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Estudos Culturais
Material Teórico
Responsável pelo Conteúdo:
Prof.ª Me. Priscila Bernardo Martins
Revisão Textual:
Prof.ª Me. Sandra Regina Fonseca Moreira
O que é Cultura?
• O que é Cultura?
• Considerações Finais.
• Apresentar uma abordagem de algumas correntes teórico-metodológicas sobre cultura, 
das formas, espaços e sentidos do conceito de cultura.
OBJETIVO DE APRENDIZADO
O que é Cultura?
UNIDADE O que é Cultura?
O que é Cultura?
Em termos conceituais, a palavra cultura é largamente utilizada para especificar 
os diversificados costumes e hábitos de um determinado povo, as várias formas de 
expressão artística, uma conduta da civilização ou os conhecimentos mobilizados por 
um dado grupo.
Figura 1
Fonte: iStock/GettyImages
Por que as culturas humanas se encontram no cerne das discussões na 
contemporaneidade?
Hall (1997) afirma que as ciências humanas e sociais, há muito tempo, reconhe-
cem a cultura como significativa. A compreensão da linguagem, da literatura, das 
artes, das ideias filosóficas, dos sistemas de crenças morais e religiosas, de acor-
do com Hall (1997), estão presentes em um conjunto de significados, conhecido 
como cultura. As ciências sociais, em destaque a Sociologia, atribuem uma impor-
tância para o estudo de um comportamento que não é provedor da programação 
genérica, biológica ou instintiva, sendo este a cultura.
Santos (2006) concebe a cultura como preocupação muito presente nos últimos 
tempos, visto que por meio dela é possível conhecer os caminhos que nortearam 
os grupos humanos em suas relações atuais e prospectivas futuras. 
A História apresenta consideravelmente as transformações sofridas pelas cul-
turas, ocorridas por forças internas, ou em consequência de contatos e conflitos. 
Então, ao se abordar o tema cultura, é necessário considerá-lo em sua complexi-
dade, visto que, segundo Santos (2006), são complexas as realidades dos grupos 
humanos, além disso, as características semelhantes os unem e as características 
dessemelhantes os diferenciam, sendo essas características expressas por meio da 
cultura. Ao direcionar o olhar para as religiões podemos exemplificar pontos cultu-
rais semelhantes e dessemelhantes.
8
9
Figura 2
Fonte: iStock/Getty Images
Por exemplo, ao considerarmos as culturas da Índia e da Indonésia, podemos 
encontrar pontos culturais semelhantes devido à quantidade expressiva de mulçu-
manos, além disso, os dois países são asiáticos. Em contrapartida, se compararmos 
a Índia com os Estados Unidos, encontraremos pontos dessemelhantes, principal-
mente associados à religião, em vista de que o número de mulçumanos nos Estados 
Unidos é mínimo em relação à Índia.
Notadamente, a cultura está relacionada com a humanidade como um todo, 
incluindo os povos, nações, sociedade e grupos humanos. Os diferentes tipos de 
culturas que existem, ou existiram, são um dos motivos para a cultura estar no 
cerne das discussões atuais. Santos (2006) retrata que é fundamental compreender 
a realidade cultural para aquelas que a vivem, para compreender o contexto no 
qual a cultura está inserida, na medida em que “[...] cada realidade cultural tem sua 
lógica interna, a qual devemos procurar conhecer para que façam sentido as suas 
práticas, costumes, concepções e as transformações pelas quais estas passam.” 
(SANTOS, 2006, p.3).
Figura 3
Fonte: iStock/Getty Images
9
UNIDADE O que é Cultura?
A cultura faz sentido para os pares que as vivem, pois é o resultado de suas histó-
rias, acoplando suas condições materiais e existenciais. Ainda, o estudo sobre cultura 
favorece contribuições contra preconceitos, uma vez que oferece informações que 
colaboram para promover o respeito e a dignidade nas relações humanas.
Hall (1997) acredita que os seres humanos são produtores de sentidos, são seres 
interpretativos. A compreensão das culturas separadamente torna-se importante 
para conhecer crenças e concepções presentes no mundo como um todo, posto 
que todas as culturas estão interligadas e todos os povos vivem em interação. Além 
disso, como os seres humanos são produtores de sentido, é necessário conhecer 
como esses sentidos são criados e como possuem influência no mundo, partindo de 
uma microssociedade (um grupo específico) para uma macrossociedade (mundial). 
Santos (2006) corrobora com Hall (1997), ao reconhecer que o debate sobre 
cultura contribui para pensar além da realidade do mundo como um todo, como 
também para pensar sobre a própria realidade, sendo que todas as culturas reme-
tem aos seres humanos, então as culturas estão interligadas, em vista de que seus 
principais protagonistas são os seres humanos, ou seja, o conhecimento amplo 
sobre as culturas promove um conhecimento sobre uma cultura específica.
A riqueza de formas das culturas e suas relações falam bem de perto a 
cada um de nós, já que convidam a que nos vejamos como seres sociais, 
nos fazem pensar na natureza dos todos sociais de que fazemos parte, 
nos fazem indagar sobre as razões da realidade social de que partilhamos 
e das forças que as mantêm e as transformam. Ao trazermos a discussão 
para tão perto de nós, a questão da cultura torna-se tanto mais concre-
ta quanto adquire novos contornos. Saber se há uma realidade cultural 
comum à nossa sociedade torna-se uma questão importante. Do mes-
mo modo evidencia-se a necessidade de relacionar as manifestações e 
dimensões culturais com as diferentes classes e grupos que a constituem. 
(SANTOS, 2006, p. 4)
A cultura é relevante para todos os envolvidos, tanto para aqueles que a prati-
cam quanto para os que a observam, uma vez que os seres humanos geralmente 
utilizam diversos sistemas de significados para organizar e regular suas condutas 
nas relações entre si, e são esses sistemas de significados que permitem interpre-
tar as ações alheias, contribuindo para a constituição de todas as culturas. A partir 
disso, Hall (1997) conclui que todas as ações sociais também são culturais, já que 
são práticas de significação, uma vez que todas as práticas sociais expressam ou 
comunicam significados. 
Childe (1986) também evidencia a importância de se estudar a cultura, na me-
dida que ela transforma a natureza positivamente. O ser humano desenvolve essa 
transformação por meio do cérebro, dado que se pode raciocinar sobre a natureza 
e modificá-la. O ser humano tem essa necessidade pois é frágil perante os outros 
animais, assim, essa modificação pode ser exemplificada com a criação do fogo. 
“A compensação que o homem tem pelos seus dotes corporais relativamente po-
bres é o cérebro grande e complexo, centro de um extenso e delicado sistema 
nervoso, que lhe permite desenvolver sua própria cultura” (CHILDE, 1986, p. 41). 
10
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Essa modificação perante a natureza é o que determinará a cultura. Além disso, a 
cultura é transmitida socialmente, de geração para geração. Esse estudo torna-se 
importante para compreender a história da humanidade.
Childe (1986), em seus estudos, também atribui como uma justificativa impor-
tante se estudar a cultura de diferentes povos para a superação da visão elitis-
ta da cultura, que carrega preconceitos de classe, raça, sexualidade e geração.
Esse preconceito cultural precisa ser superado na sociedade, e uma das formas 
dessa superação é o conhecimento das culturas e seus contextos específicos.
Hall (1997) também direciona sua justificativa para as transformações perante 
a natureza, entretanto, tem um olhar mais atual e condizente com a realidade 
vivida hoje. Hall (1997) chama atenção para a cultura na relação com a estrutura 
e organização da sociedade contemporânea, especialmente aos processos de 
desenvolvimento do meio ambiente global e à disposição de seus recursos econô-
micos e materiais.
As empresas transnacionais de comunicações, segundo Hall (1997), enriquecem 
suas transmissões, que muitas vezes atingem o mundo inteiro, com um único con-
junto de produções culturais específicas, sendo geralmente utilizadas tecnologias 
ocidentais padronizadas,que ignoram as singularidades culturais, muitas vezes con-
siderando apenas a cultura ocidental, o que exclui as particularidades e diferenças 
locais e fabrica uma cultura mundial homogênea, ocidentalizada.
A cultura está presente em todos os aspectos apresentados pela mídia, por 
exemplo, ao se assistir uma novela, a cultura está presente nas vozes, nas imagens, 
nos personagens, na trama etc. A mídia possui o poder de influenciar diretamente 
a sociedade, tendo um papel crucial para meio ambiente doméstico, alicerçada 
pelo consumo, e essa mídia está presente em todos os lugares, nas casas, nas lojas, 
nos outdoors, nos celulares.
Figura 4
Fonte: iStock/Getty Images
Essa característica da mídia apresenta uma visão equivocada do mundo e de 
todas as culturas já que as culturas são heterogêneas, tendo cada uma suas carac-
terísticas e especificidades. “Todos sabemos que as consequências desta revolução
11
UNIDADE O que é Cultura?
cultural global não são nem tão uniformes nem tão fáceis de ser previstas da 
forma como sugerem os ‘homogeneizadores’ mais extremados” (HALL, 1997, 
p. 18). Essa padronização cultural demonstra a cultura ocidental de forma muito 
desproporcional às outras, enaltecendo a cultura ocidental e desenvolvendo uma 
“resistência” a outras culturas. Ademais, as mudanças culturais de ritmos e formas 
irregulares, frequentemente, geram resistências positivas ou negativas. Entretan-
to, na maioria das vezes são resistências negativas, pois são contrárias à cultura 
global e representam fortes tendências a “fechamento”.
A discussão sobre cultura contribui para vencer preconceitos e compreender 
melhor como cada sociedade funciona separadamente, bem como para o mun-
do, suas crenças e concepções. Além disso, colabora para compreender como os 
seres humanos se desenvolvem, sendo uma forma de conhecer as pessoas com 
mais propriedade. Hall (1997) afirma que a cultura deve ser estudada como uma 
variável fundamental.
Agora que já foi discutida a importância do estudo sobre as culturas, vamos 
definir, de fato, o que os autores consideram por cultura, então, afinal, o que 
é cultura?
