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Anthony Giddens Sociologia 6.a Edição Tradução de Alexandra Figueiredo Ana Patrícia Duarte Baltazar Catarina Lorga da Silva Patrícia Matos Vasco Gil Coordenação e revisão científica de José Manuel Sobral F U N D A Ç Ã O CALOUSTE GULBENKIAN Serviço de Educação e Bolsas Capítulo 14: O Governo e a Política Timor Leste ocupa a metade oriental da ilha de Timor, que está situada entre a Indonésia e a Austrá- lia. É uma área pequena, com pouco mais de metade do tamanho do País de Gales. Originalmente uma colónia portuguesa, Timor Leste tem uma fronteira comum com Timor Ocidental, que pertence à Indo- nésia. Quando os portugueses partiram, em 1975, os Indonésios invadiram e anexaram o país. U m terço da população - talvez umas 200.000 pessoas - morreu durante a ocupação indonésia. Os movimentos con- testatários em Timor Leste procuraram alcançar a independência e a democracia para o país, mas durante muitos anos nâo tiveram sucesso. Muitos activistas foram presos, outros torturados ou executa- dos. No entanto, em vez de enfraquecer, o movimen- to pela autodeterminação de Timor Leste fortaleceu- •se, tomando-se Timor Leste foco de atenções da comunidade internacional. Suhaito, o presidente da Indonésia e a principal figura envolvida na repressão em Timor Leste, foi afastado do poder por manifestações de estudantes em Maio 1999. Num referendo em Agosto daquele ano, o povo de Timor Leste votou maioritariamente a favor da independência. O exército indonésio reagiu de forma feroz, forçando centenas de milhar de habi- tantes a abandonar o país pela força das armas. No entanto, o povo de Timor Leste conseguiu a indepen- dência em Outubro 1999. U m a força das Nações Uni- das foi enviada para proteger a população e garantir uma transição para um Governo autónomo e demo- crático. Ninguém tem a certeza de a transição ser bem sucedida*. Mas as forças que sustentam o movimen- to a favor da independência - o nacionalismo e o desejo de um governo democrático - são das influên- cias mais importantes da actualidade. Estão activas um pouco por todo o mundo. Em muitas partes do mundo, os movimentos em prol da democracia conse- guiram derrubar regimes autoritários. Na antiga União * Nota do revisor científico: Timor Leste é actualmente um estado independente. Soviética e na Europa de Leste, o comunismo foi der- rubado por aquelas forças. Nos últimos anos também foram instaurados governos democráticos em grande parte da América Latina e em alguns países da Africa e Ásia. Os governos democráticos já existem há muito mais tempo na Europa Ocidental, na América do Norte, na Austrália e na Nova Zelândia. O governo, a política e o poder Tal como em muitos outros aspectos das sociedades contemporâneas, o domínio do governo e da política está a sofrer grandes transformações. Por governo entende-se as determinações regulares de políticas, decisões e assuntos de Estado pelas entidades oficiais no âmbito do aparelho político. A política diz respei- to aos meios pelos quais o poder é usado para influenciar as intenções e o conteúdo das actividades governamentais. A esfera do político pode ir além do âmbito das próprias instituições de Estado. O estudo do poder é de extrema importância para a sociologia. O poder é a capacidade que indivíduos ou grupos possuem para fazer valer os seus próprios interesses, mesmo quando outros se opõem. Por vezes, isso requer o uso directo da força, como acon- teceu quando as autoridades indonésias reprimiram violentamente o movimento democrático em Timor Leste. O poder é um elemento que se encontra em todas as relações sociais, tal como entre a entidade patronal e os trabalhadores. Este capítulo foca um aspecto mais específico do poder: o poder governa- mental. Nesta forma, ele é quase sempre acompanha* do por ideologias, que são usadas para justificar as acções dos que detêm o poder. Por exemplo, o uso da força por parte do governo Indonésio contra o movi- mento pró-democracia em Timor Leste foi justificado como decorrendo da defesa da integridade territorial indonésia contra um movimento regional a favor da independência. A autoridade é o uso legítimo do poder pelo governo. A legitimidade significa que aqueles que se submetem à autoridade do governo consentem nela. O G O V E R N O E A P O L Í T I C A 4 2 5 O poder é, assim, diferente de autoridade. Quando as manifestações pró-democracia eclodiram em Timor Leste, o governo respondeu prendendo e matando os manifestantes. Foi uma manifestação de poder, mas também um indicativo da perda de autoridade do governo. O conceito de estado U m estado existe quando há um aparelho político de governo (instituições como um parlamento ou con- gresso, mais funcionários públicos), que governa um dado território, cuja autoridade é apoiada por um sis- tema legal e pela capacidade de usar a força militar para implementar as suas políticas. Todas as socieda- des modernas são estados-nação. Isto é> são estados onde os cidadãos, constituindo o grosso da popula* ção, se reconhecem como fazendo parte de uma só nação. Existiram estados-nação em diferentes épo- cas, em diferentes partes do mundo (por exemplo, nos Estados Unidos em 1776 e na Republica Checa em 1993). As suas principais características, contudo, contrastam de uma forma marcante com as dos esta- dos nas civilizações não industriais ou tradicionais, como as descritas no Capítulo 2 («Cultura e Socieda- de»). Elas são: + • Soberania - Os territórios governados por