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Texto_A_Geografia_classica

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Teoria da Geografia - Texto 4 Digitado por Isa de Paula Boratto 
 
A GEOGRAFIA CLÁSSICA 
 
ANDRADE, Manuel Correia de. A Geografia Clássica. In: 
Geografia Ciência da Sociedade. São Paulo: Atlas, 1992. 
Cap 6, p. 63-80. 
 
CARACTERÍSTICAS DA GEOGRAFIA CLÁSSICA 
 
O conhecimento científico está em permanente processo de transformação, com o aporte que se 
faz, a cada geração, de novos conhecimentos, daí o hábito de se periodizar a evolução do 
conhecimento científico como um todo. Para a Geografia admitimos, de forma esquemática, a 
existência de um primeiro período em que pontificaram os institucionalizadores desta ciência, ao 
qual se seguiu outro de consolidação e de difusão do conhecimento geográfico ,a que chamamos 
período clássico, em seguida, após a Segunda Guerra Mundial, teria o período moderno. 
 
Torna-se difícil estabelecer os limites de cada período uma vez que as transformações e as 
mudanças na orientação do estudo e do ensino da Geografia se processam lentamente e em uma 
mesma fase há autores que se encontram em um e em outro período, da mesma forma que um 
mesmo autor participa , através dos seus trabalhos, de dois períodos que se sucedem. Podemos 
admitir, em linhas gerais, que o período clássico seja delimitado pelos anos 1901 – primeiro do 
século XX – a 1946 – ano em que foi concluída a Segunda Guerra Mundial; temos de reconhecer, 
porém, que, nas primeiras décadas do século XIX, impregnados das idéias dominantes naquele 
século, continuaram a produzir, e muitos dos grandes geógrafos clássicos começaram a escrever 
e estudar no século XIX da mesma forma que grandes geógrafos da primeira metade século XX 
continuaram a produzir obras de grande importância no pós-guerra. As delimitações temporais 
são assim relativas. 
 
Mas quais as grandes transformações por que passaram o pensamento geográfico nesse período 
que provocaram diferenças entre 63 este pensamento e o dos mestres estudados no capítulo 
anterior? Que diferenças foram bastante fortes para caracterizar uma escola, mas insuficientes 
para caracterizar uma ruptura com o pensamento geográfico institucionalizado? 
 
A primeira grande diferença entre os dois períodos foi a queda no prestígio do finalismo positivista 
e evolucionista e do esforço de encontrar leis gerais que explicassem as diferenciações existentes 
na superfície da terra, de forma uniforme para todo o planeta. Os geógrafos , impossibilitados de 
aplicar as leis físicas ao processo de produção do espaço pelo homem, tenderam a abandonar a 
geografia humana, considerando a geografia como uma ciência apenas física , como aconteceu 
na Alemanha com Oscar Peschel e Ferdinand von Richthofen1, ou a procurar fazer estudos 
corológicos, de caracterização e explicação de paisagens e de tipos de relação entre o homem e o 
meio, em determinadas áreas, sem maiores preocupações com a generalização para toda a 
superfície da Terra; daí haver crescido, até meados do século XX, o prestígio da Geografia 
Regional, em detrimento da geografia sistemática ou Geral. 
 
Os geógrafos clássicos, vivendo a fase de desenvolvimento do capitalismo industrial e da 
necessidade de um conhecimento aprofundado do espaço produtivo, fizeram estudos corológicos, 
procurando desenvolver uma análise de porções mais ou menos restritas da superfície do planeta. 
Partiram do princípio de que a análise das várias partes levaria à soma das mesmas e ao melhor 
conhecimento do todo. Levavam a Geografia consolidar-se como uma Ciência ideográfica e 
descritiva, usando o método indutivo, que parte do particular para o geral. Nesses estudos 
regionais, os alemães preocuparam-se com a descrição e análise da paisagem, em suas 
características naturais, enquanto entre os franceses a geografia da paisagem, considerada uma 
ciência de síntese, dava grande importância à visualização da mesma, tanto em seus aspectos 
físicos como nas marcas nela deixadas pelo homem. De qualquer forma, o positivismo era 
transformado em um funcionalismo que invadiria todas as ciências sociais. Os estudos regionais 
ganharam grande prestigio e muitos geógrafos admitiam ser eles os mais legítimos estudos de 
Geografia porque preocupavam tanto com os aspectos naturais como os sociais, sem se 
 
1 KRETSCHMER, Konrad. História de la geografia. P 129 (no original, Fernando) 
aperceberam que nesses estudos havia muito mais uma justaposição do físico ao humano do que 
a necessária integração. Isto porque na análise regional predominava, conforme a formação do 
geógrafo, ora a caracterização do humano, sobretudo do histórico2. 64 
 
A influência das condições naturais foi tão grande que durante decênios as regiões geográficas 
foram chamadas regiões naturais, e se admitiu que as condições naturais determinavam a 
delimitação das regiões, enquanto a intervenção social, humana, apenas dividia as regiões em 
zonas. Só em 1941 é que André Cholley (no original Chollay) propôs que conceituassem as 
regiões geográficas como resultado da Influência dos domínios físicos – estrutura geológica, 
clima, relevo e hidrografia -, do meio natural – flora e fauna – e da organização humana3. 
 
Os estudos regionais provocaram uma separação entre a Geografia Geral ou Sistemática e a 
Geografia Regional, desestruturaram, dentro dos conhecimentos e das técnicas usadas na época, 
a integração entre o regional e o geral. Essa desintegração também contribuiu para que houvesse 
uma especialização maior entre os geógrafos, estabelecendo áreas de investigação separadas 
entre a Geografia Física e Biológica de um lado e a Geografia Humana do outro. Linhas de 
separação que se adensaram cada vez mais, fazendo com que desenvolvessem como 
verdadeiros campos autônomos do conhecimento científico tanto capítulos da Geografia Física – 
Geomorfologia, Climatologia, Hidrografia, Fitogeografia, Zoogeografia – como da Geografia 
Humana – Geografia da População Agrária, da Indústria, da Circulação e transportes, Econômica, 
Política, Social etc. Estas subdivisões puseram em risco a própria existência da Geografia, como 
ciências, levantando dúvidas até em geógrafos famosos como Camille Valloux4 e Henry Baulig5. 
Esta geografia dividida, compartimentada tanto na direção horizontal como na vertical, veio 
empobrecer epistemológica e metodologicamente a Ciência Geográfica. 
 
