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Linguagem da Parasitologia humana

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Parasito,parasita.pdf
Parasito, Parasita
LINGUAGEM MÉDICA 
 
PARASITO, PARASITA
 Na antiga civilização grega, as principais cidades possuíam um edifício público que se destacava 
por sua importância e significado, chamado Pritaneu (Prytaneîon). Era o centro cívico e religioso da 
cidade, onde se mantinha permanentemente aceso o fogo sagrado, dedicado à Héstia, deusa da lareira, 
símbolo da família e do lar.[16] O Pritaneu era o local onde se reuniam os pritanes ou representantes do 
povo investidos de poderes temporários. Era também o local onde se recebiam os visitantes ilustres e 
onde tomavam refeições os pensionistas do Estado, os quais eram chamados de parasitos, (de pará, ao 
lado, junto de + sîtos.[3][11] 
 O substantivo sitos, (sîtos, em grego), remonta aos tempos pré-homéricos; designava inicialmente o 
trigo e outros grãos utilizados na alimentação. Por extensão semântica, passou a expressar alimento de 
modo geral e com ele se formaram numerosos compostos na língua grega, alguns dos quais encontram 
equivalentes nas línguas modernas. Contando somente os compostos em que sîtos entra como segundo 
elemento, Chantraine lista 25 vocábulos, dentre os quais parasitos (pará - sîtos). [5] 
 De sîtos deriva o elemento de composição sito que entra na formação de vários termos técnico-
científicos da linguagem moderna, tais como sitofobia, sitomania, sitotropismo, sitotoxina, sitologia, 
sitoterapia.[9] Também se emprega na formação de tais palavras a variante sitio, já existente em grego 
(sitíon), em lugar de sito, o que representa uma duplicidade desnecessária.[19] 
 Os parasitos do Pritaneu eram cidadãos bem considerados e o termo parasito não tinha o sentido 
pejorativo atual,[7] o qual foi introduzido pelos comediógrafos gregos e latinos, passando a caracterizar 
a figura do papa-jantares, aquele que vive às expensas de outrem.[19] O termo foi transliterado para o 
latim como parasitus. i, com o sentido de comensal. Ernout et Meillet, em seu Dictionnaire 
étymologique de la langue latine assim definem parasitus: "Mot de la comédie, emprunté au gr. 
parasitos; latinisé".[12] A literatura clássica latina registra uma comédia de Plauto, da qual restaram 
apenas fragmentos, com o título de Parasitus medicus. [19] 
 A forma parasita, no gênero feminino, foi primeiramente empregada por Horácio, no século I aC 
(sátira 1: 2, v. 98), referindo-se à mulher parasita,[14] e por Plínio, no século I dC, em alusão a uma 
espécie de coruja, "que em latim chamam de axio e que imita e parasita outras aves" (Latine axionem 
vocant, imitatrix alias avis ac parasita".[25] Entende-se como parasitismo nesta passagem a 
apropriação do alimento obtido por outras aves e não propriamente o parasitismo no sentido biológico. 
 O vocábulo parasitus, transposto do latim para as línguas românicas e para outras línguas de 
cultura, sofreu as adaptações morfológicas adequadas a cada um desses idiomas. Temos, assim, parasite, 
em francês; parásito, em espanhol; parassito (ou parassita), em italiano; parasite, em inglês, e parasit, 
em alemão. Em português, tal como em italiano, convivem as duas formas: parasito e parasita. 
 Moraes (1813)[20] registra parasito como substantivo, e parasítico, como adjetivo. Outros léxicos 
do século passado averbam parasito como substantivo masculino e parasita como adjetivo feminino 
(Constâncio, 1845 [6]; Faria, 1856 [13]; Lacerda, 1874 [17]). 
 Vieira (1872)[28] admite as duas formas, tanto como substantivo como na função adjetiva. 
 A introdução do termo parasito em linguagem científica é relativamente recente, datando da 
primeira metade do século XVIII.[20] Usado inicialmente para caracterizar as plantas que vivem às 
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Parasito, Parasita
custas da seiva de outro vegetal de maior porte, foi a seguir aplicado também aos animais que se nutrem 
por intermédio de outro animal, dito hospedeiro, que os alberga, ou internamente (endoparasitos), ou 
externamente (ectoparasitos). 
 Nesta acepção biológica, encontra-se na literatura médica brasileira, desde o século passado, tanto a 
forma parasito como parasita. 
 Na primeira edição do dicionário de Langgaard (1865) já há referência a "parasitas animaes e 
vegetaes, que produzem ou acompanhão certas moléstias no homem e nos animaes".[18] 
 Em artigo publicado na Gazeta Médica da Bahia, em 1870, o autor refere-se a "cogumelos 
parasitas".[10] 
 Afrânio Peixoto, em seu tratado de Higiene, faz menção aos "parasitas do solo". [23] 
 Talvez a repetida referência a plantas parasitas poderia ter influenciado a incorporação ao léxico de 
parasita como substantivo do gênero masculino. Outra explicação, endossada por A. G. Cunha,[8] é de 
que a forma parasita seja resultante da tradução do francês parasite. 
 Ramiz Galvão chama a atenção para a impropriedade da forma parasita, "que o étimo não abona e 
que o uso quer introduzir".[15] 
 Plácido Barbosa considera parasito a forma correta e diz que parasita deve ser tomado como 
feminino de parasito.[4] 
 Mendes de Almeida diz que "não obstante ser corrente a parasita não pode justificar-se nem a 
forma nem o gênero, senão pelo desconhecimento do étimo".[2] 
 Os léxicos especializados em termos médicos, em sua maioria, averbam unicamente parasito.[22],
[24],[27] 
 Os dicionários contemporâneos não especializados, porém, são mais tolerantes com a forma 
parasita, que vem ganhando terreno, considerando-a como variante de parasito. 
 O VocabulárioOrtográfico da Academia Brasileira de Letras não só admite as duas formas como os 
dois gêneros para a forma parasita.[1] 
 Deve ter contribuído para a maior difusão da forma o parasita na linguagem médica a sua adoção 
em obras que marcaram época na medicina brasileira, como a Parasitologia Médica do Prof. Samuel 
Pessoa, adotada em praticamente todas as Faculdades de Medicina do País, alcançando 11 edições entre 
1945 e 1982. 
 Em publicações médicas têm sido empregadas como substantivo do gênero masculino, 
indistintamente, as duas formas: parasito e parasita, como documenta o Prof. Luis Eduardo Quintas em 
carta ao editor dirigida à Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical,[26] na qual defende a 
forma parasito. 
 Buscando dados quantitativos sobre o uso de uma ou outra forma por autores brasileiros, 
procedemos a um levantamento da bibliografia médica latino-americana de parasitologia indexada pela 
BIREME nos últimos 15 anos (1983-1998) . Em 50 trabalhos escritos em português, sete usaram, no 
título, a palavra parasito, no singular; 19, parasitos, no plural; cinco, parasita, no singular; e 19 
parasitas, no plural, o que equivale praticamente
a 50% para cada uma das formas em uso. 
 Levando-se em conta a etimologia e a evolução histórica da palavra parece óbvio que deve 
prevalecer como substantivo masculino apenas a forma o parasito. 
 