Figura 5
Fonte: iStock/Getty Images
A palavra cultura vem do latim e seu significado está relacionado a atividades 
agrícolas; vem do verbo latim colere, que significa cuidar de, tomar conta de, 
ou seja, quando você toma conta de, cuida de, administra o bem de algo, você 
inicia o processo de fazer cultura. A palavra colere deu origem a palavras como 
agricultura, floricultura, piscicultura, entre outras, todas essas palavras carregam o 
sufixo cultura, uma vez que estão relacionadas ao ato de cuidar de algo; no caso 
da agricultura, é cuidar do solo para produzir vegetais úteis ao homem e/ou para 
a criação de animais; no caso da floricultura, é cuidar das flores; e por fim, a pis-
cicultura é cuidar/criar peixes. Então podemos considerar que colere significa cui-
dar da natureza para que ela produza os melhores frutos, é a intervenção humana 
para transformar positivamente a natureza.
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Foram os romanos que direcionaram a palavra para o significado atual, pois am-
pliaram o significado da palavra para se referir ao refinamento pessoal, com ideia de 
utilizar a palavra para se referir à cultura da alma. Como sinônimo de refinamento, e 
com a ideia de sofisticação pessoal e educação elaborada de uma pessoa, a palavra 
cultura foi usada constantemente desde então.
Quando pensamos em cultura, surgem diversos elementos que podemos relacio-
na-los a ela, como, por exemplo: as artes, estilo de vida, crenças, concepções, grau 
de estudo, entre outros, e, de fato, esses elementos fazem parte da cultura, porém ela 
é muito mais ampla. A cultura de um grupo social é um conjunto de hábitos, modo 
de vida, jeitos de ser, tradições, leis, rituais, as festas, as maneiras de falar. Não mais 
a ideia de acúmulos (de boas maneiras, conhecimento, sofisticação), a cultura é hoje 
entendida como modos de vida. Então, a seguir serão apresentadas algumas defini-
ções de cultura obtidas por pensadores ao longo dos anos.
Kluckhohn (apud GEERTZ, 1989, p. 4) define cultura em onze aspectos, 
são eles:
1. “o modo de vida global de um povo”, ou seja, o modo de vida do indi-
víduo no mundo como um todo;
2. “o legado social que o indivíduo adquire do seu grupo”, a bagagem 
de experiências acumuladas por meio da vivência com determinado 
grupo específi co;
3. “uma forma de pensar, sentir e acreditar”; de acordo com essa perspec-
tiva, a cultura está ligada às concepções e crenças dos indivíduos;
4. “uma abstração do comportamento”; esse aspecto está ligado a uma aná-
lise de comportamento individual das pessoas;
5. “uma teoria, elaborada pelo antropólogo, sobre a forma pela qual 
um grupo de pessoas se comporta realmente”; esse aspecto vai dire-
tamente ao encontro do que as pessoas compreendem por cultura, visto 
que ela está diretamente ligada ao comportamento de um, ou todos os 
determinados grupos de pessoas;
6. “um celeiro de aprendizagem”; a cultura proporciona uma vasta bagagem 
de informações sobre as diversas sociedades, contribuindo primordialmente 
para aprender sobre os diferentes pontos de vistas;
7. “um conjunto de orientações padronizadas para os problemas recor-
rentes”; esse aspecto tem relação com a compreensão de pensamento dos 
indivíduos e como o conhecimento sobre as culturas podem contribuir para 
a resolução de problemas recorrentes em outras sociedades. A experiência 
auxilia nessa resolução, por isso é importante conhecer a realidade de todas 
as culturas; 
8. “comportamento aprendido”; esse aspecto refere-se à cultura estar di-
retamente ligada ao comportamento, sendo esse aprendido com base nas 
experiências das pessoas;
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UNIDADE O que é Cultura?
9. “um mecanismo para a regulamentação normativa do comporta-
mento”. É necessário considerar a cultura para compreendê-la em sua 
complexidade para poder regulamentar normativamente o comportamen-
to de certo grupo humano;
10. “um conjunto de técnicas para se ajustar tanto ao ambiente externo 
como em relação aos outros homens”. A cultura pode ser considera 
como esse conjunto de técnicas visto que é necessário considerar o con-
texto social e cultural que a pessoa está inserida;
11. “uma precipitação da história”, no sentido de que a cultura apresenta, 
de certa forma, a história de uma pessoa ou grupo de pessoas. Entretanto, 
às vezes essa história pode ser apresentada de uma forma precipitada, não 
sendo apresentada como de fato aconteceu.
Os onze aspectos apresentados por Kluckhohn (apud GEERTZ, 1989, p. 4) 
revelam que a cultura está relacionada com experiências de vida, crenças, concep-
ções, compreensão de um grupo de pessoas etc. Além disso, nesses aspectos se 
pode encontrar muitos que defendem o aprofundamento pelas culturas existentes 
no mundo.
Gertz (1926), alicerçado pela definição de Kluckhohn, afirma que o conceito de 
cultura é, principalmente semiótico, pois acredita que: 
[...] o homem é um animal amarrado a teias de significados que ele mes-
mo teceu, assumo a cultura como sendo essas teias e a sua análise; por-
tanto, não como uma ciência experimental em busca de leis, mas como 
uma ciência interpretativa, à procura do significado. (GERTZ, 1926, p. 4) 
Figura 6
Fonte: iStock/Getty Images
Cada autor tem sua forma de definir cultura, assim Gertz (1926) a define de uma 
forma díspar e curiosa. O autor inicia afirmando que a cultura é pública, posterior-
mente recorre a uma história de uma “piscadela burlesca” e a uma “incursão fra-
cassada de carneiros” para demonstrar que as ações e pensamentos também estão 
intimamente ligados à cultura. 
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Hall (1997) inicia sua definição de cultura ressaltando a importância de diferen-
ciar os aspectos substantivos dos aspectos epistemológicos presentes na cultura. 
Os aspectos substantivos estão relacionados com o lugar cultural na estrutura 
empírica real, na organização das atividades, instituições e nas convivências con-
tidas na sociedade, ou seja,esses aspectos compreendem a cultura em qualquer 
momento histórico. 
Os aspectos epistêmicos estão relacionados com o posicionamento da cultura 
associada com as questões de conhecimento e conceitualização, nesse aspecto a cul-
tura é utilizada como o intuito de transformar compreensões, explicação e modelos 
teóricos presentes no mundo. 
Esses aspectos estão presentes nas definições dos outros autores, entretanto, 
não estão agrupados com essas nomenclaturas. No primeiro caso, o autor olha 
para a cultura em um momento ou numa sociedade específica, o que contribui para 
compreender a relevância do estudo das culturas, visto que a cultura nos remete 
ao conhecimento de determinado grupo social ou em determinada época; já no 
segundo caso, o autor olha para a cultura com o intuito de compreender questões 
presentes no mundo, ou seja, numa abordagem mais abrangente, não sendo o 
olhar para um determinado grupo de pessoas, e sim para o mundo como um todo. 
Para compreender esse aspecto, pode-se pensar que todas as culturas possuem 
influência no mundo como um todo, isto é, para compreender de fato os seres 
humanos, é necessário considerar todas as culturas e suas cooperações mundiais.
Hall (1997) considera cultura (centralidade cultural) em quatro dimensões: a ascen-
são dos novos domínios, instituições e tecnologias associadas às indústrias culturais 
que transformaram as esferas tradicionais da economia, indústria, sociedade e da 
cultura em si; a cultura vista como uma força de mudança histórica global; a transfor-
mação cultural do quotidiano; a centralidade da cultura na formação das identidades 
pessoais e sociais.
A cultura está associada à dimensão do processo social e diretamente ligada à vida 
de uma sociedade, não se restringindo a apenas um conjunto de práticas, concep-
ções e crenças, como por exemplo, a religião. A cultura é mais ampla e depende do 
contexto em que a sociedade está inserida, estando conectada a todos os aspectos e 
contextos da vida social.
Santos (2006) acredita que cultura é uma construção histórica, isto é, um resul-
tado coletivo da vida humana, e não uma decorrência de leis físicas ou biológicas. 
Assim a cultura é o produto da história de cada sociedade. Além disso, as discussões 
sobre a cultura estão no centro das lutas sociais por um destino melhor, pois como 
já foi demonstrado, o conhecimento das diferentes culturas contribui para uma luta 
contra o preconceito, a favor da liberdade e respeito. O estudo sobre as culturas é 
uma luta em prol da superação da opressão e da desigualdade.
15
UNIDADE O que é Cultura?
Figura 7
Fonte: iStock/Getty Images
Santos (2006) classifica a cultura como uma preocupação em compreender 
as escolhas que direcionaram os grupos humanos para suas relações atuais e as 
perspectivas perante o futuro. Além disso, o autor nos chama a atenção para a 
história, pois ela registra variadas transformações culturais, geralmente ocorri-
das por forças internas, como consequências de conflitos. À vista disso, ao se 
discutir sobre cultura é essencial olhar para a humanidade em sua totalidade de 
riqueza e multiplicidade de formas existentes, pois são complexas as realidades 
e as semelhanças e dessemelhanças que os unem ou os diferenciam, sendo ex-
pressos por meio da cultura. Portanto, a cultura retrata a humanidade particular-
mente, direcionando o olhar para um grupo, povo, nação, sociedade específica; 
e globalmente, direcionando o olhar para todos os grupos, nações e sociedades, 
ou seja, para o mundo como um todo.
Figura 8
Fonte: iStock/Getty Images
As culturas possuem uma lógica interna. De acordo com Santos (2006), essa 
lógica interna deve ser estudada para conhecer o sentido das práticas presentes em 
determinada cultura, para então compreender o sentido das práticas, costumes, 
concepções, e as transformações vivenciadas naquela cultura. Conhecer a cultura 
proporciona que se conheça o contexto em que determinada coisa foi criada ou 
pensada, visto que a cultura é construída a partir das experiências vivenciadas. 
16
17
O autor também salienta que a família de uma pessoa a influencia diretamente em 
sua cultura, pois a cultura também é transmitida de geração para geração. 
