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A medicina do trabalho e o trabalhador Ética

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Conferência na Petrobras no dia 08/06/2011 
 
ÉTICA NA MEDICINA DO TRABALHO 
 
INTRODUÇÃO 
A atividade de proteção e manutenção da saúde nas comunidades de trabalho é interpretada pela 
administração de muitas empresas como um contrato financeiro de prestação de serviços médicos para 
serem realizados em nível primário, para dar somente satisfação aos dispositivos legais sem uma avaliação 
real de sua importância e complexidade. 
É importante salientar que em qualquer tipo de contrato ou modalidade de serviço médico, há um 
compromisso moral tácito, natural e intrínseco, assumido voluntária ou coletivamente pelo médico e próprio 
do exercício da medicina, que tem sua origem simbólica representada pelo juramento de Hipócrates. 
Todo cuidado médico se caracteriza como transcendental - que ultrapassa os limites do ser - onde 
sobressai a verdade, a bondade, o ser autêntico, o comportamento ético, garantindo uma prestação 
eficiente de serviços profissionais e um melhor resultado de sua finalidade: cuidar das pessoas e servir à 
humanidade ao agir com o propósito de fazer o melhor e o bem: um verdadeiro contrato de característica 
social feito com realismo. 
Não poderia ser de outra maneira, uma vez que a pessoa do trabalhador é, em qualquer 
empreendimento, o elemento mais importante na linha de produção ou no trabalho seja ele qual for. 
A falta de uma avaliação criteriosa sobre o valor da pessoa (o Ser Humano, segundo a ONU) tem 
gerado procedimentos diversificados na aplicação da Medicina do Trabalho. Essa atitude reacionária não 
favorece uma orientação que permita aos médicos, com base no conhecimento do conteúdo de cada 
atividade ocupacional, desenvolver diretrizes, procedimentos, protocolos e orientações seguras que 
realmente sirvam de guias para proteger a vida e manter a saúde dos trabalhadores em condições 
adequadas ao desempenho de suas tarefas em sua atividade. 
A prática profissional nos mostra que não existe muita similaridade no desempenho ocupacional. Se 
considerarmos as empresas do mesmo ramo, esse fato aparece como um fator que dificulta sobremaneira a 
gestão técnica, administrativa e financeira da saúde dentro das empresas. É fundamental, que nos assuntos 
referentes à promoção e manutenção da saúde dos trabalhadores, se estabeleça como norma de conduta 
dos médicos do trabalho a “diretriz ética da responsabilidade” determinada essencialmente por meio da 
execução criteriosa das seguintes condições: 
a) realização adequada da avaliação das condições de saúde e das características biopsicofisiológicas 
dos trabalhadores para o exercício de sua ocupação e de seu relacionamento com o ambiente de trabalho. 
b) raciocínio clínico claro e ágil, capacitação técnico-científica aguçada e cultura geral, discernimento 
e observação para avaliar com clareza as condições reais da execução do trabalho para prevenir possíveis 
danos à saúde, com o objetivo de manter as pessoas saudáveis no exercício de sua atividade. 
c) zelar e manter as diretrizes que a sociedade, através de leis e regulamentos, impõe em defesa de 
sua mão-de-obra, responsáveis pela estrutura econômica da Nação e a manutenção das instituições. 
d) capacitação para compreender as reações das pessoas ante as agressões físicas, químicas, 
biológicas, emocionais, ergonômicas e sociais do trabalho e do meio ambiente. 
e) competência para cumprir um programa médico sanitário e preventivo, educativo, assistencial e 
para conduzir de maneira adequada um programa de apoio à reabilitação física e mental do trabalhador 
deficiente. 
f) sensibilidade para compreender as reações e motivações presentes numa pessoa recém-admitida 
no trabalho e as diversas gradações pelas quais passa, até aquelas de maior complexidade do executivo com 
elevadas responsabilidades. 
g) apresentar justificativas objetivas para os dispêndios financeiros de qualquer programação a ser 
desenvolvida, a fim de evitar gastos que onerem desnecessariamente a economia da instituição. 
A Deontologia e a Ética 
 