 
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Parasito, Parasita
Referências bibliográficas
1..ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS. Vocabulário ortográfico da língua portuguesa. Rio de Janeiro, 
Bloch Ed., 1981. 
2.ALMEIDA, N. M., Dicionário de questões vernáculas, São Paulo, Ed. "Caminho Suave" Ltda., 1981. 
3.BAILLY, A., Dictionnaire grec-français, 16. ed. Paris, Lib. Hachette, 1950. 
4.BARBOSA, P., Dicionário de terminologia médica portugueza, Rio de Janeiro, Liv. Francisco Alves, 1917. 
5.CHANTRAINE, P. Dictionnaire étymologique de la langue grecque. Histoire des mots. Paris, Ed. Klincksieck, 
1984. 
6. CONSTANCIO, F.S. Novo diccionario critico e etimologico da lingua portugueza, 3.ed. Paris, Angelo 
Francisco Carneiro, 1845 
7. COULANGES, F. A cidade antiga, 8.ed. (trad.). Rio de Janeiro, Ediouro, 1999, p. 109. 
8. CUNHA, A.G., Dicionário etimológico. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1982. 
9. DORLAND'S ILLUSTRATED MEDICAL DICTIONARY, 28.ed. Philadelphia, W. B. Saunders Co., 1994. 
10. DRANERT, F.H. Cogumelos parasitas e a sua influência nociva, sobre outros organismos; com algumas 
observações fitofisiológicas explicativas e necessárias. Gaz. méd. Bahia 4: 150-151, 1870 
11. ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA. Chicago, 1961. 
12. ERNOUT, A. & MEILLET, A.: Dictionnaire étymologique de la langue latine. Histoire des mots, 4.ed. Paris, 
Ed. Klincksieck, 1979. 
13. FARIA, E. Novo diccionario da lingua portugueza, 2 ed. Lisboa, Typographia Lisbonense de José Carlos 
d’Aguiar Vianna, 1856. 
14. GAFIOT, F. Dictionnaire illustré latin-français. Paris, Lib. Hachette, 1934 
15. GALVÃO, F.R. Vocabulario etymologico, orthographico e prosodico das palavras portuguesas derivadas da 
língua grega. Rio de Janeiro, Liv. Francisco Alves, 1909. 
16. HARVEY, P. Dicionário Oxford de Literatura clássica grega e latina (trad.). Rio de Janeiro, Jorge Zahar Ed., 
1986. 
17. LACERDA, J.M.A.A.C. Dicionário enciclopédico ou Novo dicionário da língua portuguesa. Lisboa, F. 
Arthur da Silva, 1874. 
18. LANGAARD, T.J.H.: Diccionario de medicina domestica e popular. Rio de Janeiro, Laemmert, 1865. 
19. MARCOVECCHIO, Enrico: Dizionario etimologico storico dei termini medici. Firenze, Ed. Festina Lente, 
1993. 
20. MORAES SILVA, A. Diccionario da lingua portugueza. Lisboa, Typographai Lacérdina, 1813. 
21. OXFORD ENGLISH DICITIONARY (Shorter), 3.ed., 1978 
22. PACIORNIK, R. Dicionário médico, 2.ed. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 1975. 
23. PEIXOTO, A. Higiene, 3.ed., v. l. Rio de Janeiro, Liv. Francisco Alves, 1922, p.35 
24. PINTO, P.A. Dicionário de termos médicos, 8. ed. Rio de Janeiro, Ed. Científica, 1962. 
25. PLINIUS, G. Naturalis Historia. Liber X, 68. The Loeb Classical Library. Cambridge. Harvard University 
Press, 1983, p. 336 
26. QUINTAS, L.E.M. É o Trypanosoma cruzi um parasito? Rev. Soc. Bras. Med. Trop.30: 163-164, 1997 
27. SERRAVALLE, A. Vocabulário de parasitologia médica. Salvador, Centro Editorial e Didático da UFBa., 
1987. 
28. VIEIRA, Frei Domingos: Grande diccionario portuguez ou Thesouro da lingua portugueza. Porto, 1871-
1874. 
 
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Parasito, Parasita
 
 Reproduzido do livro Linguagem Médica, 3a. ed., da AB Editora e Distribuidora de Livros Ltda. 
 Autor: Joffre M. de Rezende. Maiores informações pelo tel. (62) 212-8622 ou e-mail 
 abeditora@abeditora.com.br 
 Atualizado em 10/09/2004. 
 e-mail: jmrezende@.cultura.com.br 
 http://usuarios.cultura.com.br/jmrezende 
 