estados tradicionais eram sempre mal definidos, sendo o nível de controlo do governo central bastante fraco. A noção de soberania - a autoridade que um governo possui sobre uma área com fronteiras bem definidas, dentro das quais detém o poder supremo - tinha pouca relevância. Todos os Esta- dos-nação, pelo contrário, são estados soberanos. • Cidadania - Em estados tradicionais, a maioria da população governada por um rei ou imperador mostrava pouco conhecimento ou interesse por aqueles que a governavam. Também não pos- suíam direitos políticos ou influência. Normal- mente só as classes dominantes ou os grupos mais ricos é que tinham um sentimento de pertença a uma comunidade política. Nas sociedades moder- nas, pelo contrário, a maior parte das pessoas que vivem dentro dos limites do sistema político são cidadãos, tendo direitos e deveres comuns e reco- nhecendo-se como fazendo parte da nação. Embora existam algumas pessoas que são refu- giados políticos ou «sem estado», quase todos os indivíduos no mundo de hoje são membros de uma ordem política nacional definida. • Nacionalismo - Os Estados-nação estão associa- dos ao incremento do nacionalismo, que pode ser definido como um conjunto de símbolos e con- vicções que estabelecem um sentido de pertença a uma única comunidade política. Assim, os indiví- duos sentem orgulho em serem britânicos, ameri- canos, canadianos ou russos. Este sentimento de pertença alimentou a luta dos timorenses pela independência. Provavelmente as pessoas senti- ram sempre, de algum modo, alguma espécie de identidade com grupos especiais - a sua família, aldeia ou comunidade religiosa. Todavia, o nacio- nalismo só surgiu com o desenvolvimento do estado moderno e é a principal expressão de sen- timentos de identidade com uma certa comunida- de soberana. No final do capítulo, iremos explorar com mais profundidade o fenómeno do naciona- lismo. Tendo discutido algumas das características mais importantes dos estados modernos, consideraremos agora os principais tipos de sistemas políticos. Tipos de sistema politico As sociedades sempre se apoiaram em diversos siste- mas políticos. Mesmo actualmente, no início do sécu- lo X X I , há países por todo o mundo que continuam a organizar-sede acordo com diferentes padrões e con- figurações. Enquanto actualmente a maioria das sociedades reivindica serem democráticas - ou seja, serem governadas pelo povo - continuam a existir outras formas de domínio político. Nesta secção, estabeleceremos o perfil de três tipos básicos de sis- temas políticos: monarquia, democracia liberal e autoritarismo. Monarquia A monarquia é um sistema político encabeçado por uma única pessoa, em que o poder é transmitido no seio de uma família ao longo de diversas gerações. Nos tempos antigos e medievais, havia monarquias em muitas partes do mundo, da Ásia à Europa, e em muitas zonas de África. As famílias reais governa- O G O V E R N O E A P O L Í T I C A 426 vam os seus súbditos baseadas na tradição e no direi- to divino. A autoridade das monarquias era mais legi- timada pela força do costume do que pela lei. Embora possamos ainda encontrar monarcas em alguns estados modernos, como a Grã-Bretanha ou a Bélgica, o seu papel hoje pouco mais é do que figu- rativo. Os monarcas continuam ainda a ter certas res- ponsabilidades simbólicas e a constituir um ponto focal para a identidade nacional, porém raramente influenciam o decurso dos acontecimentos políticos. Num pequeno número de países, como a Arábia Sau- dita, a Jordânia e Marrocos, os monarcas continuam ainda a ter algum tipo de controlo sobre o governo. No entanto, os mais comuns são os monarcas cons- titucionais - como a Rainha de Inglaterra, o Rei da Suécia ou mesmo o Imperador do Japão - cujo poder real é severamente restringido pela constituição, que investe de autoridade os representantes eleitos pelo povo. A maioria dos estados modernos são republica- nos, o que significa que não existe Rei ou Rainha; em quase todos os estados, monarquias constitucionais incluídas, há uma adesão declarada à democracia. Democracia A palavra «democracia» tem as suas raízes no termo grego demokratia, formado por demos (povo) e kra- tos (governo). O significado básico de democracia é, por conseguinte, o de um sistema político em que o povo governa, e não os monarcas ou aristocratas. Isto parece simples e de fácil entendimento, mas nâo o é. O Governo democrático tem tomado formas contras- tantes em vários períodos e diferentes sociedades, em função da interpretação atribuída ao conceito. Por exemplo, "o povo" tem sido diversamente entendido como sendo os proprietários, os homens brancos, os homens educados, só os homens e os homens e mulheres adultos. E m algumas sociedades, a versão oficialmente aceite de democracia é limitada à esfera política, enquanto noutras se defende a sua extensão a outras áreas da vida social. A forma tomada pela democracia em determinado contexto é largamente um resultado do modo como os seus valores e objectivos são entendidos e consi- derados prioritários. A democracia é vista generica- mente como o sistema político mais capaz de garan- tir a igualdade política, proteger a liberdade indivi- dual, defender o interesse comum> ir ao encontro das necessidades dos cidadãos, promover o autodesen- vol vi mento moral e possibilitar a tomada de decisão efectiva que leve em conta os interesses de todos (Held 1996). O peso atribuído a estes diversos objec- tivos pode influenciar a forma como a entendemos: essencialmente