 
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Os avanços da ciência, a tecnologia aplicada em medicina e os ganhos nas relações sociais e do 
trabalho se desenvolvem em grande velocidade. Sendo necessário instituir instrumentos legais apropriados, 
disciplinadores e educativos, que acompanhem seu progresso e a seriedade de sua atuação. 
Todas as principais profissões estão submetidas a uma avaliação sob a ótica dos Princípios 
Deontológicos, ou seja, da Conduta Moral de quem as exerce e com orientação em Códigos Ético-
Profissionais que são instrumentos legais sobre Convivência e Conduta Profissional que estabelecem: 
princípios, direitos e deveres. Que demonstram ser eficazes e necessários para disciplinar o exercício da 
atividade médica. 
O Código de Ética Médica, aprovado em 2009, é composto de 25 princípios fundamentais do 
exercício da Medicina; seguidas de 10 normas diceológicas que tratam dos direitos dos médicos, 118 normas 
deontológicas sobre os deveres e cinco disposições gerais. Essas regras se articulam para atualizar e 
disciplinar o comportamento profissional dos médicos. Ao manter esquema de Princípios, Direitos e Deveres 
o documento preserva a essência histórica dos antigos Códigos, mas procura um novo foco atento às 
contínuas e constantes transformações. A transgressão das normas deontológicas sujeitará os infratores as 
penalidades disciplinares previstas em lei. 
Obviamente o Código de Ética Médica não impossibilita o erro na execução das atividades médicas 
ou falhas na conduta pessoal do médico. Mas oferece ao médico e ao seu assistido a indicação da boa 
conduta, amparada nos princípios éticos da autonomia, da pratica do bem, da justiça, da dignidade, da 
veracidade e da honestidade. 
Visão ética conjuntural da Medicina do Trabalho 
A problemática da Medicina do Trabalho tem sido preocupação constante de todos aqueles que se 
interessam e estudam a situação da Saúde Pública no Brasil e sua influência no desenvolvimento sustentado. 
Nosso País vive uma fase de reestruturação político-social e econômica, resultante dos mais 
diferentes fatores internos, como o novo status da economia; novos perfis de trabalho; deficiência na 
educação, principalmente a profissionalizante de nível médio e superior; não há consenso para dar 
cumprimento as diretrizes sobre saúde; são inadequados os procedimentos na previdência social; 
consumerismo e recrudescimento da inflação; a existência de bolsões de pobreza. Temos como exemplos de 
fatores externos: aqueles em decorrência do estabelecimento de novos mecanismos de pressão econômica 
internacional, globalização, preservação ambiental, posições diplomáticas equivocadas, pressão inflacionária 
pela queda de venda de comodities etc., que não cabe no escopo dessa apresentação analisar. 
Aspectos psicossociais. 
A principal condição para quem se propõe exercer a medicina é uma permanente conduta pessoal e 
profissional compatível com os preceitos éticos consensuados pela comunidade médica, como minimamente 
exigíveis dos médicos e com os demais princípios referentes à ética individual, social e profissional. 
A confiança do cliente na palavra do médico e a competência na prestação de cuidados profissionais, 
como contrapartida, constituem a essência da relação ética profissional do médico com o cliente. A partir 
desse elo - de gratidão, de mutuo respeito, de honestidade – é que se construiu no correr do tempo a 
tradicional corrente da Medicina, desde Esculápio, passando pelos postulados de Hipocrates e as 
observações de Ramazzini até a consistência científica do diagnóstico nos nossos dias. 
A consolidação desse caminho foi se solidificando na prática pela observação clínica. Na teorização 
com a ajuda da filosofia e das religiões foi moldando o plano específico do comportamento profissional 
médico, que deu como resultado a institucionalização da responsabilidadeética e da moral da solidariedade 
humana, como principais fundamentos da prática da medicina. Assim era o modo de pensar e de atuar, 
quando me formei em 1947 pela Faculdade Nacional de Medicina da Universidade do Brasil (hoje UFRJ). 
Transformada atualmente em relação anônima de serviço, essa relação está adoecendo. Quem já não 
observou o que acontece num hospital ou serviços de saúde onde o atendimento inicial é feito por um 
médico, o acompanhamento por outro e o controle por um terceiro que nem conhece o paciente. Que valor 
tem esse procedimento? 
 
 
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Quantos pacientes já sentiram a angustia do desamparo? Onde está a intimidade que unia o 
paciente ao médico, autorizando a nudez do corpo e da alma fragilizados? O relacionamento é a cada dia 
mais frio, formal e despersonalizado. 
Desmoralizar esse relacionamento por qualquer pretexto ou interesse é um procedimento 
incompreensível e grave que abala a natureza e a consistência do exercício da Medicina. 
Este tipo de comportamento está minando o relacionamento dos médicos com a população. 
Felizmente ainda há respeito quando as partes envolvidas sabem compreender a importância desse 
momento de cunho liberal, e assumem uma atitude de mutua simpatia, aceitação e tolerância. 
Observe o que aconteceu recentemente quando a Secretaria de Direito Econômico (SDE) do 
Ministério da Justiça aplicou inesperada e arbitrariamente um conjunto de medidas, que segundo seus 
autores era para preservar a concorrência no setor de planos de saúde e evitar danos aos usuários. A 
justificativa esdrúxula da medida foi para regulamentar o relacionamento entre operadoras, médicos e 
consumidores, sob a suposição de que o CFM, AMB, FENAM estariam liderando um movimento que 
redundaria na formação de um “cartel”, visando anular a competitividade nos preços na atividade médica. 
Todo essa iniciativa estava de acordo com o Código de Ética (Item XV dos Direito Fundamentais). Somente 
as entidades representativas dos médicos foram ameaçadas com pesadas multas. E pior. Será que os donos 
das empresas já não estão unidos num cartel?! 
No primeiro tempo a disputa foi ganha pelos donos das empresas de seguro saúde, que têm força 
política e mantém sob dura tutela uma infinidade de médicos. Levado o caso a Justiça Federal o magistrado 
considerou o processo viciado pelo abuso de poder dado a ausência de competência para interferir nas 
relações dos médicos com seus pacientes ou com os planos de saúde. Entretanto fica evidente, que a 
atuação da SDE foi estimulada por saber que o ponto mais fraco no sistema de prestação de atenção à saúde 
é exatamente o médico, inclusive pelas aleivosias que “plantadas” se levantam contra eles. 
É preciso que essas mesmas autoridades saibam separar “o joio do trigo” e não coloquem no mesmo 
saco a maioria digna de respeito com aqueles que não merecem essa titulação por sua pusilanimidade. É 
preciso reconhecer que a classe médica enfrenta problemas para negociar honorários dignos com os planos 
de saúde. Infelizmente o individualismo e a ganância de alguns que lideram segmentos da própria classe 
médica, acabam por se aliar a essas organizações e prejudicam os sentimentos éticos da maioria. 
Mais que um serviço o que se poderia explicar pelas necessidades de um atendimento de massa, 
contaminada pela lógica do mercado, a medicina corre o risco de se tornar um produto impessoal onde se 
admite qualquer tipo de mercantilização. Isso fere a dignidade dos médicos e o direito dos pacientes. 
Essas deficiências se encontram no perfil de todas as especialidades médicas e mesmo entre outras 
profissões. A razão se encontra na estrutura e nos problemas que afligem a maioria das Universidades e 
numa, ainda não superada, postura corporativista que ensimesma a Medicina, gerando, em alguns, o 
personalismo, a vaidade, a indiferença, a mercantilização, o descaso e a irresponsabilidade que leva a um 
relacionamento médico de má qualidade. Não é nossa intenção analisar tal problema que é por todos 
conhecido. 
Entretanto não há motivação nem vontade de muitos médicos, para se posicionar contrários a essa 
situação. Há uma acomodação e uma espécie de temor de perder o pouco que resta da liberdade de decisão 
profissional e da baixa renda que fazem jus para atender as responsabilidades familiares e os encargos 
pessoais. Tudo isso mostra a fragilidade da classe médica. A essas condições prevalentes se alinham outros 
fatores que contribuem para que no caso da Medicina do Trabalho o seu exercício não esteja sendo como se 
esperava que fosse. O insuportável nessa situação é que todos que assim procedem estão em sua 
interpretação distorcida, achando-se cheios de razão. 
O que não se pode, nesse exame de consciência, é partir do pressuposto de que cabe unicamente a 
esses profissionais, a responsabilidade por tal situação, pois muitas delas são decorrentes de decisões 
governamentais tomadas a revelia da classe médica, sem um estudo sério sobre sua validade e pelo 
estabelecimento de cursos de formação e capacitação, muito deles, mal estruturados e sem fiscalização. 
Tal situação se agrava pela presença de uma legislação trabalhista e previdenciária inconstante, 
muitas vezes incompetente por estar fora da realidade brasileira, e de um posicionamento jurídico obsoleto 
 
