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DIREITO CIVIL I (módulo 01) 1. O CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO – Lei 10.406/2002 O Código Civil representa a consolidação das mudanças sociais e legislativas surgidas nas últimas décadas, incorporando outros novos avanços na técnica jurídica. O Código Civil, além de estabelecer preceitos normativos fechados, também se orienta por cláusulas gerais - normas orientadoras, dirigidas, precipuamente, ao magistrado, que, por um lado, o vinculando, e, por outro, dá-lhe certa liberdade para decidir. É uma técnica legislativa que constitui na elaboração de normas que não prescrevem uma certa conduta, mas, simplesmente, definem valores e parâmetros hermenêuticos. Alguns autores apontam três tipos de cláusulas gerais dispostas no Código Civil: � As cláusulas gerais restritivas para limitar ou restringir determinadas situações e direitos subjetivos assegurados por princípios e regras. Ex. função social do contrato (art. 421 CC) e da boa-fé (art. 422 CC) � As cláusulas gerais regulativas para regular as situações fáticas sem desenho acabado na legislação. Ex. (art. 186 CC) � As cláusulas gerais extensivas que permitem o alargamento da regulação jurídica por intermédio do uso de regras e princípios de outros sistemas legais. Ex. uso regras atinentes ao mandato e à comissão (lei especial), aos contratos de agência e distribuição (art. 721 CC). 1.1. Três princípios fundamentais do Código Civil: a) Eticidade: O Código Civil alia os valores técnicos aos valores éticos. Por isso percebe-se, muitas vezes a opção por normas genéricas ou cláusulas gerais, sem a preocupação de excessivo rigorismo conceitual. O mundo contemporâneo testemunha a preocupação constante dos doutrinadores jurídicos, políticos e sociais com a necessidade das relações do homem com os seus e do Estado com os seus administrados serem fortalecidas com a prática de condutas éticas. Afirmam que a ética é delimitadora do comportamento humano, abrangendo a realidade que o cerca e influenciando a estrutura dos fatos e atos produzidos pelo cidadão. Declaram que o Código Civil apresenta-se em forma de sistema vinculado a dois pólos: um formado em eixo central; o outro concentrado em um sistema aberto (clausulas gerais). A eticidade no Código Civil visa imprimir eficácia e efetividade aos princípios constitucionais da valorização da dignidade humana, da cidadania, da personalidade, da confiança, da probidade, da lealdade, da boa-fé, da honestidade nas relações jurídicas de direito privado. AlexandreBlanco Realce AlexandreBlanco Realce Art. 1º CC. Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil. Art. 2º CC. A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro. Art. 421 CC. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato. Art. 422 CC. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé. Art. 1.724 CC. As relações pessoais entre os companheiros obedecerão aos deveres de lealdade, respeito e assistência, e de guarda, sustento e educação dos filhos. b) Socialidade: Está presente no Código Civil a socialidade, com o predomínio do social sobre o individual. Um exemplo interessante neste sentido é o da função social da propriedade A Constituição Federal deu uma fisionomia funcional social ao direito de propriedade, e ao lado de garantir o direito de propriedade (art. 5°, incisos XXII e XXIII, da CF88). A funcionalização do direito de propriedade importa em dar-lhe uma determinada finalidade, que na propriedade rural significa ser produtiva e na propriedade urbana quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressa no plano diretor. Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XXII - é garantido o direito de propriedade; XXIII - a propriedade atenderá a sua função social; Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: II - propriedade privada; III - função social da propriedade; Art. 182 CF/88. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem- estar de seus habitantes. § 2º A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor. Art. 184 CF/88. Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja utilização será definida em lei. Art. 186 CF/88. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos: I - aproveitamento racional e adequado; II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente; III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho; IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores. Art. 1.228 CC. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha. § 1° O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas. c) Operabilidade: Diversas soluções normativas foram tomadas no sentido de possibilitar uma compreensão maior e mais simplificada para sua interpretação e aplicação pelo operador do Direito. Exemplo disso foram as distinções mais claras entre prescrição e decadência e os casos em que são aplicadas; estabeleceu-se a diferença objetiva entre associação e sociedade, servindo a primeira para indicar as entidades de fins não econômicos, e a última para designar as de objetivos econômicos. Art. 189 CC. Violado o direito, nasce para o titular a pretensão, a qual se extingue, pela prescrição, nos prazos a que aludem os arts. 205 e 206. Art. 207 CC. Salvo disposição legal em contrário, não se aplicam à decadência as normas que impedem, suspendem ou interrompem a prescrição. Art. 53 CC. Constituem-se as associações pela união de pessoas que se organizem para fins não econômicos. Art. 981 CC. Celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados. 1.2. A Constitucionalização do Direito Civil O Código Civil sempre representou o centro normativo de direito privado, por se preocupar em regular com inteireza e completude as relações entre particulares. No Código Civil de 1916 (fortemente influenciada pelo Código Napoleônico de 1804 e pelo BGB da Alemanha de 1896) existia uma verdadeira cisão na estrutura jurídica liberal no sentido de que a Constituição apenas deveria se preocupar em regular a dinâmica organizacional dos poderes do Estado, enquanto que ao Código Civil era reservadoo regime das relações humanas, o espaço sagrado e inviolável da autonomia privada. O excessivo individualismo e a liberdade sem limites ocasionaram grandes desigualdades sociais. Houve a necessidade de o Estado interferir nas relações de direito privado para minimizar essas desigualdades e limitar a liberdade dos indivíduos protegendo as classes menos favorecidas, em busca de uma igualdade substancial. Assim, a Constituição assumiu um novo papel de regência das relações privadas, conferindo uma nova unidade do sistema jurídico. A posição hierárquica da Constituição e sua ingerência nas relações econômicas e sociais possibilitam a formação de um novo centro unificador do sistema, definindo seus verdadeiros pilares e pressupostos de fundamentação. Assim, foi se derrubando o paradigma individualista do Estado Liberal e do cidadão dotado de patrimônio, e passou-se a adotar um novo paradigma. As constituições começaram a trazer em seu bojo regras e princípios típicos de direito civil e a valorizar a pessoa colocando-a acima do patrimônio. Passou-se a buscar a justiça social ou distributiva e, aos poucos, a liberdade foi sendo limitada, com a finalidade de se alcançar uma igualdade substancial. A Constituição Federal de 1988, refletindo as mudanças nas relações familiares ocorridas ao longo do século XX deu um novo perfil aos institutos do direito de família e o Código Civil de 2002 adaptou-se aos novos ditames constitucionais: � União Estável – reconhecida; � Maioridade Civil: aos 18 anos; � Regime de bens: pode ser alterado por acordo entre os cônjuges; � Exames de DNA para comprovação de paternidade: a recusa implica em reconhecimento da filiação; � Filhos nascidos fora do casamento: não há mais distinção entre filhos; � Guarda dos filhos em caso de separação: os filhos podem ficar com o pai ou a mãe; � Testamento: não mais precisa ser feito à mão pelo testador; � Sucessão: o cônjuge passa a ser herdeiro necessário. Art. 226 CF/88. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. § 3º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento. Art. 1.723 CC. É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família. Art. 5° CC. A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil. Art. 9° CC/1916. Aos vinte e um anos completos acaba a menoridade, ficando habilitado o indivíduo para todos os atos da vida civil. Art. 1.596 CC. Os filhos, havidos ou não da relação de casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação. Art. 358 CC/1916. Os filhos incestuosos e os adulterinos não podem ser reconhecidos. Art. 1.639 CC. É lícito aos nubentes, antes de celebrado o casamento, estipular, quanto aos seus bens, o que lhes aprouver. § 2o É admissível alteração do regime de bens, mediante autorização judicial em pedido motivado de ambos os cônjuges, apurada a procedência das razões invocadas e ressalvados os direitos de terceiros. Art. 230 CC/1916. O regime dos bens entre os cônjuges começa a vigorar desde a data do casamento, e é irrevogável. Art. 1.583 CC. A guarda será unilateral ou compartilhada. § 