A cultura também pode ser constituída, de acordo com Santos (2006), por meio 
de interações e relações com outras culturas, mesmo que essa cultura tenha caracte-
rísticas bem diferentes. Por exemplo, uma pessoa do Brasil pode aprender a dançar 
dança do ventre, mesmo não sendo uma dança brasileira, e essa dança pode ser inse-
rida em sua cultura. A cultura geralmente influencia os gostos das pessoas, bem como 
os gostos das pessoas também podem influenciar sua cultura, uma vez que todas as 
culturas são interligadas. 
Para Santos (2006), cultura é tudo aquilo que caracteriza a população humana. 
Então, para se pensar em cultura, pode-se olhar para a educação, para as manifes-
tações artísticas (o teatro, a música, a pintura, a escultura), os meios de comunicação 
(rádio, televisão, celular), a festas tradicionais, a linguagem, a comida, a vestimenta, 
ou seja, tudo que está relacionado com ser humano na sociedade.
Figura 9
Fonte: iStock/Getty Images
Laraia (2001) afirma que as diferenças genéticas não são determinantes para as 
diferenças culturais, não havendo relação entre os caracteres genéticos e os compor-
tamentos culturais, ou seja, uma criança pode ser inserida em qualquer cultura se for 
inserida em situações de aprendizagem desde o nascimento, então suas característi-
cas genéticas não a influenciarão nos comportamentos culturais. Assim, a cultura é 
todo o comportamento aprendido e transmitido no convívio humano.
Laraia (2001) afirma que não existem culturas mais desenvolvidas que as outras, 
pois não existe uma linha de evolução cultural na qual alguns povos podem ser con-
siderados mais evoluídos culturalmente que outros, uma vez que cada povo só pode 
ser compreendido nos termos de sua própria cultura. Por essa razão, o estudo sobre 
as culturas se torna tão importante, posto que é necessário conhecer o contexto e a 
história de determinada cultura.
17
UNIDADE O que é Cultura?
Considerações Finais
De certa forma, podemos considerar a cultura como o conjunto de crenças, há-
bitos, concepções, culinária, folclore, religião, arte, valores, linguagens. Além desse 
conjunto, também podemos considerar como cultura as formas de vestir, de pensar 
e de agir. Dessa forma, cultura é tudo aquilo que é passado, adquirido, aprendido, 
vivido e compartilhado entre as pessoas. 
A humanidade é o reflexo de um longo e extenso processo de acumulação 
cultural, e é a manipulação desse processo acumulativo que permite inovações, 
invenções, melhorias e avanços tecnológicos. 
Figura 10
Fonte: iStock/Getty Images
A cultura é cheia de práticas culturais e costumes que se interseccionam com as-
pectos que, teoricamente, seriam de outras culturas. No mundo atual e globalizado, 
os processos de troca e compartilhamento são cada vez mais rápidos. As culturas 
estão em conexão por meio de seus grupos de indivíduos que se modificam o tem-
po todo no contato com o diferente sem, contudo, perder sua essência. 
A cultura é composta pelo passado, presente e futuro. As tradições do passado, 
as práticas do presente e o nosso imaginário, os sonhos para o futuro. Além disso, 
como já foi exposto anteriormente, a cultura tem suas interfaces com a tecnologia 
e o meio ambiente. 
18
19
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
 Sites
Brasil Escola
https://goo.gl/LZeRFE
 Livros
Cultura: Um conceito antropológico
LARAIA, Roque de Barros. Cultura: Um conceito antropológico 19 ed. Rio de Janeiro: 
Jorge Zahar, 2006.
Estudos Avançados 9 (23)
CHAUÍ, Marilena. Cultura política e política cultural. Estudos Avançados 9 (23),
São Paulo, 1995, p.71-84.
O Conceito de Cultura nas Ciências Sociais
CUCHE, Denys. O Conceito de Cultura nas Ciências Sociais. Tradução de Viviane 
Ribeiro. 2 ed. Bauru: EDUSC, 2002.Vídeos
Escritos de Marilena Chauí | O que é cultura?
https://youtu.be/-YQcFNoiDMw
19
UNIDADE O que é Cultura?
Referências
CHILDE, G. A evolução cultural do homem. 5.ed. São Paulo: Guanabara 
Koogan, 1986.
GEERTZ, C. A interpretação das culturas. 1.ed. Rio de Janeiro: LTC, 1978.
HALL, S. A centralidade da cultura: notas sobre as revoluções culturais do nosso 
tempo. Educação & Realidade, Porto Alegre, n. 22, v. 2, jul. - dez. 1997. 
LARAIA, R. B. Cultura: Um conceito antropológico. 14.ed. Rio de Janeiro: 
Zahar Ed., 2001. 
SANTOS, J. L. O que é cultura. 16.ed. São Paulo: Brasiliense, 2006.
20
• Introdução;
• Identidade e Subjetividade na Contemporaneidade;
• A Sociedade de Mudança Constante, Rápida e Permanente;
• O Sujeito Contemporâneo;
• Desafios Existenciais e Concretos.
• Realizar uma análise da cultura na sociedade contemporânea, partindo da identifi-
cação da construção da identidade do sujeito e da sua produção social;
• Compreender os meandros e as consequências dessa produção na própria identi-
dade psicossociocultural.
OBJETIVOS DE APRENDIZADO
A Produção Cultural do 
Sujeito Contemporâneo
UNIDADE A Produção Cultural do Sujeito Contemporâneo
Contextualização
Para iniciarmos nosso diálogo, sugiro que você assista ao vídeo a seguir e re-
flita sobre como ocorreu, e ocorre, a construção da identidade cultural humana. 
Procure pensar também sobre as consequências sociais e na individualidade do 
homem, considerando a crescente produção humana.
O vídeo indicado é “Homem - Man (Steve Cutts)”. Acesse em: https://youtu.be/5XqfNmML_V4.
Ex
pl
or
Agora que você já assistiu ao vídeo, reflita: Que impactos são gerados a partir 
da transformação e do consumo? A identidade sociocultural do sujeito permanece 
a mesma, a despeito desses impactos?
Os questionamentos sugeridos são apenas alguns dos muitos que, certamente, 
surgirão em sua mente. Você, inclusive, poderá pensar “por que nunca me ocor-
reu isso?”; “parece tão óbvio, então, qual é o porquê de as coisas serem como 
são?” Essas indagações são comuns e esperadas na nossa construção do conhe-
cimento e, na medida em que progredimos, que avançamos em nosso processo 
de investigação, elas se intensificarão, algumas vezes com respostas, outras não. 
O importante, aqui, é colocar o método investigativo em ação, assim como o fez 
Sócrates. Hoje, graças a ele, temos o que chamamos de método socrático, no qual 
a indicação tem um objetivo sistemático, que propicia a construção do sujeito – nós 
– em sua inteireza, compreendido como um eterno projeto de vir-a-ser, como bem 
nos disse Sartre.
Sartre e o Existencialismo: O filósofo, escritor e crítico francês, Jean-Paul Charles Aymard 
Sartre, é conhecido como representante do Existencialismo, o qual é compreendido como 
um conjunto de teorias formuladas no século XX, caracterizadas pela inclusão da realidade 
concreta do indivíduo (sua mundanidade, angústia, crises, morte etc.) no centro da especu-
lação filosófica, opondo-se, portanto, às doutrinas Racionalistas.
Ex
pl
or
8
9
Introdução
A essa altura, você, certamente, já se deu conta da intensa discussão acer-
ca da identidade psicossociocultural do sujeito. Mas, como está essa identidade? 
Quando refletimos sobre isso, nos deparamos, inevitavelmente, com a chamada 
“crise de identidade” pela qual passa o sujeito moderno, que, embora se insista 
em vê-lo como unificado, está fragmentado ou, com identidades sociais novas e 
díspares, por conta do declínio das velhas identidades que, por tanto tempo, sus-
tentaram e estabilizaram o mundo social.
Quando falamos em crise de identidade, queremos dizer que “os quadros de refe-
rência que davam aos indivíduos uma ancoragem estável no mundo social” (HALL, 
2000, p. 7) foram abalados devido ao processo de amplas mudanças das estruturas e 
processos centrais das sociedades modernas. Não se tem mais uma referência única 
e central. Há, no entanto, diversas referências, coexistindo, muitas vezes de forma 
antagônica, e esse antagonismo, por sua vez, gera uma crise, expressa ou não por 
uma angústia, reconhecida concreta ou simbolicamente pelo sujeito.
Ainda nos tempos atuais, é normal ouvir dizer que esse ou aquele grupo social 
possui ou não uma cultura forte. Difícil, no entanto, é identificar as muitas culturas 
coexistentes no cotidiano desse grupo social. Se essa fosse uma tarefa fácil, não 
teríamos tantos estudos produzidos e um afunilamento na produção científica de 
áreas como a sociologia e a psicologia, que, enquanto ciências, sempre tiveram 
muito bem demarcados os campos de atuação e de estudos. No entanto, essa crise 
de identidade tratou de aproximar essas disciplinas.
Segundo Hall (1997), a linha divisória entre as disciplinas da sociologia e da psi-
cologia, mesmo considerando que sempre se admitiu que todo modelo sociológico 
transporta dentro de si certas pressuposições psicológicas acerca da natureza do 
sujeito individual e da própria formação social do “eu”, e vice-versa.
Até os mais céticos têm se obrigado a reconhecer que os significados 
são subjetivamente válidos e, ao mesmo tempo, estão objetivamente pre-
sentes no mundo contemporâneo - em nossas ações, instituições, rituais 
e práticas. A ênfase na linguagem e no significado tem tido o efeito de 
tornar indistinta, se não de dissolver, a fronteira entre as duas esferas, do 
social e do psíquico. (HALL, 1997, p. 24)
Como vimos, se na atualidade, ciências supostamente distintas têm dificuldades 
em delimitar ou diferenciar os estudos produzidos acerca do seu objeto, no que se 
refere à construção da identicidade humana, deve-se considerar a volatilidade dessa 
identidade e do processo do seu processo de construção, que também não é mais 
ímpar e passou a ser cada vez mais ambíguo.
