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GlossarioNeves.pdf Parasito,parasita.pdf Parasito, Parasita LINGUAGEM MÉDICA PARASITO, PARASITA Na antiga civilização grega, as principais cidades possuíam um edifício público que se destacava por sua importância e significado, chamado Pritaneu (Prytaneîon). Era o centro cívico e religioso da cidade, onde se mantinha permanentemente aceso o fogo sagrado, dedicado à Héstia, deusa da lareira, símbolo da família e do lar.[16] O Pritaneu era o local onde se reuniam os pritanes ou representantes do povo investidos de poderes temporários. Era também o local onde se recebiam os visitantes ilustres e onde tomavam refeições os pensionistas do Estado, os quais eram chamados de parasitos, (de pará, ao lado, junto de + sîtos.[3][11] O substantivo sitos, (sîtos, em grego), remonta aos tempos pré-homéricos; designava inicialmente o trigo e outros grãos utilizados na alimentação. Por extensão semântica, passou a expressar alimento de modo geral e com ele se formaram numerosos compostos na língua grega, alguns dos quais encontram equivalentes nas línguas modernas. Contando somente os compostos em que sîtos entra como segundo elemento, Chantraine lista 25 vocábulos, dentre os quais parasitos (pará - sîtos). [5] De sîtos deriva o elemento de composição sito que entra na formação de vários termos técnico- científicos da linguagem moderna, tais como sitofobia, sitomania, sitotropismo, sitotoxina, sitologia, sitoterapia.[9] Também se emprega na formação de tais palavras a variante sitio, já existente em grego (sitíon), em lugar de sito, o que representa uma duplicidade desnecessária.[19] Os parasitos do Pritaneu eram cidadãos bem considerados e o termo parasito não tinha o sentido pejorativo atual,[7] o qual foi introduzido pelos comediógrafos gregos e latinos, passando a caracterizar a figura do papa-jantares, aquele que vive às expensas de outrem.[19] O termo foi transliterado para o latim como parasitus. i, com o sentido de comensal. Ernout et Meillet, em seu Dictionnaire étymologique de la langue latine assim definem parasitus: "Mot de la comédie, emprunté au gr. parasitos; latinisé".[12] A literatura clássica latina registra uma comédia de Plauto, da qual restaram apenas fragmentos, com o título de Parasitus medicus. [19] A forma parasita, no gênero feminino, foi primeiramente empregada por Horácio, no século I aC (sátira 1: 2, v. 98), referindo-se à mulher parasita,[14] e por Plínio, no século I dC, em alusão a uma espécie de coruja, "que em latim chamam de axio e que imita e parasita outras aves" (Latine axionem vocant, imitatrix alias avis ac parasita".[25] Entende-se como parasitismo nesta passagem a apropriação do alimento obtido por outras aves e não propriamente o parasitismo no sentido biológico. O vocábulo parasitus, transposto do latim para as línguas românicas e para outras línguas de cultura, sofreu as adaptações morfológicas adequadas a cada um desses idiomas. Temos, assim, parasite, em francês; parásito, em espanhol; parassito (ou parassita), em italiano; parasite, em inglês, e parasit, em alemão. Em português, tal como em italiano, convivem as duas formas: parasito e parasita. Moraes (1813)[20] registra parasito como substantivo, e parasítico, como adjetivo. Outros léxicos do século passado averbam parasito como substantivo masculino e parasita como adjetivo feminino (Constâncio, 1845 [6]; Faria, 1856 [13]; Lacerda, 1874 [17]). Vieira (1872)[28] admite as duas formas, tanto como substantivo como na função adjetiva. A introdução do termo parasito em linguagem científica é relativamente recente, datando da primeira metade do século XVIII.[20] Usado inicialmente para caracterizar as plantas que vivem às http://usuarios.cultura.com.br/jmrezende/parasito.htm (1 de 4)13/4/2006 06:31:51 Parasito, Parasita custas da seiva de outro vegetal de maior porte, foi a seguir aplicado também aos animais que se nutrem por intermédio de outro animal, dito hospedeiro, que os alberga, ou internamente (endoparasitos), ou externamente (ectoparasitos). Nesta acepção biológica, encontra-se na literatura médica brasileira, desde o século passado, tanto a forma parasito como parasita. Na primeira edição do dicionário de Langgaard (1865) já há referência a "parasitas animaes e vegetaes, que produzem ou acompanhão certas moléstias no homem e nos animaes".[18] Em artigo publicado na Gazeta Médica da Bahia, em 1870, o autor refere-se a "cogumelos parasitas".[10] Afrânio Peixoto, em seu tratado de Higiene, faz menção aos "parasitas do solo". [23] Talvez a repetida referência a plantas parasitas poderia ter influenciado a incorporação ao léxico de parasita como substantivo do gênero masculino. Outra explicação, endossada por A. G. Cunha,[8] é de que a forma parasita seja resultante da tradução do francês parasite. Ramiz Galvão chama a atenção para a impropriedade da forma parasita, "que o étimo não abona e que o uso quer introduzir".[15] Plácido Barbosa considera parasito a forma correta e diz que parasita deve ser tomado como feminino de parasito.[4] Mendes de Almeida diz que "não obstante ser corrente a parasita não pode justificar-se nem a forma nem o gênero, senão pelo desconhecimento do étimo".[2] Os léxicos especializados em termos médicos, em sua maioria, averbam unicamente parasito.[22], [24],[27] Os dicionários contemporâneos não especializados, porém, são mais tolerantes com a forma parasita, que vem ganhando terreno, considerando-a como variante de parasito. O VocabulárioOrtográfico da Academia Brasileira de Letras não só admite as duas formas como os dois gêneros para a forma parasita.