 
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e contraditório, com os quais em especial o Médico do Trabalho tem que conviver, no seu dia-a-dia de 
trabalho. 
É preciso estar alerta para os julgamentos falsos que se tenta criar em torno da Medicina do Trabalho 
em decorrência de seu alto sentido humanista. Praticá-la com honestidade e competência, sem 
posicionamentos maniqueístas, muitas vezes significa contrariar interesses tanto de empresários como de 
trabalhadores, e até do próprio governo. 
Um pensamento para ser sempre lembrado 
O filosofo e pensador Jorges Duhamel assim se expressou sobre o que é ser Médico: 
“Se és médico e te dedicas a esta profissão, para toda a vida, para todas as horas da vida, saibas o 
que saibas, penses o que penses, faça o que faças, atuarás sempre como médico. Cada palavra que 
pronuncias queira ou não queira é uma palavra de médico. Guarda no fundo de ti mesmo o prazer de ajudar 
e no fundo do teu coração não renuncies jamais a estes privilégios, porque esses privilégios são obrigações – 
nem renuncies a teus poderes, porque esses poderes são antes de tudo os teus imperativos deveres”. 
O ponto de partida principalmente para o médico do trabalho, é o respeito absoluto à vida e a 
dignidade do trabalhador, e é talvez a atividade médica que está mais sujeita as regulamentações especiais 
tanto nas instituições privadas como nas públicas. Por isso ela é muitas vezes contestada, mal 
compreendida. Há forças na estrutura pública e privada que mal conseguem esconder sua animosidade, pois 
muitas das mazelas do mundo do trabalho são por ela evidenciadas, pesquisadas e denunciadas, por se 
tratar de um desrespeito aos direitos humanos fundamentais. 
Ainda passando por alguns eventuais desvios e distorções presentes em sua aplicação, por uns tantos 
médicos que não se prepararam de maneira conveniente para exercê-la a Medicina do Trabalho vem 
ganhando posição de destaque, de modo gradativo e consistente, dentro da dimensão social onde se insere 
na atual conjuntura democrática brasileira. 
Do ponto de vista da prática profissional a Medicina do Trabalho, sempre foi exercida sob dois 
paradigmas intrinsecamente complementares. O paradigma da medicina individual (ou curativa) e o 
paradigma da medicina coletiva e de serviço social (ou preventiva). Também, se apropria de técnicas de 
outras especialidades como parte de seu acervo tecnológico, em geral está ligada a certo aparelho ou 
sistema do organismo, a certo artefato tecnológico, a um tipo de patologia ou a um grupo de enfermidades. 
Em Medicina do Trabalho pode-se prever,atualmente, um reforço ao paradigma da medicina clínica 
geral, na qual certo grau de conhecimento especializado é um enriquecimento do médico do trabalho e não 
sua fragmentação. Isso é uma espécie de imposição originada da própria ambientação ética que se cria na 
pratica médica numa comunidade de trabalho. 
Comunidade de Trabalho 
Ao usar a expressão “comunidades de trabalho”, desejamos significar mais que aquilo que se 
compreende por um local, posto de trabalho ou um determinado endereço onde se executam ou se exerce 
um trabalho. Vamos empregá-la no seu tradicional e mais constante sentido: o daquelas relações entre 
pessoas que são marcadas por um alto grau de relacionamento e interesses para execução de determinadas 
tarefas seja na área rural, no mar, no ar ou nas cidades. 
A intenção é que a expressão seja compreendida num amplo sentido, abrangendo as pessoas com 
um alto grau de interesses comuns, compromissos éticos e profissionais com a instituição e com o ambiente 
que as rodeia, formando um conjunto de pessoas e suas incertezas no trabalho, um verdadeiro organismo 
vivo que pensa, luta e tira conclusões. 
O médico deve estar integrado e participar dessa comunidade, não pode dela se alienar ou tomar 
uma atitude antiética de indiferença o que será danoso para si e para toda a medicina, especialmente a do 
trabalho. 
Portanto adotando o que diz Ortega e Gasset: “Todos os homens e todas as suas circunstâncias, 
quando no exercício do trabalho, se não as salvo, como me salvo eu”. 
Toda vez que essa comunidade de trabalho necessite ser protegida contra a agressividade dos 
processos produtivos, operações industriais, dos materiais empregados, do próprio trabalho e das relações 
interpessoais. Ou necessite de amparo na doença e na incapacidade, originadas de condições derivadas do 
 
