
Ao correlacionar o conceito de cultura apresentado por Kluckhohn com a "praxis" organizacional, emerge daí padrões de comportamento (normas), processo de adaptação (símbolos e signos), tecnologia e componentes ideológicos (religião, mitos, cerimônias), ou seja, valores compartilhados pelos membros da organização, resultado do processo de individuação, isto é, de atitudes individuais que ao mesmo tempo que interfere no comportamento do grupo, interfere na atitude individual de cada membro da organização, resultando numa configuração impar de cultura organizacional.
- Teorias Modernas Sobre Cultura 
A utilização da antropologia para a análise organizacional deve-se ao fato de que esta área do conhecimento consegue abranger as dimensões da linguagem, do simbolismo, do espaço, do tempo e da cognição. A abordagem antropológica intensificou-se na década de 80, inclusive gerando críticas pelo uso acrítico, explicando tudo e qualquer coisa através do conceito de cultura.
Porém, para seus defensores o grande mérito desses estudos foi justamente chamar a atenção para a dimensão simbólica que permeia a organização e os seus grupos. A necessidade de encontrar os significados das relações entre os elementos da cultura de uma organização e que dão sentido ao quotidiano das mesmas justifica o apelo ao estruturalismo, do qual Geertz (1989) é um dos representantes. 
Para Geertz (1989: 15) o conceito de cultura é essencialmente semiótico, que vem de encontro com o pensamento de Max Weber "que o homem é um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu". Geertz concebe a cultura como uma "teia de significados" que o homem tece ao seu redor e que o amarra. Busca-se apreender os seus significados (sua densidade simbólica). 
Um dos métodos utilizados para entender a cultura é a descrição etnográfica que se baseia nas palavras dos informantes e o pesquisador interpreta-a e compartilha os significados juntamente com seus informantes, ou seja, aqueles que na verdade possuem o roteiro simbólico do que concebem e articulam logicamente entre suas visões de mundo. O respeito rigoroso à visão que os nativos têm sobre os aspectos analisados (sobre si mesmo, seus conhecimentos e práticas cotidianas, sua concepção do mundo) é fundamental. 
Ao se analisar a cultura organizacional sob a ótica antropológica, faz-se necessário interpretar e decodificar a visão de mundo subjacente ao sistema de gestão utilizado e praticados pelas organizações. Pois a prática etnográfica estabelece relações e sendo assim é dialógica, ou seja, é uma via de mão dupla, na qual o mesmo objeto ou fato deve ser visto e sentido do mesmo modo, o que requer uma descrição densa do que se está diagnosticando, que segundo Goodenough apud Geertz (1989: 21) "a cultura (está localizada) na mente e no coração dos homens". 
As categorias apresentadas por Schein vêm sendo largamente utilizadas nas investigações sobre cultura organizacional, inclusive se tem chegado a algumas conclusões tais como: a importância do papel dos fundadores da organização no processo de moldar seus padrões culturais, que imprime sua visão de mundo aos demais membros da organização e, também sua visão do papel que a organização deve desempenhar no mundo. 
Dentre os estudiosos da atualidade encontra-se Fleury, que apresenta o seguinte conceito de cultura organizacional: “Cultura organizacional é um conjunto de valores e pressupostos básicos, expressos em elementos simbólicos que, em sua capacidade de ordenar, atribuir significações, construir a identidade organizacional, tanto agem como elementos de comunicação e consenso, como ocultam e instrumentalizam as relações de dominação.” (Fleury, 1991: 06).
- Uma Visão Antropológica 
Para Beyer & Trice (1986), o rito se configura como uma categoria analítica privilegiada para desvendar a cultura das organizações, que é composta por redes de concepções, normas e valores, que são tão tomados por certos que permanecem submersas à vida organizacional. Para Horton & Hunt (apud Fleury, 1989), a cultura é tudo aquilo que é apreendido e partilhado pelos membros de uma sociedade. Esse conceito utiliza-se do método funcional, ou seja, a sociedade sofreu segmentação causada pela divisão de trabalho. Para Hofstede (apud Fleury, 1989), a cultura se baseia em modelo de pensamento que se transfere de pessoa para pessoa. Apesar de esses pensamentos situarem-se na mente das pessoas, ficam cristalizados nas instituições e nos produtos tangíveis de uma sociedade.
Já para Horton & Hunt (1980), a cultura é tudo aquilo que é socialmente apreendida e partilhada pelos membros de uma sociedade. Desta forma, conclui-se que a antropologia funcional explica a gênese da cultura de uma sociedade e que as subculturas nasceram dentro deste mesmo processo funcional, pelo motivo de a sociedade ter sofrido segmentação causada pela divisão de trabalho e ainda que cultura é adequada por surgir uma necessidade a ser satisfeita, e se manteve porque se provou ser conveniente para um fim colimado.
