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Instituições de Direito Privado - Relação Jurídica

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INSTITUIÇÕES DE DIREITO PRIVADO
RELAÇÃO JURÍDICA
Fabio Queiroz Pereira
Professor Adjunto de Direito Civil da UFMG
Doutor em Direito Civil pela UFMG
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INTRODUÇÃO: DIREITO SUBJETIVO
Direito Objetivo: Norma considerada como mandamento ou diretriz.
Direito Subjetivo: Poder de exigir o cumprimento do seu direito. Interesse juridicamente protegido. Faculdade de agir.
	- Direito subjetivo é um poder da vontade, para a satisfação dos interesses humanos, em conformidade com a norma jurídica.
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RELAÇÃO JURÍDICA
Quem tem um poder de ação oponível a outrem, seja este determinado, como nas relações de crédito, seja indeterminado, como nos direitos reais, participa obviamente de uma relação jurídica, que se constrói com um sentido de bilateralidade, suscetível de expressão na fórmula poder-dever.
Relação regulada pelo direito.
“Relação jurídica é o vínculo entre sujeitos estabelecido por lei ou pela vontade humana, para a consecução dos seus respectivos interesses”.
É um vínculo entre pessoas, em virtude do qual uma delas pode pretender algo a que outra está obrigada. (Savigny)
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CLASSIFICAÇÃO TRADICIONAL
relações de família – referentes ao casamento, sua extinção, e ao parentesco;
relações obrigacionais e contratuais – para a constituição, modificação ou extinção de direitos.
relações reais – realizadas sobre coisas, como posse e propriedade.
relações sucessórias – para a identificação da herança e transmissão para os herdeiros.
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CARACTERÍSTICAS
bipolaridade: integrada por pelo menos duas partes ou dois pólos.
intersubjetividade: sempre ocorre entre sujeitos de direito; não há como cogitar de liame entre objetos ou entre sujeitos e objetos.
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CONTEÚDO
Traduz o poder de realização do direito subjetivo.
É o poder conferido ao titular do direito subjetivo. Este conteúdo vem a ser, o poder ou os poderes em que o titular do direito é admitido a fazer ou a pretender.
	Ex.: na propriedade, o conteúdo do direito são os poderes que competem ao proprietário sob a tutela do ordenamento jurídico (uso, fruição, transformação, disposição, etc.).
“Assim, os homens ao estabelecerem uma relação jurídica, criam entre si direitos e obrigações. Tais direitos e obrigações compõem o conteúdo da relação jurídica”.
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ELEMENTOS DA RELAÇÃO JURÍDICA
	a) Sujeitos: 
	- A pessoa é o único ente que pode integrar um dos pólos da relação jurídica.
	- Pessoa física ou natural e pessoa jurídica (Problematização envolvendo o nascituro)
	- Sujeito ativo: é aquele que pode exigir certa conduta da outra pessoa.
	- Sujeito passivo: é aquele que se subordina ao poder de outra pessoa em razão da relação jurídica existente.
	- Na maioria das relações jurídicas há uma bilateralidade obrigacional, ou seja, cada pessoa possui direitos em relação à outra.
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ELEMENTOS DA RELAÇÃO JURÍDICA
	b) Objeto:
	- Poderá ser uma coisa (imóvel, carro), como uma pessoa (filho, criança), ou um certo bem imaterial (liberdade, honra, integridade moral), podendo ainda constitui-se numa prestação.
	- É a figura central em torno da qual se constitui a relação jurídica. O objeto da relação jurídica pode ser: pessoas, direitos, prestações e bens.
		*pessoas: Ex.: pátrio poder.
		*prestação: Ex.: prestação de serviços.
		*direitos: Ex.: usufruto, herança.
		*bens: Ex.: propriedade, posse.
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ELEMENTOS DA RELAÇÃO JURÍDICA
	c) fato jurígeno ou jurídico, fato gerador, fato propulsor: fato que a Lei atribui um especial efeito.
	
	d) vínculo (elemento interno): surge com a ocorrência de um fato gerador conferindo a cada um dos participantes da relação o poder de pretender ou exigir algo de outro.
	- Nos dizeres de Miguel Reale: “Quando alguém tem uma pretensão amparada por uma norma jurídica, diz-se que tem título para o ato pretendido ou que está legitimado para exigir o seu direito”.
	