 
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trabalho ou do ambiente, na maioria das vezes independentes de sua vontade, aí estará sendo praticada a 
Medicina do Trabalho em seu verdadeiro sentido ético. 
 O essencial é que nela haja objetivos e compartilhamentos suficientes para interessar as pessoas, 
despertar lealdades e estimular um primordial sentido de identidade. Essa orientação nos dá o suficiente 
respaldo para reformular o tradicional conceito de segurança, salubridade ambiental e medicina do trabalho 
para uma dimensão de “saúde do trabalhador”. Isso permite um sentido deontológico, ético e ecológico que 
leva a uma interdependência que abrange não somente a ocupação, mas todo o contexto ambiental em que 
a pessoa que trabalha está inserida, como importante determinante da relação saúde-risco-doença. 
 
 
A interpretação jurídica da pratica médica 
A palavra medicina vem do grego medeor, que significa “aquele que cuida”. Se juridicamente a 
medicina, não tem compromisso com os resultados, a ela não se pode atribuir o compromisso da cura, há 
apenas, o compromisso de cuidados. Se o médico do trabalho não tem possibilidade de promover a cura do 
trabalhador, deve proporcionar os meios disponíveis para melhorar sua recuperação e apoio emocional. 
Como responsabilizar um médico por um erro ocorrido, seja de diagnóstico ou de tratamento ou 
decorrente de uma emergência? 
A relação entre médico e paciente é tida como de um contrato. Cabe, entretanto, salientar que ela se 
alicerça sobre um tipo especial de contrato, o de meio. Trata-se de um tipo de obrigação pessoal, que, como 
tal, consiste no cumprimento de atos resultantes das condições físicas e mentais próprias do paciente frente 
a capacidade intelectual do médico. O limite dessa prestação obrigacional encontra-se naquilo que o 
profissional pode fazer de acordo com o que ele dispõe no momento do atendimento (meios) para chegar ao 
fim almejado, bem como em concordância com o estágio atual do desenvolvimento da medicina 
(conhecimento). 
Disso se deduz que é inaceitável a suposição de que o médico será culpado quando um objetivo não 
for atingido ou quando o resultado obtido não for o esperado. 
Para que o profissional da área médica seja responsabilizado, é necessário que ele tenha cometido 
erro grosseiro ou, então, tenha agido com culpa, em qualquer de suas três modalidades: imperícia, 
imprudência e negligência. 
O erro grosseiro caracteriza-se por ser facilmente identificável, não deixando dúvidas, uma vez que 
até um leigo pode constatá-lo. É o resultado mau ou adverso decorrente da ação ou de omissão do médico. 
A imperícia é a falta de habilidade para a prática de determinados atos que exigem conhecimento 
especializado ou observação de normas técnicas, ou por despreparo prático. Certos casos podem ser 
considerados por motivação mercantilista. 
A imprudência é o procedimento sem cautela, é a precipitação no agir, sem utilizar-se de respaldo 
científico em contradição com as normas de atuação sensata. 
A negligência é a inobservância das regras que norteiam a conduta moral da pessoa, ou seja, é a 
omissão daquilo que razoavelmente se faz ou se deveria fazer. É o trato com descaso ou pouco interesse dos 
deveres e compromissos éticos com o paciente. 
 