como uma forma de poder popular (autogoverno e auto-regulação) ou como forma de acatar a tomada de decisão por parte de outros (tal como um grupo de representantes eleitos). Democracia participativa Na democracia participativa (ou democracia direc- ta) as decisões são tomadas em comum por aqueles que lhes estão sujeitos. Este era o tipo «original» de democracia na Grécia antiga. Os que eram considera- dos cidadãos, uma pequena minoria da sociedade, reuniam-se regularmente para ponderar a política a seguir e tomar decisões importantes. A democracia participativa tem uma importância limitada nas sociedades modernas, onde o grosso da população tem direitos políticos, e seria impossível que todos participassem activamente na tomada de todas as decisões que os afectam. No entanto, alguns aspectos da democracia partici- pativa têm relevância nas sociedades modernas. Exis- tem pequenas comunidades da Nova Inglaterra, no nordeste dos Estados Unidos, que continuam a tradi- ção anual das "reuniões de cidade". Em dias pré-esta- belecidos. todos os residentes da cidade se reúnem para debater e votar sobre assuntos locais que não caem sobre jurisdição governamental, estatal ou fede- ral. A organização de referendos, através dos quais as pessoas expressam a sua opinião sobre um determina- do assunto, por exemplo, é outra forma de democracia participativa. É possível consultar directamente as pes- soas sobre um determinado assunto, reduzindo a essência deste a uma ou duas questões. Em alguns paí- ses da Europa, os referendos são regularmente utiliza- dos a nível nacional para legitimar importantes deci- sões políticas, como a adesão à União Monetária Euro- peia ( U M E ) . Também têm sido utilizados para resolver assuntos controversos relacionados com a secessão de regiões nacionalistas étnicas como o Quebeque, a região canadiana de língua francesa. De mocracia represe n tati va Questões de natureza prática fazem com que a demo- cracia participativa não seja viável em larga escala. O G O V E R N O E A P O L Í T I C A 4 2 7 Explorar a democracia: o que constitui o "governo pelo povo?" A ideia subjacente à democracia é bastante clara - o povo devia assumir a responsabilidade de ser governado por si próprio em condições de igualda- de política, sem ter de se sujeitar ao domínio de lideres inimputáveis. Mas, quando observamos mais de perto» não é totalmente claro o significado de "ser governado pelo povo". Como David Held salientou, podem colocar-se interrogações a cada parte da frase (Held, 1996): "O povo" Quem deve ser considerado «povo»? Que espécie de participação lhe é permitida? Que condições se pensa poderem levar à sua participação? «Governo»: • Até onde se deve alargar ou estreitar o campo de acção do governo? Deverá ser confinado, por exemplo, à esfera da administração pública ou pode h^ver democracia noutras esferas - tal como uma democracia industrial? « Deverá a governação abranger decisões de roti- na administrativa ou restringir-se às principais decisões políticas? «Governo pelo»: • Deverá obedecesse ao governo «do povo»? Qual o papel da obrigação e do desacordo? • Existirão circunstâncias em que parte «do povo» deverá actuar fora da lei, caso ache que as leis existentes são injustas? • Em que circunstâncias, se é que em alguma, deverão os governos democráticos usar de coacção contra aqueles que estiverem em desa- cordo com as suas politicas? Como Held sublinha, os debates sobre o "gover- no do povo" vão muito além destas questões bási- cas, existindo opiniões contrastantes sobre as con- dições necessárias para a existência de uma demo- cracia de sucesso. A democracia poderá sobreviver durante períodos de guerra ou de crise civil? Para a sociedade democrática existir será necessária a existência da escolarização ou a difusão de um certo grau de benvestar social? Não há um con- senso claro sobre estes aspectos fundamentais da democracia, sobretudo devido a novas questões que resuitam do acelerado ritmo de globalização e mudança social. A democracia continua a ser hoje um assunto tão relevante, apesar de controverso, como o tem sido durante séculos. excepto em momentos específicos, como um referen- do especial. Hoje é mais comum a democracia representativa, sistema político no qual as decisões que afectam uma comunidade são tomadas, não por esta como um todo, mas por pessoas eleitas para esse propósito. Nesta área do governo nacional, a demo- craciarepresentativa toma a forma de eleições para congressos, parlamentos ou outros órgãos nacionais similares. A democracia representativa também exis- te noutros níveis onde decisões colectivas são toma- das, como províncias ou estados de uma comunidade nacional, cidades, condados, municípios e outras regiões. Muitas grandes organizações escolhem gerir os seus assuntos através da democracia representati- va, mediante a eleição de um pequeno comité execu- tivo para tomar decisões-chave. Designam-se normalmente por democracias libe- rais as nações que praticam a democracia representa- tiva multípaitidária, nas quais a massa da população adulta tem o direito de votar. A Grã-Bretanha e os outros países da Europa ocidental, os Estados Uni- dos, o Japão, a Austrália e a Nova Zelândia perten- cem todos a esta categoria. Alguns países do Tercei- ro Mundo, como a índia, também têm sistemas democráticos liberais. A esta lista juntaram-se recen- temente os países da Europa Central, Oriental e da O G O V E R N O E A P O L Í T I C A 428 antiga União Soviética que têm