Lakatos (1979) define que a cultura é um modelador de comportamento e está presente em qualquer agrupamento de pessoas com características próprias a cada um deles. Malinowski (1965) afirma que a cultura não é estática e que acompanha as modificações da sociedade; desta forma conclui-se que a organização formal é dinâmica e assim se transforma de acordo com as interações sociais.
2. A CULTURA
2.1 - A Antropologia e o estudo da cultura - senso comum e ciência; a diversidade cultural e as culturas nacionais. 
Cultura
A palavra cultura tem um conceito bastante complexo em uma visão antropológica, podemos definir como a rede de significado que dão sentido ao mundo que cerca um indivíduo, ou seja, a sociedade. Uma rede que engloba um conjunto de diversos aspectos como crenças, valores, costumes, leis, moral, língua etc.. 
Já a diversidade cultural engloba as diferenças culturais que existe entre as pessoas, com linguagem, dança vestimentas e tradições bem a sociedade como a forma como as sociedades organizam-se conforme sua concepção de moral e religião a forma como eles interagem como ambiente etc. Diversidade é um tremo que diz respeito à variedade e convivência de ideais característica ou elementos diferentes entre si, em determinado assunto ou ambiente, cultura (do latim cultura, cultivar solo, cuidar), é um termo com várias acepções em diferentes níveis de profundidades e diferentes especificidades.
São práticas e ações sócias que seguem em padrão determinado no espaço/tempo. Referem-se à crença, comportamento valores, instituições e regras, morais que permeiam e preenchem a sociedade explica e da sentido a cosmologia social é a identidade própria de um grupo humano em um determinado período.
Diversidade Cultural
No campo das antropologias não biológicas (etnologia; antropologia social e cultural), há uma diversidade de abordagens. A noção de cultura é básica para se compreender os movimentos pelos quais passou esta disciplina, inicialmenteparte da Antropologia (geral, sem distinções) do início do século XIX, e que pretendia abordar todos os aspectos das questões acerca da diversidade humana. O mesmo debate que, na Antropologia Física (biológica) substitui o conceito de Raça pelo de População, desde meados do século XIX até meados do Século XX,  ocorreram no âmbito da Antropologia de cunho mais social, em que a diversidade humana transitou pelos conceitos de Raça; Etnia e Cultura. E se confunde com a própria história da disciplina. 
Por influência do darwinismo, no início da antropologia social, o projeto de dar conta da diversidade cultural levou naturalistas e historiadores a debruçarem-se sobre os relatos de viajantes; exploradores e administradores coloniais que falavam sobre “as exoticidades das sociedades “inferiores”; incivilizadas; simples, em relação a uma visão industrial da técnica; e, finalmente, primitivas, por serem mais remanescentes de formas antigas, primeiras, da evolução das sociedades humanas.
O relativo isolamento geográfico destas sociedades e povos contribuiu para esta visão. Assim, a Antropologia Social, partindo de questões evolucionistas importantes para os estudiosos do século XIX, ficou vista como “ciência das sociedades primitivas”. Mas com a persistência destas sociedades sem resistirem até a atualidade de forma bastante diferente da tradição europeia, colocou um problema crucial para esta visão evolucionista e etnocêntrica da diversidade humana. 
Este fato motivou variações ao longo da história da disciplina e de seus conceitos. Os antropólogos voltaram-se, a partir dos próprios resultados das pesquisas nestes povos com “culturas diferenciadas”, para subgrupos ou sub-culturas no interior das sociedades “complexas”: os estudos de “comunidades camponesas” de Redford; os estudos voltados para grupos marginalizados nas regiões urbanas até, finalmente, estudos voltados para grupos pertencentes às classes populares e altas da sociedade moderna, culminaram por desembocar em uma análise crítica da visão de mundo ocidental moderna e da globalização, inclusive a da própria cultura científica nas áreas médicas e da saúde pública.
Voltando ao conceito de cultura, algumas das principais correntes teóricas que influenciaramvariações do mesmo são: o evolucionismo e suas influências no difusionismo e na sociologia francesa de Durkheim e Mauss; o marxismo e a sociologia de Marx Weber; e o estruturalismo de Lévi-Strauss. O funcionalismo inglês e as vertentes culturalistas americanas também se inserem neste campo. Tylor e Boas foram os que mais enfatizaram o adjetivo cultural ligado à antropologia, em um movimento iniciado na Inglaterra, em início do século XIX, e nos Estados Unidos. Mas na França, com a Sociologia de Comitê bem solidificada enquanto disciplina independente das demais Ciências Humanas, Durkheim; Mauss e Lévi-Strauss são autores importantes que vinculam a Antropologia Social à Sociologia, como uma sub-disciplina desta última. A noção de cultura é o cerne de uma antropologia que separava o determinismo biológico “racial” das manifestações de comportamento aprendidas pelos indivíduos de uma sociedade após o nascimento. Estes aspectos eram considerados então como de ordem “ambiental” no debate das relações entre Raça e Cultura. Para uma revisão dos diversos conceitos de cultura e de antropologia, até à metade do século XX, com suas teorias subjacentes. 