O estudo das regiões levou o geógrafo a preocupar-se com uma visão totalizante da mesma e a 
procurar compreender e explicar a realidade como um todo, com a máxima fidelidade. Isto o fez 
aprofundar-se no estudo das condições naturais, como a estrutura geológica, as rochas, o solo, a 
influências climáticas e sua ação sobre o solo e a vegetação, e o levou à análise das formas de 
organização do homem, dominando capitais e técnicas para maximizar a utilização dos recursos 
disponíveis. Sentiu então o geógrafo a necessidade de ampliar sua área de conhecimento e de ir 
buscar em outras ciências, a que chamou de auxiliares, os conhecimentos necessários à 
explicação da paisagem e à interpretação da realidade regional. Daí a acusação de 
enciclopedismo que recaiu sobre os geógrafos, a 65 acentuação das divergências entre eles, as 
tentativas de delimitação entre a Geografia ias outras ciências – a geograficidade de Vidal de la 
Blache6 – e as polêmicas entre geógrafos e cientistas sociais de outras especialidades, como 
Émile Durkheim. Tentativas foram feitas para explicas as inter-relações entre as ciências, a 
apresentação da confluências das mesmas com enfoques diversos sobre uma mesma área ou um 
mesmo tema e os estudos, hoje famosos, de Max. Sorre7 e de Pierre George8. Dentro dos ditames 
positivistas, já em parte recusados , contestados, mas ainda com grande influência sobre o 
pensamento científico, não se admitia a existência de uma única ciência social. Mesmo Vidal de la 
Blache, historiador de formação e muito ligado ao pensamentoda escola de historiadores, 
liderada por Marc Bloch, admitia que a Geografia era uma ciências dos lugares e não do homem9. 
 
2 Para maior aprofundamento do assunto é interessante consultar CLAVAL, Paul. Géographie humaine et éconimique 
contemporaine. Paris, PUF, 1984. p. 55-129; e, MENDOZA, Josefine Gómez e outros. El pensamento geográfico. 
Madri, Allanza Editorial, 1982, p.49-55. 
 
3 CHOLLEY, André. La géographie: guide de l’étudient. Paris, PUF, 1951. 
 
4 VALLOUX, Camille. Les sciences géographiques. Paris, Felix Alcan, 1929. 
 
5 BAULIG, Henry. A Geografia é uma ciência? In: CHRISTOFOLETTI, Antônio. Perspectivas da geografia. São Paulo, 
DIFEL, 1980, p. 59-70. 
 
6 LACOSTE, Yves. Geographicité te géopolitique: Élisée Reclus. Herodote. Paris, nº22, 1981, p.14-56. 
 
7 Sorre, Max.(Maximilien) Recontres de la géographie et de la sociologie. Paris, Michael Rivière, 1957. 
 
8 Idem. Sociologie et geographie. Paris, PUF, 1968. 
 
9 BLACHE, Vidal de la. As características principais da Geografia. In: In: CHRISTOFOLETTI, Antônio. Perspectivas 
da geografia. São Paulo, DIFEL, 1980, p. 11-36. 
Só posteriormente, com os estudos de Pierre George e de Paul Claval, é que se generalizou a 
opinião de que Geografia é uma ciência social, do homem , e não uma ciência da natureza. 
Distinção que tem grande importância epistemológica, pois, se a Geografia fosse uma ciência 
natural, dos lugares, ela não poderia procurar compreender e explicar como e por que a 
sociedade produz e reproduz permanentemente o espaço social, apenas estudaria os resultados 
deste trabalho. Como ciência social, humana, a Geografia tem a responsabilidade de analisar a 
própria sociedade, as relações que influem no tipo de espaço produzir e explicar a razão de ser da 
ação da sociedade sobre esse espaço. Assunto da maior importância nos dias de hoje. 
 
A geografia clássica, porém com todas as suas fraquezas, teve grande importância porque 
atendeu aos desafios que a burguesia, como classe dominante, encontrou na sua luta pela 
exploração dos recursos e dos homens na superfície da Terra. Como os meios, conforme a 
situação econômica e social de cada país e os desafios que os governos, comprometidos com as 
classes dominantes, encontravam para fazer o seu próprio “desenvolvimento”, fossem diversos, 
ela se fragmentou em escolas nacionais ou até regionais. Surgiram, então, as escolas, uma 
escola alemã, uma escola francesa, uma escola britânica, uma escola soviética, uma escola 
americana etc. Estas escolas, porém, não se apresentavam como compartimentos estanques, 
separadas completamente em suas proposições e métodos: 66 elas se orientavam para estudos 
de maior interesse para o próprio país e procuravam soluções e orientação que justificassem a 
ação do mesmo. Serviriam , na Alemanha, para justificar e tentar legitimar a luta pelo espaço vital, 
na França e na Grã-Bretanha para melhor conhecer os seus impérios coloniais, nos Estados 
Unidos e Na Rússia para justificar consolidar a expansão por áreas contínuas e habitadas por 
povos pobres que permaneceriam sob o seu domínio e orientação. Tinham essas escolas, como 
não poderia deixar de ser, um sentido profundamente nacionalista, estavam comprometidas com 
os governos de que dependiam e a que serviam. 
 
 
6.2 A ESCOLA ALEMÃ 
 
Tendo sido a Alemanha o país em que primeiro a Geografia se institucionalizou e onde viveram e 
ensinaram os três grandes geógrafos, considerados tradicionalmente como pais da Geografia 
Moderna – Humboldt, Ritter e Ratzel -10 , é natural que aí se desenvolvessem, em profundidade, 
os estudos geográficos, que aí surgissem os grandes geógrafos do período clássico e que as 
idéias germânicas se expandissem por outros países, sobretudo nos Estados Unidos. 
 
Dentre os grandes geógrafos alemães da escola clássica destaca-se Alfred Hettner, que teve 
grandes preocupações epistemológicas em um momento histórico em que os geógrafos em geral 
se voltavam para os estudos da realidade. Ele considerava a Geografia como uma ciência do 
espaço, admitindo que seria “a ciência da superfície da terra, segundo as dimensões regionais”. 
Recusava-se a contrapor o regional ao geral e admitia que a Geografia era, a um só tempo, 
ciência da natureza e do homem. Encaminhava o conhecimento geográfico em direção à ecologia, 
preocupando-se com a paisagem natural e com a ação do homem, usando e degradando esta 
paisagem. A tendência ecológica na Geografia teve e tem grande importância no pensamento 
alemão, tendo sido defendida e continuada por Friedrich e mais recentemente por Karl Troll, que 
procurou estudar sobretudo os problemas fitogeográficos. 
 