caminhado em direc- ção à democracia desde a queda do domínio comu- nista há mais de uma década. A democracia liberal permanece frágil em alguns destes estados, como as antigas repúblicas da Ásia central da União Soviéti- ca, Jugoslávia e até a Rússia. Noutros países, como a Polónia, a República Checa, a Hungria e os Estados Bálticos, a democracia veio para ficar. Autoritarismo Apesar de a democracia encorajar o envolvimento activo dos cidadãos nos assuntos políticos, nos esta- dos autoritários essa participação é negada ou seve- ramente reprimida. Nestas sociedades, as necessida- des e os interesses do Estado têm prioridade sobre os dos cidadãos comuns, não havendo mecanismos legais para fazer oposição ao governo ou para remo- ver um líder do poder. Os governos autoritários existem hoje em muitos países, alguns dos quais professam ser democráticos. O Iraque, sob a liderança de Saddam Hussein, é um exemplo de um estado autoritário onde a dissidência é reprimida e uma grande parte dos recursos naturais é desviada em benefício de uma minoria*. As poderosas monarquias da Arábia Saudita e do Kuwait e a lide- rança do Myanmar (Birmânia) limitam rigidamente as liberdades cívicas dos cidadãos e negam a participação significativa do povo nos assuntos governamentais. A nação asiática de Singapura é muitas vezes cita- da como um exemplo do chamado "autoritarismo suave", devido ao facto de o partido dominante, o Partido de Acção do Povo, se manter firmemente no poder, assegurando, no entanto, uma elevada qualida- de de vida aos seus cidadãos através da intervenção em quase todos os aspectos da sociedade. Singapura é notável pela sua segurança, ordem civil e integra- ção social de todos os cidadãos. Se bem que o recen- te revés económico mundial tenha decerto tido os seus efeitos, a economia de Singapura conhece um boom, as ruas estão limpas, a população está empre- gada e a pobreza é virtualmente desconhecida. Mesmo as transgressões menores, como deitar lixo para o chão ou fumar em público, são punidas com * Nota do revisor científico: na Primavera de 2003 o regime de Saddam Hussein foi derrcbado militarmente por uma coligação anglo-americana, sendo o país actualmente controlado pelos E U A . multas severas, possuindo a polícia poderes extraor- dinários para deter possíveis suspeitos. Apesar deste controlo excessivo, a satisfação popular com o gover- no tem sido elevada e as desigualdades sociais são mínimas, em comparação com muitos outros países. Embora Singapura careça de liberdades democráti- cas, o tipo de autoritarismo do país é significativa- mente diferente do de muitos regimes ditatoriais. A disseminação global da democracia liberal Em meados dos anos 70, mais de dois terços das sociedades mundiais podiam ser consideradas como autoritárias. Desde essa altura, a situação alterou-se significativamente - agora menos de um terço das sociedades são autoritárias. A democracia deixou de estar concentrada principalmente nos países ociden- tais, mas tem sido aprovada, pelo menos em princí- pio, como a forma desejada de governo em muitas áreas do mundo. Como David Held notou, "a demo- cracia tornou-se o padrão fundamental de legitimida- de política dos tempos actuais" (Held, 1996). Nesta secção, iremos considerar a disseminação glo- bal da democracia liberal, avançando algumas possí- veis explicações para a sua popularidade. Depois, pas- saremos a examinar alguns dos principais problemas que a democracia enfrenta no mundo contemporâneo. A q u e d a do c o m u n i s m o Durante um longo período, os sistemas políticos mundiais estavam divididos entre a democracia libe- ral e o comunismo. Este último existia na antiga União Soviética e na Europa do Leste (e ainda existe na China e em alguns outros países). Durante a maior parte do século X X , uma grande parte da população mundial vivia sob sistemas políticos de orientação comunista ou socialista. Os cem anos seguintes à morte de Marx em 1883 pareciam corroborar o prog- nóstico da disseminação do socialismo e das revolu- ções dos trabalhadores em todo o mundo. O G O V E R N O E A P O L Í T I C A 4 2 9 A queda do muro de Berlim, em 1989, simbolizou o rápido desmantelamento do comunismo no Leste, que deu lugar a uma expansão sem precedentes das instituições democráticas liberais. Os estados comunistas considera vam-se democra- cias, apesar de os sistemas destes países se diferen- ciarem muito daquilo que no Ocidente se entende por democracia O comunismo foi essencialmente um sistema de partido único. Os eleitores podiam esco- lher não entre diferentes partidos, mas entre diferen- tes candidatos do mesmo partido - o Partido Cornu* nista. Muitas vezes havia apenas um candidato a con- correr, não havendo, portanto, uma escolha real. O partido Comunista foi a força dominante nas socie- dades com um sistema semelhante ao da União Soviética: o partido controlava não só o sistema polí- tico, mas também a economia. Quase toda a gente no Ocidente, de académicos a cidadãos normais, acreditava que os sistemas comu- nistas estavam profundamente entrincheirados e que se tinham tomado uma característica permanente da política global. Poucas pessoas, se é que alguma, pre- viram a mudança dramática dos acontecimentos que se começaram a desenrolarem 1989, à medida que os regimes comunistas foram consecutivamente caindo numa série de "revoluções de veludo". O que parecia ser um sólido e bem estabelecido sistema de governo por toda a Europa de Leste foi derrubado de um dia para o