Cultura é (...) “conhecimentos; crenças; artes; moral; leis; costume e quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem como membro da sociedade”. “Como comenta Mair, esta é mais uma lista de itens do que uma definição ou uma teoria que descreva e explique a diversidade humana”. Boas, na América, interessou-se pelas “artes e técnicas”. Na prática, o estudo da cultura refere-se a costumes; maneiras e técnicas tradicionais específicas de uma sociedade. Esta vertente culturalista da Antropologia considerava-se mais próxima da Antropologia Física; da Linguística; e da Arqueologia. Sua ênfase maior era em descrever e entender a diversidade humana. 
Já a outra vertente citada, incluindo o funcionalismo institucional de Malinowiski e o funcionalismo-estrutural de Radcliffe-Brown, considerando-se mais próximo das Ciências Sociais, detiveram-se mais, através do método comparativo, no desenvolvimento teórico de generalizações sobre todos os tipos de sociedades humanas. Malinowiski, também considerado o “pai do trabalho de campo”, o método privilegiado de estudos etnológicos, enfatizava que os estudiosos deveriam descrever todos os aspectos vinculados numa dada sociedade ao complexo, por exemplo, da função alimentar: técnicas agrícolas; formas de distribuição dos alimentos entre grupos e indivíduos; instituições de trocas (comércio ou circulação de bens); etc. Malinowiski via a sociedade através de uma metáfora anatômica em que na morfologia das sociedades, as instituições cumpriam as mesmas funções que os órgãos e sistemas do corpo humano. 
A metáfora mecânica de estrutura e funcionamento também influenciou as teorias sobre as sociedades humanas, como no funcionalismo, em que, porém, a metáfora fisiológica predominava. A noção de sistema dinâmico é parte desta influência. É necessário, não obstante, as diferenças atribuídas ao conceito de “estrutura”. Apesar de utilizado por Malinowiski; Radcliffe-Brown; Evans-Pritchard; e outros foram com Lévi-Strauss que este conceito, influenciado pelas teorias da linguística, tornaram-se mais abstratos e ligados a questões mais sociais que a metáforas tomadas de disciplinas como a biologia e a mecânica. Lévi-Strauss critica e sintetiza a definição de cultura mais utilizada: “hábitos; atitudes; comportamentos; maneiras próprias de agir sentir e pensar de um povo” e enfatiza a “estrutura sub-consciente de pensamento”. Para o estruturalismo de Lévi-Strauss, a diversidade humana não é importante, e sim a similaridade humana de pensamento. Nesta teoria, o conceito de cultura ganha um sentido residual. “Residual, porém irredutível”, como coloca Carneiro da Cunha (1986), em que a identidade de grupo éfundamental na construção da Pessoa Humana. Para o a antropologia atual, cultura é um sistema simbólico (Geertz, 1973), característica fundamental e comum  da humanidade de atribuir, de forma sistemática; racional e estruturada, significados e sentidos “às coisas do mundo”.
Observar; separar; pensar e classificar; atribuindo uma ordem totalizadora ao mundo, é fundamental para se compreender o conceito de cultura atualmente definido como “sistema simbólico”, e sua diversidade nas sociedades humanas, mesmo neste período atual de modernidade tardia.
Valores e diversidade Cultural
Os valores são caracterizados por ideais, entidades abstratas que definem personalidades, autênticos guias de ação orientadores de escolhas e ações. Pertencendo ao domínio do ideal, são, portanto possíveis e preferíveis, pois agir humanamente é agir em função de valores. Vivemos numa sociedade diversificada, onde estão inseridas diversas culturas. Essas sociedades que deram origem, cada uma a sua maneira, a formação de valores nos indivíduos que acompanham.
Os valores apenas nos permitirão romper com a indiferença se forem universalmente partilhados. O que geralmente acontece é que de tão empenhados em negar as coisas comuns entre culturas e de tão enraizados em preconceitos e ideias pré-concebidas, ignoramos e esquecemos o fato de a diversidade cultural, independentemente dos valores em que assenta, permite ao homem mudar sua maneira de pensar, aumentar o conhecimento, sua cultura geral, viajar, fazer intercâmbios. Existem também sociedades que, elevam os seus valores, e se colocam no direito de definirem uma sociedade como atrasada. Isso é errado porque cada cultura pratica tradições, rituais, tudo conforme os seus valores, onde o fato de possuírem valores diferentes, não significa que seja uma sociedade atrasada. 
