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Texto aula 14out. AnthonyGiddens-Sociologia 1

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Prévia do material em texto

Anthony Giddens 
Sociologia 
6.a Edição 
Tradução de 
Alexandra Figueiredo 
Ana Patrícia Duarte Baltazar 
Catarina Lorga da Silva 
Patrícia Matos 
Vasco Gil 
Coordenação e revisão científica de 
José Manuel Sobral 
F U N D A Ç Ã O CALOUSTE GULBENKIAN 
Serviço de Educação e Bolsas 
Capítulo 14: O Governo e a Política 
Timor Leste ocupa a metade oriental da ilha de 
Timor, que está situada entre a Indonésia e a Austrá-
lia. É uma área pequena, com pouco mais de metade 
do tamanho do País de Gales. Originalmente uma 
colónia portuguesa, Timor Leste tem uma fronteira 
comum com Timor Ocidental, que pertence à Indo-
nésia. Quando os portugueses partiram, em 1975, os 
Indonésios invadiram e anexaram o país. U m terço da 
população - talvez umas 200.000 pessoas - morreu 
durante a ocupação indonésia. Os movimentos con-
testatários em Timor Leste procuraram alcançar a 
independência e a democracia para o país, mas 
durante muitos anos nâo tiveram sucesso. Muitos 
activistas foram presos, outros torturados ou executa-
dos. No entanto, em vez de enfraquecer, o movimen-
to pela autodeterminação de Timor Leste fortaleceu-
•se, tomando-se Timor Leste foco de atenções da 
comunidade internacional. 
Suhaito, o presidente da Indonésia e a principal 
figura envolvida na repressão em Timor Leste, foi 
afastado do poder por manifestações de estudantes 
em Maio 1999. Num referendo em Agosto daquele 
ano, o povo de Timor Leste votou maioritariamente a 
favor da independência. O exército indonésio reagiu 
de forma feroz, forçando centenas de milhar de habi-
tantes a abandonar o país pela força das armas. No 
entanto, o povo de Timor Leste conseguiu a indepen-
dência em Outubro 1999. U m a força das Nações Uni-
das foi enviada para proteger a população e garantir 
uma transição para um Governo autónomo e demo-
crático. 
Ninguém tem a certeza de a transição ser bem 
sucedida*. Mas as forças que sustentam o movimen-
to a favor da independência - o nacionalismo e o 
desejo de um governo democrático - são das influên-
cias mais importantes da actualidade. Estão activas 
um pouco por todo o mundo. Em muitas partes do 
mundo, os movimentos em prol da democracia conse-
guiram derrubar regimes autoritários. Na antiga União 
* Nota do revisor científico: Timor Leste é actualmente um 
estado independente. 
Soviética e na Europa de Leste, o comunismo foi der-
rubado por aquelas forças. Nos últimos anos também 
foram instaurados governos democráticos em grande 
parte da América Latina e em alguns países da Africa 
e Ásia. Os governos democráticos já existem há muito 
mais tempo na Europa Ocidental, na América do 
Norte, na Austrália e na Nova Zelândia. 
O governo, a política e o poder 
Tal como em muitos outros aspectos das sociedades 
contemporâneas, o domínio do governo e da política 
está a sofrer grandes transformações. Por governo 
entende-se as determinações regulares de políticas, 
decisões e assuntos de Estado pelas entidades oficiais 
no âmbito do aparelho político. A política diz respei-
to aos meios pelos quais o poder é usado para 
influenciar as intenções e o conteúdo das actividades 
governamentais. A esfera do político pode ir além do 
âmbito das próprias instituições de Estado. 
O estudo do poder é de extrema importância para 
a sociologia. O poder é a capacidade que indivíduos 
ou grupos possuem para fazer valer os seus próprios 
interesses, mesmo quando outros se opõem. Por 
vezes, isso requer o uso directo da força, como acon-
teceu quando as autoridades indonésias reprimiram 
violentamente o movimento democrático em Timor 
Leste. O poder é um elemento que se encontra em 
todas as relações sociais, tal como entre a entidade 
patronal e os trabalhadores. Este capítulo foca um 
aspecto mais específico do poder: o poder governa-
mental. Nesta forma, ele é quase sempre acompanha* 
do por ideologias, que são usadas para justificar as 
acções dos que detêm o poder. Por exemplo, o uso da 
força por parte do governo Indonésio contra o movi-
mento pró-democracia em Timor Leste foi justificado 
como decorrendo da defesa da integridade territorial 
indonésia contra um movimento regional a favor da 
independência. 
A autoridade é o uso legítimo do poder pelo 
governo. A legitimidade significa que aqueles que se 
submetem à autoridade do governo consentem nela. 
O G O V E R N O E A P O L Í T I C A 4 2 5 
O poder é, assim, diferente de autoridade. Quando as 
manifestações pró-democracia eclodiram em Timor 
Leste, o governo respondeu prendendo e matando os 
manifestantes. Foi uma manifestação de poder, mas 
também um indicativo da perda de autoridade do 
governo. 
O conceito de estado 
U m estado existe quando há um aparelho político de 
governo (instituições como um parlamento ou con-
gresso, mais funcionários públicos), que governa um 
dado território, cuja autoridade é apoiada por um sis-
tema legal e pela capacidade de usar a força militar 
para implementar as suas políticas. Todas as socieda-
des modernas são estados-nação. Isto é> são estados 
onde os cidadãos, constituindo o grosso da popula* 
ção, se reconhecem como fazendo parte de uma só 
nação. Existiram estados-nação em diferentes épo-
cas, em diferentes partes do mundo (por exemplo, 
nos Estados Unidos em 1776 e na Republica Checa 
em 1993). As suas principais características, contudo, 
contrastam de uma forma marcante com as dos esta-
dos nas civilizações não industriais ou tradicionais, 
como as descritas no Capítulo 2 («Cultura e Socieda-
de»). Elas são: 
+ 
• Soberania - Os territórios governados por estados 
tradicionais eram sempre mal definidos, sendo o 
nível de controlo do governo central bastante 
fraco. A noção de soberania - a autoridade que 
um governo possui sobre uma área com fronteiras 
bem definidas, dentro das quais detém o poder 
supremo - tinha pouca relevância. Todos os Esta-
dos-nação, pelo contrário, são estados soberanos. 