Outro geógrafo alemão, Eduard Hahn, dedicou-se a fazer a geografia natural moderna, 
reconstituindo a história da domesticação 67 dos animais e da adaptação dos vegetais à 
agricultura, levantando interrogações sobre as relações entre técnicas e crenças, assim como 
entre a agricultura da enxada e do arado. Foi levado a desenvolver estudos sobre gêneros de vida 
e sobre problemas religiosos. A influência das religiões sobre a produção do espaço vem 
preocupando numerosos geógrafos, como Pierre Deffontaines, na França.11 
 
 
 
10 MENDOZA, Josefine Gómez e outros. Ob. Cit. p.72. e MORAES, Antônio Carlos Robert Moraes. Contribuição para 
uma história crítica do pensamento geográfico. (dissertação de mestrado apresentada ao Departamento de 
Geografia da USP) estuda em detalhe o pensamento dos mestres alemães. São Paulo, mimeografado. (já foi impresso ) 
 
11 DEFFONTAINES, Pierre. Géographie et religion. 8 ed. Paris, Gallimard, 1948. 
Schluter desenvolveu estudos sobre o Landschaft, preocupando-se com a ação do homem sobre 
o meio, através de grupos organizados e não individualmente, dando grande importância ás 
manifestações materiais e procurando partir da análise da região para a compreensão de áreas 
maiores.12 
 
No período clássico podem ser constatadas várias tendências entre os geógrafos alemães, como 
aquela voltada para o estudo das paisagens , dando maior peso à participação do natural sobre o 
social na formação da mesma. Nesta linha trabalhou muitos anos o geomorfólogo Siegfrid 
Passarge, com estudos na Namíbia, então Sudoeste Africando Alemão, observando sobretudo a 
formação do relevo nas áreas de clima desértico. 
 
Os estudo de interesse político continuaram os trabalhos de Ratzel, não só em obras de 
Geografia, como também de Geopolítica. Nesta linha de pensamentos, os estudo de A. Dix13 e, 
posteriormente, de Jaushofem passaram da ciência à propaganda, tentando legitimar a política 
expansionista alemã e defender a conquista de territórios vizinhos aos eslavos e latinos. Para isto 
consideravam os alemães como arianos, superiores aos outros povos brancos, e admitiam a 
necessidade de expansão do seu espaço vital. 
 
Na área econômica merece destaque Leo Waibel, que desenvolveu, dentro de uma linha 
naturalista, os estudos de Geografia Tropical, inclusive no Brasil , onde aprofundou a análise dos 
resultados da colonização alemã nos estados do Sul,14 como se procedeu á produção do espaço 
colonial no sul do Brasil e quais os resultados obtidos pelo homem, pela sociedade na utilização 
da natureza. Também merecem destaque na geografia alemã os estudos de Geografia 
Econômica, dirigidos e coordenados por Otremba.15 
 
Deve-se levar em conta ainda a importância dos estudos de teoria de localização aplicada tanto \á 
agricultura como à indústria, por pensadores alemães. Desde o século XVIII, Von Thünen 
procurou 68 desenvolver raciocínio sobre a existência de um estado ideal, fisicamente uniforme 
que se desenvolveria a partir de um dentro dinamizador – a capital – com zonas concentradas, apartir deste centro, as mais próximas, especializadas na produção de mercadorias com 
necessidade de um consumo mis rápido e de maiores proporções até aquelas de manutenção de 
florestas. Esta teoria daria origem a especulações de outros estudiosos alemães, economistas, 
quase sempre, como Alfred Weber e Losch, e chegaria até Walter Christaller, que na década e 30 
desenvolveu a teoria dos lugares centrais, pouco aceita ao ser formulada, mas que alcançou 
grande difusão após a Segunda Guerra Mundial. Christaller baseou-se em estudos sobre a 
Alemanha Meridional, analisando a difusão, pelo espaço, de cidades, classificadas de acordo com 
seu porte, e procurando estabelecer sua área de influência , de acordo com nível de demando de 
produtos mais ou menos especializados.16 A reflexão sobre os seus trabalhos na década de 60 e 
de 70 provocou grande florescimento da chamada geografia quantitativa e do conseqüente uso 
dos métodos matemático-estatísticos nos estudos geográficos. Ela contribuiria para a perda de 
influência da geografia regional e representava uma volta ao positivismo, alimentando a escola 
neopositiva moderna. 
 
6.3 A ESCOLA FRANCESA 
 
A Escola Francesa formou-se na primeira metade do século XX, tendo por centro as idéias 
defendidas por Vidal de la Blache, primeiro geógrafo francês a ocupara uma cátedra universitária 
de Geografia. A derrota da França frente à Alemanha em 1872 foi por muitos tida como 
conseqüência do ensino ministrado no país e considerado de inferior qualidade ao ministrado na 
Alemanha. Tanto que se disse que a guerra foi ganha pelo mestre-escola alemão. A França, 
humilhada, derrotada, dependente de uma astronômica dívida de guerra e tendo a Alsácia e parte 
 
12 MENDOZA, Josefine Gomez e outros. Ob. cit. –p. 72-3. 
 
13 DIX, A. Geografia política. 2.ed. Barcelona, Labor, 1943. 
 
14 CONSELHO NACIONAL DE GEOGRAFIA. Capítulos de geografia tropical e do Brasil. Rio de Janeiro, IBGE, 1958. 
 
15 OTREMBA, Erich. Geografia geral, agrária e industrial. Barcelona, Omega, 1955. 
 
16 Prost, Maria A. La hiérarchie dês villes. Paris, Gauthiers-Villares, 1965. 
da Lorena desmembradas, procurou recuperar-se, e um dos setores que muito preocupou o 
Governo Republicano que sucedeu ao II Império foi a educação. Daí a reorganização do ensino, 
de que participou Lavasseur,17 dando maior importância às disciplinas da Geografia e da História 
no nível secundário. 
 
Em seguida, criada a cadeira de geografia na Universidade de Nancy, ela foi confiada ao 
historiador Vidal de la Blache, que exercera a sua profissão na Grécia e tinha grandes 
preocupações com 69 o Oriente Próximo. Tendo sido discípulo de Ritter, estava imbuído de 
preocupações geográficas e aceitava, até certo ponto, a influência do meio sobre o homem. Tanto 
que nunca considerou a Geografia como uma ciência social, mais como uma ciência natural “dos 
lugares.” 
 