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UNIDADE A Produção Cultural do Sujeito Contemporâneo
Identidade e Subjetividade 
na Contemporaneidade
Desde os estudos de Freud, com a construção da ciência psicológica, que cha-
mou de psicanálise, sabemos que a construção da identidade do sujeito possui fases 
ou estágios, antes, muito bem delimitados, que são determinados pela cultura, isto 
é, pelo ambiente social e cultural ao qual pertence o sujeito, que não cabe mais 
chamar de indivíduo, essa unidade indivisível. Os estudos em psicologia trataram de 
nos causar esse trauma existencial, não somos mais únicos e indivisíveis, se é que 
um dia fomos, principalmente se considerarmos a cultura de massa proposta pela 
globalização, cada vez mais acentuada.
Esse ser humano individual, concreto, conhecido por meio da experiência, que 
possui uma unidade de caracteres e forma um todo reconhecível, considerado de 
modo isolado em sua comunidade, passou e passa por intensas transformações psi-
cossocioculturais. Na atualidade, a individualidade humana é algo ainda mais difícil 
de caracterizar, pois a construção da identidade do sujeito perpassa pela construção 
da identidade sociocultural e, por conseguinte, pela construção da subjetividade de 
uma determinada sociedade.
Ocorre que, na atualidade, as manifestações culturais e sociais não são mais locais, 
mas sim, globais e, portanto, influenciam e são influenciadas por outras e diversas 
manifestações socioculturais, muitas vezes distintas daquelas produzidas localmente.
Dessa forma, a construção de uma identicidade não ocorre linearmente e essa 
não é perene, pois a própria sociedade também não o é, mas passa por diversas 
e intensas transformações. Ora, se o sujeito transforma a cultura e é por ela trans-
formado, então Sartre tinha razão ao nos definir como eternos projetos de vir-a-
-ser. Nessa condição, nunca estamos acabados, mas em desenvolvimento, desde o 
nascimento até a morte.
O problema disso tudo é a questão da identidade, necessária para a construção 
da subjetividade, com a qual olhamos e interpretamos a realidade concreta.
De acordo com Hall (1997, p. 23), o amplo impacto das revoluções culturais so-
bre as sociedades globais e sobre a vida cotidiana local, vivido no final do século XX, 
“parecetão significativo e abrangente que justifica a afirmação de que a substantiva 
expansão da “cultura” que hoje experimentamos, não tem precedentes”. Contudo, 
a alusão do seu impacto “na “vida interior” lembra-nos de outra dimensão que pre-
cisa ser considerada: a centralidade da cultura na constituição da subjetividade, da 
própria identidade e da pessoa como um ator social”.
Subjetivamente acreditamos que conseguimos nos diferenciar dentro de uma 
cultura social que impõe padrões e regras e que o próprio enfrentamento des-
ses padrões e regras propõe modelos a serem seguidos, o que implica em, de 
novo, buscar se enquadrar dentro de um modelo social padrão ou dissidente. 
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Além disso, se considerarmos que a ausência de modelos dificulta a própria forma-
ção da identidade, nos depararemos com uma questão ainda mais ampla e difícil de 
conceituar: a angústia vivida e gerada pela dificuldade de identificação na formação 
da identidade.
Segundo Freud, na formação da personalidade, tanto o menino, quanto a me-
nina, passam por um período de rivalidade com o progenitor do mesmo sexo, que 
o interdita e por ser maior e mais forte, obriga que esse menino ou essa menina 
busque se identificar com esse progenitor, imitando-o, a fim de conquistar o que ele 
tem, e é, objeto de desejo desse menino ou menina.
A partir dessa teoria, podemos perceber o quão é importante a existência de um 
modelo com o qual podemos nos identificar. Contudo, o que ocorre quando não 
há um só modelo, mas diversos e inconstantes modelos? É exatamente isso que 
ocorre na sociedade atual. Não temos um único modelo sociocultural, mas a cons-
trução cindida e disforme de muitos modelos, uma verdadeira “colcha de retalhos”. 
É esse todo fragmentado e costurado que irá determinar a formação da identidade 
psicossociocultural do sujeito, que, em algum momento, se verá como um todo 
fragmentado e costurado, e que terá que se relacionar com essa realidade, a fim de 
buscar alternativas concretas ou simbólicas para a superação desses hiatos.
É por isso que, de acordo com Hall (1997), devemos refletir sobre as identida-
des sociais como construídas no interior da representação, através da cultura, não 
fora dela. A construção da identidade social, por assim dizer, acontece por meio do 
uso da subjetividade. É o olhar subjetivo, e não somente a realidade concreta, que 
determina a identidade e identificação de uma pessoa. Um exemplo claro disso são 
as muitas pessoas que, a despeito da realidade em que vivem, buscam modelos fora 
dela, como um menino nascido e criado em uma comunidade que se recusa a se 
identificar com ela e exibe modelos comportamentais diferentes dos existentes ali.
Ainda, segundo o mesmo autor (1997, p. 27), as identidades sociais:
[...] são o resultado de um processo de identificação que permite que nos 
posicionemos no interior das definições que os discursos culturais (exterio-
res) fornecem ou que nos subjetivemos (dentro deles). Nossas chamadas 
subjetividades são, então, produzidas parcialmente de modo discursivo e 
dialógico. Portanto, é fácil perceber porque nossa compreensão de todo 
este processo teve que ser completamente reconstruída pelo nosso in-
teresse na cultura; e por que é cada vez mais difícil manter a tradicional 
distinção entre “interior” e “exterior”, entre o social e o psíquico, quando 
a cultura intervém.
A subjetividade é, portanto, um escudo e uma lente que permite enxergar para 
além da realidade local e proteger-se de traumas advindos dessa e de outras realida-
des. Nesse sentido, a leitura subjetiva da realidade ocupa um papel de destaque na 
construção da identidade do sujeito contemporâneo. Saber enxergar e interpretar 
a realidade é uma necessidade ímpar no mundo de constantes e aceleradas trans-
formações sociais e culturais.
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UNIDADE A Produção Cultural do Sujeito Contemporâneo
A identidade do homem atual não é uma identidade única e distinta, é polifor-
me, pois a própria produção cultural possui muitas formas, nas ainda distintas so-
ciedades. Cabe, portanto, a esse sujeito contemporâneo, buscar significados para 
cada uma dessas formas, e filtrar em sua leitura de mundo os aspectos objetivos e 
subjetivos de sua existência social e cultural.
Consideremos também que as intensas e constantes transformações sociais im-
põem um ritmo também acelerado a esse processo. Não pode o homem ficar 
alheio às mudanças, pois essas não são alheias ao homem. Deve-se, portanto, 
pensar criticamente sobre elas.
De acordo com González Rey (2003, p. 95), a subjetividade pode ser definida como “as for-
mas complexas em que o psicológico se organiza e funciona nos indivíduos, cultural e histo-
ricamente construídos e nos espaços sociais das suas práticas e modos de vida”.
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A Sociedade de Mudança 
Constante, Rápida e Permanente
Há quem defenda e, certamente, você já ouviu a célebre frase: “a única cons-
tância do universo é a mudança”. Mas o que isso quer dizer? O que implica 
cogitar e afirmar que a mudança possa ser a única certeza, em meio a tantas 
incertezas e, sendo assim, por que ainda nos tempos atuais, muitos ainda são 
resistentes às mudanças?
É sabido que ao longo da história evolutiva da humanidade, foi, e é necessário, 
manter dados de memória, medos, traumas e o que muitas chamam de instintos 
de sobrevivência, o que, de certa forma, privilegia o conhecido e evita o desconhe-
cido. Até aqui, não estamos tratando de nada novo. Temer e evitar o novo são, 
portanto, um traço subjetivo compartilhado da personalidade humana. O psicólogo 
Carl Gustav Jung nos dá o fundamento dessa ideia ao postular o conceito de in-
consciente coletivo. Na teoria analítica de Jung, o inconsciente coletivo representa 
a herança ancestral subjetiva compartilhada pela sociedade.
É por meio dessa herança ancestral que as muitas culturas compartilham seme-
lhanças, tais como: o arquétipo do herói, do homem e da mulher ideal, que estão 
presentes em todas as formas de manifestações culturais e despertam interesses e 
curiosidades. Obviamente, esses arquétipos aparecem em cada cultura com singu-
laridades. O herói, por exemplo, não se manifestará com superpoderes, tais como 
os criados pela indústria de massa, em todas as civilizações, mas, de certa forma, 
carregará semelhanças a esses, o que permite uma rápida identificação com qual-
quer figura do herói, mas não sem certa resistência.
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A incorporação de conteúdos de uma cultura distinta ocorre de forma lenta, 
justamente pelo fato de haver resistência às modificações da cultura existente. 
Paradoxalmente, na conhecida sociedade da mudança, parece haver certo an-
seio pela importação de determinados conteúdos culturais. Em primeira análi-
se, pode-se pensar que tal ansiedade seja oriunda apenas do desejo de consu-
mo do padrão comportamental de sociedades tecnologicamente desenvolvidas. 
Contudo, na atualidade, o contrário também ocorre. Há certa tendência em incor-
porar conteúdos culturais de sociedades em desenvolvimento.
Na indústria musical isso é mais explícito. Por exemplo, a cultura do funk é ra-
pidamente absorvida pela cultura pop, a ponto de, em certos casos, não se saber 
diferenciar um gênero musical do outro; e parece não haver preocupação, em am-
bos os lados, em tal separação. Isso ocorre porque, embora as mudanças culturais 
sejam lentas, por causa das resistências, a incorporação de elementos e conteúdos 
de culturas distintas é cada vez mais acelerada, por causa da globalização.
Atualmente estimula-se o consumo objetivo e subjetivo. Não se compram ape-
nas objetos e coisas, compra-se também o acesso ao conhecimento produzido 
por outras culturas. Certamente, em algum momento, você já desejou conhecer 
outras culturas ou saber mais sobre determinadas manifestações culturais ou, até 
mesmo, já se percebeu tentando encontrar o ponto de intersecção em manifes-
tações sincréticas.
Estar de fora do consumo do novo é, basicamente, o mesmo que estar de fora da 
própria prática social vigente. É manter-seà margem da produção cultural e, ainda 
assim, produzir cultura, que, em um dado momento, será incorporada socialmente.
Nesse sentido, as rápidas mudanças, impostas pela era da mundialização dos 
capitais, não mais dá espaço para a produção de individualidades, mas de sub-
jetividades culturalmente e permanentemente compartilhadas. As resistências in-
dividuais se rompem na medida em que novas condutas sociais são produzidas 
e compartilhadas.