• Cidadania - Em estados tradicionais, a maioria 
da população governada por um rei ou imperador 
mostrava pouco conhecimento ou interesse por 
aqueles que a governavam. Também não pos-
suíam direitos políticos ou influência. Normal-
mente só as classes dominantes ou os grupos mais 
ricos é que tinham um sentimento de pertença a 
uma comunidade política. Nas sociedades moder-
nas, pelo contrário, a maior parte das pessoas que 
vivem dentro dos limites do sistema político são 
cidadãos, tendo direitos e deveres comuns e reco-
nhecendo-se como fazendo parte da nação. 
Embora existam algumas pessoas que são refu-
giados políticos ou «sem estado», quase todos os 
indivíduos no mundo de hoje são membros de 
uma ordem política nacional definida. 
• Nacionalismo - Os Estados-nação estão associa-
dos ao incremento do nacionalismo, que pode ser 
definido como um conjunto de símbolos e con-
vicções que estabelecem um sentido de pertença a 
uma única comunidade política. Assim, os indiví-
duos sentem orgulho em serem britânicos, ameri-
canos, canadianos ou russos. Este sentimento de 
pertença alimentou a luta dos timorenses pela 
independência. Provavelmente as pessoas senti-
ram sempre, de algum modo, alguma espécie de 
identidade com grupos especiais - a sua família, 
aldeia ou comunidade religiosa. Todavia, o nacio-
nalismo só surgiu com o desenvolvimento do 
estado moderno e é a principal expressão de sen-
timentos de identidade com uma certa comunida-
de soberana. No final do capítulo, iremos explorar 
com mais profundidade o fenómeno do naciona-
lismo. 
Tendo discutido algumas das características mais 
importantes dos estados modernos, consideraremos 
agora os principais tipos de sistemas políticos. 
Tipos de sistema politico 
As sociedades sempre se apoiaram em diversos siste-
mas políticos. Mesmo actualmente, no início do sécu-
lo X X I , há países por todo o mundo que continuam a 
organizar-sede acordo com diferentes padrões e con-
figurações. Enquanto actualmente a maioria das 
sociedades reivindica serem democráticas - ou seja, 
serem governadas pelo povo - continuam a existir 
outras formas de domínio político. Nesta secção, 
estabeleceremos o perfil de três tipos básicos de sis-
temas políticos: monarquia, democracia liberal e 
autoritarismo. 
Monarquia 
A monarquia é um sistema político encabeçado por 
uma única pessoa, em que o poder é transmitido no 
seio de uma família ao longo de diversas gerações. 
Nos tempos antigos e medievais, havia monarquias 
em muitas partes do mundo, da Ásia à Europa, e em 
muitas zonas de África. As famílias reais governa-
O G O V E R N O E A P O L Í T I C A 426 
vam os seus súbditos baseadas na tradição e no direi-
to divino. A autoridade das monarquias era mais legi-
timada pela força do costume do que pela lei. 
Embora possamos ainda encontrar monarcas em 
alguns estados modernos, como a Grã-Bretanha ou a 
Bélgica, o seu papel hoje pouco mais é do que figu-
rativo. Os monarcas continuam ainda a ter certas res-
ponsabilidades simbólicas e a constituir um ponto 
focal para a identidade nacional, porém raramente 
influenciam o decurso dos acontecimentos políticos. 
Num pequeno número de países, como a Arábia Sau-
dita, a Jordânia e Marrocos, os monarcas continuam 
ainda a ter algum tipo de controlo sobre o governo. 
No entanto, os mais comuns são os monarcas cons-
titucionais - como a Rainha de Inglaterra, o Rei da 
Suécia ou mesmo o Imperador do Japão - cujo poder 
real é severamente restringido pela constituição, que 
investe de autoridade os representantes eleitos pelo 
povo. A maioria dos estados modernos são republica-
nos, o que significa que não existe Rei ou Rainha; em 
quase todos os estados, monarquias constitucionais 
incluídas, há uma adesão declarada à democracia. 
Democracia 
A palavra «democracia» tem as suas raízes no termo 
grego demokratia, formado por demos (povo) e kra-
tos (governo). O significado básico de democracia é, 
por conseguinte, o de um sistema político em que o 
povo governa, e não os monarcas ou aristocratas. Isto 
parece simples e de fácil entendimento, mas nâo o é. 
O Governo democrático tem tomado formas contras-
tantes em vários períodos e diferentes sociedades, em 
função da interpretação atribuída ao conceito. Por 
exemplo, "o povo" tem sido diversamente entendido 
como sendo os proprietários, os homens brancos, os 
homens educados, só os homens e os homens e 
mulheres adultos. E m algumas sociedades, a versão 
oficialmente aceite de democracia é limitada à esfera 
política, enquanto noutras se defende a sua extensão 
a outras áreas da vida social. 
A forma tomada pela democracia em determinado 
contexto é largamente um resultado do modo como 
os seus valores e objectivos são entendidos e consi-
derados prioritários. A democracia é vista generica-
mente como o sistema político mais capaz de garan-
tir a igualdade política, proteger a liberdade indivi-
dual, defender o interesse comum> ir ao encontro das 
necessidades dos cidadãos, promover o autodesen-
vol vi mento moral e possibilitar a tomada de decisão 
efectiva que leve em conta os interesses de todos 
(Held 1996). O peso atribuído a estes diversos objec-
tivos pode influenciar a forma como a entendemos: 
essencialmente como uma forma de poder popular 
(autogoverno e auto-regulação) ou como forma de 
acatar a tomada de decisão por parte de outros (tal 
como um grupo de representantes eleitos). 