Como historiador, tinha grande preocupação com a desigual distribuição da população pela 
superfície da Terra e, para explicar tal fato, procurou desenvolver ao máximo a Cartografia como 
forma de visualizar esta distribuição e de procurar explicar as grandes diferenças e contrastes 
existentes, com grandes concentrações em alguns pontos e verdadeiros vazios demográficos em 
outros. Preocupou-se então com o estudo das relações entre o homem e o meio físico, passando 
a admitir que o meio exercia alguma influência sobre o homem, mas que este, dependendo das 
condições técnicas e do capital de que dispunha, poderia exercer influência sobre o meio. Daí o 
surgimento da expressão possibilismo,18 divulgado por Lucien Febvre, hoje apontado como a 
principal característica da escola francesa de Geografia. De Nancy, la Blache seria transferido 
para a Sorbonne e fundaria a revista Annalles de Géographie, que seria grande tribuna de 
combate e de divulgação de suas idéias. Tendo acesso fácil ao poder do Estado, divulgou os 
princípios que nortearam em grande parte, os estudos geográficos na França, colocando em 
segundo plano os trabalhos, até então muito divulgados, de Élisée Reclus. Era a Geografia do 
Estado, institucionalizada na Universidade e ligadas \às classes conservadoras, a combater a 
Geografia popular, divulgada nos vários setores da população, desligada do poder público , 
opondo-se aos senhores do dia e a serviço em disputa, sobretudo no momento em que já se 
passara quase meio século sem que houvesse uma guerra européia, com envolvimento direto da 
França, e em que se consolidar o Império Colonial Francês 
 
As idéias básicas de Vidal de la Blache combatiam a evolução linear. Pregada pelos positivistas e 
evolucionistas do século XIX, relegava a um segundo plano as preocupações teóricas 
globalizadoras e detinha-se nos trabalhos de campo, valorizando a intuição, o “olho clínico” do 
geógrafo. Ao geral ele contrapôs o regional, conduzindo os seus discípulos a realizarem estudos 
de campo limitados a pequenas áreas, às regiões, levando em conta os aspectos físicos e a eles 
sobrepondo os humanos econômicos. Desenvolveu de tal forma os estudos regionais que seus 
continuadores passaram a admitir que a essência da Geografia estava no Regional porque nele 
se conciliava, se integrava o físico e o humano. Na realidade, não havia uma integração, mas 
apenas uma justaposição.70 
 
Admitindo que a região ou o meio físico é o suporte que homem utiliza para viver, para fazer suas 
construções, para extrair os produtos de que necessita, Vidal de la Blache estimulou grande 
preocupação nos geógrafos com a descrição deste meio, das formas de utilização do mesmo e 
deu base à formulação da noção de gênero de vida, vital ao esquema de trabalho. Para ele, o 
gênero de vida seria o conjunto articulado de atividades que, cristalizadas pela influência do 
costume, expressam as formas de adaptação, ou seja, a resposta dos grupos humanos aos 
desafios do meio geográfico.19 A noção de gênero de vida aproxima-se assim da noção 
antropológica de cultura, tão usada pelos alemães e americanos. Esta noção levaria a uma visão 
estática e rural da Geografia, quando nas ciências sociais em geral se dava maior importância à 
categoria classe social, na análise da sociedade. Vidal de la Blache, que publicara o seu Tableau 
de Géographie de la France e numerosos artigos, procurou dar maior ênfase ao estudo das 
comunicações para que se compreendesse o relacionamento entre os gêneros de vida e as 
regiões , sobretudo agrárias, e as cidades que cresciam e ganhavam importância. 
 
17 CLAVAL, Paul. Géographie humaine et économique contemporaine. Paris, PUF, 1984. p.60. 
 
18 BLACHE, Vidal de la. La terre et l’evolution humaine. Paris, Albin Michel, 1949. 
 
19 Sorre, Maximilien. La notion de genre de vie et la valeur actualle. Annales de Géographie, Paris 1948, ano VII. 
Seu pensamento não somente manteve certa uniformidade entre os pensadores franceses, como 
deu origem a um elo comum que dominou a geografia francesa durante dezenas de anos e se 
expandiu pelo exterior, sobretudo pela Grã-Bretanha e pelo Brasil. Entre os seus continuadores 
destacam-se o historiador Lucien Febvre, do grupo da revista de Síntese, que publicou notável 
livro onde difundiu as idéias do seu mestre, e Lucien Galois, que continuou a coordenação da 
Grande Geografia Universal, publicada em 1927, em 15 tomos, que viria substituir a Nova 
Geografia Universal de Reclus, ainda bastante difundida na França. 
 
Mas a Escola Geográfica Francesa não apresentava uma estrutura monolítica, havendo muitos 
dos geógrafos nela classificados que aceitavam, em parte, as idéias de Vidal de la Blache e 
discordavam do mestre em outras. Merecem maior destaque Emanuel de Martonne, que, após a 
morte de la Blache, coordenou as notas e artigos deixados pelo mesmo, reunindo-os em livro em 
que procurou sintetizar opensamento do grande geógrafo.20 Ele é famoso por haver desenvolvido 
os estudos de Geografia Física, tendo publicado um Tratado de Geografia Física em três volumes, 
com edições 71 sucessivas, sempre atualizadas e corrigidas, e que durante décadas foi o livro 
básico dos estudos desta disciplina. Martonne foi muito influenciado pela idéias do norte-
americano W.M. Davis, que formulou uma teoria geral sobre evolução do relevo, admitindo que 
ele era comandado pelo escoamento fluvial um tipo dominante nos países de clima temperado – e 
de forma cíclica, apresentando-se o relevo jovem, quando ainda muito escarpado e pouco 
erodido, maduro e velho, quando o processo erosivo chegara ao fim de sua obra. Apesar de 
aceitar as idéias centrais do geomorfólogo americano, Martonne atenuou a rigidez das mesmas, 
salientando que as formas de relevo evoluem de forma diferente em condições climáticas e em 
estruturas geológicas diversas. Não foi ao extremo de alguns discípulos do mestre famoso que 
consideravam o sistema de erosão fluvial como normal e os demais sistemas como exceções ou 
até como acidentes, como ocorreria com o geomorfólogo belga Paul Macar21. Esta linha 
geomorfológica seria seguida por Henry Baulig22 e por Pierre Birot23, que aceitam a teoria cíclica, 
mas admitiam que o processo era dinâmico e não estático, o que levava a aceitar que um ciclo 
nunca era concluído, sendo substituído por outro, dando margem a que o relevo fosse policíclico e 
dinâmico. 
 