[1] Deve ter contribuído para a maior difusão da forma o parasita na linguagem médica a sua adoção em obras que marcaram época na medicina brasileira, como a Parasitologia Médica do Prof. Samuel Pessoa, adotada em praticamente todas as Faculdades de Medicina do País, alcançando 11 edições entre 1945 e 1982. Em publicações médicas têm sido empregadas como substantivo do gênero masculino, indistintamente, as duas formas: parasito e parasita, como documenta o Prof. Luis Eduardo Quintas em carta ao editor dirigida à Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical,[26] na qual defende a forma parasito. Buscando dados quantitativos sobre o uso de uma ou outra forma por autores brasileiros, procedemos a um levantamento da bibliografia médica latino-americana de parasitologia indexada pela BIREME nos últimos 15 anos (1983-1998) . Em 50 trabalhos escritos em português, sete usaram, no título, a palavra parasito, no singular; 19, parasitos, no plural; cinco, parasita, no singular; e 19 parasitas, no plural, o que equivale praticamente a 50% para cada uma das formas em uso. Levando-se em conta a etimologia e a evolução histórica da palavra parece óbvio que deve prevalecer como substantivo masculino apenas a forma o parasito. http://usuarios.cultura.com.br/jmrezende/parasito.htm (2 de 4)13/4/2006 06:31:51 Parasito, Parasita Referências bibliográficas 1..ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS. Vocabulário ortográfico da língua portuguesa. Rio de Janeiro, Bloch Ed., 1981. 2.ALMEIDA, N. M., Dicionário de questões vernáculas, São Paulo, Ed. "Caminho Suave" Ltda., 1981. 3.BAILLY, A., Dictionnaire grec-français, 16. ed. Paris, Lib. Hachette, 1950. 4.BARBOSA, P., Dicionário de terminologia médica portugueza, Rio de Janeiro, Liv. Francisco Alves, 1917. 5.CHANTRAINE, P. Dictionnaire étymologique de la langue grecque. 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Dicionário de termos médicos, 8. ed. Rio de Janeiro, Ed. Científica, 1962. 25. PLINIUS, G. Naturalis Historia. Liber X, 68. The Loeb Classical Library. Cambridge. Harvard University Press, 1983, p. 336 26. QUINTAS, L.E.M. É o Trypanosoma cruzi um parasito? Rev. Soc. Bras. Med. Trop.30: 163-164, 1997 27. SERRAVALLE, A. Vocabulário de parasitologia médica. Salvador, Centro Editorial e Didático da UFBa., 1987. 28. VIEIRA, Frei Domingos: Grande diccionario portuguez ou Thesouro da lingua portugueza. Porto, 1871- 1874. http://usuarios.cultura.com.br/jmrezende/parasito.htm (3 de 4)13/4/2006 06:31:51 Parasito, Parasita Reproduzido do livro Linguagem Médica, 3a. ed., da AB Editora e Distribuidora de Livros Ltda. Autor: Joffre M. de Rezende. Maiores informações pelo tel. (62) 212-8622 ou e-mail abeditora@abeditora.com.br Atualizado em 10/09/2004. e-mail: jmrezende@.cultura.com.br http://usuarios.cultura.com.br/jmrezende http://usuarios.cultura.com.br/jmrezende/parasito.htm (4 de 4)13/4/2006 06:31:51 usuarios.cultura.com.br Parasito, Parasita Abordagem histórica da parasitologia.pdf 809809 A R T IG O A R T IC L E Uma abordagem histórica da trajetória da parasitologia A historical approach of the trajectory of the parasitology 1 Departamento de Parasitologia, Instituto de Biociências, Universidade Estadual Júlio de Mesquita Filho (Unesp). Campus de Botucatu/SP. Distrito de Rubião Júnior, s/n 18618-000. Botucatu SP. luciene@ibb.unesp.br Luciene Maura Mascarini 1 Abstract The text describe the ways follow- ing for the parasitology, a science that emerged in century 19 with the sprouting and the es- tablishment of some areas of the medicine, be- tween them, the tropical medicine. This sci- ence in agreement with bibliographical sum- mary was indicated initially as a branch of nat- ural history, being constructed with the dis- covery and subsequent description of several pathogenic agents responsible for some mor- bid processes, until then not attributable by external organisms to the individual. Some parasitologists around of the world began to describe, beyond of pathogenic agents, the vec- tors and the mechanisms of transmission of the several diseases caused by the parasites. In Brazil, the report of the parasitology borders the itinerary of the tropical medicine, with the constant shock between the doctors of the So- ciety of Medicine and Surgery of Rio de Janeiro and Bahian Tropicalista School. Already in 1900, famous doctors parasitologists appear in the Brazilian scene: Oswaldo Cruz and Carlos Chagas that by their discoveries, they stimu- lated the parasitology until the current days. Key words Historical of the medicine, Para- sitology, Tropical medicine Resumo O texto relata os caminhos trilhados pela parasitologia, uma ciência que emergiu no século 19 com o surgimento e o estabeleci- mento de várias áreas da medicina, entre elas, a medicina tropical. Essa ciência, segundo o sumário bibliográfico, foi indicada inicialmen- te como um ramo da história natural, sendo construída com a descoberta e posterior des- crição de vários agentes patogênicos, respon- sáveis por alguns processos mórbidos, até en- tão não atribuíveis a organismos externos ao indivíduo. Alguns parasitologistas ao redor do mundo começaram a descrever, além dos agen- tes patogênicos, os vetores e os mecanismos de transmissão das diversas doenças causadas pe- los parasitas. No Brasil, o histórico da parasi- tologia margeia o trajeto da medicina tropi- cal, com o constante embate entre os médicos da Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro e da Escola Tropicalista Baiana. Já em 1900, renomados médicos parasitologistas surgem no cenário brasileiro: Oswaldo Cruz e Carlos Chagas que, através de suas descober- tas, impulsionaram a parasitologia até os dias atuais. Palavras-chave Histórico da medicina, Pa- rasitologia, Medicina tropical M as ca ri n i, L . M . 