A mudança, portanto, vista desse modo, pode ser compreendida como a motriz 
da sociedade e parte permanente da subjetividade humana. É esse constituinte sim-
bólico que atribui sentido às modificações psicossocioculturais.
O Sujeito Contemporâneo
Ao nascermos, somos inseridos na sociedade por meio da cultura familiar. 
É a partir desse primeiro grupo que incorporamos as normas e costumes sociais. 
O grupo familiar é, por assim dizer, responsável por transmitir os dados da cultura 
que farão parte da identidade do sujeito, isto é, os traços do temperamento e do 
caráter que darão origem à personalidade do sujeito.
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UNIDADE A Produção Cultural do Sujeito Contemporâneo
Contudo, na medida em que o sujeito se desenvolve, passa a pertencer a outros 
grupos sociais e as experiências vividas irão imprimir e modular a personalidade, 
definindo os muitos papéis sociais que serão desempenhados pelo sujeito. Além 
disso, na sociedade contemporânea, devemos considerar que o uso da tecnolo-
gia, tais como televisores, notebooks, tablets e celulares, ocorre cada vez mais 
precocemente, a ponto de se pensar que as novas gerações, chamadas de nativas 
digitais, têm aptidão natural pela tecnologia.
Você já observou a habilidade de uma criança de dois anos ao manusear um ce-
lular ou tablet? Como se explica que essa criança, sem ter sido instruída do modo 
de funcionamento do equipamento, consiga manuseá-lo habilmente? Quais são 
as implicações desse aprendizado, em particular, para o aprendizado geral dessa 
criança? Esses são alguns dos questionamentos que estão inquietando a sociedade 
atual, e se constituem como um desafio a ser superado.
O sujeito contemporâneo traz consigo a amplitude de discussões já existentes e 
ainda sem respostas concretas e propõe novos questionamentos, bem como novas 
formas de pensar. Se, até então, por conta de culturas isoladas, o que se expressa 
em um dado lugar e momento não sirva para explicar um fenômeno ocorrido em 
outra localidade, com a globalização e, consequente, aproximação cultural, essa 
linha de pensamento tem mudado radicalmente. É cada vez mais necessário obser-
var o que ocorre em nível de mundo para compreender um fenômeno local.
A conhecida teoria do caos, que propõe que fenômenos aparentemente alea-
tórios estejam combinados, passa a ser cada vez mais aceita, pois o próprio su-
jeito, aparentemente, passou a ser uma combinação de culturas e subjetividades. 
O cidadão não é mais local, é um cidadão do mundo, pelo menos se não o é no 
mundo concreto, é na realidade virtual.
O sujeito virtual não faz parte da matrix, é a própria matrix. O emaranhado 
producente da rede virtual tece suas teias nessa realidade aumentada, modificando 
a noção de tempo e de espaço, definidos a priori. Na realidade virtual, a noção de 
tempo, de espaço e da própria subjetividade do sujeito é modificada, pois nesse 
ambiente não se pode definir um espaço, um tempo e uma cultura local. Há que se 
buscar novas definições e concepções para tais conceitos.
Sendo assim, o homem contemporâneo pode ser caracterizado por amplas in-
certezas e desafios existenciais concretos. Não se trata aqui de dilemas existenciais 
puramente filosóficos, mas de definir o próprio papel social, pois de uma coisa 
temos certeza, o homem terá de inventar para si novos papéis psicossocioculturais, 
ou terá de se reinventar para caber nos já existentes.
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Desafios Existenciais e Concretos
Retornamos ao conhecido dilema: “Ser ou não ser, eis a questão”. Culturalmen-
te, o homem, desde que desceu das árvores e saiu das cavernas, buscou estabelecer 
relações sociais concretas. A partir daí, dizemos que o homem é um ser gregário 
por natureza. Em decorrência disso, há quem defenda que o homem se faz huma-
no nas relações que estabelece com outros homens. É necessário identificar quem 
pertence a essa relação, pois, na sociedade atual, há quem privilegie a relação de 
proximidade com outros animais, tais como cães, gatos, porcos, cobras, patos e 
galinhas, entre outros.
Por outro lado, como já sabemos, é ímpar a necessidade de se analisar a 
qualidade dessas relações, buscando saber o meio pelo qual elas ocorrem. 
Voltemos, pois, ao ambiente virtual. As relações intermediadas pela máquina podem 
não ser de todo frias, pelo contrário, podem, em dadas circunstâncias, potencializar 
sentimentos. Exemplo suficientemente claro disso é o que ocorre nas redes sociais. 
As discussões em rede tendem a se tornar mais acaloradas, despertando e refor-
çando sentimentos que não são incentivados pela cultura social. Paradoxalmente, 
é possível perceber que, atualmente, a cultura social local tem sido influenciada por 
esses comportamentos, o que está para além das modificações linguísticas.
Os papéis desempenhados socialmente pelo sujeito contemporâneo já estão em 
metamorfose, imposta pela realidade social, que se choca com a moral vigente. 
É certo que há de se esperar um enrijecimento da moral cristalizada, uma espécie de 
solidificação do discurso protecionista, afinal, como discutimos, e você certamente 
se lembra, uma modificação cultural não ocorre sem o despertar das resistências.
Todavia, devemos ponderar que, na atual sociedade, o consumo acelera as mu-
danças. O padrão alimentar, por exemplo, não poderá ser o mesmo, se o sujeito 
adotar uma ideologia fitness, vegetariana, vegana ou natural. Em contrapartida, 
essa mesma ideologia sustentará um mercado, até então, promissor, que se espe-
cializará em manter esse padrão alimentar e, consequentemente, o consumo de 
seus produtos.
A negação de uma cultura cria uma subcultura, que existe sem o enfrentamento 
direto da cultura vigente ou de contracultura, que buscará esse enfrentamento e se 
definirá como modelo adequado. Trata-se de uma relação dialética, pois quando 
uma contracultura assume a posição de cultura vigente, possibilita o surgimento de 
novas sub e contraculturas.
Essa discussão nos traz ao nosso ponto inicial: ser ou não ser. Se adotarmos a 
posição Existencialista de Sartre e assumirmos que somos um projeto de vir-a-ser, 
conseguiremos romper as resistências, de certo modo, mas não sem a angústia e 
náusea características desse processo. Assumir essa visão implica em aceitar a con-
dição de permanente desenvolvimento humano, mas também de que nada, além 
da certeza da mudança, que traz consigo incertezas, é perene.
15
UNIDADE A Produção Cultural do Sujeito Contemporâneo
Nesse sentido, a cultura é bem mais fluida do que pensamos em nossa “vã filosofia”, assim 
como ocorre com a própria construção da identidade e personalidade humana, o que nos 
coloca, mais uma vez, diante de um dilema: Se o homem se mostra nas relações que estabe-
lece, nas ferramentas de trabalho que utiliza e na língua pela qual se expressa, em um dado 
lugar e tempo, como ocorre essa construção cultural e identitária na ausência concreta do 
tempo e do espaço, considerando-se a modificação linguística e de ferramentas de trabalho 
impostas por essa nova realidade?
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Trocando em Miúdos
A nossa noção de tempo e de espaço deve considerar o ambiente virtual e as 
relações impostas por essa nova realidade aumentada. A análise da cultura social 
não poderá ignorar as relações decorrentes da interação virtual humana, pois, cer-
tamente, há uma diferença significativa entre a realidade, que aqui chamamos de 
concreta, e a realidade virtual.
A construção humana, isto é, da identidade do sujeito, perpassa as relações 
socioculturais que estabelece, por isso se diz que um homem do século XX não 
poderia ter uma identidadede sujeito do século XXI, ou vice-versa, muito embora 
devemos confessar que, por vezes, isso parece acontecer.
Por fim, sabemos que no constituinte da personalidade encontram-se o tempera-
mento e o caráter. Há de se esclarecer que por caráter, não se deve entender o con-
ceito dado pelo senso comum. Por caráter se compreende o temperamento, ou tra-
ços comportamentais moldados, isto é, são padrões comportamentais permanentes.
Assim sendo, é necessário considerarmos a impossibilidade de se dizer que há 
um sujeito sem cultura, ou cultura sem sujeito, ou, até mesmo, que há um sujeito 
no qual não se expressa a cultura, sendo esse um produto e, paradoxalmente, um 
produtor da cultura, assim como um espelho.
A produção cultural do sujeito contemporâneo é permeada pela construção mu-
tável do próprio sujeito, que busca se identificar com a nova realidade e, ao mesmo 
tempo, tenta manter as relações já conhecidas. Há, no entanto, que se esperar 
que desse conflito surjam sentimentos antagônicos acerca da própria natureza do 
homem, assim como daquilo que é por ele produzido.
Ao se afastar da cultura local e introjetar aspectos culturais diversos, o sujeito 
reconstrói a sua subjetividade e redefine a sua relação com o meio. Dessa nova 
relação, surgirá um novo sujeito social, que terá que buscar papéis sociais distintos 
dos já conhecidos, mas a partir desses. Parece-nos que, de fato, “nada se cria, tudo 
se copia”. Considerando-se verdadeira essa premissa, não havia do que ter medo. 
Você não concorda?
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
 Vídeos
Espaço, tempo, mundo virtual
CPFL, Café Filosófico. Espaço, tempo, mundo virtual: Marilena Chauí.
https://youtu.be/4Qj_M6bnE-Y
 Filmes
The Matrix (Matrix)
Direção e roteiro: Lilly Wachowski e Lana Wachowski, produção Joel Silver, Distribuição: 
Warner Bros. EUA, 1999.
https://youtu.be/m8e-FF8MsqU
The Matrix Reloaded
Direção e roteiro: Lilly Wachowski e Lana Wachowski, produção Joel Silver, Distribuição: 
Warner Bros. EUA, 2003.
https://youtu.be/kYzz0FSgpSU
The Matrix Revolutions
Direção e roteiro: Lilly Wachowski e Lana Wachowski, produção Joel Silver, Distribuição: 
Warner Bros. EUA, 2003.
https://youtu.be/hMbexEPAOQI
 Leitura
Modernidade: a construção do sujeito contemporâneo e a sociedade de consumo
COLOMBO, Maristela. Modernidade: a construção do sujeito contemporâneo e a 
sociedade de consumo. Rev. bras. psicodrama, São Paulo, v. 20, n. 1, p. 25-39, 
jun. 2012.
https://goo.gl/HMSRqf
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UNIDADE A Produção Cultural do Sujeito Contemporâneo
Referências
BHABHA, H. K. O local da cultura. 2. ed. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003. 