Antes de criticar essas diferentes culturas, é preciso primeiro entender que todos os valores têm direito à existência. Umagrande dificuldade é reconhecê-los como tradutores de diferenças e que nos têm feito rejeitar outras culturas e cidadãos. Na verdade, somos todos diferentes porque estamos inseridos num determinado meio social onde nos foram onde adquirimos certos valores, por outro lado, todos temos direitos iguais de dignidade, igualdade e liberdade humana, que nos permitem defender aquilo em que acreditamos. Para acabar com a indiferença, seria necessário criar valores que fossem partilhados por outras culturas. Mas isto é muito difícil, porque existem mesmo culturas tradicionalistas que não aceitam reger-se por outro tipo de “normas”, nem lhes estarem sujeitos. Deparamo-nos com diversas atitudes que colidem com a maneira de tentar criar uma atitude de recepção e integração de novas raças, fazendo mesmo uma aculturação, ou seja, um grupo de indivíduos duma cultura definida entra em contacto com uma cultura diferente a fim de reduzir a inferiorização. 
Por exemplo, o etnocentrismo é uma prática de visionar outras culturas a partir da sua, considerando a sua etnia o centro e todas as outras inferiores. Isso é grave porque leva à falta de compreensão e aceitação de que outras culturas possam ter padrões semelhantes e promove uma harmonia exagerada em torno da sua própria etnia, desprezando as outras e não fazendo prevalecer o mínimo de consciência ética. Então, é importante frisar que esta atitude leva aos indivíduos correrem diversos riscos, como o racismo. Um exemplo foi Alemanha Nazista, onde a xenofobia era predominante além de um patriotismo exagerado. Isso nos permite afirmar que o conceito de raça é imensamente baseado em convenções sociais, do que propriamente em políticas, uma vez que no mundo, é esquecido que existe apenas uma raça: a raça humana.
Tentando combater algumas divergências, a melhor forma de elevar a importância dos valores é demonstrando-os perante outras culturas e não adquirindo posições como o relativismo cultural. Este tipo de atitude aceita que o mundo esteja construído sobre uma pluralidade de etnias que se comportam de acordo com os seus próprios valores, mas não permite a interação com outras culturas, fechando-se cada uma em si. Dessa forma, seria impossível que os valores rompessem com as indiferenças porque não promove o diálogo entre as culturas, leva ao isolamento e à sua estagnação, tornando-se cada cultura tradicionalista, conformista e não aberta à inovação. A partir desse contexto, todas as nossas ações seriam fruto das ideias dominantes da sociedade. Assim sendo, o melhor meio de acabar com as divergências será tomar parte da perspectivado futuro, embora ainda seja muito remota: o multiculturalismo. Ao adotarmos a posição de multiculturalistas, estamos promovendo um sentimento de união para a criação de objetivos universalmente partilhados, aceitando a pluralidade de culturas e as diferenças existentes e, integrando mesmo essa diversidade como um fator de riqueza ecomplexidade de que o mundo é formado. 
A partir do multiculturalismo é possível promover diálogos interculturais, protegendo os direitos humanos e colaborando na procura de respostas a problemas mundiais, de ordem social e cultural. A ideia de os valores universais adquirirem um papel dominante sobre a diversidade cultural faz acreditar na possibilidade de as minorias étnicas se verem reconhecidas. Felizmente, importa considerar que já existem pessoas e projetos que se dedicam a estes tipos de ações, e que acreditam firmemente na unidade e respeito entre os povos, como Tratados de Paz, ações humanitárias e voluntariado.
2.2 - As principais características da cultura como visão de mundo: herança cultural e formas de compreender o mundo, a participação dos indivíduos na cultura.
Herança Cultural Negra e Racismo
A contribuição cultural de escravos-negros é enorme. Na religião, música, dança, alimentação, língua, temos a influência negra, apesar da repressão que sofreram as suas manifestações culturais mais cotidianas.
- Influência Religiosa
No campo religioso, a contribuição negra é inestimável, principalmente porque os africanos, ao invés de se isolarem, aprenderam a conviver com outros setores da sociedade. Favoreceu esta convivência, a mentalidade comum a ambos os grupos étnicos - brancos e negros -, de que a prática religiosa estava voltada para a satisfação de algum desejo material ou ideal. As promessas a santos, pagas com o sacrifício da missa, apresentavam semelhanças com os pedidos feitos aos deuses e espíritos africanos em troca de oferendas de diversos tipos.