 
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Na caracterização dos casos de imperícia, imprudência e negligência há sempre a necessidade de 
perícia, para detectar-se se houve mesmo culpa do profissional, ou delimitar a tênue margem existente 
entre culpabilidade e imprevisibilidade. 
Respeito ao direito do trabalhador 
A autonomia do trabalhador - princípio basilar da ética médica, vem se firmando gradativamente 
entre nós. Todos os atos médicos devem ser informados e esclarecidos ao trabalhador, respeitando-se sua 
decisão final. O consentimento do trabalhador, explícito ou tácito é uma resultante dessa postura. O médico 
do trabalho atual deve explicar ao trabalhador os objetivos da atividade médica na empresa, esclarecer o 
seu diagnóstico presumido ou definitivo, as possibilidades e os riscos a que estiver sujeito em seu ambiente 
de trabalho e os procedimentos que lhe estão sendo propostos. 
O trabalhador tem o direito de confiar que a atividade do médico do trabalho está dirigida para o seu 
bem-estar, e que suas recomendações e conselhos direcionam-se para protegê-lo e são de seu exclusivo 
interesse. 
O comportamento positivo do médico fortalece a sua relação com os trabalhadores. O sentimento de 
confiança mútua é um componente bem aceito e desejável para qualquer consulta ou programa médico que 
se realize em qualquer comunidade de trabalho. 
A comunicação entre o médico e os trabalhadores deve esmerar-se cada vez mais, a partir de 
informações de que os mesmos desejam conhecer mais detalhes sobre suas condições de trabalho e as 
implicâncias sobre sua saúde. O médico deve adaptar sua comunicação às possibilidades e às necessidades, 
culturais, emocionais e da capacidade de entendimento de cada trabalhador. 
Todos os dados do trabalhador e as informações fornecidas devem ser anotados em seu prontuário. 
Responsabilidade sobre o Estilo de Vida do trabalhador 
Evidentemente, mais que em outra situação no passado e como decorrência do momento presente, 
preocupar-se com o comportamento das pessoas em suas ocupações não é somente uma competência da 
direção empresarial, mas uma obrigação de todos que compõe a comunidade de trabalho, principalmente 
aqueles que ocupam uma situação de gestão no espectro profissional da empresa. 
Participar e compartilhar dessa responsabilidade é uma obrigação ética dos médicos. 
As condições políticas passam por uma constante evolução, mais rápida que o desenvolvimento 
técnico-científico. Há sempre condicionamentos específicos que se assentam na realidade social – móvel e 
dinâmica - que está sempre sob a influência de novos fatores, de novos interesses, movida por grupos de 
pressão e por manifestações de setores da opinião pública, nem sempre devidamente esclarecida. Daí a 
necessidade, dos que se dedicam à Medicina do Trabalho, sabercorrelacionar e interpretar tais situações. Só 
assim será possível tornar realidade as mudanças estruturais nas questões de saúde no trabalho, que se 
constitui num dos objetivos perseguidos por toda a Nação. 
É na prática da negociação e do entendimento democrático competente, que se deve buscar a base 
racional norteadora dos padrões éticos e estéticos da prática da Medicina do Trabalho nas empresas. Isso 
permitirá o estabelecimento de um conceito equilibrado entre ações políticas e técnicas, que sejam 
formadoras de diretrizes comportamentais e institucionais hegemônicas e harmoniosas na delicada 
convivência entre os diversos parceiros do Mundo do Trabalho. 
 
 
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È pensamento comum de todos aqueles que lutam por uma Medicina do Trabalho digna e que 
atenda aos interesses transcendentais do Ser Humano, a necessidade de se estabelecer princípios que 
exprimam o objetivo que se pretende ver alcançado, através do esforço conjugado de todos os 
intervenientes no sistema de proteção à saúde do trabalhador. 
A Equidade 
O primeiro deles é o da equidade, que basicamente significa: 
“A disposição de reconhecer igualmente o direito de cada um a partir de suas diferenças”. 
É somente através do reconhecimento das diferenças e das necessidades diversas das pessoas que se 
pode alcançar a igualdade de direitos. A igualdade não é mais um ponto de partida ideológico que tendia a 
anular as diferenças. A igualdade é o ponto de chegada dos direitos individuais e humanos e onde o próximo 
passo é o reconhecimento da cidadania. Reconhecer as diferenças individuais é de fundamental importância 
na prática da Medicina do Trabalho. 
Cabe citar o que disse Rui Barbosa em sua “Oração aos Moços” sob esse tema: “A parte da natureza 
varia ao infinito. Não há no universo, duas coisas iguais. Muitas se parecem umas com as outras. Mas todas 
entre si diversificam. Os ramos de uma só arvore, as folhas da mesma planta, os traços da polpa de um dedo 
humano, as gotas de um mesmo fluido, os argueiros do mesmo pó, as raias do espectro de um só raio solar 
ou estelar. Tudo assim, desde os astros no céu, até os micróbios no sangue, desde as nebulosas no espaço, 
até os alfojares do rocio na relva dos prados. A regra da igualdade não consiste senão em quinhoar 
desigualmente aos desiguais, na medida em que se desigualam. Nesta desigualdade social, proporcionada à 
desigualdade natural, é que se acha a verdadeira lei da igualdade. O mais são desvarios da inveja, do 
orgulho, ou da loucura. Tratar com desigualdade a iguais, ou a desiguais com igualdade, seria desigualdade 
flagrante, e não igualdade real. 
Os apetites humanos conceberam inverter a ordem universal da criação, pretendendo, não dar a cada 
um, na razão do que vale o seu trabalho, mas atribuir o mesmo a todos, como se todos se equivalessem” 
Essa orientação contra o bom senso, vai fazendo surgir à filosofia da miséria, proclamada em nome 
dos direitos humanos; e como vêm sendo executada, não faz senão inaugurar, ao envez da supremacia do 
trabalho, a organização da miséria e da preguiça. 
Partindo desse princípio, associado à responsabilidade individual e coletiva é que conseguiremos 
fazer valer a importância da saúde no e para o trabalho. A equidade é o caminho da ética prática em face da 
realização de direitos humanos universais, entre eles o direito a vida e a um trabalho digno, representado 
nesta apresentação pela possibilidade de acesso à saúde e a segurança no trabalho. 
 
