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Anotações informais acerca do novo processo Nota 03 S U M Á R I O : 1. Considerações iniciais; 2. Evo- lução histórica do direito fundamental ao con- traditório; 3. As múltiplas facetas do contradi- tório. Contraditório e Colaboração; 4. O direito fundamental ao contraditório no CPC/2015; 5. Conclusão. 1. À luz da teoria do formalismo-valorativo, a forma em sentido amplo constitui o leito onde vão desaguar os valores e prin- cípios dominantes em dada sociedade. O próprio formalismo, nessa percepção, tem por bases internas o procedimento, o fator temporal e o contraditório (ALVARO DE OLIVEIRA. Do formalismo..., Saraiva, 2010, passim). De todos estes alicerces, o que mais interessa aqui é o contraditório. Com efeito, almejando-se discutir saídas a um processo civil de matizes democráticos, a análise do direito fundamental ao contraditório é crucial. A importância do tema se alarga, pois, o re- ferido direito fundamental vem sofrendo, de tempos para cá, cons- tantes releituras, todas com o desígnio de abrir as portas do Judici- ário ao diálogo, despolarizando o processo e estabelecendo novas fa- ces à justiça. D I R E I T O F U N D A M E N T A L A O C O N T R A D I T Ó R I O « 2 » 2. O direito ao contraditório, por longo período, foi en- xergado pela doutrina e jurisprudência como simples garantia de audiência bilateral (audiutur et altera pars). Esse vislumbre ressai da clássica definição de JOAQUIM CANUTO MENDES DE ALMEIDA, para quem o contraditório se resumiria na “ciência bilateral dos atos e termos e a possibilidade de contrariá-los” (A contrariedade..., USP, 1937, n.º 80, p. 110). A percepção foi integralmente acolhida no art. 234 do CPC/1973, passando, durante anos, infensa às críticas. Segundo essa doutrina clássica, alerta PISANI, o conteúdo necessário e suficiente do direito ao contraditório consistia em co- locar a outra parte na possibilidade de contradizer. Isso bastava. Fi- tava-se tão só assegurar a igualdade das partes no processo e explo- rar a contradição e o embate, deixando o juiz em melhores condições de decidir (cf. Lezioni..., CEDEJ, 2002, p. 203). Essa visão remonta ao positivismo da segunda metade do século XIX e da primeira metade do século XX. A lógica jurídica rí- gida, vigente à época, encarregou-se de esvaziar a função axiológica do contraditório, desclassificando-o como mero princípio proces- sual. Nas décadas de 20 e 30 do século passado, expressivos autores, do quilate de CARNELUTTI e BETTI, criticaram acintosa- mente a generalização do contraditório. BETTI, por exemplo, chegou a afirmar que uma decisão justa poderia ser atingida sem a coopera- ção ou diálogo com as partes, inclusive desestimulando-o. Em para- lelo, na Alemanha nacional-socialista, chegou-se a defender a su- pressão completa do contraditório no processo civil e a absorção do “processo de partes” no procedimento oficioso de jurisdição volun- tária (cf. GRECO. O princípio do contraditório, Estudos..., FDC, 2005, p. 543; NUNES. O princípio do contraditório. Revista síntese..., v.5, n.29, mai./jun. 2004, p. 75; PICARDI. Il principio del contraddittorio. ANOTAÇÕES INFORMAIS ACERCA DO NOVO PROCESSO CIVIL | Nota 03 « 3 » Rivista di Diritto Processuale, jul./set. 1988, p. 677; CABRAL. Contra- ditório. Dicionário, Elsevier, 2011, p. 193-4). Após o segundo pós-guerra, com a reconstrução do Es- tado de Direito, iniciam-se os movimentos de constitucionalização, fortificando-se a ideologia kantiana acerca da primazia da pessoa humana e a eficácia concreta dos direitos fundamentais: os direitos fundamentais processuais, nesse panorama, voltaram a encontrar morada constitucional (cf. GRECO. O princípio do contraditório, Es- tudos..., FDC, 2005, p. 543; NUNES. O princípio do contraditório. Re- vista síntese..., v.5, n.29, mai./jun. 2004, p. 75; CABRAL. Contraditório. Dicionário..., Elsevier, 2011, p. 194). O direito ao contraditório passou a constar explicita ou implicitamente nas Constituições modernas, como da Constituição da República Federativa do Brasil, de 5 de outubro de 1988, em seu art. 5.