1° Compreende-se por guarda unilateral a atribuída a um só dos genitores ou a alguém que o substitua e, por guarda compartilhada a responsabilização conjunta e o exercício de direitos e deveres do pai e da mãe que não vivam sob o mesmo teto, concernentes ao poder familiar dos filhos comuns. § 2° Na guarda compartilhada, o tempo de convívio com os filhos deve ser dividido de forma equilibrada com a mãe e com o pai, sempre tendo em vista as condições fáticas e os interesses dos filhos: Art. 326 CC/1916. Sendo desquite judicial, ficarão os filhos menores com o cônjuge inocente. § 1º Se ambos os cônjuges forem culpados ficarão em poder da mãe os filhos menores, salvo se o juiz verificar que de tal solução possa advir prejuízo de ordem moral para eles. Art. 1.876 CC. O testamento particular pode ser escrito de próprio punho ou mediante processo mecânico. Art. 1.645 CC/1916. São requisitos essenciais do testamento particular: I - Que seja escrito e assinado pelo testador. Art. 1.845 CC. São herdeiros necessários os descendentes, os ascendentes e o cônjuge. Art. 1.721 CC/1916. O testador que tiver descendente ou ascendente sucessível, não poderá dispor de mais da metade de seus bens; a outra pertencerá de pleno direito ao descendente e, em sua falta, ao ascendente, dos quais constitui a legítima, segundo o disposto neste Código Caso Concreto 01: Afirma José Carlos Moreira Alves que “os códigos não surgem muito bons, mas, pouco a pouco, com o trabalho da doutrina e da jurisprudência, vão-se lendo o que neles não está escrito, deixando-se de ler, muitas vezes, o que nele está e, no final de certo tempo, por força de sua utilização, da colmatação dessas lacunas, da eliminação de certos princípios da sua literalidade, o código vai melhorando e, no final de certo tempo, já se considera que é um bom código”. Diante disso pergunta-se: a) O Código Civil realmente nasceu velho como afirmaram alguns civilistas? Explique sua resposta. O fato do Código Civil de 2002 ter tramitado dede 1975 não o torna “velho”, pois passou por alterações e debates até 2001 e adotou a técnica legislativa das cláusulas gerais e dos conceitos jurídicos indeterminados que permite sua atualização com a realidade do momento da aplicação de suas normas. É evidente que as transformações sociais dos últimos anos e suas repercussões jurídicas precisam ser debatidas com maior eficácia, mas afirmar que o Código Civil “nasceu velho” é ignorar a técnica legislativa nele implantada. b) Qual a diferença entre cláusulas gerais e conceitos jurídicos indeterminados? Cite um exemplo de cada. Tanto nos conceitos jurídicos indeterminados quanto nas cláusulas gerais o magistrado age de forma a valorar a situação concreta. Contudo, nos conceitos indeterminados o grau de generalidade é menor, fazendo-se necessária a subsunção dos fatos à hipótese legal. Nas cláusulas gerais o fato é substituído pela atividade de criação judicial, por meio de síntese, de maneira que constitua o processo em verdadeira concreção. Os conceitos indeterminados não se confundem com as cláusulas gerais, porque estas exigem que o juiz concorra ativamente para a formulação da norma, pois deverá averiguar a exata individuação das mutáveis regras sociais às quais o envia à metanorma jurídica, como, por exemplo, a boa-fé objetiva, função social, etc. c) Cite três exemplos que representem a constitucionalização do Direito Civil brasileiro. São exemplos da constitucionalização do Direito Civil brasileiro: 1) função social da propriedade (art. 5°, XXII CF/88); 2) igualdade entre os cônjuges e os filhos (art. 229 CF/88); 3) proteção especial da criança e do adolescente (art. 227 CF/88). Questão objetiva 01: Sobre a evolução da codificação civil brasileira, pode-se afirmar: a) O Código Civil brasileiro foi influenciado pelo movimento de patrimonialização dos direitos. b) A (re)personalização do Direito Privado permite que se considere que a pessoa serve ao Estado e não o Estado à pessoa. c) O mínimo existencial em nada influencia o Direito Civil, uma vez que considerado categoria exclusivamente constitucional. d) Tratando-se de um código que representa o Estado Social, a intervenção deste nas relações privadas será mínima. e) A constitucionalização do Direito Privado permitiu a elevação à categoriade direitos constitucionais de institutos que antes eram considerados exclusivamente Direito Civil. Questão objetiva 02: (DPE-TO-2013) Acerca do Direito Civil assinale a opção correta: a) O princípio da eticidade, paradigma do atual Direito Civil Constitucional, funda-se no valor da pessoa humana