Democracia participativa 
Na democracia participativa (ou democracia direc-
ta) as decisões são tomadas em comum por aqueles 
que lhes estão sujeitos. Este era o tipo «original» de 
democracia na Grécia antiga. Os que eram considera-
dos cidadãos, uma pequena minoria da sociedade, 
reuniam-se regularmente para ponderar a política a 
seguir e tomar decisões importantes. A democracia 
participativa tem uma importância limitada nas 
sociedades modernas, onde o grosso da população 
tem direitos políticos, e seria impossível que todos 
participassem activamente na tomada de todas as 
decisões que os afectam. 
No entanto, alguns aspectos da democracia partici-
pativa têm relevância nas sociedades modernas. Exis-
tem pequenas comunidades da Nova Inglaterra, no 
nordeste dos Estados Unidos, que continuam a tradi-
ção anual das "reuniões de cidade". Em dias pré-esta-
belecidos. todos os residentes da cidade se reúnem 
para debater e votar sobre assuntos locais que não 
caem sobre jurisdição governamental, estatal ou fede-
ral. A organização de referendos, através dos quais as 
pessoas expressam a sua opinião sobre um determina-
do assunto, por exemplo, é outra forma de democracia 
participativa. É possível consultar directamente as pes-
soas sobre um determinado assunto, reduzindo a 
essência deste a uma ou duas questões. Em alguns paí-
ses da Europa, os referendos são regularmente utiliza-
dos a nível nacional para legitimar importantes deci-
sões políticas, como a adesão à União Monetária Euro-
peia ( U M E ) . Também têm sido utilizados para resolver 
assuntos controversos relacionados com a secessão de 
regiões nacionalistas étnicas como o Quebeque, a 
região canadiana de língua francesa. 
De mocracia represe n tati va 
Questões de natureza prática fazem com que a demo-
cracia participativa não seja viável em larga escala. 
O G O V E R N O E A P O L Í T I C A 4 2 7 
Explorar a democracia: o que constitui o "governo pelo povo?" 
A ideia subjacente à democracia é bastante clara -
o povo devia assumir a responsabilidade de ser 
governado por si próprio em condições de igualda-
de política, sem ter de se sujeitar ao domínio de 
lideres inimputáveis. Mas, quando observamos 
mais de perto» não é totalmente claro o significado 
de "ser governado pelo povo". Como David Held 
salientou, podem colocar-se interrogações a cada 
parte da frase (Held, 1996): 
"O povo" 
Quem deve ser considerado «povo»? 
Que espécie de participação lhe é permitida? 
Que condições se pensa poderem levar à sua 
participação? 
«Governo»: 
• Até onde se deve alargar ou estreitar o campo 
de acção do governo? Deverá ser confinado, por 
exemplo, à esfera da administração pública ou 
pode h^ver democracia noutras esferas - tal 
como uma democracia industrial? 
« Deverá a governação abranger decisões de roti-
na administrativa ou restringir-se às principais 
decisões políticas? 
«Governo pelo»: 
• Deverá obedecesse ao governo «do povo»? 
Qual o papel da obrigação e do desacordo? 
• Existirão circunstâncias em que parte «do povo» 
deverá actuar fora da lei, caso ache que as leis 
existentes são injustas? 
• Em que circunstâncias, se é que em alguma, 
deverão os governos democráticos usar de 
coacção contra aqueles que estiverem em desa-
cordo com as suas politicas? 
Como Held sublinha, os debates sobre o "gover-
no do povo" vão muito além destas questões bási-
cas, existindo opiniões contrastantes sobre as con-
dições necessárias para a existência de uma demo-
cracia de sucesso. A democracia poderá sobreviver 
durante períodos de guerra ou de crise civil? Para a 
sociedade democrática existir será necessária a 
existência da escolarização ou a difusão de um 
certo grau de benvestar social? Não há um con-
senso claro sobre estes aspectos fundamentais da 
democracia, sobretudo devido a novas questões 
que resuitam do acelerado ritmo de globalização e 
mudança social. A democracia continua a ser hoje 
um assunto tão relevante, apesar de controverso, 
como o tem sido durante séculos. 
excepto em momentos específicos, como um referen-
do especial. Hoje é mais comum a democracia 
representativa, sistema político no qual as decisões 
que afectam uma comunidade são tomadas, não por 
esta como um todo, mas por pessoas eleitas para esse 
propósito. Nesta área do governo nacional, a demo-
craciarepresentativa toma a forma de eleições para 
congressos, parlamentos ou outros órgãos nacionais 
similares. A democracia representativa também exis-
te noutros níveis onde decisões colectivas são toma-
das, como províncias ou estados de uma comunidade 
nacional, cidades, condados, municípios e outras 
regiões. Muitas grandes organizações escolhem gerir 
os seus assuntos através da democracia representati-
va, mediante a eleição de um pequeno comité execu-
tivo para tomar decisões-chave. 
Designam-se normalmente por democracias libe-
rais as nações que praticam a democracia representa-
tiva multípaitidária, nas quais a massa da população 
adulta tem o direito de votar. A Grã-Bretanha e os 
outros países da Europa ocidental, os Estados Uni-
dos, o Japão, a Austrália e a Nova Zelândia perten-
cem todos a esta categoria. Alguns países do Tercei-
ro Mundo, como a índia, também têm sistemas 
democráticos liberais. A esta lista juntaram-se recen-
temente os países da Europa Central, Oriental e da 
O G O V E R N O E A P O L Í T I C A 428 
antiga União Soviética que têm caminhado em direc-
ção à democracia desde a queda do domínio comu-
nista há mais de uma década. A democracia liberal 
permanece frágil em alguns destes estados, como as 
antigas repúblicas da Ásia central da União Soviéti-
ca, Jugoslávia e até a Rússia. Noutros países, como a 
Polónia, a República Checa, a Hungria e os Estados 
Bálticos, a democracia veio para ficar. 