º, inc. LV. Com essa guinada, explica GRECO, o contraditório deixa a categoria de princípio processual e passa a representar no pro- cesso judicial “a expressão garantística do princípio da participação democrática, ganhando em conteúdo e deixando de ser apenas uma regra que impunha a marcha dialética do processo para desdobrar- se em uma série de regras de observância obrigatória porque repre- sentativas de direito de influir nas decisões estatais que visem pro- duzir efeitos na sua esfera de interesses” (Jurisdição voluntária mo- derna, Dialética, 2003, p. 32 e 33). Esse é o grande salto: de princípio a direito fundamental (cf. GRECO. O princípio do contraditório, Estudos..., FDC, 2005, p. 544). O contraditório, nessa perspectiva, não mais se cinge às partes, mas se transforma em uma “ponte de comunicação de dupla via en- tre as partes e o juiz” (GRECO. O princípio do contraditório, Estu- dos..., FDC, 2005, p. 544). Reconhece-se o contraditório como ver- dadeiro “cardine della ricerca dialletica” (cf. PICARDI. Adiautur..., Rivista Trimestrale..., Giuffrè, 2003, p. 9), por meio do qual garante- D I R E I T O F U N D A M E N T A L A O C O N T R A D I T Ó R I O « 4 » se a participação democrática e uma decisão “em média” mais justa, pois, resultado do diálogo trilateral entre ator-réu-juiz (cf. CON- SOLO-GODIO. Commentario del Codice..., v.II, UTET, 2012, p. 38; GIORDANO. Codice..., CEDAM, 2013, p. 25). Com efeito, a moderna visão do direito fundamental ao contraditório, acolhida expressamente no art. 16 do Nouveau Code de Procédure Civile francês, nos arts. 3º e 569º, n. 1, do Código de Pro- cesso Civil português, art. 101 do Codice di Procedura Civile italiano e o §139 da ZPO alemã, deve ser visualizada como “a trave mestra do sistema processual civil” (PAIS DE AMARAL. Direito..., Almedina, 2013, p. 17). O seu escopo principal deixa de ser a defesa, no sentido negativo (isto é, oposição ou resistência à atuação alheia), para pas- sar a ser a influência, no sentido positivo, consubstanciando o direito de incidir ativamente no desenvolvimento e no êxito do processo (LEBRE DE FREITAS. Introdução..., 2006, p. 109). E é nessa toada que o juiz, embora dirija processual e materialmente o processo, agindo ativamente, fá-lo-á de maneira dialogal, colhendo a impressão das partes a respeito dos eventuais rumos a serem tomados no processo, possibilitando que essas dele participem, influenciando-o a respeito de suas possíveis decisões. Não há mais espaço para dúvida: “toda condução do processo dá-se com a observância, inclusive com rela- ção ao próprio juiz, do contraditório” (MITIDIERO. Colaboração..., RT, 2011, p. 82). 3. O processo, em síntese, é a organização jurídica do con- traditório; é contraditório em seu desenvolvimento (MONTELEONE apud GRASSELLI. Il nuovo processo..., CEDAM, 2012, p. 22). A comple- xidade do fenômeno processual induz à complexidade do direito ao contraditório, que, hodiernamente, assume uma admirável feição poliédrica. A doutrina, lastreada nas lições PICARDI (cf. Il principio del contraddittorio. Rivista di Diritto Processuale, jul./set. 1998), no ANOTAÇÕES INFORMAIS ACERCA DO NOVO PROCESSO CIVIL | Nota 03 « 5 » trato do conteúdo do contraditório, costuma apontar diversos des- dobramentos da garantia, o primeiro dos quais é o da tradicional au- diência bilateral. O sentido moderno da audiatur et altera pars é o de adequada e tempestiva notificação do ajuizamento da causa e de to- dos os atospraticados no curso do processo, por meio de comunica- ções preferencialmente reais (GRECO. O princípio do contraditório, Estudos..., FDC, 