outro. Os Comunistas perderam o poder numa sequência cada vez mais rápida nos países que tinham dominado por meio século: Hungria, Polónia, Bulgária, Alemanha Oriental, Checoslováquia e Roménia. Eventualmente, o próprio partido Comu- nista na União Soviética perdeu o controlo do poder. Quando as 15 repúblicas constituintes da URSS declararam a independência, em 1991, Mikhai l Gor- bachev, o último líder soviético, tornou-se um "presi- dente sem estado". Desde a queda da União Soviética, os processos de democratização continuaram a espaJhar-se (ver a O G O V E R N O E A P O L Í T I C A 430 OCEANO P*C(t<C0 v SuittOcttintil S Abreviaturas AL Afcánia BH Bfenla Herzegovina CR Croétia a R«públka^ieca HUN Hunyfi M I4w***i® SA Eslováquia SL Eslovénia YU AiQMlávta ItaftPtKM Rejiiw dwiteedbte* no mundo Rejb*ea4«moaábcM que 1« ti**» «Meo» IW» ou pttteriontnto Ifan ftkbfid tf^ílMrtu*} Figura 14.1 - A expansão da democracia a partir de 1989 Fònf* fiiwdomin f t e WorkJ, 1997-1998 (Nova torque: Freedom House, 1 o G O V E R N O E A P O L Í T I C A 4 3 1 O G O V E R N O E A P O L Í T I C A 432 figura 14.1).Inclusivamente, entre alguns dos esta- dos mais autoritários do mundo, podem ser detecta- dos sinais de democratização. No Irão, o estado islâ- mico mais militante do mundo, o descontentamento popular com os poderosos mullahs (chefes religio- sos) conduz, a passos hesitantes, a reformas em alguns níveis de governo. O presidente iraniano, Mohammed Khatami, tem sido comparado a Mikhai l Gorbachev como líder que reconhece que os anseios populares no sentido da democracia - se não obtive- rem resposta - conduzirão ao colapso do sistema. Na China, que contém um quinto da população mundial, o governo comunista enfrenta fortes pressões com vista à democratização. Milhares de pessoas perma- necem ainda na prisão na China por exprimirem de modo não violento o desejo de estabelecer a demo- cracia. Mas ainda há grupos que resistem ao governo comunista, trabalhando activamente para garantir uma transição segura para um sistema democrático. Nos anos mais recentes, outros estados asiáticos autoritários, como a Birmânia, a Indonésia e a Malá- sia, também assistiram ao crescimento de movimen- tos democráticos. Alguns destes movimentos depara- ram com respostas violentas. De qualquer forma, a "globalização da democracia" continua a ser real em todo o globo e há razões para optimismo acerca do futuro da democracia. A tendência geral para a democracia não é linear. Com efeito, são vários os momentos da história em que as instituições políticas democráticas se têm revelado frágeis e vulneráveis. Não devemos assumir que a democratização é um processo irreversível. No entanto, o facto de a democratização estar ligada a forças globalizadoras maiores é razão para optimis- mo quanto ao futuro da democracia. C o m o e x p l i c a r a p o p u l a r i d a d e d a d e m o c r a c i a l i be ra l ? Porque se tornou tão popular a democracia? Uma explicação frequentemente avançada é a de que outros tipos de governo político têm sido experi- mentados e têm falhado - a democracia revelou ser o "melhor" sistema político (ver caixa de texto). Parece claro que a democracia é a melhor forma de organização política, o que, contudo, por si só não explica adequadamente as recentes vagas de demo- cratização. As razões estão relacionadas com as transforma- ções sociais e económicas analisadas ao longo deste livro. E m primeiro lugar, a democracia tende a estar associada a uma economia de mercado e esta mostrou ser superior ao comunismo como sistema gerador de riqueza. Enquanto sistema de gestão e de planeamen- to económico, o comunismo revelou-se ineficaz e não competitivo. Em segundo lugar, quanto mais a actividade social se toma globalizada e as pessoas vêem as suas vidas diárias influenciadas por aconte- cimentos que oconem longe, mais elas tentam obter informação acerca do modo como são governadas, desejando logicamente uma maior democracia. A globalização, ao promover a disseminação de ideias e de opiniões através das fronteiras nacionais, conduz a uma cidadania mais activa em muitas partes do mundo. Em terceiro lugar, vem a influência da comunica- ção de massas, especialmente a televisão e a Internet. A reacção em cadeia provocada pela expansão da democracia foi, provavelmente, muito influenciada pela possibilidade de se visualizarem os aconteci- mentos no mundo de hoje. Com o aparecimento de novas tecnologias ligadas à televisão, especialmente o satélite e o cabo, os governos não podem manter o controlo sobre o que os seus cidadãos vêem. Tal como na China, o Partido Comunista da União Sovié- tica e os da Europa de leste costumavam manter um controlo rígido sobre as cadeias de televisão, que per- tenciam todas ao governo e eram por ele dirigidas. Contudo, a expansão das transmissões por satélite possibilitou a muitas pessoas o acesso a programas de televisão do Ocidente, pondo-as, assim, em contacto com opiniões diferentes das emitidas pela propagan- da ortodoxa dos governos sobre as suas condições de vida. A popularidade crescente da Internet está a inten- sificar esta tendência com a utilização da comunica- ção directa entre indivíduos e grupos por todo o globo. A Internet e os sistemas de telecomunicações sofisticados permitem a transmissão instantânea de imagens e material escrito. Vivemos actualmente num "mundo informacional aberto", onde os gover- nos autoritários têm menor capacidade de controlo sobre o fluxo de informação (apesar de muitos ainda