CANCLINI, Nestor Garcia. Culturas híbridas. São Paulo: Edusp, 2000.
GEERTZ, Clifford. Briga de galos em Bali. In: GEERTZ, C. A interpretação das 
culturas. Rio de Janeiro: Zahar Edit., 1978.
HALL, Stuart, (1997). A centralidade da cultura: notas sobre as revoluções de nos-
so tempo. Educação & Realidade, v. 22, nº 2, p. 15-46.
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 4. ed. Rio de Janeiro: 
L&PM, 2000.
HALL, Stuart. Da diáspora: identidades e mediações culturais. Belo Horizonte: 
Edit. UFMG, 2006. 
ORTIZ, Renato. A moderna tradição brasileira: cultura brasileira e indústria cul-
tural. 5.ed. São Paulo: Brasiliense, 2006.
SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consci-
ência universal. 6. ed. Rio de Janeiro: Editora Record, 2006.
SILVA, Tomaz Tadeu da (Org.). Identidade e diferença: a perspectiva dos Estudos 
Culturais. 1. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1999.
THOMPSON, John B. Ideologia e cultura moderna. Petrópolis: Vozes, 1985.
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• Introdução;
• A Cultura Feudal;
• A Cultura Mercantilista;
• A Sociedade de Produção;
• A Sociedade do Consumo;
• Considerações Finais.
• Espera-se que ao final do conteúdo você seja capaz de refletir conscientemente sobre 
como a produção e o consumo influenciam a cultura, bem como o modo como esses 
comportamentos são influenciados culturalmente e se influenciam mutuamente.
OBJETIVOS DE APRENDIZADO
Cultura e Consumo ou 
Cultura do Consumo?
UNIDADE Cultura e Consumo ou Cultura do Consumo?
Contextualização
Para iniciarmos o nosso diálogo, sugiro que você assista ao vídeo a seguir e 
reflita sobre o impacto da ação do homem sobre o ambiente e como esse impacto 
modifica as relações existentes, a cultura e a identidade do sujeito social.
O vídeo indicado é “A História das Coisas”. Disponível em: https://youtu.be/xEgPp1VGWsM
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Agora que você já assistiu ao vídeo, pense no quanto você é capaz de perceber 
os muitos aspectos da cultura atual, bem como no modo como se percebe partici-
pante dessa cultura.
Será que, semelhantemente ao que ocorre na Política nacional, você considera 
a cultura como algo à parte, da qual não faz parte diretamente?
Está suficientemente claro para você o seu padrão de comportamento social dian-
te da realidade? Em quais aspectos você percebe que os fatores globais afetam as 
relações? O que você, como sujeito social, cidadão consciente, pode fazer para assu-
mir uma postura mais ativa, diante daquilo que acredita ser o correto a fazer? Quais 
dessas ideias são genuinamente suas e quais foram assimiladas da fala social vigente?
Esses questionamentos podem nos apontar o caminho da emancipação do pen-
samento e impulsionar a construção do nosso conhecimento. É possível que, assim 
como propunha Sócrates, nós nos deparemos com o nosso completo ou parcial des-
conhecimento, mas não devemos desistir dessa empreitada, afinal, lembre-se de que 
Descartes já nos alertou sobre isso ao postular o famoso cogito: “Cogito, ergo sum”.
Veja: normalmente, a frase de Descartes é traduzida para “Penso, logo existo”. 
Nesse sentido, o pensar, o despertar consciente do pensamento, é o responsável pela 
percepção da realidade e pela percepção do ego, sujeito de si mesmo. Isso é, por essa 
premissa, é por meio do pensar que nos damos conta da nossa própria realidade.
Parece simples, não é mesmo?!
Entretanto, não é bem assim.
Primeiramente, porque o ato de pensar de forma assertiva requer certo preparo, 
ou seja, para refletirmos sobre algo, devemos, inicialmente, ter um dado conheci-
mento sobre esse algo.
Além disso, alguns estudiosos defendem que a famosa frase de Descartes deva 
ser traduzida da seguinte forma: “Penso, portanto, sou”.
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Isso, certamente, muda o nosso modo de pensar, pois se penso e, por conse-
guinte, sou, o pensamento não somente é responsável pela percepção da realida-
de, mas produz a própria realidade e define a identidade do sujeito social.
É justamente com esse olhar que devemos considerar a construção do nosso 
conhecimento.
René Descartes (1596-1650) foi um filósofo e matemático francês. Ele criou o método da 
dúvida sistemática, no qual colocou tudo em dúvida, até a própria existência. Para resolver 
esse impasse, o filósofo, formulou o “cogito”: “Cogito, ergo sum”.
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UNIDADE Cultura e Consumo ou Cultura do Consumo?
Introdução
Temos a tendência de acreditar ou aceitar a ideia de que as coisas sempre foram 
assim ou que caminharam naturalmente e de forma linear para o que são atualmente.
Metaforicamente falando, é como se, ao observarmos uma árvore, com sua 
copa frondosa, nunca ou quase nunca podada, sem conhecermos o conceito de 
árvore, acreditássemos que ela já nasceu daquela forma ou, simplesmente, ignorás-
semos a existência do caule e as raízes da árvore.
Ora, a formação primeira da árvore está nas raízes, que também são a sua sus-
tentação. Na sequência, temos o caule, que dá forma a essa árvore. Nessa análise, 
o caule é a transição entre o seu estado primeiro e o que seu aspecto mais aparente 
e atual, a copa da árvore, de onde se observam os frutos.
Contudo, de forma literal, o fruto de uma árvore sempre cairá próximo de seu 
caule e, de certa forma, apontará para as suas raízes. Além disso, se considerarmos 
que esse fruto poderá gerar uma nova árvore, devemos conceber aideia de que 
ele tem em si a constituição da árvore, sua forma primeira e intermediária, mesmo 
sendo o seu produto final.
Figura 1
Fonte: iStock/GettyImages
Você deve estar se perguntando: se é assim, por que é tão difícil perceber as 
muitas fases dessa árvore em seu produto final, o fruto?
Bom, deve ser pelo simples fato de que estamos na famosa “era do imediatismo”. 
Não dispomos de muito tempo para observarmos, bem como, não nos prendemos 
em tal observação. Vivemos no tempo do imediatismo do fast. Tudo deve ser rea-
lizado com a maior rapidez, pois, como a área econômica vem alertando desde a 
década de 1990, o tempo é o nosso recurso mais escasso.
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Paradoxalmente, defendemos o famoso “Just In Time”, em que tudo deve ser 
feito na hora certa, o que, invariável e inevitavelmente significa fazer tudo no me-
nor tempo e com a máxima qualidade.
Contudo, você já se perguntou como era antes? Não lhe intriga pensar sobre 
a biografia dos grandes pensadores que viveram até o Iluminismo? Por que, apa-
rentemente, todos eles se ocupavam de mais de uma coisa? Como poderiam ser 
físicos, matemáticos, filósofos etc. e hoje somos estimulados a nos tornarmos es-
pecialistas numa área específica?
O que mudou, a cultura do conhecimento ou o próprio homem?
Para respondermos a esses questionamentos, deveremos estar habituados ao 
desenvolvimento cultural, isso é, social, político e econômico, reconhecendo que 
a história do pensamento passou por sensíveis e radicais modificações, desde que 
o homem se deu conta da importância da razão, diferenciando-a do mito e, mais 
tarde, do pensamento teológico.
É sabido que, no início, o mito era utilizado para explicar o mundo. A história 
da própria Sociedade pode ser explicada a partir do mito. Isso quer dizer que para 
compreendermos o modo primeiro de pensar de um povo, devemos conhecer os 
seus mitos. Muitos pensadores se deram conta disso e, assim como Freud, busca-
ram explicar a realidade a partir de um mito existente. Trata-se de atualizar o modo 
de perceber um comportamento.
Muito antes disso, em Platão, por exemplo, vemos a utilização do mito para ex-
plicar uma ideia complexa. Quando Platão propõe o Mito da Caverna, ele nos dá 
uma alegoria aparentemente simples para explicar o comportamento social. Dessa 
forma, em certa medida, percebemos que a mitologia expressa o comportamento 
social, político e até mesmo econômico de um provo.
Considerando o exposto, seria prudente que, na próxima vez que nos dermos 
conta de um mito, buscássemos compreender aquilo que se chama de moral da 
história, isso é, o que tal alegoria tem a nos ensinar.
Contudo, lembremos que a nossa missão aqui é compreender a historicidade 
da produção e do consumo. Sendo assim, nós nos concentraremos na produção 
cultural de algumas das fases de desenvolvimento social, político e econômico.
A Cultura Feudal
O Feudalismo pode ser compreendido como uma forma de organização social, 
política e econômica. O nome Feudalismo deriva da palavra feudo, que designa 
uma unidade de produção autossuficiente ou, se preferir, uma propriedade rural. 
O auge do Sistema Feudal ocorreu entre os séculos X e XI d.C.
A origem da cultura feudal ocorre num momento de crise do escravagismo ro-
mano e das constantes invasões germânicas, o que levou a uma ruralização em de-
trimento da antiga vida social urbana. Contribuiu, também, para o Sistema Feudal 
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UNIDADE Cultura e Consumo ou Cultura do Consumo?
o fato do então imperador do ocidente, Carlos Magno, ter o hábito de distribuir as 
terras conquistadas entre os militares de sua confiança, o que criou uma descentra-
lização administrativa.
Contudo, o isolamento da região europeia do resto do mundo, que levou à 
autossuficiência dos feudos, ocorreu em decorrência do Império Carolíngio e das 
muitas invasões que a região sofreu pelos normandos, pelos magiares e pelos 
árabes-muçulmanos.