2005, p. 547). Além disso, a audiatur et altera pars, na moderna acepção, deve ser compreendida como “direito de ser ouvido”, cujo conteúdo é mais extenso do que o mero “direito de falar”. Não à toa se encontra nos textos jurídicos de língua inglesa a expressão right to be heard (direito de ser ouvido) e nos de língua germânica a expressão Re- chtliches Gehör (direito de ser ouvido), funcionando, ambas, como si- nônimos do direito ao contraditório (cf. FERRAND. Ideological background..., IAPL Seul Conference, IAPL, 2014, p. 10; cf., no mesmo sentido, PICARDI-NICITA. Manuale..., Giuffrè, 2006, p. 210-212). O contraditório, para ser eficaz, deve ser prévio, isto é, anterior a qualquer decisão, devendo sua postergação (v. g., medi- ante liminares cautelares ou antecipatórias de tutela) ser excepcio- nal e fundamentada na zelosa ponderação dos riscos em jogo (GRECO. Garantias..., Novos estudos..., 2002, p. 23). FERRI, citado por GRECO, chega a afirmar que “o prévio contraditório é um instru- mento de civilidade jurídica e que o contraditório a posteriori dis- torce e reduz o sentido da garantia” (O princípio do contraditório, Estudos..., FDC, 2005, p. 547). Assim sendo, reconhece-se que, mesmo em se tratando de temas a respeito dos quais deva o juiz se manifestar ex officio, deve o órgão jurisdicional, atento ao direito fundamental ao contraditório, ouvir a parte contrária, evitando-se, assim, a prolação de “decisões surpresa” (art. 10 do CPC/2015). Outro componente essencial ao direito fundamental ao D I R E I T O F U N D A M E N T A L A O C O N T R A D I T Ó R I O « 6 » contraditório se traduz no “direito de se defender provando” (cf. CONSOLO-GODIO. Commentario del Codice..., v.II, UTET, 2012, 37-43, esp. 40), ou melhor, no direito de apresentar alegações, ter informa- ções claras sobre a distribuição do ônus probatório, propor provas, participar de produção de provas requeridas pelo adversário ou de- terminadas ex officio pelo juiz, discutir (escrita ou oralmente) as pro- vas produzidas e interferir na sequência dos resultados mediante a proposição de todas as providências úteis à defesa de seus interes- ses. Eis o que se convencionou chamar de “contraditório participa- tivo”, que, na presteza de YARSHELL, “é verdadeira condição de efi- cácia da prova” (Curso..., v.I, Marcial Pons, 2014, p. 108). De nada valeria estabelecer o direito fundamental de acesso à justiça e do contraditório se tais normas se limitassem à prerrogativa de alegação, sem abranger a eventual necessidade de prova do alegado. O direito à prova, alertam DIDIER JR.-OLIVEIRA- BRAGA, “é conteúdo do direito fundamental ao contraditório” (Curso..., v.2, JusPODIVM, 2015, p. 41). Alia-se, dessa forma, neces- sidade de adequada participação no processo com efetiva influência no provimento jurisdicional (Einwirkungsmöglichkeit). Mais uma projeção indispensável do direito fundamental ao contraditório é da congruidade ou razoabilidade dos prazos. O processo justo atribui ao juiz o poder-dever de, sem prejuízo da sua tempestividade, equacionar os prazos de acordo com as necessida- des defensivas da parte, que se modificam conforme as circunstân- cias da causa e as imposições do próprio direito material (cf. GRECO. O princípio do contraditório, Estudos..., FDC, 2005, p. 549). Assim, deve-se garantir que as partes tenham prazos suficientes para que os seus atos possam ser efetivamente proveitosos e influir na defesa dos seus interesses junto à autoridade judiciária. Também constitui aspecto fundamental do contraditório a igualdade concreta de armas (Waffengleichheit). CONSOLO-CODIO, ANOTAÇÕES INFORMAIS ACERCA DO NOVO PROCESSO CIVIL | Nota 03 « 7 » comentando o art. 101 do Codice italiano, explicam que só há contra- ditório quando as partes se encontram em condições de igualdade “mútua e simétrica”, seja no âmbito