810 Uma abordagem histórica da trajetória da parasitologia A história nos mostra que ao invés de existir um processo linear e relativamente simples de transição epidemiológica, no qual as chamadas doenças de pobreza são substituídas pelos ma- les da modernidade, o que se observa é um qua- dro complexo de alterações, mudanças, adap- tações e emergências típicas dos fenômenos vi- vos. A relação entre as populações de homens, vetores e agentes etiológicos é bastante comple- xa e não parece estar no horizonte, para os pró- ximos anos, a miragem de uma vida livre de in- fecções (Barata, 2000). Entre as doenças decorrentes da “pobreza”, destacamos as parasitárias, ou as parasitoses. Entende-se que parasitismo é apenas um dentre muitos tipos de associação de dois organismos e não há um caráter único possível para rotular um animal como parasita (Wilson, 1980). O parasita obtém alimento às expensas de seu hospedeiro, consumindo-lhe os tecidos e humores ou o conteúdo intestinal, sendo que o relacionamento do parasita com seu hospe- deiro tem base nutricional não podendo lesar drasticamente o hospedeiro, evitando altera- ções comprometedoras, o que o faria perder o seu hospedeiro. O parasitismo ideal é aquele que não causa dano ao hospedeiro e, por conse- guinte, não provoca doença. Isso é o que acon- tece com alguns parasitas que, ao longo de mi- lhares de anos, se adaptaram de tal forma aos seus hospedeiros que passaram a viver outro ti- po de relação entre dois organismos denomi- nada simbiose. Por volta de 1860, os fundamentos da ciên- cia chamada de parasitologia foram estabeleci- dos e os parasitas se tornaram então os respon- sáveis por importantes doenças do homem e dos seus animais domésticos. Apesar de muitos parasitologistas terem qualificações médicas, a parasitologia se estabeleceu como um ramo da história natural na metade do século 19; mui- tos dos personagens que se distinguiram na pa- rasitologia eram médicos, zoólogos, ou de ou- tros ramos da história natural. Embora hou- vesse muita especulação se os parasitas seriam os responsáveis pelas sérias condições patoló- gicas apresentadas pelas doenças, foi nesse pe- ríodo que se constatou que a hidatidose e a tri- chinelose tinham como agentes patogênicos os parasitas (Foster, 1965). Segundo Foster, a história da parasitologia não é uma história de grandes eventos; ela se desenrolou ao longo dos séculos 19 e 20 nos la- boratórios das universidades, na grande maio- ria das vezes, em precárias condições. Os maio- res avanços e descobertas da parasitologia tro- pical foram realizados por homens isolada- mente ao redor do mundo pertencentes a algu- mas universidades: Army e Laveran, na Argélia; Bunch, na África do Sul; Ross, na Índia; Man- son, na China; e Bancroft, Queensland e Wu- cherer, no Brasil. Na Europa, podemos destacar Rudolphi, Von Siebold e Leuckhart, apoiados por grandes universidades e Kcheinmeister e Cobbold, indivíduos independentes, que nun- ca tiveram posição acadêmica de muita impor- tância. Em 1872, Timoty Lewis localizou o nema- tóide causador da filariose no sangue de hema- túricos, denominando-o Filaria sanguinis ho- minis. Os primeiros relatos dos parasitas adul- tos apareceriam anos depois em um abscesso linfático examinado por Bancroft. Manson, atento a essas observações, desvendou grande parte do ciclo da filária, entre 1877 e 1878. Con- seguiu comprovar o mecanismo de infecção pe- lo mosquito Culex e a “periodicidade” que a fi- lária realizava invadindo a circulação periféri- ca ao cair da tarde e refluindo durante o dia, de acordo com o ciclo de vida do vetor, através da dissecação progressiva dos mosquitos (Foster, 1965). A descoberta de Manson consagrou um no- vo modelo de experiência e reformulou uma série de questões no campo da patologia. Ques- tões que requeriam novos saberes e dinâmicas de pesquisa para dar conta dos complexos ci- clos de vida dos parasitos patogênicos, envol- vendo mudança de hospedeiros e numerosas adaptações e metamorfoses nos organismos pa- rasitados e no meio externo (Benchimol, 2000) Inspirado nas idéias de Patrick Manson, Ro- nald Ross, médico do serviço inglês na Índia, identificou, em 1897, o parasito da malária de- senvolvendo-se nas paredes do estômago de um mosquito do gênero Anopheles. Em 1898, estu- dando malária aviária, Ross estabeleceu, de ma- neira definitiva, seu mecanismo de transmissão (Matos, 2000). As oportunidades de desenvolvimento da parasitologia aumentaram com a criação e o estabelecimento das escolas de medicina e hos- pitais nos trópicos, fato que só ocorreu no final do século 19, criando assim oportunidade de estudar os parasitas tropicais. Embora não hou- vesse clara distinção entre a medicina dos tró- picos e das regiões temperadas, a maioria dos trabalhos de parasitologia no final do século foi realizada nos trópicos (Lacaz, 1972). A primeira escola de medicina tropical em clima temperado foi inaugurada em Liverpool em 1899, com Boyce como professor de patolo- gia e chefe organizador, e Ross como conferen- cista convidado. Os maiores trabalhos da esco- la foram inicialmente testar as idéias de Ross na erradicação da malária através da destruição do vetor, e foi também nessa escola que Dutton identificou o primeiro tripanossomo humano, Trypanossoma gambiense, no sangue de um pa- ciente e descrevendo logo após o segundo, o T. rhodesiense. A London School of Tropical Medicine de- senvolveu dois ramos de atividade sob a dire- ção de Manson: a “muck-room”, ou sala de fe- zes, como o laboratório ficou conhecido e o Seaman’s Hospital, em Greenwich. Nessa esco- la foram descritos pela primeira vez, pelo mé- dico inglês George Low, embriões de Wuchere- ria bancroft na probóscide dos mosquitos (Fos- ter, 1965). A exemplo da Inglaterra, outras escolas de medicina tropical e de parasitologia se esta- beleceram: o French Institute de Médicine Co- loniale, em 1902 e o original Pasteur Institu- te, fundado em 1888, em Paris, que encorajava seus alunos a saírem da França e alçar vôos, fundando outros institutos. O primeiro Pasteur Institute no Norte da