o tentarem - ver caixa). Este ambiente mediatizado dificulta cada vez mais aos governos o recurso a anti- gas formas de poder, minando a legitimidade de o G O V E R N O E A P O L Í T I C A 4 3 3 O triunfo da democracia: o fim da história? Francis Fukuyama é o escritor cujo nome é sinóni- mo da expressão l i m da história". A concepção de Fukuyama do fim da história baseia-se no triunfo global do capitalismo e da democracia liberal. Segundo Fukuyama, na sequência das revoluções na Europa de Leste em 1969, da dissolução da União Soviética e de um movimento para a demo- cracia multipartidáría em outras regiões, as bata* lhas ideológicas de eras anteriores acabaram. O fim da história é o fim das alternativas. Hoje ninguém debande a monarquia, e o fascismo é um fenómeno do passado. O comunismo, por tanto tempo o maior rival da democracia ocidental, também acabou. O capitalismo ganhou a sua longa luta contra o socialismo, contrariamente à previsão de Marx, e a democracia liberal é agora inabalável. Fukuyama refere que chegámos "ao ponto final da evolução ideológica da Humanidade e à univer- salização da democracia ocidental como a forma final do governo humano" (1989). A tese de Fukuyama tem provocado reacções críticas, porém, sublinhou de alguma forma um fenómeno-chave do nosso tempo. Actualmente, não s existe um eleitorado com dimensão significativa ou um movimento de massas capaz de conceber for- s mas de organização política e económica para além do mercado e da economia liberal. Apesar de tudo isto parecer estar a acontecer, é duvidoso que a his- tória tenha parado, no sentido de se terem esgota- do todas as nossas alternativas. Quem pode afirmar que novas formas de ordem económica, politica ou cultural náo poderão emergir no futuro? Tal como os pensadores dos tempos medievais não fa2iarn ideia da sociedade industrial que iria surgir com o declí- nio do feudalismo, não podemos antecipar como mudará o mundo no próximo século. governos cujo domínio assenta num simbolismo tra« dicional ou depende de um respeito inquestionável. E m tais condições, o govemo autoritário perde o con- tacto com outras experiências de vida, como a flexi- bilidade e o dinamismo necessários para competir na economia electrónica global. O p a r a d o x o da d e m o c r a c i a À medida que a democracia liberal se expande por todo o Mundo* poderíamos esperar que estivesse a consolidar-se de uma forma muito sólida. No entan- to, a democracia está a atravessar algumas dificulda- des em quase todo o lado. O "paradoxo da democra- cia" é intrigante. Por um lado, a democracia expande- •se por todo o mundo; por outro, nas sociedades democráticas de modernidade tardia, com institui- ções democráticas enraizadas, é elevada a desilusão com os processos democráticos. A democracia está em crise nos seus principais países de origem - inquéritos realizados na Grã-Bre- tanha, na Europa e nos Estados Unidos mostram que cada vez mais pessoas estão insatisfeitas com o siste- ma político ou se sentem indiferentes a ele. Porque é que muitos se sentem infelizes com o sis- tema político que parece estar a expandir-se por todo o mundo? As respostas, curiosamente, estão ligadas aos factores que o ajudaram na sua expansão - o impacto das novas tecnologias da comunicação e a globalização da vida social. Como afirmouo sociólogo americano Daniel Bell, o governo nacional é "demasiado pequeno para dar resposta às grandes questões", tais como a influência da competição económica global ou a destruição do meio ambiente, mas tomou-se "demasiado grande para lidar com pequenas questões", assuntos que afectam particularmente cidades ou regiões. Os governos têm pouco poder, por exemplo, sobre as actividades das grandes empresas multinacionais, os principais intervenientes no sistema económico glo- bal. Uma multinacional americana pode decidir fechar as suas fábricas na Grã-Bretanha e montar O G O V E R N O E A P O L Í T I C A 434 A internet e a democratização A Internet é uma poderosa força de democratização. Ultrapassa as fronteiras nacionais e culturais, facilita a disseminação de ideias por todo o globo é permite a pessoas de mentalidades próximas encontrarem- -se no reino do ctoereepaça Cada vez mais pessoas e m países por todo o mundo acedem à Internet regu- larmente e consideram isso importante para os seus estâos de vida. Porém, a expansão dinâmica da Inter- net i entendida como uma ameaça pêlos governos - especialmente pelos governos autoritários - que reconhecem o potencial da actividade onKne para subverter a autoridade estatal. Apesar de a Internet ter permissão para existir livremente em muitos pai- ses» alguns tem começado a tomar medidas para limitar o seu uso pelos cidadãos. A China, por exemplo, assistiu è quadruplicação de utilizadores d a internet de 2,1 milhões para â ,9 milhões só e m 1999. Estimoo-se que o número de utífcadores chineses contornará a dupBcâr mente. Como resposta a este rápido crescimento, o governo chinês anunciou regras rígidas banindo a publicação de "segredos de estado" na Internet, tem bloqueado Ante directos e indirectos entre websites chineses e estrangeiros, e iniciou um sistema de uma nova fábrica no México com o objectivo de diminuir os custos e competir com mais eficácia com outras multinacionais. O resultado é milhares de tra- balhadores britânicos perderam os seus empregos. O mais provável é que queiram que os seus governos façam alguma coisa, mas os governos nacionais são impotentes para controlar processos ligados