 
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		usuarios.cultura.com.br
		Parasito, Parasita
Abordagem histórica da parasitologia.pdf
809809
A
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E
Uma abordagem histórica da trajetória 
da parasitologia
A historical approach of the trajectory 
of the parasitology
1 Departamento de
Parasitologia, Instituto 
de Biociências, Universidade
Estadual Júlio de Mesquita
Filho (Unesp). Campus 
de Botucatu/SP. Distrito 
de Rubião Júnior, s/n
18618-000. Botucatu SP.
luciene@ibb.unesp.br 
Luciene Maura Mascarini 1
Abstract The text describe the ways follow-
ing for the parasitology, a science that emerged
in century 19 with the sprouting and the es-
tablishment of some areas of the medicine, be-
tween them, the tropical medicine. This sci-
ence in agreement with bibliographical sum-
mary was indicated initially as a branch of nat-
ural history, being constructed with the dis-
covery and subsequent description of several
pathogenic agents responsible for some mor-
bid processes, until then not attributable by
external organisms to the individual. Some
parasitologists around of the world began to
describe, beyond of pathogenic agents, the vec-
tors and the mechanisms of transmission of the
several diseases caused by the parasites. In
Brazil, the report of the parasitology borders
the itinerary of the tropical medicine, with the
constant shock between the doctors of the So-
ciety of Medicine and Surgery of Rio de Janeiro
and Bahian Tropicalista School. Already in
1900, famous doctors parasitologists appear in
the Brazilian scene: Oswaldo Cruz and Carlos
Chagas that by their discoveries, they stimu-
lated the parasitology until the current days.
Key words Historical of the medicine, Para-
sitology, Tropical medicine
Resumo O texto relata os caminhos trilhados
pela parasitologia, uma ciência que emergiu
no século 19 com o surgimento e o estabeleci-
mento de várias áreas da medicina, entre elas,
a medicina tropical. Essa ciência, segundo o
sumário bibliográfico, foi indicada inicialmen-
te como um ramo da história natural, sendo
construída com a descoberta e posterior des-
crição de vários agentes patogênicos, respon-
sáveis por alguns processos mórbidos, até en-
tão não atribuíveis a organismos externos ao
indivíduo. Alguns parasitologistas ao redor do
mundo começaram a descrever, além dos agen-
tes patogênicos, os vetores e os mecanismos de
transmissão das diversas doenças causadas pe-
los parasitas. No Brasil, o histórico da parasi-
tologia margeia o trajeto da medicina tropi-
cal, com o constante embate entre os médicos
da Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio
de Janeiro e da Escola Tropicalista Baiana. Já
em 1900, renomados médicos parasitologistas
surgem no cenário brasileiro: Oswaldo Cruz e
Carlos Chagas que, através de suas descober-
tas, impulsionaram a parasitologia até os dias
atuais.
Palavras-chave Histórico da medicina, Pa-
rasitologia, Medicina tropical
M
as
ca
ri
n
i,
L
.
M
.
810
Uma abordagem histórica 
da trajetória da parasitologia
A história nos mostra que ao invés de existir
um processo linear e relativamente simples de
transição epidemiológica, no qual as chamadas
doenças de pobreza são substituídas pelos ma-
les da modernidade, o que se observa é um qua-
dro complexo de alterações, mudanças, adap-
tações e emergências típicas dos fenômenos vi-
vos. A relação entre as populações de homens,
vetores e agentes etiológicos é bastante comple-
xa e não parece estar no horizonte, para os pró-
ximos anos, a miragem de uma vida livre de in-
fecções (Barata, 2000).
Entre as doenças decorrentes da “pobreza”,
destacamos as parasitárias, ou as parasitoses.
Entende-se que parasitismo é apenas um dentre
muitos tipos de associação de dois organismos
e não há um caráter único possível para rotular
um animal como parasita (Wilson, 1980).
O parasita obtém
alimento às expensas de
seu hospedeiro, consumindo-lhe os tecidos e
humores ou o conteúdo intestinal, sendo que
o relacionamento do parasita com seu hospe-
deiro tem base nutricional não podendo lesar
drasticamente o hospedeiro, evitando altera-
ções comprometedoras, o que o faria perder o
seu hospedeiro. O parasitismo ideal é aquele
que não causa dano ao hospedeiro e, por conse-
guinte, não provoca doença. Isso é o que acon-
tece com alguns parasitas que, ao longo de mi-
lhares de anos, se adaptaram de tal forma aos
seus hospedeiros que passaram a viver outro ti-
po de relação entre dois organismos denomi-
nada simbiose.
Por volta de 1860, os fundamentos da ciên-
cia chamada de parasitologia foram estabeleci-
dos e os parasitas se tornaram então os respon-
sáveis por importantes doenças do homem e
dos seus animais domésticos. Apesar de muitos
parasitologistas terem qualificações médicas, a
parasitologia se estabeleceu como um ramo da
história natural na metade do século 19; mui-
tos dos personagens que se distinguiram na pa-
rasitologia eram médicos, zoólogos, ou de ou-
tros ramos da história natural. Embora hou-
vesse muita especulação se os parasitas seriam
os responsáveis pelas sérias condições patoló-
gicas apresentadas pelas doenças, foi nesse pe-
ríodo que se constatou que a hidatidose e a tri-
chinelose tinham como agentes patogênicos os
parasitas (Foster, 1965).
Segundo Foster, a história da parasitologia
não é uma história de grandes eventos; ela se
desenrolou ao longo dos séculos 19 e 20 nos la-
boratórios das universidades, na grande maio-
ria das vezes, em precárias condições. Os maio-
res avanços e descobertas da parasitologia tro-
pical foram realizados por homens isolada-
mente ao redor do mundo pertencentes a algu-
mas universidades: Army e Laveran, na Argélia;
Bunch, na África do Sul; Ross, na Índia; Man-
son, na China; e Bancroft, Queensland e Wu-
cherer, no Brasil. Na Europa, podemos destacar
Rudolphi, Von Siebold e Leuckhart, apoiados
por grandes universidades e Kcheinmeister e
Cobbold, indivíduos independentes, que nun-
ca tiveram posição acadêmica de muita impor-
tância.
Em 1872, Timoty Lewis localizou o nema-
tóide causador da filariose no sangue de hema-
túricos, denominando-o Filaria sanguinis ho-
minis. Os primeiros relatos dos parasitas adul-
tos apareceriam anos depois em um abscesso
linfático examinado por Bancroft. Manson,
atento a essas observações, desvendou grande
parte do ciclo da filária, entre 1877 e 1878. Con-
seguiu comprovar o mecanismo de infecção pe-
lo mosquito Culex e a “periodicidade” que a fi-
lária realizava invadindo a circulação periféri-
ca ao cair da tarde e refluindo durante o dia, de
acordo com o ciclo de vida do vetor, através da
dissecação progressiva dos mosquitos (Foster,
1965).
A descoberta de Manson consagrou um no-
vo modelo de experiência e reformulou uma
série de questões no campo da patologia. Ques-
tões que requeriam novos saberes e dinâmicas
de pesquisa para dar conta dos complexos ci-
clos de vida dos parasitos patogênicos, envol-
vendo mudança de hospedeiros e numerosas
adaptações e metamorfoses nos organismos pa-
rasitados e no meio externo (Benchimol, 2000)
Inspirado nas idéias de Patrick Manson, Ro-
nald Ross, médico do serviço inglês na Índia,
identificou, em 1897, o parasito da malária de-
senvolvendo-se nas paredes do estômago de um
mosquito do gênero Anopheles. Em 1898, estu-
dando malária aviária, Ross estabeleceu, de ma-
neira definitiva, seu mecanismo de transmissão
(Matos, 2000).
As oportunidades de desenvolvimento da
parasitologia aumentaram com a criação e o
estabelecimento das escolas de medicina e hos-
pitais nos trópicos, fato que só ocorreu no final
do século 19, criando assim oportunidade de
estudar os parasitas tropicais. Embora não hou-
vesse clara distinção entre a medicina dos tró-
picos e das regiões temperadas, a maioria dos
trabalhos de parasitologia no final do século foi