Autoritarismo 
Apesar de a democracia encorajar o envolvimento 
activo dos cidadãos nos assuntos políticos, nos esta-
dos autoritários essa participação é negada ou seve-
ramente reprimida. Nestas sociedades, as necessida-
des e os interesses do Estado têm prioridade sobre os 
dos cidadãos comuns, não havendo mecanismos 
legais para fazer oposição ao governo ou para remo-
ver um líder do poder. 
Os governos autoritários existem hoje em muitos 
países, alguns dos quais professam ser democráticos. 
O Iraque, sob a liderança de Saddam Hussein, é um 
exemplo de um estado autoritário onde a dissidência é 
reprimida e uma grande parte dos recursos naturais é 
desviada em benefício de uma minoria*. As poderosas 
monarquias da Arábia Saudita e do Kuwait e a lide-
rança do Myanmar (Birmânia) limitam rigidamente as 
liberdades cívicas dos cidadãos e negam a participação 
significativa do povo nos assuntos governamentais. 
A nação asiática de Singapura é muitas vezes cita-
da como um exemplo do chamado "autoritarismo 
suave", devido ao facto de o partido dominante, o 
Partido de Acção do Povo, se manter firmemente no 
poder, assegurando, no entanto, uma elevada qualida-
de de vida aos seus cidadãos através da intervenção 
em quase todos os aspectos da sociedade. Singapura 
é notável pela sua segurança, ordem civil e integra-
ção social de todos os cidadãos. Se bem que o recen-
te revés económico mundial tenha decerto tido os 
seus efeitos, a economia de Singapura conhece um 
boom, as ruas estão limpas, a população está empre-
gada e a pobreza é virtualmente desconhecida. 
Mesmo as transgressões menores, como deitar lixo 
para o chão ou fumar em público, são punidas com 
* Nota do revisor científico: na Primavera de 2003 o regime de 
Saddam Hussein foi derrcbado militarmente por uma coligação 
anglo-americana, sendo o país actualmente controlado pelos E U A . 
multas severas, possuindo a polícia poderes extraor-
dinários para deter possíveis suspeitos. Apesar deste 
controlo excessivo, a satisfação popular com o gover-
no tem sido elevada e as desigualdades sociais são 
mínimas, em comparação com muitos outros países. 
Embora Singapura careça de liberdades democráti-
cas, o tipo de autoritarismo do país é significativa-
mente diferente do de muitos regimes ditatoriais. 
A disseminação global da democracia 
liberal 
Em meados dos anos 70, mais de dois terços das 
sociedades mundiais podiam ser consideradas como 
autoritárias. Desde essa altura, a situação alterou-se 
significativamente - agora menos de um terço das 
sociedades são autoritárias. A democracia deixou de 
estar concentrada principalmente nos países ociden-
tais, mas tem sido aprovada, pelo menos em princí-
pio, como a forma desejada de governo em muitas 
áreas do mundo. Como David Held notou, "a demo-
cracia tornou-se o padrão fundamental de legitimida-
de política dos tempos actuais" (Held, 1996). 
Nesta secção, iremos considerar a disseminação glo-
bal da democracia liberal, avançando algumas possí-
veis explicações para a sua popularidade. Depois, pas-
saremos a examinar alguns dos principais problemas 
que a democracia enfrenta no mundo contemporâneo. 
A q u e d a do c o m u n i s m o 
Durante um longo período, os sistemas políticos 
mundiais estavam divididos entre a democracia libe-
ral e o comunismo. Este último existia na antiga 
União Soviética e na Europa do Leste (e ainda existe 
na China e em alguns outros países). Durante a maior 
parte do século X X , uma grande parte da população 
mundial vivia sob sistemas políticos de orientação 
comunista ou socialista. Os cem anos seguintes à 
morte de Marx em 1883 pareciam corroborar o prog-
nóstico da disseminação do socialismo e das revolu-
ções dos trabalhadores em todo o mundo. 
O G O V E R N O E A P O L Í T I C A 4 2 9 
A queda do muro de Berlim, em 1989, simbolizou o rápido desmantelamento do comunismo no Leste, que deu lugar a 
uma expansão sem precedentes das instituições democráticas liberais. 
Os estados comunistas considera vam-se democra-
cias, apesar de os sistemas destes países se diferen-
ciarem muito daquilo que no Ocidente se entende por 
democracia O comunismo foi essencialmente um 
sistema de partido único. Os eleitores podiam esco-
lher não entre diferentes partidos, mas entre diferen-
tes candidatos do mesmo partido - o Partido Cornu* 
nista. Muitas vezes havia apenas um candidato a con-
correr, não havendo, portanto, uma escolha real. 
O partido Comunista foi a força dominante nas socie-
dades com um sistema semelhante ao da União 
Soviética: o partido controlava não só o sistema polí-
tico, mas também a economia. 
Quase toda a gente no Ocidente, de académicos a 
cidadãos normais, acreditava que os sistemas comu-
nistas estavam profundamente entrincheirados e que 
se tinham tomado uma característica permanente da 
política global. Poucas pessoas, se é que alguma, pre-
viram a mudança dramática dos acontecimentos que 
se começaram a desenrolarem 1989, à medida que os 
regimes comunistas foram consecutivamente caindo 
numa série de "revoluções de veludo". O que parecia 
ser um sólido e bem estabelecido sistema de governo 
por toda a Europa de Leste foi derrubado de um dia 
para o outro. Os Comunistas perderam o poder numa 
sequência cada vez mais rápida nos países que 
tinham dominado por meio século: Hungria, Polónia, 
Bulgária, Alemanha Oriental, Checoslováquia e 
Roménia. Eventualmente, o próprio partido Comu-
nista na União Soviética perdeu o controlo do poder. 