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O CASO DA LAGARTIXA
	Autos n° 082.11.000694-3 
	Ação: Procedimento do Juizado Especial Cível/Juizado Especial Cível 
	Autor: Antenor Cirtoli 
	Réu: Komlog Importação Ltda. 
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SENTENÇA
		Vistos, etc. 
	 	Trata-se de ação que dispensa a produção de outras provas, razão pela qual conheço diretamente do pedido. 
		A preliminar de complexidade da causa pela necessidade de perícia deve ser afastada, porquanto a matéria é singela e dispensa qualquer outra providência instrutória, como dito. 
		Gira a lide em torno de um acidente que vitimou uma lagartixa, que inadvertidamente entrou no compartimento do motor de um aparelho de ar condicionado tipo split e que causou a sua morte, infelizmente irrelevante neste mundo de homens, e a queima do motor do equipamento, que foi reparado pelo autor ao custo de R$ 664,00 (fl. 21), depois que a ré recusou-se a dar a cobertura de garantia.
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		É, portanto, indiscutido nos autos que a culpa foi da lagartixa, afinal, sempre se há de encontrar um culpado e no caso destes autos, até fotografado foi o cadáver mutilado do réptil que enfiou-se onde não devia (fl. 62), mas afinal, como ia ele saber se não havia barreira ou proteção que o fizesse refletir com seu pequeno cérebro se não seria melhor procurar refúgio em outra toca — Eis aqui o cerne da questão, pois afinal uma lagartixa tem todo o direito de circular pelas paredes externas das casas à cata de mosquitos e outros pequenos insetos que constituem sua dieta alimentar. Todo mundo sabe disso e certamente também os engenheiros que projetam esses motores, que sabidamente se instalam do lado de fora da residência, área que legitimamente pertence às lagartixas. Neste particular, tem toda a razão o autor, se a ré não se preocupou em lacrar o motor externo do split, agiu com evidente culpa, pois era só o que faltava exigir que o autor ficasse caçando lagartixas pelas paredes de fora ao invés de se refrescar no interior de sua casa. 
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		Por outro lado, falar o autor em dano moral é um exagero, somente se foi pela morte da lagartixa, do que certamente não se trata. Houve um debate acerca da questão e das condições da garantia, que não previam os danos causados por esses matadores de mosquitos. Além disso, o autor reparou o equipamento, tanto que pretende o ressarcimento do valor pago, no que tem razão. E é só. Além disso, é terreno de locupletamento ilícito à custa de outrem. 
		Diante do exposto, julgo parcialmente procedente a ação, para condenar a ré a ressarcir o autor da quantia de R$ 664,00 (seiscentos e sessenta e quatro reais), a ser acrescida de juros de mora de 1% desde a citação e correção monetária pelo INPC, desde o desembolso (fl. 62). 
		Sem custas e sem honorários. 
		P. R. I. 
		Florianópolis (SC), 22 de fevereiro de 2012. 
		Helio David Vieira Figueira dos Santos 
		Juiz de Direito
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QUESTÕES SOBRE O CASO
Trata-se de uma questão de direito público ou de direito privado?
Apenas com base na decisão encaminhada é possível dizer que o caso analisado pode ser classificado como fácil? 
Se o caso analisado pode ser considerado representativo de uma relação jurídica tradicional, quais são os elementos que a compõem? 
No final, o juiz reconheceu um direito ao autor. O que significa dizer que o senhor Antenor Cirtoli possuía um direito? A palavra direito está sendo usada aqui no mesmo sentido em que é empregada quando nos referimos ao “direito brasileiro”?

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