Mas, nos primeiros séculos de sua existência no Brasil, os africanos não tiveram liberdade para praticar os seus cultos religiosos. No período colonial, a religião negra era vista como arte do Diabo; no Brasil-Império, como desordem pública e atentado contra a civilização. Assim, autoridades coloniais, imperiais e provinciais, senhores, padres e policiais se dividiram entre tolerar e reprimir a prática de seus cultos religiosos.
A tolerância com os batuques religiosos, entretanto, devia-se à conveniência política: era mantida mais como um antídoto à ameaça que a sua proibição representava, do que por aceitação das diferenças culturais. Outras manifestações culturais negras também foram alvo da repressão. Estão neste caso o samba, revira, capoeira, entrudo e lundú negros.
- O Racismo
Na sociedade brasileira do século XIX, havia um ambiente favorável ao preconceito racial, dificultando enormemente a integração do negro. De fato, no Brasil republicano predominava o ideal de uma sociedade civilizada, que tinha como modelo a cultura europeia, onde não havia a participação senão da raça branca. Este ideal, portanto, contribuía para a existência de um sentimento contrário aos negros, pardos, mestiços ou crioulos, sentimento este que se manifestava de várias formas: pela repressão às suas atividades culturais, pela restrição de acesso a certas profissões, as "profissões de branco" (profissionais liberais, por exemplo), também pela restrição de acesso a logradouros públicos, à moradia em áreas de brancos, à participação política, e muitas outras formas de rejeição ao negro. Contra o preconceito e em defesa dos direitos civis e políticos da população afro-brasileira surgiram jornais, como A Voz da Raça, O Clarim da Alvorada; clubes sociais negros e, em especial, a Frente Negra Brasileira, que tendo sido criada em 1931, foi fechada em 1937 pelo Estado Novo.
- O Samba e a Capoeira
Durante o período da revolução de 30, os próprios núcleos de cultura negra se movimentaram para ganhar espaço. A criação das escolas de samba no final dos anos vinte já representara um passo importante nessa direção. Elas, que durante a República Velha foram sistematicamente afastadas de participação do desfile oficial do carnaval carioca, dominado pelas grandes sociedades carnavalescas, terminaram sendo plenamente aceitas posteriormente.
No rastro do samba, a capoeira e as religiões afro-brasileiras também ganharam terreno. Antes considerada atividade de marginais, a capoeira seria alçada a autêntico esporte nacional, para o que muito contribuiu a atuação do baiano Mestre Bimba, criador da chamada capoeira regional. Tal como os sambistas alojaram o samba em "escolas", Bimba abrigaria a capoeira em "academias", que aos poucos passaram a ser frequentadas pelos filhos da classe média baiana, inclusive muitos estudantes universitários.
Formas de Compreender o Mundo
Cada pessoa tem sua opinião, seu modo de encarar situações, sua forma de compreender o mundo, seus valores e sua ética. O ser humano, através de sua política, religião e cultura, vão formando seu pensamento, de acordo com as informações que obtém ao longo de sua vida, por isso sua infância é essencial para a formação de seus valores. Tudo o que ele aprender na escola, com os pais ou com o ambiente que o rodeia vai influenciar seu pensamento e no que acredita.
Se pegarmos um adulto e uma criança e perguntarmos as definições de várias situações, objetos, pessoas e sonhos, obviamente que as respostasserão completamente diferentes, isso acontece porque a criança ainda está com o pensamento puro, ingênuo, porque ainda não foi completamente influenciada, enquanto que o adulto terá uma noção completamente diferente acerca de tudo, olhará o mundo de um jeito mais realista, e de tal forma, pessimista, talvez mais desanimado com o futuro. Agora, também vai da personalidade de cada um, acatar ou não as informações que recebemos. Temos o livre-arbítrio para decidirmos em tudo o que acreditamos. Claro, que hoje em dia, todos são completamente influenciados pelo mundo que o rodeia, através da mídia, e opiniões de pessoas supostamente “superiores”.
Por isso existem as religiões, que nada mais são que diversas tentativas de compreensão do mundo, como foi criado, porque motivos, qual a razão, esse tipo de duvidas costumam surgir em todos, a maioria das respostas está na metodologia de qualquer religião. Como por exemplo, quando surge a dúvida “porque tenho que fazer o bem?” a resposta é encontrada em muitas das religiões, como a católica, sobre o inferno e o céu e nossos possíveis futuros se decidirmos tomar o caminho “errado”.
Acontece também que se ao refletirmos sobre tudo, o que sabemos nós sobre o mundo? Parece que tudo o que sabemos são as informações que todos minimamente cultos sabem, agora surge a dúvida “Será que o que todos sabem é real?”. Afinal, nós aprendemos na escola o que os outros nos ensinam, mas como ter provas de que tudo o que nos ensinam é real? Afinal, podem estar só nos ensinando o que querem que aprendam.