África francesa foi funda- do em 1893 em Tunis. Dentre os trabalhos des- ses institutos destacavam-se os de investigação na área da biologia e da medicina tropical, mas inevitavelmente muitos dos trabalhos eram so- bre parasitologia médica. Outro importante centro de pesquisa foi o de Cambridge, fundado em 1906, responsável pela editoração da segunda revista científica de parasitologia – Parasitology que, juntamente com o primeiro periódico de parasitologia – Archives de Parasitologie –, editado em 1898, constitui os primeiros traços da história da pa- rasitologia. Parasitologistas de renome deixa- ram neles seus artigos: Davaine, Cobbold, Nut- tall, Blanchard e Hoeppli (Foster, 1965). O estudo da parasitologia iniciou-se nos EUA em 1850 com Joseph Leidy, que ficou sozi- nho por aproximadamente 20 anos, publican- do, entre outros trabalhos relevantes, a descri- ção, em 1860, do parasita Trichinella spirallis. Em 1910 foi fundada a Helmintological Society e em 1952 a American Society of Parasitology. As descobertas de Laveran, Ross e Bruce, no final do século 19, expandiram a protozoologia C iên cia & Saú d e C o letiva,8(3):809-814,2003 811 como importante ramificação da parasitologia. Em 1903, o Imperial Health Office, em Berlim, fundou a divisão de protozoologia e Schaudinn foi chamado para dirigi-la, sendo que em 1906 nascia a primeira escola de protozoologia, esta- belecida em Londres em conexão com o Listen Institute. No Brasil, o histórico da parasitologia mar- geia o caminhar da medicina tropical, quando em 1829, foi criada a Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro que, através de um amplo programa, se estendeu desde a adoção de medidas de higiene pela população até a me- dicina legal, passando pela educação física das crianças, enterro nas igrejas, denúncias da ca- rência em hospitais, estabelecimento de regula- mentos sobre as farmácias, elaboração de me- didas para melhor atendimento aos doentes mentais, alerta da insalubridade dos prostíbu- los, destacando o saneamento básico. Foi a épo- ca da medicalização das instituições – hospi- tais, cemitérios, escolas, quartéis e prostíbulos –, quando o projeto de medicina procurou des- tacar o saneamento (Nunes, 2000). A Escola Tropicalista Baiana, integrada por vários parasitologistas de renome, designava inicialmente um conjunto de médicos que se organizavam ao redor de um periódico funda- do em 1866 – A Gazeta Médica da Bahia – à margem da Faculdade de Medicina existente na antiga capital do Brasil Colônia. Os tropicalis- tas permaneceram na fronteira entre o para- digma miasmático/ambientalista e a Teoria dos Germes, sendo que a escola estava preocupada em refutar o preconceito historiográfico de que a medicina brasileira era imitação da européia, produzindo investigações originais sobre as pa- tologias nativas da Bahia e se posicionando in- dependentemente face à medicina acadêmica européia e a classe médica local (Benchimol, 2000). Peard (1992) enfatiza o antagonismo entre os integrantes dessa escola e os médicos da ca- pital do Império, encastelados na academia e na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. A Sociedade Médica de Cirurgia do Rio de Ja- neiro encarava o progresso como imitação da ciência e das instituições européias; os tro- picalistas baianos investigavam a singularidade das doenças dos trópicos, a influência do clima sobre as raças e sobre a geração ou multiplica- ção de miasmas e germes, com interesse cres- cente pelo papel dos parasitas como produto- res de doenças. Segundo esse mesmo autor, foi o modelo científico, que deslocava a atenção do M as ca ri n i, L . M . 812 meio ambiente para as etiologias parasitárias específicas, que deu “clara e poderosa” identi- dade aos tropicalistas baianos. Essa identidade adveio principalmente das investigações de Wucherer, relacionadas à ancilostomíase, à fila- riose e à malária. Segundo Benchimol (2000), as contribui- ções brasileiras ao programa de controle das fi- larioses seriam dadas pelas pesquisas embrio- lógicas e patogênicas de Júlio de Moura e Pedro Severiano de Magalhães, destacando os traba- lhos de Adolfo Lutz, o mais preparado para im- plementar o modelo mansoniano em áreas ain- da não exploradas pelos helmintologistas bra- sileiros, inclusive no campo da veterinária. A Escola Tropicalista Baiana tinha como membro, em 1841, José Cruz Jobim que elabo- rou trabalho sobre as doenças que mais afli- giam escravos e indigentes do Rio de Janeiro. Entre elas, sobressaía uma doença vulgarmen- te conhecida como opilação, cansação, caque- xia africana e, na literatura estrangeira, “tropi- cal chlorosis”, “mal de coen”, etc. Baseando-se nos trabalhos de Jobim, Otto Wucherer diag- nosticou, em 1865, um caso adiantado de hi- poemia em um escravo que faleceu em segui- da. Na autópsia, encontrou vermes da espécie Anchylostomum duodenale, identificado por Angelo Dubini, em 1838. As investigações so- bre essa doença prosseguiram na Bahia e no Rio de Janeiro, após a morte prematura de Wucherer em 1873, porém as questões funda- mentais relativas à biologia e aos hábitos dos parasitas só seriam retomadas, num patamar bem mais sofisticado, em meados de 1880 por Adolfo Lutz (Benchimol, 2000). Cerca de 20 anos depois do surgimento da Escola Tropicalista Baiana, Oswaldo Cruz cria- ria uma nova escola de medicina, voltada para a saúde pública. Em 1902, ele assume a direção da área de saúde pública no governo de Rodri- gues Alves, propondo ao congresso que o Ins- tituto Soroterápico Federal fosse transforma- do “num instituto para estudo das doenças in- fecciosas tropicais, segundo as linhas do Insti- tuto Pasteur de Paris” (Benchimol, 2000). Ele não foi atendido, porém destinou verbas pró- prias para elevar a categoria do então Instituto de Manguinhos. As fronteiras de Manguinhos se alargaram e