como fonte de todos os demais valores, tendo por base a equidade, boa-fé, justa causa e demais critérios éticos, o que possibilita, por exemplo, a relativização do princípio do pacta sunt servanda (o contrato faz lei entre as partes), quando o contrato estabelecer vantagens exageradas para um contratante em detrimento do outro. b) Cláusulas gerais, princípios e conceitos jurídicos indeterminados são expressões que designam o mesmo instituto jurídico. c) A operacionalidade do Direito Civil está relacionada à solução de problemas abstratamente previstos, independentemente de sua expressão concreta e simplificada. d) Na elaboração do Código Civil, o legislador adotou os paradigmas da socialidade, eticidade e operacionalidade, repudiando a adoção de cláusulas gerais, princípios e conceitos jurídicos indeterminados. e) No Código Civil, o princípio da socialidade reflete a prevalência dos valores coletivos sobre os individuais, razão pela qual o direito de propriedade individual, de matriz liberal, deve ceder lugar ao direito de propriedade coletiva, tal como preconizado no socialismo real. EXERCICIOS COMPLEMENTARES Caso Concreto 02: Estando em plena Copa do Mundo de Futebol, Augusto, torcedor fanático da seleção argentina, requereu, na empresa na empresa que trabalha, que fosse reservado um local de trabalho exclusivo para ele e colegas de trabalho que torcem para o time dos “hermanos”, haja vista que as provocações e brincadeiras estão sendo difíceis de suportar. Fundamenta-se de que o Código Civil veda a limitação de direito sem previsão legal expressa, bem como a Constituição Federal garante a liberdade de expressão. Analise o caso concreto a partir dos seguintes tópicos: a) Diante do exposto, poderíamos afirmar que a ausência de um local reservado para Augusto poderia caracterizar lesão aos postulados constitucionais e legais? Mesmo que os torcedores “hermanos” não tenham um local reservado, não se constituiu lesão ao direito de expressão. De todo modo, sendo impossível obtenção de local reservado para os torcedores “Hermanos”, prevalece o interesse coletivo sobre o individual, conforme o Princípio da Socialidade do Código Civil. b) O que é a constitucionalização do Direito Civil ? Temos a constitucionalização do Direito Civil quando se toma o Direito Privado com base nos fundamentos constitucionais. Caso Concreto 03: Uma indústria farmacêutica coloca no mercado um medicamento eficaz, recentemente descobertos por seus pesquisadores, que neutraliza os efeitos da AIDS, entretanto o valor de venda desse medicamento inviabiliza a compra pela maioria da população que sofre com essa doença. A lei 9.279/96 – Lei de Propriedade Industrial –dispõe, em seus artigos 40 e 42, que o prazo da vigência de patentes é de 20 anos, ou seja, o titular da patente, durante esse prazo, poderá usar, gozar, dispor e impedir terceiros de reproduzir a fórmula patenteada. A Constituição Federal (art. 5°, inciso XXIII) e o Código Civil (art. 1.228, § 1º) reconhecem a função social da propriedade, que tem natureza de cláusula penal. Pergunta-se: a) o princípio da função social da propriedade decore de qual princípio do Código Civil? Decorre do Princípio da Socialidade, pelo qual o social predomina sobre o individual. b) a função social se apresenta no Código Civil como uma cláusula geral. Qual o conceito de cláusula geral e sua finalidade? As Cláusulas Gerais são normas com diretrizes indeterminadas que não trazem expressamente uma solução jurídica. São normas abertas que trazem uma pauta de valores que deve ser preenchida no momento da aplicação ao caso. Sua finalidade e dar maior mobilidade ao sistema, possibilitando sua adaptabilidade às mudanças sociais. c) O tema “propriedade” pode ser previsto tanto na Constituição Federal, quanto no Código Civil? Esclareça. O tema da propriedade é tratado tanto na Constituição Federal quanto no Código Civil, sendo que na Constituição Federal são definidos os valores fundamentais que terão sua forma definida no Código Civil. Caso Concreto 04: Poderíamos, hipoteticamente, sustentar que seria lícito ao Poder Público determinar a suspensão do privilégio da patente, a fim de atender a demanda social pelo medicamento fabricado pela indústria farmacêutica? Justifique. A suspensão do Direito de patente poderia ser baseada na aplicação do Princípio da Socialidade, pois o interesse coletivo de fornecimento do remédio à população prepondera sobre o interesse individual do proprietário, afinal, a propriedade deve atender a função social. Caso Concreto 05: Rebeca comprou terreno em loteamento