formal, seja no âmbito material (cf. Commentario del Codice..., v.II, UTET, 2012, p. 38-39). Superada a análise do conteúdo do contraditório, urge te- cer alguns comentários quanto ao seu modo de exercício. O contraditório, decerto, jamais poderá ser remetido à apreciação discricionária do juiz nem à mera iniciativa das partes, mas deve ser normativamente garantido em todo espaço processual. Aqui reside duas importantes facetas da garantia: o contraditório in- fluência (cf. CABRAL. Contraditório. Dicionário, Elsevier, 2011, p. 197- 201) e o contraditório preventivo (cf. ANDOLINA-VIGNERA apud CARRATTA. Funzione dimostrativa della prova. Rivista di Diritto Processuale, n.1, 2001, p. 100). Esse último parece congraçar-se ao chamado “princípio da colaboração”, muito bem sistematizado por MITIDIERO, na per- cepção de que o contraditório é tanto mais efetivo quanto mais coo- perativo for o processo (cf. Colaboração..., RT, 2011, passim). Embora a fina construção de MITIDIERO indique o contrário, a colaboração, a rigor, não é um princípio autônomo, mas uma forma de compreen- der o próprio contraditório (neste sentido: YARSHELL. Curso..., v.I, Marcial Pons, 2014, p. 111), algo que poderíamos bem chamar, na es- teira da doutrina italiana (supra), de “contraditório preventivo”. Com efeito, o direito de ser ouvido pelo juiz (Rechtliches Gehör) se opera não só mediante o confronto das partes, mas, tam- bém, por intermédio do dever atribuído ao magistrado de propiciar a influência das partes nas decisões tomadas, deixando-se influir. Na mesma esteira, ao magistrado é imposto o dever de debate preven- tivo, com as partes, sobre todas as questões a serem levadas em con- sideração nos provimentos (cf. NUNES. O princípio do contraditório. Revista síntese..., v.5, n.29, mai./jun. 2004, p. 78). Tudo isso sob a D I R E I T O F U N D A M E N T A L A O C O N T R A D I T Ó R I O « 8 » égide de uma visão cooperativa de processo, calcada na ideia de uma “comunidade de trabalho” (LEBRE DE FREITAS. Introdução..., Alme- dina, 2006, p. 153; cf. também: MITIDIERO. Colaboração..., RT, 2011, p. 110). Este multifacetário cenário implica, essencialmente, na ideia de recíproco condicionamento e controle das partes e da ativi- dade do órgão jurisdicional, a apontar algumas funções assumidas pelo contraditório: a uma, como já visto, garantir a igualdade subs- tancial das partes (PISANI. Lezioni..., CEDEJ, 2002, p. 204); a duas, satisfazer o interesse público e privado na descoberta da verdade possível e da realização da justiça (PISANI. Lezioni..., CEDEJ, 2002, p. 204 e 205); a três, estabelecer um termômetro de confiabilidade na decisão, possibilitando racionalizar o processo e evitar a ocorrên- cia de erros materiais ou atos extrinsecamente nulos (CONSOLO-GO- DIO. Commentario del Codice..., v.II, UTET, 2012, p. 40); a quatro, ga- rantir a legitimidade democrática da decisão, uma vez que elucu- brada à luz dos cânones da democracia participativa (RIBEIRO. O pa- pel do processo..., Da tutela jurisdicional..., Livraria do Advogado, 2010, p. 105); a cinco, garantir uma sequência ordenada e dialética de atos, com o poderoso condão de conter o arbítrio do juiz (ALVARO DE OLIVEIRA. Do formalismo..., Saraiva, 2010, p. 159; PISANI. Lezioni..., CEDEJ, 2002, p. 205). No que tange a esta última função, interes- sante é que o órgão judicial, ao mesmo tempo que se limita, garante com sua atividade a participação efetiva e igualitária das partes. É de se concluir, então, que “o juiz e as partes nunca estão sós no processo; o processo não é um monólogo: é um diálogo,uma conversação, uma troca de propostas, de respostas, de réplicas; um intercâmbio de ações e reações, de estímulos e impulsos contrários, de ataques e contra-ataques” (ALVARO DE OLIVEIRA. Do forma- lismo..., Saraiva, 2011, p. 159). É neste espaço “discursivo, argumen- tativo e dialético” (JORGE. Teoria geral dos recursos, Forense, 2001, p. ANOTAÇÕES INFORMAIS ACERCA DO NOVO PROCESSO CIVIL | Nota 03 « 9 » 179) que se constrói a decisão justa, mercê da colaboração ética e prestativa dos atores processuais. 