à econo- mia mundial. Em muitas democracias, os cidadãos têm pouca confiança nos seus representantes eleitos, concluindo que a política nacional tem pouco impacto nas suas vidas. Existe um cinismo crescente acerca de políti* cos que alegam ser capazes de prever ou controlar assuntos globais, que transcendem as fronteiras do estado-nação. Muitos cidadãos apercebem-se de que os políticos não têm capacidade para influenciar as mudanças que ocorrem a nível global, encarando assim com grande suspeita as suas proclamações de sucesso. As sondagens de opinião pública revelam que, em muitos países ocidentais, a imagem dos polí- ticos está seriamente comprometida! U m número crescente de cidadãos considera que os políticos actuam apenas em benefício próprio, não se envol- vendo em assuntos que inquietam o eleitorado. Alguma comprovação para esta conclusão advém dos resultados de estudos recentes levados a cabo em dois grupos de idade. De acoido com estas pesquisas, as atitudes políticas entre os cidadãos jovens e de meia-idade do Reino Unido são mais caracterizadas pelo cinismo do que por qualquer outro factor. No levantamento dos nascidos em 1970 , 44 por cento acreditava que os políticos estavam na política para seu próprio beneficio, e 30 por cento dos nascidos em 1958 concordava que era largamente inelevante qual o partido político que está no poder, porque há pou* cos benefícios directos para o cidadão comum. Os estudos revelaram que o cinismo político é mais pro- nunciado entre aqueles que não possuem quaisquer qualificações (ESRC 1997). Ao mesmo tempo que o poder dos governos enfra- quece em relação a assuntos globais, as autoridades políticas também se tomaram mais distantes da vida da maioria dos cidadãos. Muitos destes ressentem-se pelo facto de decisões que afectam as suas vidas serem tomadas por «intermediários do poder» distan- tes - membros do partido, grupos de interesse, «lob- bies» e burocratas. Também acreditam que o governo é impotente para tratar de assuntos locais importan- tes, como o crime e os sem-abrigo. E m consequência destes factos, a fé no governo tem vindo a diminuir substancialmente. Por seu turno, isto afecta a vonta- de de participação das pessoas no processo político. Os efeitos da "era da informação aberta" são senti* dos não só em estados autoritários, mas também nas o G O V E R N O E A P O L Í T I C A 4 3 5 y ( * A É I ^ c e n s u r a para vigiar o conteúdo de notícias e infor- mações trocadas na Internet. Aos olhos da liderança comunista chinesa, a Internet representa uma ameaça perigosa à segu- rança estatal, uma vez que permite aos grupos de oposição política coordenarem as suas actividades. Em Abril d e l 9 9 9 , por exemplo, milhares de apoian- tos da Falun Gong - um movimento espiritual cujos membros acreditam que exercícios de respiração prolongam a vida - mobifizaram-se através da Inter- net e juntaram-se em Pequim para um protesto : silencioso. Informação sensível sobre as capacida- des militares e tecnológicas chinesas tem sido supostamente publicada em websites chineses. Tais acontecimentos confirmam ao governo chinês que a Internet é um poderoso meio de comunicação que tem de ser controlado. Existem outros governos que chegaram a con- clusões semelhantes. O governo birmanês anun- ciou a decisão de banir a disseminação de informa- ção "prejudicial ao governo*1 através da Internet ou do correio electrónico. As autoridades malaias exi- giram que os dbercafés mantivessem listas de todos os indivíduos que usam os seus computado- res. Na Rússia, requer-se aos fornecedores locais de serviços de Internet que se associem a um esquema de vigilância electrónica supervisionado pelo serviço de segurança federal. democracias. Vivemos num mundo em que os cida- dãos e o governo têm, virtualmente, acesso à mesma informação. Os próprios governos democráticos, que há muito dependem de certas formas de actuação não democráticas - desde a corrupção pura e simples a jogos de bastidores e redes de influências - encon- tram-se agora mais facilmente expostos, graças às tec- nologias de informação. Certos processos, que outrora permaneciam invisíveis, são hoje visíveis, provocando ressentimento e desilusão entre o eleitorado democrá- tico. Os velhos modos de fazer as coisas têm sido pro- gressivamente minados e as estruturas políticas exis- tentes já não podem ser consideradas como assentes. Hoje em dia, alguns observadores lamentam que os cidadãos em estados democráticos se tenham tor- nado apáticos, perdendo o interesse no processo polí- tico. É verdade que o número de votantes tem decres- cido em décadas mais recentes, e o número de mem- bros dos principais partidos políticos entrou também em declínio. No entanto, é um erro sugerir que as pessoas se desinteressaram da política e perderam a fé na própria democracia. As sondagens de opinião mostram que, para a maioria esmagadora de residen- tes em países democráticos, a democracia é a forma preferida de governo. Além disso, há sinais de que o interesse pela política está em crescimento, sendo, porém, canalizado para outras direcções e não para a política partidária ortodoxa. Crescem os membros de grupos cívicos e associações que investem os seus esforços em novos movimentos sociais dedicados a questões como o ambiente, os direitos dos animais, a política comercial e a não-proliferação nuclear (ver mais à frente). Qual será, então, o destino da democracia numa época em que o governo democrático parece estar mal preparado para lidar