Quando as 15 repúblicas constituintes da URSS 
declararam a independência, em 1991, Mikhai l Gor-
bachev, o último líder soviético, tornou-se um "presi-
dente sem estado". 
Desde a queda da União Soviética, os processos de 
democratização continuaram a espaJhar-se (ver a 
O G O V E R N O E A P O L Í T I C A 430 
OCEANO 
P*C(t<C0 
v SuittOcttintil 
S 
Abreviaturas 
AL Afcánia 
BH Bfenla Herzegovina 
CR Croétia 
a R«públka^ieca 
HUN Hunyfi 
M I4w***i® 
SA Eslováquia 
SL Eslovénia 
YU AiQMlávta 
ItaftPtKM 
Rejiiw dwiteedbte* no mundo 
Rejb*ea4«moaábcM que 1« ti**» «Meo» IW» 
ou pttteriontnto 
Ifan ftkbfid tf^ílMrtu*} 
Figura 14.1 - A expansão da democracia a partir de 1989 
Fònf* fiiwdomin f t e WorkJ, 1997-1998 (Nova torque: Freedom House, 1 
o G O V E R N O E A P O L Í T I C A 4 3 1 
O G O V E R N O E A P O L Í T I C A 432 
figura 14.1).Inclusivamente, entre alguns dos esta-
dos mais autoritários do mundo, podem ser detecta-
dos sinais de democratização. No Irão, o estado islâ-
mico mais militante do mundo, o descontentamento 
popular com os poderosos mullahs (chefes religio-
sos) conduz, a passos hesitantes, a reformas em 
alguns níveis de governo. O presidente iraniano, 
Mohammed Khatami, tem sido comparado a Mikhai l 
Gorbachev como líder que reconhece que os anseios 
populares no sentido da democracia - se não obtive-
rem resposta - conduzirão ao colapso do sistema. Na 
China, que contém um quinto da população mundial, 
o governo comunista enfrenta fortes pressões com 
vista à democratização. Milhares de pessoas perma-
necem ainda na prisão na China por exprimirem de 
modo não violento o desejo de estabelecer a demo-
cracia. Mas ainda há grupos que resistem ao governo 
comunista, trabalhando activamente para garantir 
uma transição segura para um sistema democrático. 
Nos anos mais recentes, outros estados asiáticos 
autoritários, como a Birmânia, a Indonésia e a Malá-
sia, também assistiram ao crescimento de movimen-
tos democráticos. Alguns destes movimentos depara-
ram com respostas violentas. De qualquer forma, a 
"globalização da democracia" continua a ser real em 
todo o globo e há razões para optimismo acerca do 
futuro da democracia. 
A tendência geral para a democracia não é linear. 
Com efeito, são vários os momentos da história em 
que as instituições políticas democráticas se têm 
revelado frágeis e vulneráveis. Não devemos assumir 
que a democratização é um processo irreversível. No 
entanto, o facto de a democratização estar ligada a 
forças globalizadoras maiores é razão para optimis-
mo quanto ao futuro da democracia. 
C o m o e x p l i c a r a p o p u l a r i d a d e 
d a d e m o c r a c i a l i be ra l ? 
Porque se tornou tão popular a democracia? Uma 
explicação frequentemente avançada é a de que 
outros tipos de governo político têm sido experi-
mentados e têm falhado - a democracia revelou ser 
o "melhor" sistema político (ver caixa de texto). 
Parece claro que a democracia é a melhor forma de 
organização política, o que, contudo, por si só não 
explica adequadamente as recentes vagas de demo-
cratização. 
As razões estão relacionadas com as transforma-
ções sociais e económicas analisadas ao longo deste 
livro. E m primeiro lugar, a democracia tende a estar 
associada a uma economia de mercado e esta mostrou 
ser superior ao comunismo como sistema gerador de 
riqueza. Enquanto sistema de gestão e de planeamen-
to económico, o comunismo revelou-se ineficaz e 
não competitivo. Em segundo lugar, quanto mais a 
actividade social se toma globalizada e as pessoas 
vêem as suas vidas diárias influenciadas por aconte-
cimentos que oconem longe, mais elas tentam obter 
informação acerca do modo como são governadas, 
desejando logicamente uma maior democracia. 
A globalização, ao promover a disseminação de 
ideias e de opiniões através das fronteiras nacionais, 
conduz a uma cidadania mais activa em muitas partes 
do mundo. 
Em terceiro lugar, vem a influência da comunica-
ção de massas, especialmente a televisão e a Internet. 
A reacção em cadeia provocada pela expansão da 
democracia foi, provavelmente, muito influenciada 
pela possibilidade de se visualizarem os aconteci-
mentos no mundo de hoje. Com o aparecimento de 
novas tecnologias ligadas à televisão, especialmente 
o satélite e o cabo, os governos não podem manter o 
controlo sobre o que os seus cidadãos vêem. Tal 
como na China, o Partido Comunista da União Sovié-
tica e os da Europa de leste costumavam manter um 
controlo rígido sobre as cadeias de televisão, que per-
tenciam todas ao governo e eram por ele dirigidas. 
Contudo, a expansão das transmissões por satélite 
possibilitou a muitas pessoas o acesso a programas de 
televisão do Ocidente, pondo-as, assim, em contacto 
com opiniões diferentes das emitidas pela propagan-
da ortodoxa dos governos sobre as suas condições de 
vida. 