empreendido por Aveiro Empreendimentos Imobiliários. Sem que constasse do instrumento contratual, a construtora garantiu a Rebeca que teria vista definitiva a um grande monte arborizado, que era a grande atração do empreendimento, tendo inclusive assegurado que a legislação local não permitia edificações nos terrenos à frente do empreendimento. Após alguns meses da aquisição do terreno, a construtora solicitou uma alteração no plano de urbanização da cidade, que passou a permitir a edificação nos lotes em frente ao terreno de Rebeca, fazendo com que ela perdesse a visão para o monte arborizado. Inconformada, Rebeca moveu uma ação contra construtora, tendo obtido êxito porque o órgão jurisdicional entendeu que pela boa-fé objetiva, existe um dever de não adotar atitudes que possam frustrar o objetivo perseguido pela autora, ou que possam implicar, mediante o aproveitamento da antiga previsão contratual, a diminuição das vantagens ou até infligir danos ao contratante. Diante dos fatos narrados responda: a) A boa-fé objetiva é uma cláusula geral? Em caso afirmativo, explique o porquê de a boa-fé objetiva adequar-se ao conceito de cláusula geral. Em caso negativo, indique de maneira justificada a que categoria pertence a boa-fé objetiva. O princípio Estruturante utilizado é da Eticidade, pela proibição do abuso do direito e pela boa-fé. As partes, no contrato, devem ter uma conduta proba, reta, leal e ter integridade. Nesse caso, a boa-fé objetiva se manifesta como uma cláusula geral que vale tanto para o contratante (Rebeca) quanto para o contratado (construtora). b) Qual princípio estruturante do Código Civil foi levado em consideração para que o magistrado interpretasse a boa-fé objetiva? Justifique. No ordenamento jurídico, a boa-fé (art. 422 do CC), princípio informador contratual, deverá estar contemplada em todo o acordo entre as partes que não haja dúvidas. Questão objetiva 02: (TJSC-2002). A função das cláusulas gerais no Código Civil é...: I- dotar o sistema interno do Código Civil de mobilidade, mitigando as regras mais rígidas; II-a de atuar de forma a concretizar o previsto nos princípios gerais de direito e nos conceitos legais indeterminados; III-o de abrandar as desvantagens do estilo excessivamente abstrato e genérico da lei; Assinale, portanto, a alternativa correta: a) nenhuma das alternativas está correta; b) todas as alternativas estão corretas. c) apenas a alternativa II está correta. d) apenas as alternativas I e III estão corretas. e) apenas as alternativas II e III estão corretas Questão objetiva 03: Não se pode confundir codificação com compilação, estatuto e consolidação. Com efeito, o código: a)também chamado de coletânea, traduz-se em uma reunião ou junção de diversos textos legais, tal qual se encontram, em um único volume, adotando um critério compilador. b) é a reunião ou agrupamento sistematizadode textos legais, de acordo com algum critério escolhido, em uma única lei ou decreto, considerando apenas as normas jurídicas em vigor sobre uma determinada disciplina jurídica. c)é uma lei que apresenta um conjunto sistemático e unitário de normas jurídicas relacionadas à disciplina fundamental de um determinado ramo do direito. d) se tomado em seu sentido mais estrito, não condensa normas preexistentes, mas cria direito novo para situações específicas, dispondo, no mesmo instrumento, sobre vários ramos do direito ao mesmo tempo. Questão objetiva 04: Lia era casada com Carlos e mantinha relação amorosa secreta com Marcio. Ao descobrir a traição, Carlos separou-se de Lia e moveu uma ação de indenização por danos morais contra Marcio, alegando que a violação ao dever conjugal de fidelidade (art. 1566, I, CC) lhe trouxe abalo à honra. Sabendo que o dever de fidelidade é imposto apenas aos cônjuges, não aos terceiros que com eles possam se relacionar, e após uma breve pesquisa na jurisprudência do STJ (vide, a exemplo, o REsp 922.462/SP), leia as assertivas abaixo: I- Marcio não deverá indenizar Carlos por danos morais; II- Embora não exista norma moral que impeça o relacionamento conjugal, não há qualquer previsão normativa que possa sustentar que a conduta de Márcio, ao se envolver com mulher casada, é ilícita. Assinale a alternativa correta: a) ambas assertivas estão incorretas; b) apenas a assertiva I está correta; c) ambas assertivas estão corretas e a segunda justifica a primeira; d) ambas assertivas estão corretas, mas a segunda não justifica a primeira; O dever de fidelidade, como dito, se restringe aos cônjuges, logo Márcio não cometeu ato ilícito. O art. 186 fala