seus cientistas se embrenharam pelos sertões do Brasil para estudar e combater doenças, principalmente a malária. O instituto chefiado por Oswaldo Cruz foi a única instituição sul-americana a participar do 14o Congresso Internacional de Higiene e Demografia, realizado em Berlim em 1907. Nes- se evento, Oswaldo Cruz recebeu medalha de ouro pela sua atuação em Manguinhos, tendo essa condecoração uma enorme repercussão no Brasil. Em 1906 foi inaugurada, em Belo Horizon- te, a primeira filial do antigo Instituto de Man- guinhos e Carlos Chagas executou a primeira campanha antipalúdica, em Itatinga, interior de São Paulo, onde se construía uma hidrelétrica. Em 1908, o então denominado Instituto de Manguinhos foi renomeado de Instituto Os- waldo Cruz. O modelo de médico da época do campanhismo era Oswaldo Cruz, que susten- tava que o saber assentava-se na pesquisa e na experimentação com o objetivo de combater as endemias e as epidemias (Nunes, 2000). Em 1909, Carlos Chagas, médico e pesqui- sador do Instituto Oswaldo Cruz, descobriria uma nova doença em Lassance, interior de Mi- nas Gerais, a tripanossomíase americana, ou doença de Chagas. Pela primeira vez na histó- ria da medicina, um mesmo pesquisador iden- tificaria o vetor (inseto conhecido como “bar- beiro”), o agente etiológico (o protozoário Try- panossoma cruzi) e a doença causada por esse parasita. A ênfase dada à originalidade cientí- fica da descoberta de Carlos Chagas expressou a importância assumida no processo de insti- tucionalização da ciência biomédica no Brasil (Kropf et al., 2000). No ano seguinte, 1910, Chagas obteve o prêmio Shaudinn, conferido pelo Instituto Na- val de Medicina de Hamburgo, por uma co- missão que reunia a nata da microbiologia e da medicina tropical mundial. A doença de Cha- gas consolidou a protozoologia como área de concentração das pesquisas, assim como a in- serção de Manguinhos (IOC) na comunidade científica internacional como importante cen- tro de estudos sobre as doenças tropicais (Ben- chimol, 2000) Segundo Barata (2000), a forma de ocupa- ção do espaço agrário e do espaço urbano em São Paulo em meados do século 20 determi- nou as condições extremamente favoráveis à ocorrência de doenças transmitidas por veto- res, doenças de transmissão hídrica e doenças de transmissão respiratória. Dentre as doenças transmitidas por vetores, destacaram-se nesse período a febre amarela, a peste, a malária, as leishmanioses cutâneo-mucosas e a doença de Chagas. Em meados do século 20, eclodiu em São Paulo a epidemia de leishmaniose tegumentar C iên cia & Saú d e C o letiva,8(3):809-814,2003 813 durante a construção da Estrada de Ferro No- roeste, disseminando-se por toda a Alta Soro- cabana, Alta Paulista e região noroeste do Esta- do, seguindo a penetração do homem e a der- rubada das matas. A designação “úlcera de Bau- ru” surgiu em decorrência desse surto, visto que o acampamento dos trabalhadores locali- zava-se nessa cidade. Outros surtos ocorreram em cidades da região (Pirajuí, Birigui, Pená- polis, Araçatuba), sendo que os casos ocorre- ram entre trabalhadores que derrubavam ma- tas, moradores de vilas e povoados recém-ins- talados bem como sitiantes e fazendeiros (Pes- sôa, 1949). No final do século, a endemia retornou ao Estado, apresentando-se agora como doença de áreas periurbanas submetidas a processos de desmatamento para loteamento, nas quais os vetores apresentariam variação domiciliar. A doença, considerada inexistente no Estado, se manifestou em área que sofreu grande trans- formação econômica substituindo a criação de gado pelo plantio da cana, na qual se emprega, temporariamente, grande contingente de mão de obra migrante durante a colheita (Barata, 2000). As características epidemiológicas da ocor- rência de malária em São Paulo refletem as condições de desenvolvimento socioeconômi- co do Estado. O início da cultura cafeeira, no século 19, começa a modificar as condições de ocupação do espaço no Estado, intensificando o processo de desmatamento, promovendo in- tensos fluxos migratórios internos e externos, estimulando a construção de ferrovias e propi- ciando grande crescimento econômico (Barata, 1997). As referências às febres palustres intermi- tentes e febres paulistas são freqüentes nesse período. É possível supor, a despeito da carên- cia de dados numéricos sobre a doença, que to- do o processo de ocupação, intensificado du- rante o século 19, tenha propiciado a instala- ção, consolidação e o aumento da endemia no Estado. Os relatos de epidemias no interior do Estado, durante a década de 1910, registram prevalências altas, atingindo de 40 a 85% da população. A ampliação dos conhecimentos re- lativos à produção da malária evidencia paula- tinamente a complexidade e o número de fato- res envolvidos, seja em relação às diferentes es- pécies de plasmódios, em relação aos vetores e seus comportamentos extremamente variados ou em relação ao homem e às suas condições de vida (Barata, 1997). Dessa forma, a entrar no século 20, a malá- ria tem sua sentença epidemiológica central: a relação entre o agente, o meio ambiente e o hospedeiro. Além dos estudos entomológicos, o avanço da parasitologia e da imunologia per- mitiu, no decorrer do século, avançar no co- nhecimento dos ciclos do parasito no homem e no mosquito, na produção de drogas espe- cíficas a cada fase do desenvolvimento dos di- ferentes plasmódios e, mais recentemente, na busca de uma vacina (Matos, 2000). Entre as endemias rurais importantes, a úl- tima a aparecer em São Paulo foi a esquistosso- mose, cujos primeiros casos autóctones foram registrados em 1923. Foram registrados 11 ca- sos sem que se conhecesse a espécie de trans- missor envolvido. Não foi atribuída maior im- portância à descoberta visto que se acreditava não haver condições propícias para a instala- ção da