A popularidade crescente da Internet está a inten-
sificar esta tendência com a utilização da comunica-
ção directa entre indivíduos e grupos por todo o 
globo. A Internet e os sistemas de telecomunicações 
sofisticados permitem a transmissão instantânea de 
imagens e material escrito. Vivemos actualmente 
num "mundo informacional aberto", onde os gover-
nos autoritários têm menor capacidade de controlo 
sobre o fluxo de informação (apesar de muitos ainda 
o tentarem - ver caixa). Este ambiente mediatizado 
dificulta cada vez mais aos governos o recurso a anti-
gas formas de poder, minando a legitimidade de 
o G O V E R N O E A P O L Í T I C A 4 3 3 
O triunfo da democracia: o fim da história? 
Francis Fukuyama é o escritor cujo nome é sinóni-
mo da expressão l i m da história". A concepção de 
Fukuyama do fim da história baseia-se no triunfo 
global do capitalismo e da democracia liberal. 
Segundo Fukuyama, na sequência das revoluções 
na Europa de Leste em 1969, da dissolução da 
União Soviética e de um movimento para a demo-
cracia multipartidáría em outras regiões, as bata* 
lhas ideológicas de eras anteriores acabaram. O fim 
da história é o fim das alternativas. Hoje ninguém 
debande a monarquia, e o fascismo é um fenómeno 
do passado. O comunismo, por tanto tempo o maior 
rival da democracia ocidental, também acabou. 
O capitalismo ganhou a sua longa luta contra o 
socialismo, contrariamente à previsão de Marx, e a 
democracia liberal é agora inabalável. 
Fukuyama refere que chegámos "ao ponto final 
da evolução ideológica da Humanidade e à univer-
salização da democracia ocidental como a forma 
final do governo humano" (1989). 
A tese de Fukuyama tem provocado reacções 
críticas, porém, sublinhou de alguma forma um 
fenómeno-chave do nosso tempo. Actualmente, não 
s 
existe um eleitorado com dimensão significativa ou 
um movimento de massas capaz de conceber for-
s 
mas de organização política e económica para além 
do mercado e da economia liberal. Apesar de tudo 
isto parecer estar a acontecer, é duvidoso que a his-
tória tenha parado, no sentido de se terem esgota-
do todas as nossas alternativas. Quem pode afirmar 
que novas formas de ordem económica, politica ou 
cultural náo poderão emergir no futuro? Tal como os 
pensadores dos tempos medievais não fa2iarn ideia 
da sociedade industrial que iria surgir com o declí-
nio do feudalismo, não podemos antecipar como 
mudará o mundo no próximo século. 
governos cujo domínio assenta num simbolismo tra« 
dicional ou depende de um respeito inquestionável. 
E m tais condições, o govemo autoritário perde o con-
tacto com outras experiências de vida, como a flexi-
bilidade e o dinamismo necessários para competir na 
economia electrónica global. 
O p a r a d o x o da d e m o c r a c i a 
À medida que a democracia liberal se expande por 
todo o Mundo* poderíamos esperar que estivesse a 
consolidar-se de uma forma muito sólida. No entan-
to, a democracia está a atravessar algumas dificulda-
des em quase todo o lado. O "paradoxo da democra-
cia" é intrigante. Por um lado, a democracia expande-
•se por todo o mundo; por outro, nas sociedades 
democráticas de modernidade tardia, com institui-
ções democráticas enraizadas, é elevada a desilusão 
com os processos democráticos. 
A democracia está em crise nos seus principais 
países de origem - inquéritos realizados na Grã-Bre-
tanha, na Europa e nos Estados Unidos mostram que 
cada vez mais pessoas estão insatisfeitas com o siste-
ma político ou se sentem indiferentes a ele. 
Porque é que muitos se sentem infelizes com o sis-
tema político que parece estar a expandir-se por todo 
o mundo? As respostas, curiosamente, estão ligadas 
aos factores que o ajudaram na sua expansão - o 
impacto das novas tecnologias da comunicação e a 
globalização da vida social. 
Como afirmouo sociólogo americano Daniel Bell, 
o governo nacional é "demasiado pequeno para dar 
resposta às grandes questões", tais como a influência 
da competição económica global ou a destruição do 
meio ambiente, mas tomou-se "demasiado grande 
para lidar com pequenas questões", assuntos que 
afectam particularmente cidades ou regiões. Os 
governos têm pouco poder, por exemplo, sobre as 
actividades das grandes empresas multinacionais, os 
principais intervenientes no sistema económico glo-
bal. Uma multinacional americana pode decidir 
fechar as suas fábricas na Grã-Bretanha e montar 
O G O V E R N O E A P O L Í T I C A 434 
A internet e a democratização 
A Internet é uma poderosa força de democratização. 
Ultrapassa as fronteiras nacionais e culturais, facilita 
a disseminação de ideias por todo o globo é permite 
a pessoas de mentalidades próximas encontrarem-
-se no reino do ctoereepaça Cada vez mais pessoas 
e m países por todo o mundo acedem à Internet regu-
larmente e consideram isso importante para os seus 
estâos de vida. Porém, a expansão dinâmica da Inter-
net i entendida como uma ameaça pêlos governos -
especialmente pelos governos autoritários - que 
reconhecem o potencial da actividade onKne para 
subverter a autoridade estatal. Apesar de a Internet 
ter permissão para existir livremente em muitos pai-
ses» alguns tem começado a tomar medidas para 
limitar o seu uso pelos cidadãos. 
A China, por exemplo, assistiu è quadruplicação 
de utilizadores d a internet de 2,1 milhões para â ,9 
milhões só e m 1999. Estimoo-se que o número de 
utífcadores chineses contornará a dupBcâr 
mente. Como resposta a este rápido crescimento, o 
governo chinês anunciou regras rígidas banindo a 
publicação de "segredos de estado" na Internet, tem 
bloqueado Ante directos e indirectos entre websites 
chineses e estrangeiros, e iniciou um sistema de 
uma nova fábrica no México com o objectivo de 
diminuir os custos e competir com mais eficácia com 
outras multinacionais. O resultado é milhares de tra-
balhadores britânicos perderam os seus empregos. 