realizada nos trópicos (Lacaz, 1972).
A primeira escola de medicina tropical em
clima temperado foi inaugurada em Liverpool
em 1899, com Boyce como professor de patolo-
gia e chefe organizador, e Ross como conferen-
cista convidado. Os maiores trabalhos da esco-
la foram inicialmente testar as idéias de Ross na
erradicação da malária através da destruição
do vetor, e foi também nessa escola que Dutton
identificou o primeiro tripanossomo humano,
Trypanossoma gambiense, no sangue de um pa-
ciente e descrevendo logo após o segundo, o T.
rhodesiense.
A London School of Tropical Medicine de-
senvolveu dois ramos de atividade sob a dire-
ção de Manson: a “muck-room”, ou sala de fe-
zes, como o laboratório ficou conhecido e o
Seaman’s Hospital, em Greenwich. Nessa esco-
la foram descritos pela primeira vez, pelo mé-
dico inglês George Low, embriões de Wuchere-
ria bancroft na probóscide dos mosquitos (Fos-
ter, 1965).
A exemplo da Inglaterra, outras escolas de
medicina tropical e de parasitologia se esta-
beleceram: o French Institute de Médicine Co-
loniale, em 1902 e o original Pasteur Institu-
te, fundado em 1888, em Paris, que encorajava
seus alunos a saírem da França e alçar vôos,
fundando outros institutos. O primeiro Pasteur
Institute no Norte da África francesa foi funda-
do em 1893 em Tunis. Dentre os trabalhos des-
ses institutos destacavam-se os de investigação
na área da biologia e da medicina tropical, mas
inevitavelmente muitos dos trabalhos eram so-
bre parasitologia médica.
Outro importante centro de pesquisa foi o
de Cambridge, fundado em 1906, responsável
pela editoração da segunda revista científica de
parasitologia – Parasitology que, juntamente
com o primeiro periódico de parasitologia –
Archives de Parasitologie –, editado em 1898,
constitui os primeiros traços da história da pa-
rasitologia. Parasitologistas de renome deixa-
ram neles seus artigos: Davaine, Cobbold, Nut-
tall, Blanchard e Hoeppli (Foster, 1965).
O estudo da parasitologia iniciou-se nos
EUA em 1850 com Joseph Leidy, que ficou sozi-
nho por aproximadamente 20 anos, publican-
do, entre outros trabalhos relevantes, a descri-
ção, em 1860, do parasita Trichinella spirallis.
Em 1910 foi fundada a Helmintological Society
e em 1952 a American Society of Parasitology.
As descobertas de Laveran, Ross e Bruce, no
final do século 19, expandiram a protozoologia
C
iên
cia &
 Saú
d
e C
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letiva,8(3):809-814,2003
811
como importante ramificação da parasitologia.
Em 1903, o Imperial Health Office, em Berlim,
fundou a divisão de protozoologia e Schaudinn
foi chamado para dirigi-la, sendo que em 1906
nascia a primeira escola de protozoologia, esta-
belecida em Londres em conexão com o Listen
Institute.
No Brasil, o histórico da parasitologia mar-
geia o caminhar da medicina tropical, quando
em 1829, foi criada a Sociedade de Medicina e
Cirurgia do Rio de Janeiro que, através de um
amplo programa, se estendeu desde a adoção
de medidas de higiene pela população até a me-
dicina legal, passando pela educação física das
crianças, enterro nas igrejas, denúncias da ca-
rência em hospitais, estabelecimento de regula-
mentos sobre as farmácias, elaboração de me-
didas para melhor atendimento aos doentes
mentais, alerta da insalubridade dos prostíbu-
los, destacando o saneamento básico. Foi a épo-
ca da medicalização das instituições – hospi-
tais, cemitérios, escolas, quartéis e prostíbulos
–, quando o projeto de medicina procurou des-
tacar o saneamento (Nunes, 2000).
A Escola Tropicalista Baiana, integrada por
vários parasitologistas de renome, designava
inicialmente um conjunto de médicos que se
organizavam ao redor de um periódico funda-
do em 1866 – A Gazeta Médica da Bahia – à
margem da Faculdade de Medicina existente na
antiga capital do Brasil Colônia. Os tropicalis-
tas permaneceram na fronteira
entre o para-
digma miasmático/ambientalista e a Teoria dos
Germes, sendo que a escola estava preocupada
em refutar o preconceito historiográfico de que
a medicina brasileira era imitação da européia,
produzindo investigações originais sobre as pa-
tologias nativas da Bahia e se posicionando in-
dependentemente face à medicina acadêmica
européia e a classe médica local (Benchimol,
2000).
Peard (1992) enfatiza o antagonismo entre
os integrantes dessa escola e os médicos da ca-
pital do Império, encastelados na academia e
na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro.
A Sociedade Médica de Cirurgia do Rio de Ja-
neiro encarava o progresso como imitação
da ciência e das instituições européias; os tro-
picalistas baianos investigavam a singularidade
das doenças dos trópicos, a influência do clima
sobre as raças e sobre a geração ou multiplica-
ção de miasmas e germes, com interesse cres-
cente pelo papel dos parasitas como produto-
res de doenças. Segundo esse mesmo autor, foi
o modelo científico, que deslocava a atenção do
M
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812
meio ambiente para as etiologias parasitárias
específicas, que deu “clara e poderosa” identi-
dade aos tropicalistas baianos. Essa identidade
adveio principalmente das investigações de
Wucherer, relacionadas à ancilostomíase, à fila-
riose e à malária.
Segundo Benchimol (2000), as contribui-
ções brasileiras ao programa de controle das fi-
larioses seriam dadas pelas pesquisas embrio-
lógicas e patogênicas de Júlio de Moura e Pedro
Severiano de Magalhães, destacando os traba-
lhos de Adolfo Lutz, o mais preparado para im-
plementar o modelo mansoniano em áreas ain-
da não exploradas pelos helmintologistas bra-
sileiros, inclusive no campo da veterinária.
A Escola Tropicalista Baiana tinha como
membro, em 1841, José Cruz Jobim que elabo-
rou trabalho sobre as doenças que mais afli-
giam escravos e indigentes do Rio de Janeiro.
Entre elas, sobressaía uma doença vulgarmen-
te conhecida como opilação, cansação, caque-
xia africana e, na literatura estrangeira, “tropi-
cal chlorosis”, “mal de coen”, etc. Baseando-se
nos trabalhos de Jobim, Otto Wucherer diag-
nosticou, em 1865, um caso adiantado de hi-
poemia em um escravo que faleceu em segui-
da. Na autópsia, encontrou vermes da espécie
Anchylostomum duodenale, identificado por
Angelo Dubini, em 1838. As investigações so-
bre essa doença prosseguiram na Bahia e no
Rio de Janeiro, após a morte prematura de
Wucherer em 1873, porém as questões funda-
mentais relativas à biologia e aos hábitos dos
parasitas só seriam retomadas, num patamar
bem mais sofisticado, em meados de 1880 por
Adolfo Lutz (Benchimol, 2000).
Cerca de 20 anos depois do surgimento da
Escola Tropicalista Baiana, Oswaldo Cruz cria-
ria uma nova escola de medicina, voltada para
a saúde pública. Em 1902, ele assume a direção
da área de saúde pública no governo de Rodri-
gues Alves, propondo ao congresso que o Ins-
tituto Soroterápico Federal fosse transforma-
do “num instituto para estudo das doenças in-
fecciosas tropicais, segundo as linhas do Insti-
tuto Pasteur de Paris” (Benchimol, 2000). Ele
não foi atendido, porém destinou verbas pró-
prias para elevar a categoria do então Instituto
de Manguinhos. As fronteiras de Manguinhos
se alargaram e seus cientistas se embrenharam
pelos sertões do Brasil para estudar e combater
doenças, principalmente a malária.
O instituto chefiado por Oswaldo Cruz foi
a única instituição sul-americana a participar
do 14o Congresso Internacional de Higiene e
Demografia, realizado em Berlim em 1907. Nes-
se evento, Oswaldo Cruz recebeu medalha de
ouro pela sua atuação em Manguinhos, tendo
essa condecoração uma enorme repercussão no
Brasil.
Em 1906 foi inaugurada, em Belo Horizon-
te, a primeira filial do antigo Instituto de Man-
guinhos e Carlos Chagas executou a primeira
campanha antipalúdica, em Itatinga, interior de