Jean Brunhes viveu na Suíça, onde foi professor da Universidade de Friburgo, mantendo grande 
contato com os alemães, e os seus estudos tiveram concentrada preocupação com temas como o 
da irrigação na Espanha e no norte da África. Publicou uma geografia humana na qual classificou 
os fatos de ocupação produtiva do solo, os de ocupação improdutiva do solo e, finalmente, os e 
ocupação destrutiva.24 Sua ligação ao pensamento alemão fez com que não desprezasse tanto as 
formulações teóricas gerais e que desse grande importância ao estudo das relações entre o 
homem e o meio natural. Preocupou-se com os problemas antropológicos, fazendo com que os 
seus estudos monográficos dessem grande importância à análise de técnicas e seus seguidores 
chegaram a publicar uma revista25 dedicada, a um só tempo, à Geografia Humana e à Etnografia. 
Também Pierre Deffontaines, que foi muito influenciado por suas idéias, dirigiu na Editora 
Gallimard, por muitos anos, uma coleção de livros de Geografia Humana, cujos títulos estavam 
 
20 BLACHE, Vidal de la. Princípios de geografia humana. Lisboa, Cosmos, S.D. Ainda sobre a Escola Geográfuca 
francesa há uma bibliografia muito rica, em eu se destacam os livros de MEYNIER, André. Histoire de la géographie 
em France. Paris, PUF, 1968. BERDOULAY, Vincent. La formation de l’école francaise de géographie (1870-1914). 
Paris, Bibliothèque nationale, 1981. GEORGE, Pierre et alii. Los géographes françaises . Bulletin de la Section 
Géographie, LXXXI. Paris, 1975. 
 
21 MACAR, Paul. Principes de géomorphologie normale. Masson, Liège, 1946. 
 
22 BAULIG, Henry. Essais de géomorphologie. Paris, Societé d’Édition Les Belles Lettres, 1950, e, Vocabulaire 
franco-anglo-allemand de géomorphologie. Paris, 1956. 
 
23 BIROT, Pierre. Précis de géographie phisique générale. Paris, Armand Colin, 1959 : e la Cycle d’érosion sous les 
differents climats. Rio de janeiro, faculdade nacional de Filosofia, 1960. 
 
24 BRUNHES, Jean. La géographie humaine. 4.ed. Paris, Felix Alcan, 1934. 3 vol. 
 
25 La Revue de Géographie humaine et d’ethnologie, dirigida por Pierre Deffontaines e André Leroi. Paris, Gourhan, 
1948. 4 vol. 
ligados sobretudo às relações 72 entre o homem e o meio26. Aproximando-se de Camille Valloux, 
publicou em colaboração com este um livro de análise de geografia histórica.27 
 
Camille Valloux é uma figura singular na geografia francesa de primeira metade do século XX: 
escreveu livros diversos sobre geografia histórica, geografia política28, em que faz uma 
classificação das fronteiras em três tipos , as vivas, as mortas e as esboçadas, e outros sobre a 
geografia dos mares29, preocupado não só com as noções básicas de oceanografia, como 
também com a exploração econômica do espaço oceânico. 
 
Os estudos de geografia política não ficaram apenas com Valloux, de vez que, como a França 
possuía o segundo maior Império colonial do mundo, passou a realizar estudos sobre a geografia 
das suas colônias, aprofundando o conhecimento do meio tropical e das formas de exploração 
dos recursos existentes no mesmo, e a racionalizar as formas de dominação colonial. George 
Hardy escreveu livro clássico sobre o assunto, retomando idéias de Reclus ao fazer uma tipologia 
dos países colonizados em três grupos: colônias de exploração, colônias de povoamento e 
colônias de posição30. A Universidade de Bordeaux foi o principal centro de estudos coloniais. 
Com a descolonização, a expressão Geografia Colonial foi substituída pela Geografia Tropical, 
procurando não só atenuar o choque sobre os colonizados, como também utilizar métodos de 
estudo e de análise mais compatíveis com o processo de descolonização. 
 
Ainda merecem referência entre os grandes geógrafos da escola clássica francesa nomes como 
os de Max. Sorre, de orientação profundamente ambientalista e que retomou uma linha biológica 
para a tal31 explicação dos fatos geográficos, tendo escrito um livro fundamental para a 
compreensão desta linha de pensamento e se preocupando com as relações entre a Geografia e 
as ciências sociais;32 Roger Dion, que dentro da tradicional linha historicista da geografia do 
século XIX desenvolveu estudos de geografia humana retrospectiva,33 levando geógrafos e 
historiadores a fazer a reconstrução mental das 73 formas de espaço produzidas no passado e os 
processos que levaram à construção e à reconstrução das mesmas: André Cholley, retomando os 
estudos de caracterização das regiões geográficas, destacou a importância do homem como 
organizador, como produtor das regiões,34 revolucionando a concepção dominante de que as 
regiões geográficas eram verdadeiras regiões naturais. 
 
Em um estudo como este não se pôde aprofundar o pensamento de números outros geógrafos 
franceses da primeira metade o século XX, que deram grande contribuição à consolidação da 
geografia como ramo do saber, frente a outras ciências sociais. Merecem referência, entre outros, 
Albert Demangeon, por seus estudos monográficos; Raul Blanchard, por sua preocupação com a 
geografia das áreas montanhosas; Daniel Faucher, que deu grande contribuição ao 
desenvolvimento da Geografia Agrária, etc. 
 
 De certa forma geral pode-se admitir que a Escola Geográfica Francesa, apesar das 
divergências que naturalmente existiam entre os seus principais mestres, caracterizou-se por 
 
26 Entre outros títulos podem ser salientados: DEFFONTAINES, Pierre. L’homme et la foret. 22 ed. Paris, 
Gallimard, 1933; BLACHE, Jules. L’homme et la montagne. 19. ed. Gallimard, 1931; RUE, Albert de la. L’homme et 
les Iles. 1956 ; e L’homme et le vent. 11.ed. Paris, Gallimard, 1940 ; PRAT, Henri. L’homme et le sol. 6 ed. Paris, 
Gallimard, 1949. 
 