O mais provável é que queiram que os seus governos 
façam alguma coisa, mas os governos nacionais são 
impotentes para controlar processos ligados à econo-
mia mundial. 
Em muitas democracias, os cidadãos têm pouca 
confiança nos seus representantes eleitos, concluindo 
que a política nacional tem pouco impacto nas suas 
vidas. Existe um cinismo crescente acerca de políti* 
cos que alegam ser capazes de prever ou controlar 
assuntos globais, que transcendem as fronteiras do 
estado-nação. Muitos cidadãos apercebem-se de que 
os políticos não têm capacidade para influenciar as 
mudanças que ocorrem a nível global, encarando 
assim com grande suspeita as suas proclamações de 
sucesso. As sondagens de opinião pública revelam 
que, em muitos países ocidentais, a imagem dos polí-
ticos está seriamente comprometida! U m número 
crescente de cidadãos considera que os políticos 
actuam apenas em benefício próprio, não se envol-
vendo em assuntos que inquietam o eleitorado. 
Alguma comprovação para esta conclusão advém 
dos resultados de estudos recentes levados a cabo em 
dois grupos de idade. De acoido com estas pesquisas, 
as atitudes políticas entre os cidadãos jovens e de 
meia-idade do Reino Unido são mais caracterizadas 
pelo cinismo do que por qualquer outro factor. No 
levantamento dos nascidos em 1970 , 44 por cento 
acreditava que os políticos estavam na política para 
seu próprio beneficio, e 30 por cento dos nascidos em 
1958 concordava que era largamente inelevante qual 
o partido político que está no poder, porque há pou* 
cos benefícios directos para o cidadão comum. Os 
estudos revelaram que o cinismo político é mais pro-
nunciado entre aqueles que não possuem quaisquer 
qualificações (ESRC 1997). 
Ao mesmo tempo que o poder dos governos enfra-
quece em relação a assuntos globais, as autoridades 
políticas também se tomaram mais distantes da vida 
da maioria dos cidadãos. Muitos destes ressentem-se 
pelo facto de decisões que afectam as suas vidas 
serem tomadas por «intermediários do poder» distan-
tes - membros do partido, grupos de interesse, «lob-
bies» e burocratas. Também acreditam que o governo 
é impotente para tratar de assuntos locais importan-
tes, como o crime e os sem-abrigo. E m consequência 
destes factos, a fé no governo tem vindo a diminuir 
substancialmente. Por seu turno, isto afecta a vonta-
de de participação das pessoas no processo político. 
Os efeitos da "era da informação aberta" são senti* 
dos não só em estados autoritários, mas também nas 
o G O V E R N O E A P O L Í T I C A 4 3 5 
y 
( * 
A 
É I 
^ c e n s u r a para vigiar o conteúdo de notícias e infor-
mações trocadas na Internet. 
Aos olhos da liderança comunista chinesa, a 
Internet representa uma ameaça perigosa à segu-
rança estatal, uma vez que permite aos grupos de 
oposição política coordenarem as suas actividades. 
Em Abril d e l 9 9 9 , por exemplo, milhares de apoian-
tos da Falun Gong - um movimento espiritual cujos 
membros acreditam que exercícios de respiração 
prolongam a vida - mobifizaram-se através da Inter-
net e juntaram-se em Pequim para um protesto 
: silencioso. Informação sensível sobre as capacida-
des militares e tecnológicas chinesas tem sido 
supostamente publicada em websites chineses. Tais 
acontecimentos confirmam ao governo chinês que 
a Internet é um poderoso meio de comunicação que 
tem de ser controlado. 
Existem outros governos que chegaram a con-
clusões semelhantes. O governo birmanês anun-
ciou a decisão de banir a disseminação de informa-
ção "prejudicial ao governo*1 através da Internet ou 
do correio electrónico. As autoridades malaias exi-
giram que os dbercafés mantivessem listas de 
todos os indivíduos que usam os seus computado-
res. Na Rússia, requer-se aos fornecedores locais 
de serviços de Internet que se associem a um 
esquema de vigilância electrónica supervisionado 
pelo serviço de segurança federal. 
democracias. Vivemos num mundo em que os cida-
dãos e o governo têm, virtualmente, acesso à mesma 
informação. Os próprios governos democráticos, que 
há muito dependem de certas formas de actuação não 
democráticas - desde a corrupção pura e simples a 
jogos de bastidores e redes de influências - encon-
tram-se agora mais facilmente expostos, graças às tec-
nologias de informação. Certos processos, que outrora 
permaneciam invisíveis, são hoje visíveis, provocando 
ressentimento e desilusão entre o eleitorado democrá-
tico. Os velhos modos de fazer as coisas têm sido pro-
gressivamente minados e as estruturas políticas exis-
tentes já não podem ser consideradas como assentes. 
Hoje em dia, alguns observadores lamentam que 
os cidadãos em estados democráticos se tenham tor-
nado apáticos, perdendo o interesse no processo polí-
tico. É verdade que o número de votantes tem decres-
cido em décadas mais recentes, e o número de mem-
bros dos principais partidos políticos entrou também 
em declínio. No entanto, é um erro sugerir que as 
pessoas se desinteressaram da política e perderam a 
fé na própria democracia. As sondagens de opinião 
mostram que, para a maioria esmagadora de residen-
tes em países democráticos, a democracia é a forma 
preferida de governo. Além disso, há sinais de que o 
interesse pela política está em crescimento, sendo, 
porém, canalizado para outras direcções e não para a 
política partidária ortodoxa. Crescem os membros de 
grupos cívicos e associações que investem os seus 
esforços em novos movimentos sociais dedicados a 
questões como o ambiente, os direitos dos animais, a 
política comercial e a não-proliferação nuclear (ver 
mais à frente). 