Após a desintegração do Império Romano do Ocidente, surge o Reino Germânico, conhe-
cido como Reino Franco, que deu origem ao Império Carolíngio, quando, três séculos após 
a desintegração do Império Romano, Carlos Magno reunificou parte desse território sob 
o poder franco. O Império Carolíngio surge quando o Papa Leão III coroa Carlos Magno 
imperador, em Roma.
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Há de se considerar que a cultura feudal é originária das tradições romanas e dos 
costumes germanos, que se fundiram no Feudalismo. Assim sendo, é herdeiro des-
sas culturas, que se misturavam desde o século V d.C., o que implica dizer que essa 
cultura apresentava as suas singularidades, mas tinha as suas raízes nas culturas que 
a originaram. Não se trata de uma reprodução de partes de outras culturas, mas da 
construção de uma identidade cultural nova, a partir de culturas já existentes.
Exemplo claro disso é que, diferentemente das culturas que a originaram, a cul-
tura feudal pode ser compreendida como essencialmente teocêntrica, na qual se 
compreende que Deus é o centro do Universo e que, portanto, nada acontece sem 
o seu consentimento e vontade.
Certamente, você deve ter recordado os conceitos de destino e carma. Essas 
ideias de que há uma força invisível que rege todos os acontecimentos e regula os 
comportamentos pode, facilmente, ser correlacionada ao pensamento da época.
Veja, ainda nos tempos de hoje, temos crenças muito similares ao período feudal, 
mas como isso é possível?
É simples.
Em nosso sistema de crenças ainda impera a crença religiosa cristã. Isso mesmo: 
temos o Cristianismo como herança cultural desde esse período histórico, no qual 
a Igreja Católica foi a mais importante instituição europeia, mantendo a sua impor-
tância social até a Idade Média.
A Igreja Católica esteve dividida em alto e baixo clero. O alto clero era composto 
pelo papa, pelos bispos e pelos cardeais, enquanto o baixo clero continha os padres.
É importante compreender isso, pois a Igreja, por meio do clero, legitimava e 
justificava as práticas sociais, econômicas e políticas do Feudalismo. A permanên-
cia nos grupos sociais de origem, por exemplo, era defendida pelo clero, que justi-
ficava que essa era a vontade de Deus e, assim sendo, era algo natural, que deveria 
ser respeitado por todos.
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Ocorria o mesmo em todas as Áreas: Ciências, Artes, Literatura etc. Os temas 
eram sempre de inspiração religiosa. A ciência buscava explicar os fenômenos 
naturais a partir da visão bíblica. Já as obras literárias eram escritas e reproduzidas 
na língua oficial da Igreja, o latim. Você deve ter Ciência de que, naquela época, a 
população geral, isso é, nobres e servos, não dominava o latim, pois a Educação, 
leitura e escrita, era monopólio do clero.
Justamente por esse motivo, o clero mantinha a sua importância, pois os nobres de-
pendiam de assessores eclesiásticos para comporem os seus quadros administrativos.
Em relação à produção e consumo, devemos nos lembrar de que cada feudo 
funciona como um país autossuficiente do Senhor Feudal, que continha o clero, os 
nobres e guerreiros e os servos.
Sendo assim, a Economia feudal era agrária e de subsistência, o que implica 
dizer que cada feudo produzia o necessário para a sua manutenção e o excedente 
era trocado entre os produtores, sem a utilização de uma moeda. Chamamos essa 
prática de escambo.
Figura 2
Fonte: Pixabay
Durante esse período, as atividades comerciais monetárias praticamente não 
existiam, pois a Europa mantinha-se isolada dos Mercados existentes e, como já 
dissemos, não havia relação comercial monetária entre os feudos, apenas a troca 
natural de um produto por outro, certamente por influência da Igreja.
O lucro e a cobrança de juros (usura) eram terminantemente proibidos, o que 
acabava por desestimular a prática comercial, que tem essas premissas.
Contudo, por iniciativa da Igreja, criaram-se as CRUZADAS, verdadeiras expedi-
ções religiosas e militares, que tinham o objetivo de combater e de punir os infiéis, 
sobretudo os mulçumanos. Foi, justamente, por meio das Cruzadas que o Feudalismoconheceu o seu fim e se abriu um novo tempo para a cultura europeia.
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UNIDADE Cultura e Consumo ou Cultura do Consumo?
A Cultura Mercantilista
As Cruzadas provocaram o renascimento comercial, com a reabertura do Mar 
Mediterrâneo e o restabelecimento das relações comerciais entre o Ocidente e o 
Oriente, bem como, a ampliação dos Mercados e a intensificação do uso de moe-
das ou dinheiro, pois os Cruzados, em sua expansão europeia contra os islamitas, 
apoderaram-se de moedas e de metais preciosos, utilizados para a sua fabricação.
De igual modo, aprenderam com eles (islamitas) algumas técnicas comerciais, 
tais como o uso de Letras de Câmbio, Contabilidade e Criação de Bancos.
Com o fim das invasões árabes, normandas, húngaras e eslavas houve na Eu-
ropa um acentuado crescimento demográfico e, por consequente, a produção dos 
feudos tornou-se insuficiente para o atendimento da crescente demanda.
Em decorrência disso, os habitantes começaram a sair dos feudos, livremente ou 
expulsos pelos Senhores Feudais. Alguns desses sujeitos dirigiam-se aos aglomera-
dos urbanos, onde se tornaram comerciantes ambulantes e, mais tarde, viriam a se 
tornar os burgueses.
No mesmo período, houve o cultivo de novas terras e os seus ocupantes se esta-
beleciam nelas na condição de homens livres e, portanto, não estavam mais sob o 
julgo dos senhores feudais e poderiam praticar o comércio livremente.
Com a reabertura das rotas comerciais, pelo Mediterrâneo, Mar do Norte e da 
Champagne, o renascimento do comércio pode fluir livremente. A grande circulação 
de mercadores nessas rotas levou à fixação de pontos estratégicos para a realização 
das trocas comerciais, em que os comerciantes poderiam negociar suas mercadorias 
em períodos determinados. Esses encontros sazonais eram chamados de feiras.
Os burgos, verdadeiros núcleos urbanos com ativa produção artesanal e intensas 
relações comerciais surgiram dos locais onde as feiras eram realizadas.
Veja: as feiras deram origem às Letras de Câmbio, uma espécie de Títulos ao 
portador, que poderiam ser descontados em outras cidades. Ocorre que chegou um 
momento em que havia muitos tipos de Letras de Câmbio ou moedas e, consequen-
temente, surgiram os cambistas, que trocavam essas moedas para os seus clientes.
Nos burgos, também era possível encontrar as primeiras casas bancárias e a 
prática do empréstimo a juros tornou-se recorrente, muito embora a Igreja Católica 
ainda condenasse a usura.
Feira mercantil da era pós-feudalismo: https://goo.gl/DwjHCV
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A atividade mercantil deu origem a uma política econômica que conhecemos 
como Mercantilismo ou Capitalismo comercial. O Mercantilismo remonta ao perí-
odo histórico, político e econômico em que a produção advinha do trabalho assala-
riado e o acúmulo de capital ocorria por meio da atividade comercial.
Pode-se perceber, portanto, que o comércio se constituía como a principal ati-
vidade, centralizando os interesses econômicos, deixando agricultura, artesanato e 
manufatura como atividades secundárias e totalmente dependentes dele.
Há aqui a ideia de que se deve produzir para alguém e, portanto, essa demanda 
deve ser crescente, para que o negócio possa se expandir. Diferentemente do que 
ocorria no Feudalismo, não se produz apenas para a subsistência, mas para aten-
der aos interesses de Mercado.
A Burguesia surge como uma nova classe social, que precisa se manter na es-
fera social e cultural. Perceba que esse período simboliza uma mudança acentuada 
do modo de vida do povo europeu. 
Os costumes, ritos e práticas origi-
nários da cultura feudal tiveram de 
dar lugar a uma nova cultura que 
não poderia mais simplesmente 
colar Deus no centro de tudo.
O homem passou a ser com-
preendido como o centro do Uni-
verso durante o Período Medieval. 
A Filosofia da Teologia Cristã modi-
ficou-se para possibilitar o desenvol-
vimento e o fortalecimento da práti- 
ca mercantil.
Sendo o homem o centro do Uni-
verso, aquele que atrai para si todo 
o movimento da realidade, seu eixo, 
em torno do qual todas as coisas são 
espacialmente situadas, pode ele al-
terar a própria realidade, tomando 
para si o que compreende que lhe 
é de direito.
Dessa forma, não cabe mais o pensamento de que a posição social seja a vonta-
de incontestável de Deus. Cabe, no entanto, o pensamento de que o homem “deve 
sobreviver do suor do seu rosto” e, teoricamente, por meritocracia: quando mais 
trabalhar, mais acumulará para si o capital.
Figura 3
Fonte: WikimediaCommons
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UNIDADE Cultura e Consumo ou Cultura do Consumo?
Você se lembra da célebre frase de Descartes: “Penso, logo sou”? Pois bem, ela 
não somente parece se encaixar nesse período, como realmente se encaixa.
De igual modo, ela também nos aprece muito atual, não é mesmo?
Isso ocorre porque o sistema social, econômico e político que vivemos hoje ain-
da é semelhante ao Mercantilismo, sendo esse o embrião do atual Capitalismo ou, 
se preferir, suas raízes.
Contudo, o período histórico possuía as suas singularidades e, sendo assim, não 
há apenas semelhanças. Entre as características centrais do Mercantilismo estão a 
intervenção do Estado, o metalismo e o colonialismo.
A ascensão da Burguesia dependia do fortalecimento do rei e, portanto, a inter-
venção econômica do Governo tinha por objetivo fortalecer e regulamentar a estru-
tura financeira do reino, o que possibilitou a constituição de exércitos e marinhas.
O Mercantilismo pode ser compreendido como uma Política econômica a servi-
ço do Estado, que deu origem ao Estado Moderno. Nesse sentido, havia a neces-
sidade de manter um estado de equilíbrio favorável ao Rei, por meio de entrada e 
saída de metais preciosos.
Considerando-se que a riqueza de um país era mediada pela quantidade desses 
metais em sua fronteira, havia a necessidade de uma Política protecionista baseada 
em altas taxas alfandegárias. Dessa forma, um produto estrangeiro se tornava tão 
encarecido, que seria mais vantajoso adquirir um produto nacional, mantendo a 
moeda em circulação dentro do próprio território.