27 VALLOUX, Camille & BRUNHES, Jean. La géographie et l’histoire. Paris, Felix Alcan, 1921. 
 
28 Idem. Géographie sociale: lê sol et d’état. Paris, Enciclopedie Scientifique, 1911. 
 
29 Idem. Géographie sociale: la mer. Paris, Enciclopedie Scientifique, 1908. 
 
30 HARDY, George. Géographie et colonization. Paris, Gallimard, 1933. 
 
31 SORRE, Maximilian. Les fondaments de la géographie humaine. Paris, Armand Colin, 1951. 
 
32 Sobre o assunto é interessante consultar MENGALE, Januário Francisco. Max Sorre, São Paulo, Ática, 1984; e 
Geografia e sociologia em Max Sorre. São paulo, IPE/USP, 1985. 
 
33 DION, Roger. Histoire de la vigne eydu vin en france: dês origines au XIX siècle. Paris, 1959. 
 
34 CHOLLEY, André. La géographie: guide de l’étudiant. Paris, PUF, 1951 
acentuada preocupação regionalista, por uma orientação ideográfica, por uma posição política 
conservadora, encoberta por neutralidade científica, e por dar grande importância a descrição, 
embora não menosprezasse a explicação.Profundamente ligada à Universidade, à formação 
cultural, teve de se transformar para se adaptar às novas condições criadas pela Segunda Guerra 
Mundial, quando o geógrafo foi chamado a participar da reconstrução do planejamento; teve de 
depender menos da análise do homem/meio e dar maior importância ao papel da indústria e das 
cidades na produção e na reorganização do espaço. 
 
 
A ESCOLA BRITÂNICA 
 
A Escola Britânica, em grande parte ligada às Universidades de Cambridge Oxford, foi muito 
influenciada pela Escola Francesa, valorizando os estudos regionais e preocupando-se com 
Gêneros de vida.35 Na Inglaterra, o papel das sociedades exploradoras ganhou importância 
considerável em face da necessidade que os ingleses tinham, como colonizadores de territórios e 
de povos situados nas mais diversas zonas da Terra, de conhecer os problemas dessas áreas e 
de dominar os povos que nela habitavam; povos que tiveram a sua economia direcionada no 
sentido de atender às necessidades inglesas. Nesses estudos se observa, de forma gritante, o 
comprometimento ideológico da Geografia36 e a sua preocupação militar. Foi necessário, para o 
geógrafo inglês, analisar a importância das comunicações e das relações entre o dominante e os 
dominados,37 assim como entre os diversos povos dominados, para melhor exercer a sua 
prepotência. Daí a importância adquirida pela Geopolítica e a importância e o prestígio, no 
pensamento inglês, das idéias pregadas pelo geógrafo e parlamentar Helford J. Mackinder. Este 
pensador desenvolveu suas idéias em vários livros, mas a conferência que pronunciou na 
Sociedade Geográfica Real em Londres,a 25 de janeiro de 1904, marcou época pela sintetização 
que fez da situação geopolítica mundial.38 
 
Nesta conferência, ele admitiu a existência de áreas coração ou país pivô, que se encontra em 
ponto central que os beneficia como centro potencialmente forte para dirigir agressões e dominar 
os países vizinhos e também aqueles que se apresentam, em face da sua extensão , sob ameaça 
dos povos vizinhos. Considerou a Eurásia – Europa, Ásia e África do Norte – como a área central, 
em escala mundial desde a expansão dos descobrimentos e da dominação colonial, considerando 
a vocação da mesma para dominar o mundo. Admitindo grande influência das condições naturais 
sobre o desenvolvimento e a história da humanidade, afirmou que na Idade Média os povos 
europeus que viviam em áreas de relevo acidentado e de cobertura florestal foram atacados por 
hordas de bárbaros vindos do Oriente, utilizando cavalos e camelos, e por navegadores 
vikingues vindos da Escandinávia. Esses ataques colocaram os europeus ocidentais em situação 
de perigo e os forçaram a uma reação que foi coberta de êxito, porque, ao saírem de suas áreas, 
os povos cavaleiros perdiam a sua mobilidade e ao abandonarem a costa e os rios navegáveis, os 
vikingues perdiam sua condição de combate.A necessidade da defesa e a maior concentração 
demográfica nas áreas florestais e agrícolas fortaleceram os europeus que, da defensiva, 
passaram ao ataque, por terra, por ocasião das cruzadas, ou por mar, com os grandes 
descobrimentos dos séculos XV e XVI. 
 
Os nômades foram contidos, seus impérios desmoronaram após campanhas sucessivas e os 
europeus puderam fundar colônias em toda a superfície da Terra. Nesta expansão destacaram-se 
os russos com os cossacos, que conquistaram toda a Sibéria e a Ásia Central, atingindo o Alasca, 
e os britânicos que ocuparam pontos fundamentais nas América, na Ásia, na África e na Oceania. 
O cavalo e o 75 camelo, na porção terrestre, para esta expansão, tiveram tanta importância 
quanto as embarcações, na marítima. No século XIX, as estradas de ferros substituíram os 
 
35 CLAVAL, Paul. Ob. cit. P.61-2. 
 
36 SODRÉ, Nelson Werneck. Introdução à geografia: geografia e ideologia. 2. ed. Petrópolis, Vozes, 1977. Estuda as 
vinculações entre geografia e ideologia. 
 
37 Para compreender a dinâmica da dominação é interessante consultar RECLUS, Élisée. O problema colonial. In: 
ANDRADE, Manuel Correia de. Élisée Reclus. São Paulo, Ática, 1984. p. 109-30. 
 
38 MACKINDER, Helford John. El pivot geografico de la historia. In RATTENBACH, Cel. Augusto B. antologia 
geopolítica. Buenos Aires, Preamar, 1975. p. 63-81. 
animais no avanço terrestre, surgindo como unificadoras de Estados as estradas transcontinentais 
da Rússia, dos Estados Unidos e do Canadá. 
 