São Paulo, onde se construía uma hidrelétrica.
Em 1908, o então denominado Instituto de
Manguinhos foi renomeado de Instituto Os-
waldo Cruz. O modelo de médico da época do
campanhismo era Oswaldo Cruz, que susten-
tava que o saber assentava-se na pesquisa e na
experimentação com o objetivo de combater as
endemias e as epidemias (Nunes, 2000).
Em 1909, Carlos Chagas, médico e pesqui-
sador do Instituto Oswaldo Cruz, descobriria
uma nova doença em Lassance, interior de Mi-
nas Gerais, a tripanossomíase americana, ou
doença de Chagas. Pela primeira vez na histó-
ria da medicina, um mesmo pesquisador iden-
tificaria o vetor (inseto conhecido como “bar-
beiro”), o agente etiológico (o protozoário Try-
panossoma cruzi) e a doença causada por esse
parasita. A ênfase dada à originalidade cientí-
fica da descoberta de Carlos Chagas expressou
a importância assumida no processo de insti-
tucionalização da ciência biomédica no Brasil
(Kropf et al., 2000).
No ano seguinte, 1910, Chagas obteve o
prêmio Shaudinn, conferido pelo Instituto Na-
val de Medicina de Hamburgo, por uma co-
missão que reunia a nata da microbiologia e da
medicina tropical mundial. A doença de Cha-
gas consolidou a protozoologia como área de
concentração das pesquisas, assim como a in-
serção de Manguinhos (IOC) na comunidade
científica internacional como importante cen-
tro de estudos sobre as doenças tropicais (Ben-
chimol, 2000)
Segundo Barata (2000), a forma de ocupa-
ção do espaço agrário e do espaço urbano em
São Paulo em meados do século 20 determi-
nou as condições extremamente favoráveis à
ocorrência de doenças transmitidas por veto-
res, doenças de transmissão hídrica e doenças
de transmissão respiratória. Dentre as doenças
transmitidas por vetores, destacaram-se nesse
período a febre amarela, a peste, a malária, as
leishmanioses cutâneo-mucosas e a doença de
Chagas.
Em meados do século 20, eclodiu em São
Paulo a epidemia de leishmaniose tegumentar
C
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cia &
 Saú
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letiva,8(3):809-814,2003
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durante a construção da Estrada de Ferro No-
roeste, disseminando-se por toda a Alta Soro-
cabana, Alta Paulista e região noroeste do Esta-
do, seguindo a penetração do homem e a der-
rubada das matas. A designação “úlcera de Bau-
ru” surgiu em decorrência desse surto, visto
que o acampamento dos trabalhadores locali-
zava-se nessa cidade. Outros surtos ocorreram
em cidades da região (Pirajuí, Birigui, Pená-
polis, Araçatuba), sendo que os casos ocorre-
ram entre trabalhadores que derrubavam ma-
tas, moradores de vilas e povoados recém-ins-
talados bem como sitiantes e fazendeiros (Pes-
sôa, 1949).
No final do século, a endemia retornou ao
Estado, apresentando-se agora como doença de
áreas periurbanas submetidas a processos de
desmatamento para loteamento, nas quais os
vetores apresentariam variação domiciliar. A
doença, considerada inexistente no Estado, se
manifestou em área que sofreu grande trans-
formação econômica substituindo a criação de
gado pelo plantio da cana, na qual se emprega,
temporariamente, grande contingente de mão
de obra migrante durante a colheita (Barata,
2000).
As características epidemiológicas da ocor-
rência de malária em São Paulo refletem as
condições de desenvolvimento socioeconômi-
co do Estado. O início da cultura cafeeira, no
século 19, começa a modificar as condições de
ocupação do espaço no Estado, intensificando
o processo de desmatamento, promovendo in-
tensos fluxos migratórios internos e externos,
estimulando a construção de ferrovias e propi-
ciando grande crescimento econômico (Barata,
1997).
As referências às febres palustres intermi-
tentes e febres paulistas são freqüentes nesse
período. É possível supor, a despeito da carên-
cia de dados numéricos sobre a doença, que to-
do o processo de ocupação, intensificado du-
rante o século 19, tenha propiciado a instala-
ção, consolidação
e o aumento da endemia no
Estado. Os relatos de epidemias no interior do
Estado, durante a década de 1910, registram
prevalências altas, atingindo de 40 a 85% da
população. A ampliação dos conhecimentos re-
lativos à produção da malária evidencia paula-
tinamente a complexidade e o número de fato-
res envolvidos, seja em relação às diferentes es-
pécies de plasmódios, em relação aos vetores e
seus comportamentos extremamente variados
ou em relação ao homem e às suas condições
de vida (Barata, 1997).
Dessa forma, a entrar no século 20, a malá-
ria tem sua sentença epidemiológica central:
a relação entre o agente, o meio ambiente e o
hospedeiro. Além dos estudos entomológicos,
o avanço da parasitologia e da imunologia per-
mitiu, no decorrer do século, avançar no co-
nhecimento dos ciclos do parasito no homem
e no mosquito, na produção de drogas espe-
cíficas a cada fase do desenvolvimento dos di-
ferentes plasmódios e, mais recentemente, na
busca de uma vacina (Matos, 2000).
Entre as endemias rurais importantes, a úl-
tima a aparecer em São Paulo foi a esquistosso-
mose, cujos primeiros casos autóctones foram
registrados em 1923. Foram registrados 11 ca-
sos sem que se conhecesse a espécie de trans-
missor envolvido. Não foi atribuída maior im-
portância à descoberta visto que se acreditava
não haver condições propícias para a instala-
ção da endemia (Barata, 2000). Na Segunda
metade do século 20, surgem casos autóctones
de esquistossomose nos municípios de Ouri-
nhos, Palmital e Ipauçú, região onde é encon-
trada a Biomphalaria glabrata, hospedeiro in-
termediário com maior potencial para a manu-
tenção de focos. Novos focos são detectados
ainda no vale do Ribeira e vale do Paraíba, re-
gião que se tornará endêmica para a doença,
sendo a transmissão associada principalmente
à lavoura de arroz em alagados (Chieffi e Wald-
man, 1988).
Além da esquistossomose, as enteroparasi-
toses, ao longo da história, são indicadas como
um dos mais sérios problemas de saúde públi-
ca do Brasil (Pessôa, 1949, 1963, 1982; Rey,
1991; Neves, 2000).
Pessôa (1949, 1963) afirmou que entre os
trópicos de Câncer e Capricórnio, existem mais
infecções helmínticas que pessoas. Observando
os diversos e numerosos levantamentos sobre
as enteroparasitoses realizados em todo o mun-
do e especialmente em nosso país, vemos que a
afirmação é bastante atual (Bundy, 1995; Fer-
reira et al., 2000).
Considerando a morbidade e a mortalida-
de que podem advir das infecções por entero-
parasitas, a diminuição da capacidade de tra-
balho dos adultos parasitados e os custos so-
ciais de assistência médica ao indivíduo e à co-
munidade, percebe-se facilmente que as para-
sitoses intestinais humanas representam ex-
pressivo problema de saúde pública nos países
do Terceiro Mundo (Barata, 2000).
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Comentários finais
Neste início de século 21, as parasitoses deixa-
ram de ser doenças em torno das quais são mo-
bilizados recursos internacionais de diferentes
ordens, cedendo lugar a novos problemas, as
chamadas “doenças da modernidade”, como a
síndrome da imunodeficiência adquirida (Aids)
e as chamadas doenças reemergentes (antigos
problemas), como a tuberculose e outras a ela
associadas.
A história nos mostra que os antigos males
persistem nos países do Terceiro Mundo, frutos
na sua grande maioria de condições socioeco-
nômicas, sanitárias e higiênicas deficientes, da
não-implantação de políticas públicas que pro-
movam o crescimento econômico, da não-dis-
tribuição igualitária de renda e do não-acesso
universal à educação e aos serviços básicos de
saneamento e de saúde.
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Artigo apresentado em 21/10/2002
Aprovado em 18/11/2002
Versão final apresentada em 26/11/2003
ParasitologiatermosNEVES.pdf
GLOSSÁRIO 
 