com os acontecimentos? Algunsobservadores sugerem que há pouco a fazer, que o govemo não pode esperar controlar as mudanças rápi- das que ocorrem à nossa volta e que o rumo de acção mais prudente é reduzir o papel do governo e deixar que as forças de mercado nos orientem. Contudo, tal abordagem é contestável. No mundo actual, temos cada vez mais necessidade de mais governo e não de menos. Porém, o governo efectivo leva, na era actual, a um aprofundamento da democracia quer ao nível do estado-nação, quer a níveis superiores ou inferiores a este. Veremos brevemente como algumas destas dinâ- micas se estão a fazer sentir na política britânica. A democracia liberal por definição envolve a existên- cia de diversos partidos políticos. Iremos observar, em primeiro lugar, os diferentes tipos de sistema par- tidário que podem ser agrupados sob o rótulo de democracia liberal. O G O V E R N O E A P O L Í T I C A 436 Os partidos políticos e o sufrágio nos países ocidentais Sistemas Partidários U m partido político pode ser definido como uma organização orientada para adquirir o controlo legíti- mo do govemo através de um processo eleitoral. Existem muitos tipos de sistemas partidários. A exis- tência de um sistema bipartidário ou de outro que envolva mais partidos depende, em grande parte, da natureza do processo eleitoral num dado país. Dois partidos tendem a dominar o sistema político, quan- do as eleições se baseiam no princípio da maioria. O candidato que obtiver a maioria dos votos num cír- culo eleitoral ganha a eleição independentemente da proporção geral dos votos que obteve e monopoliza a representação partidária. Quando as eleições assen- tam em princípios diferentes, como o da representa- ção proporcional (em que os lugares na assembleia representativa são distribuídos de acordo com a pro- porção dos votos obtidos), os sistemas bipartidários são menos comuns. Nos países da Europa ocidental existem muitos tipos de oiçanizações partidárias, mas nem todos eles se encontram na política britânica. Alguns partidos assentam na denominação religiosa (como o Partido Social Cristão ou o Partido Popular Católico, na Bél- gica)*; outros são partidos étnicos que representam determinados grupos nacionalistas ou linguísticos (como o Partido Nacional Escocês na Grã-Bretanha ou o Svenska Folkpartiet** na Finlândia); outros são partidos rurais que representam interesses agrários (por exemplo, o Partido do Centro na Suécia ou o Partido Popular Suíço, na Suíça); outros, ainda, são partidos ambientalistas, preocupados com objectivos ecológicos (como os Verdes, na Alemanha). Muitos países europeus também têm partidos nacionalistas de extrema direita que são hostis a imigrantes e estrangeiros (ver abaixo). Partidos socialistas ou trabalhistas têm formado governos, desde a Segunda Guerra Mundial , na maioria dos países da Europa Ocidental. Até há * Nota do revisor científico: um dos partidos é valão e o outro é flamengo. * * Nota do revisor científico: partido que procura representar a minoria sueca. pouco tempo havia partidos comunistas oficialmente reconhecidos em quase todos esses países e alguns deles eram grandes (como os da Itália, França e Espanha). A seguir às mudanças na Europa de Leste, muitos deles têm mudado as suas denominações. Existem muitos partidos conservadores (como o Par- tido Republicano, em França, ou o Partido Conser- vador e o Partido Unionista, na Grã-Bretanha) e há partidos «centristas» que ocupam «o terreno do cen- tro», entre a esquerda e a direita (como os Liberais- -Democratas, na Grã-Bretanha). ( O termo «esquer- da» é usado para nos referirmos a grupos políticos radicais ou progressistas; «direita» refere-se a gru- pos mais conservadores). Em alguns países, o líder do partido da maioria, ou de um dos partidos numa coligação, torna-se automa- ticamente primeiro-ministro, a mais alta função pública do país. Noutros casos (como nos Estados Unidos), é eleito um presidente separadamente das eleições para os principais corpos representativos. É pouco provável que qualquer sistema eleitoral nos países do Ocidente seja exactamente igual a outro, e a maior parte são mais complicados que o do Reino Unido. A Alemanha pode servir de exemplo. Nesse país, os membros são eleitos para o Bundestag (Par- lamento) através de um sistema que combina o prin- cípio da maioria com o da eleição proporcional. Metade dos membros do Bundestag são eleitos em círculos eleitorais em que ganha o candidato que tiver mais votos. Os outros 50 por cento são eleitos de acordo com as proporções de voto obtidas em áreas regionais específicas. Este sistema permitiu ao Parti- do dos Verdes ganhar lugares no parlamento. Estabe- leceu-se um limite de 5 por cento para evitar a proli- feração de pequenos partidos - tem de ser alcançada esta proporção de voto, pelo menos, para que o Parti- do possa obter representação parlamentar. U m siste- ma semelhante é usado nas eleições autárquicas. Sistemas com dois partidos predominantes, como o da Grã-Bretanha, tendem a conduzir a uma concentra- ção no «centro», onde se encontra a maioria dos votos, excluindo opiniões mais radicais. Nestes paí- ses, os partidos cultivam normalmente uma imagem moderada que chega por vezes a assemelhar-se de tal forma, que a opção por um ou outro pouco difere. Uma pluralidade de interesses pode ser representada supostamente por cada partido, mas, muito frequente- mente, acabam misturados num programa moderado
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