que o ato ilícito em “violar direito”, e o direito se refere aos cônjuges, logo Márcio não cometeu ato ilícito. O dever de indenizar está disposto no art. 927 CC, por aquele que comete “ato ilícito”, como Marcio não cometeu “ato ilícito”, não tem dever de indenizar. Teria fundamento se fosse contra Lia... Caso Concreto 99. Vanessa, Antônio e Ricardo são sublocatários do mesmo imóvel residencial na Vila do Sapê. O imóvel é dividido em três quartos, com uma sala comum, sendo o banheiro localizado do lado de fora. Valentim, dono da referida casa, resolve vendê-la por um valor bem acessível e pagamento em muitas parcelas. Todos se interessam. Antônio é o sublocatário mais velho. Todas as sublocações se iniciaram na mesma data. A Lei 8.245/91 (Lei de Locações) em seu artigo 30, fixa como critério de desempate, para o exercício do direito de preferência, a idade mais avançada, na hipótese de múltiplos sublocatários, com contratos de locação iniciados na mesma data. Analise o caso concreto a partir dos seguintes tópicos: a)Em razão da Lei de Locações 8.245/91 ser uma lei especial que versa sobre matéria cível, mas de conteúdo específico – locações – poderá ser interpretada através da Constituição? b) O que significa a constitucionalização do Direito Civil? c)O disposto no artigo 30 da Lei de Locações (8.245/91) viola o princípio constitucional da igualdade? d) Poder-se-ia afirmar que na hipótese houve discriminação arbitrária por parte do legislador? Caso Concreto 99. A Indústria Farmacêutica XYZ coloca no mercado eficaz remédio, recentemente descoberto pelos seus químicos, que neutraliza os efeitos da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, conhecida como AIDS. O valor do medicamento inviabiliza a compra pela maior parte dos que sofrem da doença. A Lei 9.279/96, nos artigos 40 e 42 dispõe que o prazo será de 20 (vinte) anos para vigência da patente, ou seja, poderá o titular (indústriafarmacêutica), durante este tempo, usar, gozar, dispor e impedir terceiro de reproduzir a fórmula. A Constituição Federal (art. 5º, XXIII) e o Código Civil, artigo 1.228, § 1º reconhecem para o ordenamento pátrio o princípio da função social da propriedade, que tem natureza de cláusula geral. Pergunta-se: a)O princípio da função social da propriedade decorre de qual princípio embasador do Código Civil de 2002? b) A função social se apresenta no Código Civil como uma cláusula geral. Qual o conceito de cláusula geral e qual sua finalidade? c)De acordo com parcela da doutrina haveria espécies de cláusulas gerais, quais seriam e como se distinguiriam? d) Poderíamos sustentar que seria lícito ao Poder Público determinar a suspensão do privilégio da patente, a fim de atender a demanda social pelo remédio fabricado pela indústria farmacêutica? Qual seria a justificativa da resposta? Questão objetiva 99. Analise as duas afirmações e marque a alternativa correta. I-“O Código Civil, na contemporaneidade, não tem mais por paradigma a estrutura que, geometricamente desenhada como um modelo fechado pelos sábios iluministas, encontrou a mais completa tradução na codificação oitocentista”. PORQUE II-“Hoje a sua inspiração, mesmo do ponto de vista da técnica legislativa, vem da Constituição, farta em modelos jurídicos abertos. Sua linguagem, à diferença do que ocorre com os códigos penais, não está cingida à rígida descrição de fattispecies cerradas, à técnica da casuística. Um Código não-totalitário tem janelas abertas para a mobilidade da vida, pontes que o ligam a outros corpos normativos – mesmo os extrajurídicos – e avenidas, bem trilhadas, que o vinculam, dialeticamente, aos princípios e regras constitucionais”. (Retirado do artigo de Judith Hofmeister Martins Costa. “O Direito Privado como um ‘sistema em construção’; as cláusulas gerais no Projeto do Código Civil brasileiro”. Disponível no site www.direitovivo.com.br). Podemos dizer que: a) as duas afirmações são verdadeiras e a segunda justifica a primeira. b) as duas afirmações são verdadeiras e a segunda não justifica a primeira. c) só a primeira afirmação é verdadeira. d) só a segunda afirmação é verdadeira. Questão objetiva 99. Analise as duas afirmações e marque a alternativa correta. I-“O princípio da socialidade, reflete-se na nova codificação, especificamente na prevalência dos valores coletivos em detrimento dos individuais”. PORQUE II-redimensiona “os conceitos dos cinco principais personagens do Direito Privado: o proprietário, o contratante, o empresário, o pai de família e o testador”. (Retirado do
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