Existem muitas formas de se compreender o mundo. Existem pessoas, que acham que estão no mundo para apenas tirar proveito da vida que Deus lhe deu, por isso vive a vida desejada, lutando para concretizar seus sonhos individuais. Existem outras pessoas também, que acreditam que estão no mundo, para fazer a diferença, para mudar algo que acredita estar errado no mundo em geral, e trabalham para concretizar seus desejos de um modo coletivo.
O mundo pode ser encarado de muitas formas, existe quem se conforme com as coisas do jeito que estão outros que se revoltam, algumas decidem lutar pelo que acham certo, outros não, alguns que olham o mundo imaginando como será seu futuro, existem outras que se prendem ao seu passado, e outras que apenas vivem o presente sem pensar em mais nada. Entre as muitas maneiras que o mundo pode ser compreendido, chegamos sempre às mesmas duvidas “o que fazer da minha vida? O que fazer nesse mundo?” como resolvê-las? Não existe o certo ou o errado nisso, simplesmente porque não existe prova de que nada é real, então só nos cabe escolher o que fazer de acordo com o que sabemos.
Os Indivíduos Participam Diferentemente De Sua Cultura
Notamos que a participação do indivíduo dentro da sua própria cultura é, e sempre será limitada, devido a algumas limitações impostas por seus próprios participantes como: sexo, idade e o limite entre as classes etárias.
Quando olhamos para as diferencias relacionadas a sexo dentro de uma determinada cultura, vemos que a própria sociedade e seus indivíduos estabelecem divisões, levando automaticamente a exclusão dos mesmos, vemos em algumas sociedades mulheres sendo privadas de exercer determinadas posições sob o pretexto de serem do sexo feminino. É justamente neste contexto, que surgem as participações diferenciadas dos indivíduos dentro da sua própria cultura.
É verdade que, quando observamos os parâmetros relacionados à idade como fonte de divisória dentro de uma determinada sociedade ou cultura, os efeitos são mais desastrosos, a idade tem se tornado um agente impulsionador para reger diferentes participações de indivíduos dentro de sua própria cultura, baseado neste contexto escreveu Marion Levy Jr. “nenhum sistema de socialização é idealmente perfeito”.
Outro fator que tem contribuído para as diferentes participações dos indivíduos dentro da sua própria cultura são os limites entre as classes etárias, como fazer para identificar os limites corretos entre um adolescente e um jovem? Nesta tentativa de separação de atividades entre adolescentes e jovens tem se criado diferentes participações dentro de sua própria cultura, como por exemplo: um jovem que alcançando a idade de dezoito anos o seu voto é obrigatório, porém o mesmo não pode exercer seus direitos de adulto, pois só aos vinte e um anos ele tem esse direito, este tipo de comportamento é justamente o que forma indivíduos com participações diferentes dentro da sua cultura. Estas divisões são impostas sem levar em consideração os efeitos contrários, criando barreiras que distanciam e excluem muitos indivíduos de sua própria cultura. 
3. A SOCIEDADE
3.1- As relações étnico-raciais – preconceito, exclusão e questões da convivência com a diversidade. Etnocentrismo e Relativismo Cultural.
Relações Étnico-Raciais No Brasil
Ao longo da História do Brasil, discriminação, racismo e preconceito sempre fizeram parte do cotidiano da vida da população afrodescendente, refletindo-se ainda mais na vida de mulheres, homens e crianças prodigiosamente desprestigiados social e economicamente, situação que, considerando mais de 500 anos de existência, pouco se alterou. Em 1854 o decreto nº 1.331 legitimou a não admissão de escravos nas escolas públicas, mais adiante, em 1878 o decreto nº 7.031-A determinou que os negros só poderiam estudar a noite e ainda assim, vários mecanismos foram desenvolvidos afim de, dificultar tal oportunidade de educação, se é que podemos chamar de oportunidade. Estabelecia-se, desde então, um divisor étnico-racial que se enraizou nos sistemas escolares e daí se dissipou para toda a sociedade brasileira. Muitos anos depois busca-se alterar este quadro, a partir do mesmo veículo- a Educação, mas, infelizmente, pode-se afirmar que o processo de desqualificação de um sistema tão arraigado de preconceitos e armado sobre os dormentes da segregação será uma luta difícil, longa e dolorosa.