 
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A equidade é assim o reconhecimento de necessidades diferentes em indivíduos diferentes e nos 
diferentes tipos de trabalho para atingir direitos iguais. É o verdadeiro caminho para integração entre os 
diversos parceiros do mundo do trabalho. 
Princípio norteador 
O segundo princípio é aquele sob o qual se fundamentará o relacionamento entre o “processo da 
Medicina do Trabalho e o Trabalhador”: 
O princípio ético que se preconiza foi por mim elaborado, apoiado e divulgado pela Associação 
Brasileira de Medicina do Trabalho (ABMT): 
“Propiciar segurança e proteger a saúde das pessoas em seu trabalho, por meio da redução, da 
neutralização ou do controle dos riscos inerentes ao trabalho, é uma condição fundamental para a 
qualidade do trabalho, a preservação da vida dos trabalhadores e essencial para o desenvolvimento 
sustentado da Nação”. 
 Tomando como base. o Art. 7.º da Constituição Federal de 1988 e fundamentada em um 
pensamento doutrinário e holístico, esse princípio se caracteriza por sua flexibilidade e fácil compreensão, 
como não pode deixar de ser um corpo de idéias que se preocupa , fundamentalmente, com a pessoa. 
Institucionalizada pela sociedade, para dar cumprimento à doutrina que aflora dos postulados 
constitucionais, a Medicina do Trabalho enfrenta, com o auxílio de todo o arcabouço científico que constitui 
a Medicina, os problemas relativos ao atendimento das “necessidades humanas básicas” esclarecendo as 
pessoas que trabalham, tendo como estabelecer o equilíbrio do homem com sua ocupação e o seu ambiente 
de trabalho. O que a caracteriza são os resultados obtidos através dos meios e instrumentos próprios com os 
quais exerce sua ação. 
 
Pirâmide da Hierarquia das Necessidades humanas 
 
 
 
O exercício profissional 
O Médico é o dono de sua própria pessoa e responsável por suas ações. Deve ser cioso de sua 
liberdade profissional e responsável pelo ato médico que pratica. Ele é que possui o embasamento técnico, a 
competência, a ética e a cultura para aplicação da Ciência Médica. 
A essência do trabalho do Médico é a liberdade de fazer o que julga justo e honesto com o 
conhecimento de que é possuidor, sendo a Lei e o Código de Ética Médica os únicos limites desta liberdade, 
necessários e fundamentais para garantir esta mesma liberdade em seu relacionamento com todos os 
demais membros da Sociedade. 
 
 
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O exercício da Medicina do Trabalho deve ser realizado com os mais criteriosos e aceitos padrões 
científicos da Medicina e da especialidade, a fim de garantir ao Médico, em suas relações com o “Mundo do 
Trabalho”, a integridade de sua conduta profissional, a imparcialidade, a proteção da confidencialidade e a 
honestidade, sem sectarismos políticos ou de interesses de grupos. 
 Portanto, deve o Médico do Trabalho, estar preparado para dar assessoramento técnico-científico 
sobre as questões que envolvam riscos à saúde decorrente das atividades das pessoas que trabalham, 
respeitando seus direitos humanos fundamentais e constitucionais e mantendo com dignidade os princípios 
éticos que regem o exercício da Medicina. Para que esta obrigação seja exercida adequadamente, o Médico 
do Trabalho ao assumir qualquer tipo de contrato de trabalho ou de prestação de serviços, deve procurar 
conhecer o perfil ocupacional de cada atividade na empresa sob seus cuidados e obter informações, as mais 
completas, sobre o processo de trabalho. 
 Configura-se, por outro lado, que o exercício da Medicina do Trabalho é parte de um sistema, do 
qual participam profissionais de outros campos científicos, em um trabalho interprofissional, onde estão em 
jogo os mais diversos padrões éticos e estéticos, bem como diferentes diretrizes comportamentais. Formam-
se assim interfaces de convivência muito delicadas e muitas vezes conflitivas e, para enfrentá-las, o Médico 
do Trabalho tem que desenvolver aptidões especiais que não são encontradas em outros campos da 
Medicina. 
Comportamento ético 
Não é o apoio a um determinado tipo de governo ou a uma ideologia que irá dar prestigio a medicina 
do trabalho, é na prática da democracia como uma filosofia social, um estilo de vida, um conceito formador 
não só de prestígio e aceitação, mas principalmente, da convivência social, que se concretiza o exercício da 
medicina do trabalho. 
Procurem ser pragmáticos e sensatosno desenvolvimento de nosso objetivo de preservar a saúde 
dos trabalhadores indistintamente, sem subordinações a interesses de grupos, nem vinculações político-
ideológicas. 
A Ética que se fortaleceu no pensamento dos filósofos gregos (Sócrates, Platão e Aristóteles) e que 
continua apoiada pelos modernos ensinamentos filosóficos como um conjunto de juízos e valores para 
decidirmos o que é bom e mau, certo e errado, direitos e deveres, encaminha fortemente os médicos do 
trabalho, para a atual Ética da Responsabilidade. Esta condição procura conscientizar, que somos 
responsáveis por pesquisar tudo e todas as situações geradas pelas condições de trabalho sobre a saúde dos 
trabalhadores e nos concita a avaliar e pesar o custo-benefício de todas as nossas posturas, iniciativas e 
atitudes como profissionais, quer individual ou coletivamente – prática essa que não pode dissociar-se do 
conceito da humanização do ato médico. Mas é bom sempre lembrar a antiga máxima hipocrática: “A 
medicina às vezes cura, de vez em quando alivia, mas sempre consola”. 
Alguns médicos do trabalho, vítimas do modelo tecnicista e da terceirização mercantil e impessoal 
que aconteceu no último século, negligenciam os propósitos que sempre nortearam a relação médico-
trabalhador: interesse, verdade, atenção, ajuda, esperança, cuidado e quando possível a cura. 
A substância ética do ato médico baseia-se na concepção humanística – pela qual o paciente é 
assistido como um todo composto de corpo e mente, integrado a um ambiente. O cuidado ao paciente exige 
não somente remédios, mas atenção, carinho, bondade e compreensão de suas angústias e orientação para 
seu existir. 
Se a ação do médico se limitar ao alivio dos sintomas, isso é incompatível com a boa medicina. Pior, é 
o atendimento ou tratamento dirigido para justificar reclamações, muitas vezes infundadas ou queixas sem 
razão, tanto de parte do trabalhador, como de seu superior hierárquico. Nesses casos a atitude ética do 
médico é de franqueza e objetividade, sem temor de supostas represálias, tendo por fundamento a 
responsabilidade com base na verdade. 
Dentre as qualidades éticas desejáveis no médico do trabalho destacam-se: a integridade pessoal e 
profissional, respeito à vida e à dignidade humana, compaixão e solidariedade diante do sofrimento, 
interesse pelo paciente e capacidade técnica. O vínculo emocional é um dos componentes essenciais do ato 
médico. A conduta indiferente tipifica o exercício tecnicista e mercantilista de medicina. 
 