 
Abióticos: são os componentes físicos e químicos do meio. 
 
Agente etiológico: é o agente causador ou responsável por uma doença. Pode ser vírus, 
bactéria, fungo, protozoário ou helminto. É sinônimo de “patógeno”. 
 
Agente infeccioso: é o microorganismo (vírus, bactérias, fungos, protozoários, helmintos) 
capaz de produzir infecção ou doença infecciosa. 
 
Antropofílico: artrópode que prefere se alimentar em humanos. 
 
Antroponose: doença exclusiva de humanos. 
 
Biocenose: é a comunidade ou conjunto de espécies e suas populações, vivendo em 
determinado ambiente (biótopo), mantendo certa interdependência entre elas. 
 
Bióticos: são os componentes vivos do meio ambiente. 
 
Biótopo: local com certas características físicas e químicas, onde vive uma espécie; é o 
mesmo que “ecótopo”. 
 
Cisto: é a forma de resistência de certos protozoários, nos quais se encontra uma película 
ou cápsula protetora, envolvendo uma forma capaz de reproduzir-se quando encontrar o 
ambiente adequado. 
 
Contaminação: é a presença de um agente infeccioso na superfície do corpo, roupas, 
brinquedos, água, leite ou alimentos. 
 
Doença metaxênica: quando parte do ciclo vital de um parasito se realiza no vetor, isto é, o 
vetor não só transporta o agente etiológico, mas é um elemento obrigatório para sua 
maturação ou multiplicação. Ex.: malária, esquistossomose. 
 
Ecologia: parte da biologia que se ocupa das inter-relações entre os seres vivos e seu 
ambiente (biótico e abiótico). 
 
Ecótono: é uma região da transição entre dois ecossistemas. 
 