Desde sempre a desqualificação de um em favor da afirmação de outro esteve presente nas relações étnico-raciais. A propósito, Borges (2002) afirma que ainda na Antiguidade Heródoto (século V a.C.) escrevia textos sobre os não gregos, chamando-os de bárbaros, baseando essa denominação na superioridade dos gregos e na inferioridade dos estrangeiros, determinando a superioridade de sua cultura como justificativa das relações de dominação política, militar, econômica e cultural a qual foram submetidos os povos estrangeiros conquistados pela Grécia. Já na Europa do século XV, a dominação de africanos foi justificada pela culpa do pecado original dos descendentes de Cam. Não por acaso, Borges (2002) ainda coloca que, pelo ideologismo português das raças infectas (índios, negros, judeus e mouros), a história da colonização brasileira é marcada pela diferença entre homens, moldada desde o início por concepções racistas de superioridade e inferioridade.
A discussão sobre a invenção e a intenção de raça foi abordada por Kenski (2003), fazendo citação ao botânico sueco Carolus Linnaeus que criou a humanidade Homo sapiens e a dividiu em quatro grupos: os vermelhos americanos, geniosos, despreocupados e livres; os amarelos asiáticos, severos e ambiciosos; os negros africanos, ardilosos e irrefletidos e os brancos europeus, evidentemente, ativos, inteligentes e engenhosos, este procedimento, possivelmente, abril as discussões sobre a existência de raças humanas e o valor de cada uma delas, utilizando o termo RAÇA com suposta legitimidade científica, fator que, no mundo moderno, foi alterado pelo significado social do termo, posto de sua inexistência científica. Ainda assim, a teoria cientificista de Linnaeus encontrou muitos adeptos séculos afora, um deles foi o conde francês Joseph Arthur de Gobineau, que quase 100 anos depois de Linnaeus, coloca Kenski (2003), concluiu que a miscigenação causa a decadência dos povos e que os alemães eram uma raça superior às outras, contrariando amplamente o juízo social e antropológico criado por cientistas sériosde que a miscigenação conduz a sociedade a um maior potencial de desenvolvimento em virtude da associação cultural e genética.
A realidade brasileira de crença e absorção da divisão da sociedade em raças é um fato consumado que contraria o discurso nacional da democracia racial, isto porque, os brasileiros não só acreditam nas raças como também agem em consonância com elas, fundamentando preconceito, discriminação e segregação, ao passo que "o resultado da crença de que não temos racismo foi, de acordo com muitos cientistas, um dos piores tipos de racismo que se conhece. A forma mais eficiente de reforçar o preconceito é achar que ele não existe que é natural" (KENSKI, 2003 p.49).
Para Borges (2002), o fato é que a sociedade brasileira encontra-se marcada pela exclusão social e pela discriminação racial. Essa situação reflete a existência de um racismo efetivo, com repercussões negativas na vida cotidiana da população negra, principalmente quando cidadania é o tema em questão.
De acordo com o Relatório do Conselho Nacional de Educação quando da aprovação das Diretrizes para a Educação das Relações Étnico-Raciais (2004), sem a intervenção do Estado, os postos à margem, entre eles os afro-brasileiros, dificilmente poderão romper o sistema que agrava desigualdades e gera injustiça, ao reger-se por critérios de exclusão, fundados em preconceitos e manutenção de prestígio e privilégios para uns em detrimento do desprestígio de muitos.
Chiavenato (1999), acerca da culturalização da teoria de inferioridade de indivíduos negros, faz citação à publicação no Caderno de Folclore, nº 7 do Ministério da Educação e Cultura (MEC) em que se publicou: “a entrada do negro no Brasil foi simultânea com a descoberta do país. Ele conhecia a escravidão, cultiva-a, e praticava-a como um sistema político. A escravidão era praticada na própria África. Os próprios africanos transplantaram-na para a América". Neste discurso, a responsabilidade pela escravidão é transferida para os negros, livrando nossas elites de qualquer responsabilidade ou prática racista e preconceituosa contra os povos que denominavam de mouros. Aqui já se evidencia que para que o processo educacional alcance os objetivos das Diretrizes Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais, é fundamental que o sistema de ensino tenha discernimento, quanto à importância de se coibir a dissipação de teorias que deturpam a realidade e negam aos afrodescendentes qualquer direito de reivindicação por reparações, sendo, importantíssima a construção de uma identidade nacional pautada na coexistência de diferentes culturas que propiciem o Relacionamento Étnico-Racial e Intercultural sem desníveis ou lacunas que ultrapassem o campo ideológico.
Em razão da Educação para as Relações Étnico-Raciais, Inocêncio da Silva (2001) celebra a diferença afirmando que o reconhecimento da importância de uma educação pluricultural, plurirracial e não eurocêntrica constitui-se em um dos pilares de uma sociedade brasileira verdadeiramente democrática.