4. O CPC/2015, desde sua redação original no Antepro- jeto, evidenciou a preocupação normativa em levar o princípio do contraditório a outro nível de compreensão. No seio da nova codifi- cação, o contraditório recebe uma nova significação, afinada com lei- turas modernas, passando a ser entendido como “direito de partici- pação na construção do provimento, sob a forma de uma garantia processual de influência e não surpresa para a formação das deci- sões” (THEODORO JR.-NUNES-BAHIA-PEDRON. Fundamentos..., Fo- rense, 2015, p. 74). A nova lei prevê baluartes procedimentais fortes ao con- traditório, dentre os quais se pode observar a garantia de influência e não surpresa, competindo ao juiz velar pelo contraditório efetivo (arts. 7.º, 9.º e 10 do CPC/2015), a boa-fé processual (art. 5.º do CPC/2015), o dever de cooperação (art. 6.º do CPC/2015) e a funda- mentação estruturada da decisão (arts. 10 e 489, §1.º, do CPC/2015). Esse sistema renovado visa à simetria de posições subje- tivas, além de assegurar aos participantes do processo a possibili- dade de dialogar e de exercitar um conjunto de controles, de reações e de escolhas dentro dessa estrutura, algo que já se apelidou de “pro- cesso policêntrico” (THEODORO JR.-NUNES-BAHIA-PEDRON. Funda- mentos..., Forense, 2015, p. 74). O escopo das alterações consiste em esculpir um pro- cesso civil de corte cooperativo, no qual todas as pessoas envolvidas no juízo possam oferecer a sua contribuição, constituindo um ver- dadeiro actum trium personarum (cf. MITIDIERO. Colaboração..., RT, 2011, passim). Para tanto, o contraditório se qualifica como chave- mestra, mediante a qual se influi no deslinde da causa. Nesse novo panorama, não havendo debate, a decisão é de todo ineficaz. Há, por- tanto, nítido dever de esclarecimento, prevenção, consulta e auxílio D I R E I T O F U N D A M E N T A L A O C O N T R A D I T Ó R I O « 10 » do órgão jurisdicional para com as partes. 5. Os desafios à concretização do direito fundamental ao contraditório vão além da mera alteração legislativa, por mais salu- tar que essa seja. Esses se imbricam na cultura do Judiciário. Só com o acolhimento integral dos novos vieses do contraditório, de forma plena e arrojada, é que a estampa do direito fundamental terá subs- tancial eficácia no CPC/2015. Os novos balizamentos, de pouco ou nada valerão se sobreviverem – na mentalidade dos atores processu- ais – percepções atrasadas acerca da função e funcionamento do di- reito processual. O ponto nefrálgico parece ser o Judiciário. Isso, pois, o novo sistema depende de um juiz que não se coloque como um “ad- ministrador secreto”, mas, sim, como o homem a quem cabe a honra de decidir sobre relações jurídicas tornadas litigiosas entre cidadãos livres (FRITZCHE apud ALVARO DE OLIVEIRA. Do formalismo..., Sa- raiva, 2010, p. 197). Toca-lhe, nessa nova perspectiva, estimular as partes a participar de forma ativa e leal da formação da decisão, em consonância com uma visão não autoritária do papel do juiz e mais contemporânea quanto à divisão do trabalho entre órgão judicial e as partes. Essa conjuntura só se confirmará se o juiz se colocar em pé de igualdade com as partes, abandonando os vícios utilitaristas e as mazelas históricas sobreviventes no Judiciário. O problema não se contém na legislação: é maior. Não se obtém certeza de que esse cenário se concretizará. No entanto, o di- reito fundamental ao contraditório só se fará pleno (como objetiva o legislador) diante desse panorama. LUCAS DE OLIVEIRA Juiz de Fora, Minas Gerais, 04 de março de 2016.
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