 
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Orientação ética e geral válida 
Apresento a seguir orientações adaptadas do pensamento do Prof. Hudson Couto, que são válidas e 
podem ser aplicadas com muita propriedade, para ajudar o Médico do Trabalho a conquistar seu espaço nas 
empresas. 
1. Partir do pressuposto de que, se a instituição “ainda não incorporou” a Medicina do Trabalho, 
é porque ela não foi “bem promovida”. Essa colocação, embora radical, é importante no sentido de fazer a 
pessoa pensar nos seguintes termos: “o que é que eu deveria ter feito, e não fiz, no sentido de conquistar 
meu espaço?” 
2. Equipe-se com a experiência clínica e a competência técnica para ser Médico do Trabalho. 
Faça uma comparação simples: quando você vai discutir com um especialista e ele demonstra não saber 
muito além do que você sabe, sua credibilidade profissional para com ele deixa de existir. O restante do 
pessoal de uma organização ou empresa tem que perceber que você, sobre Medicina do Trabalho, sabe 
muito, muito mais do que eles. 
3. Fale a linguagem da empresa, parta do princípio de que você é um “promoter”, e que o 
restante da empresa é o seu público a ser trabalhado. Procure se informar sobre administração, produtos, 
insumos e matérias-primas, relação custo - beneficio, planejamento e qualidade. Esse conhecimento é 
fundamental para que sua mensagem seja aceita com credibilidade. 
4. Produza dados estatísticos; muito já se disse de positivo e pejorativo sobre a estatística. Mas 
ela é muito útil. E os médicos do trabalho têm nas mãos, a sua disposição, dados estatísticos preciosos para 
utilizar, na promoção de sua programação. 
5. Lide com fatos, não com sentimentos. Não mostre uma situação errada dizendo “eu acho que 
isto está acontecendo” ou “eu percebo tais problemas”. Nossos sentimentos costumam ficar esquecidos nas 
gavetas das chefias para serem lamuriados depois, com frustração. Mas já se disse que contra fatos não há 
argumentos. 
6. Saiba fazer o que reivindica; nunca chegue denunciando uma situação errada se não tiver o 
conhecimento sobre como deveria ser a situação correta. Procure a ajuda da Engenharia de Segurança, da 
área de projetos ou mesmo ajuda externa. Não fique na incômoda situação de lhe perguntarem: “Então, 
doutor está errado e eu quero melhorar. O que devo fazer?” E você não saber orientar. 
7. Tenha critérios de flexibilidade e de inflexibilidade. É importante saber que nem sempre se 
deve ser inflexível; o “encrenquinha” não fica muito tempo na empresa. Seja inflexível quando houver risco 
importante para a saúde do trabalhador. E esqueça seu orgulho próprio quando se tratar de problemas 
menores ou transitórios. Saiba negociar. 
8. Promova a saúde entre os trabalhadores. Use o prestígio natural que o médico tem e os 
oriente sobre coisas que eles gostariam de saber. A leitura dos jornais é um bom indicador para isso. Explore 
assuntos atuais. Aproveite a “dica” e entre com seu tema de saúde no trabalho. 
9. Tenha regras claras de conduta para situações conflitantes entre a administração e os 
trabalhadores; certificando-se de que os trabalhadores as conhecem. Nunca se exalte com um trabalhador. 
Seja educado e compreensivo quando tiver que adverti-lo. Lembre-se de que problemas como absenteísmo 
e indivíduos problemáticos são basicamente problemas da administração da empresa, e não exclusivamente 
do médico do trabalho. 
10. Busque o apoio superior, quando necessário, mas quando o fizer, esteja munido de todas as 
informações, no sentido de demonstrar que o possível de fazer sem o apoio da chefia foi feito. 
11. Acredite no que faz, a crença naquilo que será executado possibilita que, após os revezes, a 
pessoa retome as energias e reinicie o trabalho. Caso não haja uma convicção do que fazemos é bom ou 
importante, estaremos a um passo da desistência após os primeiros fracassos. 
12. Esteja preparado para enfrentar revezes e fracassos. A perseverança vai lhe proporcionar, 
também, muitas ocasiões de satisfação pessoal para verificar que é possível desenvolver, com recursos 
limitados, dentro das instituições um programa amplo de proteção da saúde das pessoas no trabalho. 
Responsabilidade ética dos Administradores 
 