Qual será, então, o destino da democracia numa 
época em que o governo democrático parece estar mal 
preparado para lidar com os acontecimentos? Algunsobservadores sugerem que há pouco a fazer, que o 
govemo não pode esperar controlar as mudanças rápi-
das que ocorrem à nossa volta e que o rumo de acção 
mais prudente é reduzir o papel do governo e deixar 
que as forças de mercado nos orientem. Contudo, tal 
abordagem é contestável. No mundo actual, temos 
cada vez mais necessidade de mais governo e não de 
menos. Porém, o governo efectivo leva, na era actual, 
a um aprofundamento da democracia quer ao nível do 
estado-nação, quer a níveis superiores ou inferiores a 
este. 
Veremos brevemente como algumas destas dinâ-
micas se estão a fazer sentir na política britânica. 
A democracia liberal por definição envolve a existên-
cia de diversos partidos políticos. Iremos observar, 
em primeiro lugar, os diferentes tipos de sistema par-
tidário que podem ser agrupados sob o rótulo de 
democracia liberal. 
O G O V E R N O E A P O L Í T I C A 436 
Os partidos políticos e o sufrágio 
nos países ocidentais 
Sistemas Partidários 
U m partido político pode ser definido como uma 
organização orientada para adquirir o controlo legíti-
mo do govemo através de um processo eleitoral. 
Existem muitos tipos de sistemas partidários. A exis-
tência de um sistema bipartidário ou de outro que 
envolva mais partidos depende, em grande parte, da 
natureza do processo eleitoral num dado país. Dois 
partidos tendem a dominar o sistema político, quan-
do as eleições se baseiam no princípio da maioria. 
O candidato que obtiver a maioria dos votos num cír-
culo eleitoral ganha a eleição independentemente da 
proporção geral dos votos que obteve e monopoliza a 
representação partidária. Quando as eleições assen-
tam em princípios diferentes, como o da representa-
ção proporcional (em que os lugares na assembleia 
representativa são distribuídos de acordo com a pro-
porção dos votos obtidos), os sistemas bipartidários 
são menos comuns. 
Nos países da Europa ocidental existem muitos 
tipos de oiçanizações partidárias, mas nem todos eles 
se encontram na política britânica. Alguns partidos 
assentam na denominação religiosa (como o Partido 
Social Cristão ou o Partido Popular Católico, na Bél-
gica)*; outros são partidos étnicos que representam 
determinados grupos nacionalistas ou linguísticos 
(como o Partido Nacional Escocês na Grã-Bretanha 
ou o Svenska Folkpartiet** na Finlândia); outros são 
partidos rurais que representam interesses agrários 
(por exemplo, o Partido do Centro na Suécia ou o 
Partido Popular Suíço, na Suíça); outros, ainda, são 
partidos ambientalistas, preocupados com objectivos 
ecológicos (como os Verdes, na Alemanha). Muitos 
países europeus também têm partidos nacionalistas 
de extrema direita que são hostis a imigrantes e 
estrangeiros (ver abaixo). 
Partidos socialistas ou trabalhistas têm formado 
governos, desde a Segunda Guerra Mundial , na 
maioria dos países da Europa Ocidental. Até há 
* Nota do revisor científico: um dos partidos é valão e o outro 
é flamengo. 
* * Nota do revisor científico: partido que procura representar a 
minoria sueca. 
pouco tempo havia partidos comunistas oficialmente 
reconhecidos em quase todos esses países e alguns 
deles eram grandes (como os da Itália, França e 
Espanha). A seguir às mudanças na Europa de Leste, 
muitos deles têm mudado as suas denominações. 
Existem muitos partidos conservadores (como o Par-
tido Republicano, em França, ou o Partido Conser-
vador e o Partido Unionista, na Grã-Bretanha) e há 
partidos «centristas» que ocupam «o terreno do cen-
tro», entre a esquerda e a direita (como os Liberais-
-Democratas, na Grã-Bretanha). ( O termo «esquer-
da» é usado para nos referirmos a grupos políticos 
radicais ou progressistas; «direita» refere-se a gru-
pos mais conservadores). 
Em alguns países, o líder do partido da maioria, ou 
de um dos partidos numa coligação, torna-se automa-
ticamente primeiro-ministro, a mais alta função 
pública do país. Noutros casos (como nos Estados 
Unidos), é eleito um presidente separadamente das 
eleições para os principais corpos representativos. 
É pouco provável que qualquer sistema eleitoral nos 
países do Ocidente seja exactamente igual a outro, e 
a maior parte são mais complicados que o do Reino 
Unido. A Alemanha pode servir de exemplo. Nesse 
país, os membros são eleitos para o Bundestag (Par-
lamento) através de um sistema que combina o prin-
cípio da maioria com o da eleição proporcional. 
Metade dos membros do Bundestag são eleitos em 
círculos eleitorais em que ganha o candidato que tiver 
mais votos. Os outros 50 por cento são eleitos de 
acordo com as proporções de voto obtidas em áreas 
regionais específicas. Este sistema permitiu ao Parti-
do dos Verdes ganhar lugares no parlamento. Estabe-
leceu-se um limite de 5 por cento para evitar a proli-
feração de pequenos partidos - tem de ser alcançada 
esta proporção de voto, pelo menos, para que o Parti-
do possa obter representação parlamentar. U m siste-
ma semelhante é usado nas eleições autárquicas. 
Sistemas com dois partidos predominantes, como o 
da Grã-Bretanha, tendem a conduzir a uma concentra-
ção no «centro», onde se encontra a maioria dos 
votos, excluindo opiniões mais radicais. Nestes paí-
ses, os partidos cultivam normalmente uma imagem 
moderada que chega por vezes a assemelhar-se de tal 
forma, que a opção por um ou outro pouco difere. 
Uma pluralidade de interesses pode ser representada 
supostamente por cada partido, mas, muito frequente-
mente, acabam misturados num programa moderado

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