Segundo Mackinder, a Eurásia formava grande área coração, tendo em torno dela um arco 
exterior formado pela Inglaterra. África do Sul, Estados Unidos, Canadá e Japão. Descendo a uma 
escala menor, ele admitia que a Rússia, hoje União Soviética, formava uma área coração, tendo 
um arco formado pela Alemanha, Áustria, Turquia, Índia e China, e que os países situados na 
área nuclear, central, tinham melhores condições de exercer sua influência, seu poder de pressão 
sobre os demais. Naturalmente que já antevia uma desestruturação do domínio russo em face do 
perigo de uma revolução social, vendo pontos em que este país poderia ser atacado pelas forças 
inglesas, no mar Negro e no Afeganistão. Daí certamente o apoio inglês e de seus aliados à 
revolução anarquista na Ucrânia, no início da década de 20, e as preocupações ocidentais com a 
invasão soviética ao Afeganistão. 
 
Para ele, o Oceano Atlântico era a linha de limite entre o Ocidente (Eurásia) e o Oriente, e neste 
oriente uma área coração era representada pelos Estados Unidos, que utilizando o poder 
terrestre, estendera os seus domínios até o Pacífico e que no século XX, apossando-se de 
colônias e de protetorados no Caribe e no Pacífico e ligando os dois oceanos pelo canal de 
Panamá, expandiria o seu domínio, a sua área de influência sobre a América Latina e o Pacífico. 
 
Meditando-se hoje sobre os seus ensinamentos, chega-se à conclusão de que no começo do 
século XX, baseado em suas concepções políticas bastante impregnadas de determinismo. 
Mackinder previa a grande disputa pelo domínio mundial que hoje, nos fins da década de 80, se 
desenrola entre soviéticos e americanos. 
 
Se os ingleses deram maior importância pragmática à Geografia para uso externo, também 
souberam fazê-lo para uso interno. Assim, durante a Segunda Guerra Mundial, quando a 
Inglaterra, bloqueada pelos alemães, viu-se sujeita os bombardeiros diários e à falta de alimentos 
essenciais, foi outro geógrafo, Dudley Stamp, o professor da Escola de Ciências Sociais de 
Londres, quem orientou e dirigiu o planejamento regional para melhor reorganização do território, 
desenvolvendo a política que se chamou Town and Country Planning, que previa a regionalização 
da agricultura na Grã-Bretanha e a reconstrução de forma descentralizada das cidades que 
apresentam grande concentração demográfica. Assim para Londres, que estava sendo destruída 
pelos grandes bombardeios, ele previu não a construção nas linhas anteriores, mas a 
reconstrução dos edifícios 76 destruídos acompanhada da implantação, em torno da capital e, a 
certa distância, de uma série de cidades satélites cuja população não deveria exceder algumas 
dezenas de milhares de habitantes, por cidade.39 Estas cidades não seriam simples 
dormitórios,porque haveria o problema do fluxo e refluxo nas horas de início e de fim do período 
de trabalho, em uma e outra direção, mas cidades dotadas de serviços e de indústrias que 
empregassem certa quantidade de pessoas e oferecessem a estas os serviços essenciais. Com 
isto seria controlado o crescimento urbanoexcessivo, que preocupava os estudiosos e os 
administradores, e simplificava-se o problema dos transportes, de segurança, de abastecimento, 
de saneamento, etc. Dudley Stamp iniciava desse modo uma geografia pragmática, para uso 
interno de cada país, e que teria grande importância, no pós-guerra, em diversos países, embora 
com nomes diferentes, como organização do espaço, na Holanda; aménagement du territoire, 
na França; planejamento regional, no Brasil, e que levaria o geógrafo a participar de equipes 
multidisciplinares em trabalho nos órgãos governamentais 
 
Nesta nova fase a Geografia iria continuar a ter preocupações com o regional, mas passava a 
usar maiores escalas. Passando muitas vezes a ser utilizada em escala nacional ou até pelas 
organizações internacionais, a nível continental. 
 
6.5. A ESCOLA NORTE-AMERICANA 
 
A Escola Geográfica Norte-americana desenvolveu-se a partir da segunda metade do século XIX, 
tendo sido muito estimulada pela migração de dois geógrafos suíços para os Estados Unidos, 
Arnold Guyot e Louis Agassiz, que desenvolveram estudos de geografia regional e de 
 
39 ANDRADE, Manuel Correia de. Estuda o problema em Geografia: região e desenvolvimento. 3 ed. Recife, 
Imprensa Universitária, 1977; e, Espaço, polarização e desenvolvimento. 5 ed. São Paulo, Atlas, 1987. 
geomorfologia, de acordo com os modelos germânicos. O segundo realizou estudos também no 
Brasil, sobretudo na área da Amazônia,40 desenvolvendo uma linha ecológica, inspirada nos 
trabalhos de George Perkins March. 
 
Em conseqüência do aporte destes dois mestres, teve a geografia americana maior 
desenvolvimento em seus aspectos físicos, destacando-se J.W. Powell, na geomorfologia, 
estudando o Oeste, e William Morris Davis, que foi o grande teorizador da geomorfologia em seu 
tempo, de vez que foi o autor da teoria do ciclo de erosão 77 fluvial, baseado nas observações 
feitas nos Estados Unidos, em áreas de clima temperado úmido. Suas teorias tiveram grande 
aceitação nos Estados Unidos e na Europa. Com o aprofundamento dos estudos regionais, porém 
observou-se que não havia um único sistema de erosão para toda a superfície do planeta em face 
da dialética dominante nas relações entre os fatores naturais e a ação do próprio homem, o ciclo 
de erosão era uma imagem abstrata que nunca se concluía, sendo interrompido durante o seu 
processamento por fatores os mais diversos, como movimentos eustáticos,movimentos 
epirogênicos, modificações nas condições climáticas, ação do homem, etc. O próprio Davis, que 
escreveu durante mais de 30 anos, admitiu a existência de outros sistemas erosivos, 
considerando-os, porém, como acidentes climáticos ou tectônicos.41 
 
Quanto à geografia humana, os historiadores da Geografia admitem a existência de duas escolas 
americanas, a de Chicago e a de Berkeley.42 Na primeira dominariam geógrafos inspirados em 
Ratzel, como a Senhora Ellen Semple, e Ellsworth Huntington. A primeira levou ao extremo as 
teorias deterministas, o que servia para legitimar a expansão norte-americana para o Oeste, 
dizimando as tribos indígenas, e para o sul conquistando mais da metade do território mexicano. 
Como homens de clima temperado e de raça branca, anglo-saxões, os americanos da Nova 
Inglaterra julgavam-se superiores a índios e latinos e podiam expandir os seus domínios sobre as 
terras que conquistavam. Depois, baseados na doutrina de Monroe, expandiriam este domínios 
pelas Américas Central e do Sul. Huntington, também determinista, em livros muito bem escritos43 
afirmava que as civilizações só poderiam surgir nas regiões de clima temperado, o que justificava 
uma política de dominação sobre povos tropicais. 
 