 
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Para a gestão hierárquica imediata ou superior cabe, por sua vez, uma grande responsabilidade 
ética em manter em alto nível a atividade médica. 
Um administrador jamais deverá determinar a um profissional especializado que proceda 
contrariamente às normas técnicas, legais, morais ou éticas de sua profissão. Reconhece, naturalmente, que 
sua autoridade sobre as pessoas ou órgão especializado é estritamente administrativa e termina onde 
começa a área de atuação especializada do profissional. Isso é tanto ou mais verdadeiro, quando se trata do 
relacionamento médico em uma empresa. 
Alguns gerentes administrativos ainda não entenderam que a decisão médica sobre a capacidade 
orgânica de cada pessoa para o exercício de uma determinada ocupação tem como base para o seu 
julgamento as limitações físicas e mentais, doenças ou condições constitucionais evidenciadas no exame 
individual direto, bem como no resultado de exames especializados e, principalmente a vivência e 
experiência do médico. Aliado a isso, o conhecimento pormenorizado das tarefas que são cometidas ao 
empregado na empresa, é que dá ao médico discernimento e capacidadepara uma decisão que consulte ao 
interesse comum. 
O papel do médico é o de um assessor especializado. Pois sempre a responsabilidade da decisão final 
sobre qualquer caso cabe a administração superior da empresa. Em todas essas ocasiões, tanto os médicos 
como os administradores devem evitar discutir sobre diagnósticos específicos. Isso para permitir a 
preservação do que preceitua o Código Civil – “Ninguém pode ser obrigado a depor de fatos a cujo respeito, 
por estado ou profissão, deve guardar segredo”. O Código de Ética Médica, por sua vez, em seu Capítulo I 
Item XI específica: “O médico guardará sigilo a respeito das informações de que detenha conhecimento no 
desempenho de suas funções com exceção dos casos previstos em Lei.” 
O sigilo profissional médico, como qualquer outro segredo é de propriedade da pessoa, sendo o 
médico que dele passou a ter conhecimento seu depositário e fiel guardador, somente podendo revelá-lo 
em situações muito especiais como: dever legal, motivo justo ou justa causa e autorização expressa, por 
escrito, da pessoa. 
Há casos em que interesses superiores da empresa estarão de tal modo condicionados a questões 
individuais que pessoas serão admitidas ou continuarão em um trabalho a despeito das recomendações 
médicas contrárias. Tal atitude não implica numa desautorização ou diminuição da capacidade profissional. 
Ela é resultante de consequências peculiares à própria dinâmica da empresa. Entretanto, levando em conta 
sua responsabilidade ética, o médico deverá insistir em seu ponto de vista. Esclareça e assessore 
adequadamente a administração quando o estado físico ou mental do trabalhador evidenciar que, sem as 
restrições preconizadas e a readaptação sugerida, há possibilidade definitiva de acidente ou agravamento de 
uma doença, que poderiam, ainda mais, aumentar a incapacidade da pessoa ou colocar em jogo o 
patrimônio da empresa. 
O importante é que o administrador dê à sua direção um comportamento consultivo e participativo, 
donde poderá tirar a mais elevada eficiência de seus colaboradores e, entre eles, sem dúvida alguma, o 
médico – responsável na empresa, pela manutenção da maquina humana, o mais importante elemento na 
grandeza de uma instituição. 
 
Ao final dessa apresentação na qual caberia dizer com certa, melancolia: Que tempos são esses que 
vivemos? Lamentar não é o caminho. Inovar é a larga estrada a ser percorrida. 
Assim pensando, renovo a minha fé na retomada do fio de Ariadne que nos guiará na grande 
responsabilidade que cabe aos médicos assumir obedecendo às características humanistas de sua sublime 
missão, onde a verdade e o seu dever jamais serão atraiçoados. 
O grande escudo da atividade médica é não expor idéias ou praticar atos contrários ao que 
estabelece o Código de Ética Médica e o que o exercício e a experiência profissional, propõem e interpretam 
como correta. 
 
No bom desempenho da Medicina do Trabalho a palavra mágica é: 
ENTUSIASMO = ENTHEUS = DEUS INTERIOR. 
 
 
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Prezados colegas. Inteligência médica brasileira! Experientes profissionais de outras áreas! 
Precisamos estar todos irmanados nos propósitos éticos para vencer a atual crise deontológica - se 
almejamos um Brasil desenvolvido e realmente sustentável.. 
Brasileiros de ontem e os do amanhã! Fortaleçam os de hoje que estão enfraquecidos e 
indevidamente responsabilizados, pela ausência de meios para o exercício de seu trabalho por aqueles que 
dominam o poder e violentam a moral. 
Mãos à obra na reivindicação de manter nossa quase perdida autonomia profissional; na 
reconstituição interior de nossos valores; na reconciliação da vida médica com as instituições nacionais; e 
principalmente mãos à obra de substituir pela verdade o simulacro político e administrativo da existência 
atual, que violenta a aplicação da ciência e da técnica. 
Trabalhai com ética e entusiasmo com essa diretriz sempre em mente, ela há de ser a salvação da 
mais nobre das causas – a defesa da vida. Não busquemos salvadores, mas buscando valores que cada vez 
mais dignifiquem a medicina e o humanismo que orienta a razão de sermos médicos. Não é sonho, meus 
amigos, bem sinto eu, nas pulsações de meu coração, essa ressurreição ansiada. Oxalá, não me fechem os 
olhos, antes de lhe ver os primeiros indícios no horizonte. Assim queira Deus! 
Rio de Janeiro 8 de Junho de 2011 
 
Daphnis Ferreira Souto

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