Ecótopo: é o abrigo físico do animal. Como exemplo, podemos dizer que, dentro da cafua, 
os triatomíneos vivem nas frestas das paredes; dentro organismo humano o Ascaris vive 
dentro do intestino delgado.
Endemia: é a prevalência usual de determinada doença, com relação a uma área, cidade, 
estado ou país. Representa o número esperado de casos em uma população, em 
determinando período de tempo. 
 
Epidemia: é a ocorrência muito elevada de determinada doença, com relação a uma área, 
cidade ou país. Representa o número muito acima do esperado de casos em uma 
população, em determinado período de tempo. 
 
Epidemiologia: é o estudo da distribuição e dos fatores determinantes da freqüência de 
uma doença; a epidemiologia trata de dois aspectos fundamentais: a distribuição (idade, 
raça, sexo, geografia) e os fatores determinantes da freqüência (tipo de patógeno, meio de 
transmissão, etc.); em resumo: estuda os fatores responsáveis pela existência ou 
aparecimento de uma doença ou outro evento (acidentes, vendavais, etc.). 
 
Enzoose: doença exclusiva de animais. Ex.: a peste suína, o Dioctophime renale, que 
parasita de lobo e cão. 
 
Estádio: é fase intermediária ou intervalo entre duas mudas da larva de um artrópode ou 
helminto (em entomologia é sinônimo de instar). Ex.: larva de primeiro estádio, larva de 
terceiro estádio. 
 
Estágio: é a fase de transição ou forma evolutiva de um organismo durante seu ciclo 
biológico. Ex.: estágio de ovo, estágio de larva, de pupa, de adulto. 
 
Fase aguda: é a fase da doença que surge após a infecção onde os sintomas clínicos são 
mais nítidos (febre alta, parasitemia elevada, etc.). É um período de definição: o paciente se 
cura, passa para a fase crônica ou morre. 
 
Fase crônica: é a fase que se segue à fase aguda, na qual o paciente apresenta sintomas 
clínicos mais discretos, havendo um certo equilíbrio entre os hospedeiros e o agente 
etiológico e, usualmente, a resposta imunológica é bem elevada. 
 
Foco natural: é o ambiente adequado para uma espécie sobreviver e propagar. Ex.: o 
Culex quinqefasciatus tem como foco natural coleções de água parada, rica em matéria 
orgânica e próxima de habitações humanas. 
 
Fômite: é representado por utensílios que podem veicular o agente etiológico entre 
diferentes hospedeiros. Ex.: roupas, seringas, espéculos, etc. 
 
Fonte de infecção: é o objeto, o paciente ou local de onde o agente etiológico passa para 
novo hospedeiro ou novo paciente. Ex.: água contaminada / febre tifóide, mosquito infectate 
/ dengue, carne com cisticercose / teníase, etc. 
 
 
Hábitat: é o ecossistema local ou órgão onde determinada espécie ou população vive. Ex.: 
o hábitat do Necator americanus é o duodeno humano. 
 
Hospedeiro: é o organismo que alberga o parasito. 
 
Hospedeiro definitivo: é o que apresenta o parasito em sua fase de maturidade ou em fase 
de reprodução sexuada. Ex.: o hospedeiro definitivo do Plasmodium é o Anopheles; os 
hospedeiros definitivos do S. mansoni são os humanos. 
 
Hospedeiro intermediário: é aquele que apresenta o parasito em sua fase larvária ou 
assexuada. Ex.: o caramujo é o hospedeiro intermediário do S. mansoni. 
 
Hospedeiro paratênico ou de transporte: é o hospedeiro intermediário no qual o parasito 
não sofre desenvolvimento ou reprodução, mas permanece viável até atingir novo 
hospedeiro definitivo. Ex.: peixes maiores, que ingerem peixes menores contendo larvas 
plerocercóides de Diphyllobotrium,que simplesmente transportam essas larvas até que os 
humanos as ingiram (os humanos preferem comer crus os peixes maiores...). 
 
Incidência: é a freqüência com que uma doença ou fato ocorre num período de tempo 
definido e com relação à população (casos novos, apenas). No mês de dezembro, na cidade 
de natal, a incidência de gripe foi de 12%. (Ver Prevalência). 
 
Infecção: penetração e desenvolvimento ou multiplicação de um agente etiológico no 
organismo humano ou animal, podendo ser vírus, bactéria, protozoário, helminto, etc. 
 
Infecção inaparente: presença do agente etiológico em um hospedeiro, sem aparecimento 
de qualquer sintoma clínico. 
 
Infestação: é o alojamento, desenvolvimento e reprodução de artrópodes na superfície do 
corpo, nas vestes ou na moradia de humanos ou de animais. 
 
Letalidade: expressa o número de óbitos com relação a determinada doença ou fato, tendo 
como referência uma população. Ex.: 100% das pessoas não-vacinadas, quando atingidas 
pelo vírus rábico, morrem; a letalidade na gripe é muito baixa. 
 
Morbidade: expressa o número de pessoas doentes com relação a uma doença e uma 
população. Ex.: na época do inverno, a morbidade da gripe é muito elevada; ou seja, na 
época do inverno a incidência da gripe é muito grande. 
 
Nicho ecológico: é a atividade ou função dentro de seu ecótopo ou hábitat. Ex.: no intestino 
delgado humano, o Ascaris realiza suas atividades alimentares e reprodutivas. 
 
Parasitemia: representa o número de parasitos que estão presentes na corrente sanguínea 
de um paciente. Ex.: na fase aguda da doença de Chagas, usualmente, a parasitemia é 
muito elevada. 
 
Parasitismo: é a associação entre seres vivos onde existe unilateralmente de benefícios, 
sendo um dos associados (o de maior porte ou hospedeiro) prejudicado pela associação. 
 
Parasito: é o ser vivo de menor porte que vive associado a outro ser vivo de maior porte, à 
custa ou na dependência deste. Pode ser: 
� Ectoparasito: vive extremamente no corpo do hospedeiro. 
� Endoparasito: vive dentro do corpo do hospedeiro. 
� Hiperparasito: que parasita outro parasito: 
Ex.: E. histolytica sendo parasitada por fungos (Sphoerita endógena) ou por cocobacilos. 
 
Parasito acidental: é o que exerce o papel de parasito, porém habitualmente possui vida 
não-parasitária. Ex.: larvas de moscas que vivem em frutos ou vegetais em decomposição e 
acidentalmente atingem humanos. 
 