De acordo com Trevisan (1988) toda sociedade que está marcada por desigualdades muito visíveis, mantidas por certa violência, precisa sempre escolher alguém- individualizado ou em grupo- como inimigo, a quem se deve ofender quando possível, a quem deve temer quando inferiorizado, e a quem se deve humilhar sempre, principalmente utilizando a marca do plural. É, justamente, em contraposição a esse comportamento ideológico-social que, a partir das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais (2004), se entende que para promover a reeducação das relações étnico-raciais, no Brasil, é necessário fazer emergir as dores e medos que têm sido gerados. É preciso entender que o sucesso de uns tem o preço da marginalização e da desigualdade imposta a outros e, então, decidir que sociedade quer construir. Assim sendo, ainda pelas Diretrizes (2004) a educação das relações étnico-raciais impõe aprendizagens entre brancos e negros, trocas de conhecimentos, quebra de desconfianças, projeto conjunto para construção de uma sociedade justa, igual e equânime.
Pedagogias de combate ao racismo e a discriminações devem ser elaboradas com o objetivo de fortalecer entre os negros e despertar entre os brancos a consciência negra. Para Borges (2002) a própria noção de identidade de uma cultura se dá por meio da consciência de suas diferenças em relação às outras culturas, sem que, para tanto, se criem juízos de valor que desqualifique uma em detrimento de outra.
As afirmações de Oliveira (2003) confirmam que tem sido difícil introduzir o tema afro na esfera das políticas públicas e jurídicas. Foi necessário que se abrissem espaços de discussão contra impérios conceituais que apagam nossas realidades com as concepções de que todos somos mestiços e, portanto, somos iguais, concluindo assim que vivemos em uma democracia racial, nada mais conveniente quando se pretende manter um padrão de hierarquização social e racial orientado na acentuação da pejoratividade das diferenças. Para alterar os paradigmas construídos por tais impérios conceituais, Oliveira (2003) defende a idéia de que precisamos garantir a vez e a voz dos marginalizados da cultura dominante, aprendendo a compreender a diferença e a diversidade como fator de acréscimo e não de exclusão. Portanto, se a escola se pretende democrática, não deve homogeneizar saberes e crenças, muito menos impor um padrão cultural sem tentar perceber nuances culturais e étnicos de todos os participantes do processo educacional.
Relativismo Cultural
- Relativismo Cultural: Toda Verdade é Local
Relativismo Cultural é a visão de que os sistemas morais ou éticos, que variam de cultura para cultura, são todos igualmente válidos e que nenhum sistema é realmente "melhor" do que qualquer outro. Isto é baseado na ideia de que não existe um padrão definitivo do bem ou do mal, então cada decisão sobre certo e errado é um produto da sociedade. Portanto, qualquer opinião sobre a moralidade ou ética está subordinada à perspectiva cultural de cada pessoa. Em última análise, isso significa que nenhum sistema ético ou moral pode ser considerado o "melhor" ou "pior", e nenhuma posição moral ou ética em particular pode realmente ser considerada "certa" ou "errada". 
O relativismo cultural é uma posição muito difundida no mundo moderno. Palavras como "pluralismo", "tolerância" e "aceitação" assumiram novos significados à medida que os limites da "cultura" têm se expandido. A maneira solta em que a sociedade moderna define essas ideias possibilitou que quase qualquer coisa pudesse ser justificada por motivos de "relativismo". O guarda-chuva do "relativismo" inclui uma ampla variedade de ideias, todas as quais introduzem a instabilidade e a incerteza em áreas que anteriormente eram consideradas resolvidas. 
Aproximar-se à beira de um precipício lhe dá uma boa perspectiva do terreno abaixo. Dar um só passo maior que o limite do precipício, como o relativismo cultural faz, é simplesmente um desastre.
Obviamente, perspectiva é importante para nossa compreensão da história, psicologia e política. A perspectiva cultural pode nos ajudar a entender por que certas ações são consideradas certas ou erradas por uma cultura em particular. Por exemplo, uma antiga sociedade poderia ter considerado tingir o cabelo de verde como sendo um delito punível. A maioria das sociedades modernas acharia isso estranho, se não opressivo. No entanto, uma boa perspectiva cultural pode nos dizer muito mais. Se chegássemos a descobrir que o cabelo verde era um sinal de uma prostituta, poderíamos entender que não era a cor do cabelo em si, mas a prostituição que foi realmente considerada "errada".
No entanto, o problema com a mudança do ponto de vista cultural para o relativismo cultural é a erosão da razão que ela causa. Ao invés de simplesmente dizer: "nós precisamos compreender os costumes de outras culturas", na verdade diz: "não podemos julgar a moral de outras culturas", independentemente das razões de suas ações.

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