Devemos, no entanto, considerar que a produção de recursos não é algo ines-
gotável, pelo contrário. Sendo assim, existia a necessidade de manter colônias 
exploratórias, isso é, conquistar e explorar terras fora da Europa, que pudessem 
fornecer valiosos produtos para a Metrópole.
A importância das Colônias, contudo, não estava apenas no fornecimento des-
ses produtos, mas também residia no fato de que elas eram obrigadas a consu-
mirem, por meio do monopólio, as manufaturas da Metrópole, é claro, a preços 
bastante elevados, já que não havia concorrência. Dessa forma, os comerciantes 
burgueses ficavam com todo o lucro, enquanto os produtores coloniais eram dupla-
mente explorados.
A cultura mercantil, por sua vez, abriu espaço para a cultura liberal. A teoria po-
lítica e social conhecida como Liberalismo foi a primeira crítica do Mercantilismo.
Naturalmente, a essa altura você já deve ter se dado conta de que esse tipo de 
mudança de pensamento somente é possível mediante uma modificação da estru-
tura sociocultural, não é mesmo?!
Até aqui, revisitamos a História de forma mais linear, para que seja possível 
compreender as raízes do sistema sociopolítico e cultural atual, a fim de criarmos 
um arcabouço conceitual capaz de sustentar uma reflexão mais emancipatória e, 
portanto, menos centrada na realidade empírica, mas capaz de refletir sobre ela.
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Será necessário um desprendimento que somente é possível a partir da clarifi-
cação de fatos.
De certo, você ainda deve ter muitas dúvidas que, certamente, buscará escla-
recê-las, pois em nossa construção do conhecimento a pesquisa se faz presente e 
altamente necessária.
Ao longo dessa constituição do saber, a dúvida se faz a motriz do conhecimento, 
ou seja, é aquilo que nos coloca em constante movimento, na busca de respostas 
para aquilo que ainda não compreendemos ou não compreendemos tão bem.
Saber reconhecer a própria ignorância tem sidouma virtude a serviço do co-
nhecimento. Nessa empreitada, não cabe a utilização de conceitos rasos ou ideias 
concebidas a priori.
A práxis, ação-reflexão-ação, requer uma análise conceitual da realidade. Nesse 
sentido, cabe destacar que a cultura é mutável, portanto, devemos nos permitir 
analisar a realidade em suas mutações.
A Sociedade de Produção
Quando falamos em Sociedade de produção, estamos nos referindo a um Sis-
tema Cultural constituído a partir da ideia de que se deve produzir para acumular 
propriedades. Nesse modelo sociocultural, o ter ocupa grande destaque.
Você já ouviu a expressão: “Você vale aquilo que possui”? Pois bem, essa máxima 
reproduz a principal ideia desse modelo.
O sujeito não é apenas uma pessoa, mas também o seu trabalho e, principal-
mente, as suas propriedades. É claro que por propriedades estamos nos referindo 
a tudo aquilo que é produzido pelo sujeito, inclusive a sua produção intelectual. No 
Brasil, por exemplo, a produção intelectual de um cidadão é protegida pela Lei 
9.610, de 1998.
A Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, que altera, atualiza e consolida a Legislação sobre 
Direitos Autorais e dá outras providências tem por objetivo proteger os Direitos Autorais e o 
seu equivalente. Saiba mais acessando o seguinte link: https://goo.gl/jJFBGr
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Todavia, essa ideia é relativamente nova, o contrário da importância dada às 
propriedades físicas, tais como terras, móveis e imóveis. A cultura centrada na 
produção valoriza as relações com outros cidadãos possuidores de propriedades 
semelhantes. A ordem social organiza-se, portanto, em uma esfera ocupada pelo 
homem por meio dos bens que possui.
Sabemos que houve um período em que Deus foi compreendido como o centro 
do Universo e que tudo era explicado por meio da vontade ou intervenção divina.
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UNIDADE Cultura e Consumo ou Cultura do Consumo?
Nesse período, a permanência numa determinada classe social era justificada 
por meio do pensamento teológico e, portanto, era incontestável. A produção in-
telectual era privilégio do clero, que monopolizava a escrita e a leitura.
Havia, certamente, de se esperar que as manifestações culturais fossem conside-
radas propriedade da Igreja. O alto e o baixo clero determinavam, de certo modo, 
o modo de pensar e, por conseguinte, o comportamento social.
Contudo, com a ideia de que o homem ocupa o núcleo do Universo, modifica-
-se a lógica social. A cultura passa a ser uma forma de expressão do homem, sua 
criação e, em certa medida, criadora desse homem.
A cultura de produção implica ter para quem produzir, isso é, na lógica mercantil 
e de Mercado, deve-se atender às demandas que são crescentes.
Nesse sentido, observar a cultura torna-se essencial. Você já ouviu falar em pes-
quisa de Mercado? O que, de fato, busca-se saber quando se realiza uma pesquisa 
desse tipo?
Bom, de forma bem genérica, busca-se saber a aceitação de um determinado 
produto ou bem de consumo, isso é, o quão inserido na cultura local está o produto 
que se pretende produzir.
Certamente, não se abre uma Empresa, por exemplo, em qualquer localidade. 
Deve-se conhecer as questões geográficas e demográficas antes de estabelecer uma 
organização comercial em determinado lugar.
Você percebe que tudo isso envolve o conhecimento da cultura sociopolítica 
e econômica?
Contudo, retornemos ao fato de que nesse modelo deve-se produzir para aten-
der à demanda e acumular bens. Aqui a cultura de Mercado já é comercial, mas 
está se constituindo como industrial.
No modelo manufatureiro, a produção comercial está centrada na comercializa-
ção de bens produzidos pelo artesão ou tecelão. Esse produtor detém o conheci-
mento total e completo de toda a fabricação do produto e, portanto, identifica-se 
com o produto final como sendo o fruto do seu trabalho.
Já no modelo industrial, a crescente produção implica fragmentação do tra-
balho, de modo que não é mais possível haver uma identificação com o produto 
final, pois, muito embora o trabalhador tenha colaborado para a sua produção, ele 
desconhece todo o processo, pois executa apenas uma parte.
Há aqui o desejo de se tornar possuidor desse produto em substituição ao desejo 
de se tornar produtor, como forma de compensar o não saber. Aparentemente a 
alienação cria o desejo de possuir, de acumular: “Eu não sou, mas tenho. Logo, 
sou o que tenho”.
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A Sociedade do Consumo
Esse modelo social está organizado para a cultura do consumo. Já se aceita a 
condição da não produção ou da produção parcial e se adota um estilo de vida es-
pecífico de consumo. O consumo passa a ser estimulado desde a infância e conta 
com o fundamental apoio da mídia.
Não se busca apenas atender às demandas, mas aos desejos. Contudo, cabe 
destacar que nesse modelo cultural há a criação de desejos ou, se preferir, de falsos 
desejos. A Indústria da moda, por exemplo, é responsável por criar necessidades 
que não são de ordem prática, mas que representam muito na vida social do cida-
dão contemporâneo.
Você já percebeu que determinados modelos entram e saem de moda com pe-
quenas variações? Sendo assim, por que apenas guardar uma peça de roupa ou 
de calçado não é satisfatório? Por que temos que consumir? Ora, o consumo é a 
forma que temos para nos conectarmos à realidade atual, de nos mantermos “an-
tenados”, “ligados” ao que está acontecendo. É o modo em que nos reconhecemos 
como pertencentes a um determinado grupo ou classe.
Há de se destacar que quando se alcança um padrão de consumo, tenta-se, a 
qualquer custo, mantê-lo.
Você já ouviu alguém relatar sobre como percebeu ou percebe uma crise? Geral-
mente, esse relato envolve o seu padrão de consumo. Perceba que o estilo de vida 
do sujeito está organizado em seu padrão de consumo.
Assim sendo, a modificação desse padrão implica a destituição da identidade do 
sujeito contemporâneo, que não se reconhecerá mais enquanto cidadão da classe 
A ou B se mudar seu padrão de consumo.
Todavia, atualmente, não se consomem apenas produtos e coisas, consomem-se 
desejos, isso é, a busca do alcance do ideal de ego tornou-se ainda mais imperativa. 
Isso quer dizer que o sujeito busca se tornar aquilo que deseja. Paradoxalmente, 
isso nos traz a um estado de consciência anterior, em que o Mito estava presente na 
vida cotidiana de modo inseparável, ajudando a organizar e a atribuir significados a 
tudo aquilo que não se conseguia explicar na ordem prática.
O mito do corpo perfeito, por exemplo, coloca o sujeito numa posição de con-
sumo permanente, pois o corpo real jamais será igual ao corpo ideal, seja porque 
envelhece, seja porque adoece, seja porque morre.
Aceitar essas ideias implica uma ação dolorosa, seja porque se aceita a finitude 
da vida e os limites físicos do corpo e, portanto, deve-se lidar com o luto ao corpo, 
seja porque se busca alcançar demasiadamente um produto que não está à venda.
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UNIDADE Cultura e Consumo ou Cultura do Consumo?
Devemos saber, no entanto, que na atual cultura, os “produtores de desejo” estão 
atentos aos comportamentos do cidadão e que tratarão de criar novas formas de sa-
tisfação pelo consumo, que, em certa medida, está ligado à objetificação dos corpos.
Isso mesmo, o corpo passou a ser um objeto exposto num comercial, o que não 
implica dizer que se pode conquistar aquele corpo, mas aplacar o desejo de tê-lo 
por meio de um produto por ou para ele exibido. Não se é apenas aquilo que se 
tem, mas aquilo que se consome.
O comportamento consumista determina a classe sociocultural a que se pertence. 
É de se esperar, portanto, que um sujeito se sinta deficiente e abaixo do padrão 
quando não responde com prontidão aos apelos do consumo.
Dessa forma, a proteção da autoestima e da manutenção de um padrão social 
perpassa a premissa de que se deve consumir constantemente. Nesse sentido, o 
consumo evita a marginalização, no sentido de que impede que o sujeito seja tra-
tado à margem da Sociedade.
Os padrões de consumo criam uma identificação com outros

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