Parasito errático: é o que vive fora do seu hábitat ou de seu hospedeiro normal. 
 
Parasito estenoxênico: é o que parasita espécies de vertebrados muito próximas. 
 
Parasito eurixeno: é o que parasita espécies de vertebrados muito distintas. 
 
Parasito facultativo: é o que pode viver parasitando um hospedeiro ou não, isto é, pode ter 
hábitos de vida livre ou parasitária. Ex.: as larvas de moscas Sarcophagidae podem 
provocar miíases humanas, desenvolver-se em cadáveres ou ainda fezes. 
 
Parasito heterogenético: é o que apresenta alternância de gerações. Ex.: Plasmodium, 
com ciclo assexuado em humanos e sexuado em mosquitos. 
 
Parasito heteroxênico: é o que possui hospedeiro definitivo e intermediário. 
 
Parasito monoxênico: é o que possui apenas o hospedeiro definitivo. Ex.: Enterobius 
vermicularis, A. lumbricoides. 
 
Parasito monogenético: é o que não apresenta alternância de gerações, isto é, possui um 
só tipo de reprodução - sexuada. Ex.: E. histolytica, A. duodenale. 
 
Parasito obrigatório: é aquele incapaz de viver fora do hospedeiro. Ex.: T. gondii, 
Plasmodium. 
 
Parasito oportunista: é aquele que usualmente vive no paciente sem provocar nenhum 
dano (infecção inaparente), mas em determinados momentos se aproveita da baixa 
resistência do paciente de desenvolve doenças graves. 
 
Parasito periódico: é o que freqüenta o hospedeiro intervaladamente. Ex.: mosquitos, 
barbeiros. 
 
Parasitóide: é a forma imatura (larva) de um inseto que ataca outros artrópodes maiores, 
quase sempre provocando a morte desses. Ex.: o micro-himenóptero Telenomous fariai 
atacando ovos de barbeiros. 
 
Partenogênese: desenvolvimento de um ovo sem a participação de um espermatozóide. 
 
Patogenia ou patogênese: é o mecanismo com o agente etiológico que provoca lesões no 
hospedeiro. 
 
Patogenicidade: é a maior ou menor habilidade de um agente etiológico provocar lesões. 
 
Patognomônico: sinal ou sintoma característico de determinada doença. Ex.: sinal de 
Romaña é
típico da doença de Chagas. 
 
Pedogênese: é a reprodução ou multiplicação de uma forma larvária. Ex.: formação de 
esporocistos secundários e rédias a partir do esporocisto primário. 
 
Período de incubação: é o período decorrente entre a penetração do agente etiológico e o 
aparecimento dos primeiros sintomas clínicos. 
 
Período pré-patente: é o período que decorre entre a penetração do agente etiológico e o 
aparecimento das primeiras formas detectáveis do agente etiológico. 
 
Poluição: é a presença de substâncias nocivas, especialmente químicas, mas não 
infectantes, contaminando o ambiente: ar, água, alimentos, etc. 
 
Portador: hospedeiro infectado que alberga o agente etiológico, sem manifestar sintomas, 
porém capaz de transmiti-lo a outrem; nesse caso é conhecido como “portador 
assintomático”; quando ocorre doença e o portador pode contaminar outros hospedeiros, 
temos o “portador em incubação”, “portador convalescente”, “portador crônico”, etc. 
 
Premunição ou imunidade concomitante: é um tipo especial de estado imunitário ligado à 
necessidade da presença do agente etiológico, com a manutenção de taxas elevadas da 
resposta imune. Normalmente durante o estado da premunição há certa dificuldade do 
paciente em se reinfectar, havendo um equilíbrio ente o parasito e o hospedeiro. Ocorre na 
fase crônica de várias doenças. 
 
Prevalência: termo geral utilizado para caracterizar o número total de casos de uma doença 
ou qualquer outra ocorrência numa população e tempo definidos (casos antigos somados 
aos casos novos). Ex.: no Brasil, (população estimada em 120 milhões de pessoas), a 
prevalência da esquistossomose foi de 8 milhões de pacientes em 1975. 
 
Profilaxia: é o conjunto de medidas que visa a prevenção, erradicação ou controle de uma 
doença ou de um fato prejudicial aos seres vivos; as medidas profiláticas sempre dependem 
dos fatores epidemiológicos. 
 
Reservatório: é qualquer local, vegetal, animal ou humano onde vive e multiplica-se um 
agente etiológico e do qual é capaz de atingir outros hospedeiros. Alguns autores dizem que 
o reservatório vivo perfeito (animal ou humano) é aquele que possui o agente etiológico, 
mas não padece com sua presença; prefiro usar o termo reservatório, independentemente 
de apresentar ou não os sintomas. Ex.: os humanos são os reservatórios do S. mansoni. 
 
Sinantropia: é a habilidade de certos animais silvestres (mamíferos, aves, insetos) de 
freqüentar habitações humanas; isto é, são capazes de circular entre os ambientes 
silvestres, rural e urbano, muitas vezes, veiculando patógenos. 
 
Vetor: é um artrópode, molusco ou veículo que transmite um parasito entre dois 
hospedeiros. 
 
Vetor biológico: quando o agente etiológico se multiplica ou se desenvolve no vetor. 
 
Vetor mecânico: quando o parasito não se multiplica ou se desenvolve no vetor, esse 
simplesmente serve de transporte ao parasito. Ex.: a T. penetrans veiculando esporos de 
fungos. 
 
Virulência: é a severidade e rapidez com que um agente etiológico provoca lesões no 
hospedeiro. 
 
Zoonoses: doenças que são naturalmente transmitidas entre humanos e animais 
vertebrados podendo dividir-se em: 
� Anfixenose: doença que circula indiferentemente entre humanos e animais, isto é, 
tanto os animais como os humanos funcionam como hospedeiros do agente. 
� Antropozoonose: doença primária de animais e que pode ser transmitida aos 
humanos. Ex.: brucelose, onde os humanos são infectados acidentalmente. 
� Zooantroponose: doença primária de humanos e que pode ser transmitida aos 
animais. Ex.: no Brasil a esquistossomose mansoni tem os humanos como principais 
hospedeiros e alguns animais se infectam a partir de nós. 
 
Zoofílico: artrópode que prefere se alimentar sobre animais. 
 
 
 
NEVES, D. P. Parasitologia Dinâmica. Editora Atheneu: São Paulo, 2006, p. 465-468.

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