endemia (Barata, 2000). Na Segunda metade do século 20, surgem casos autóctones de esquistossomose nos municípios de Ouri- nhos, Palmital e Ipauçú, região onde é encon- trada a Biomphalaria glabrata, hospedeiro in- termediário com maior potencial para a manu- tenção de focos. Novos focos são detectados ainda no vale do Ribeira e vale do Paraíba, re- gião que se tornará endêmica para a doença, sendo a transmissão associada principalmente à lavoura de arroz em alagados (Chieffi e Wald- man, 1988). Além da esquistossomose, as enteroparasi- toses, ao longo da história, são indicadas como um dos mais sérios problemas de saúde públi- ca do Brasil (Pessôa, 1949, 1963, 1982; Rey, 1991; Neves, 2000). Pessôa (1949, 1963) afirmou que entre os trópicos de Câncer e Capricórnio, existem mais infecções helmínticas que pessoas. Observando os diversos e numerosos levantamentos sobre as enteroparasitoses realizados em todo o mun- do e especialmente em nosso país, vemos que a afirmação é bastante atual (Bundy, 1995; Fer- reira et al., 2000). Considerando a morbidade e a mortalida- de que podem advir das infecções por entero- parasitas, a diminuição da capacidade de tra- balho dos adultos parasitados e os custos so- ciais de assistência médica ao indivíduo e à co- munidade, percebe-se facilmente que as para- sitoses intestinais humanas representam ex- pressivo problema de saúde pública nos países do Terceiro Mundo (Barata, 2000). M as ca ri n i, L . M . 814 Comentários finais Neste início de século 21, as parasitoses deixa- ram de ser doenças em torno das quais são mo- bilizados recursos internacionais de diferentes ordens, cedendo lugar a novos problemas, as chamadas “doenças da modernidade”, como a síndrome da imunodeficiência adquirida (Aids) e as chamadas doenças reemergentes (antigos problemas), como a tuberculose e outras a ela associadas. A história nos mostra que os antigos males persistem nos países do Terceiro Mundo, frutos na sua grande maioria de condições socioeco- nômicas, sanitárias e higiênicas deficientes, da não-implantação de políticas públicas que pro- movam o crescimento econômico, da não-dis- tribuição igualitária de renda e do não-acesso universal à educação e aos serviços básicos de saneamento e de saúde. Referências bibliográficas Barata RB 1997. Malária e seu controle. Funcraf-Editora Hucitec. São Paulo. Barata RB 2000. Cem anos de endemias e epidemias. Ci- ência & Saúde Coletiva 5(2):333-345. Benchimol JL 2000. A instituição da microbiologia e a história da saúde pública no Brasil. Ciência & Saúde Coletiva 5(2):2ˆ65-292. Bundy DAP 1995. Epidemiology and transmission of in- testinal helminthes, pp. 5-24. In MJG Farthing, GT Keusch & D Walkelin (eds.). Enteric infection 2. In- testinal helminthes. Chapmam & Hall, Londres. Chieffi PP & Waldman EA 1988. Aspectos particulares do comportamento epidemiológico da esquistossomose mansônica no Estado de São Paulo, Brasil. Cadernos de Saúde Pública 4(3):257-275. Ferreira MV, Ferreira CS & Monteiro CA 2000. Tendên- cia secular das parasitoses intestinais na infância na cidade de São Paulo (1984-1996). Revista de Saúde Pública 34(6):73-82. Foster WD 1965. A history of parasitology. E & S Living- ton Ltda, Edimburgo-Londres. Kropf SP, Azevedo N & Ferreira LO 2000. Doença de Chagas: a construção de um fato científico e de um problema de saúde pública no Brasil. Ciência & Saú- de Coletiva 5(2):347-365. Lacaz CS 1972. Introdução à geografia médica do Brasil. São Paulo, Edgard Blucher-Edusp, São Paulo. Matos MR 2000. Malária em São Paulo – Epidemiologia e História. Editora Hucitec, São Paulo. Neves DP 2000. Parasitologia humana. (10a ed.). Editora Atheneu, São Paulo. Nunes ED 2000. Sobre a história da saúde pública: idéias e autores. Ciência & Saúde Coletiva 5(2):251-264. Peard JG 1992. The Tropicalist School of Medicine of Bahia, Brazil, 1869-1889. Columbia University, Dis- sertation Information Sevice, Michigan. Pessôa SB 1949. Problemas brasileiros de higiene rural. 1 vol., Editora Guanabara Koogan, Rio de Janeiro. Pessôa SB 1963. Endemias parasitárias da zona rural bra- sileira. Fundo Editorial Procienx, São Paulo. Pessôa SB 1982. Parasitologia médica. (12a ed.). Editora Guanabara Koogan, Rio de Janeiro. Rey L 1991. Parasitologia. (2a ed.). Editora Guanabara Koogan, Rio de Janeiro. Wilson RA 1980. Introdução à parasitologia. EPU, São Paulo. Artigo apresentado em 21/10/2002 Aprovado em 18/11/2002 Versão final apresentada em 26/11/2003 ParasitologiatermosNEVES.pdf GLOSSÁRIO Abióticos: são os componentes físicos e químicos do meio. Agente etiológico: é o agente causador ou responsável por uma doença. Pode ser vírus, bactéria, fungo, protozoário ou helminto. É sinônimo de “patógeno”. Agente infeccioso: é o microorganismo (vírus, bactérias, fungos, protozoários, helmintos) capaz de produzir infecção ou doença infecciosa. Antropofílico: artrópode que prefere se alimentar em humanos. Antroponose: doença exclusiva de humanos. Biocenose: é a comunidade ou conjunto de espécies e suas populações, vivendo em determinado ambiente (biótopo), mantendo certa interdependência entre elas. Bióticos: são os componentes vivos do meio ambiente. Biótopo: local com certas características físicas e químicas, onde vive uma espécie; é o mesmo que “ecótopo”. Cisto: é a forma de resistência de certos protozoários, nos quais se encontra uma película ou cápsula protetora, envolvendo uma forma capaz de reproduzir-se quando encontrar o ambiente adequado. Contaminação: é a presença de um agente infeccioso na superfície do corpo, roupas, brinquedos, água, leite ou alimentos. Doença metaxênica: quando parte do ciclo vital de um parasito se realiza no vetor, isto é, o vetor não só transporta o agente etiológico, mas é um elemento obrigatório para sua maturação ou multiplicação. Ex.: malária, esquistossomose. Ecologia: parte da biologia que se ocupa das inter-relações entre os seres vivos e seu ambiente (biótico e abiótico). Ecótono: é uma região da transição entre dois ecossistemas. Ecótopo: é o abrigo físico do animal. Como exemplo, podemos dizer que, dentro da cafua, os triatomíneos vivem nas frestas das paredes; dentro organismo humano o Ascaris vive dentro do intestino delgado. Endemia: é a prevalência usual de determinada doença, com relação a uma área, cidade, estado ou país. Representa o número esperado de casos em uma população, em determinando período de tempo. Epidemia: é a ocorrência muito elevada de determinada doença, com relação a uma área, cidade ou país. Representa o número muito acima do esperado de casos em uma população, em determinado período de tempo. Epidemiologia: é o estudo da distribuição e dos fatores determinantes da freqüência de uma doença; a epidemiologia trata de dois aspectos fundamentais: a distribuição (idade, raça, sexo, geografia) e os fatores determinantes da freqüência (tipo de patógeno, meio de transmissão, etc.); em resumo: estuda os fatores responsáveis pela existência ou aparecimento de uma doença ou outro evento (acidentes, vendavais, etc.). Enzoose: doença exclusiva de animais. Ex.: a peste suína, o Dioctophime renale, que parasita de lobo e cão. Estádio: é fase intermediária ou intervalo entre duas mudas da larva de um artrópode ou helminto (em entomologia é sinônimo de instar). Ex.: larva de primeiro estádio, larva de terceiro estádio. Estágio: é a fase de transição ou forma evolutiva de um organismo durante seu ciclo biológico. Ex.: estágio de ovo, estágio de larva, de pupa, de adulto. Fase aguda: é a fase da doença que surge após a infecção onde os sintomas clínicos são mais nítidos (febre alta, parasitemia elevada, etc.). É um período de definição: o paciente se cura, passa para a fase crônica ou morre. Fase crônica: é a fase que se segue à fase aguda, na qual o paciente apresenta sintomas clínicos mais discretos, havendo um certo equilíbrio entre os hospedeiros e o agente etiológico e, usualmente, a resposta imunológica é bem elevada. Foco natural: é o ambiente adequado para uma espécie sobreviver e propagar. Ex.: o Culex quinqefasciatus tem como foco natural coleções de água parada, rica em matéria orgânica e próxima de habitações humanas. Fômite: é representado por utensílios que podem veicular o agente etiológico entre diferentes hospedeiros. Ex.: roupas, seringas, espéculos, etc. Fonte de infecção: é o objeto, o paciente ou local de onde o agente etiológico passa para novo hospedeiro ou novo paciente. Ex.: água contaminada / febre tifóide, mosquito infectate / dengue, carne com cisticercose / teníase, etc. Hábitat: é o ecossistema local ou órgão onde determinada espécie ou população vive. Ex.: o hábitat do Necator americanus é o duodeno humano. Hospedeiro: é o organismo que alberga o parasito. Hospedeiro definitivo: é o que apresenta o parasito em sua fase de maturidade ou em fase de reprodução sexuada. Ex.: o hospedeiro definitivo do Plasmodium é o Anopheles; os hospedeiros definitivos do S. mansoni são os humanos. Hospedeiro intermediário: é aquele que apresenta o parasito em sua fase larvária ou assexuada. Ex.: o caramujo é o hospedeiro intermediário do S. mansoni. Hospedeiro paratênico ou de transporte: é o hospedeiro intermediário no qual o parasito não sofre desenvolvimento ou reprodução, mas permanece viável até atingir novo hospedeiro definitivo. Ex.: peixes maiores, que ingerem peixes menores contendo larvas plerocercóides de Diphyllobotrium,que simplesmente transportam essas larvas até que os humanos as ingiram (os humanos preferem comer crus os peixes maiores...). Incidência: é a freqüência com que uma doença ou fato ocorre num período de tempo definido e com relação à população (casos novos, apenas). No mês de dezembro, na cidade de natal, a incidência de gripe foi de 12%. (Ver Prevalência). Infecção: penetração e desenvolvimento ou multiplicação de um agente etiológico no organismo humano ou animal, podendo ser vírus, bactéria, protozoário, helminto, etc. Infecção inaparente: presença do agente etiológico em um hospedeiro, sem aparecimento de qualquer sintoma clínico. Infestação: é o alojamento, desenvolvimento e reprodução de artrópodes na superfície do corpo, nas vestes ou na moradia de humanos ou de animais. Letalidade: expressa o número de óbitos com relação a determinada doença ou fato, tendo como referência uma população. Ex.: 100% das pessoas não-vacinadas, quando atingidas pelo vírus rábico, morrem; a letalidade na gripe é muito baixa. Morbidade: expressa o número de pessoas doentes com relação a uma doença e uma população. Ex.: na época do inverno, a morbidade da gripe é muito elevada; ou seja, na época do inverno a incidência da gripe é muito grande. Nicho ecológico: é a atividade ou função dentro de seu ecótopo ou hábitat. Ex.: no intestino delgado humano, o Ascaris realiza suas atividades alimentares e reprodutivas. Parasitemia: representa o número de parasitos que estão presentes na corrente sanguínea de um paciente. Ex.: na fase aguda da doença de Chagas, usualmente, a parasitemia é muito elevada. Parasitismo: é a associação entre seres vivos onde existe unilateralmente de benefícios, sendo um dos associados (o de maior porte ou hospedeiro) prejudicado pela associação. Parasito: é o ser vivo de menor porte que vive associado a outro ser vivo de maior porte, à custa ou na dependência deste. Pode ser: � Ectoparasito: vive extremamente no corpo do hospedeiro. � Endoparasito: vive dentro do corpo do hospedeiro. � Hiperparasito: que parasita outro parasito: Ex.: E. histolytica sendo parasitada por fungos (Sphoerita endógena) ou por cocobacilos. Parasito acidental: é o que exerce o papel de parasito, porém habitualmente possui vida não-parasitária. Ex.: larvas de moscas