A Escola de Berkeley ou da Califórnia teve a sua principal figura em Carl Sauer, que também se 
deixou influenciar profundamente por geógrafos alemães, como Hettner, e pela chamada escola 
histórico-cultural. Trabalhando no Oeste, em área de clima seco, desértico, ele observou e 
analisou as civilizações indígenas, admitindo um condicionamento da atividade humana pelo meio 
físico , com a adaptação das civilizações ao meio natural. Dando grande importância às culturas, 
ele aproximou a Geografia da Antropologia, como acontecera na França com os discípulos de J. 
Brunhes. 
 
Finalmente, o teorizador da Geografia da escola clássica norte-americana foi Richard Hartshorne, 
que, muito influenciado pelo pensamento de Hettner, procurou desenvolver reflexões sobre a 78 
epistemologia, sobre a natureza da Geografia como ciência. Em dois livros, A natureza da 
Geografia, publicado em 1939, e Propósitos e natureza da geografia, publicado em 1966, 
desenvolveu as teses do mestre alemão a quem seguia e especulou sobre as análises das inter-
relações entre os fenômenos, admitindo duas formas de estudá-los: ou partir do particular, da 
região, quando se fazia a geografia a que chamou de Ideográfica, ou de forma generalizada, 
aquilo que se considera como geografia Geral, ao se fazer o que denominava Geografia 
 
40 AGASSIS, Louis & CARRY, Elizabeth. Viagem ao Brasil (1865-1866). São Paulo, Nacional, 1938. 
 
41 DAVIS, Willian Morris. Geographical essays. New York, Dover Publications, 1954. 
 
42 CLAVAL, Paul. Ob.cit. 75-81. 
 
43 HUNTINGTON, Ellsworth. Lãs fuentes de la civilización. México, Buenos Aires, Fondo de Cultura Económica, 1949; 
e, Principles of human geography. New York, John Willey & Sons, 1951. 
 
 
Nomotética.44 Hartshorne pode ser considerado o maior teorizador da escola clássica nos Estados 
Unidos. 
 
Ainda hoje as escolas de Chicago e de Berkeley representam os dois centros mais importantes de 
estudos geográficos nos Estados Unidos. Na primeira Universidade teria grande destaque, no 
pós-guerra, a aplicação dos métodos quantitativos à Geografia. 
 
6.6. A ESCOLA SOVIÉTICA 
 
A geografia russa do período imperial recebeu grande influência do pensamento alemão, em vista 
da proximidade geográfica entre os dois países e das relações culturais estabelecidas deste o 
tempo de Pedro, o Grande. Vivendo em uma região de condições climáticas muito rigorosas e 
tendo dificuldades para o desenvolvimento da agricultura, os russos concentraram os seus 
estudos nos climas e nos solos, daí o grande desenvolvimento da pedologia soviética. 
 
As variações zonais das formações vegetais que se sucedem de norte a sul fazem com que a 
paisagem, do ponto de vista fisionômico, seja muito marcada pela vegetação. Como 
conseqüência, Doukontchev tentou classificar as paisagens do ponto de vista fitogeográfico. 
 
A exploração das terras árticas, já iniciada no século XIX por Kropotkin, fez com que os russos 
trouxessem para a geografia precioso conhecimento sobre os sistemas de erosão glacial e 
periglacial, assim como sobre os problemas de escoamento fluvial desta região. Os rios que 
congelam no inverno e em geral só descongelam no verão como os baixos cursos do Lena, Ob e 
do Yenessey, apresentam grande complexidade no seu regime; esses rios, correndo 79 para o 
norte, têm o seu degelo na primavera no alto e médio curso, o que aumenta consideravelmente o 
volume das inundações. Os russos também se preocuparam muito com o avanço das culturas 
agrícolas para o norte, para as regiões onde os períodos em que os solos não estão cobertos pelo 
gelo são cada vez menores e as plantas necessitam ter um ciclo vegetativo mais curto. 
 
Com a revolução bolchevista e a aplicação do planejamento á Economia, os geógrafos foram 
convocados para prestar serviços nos trabalhos de construção de novas cidades, de vias de 
comunicação e de organização do espaço agrícola e industrial, a fim de corrigir os desníveis de 
desenvolvimento regional. Foram também largamente utilizados nos planos de ocupação das 
áreas desérticas da Ásia Central, onde se desenvolveu culturas tropicais,como a do algodão e a 
da cana de açúcar. 
 
Como os soviéticos foram os pioneiros na planificação da economia e também os pioneiros na 
compreensão de que a importância da geografia não era apenas cultural, acadêmica e política, 
mas também que ela poderia ser aplicada no planejamento do território, tal fato abriu largas 
perspectivas de inovação para os trabalhos do geógrafo.45 
 
Poderíamos analisar ainda as escolas nacionais, mais ou menos autônomas uma das outras, mas 
observarmos que o abandono do evolucionismo e o interesse pelo conhecimento da realidade 
levaram a uma diversificação da Geografia nos vários Estados. Em geral, porém, a geografia 
clássica manteve-se ambientalista – dentro de princípios ora mais ora menos ortodoxos – na 
análise da relação entre o homem e o meio ambiente, sendo a unidade da ciência mantida. A 
Segunda Guerra Mundial traria modificações acentuadas na superfície da terra, nas relações entre 
os homens na sociedade e nas relações entre a sociedade a natureza, o que deu margem a 
grandes transformações, abrindo novos caminhos, novas perspectivas ao conhecimento 
geográfico. As superestruturas são condicionadas pelas infra-estruturas, e a Geografia, a cultura, 
é uma superestrutura. 80 
 
 
44 O livro Propósitos e natureza da geografia foi publicado no Brasil, em sua 2ª edição, pela HUCITEC/USP. São 
Paulo, 1978. Antônio Carlos Robert Moraes, no seu livro Geografia: pequena história crítica. 5 ed. São Paulo, 
HUCITEC, 1986, desenvolve interessante estudo sobre a importância da obra de Hartshorne nas paginas 84-92 
 
45 ACADEMIA DE CIÊNCIAS DA URSS. Recueil des articles pour lê XVIII Congrés International Géographique. Moscou, 
Leningrado, 1956.

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