que vivem em frutos ou vegetais em decomposição e acidentalmente atingem humanos. Parasito errático: é o que vive fora do seu hábitat ou de seu hospedeiro normal. Parasito estenoxênico: é o que parasita espécies de vertebrados muito próximas. Parasito eurixeno: é o que parasita espécies de vertebrados muito distintas. Parasito facultativo: é o que pode viver parasitando um hospedeiro ou não, isto é, pode ter hábitos de vida livre ou parasitária. Ex.: as larvas de moscas Sarcophagidae podem provocar miíases humanas, desenvolver-se em cadáveres ou ainda fezes. Parasito heterogenético: é o que apresenta alternância de gerações. Ex.: Plasmodium, com ciclo assexuado em humanos e sexuado em mosquitos. Parasito heteroxênico: é o que possui hospedeiro definitivo e intermediário. Parasito monoxênico: é o que possui apenas o hospedeiro definitivo. Ex.: Enterobius vermicularis, A. lumbricoides. Parasito monogenético: é o que não apresenta alternância de gerações, isto é, possui um só tipo de reprodução - sexuada. Ex.: E. histolytica, A. duodenale. Parasito obrigatório: é aquele incapaz de viver fora do hospedeiro. Ex.: T. gondii, Plasmodium. Parasito oportunista: é aquele que usualmente vive no paciente sem provocar nenhum dano (infecção inaparente), mas em determinados momentos se aproveita da baixa resistência do paciente de desenvolve doenças graves. Parasito periódico: é o que freqüenta o hospedeiro intervaladamente. Ex.: mosquitos, barbeiros. Parasitóide: é a forma imatura (larva) de um inseto que ataca outros artrópodes maiores, quase sempre provocando a morte desses. Ex.: o micro-himenóptero Telenomous fariai atacando ovos de barbeiros. Partenogênese: desenvolvimento de um ovo sem a participação de um espermatozóide. Patogenia ou patogênese: é o mecanismo com o agente etiológico que provoca lesões no hospedeiro. Patogenicidade: é a maior ou menor habilidade de um agente etiológico provocar lesões. Patognomônico: sinal ou sintoma característico de determinada doença. Ex.: sinal de Romaña é típico da doença de Chagas. Pedogênese: é a reprodução ou multiplicação de uma forma larvária. Ex.: formação de esporocistos secundários e rédias a partir do esporocisto primário. Período de incubação: é o período decorrente entre a penetração do agente etiológico e o aparecimento dos primeiros sintomas clínicos. Período pré-patente: é o período que decorre entre a penetração do agente etiológico e o aparecimento das primeiras formas detectáveis do agente etiológico. Poluição: é a presença de substâncias nocivas, especialmente químicas, mas não infectantes, contaminando o ambiente: ar, água, alimentos, etc. Portador: hospedeiro infectado que alberga o agente etiológico, sem manifestar sintomas, porém capaz de transmiti-lo a outrem; nesse caso é conhecido como “portador assintomático”; quando ocorre doença e o portador pode contaminar outros hospedeiros, temos o “portador em incubação”, “portador convalescente”, “portador crônico”, etc. Premunição ou imunidade concomitante: é um tipo especial de estado imunitário ligado à necessidade da presença do agente etiológico, com a manutenção de taxas elevadas da resposta imune. Normalmente durante o estado da premunição há certa dificuldade do paciente em se reinfectar, havendo um equilíbrio ente o parasito e o hospedeiro. Ocorre na fase crônica de várias doenças. Prevalência: termo geral utilizado para caracterizar o número total de casos de uma doença ou qualquer outra ocorrência numa população e tempo definidos (casos antigos somados aos casos novos). Ex.: no Brasil, (população estimada em 120 milhões de pessoas), a prevalência da esquistossomose foi de 8 milhões de pacientes em 1975. Profilaxia: é o conjunto de medidas que visa a prevenção, erradicação ou controle de uma doença ou de um fato prejudicial aos seres vivos; as medidas profiláticas sempre dependem dos fatores epidemiológicos. Reservatório: é qualquer local, vegetal, animal ou humano onde vive e multiplica-se um agente etiológico e do qual é capaz de atingir outros hospedeiros. Alguns autores dizem que o reservatório vivo perfeito (animal ou humano) é aquele que possui o agente etiológico, mas não padece com sua presença; prefiro usar o termo reservatório, independentemente de apresentar ou não os sintomas. Ex.: os humanos são os reservatórios do S. mansoni. Sinantropia: é a habilidade de certos animais silvestres (mamíferos, aves, insetos) de freqüentar habitações humanas; isto é, são capazes de circular entre os ambientes silvestres, rural e urbano, muitas vezes, veiculando patógenos. Vetor: é um artrópode, molusco ou veículo que transmite um parasito entre dois hospedeiros. Vetor biológico: quando o agente etiológico se multiplica ou se desenvolve no vetor. Vetor mecânico: quando o parasito não se multiplica ou se desenvolve no vetor, esse simplesmente serve de transporte ao parasito. Ex.: a T. penetrans veiculando esporos de fungos. Virulência: é a severidade e rapidez com que um agente etiológico provoca lesões no hospedeiro. Zoonoses: doenças que são naturalmente transmitidas entre humanos e animais vertebrados podendo dividir-se em: � Anfixenose: doença que circula indiferentemente entre humanos e animais, isto é, tanto os animais como os humanos funcionam como hospedeiros do agente. � Antropozoonose: doença primária de animais e que pode ser transmitida aos humanos. Ex.: brucelose, onde os humanos são infectados acidentalmente. � Zooantroponose: doença primária de humanos e que pode ser transmitida aos animais. Ex.: no Brasil a esquistossomose mansoni tem os humanos como principais hospedeiros e alguns animais se infectam a partir de nós. Zoofílico: artrópode que prefere se alimentar sobre animais. NEVES, D. P. Parasitologia Dinâmica. Editora Atheneu: São Paulo, 2006, p. 465-468.
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