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Aula 8 – Delegado da Polícia Federal – 2013 Exercícios Comentados Pablo Farias Souza Cruz www.pontodosconcursos.com.br 1 Aula 8 – Delegado da Polícia Federal – 2013 Olá amigos, Bom dia! Boa tarde! e Boa noite! Nosso objetivo de hoje: Aula 8: 10 Processo criminal de crimes comuns. 10.1 Tráfico ilícito e uso indevido de substâncias entorpecentes (Lei nº 11.343/2006). 10.2 Crime organizado (Lei nº 9.034/1995). 10.3 Crimes contra o sistema financeiro nacional (Lei nº 7.492/1986). 10.4 Crimes contra a ordem econômica e tributária e as relações de consumo (Lei nº 8.137/1990). 10.5 Lavagem de dinheiro (Lei nº 9.613/1998). 10.6 Crimes hediondos (Lei nº 8.072/1990). 10.7 Crimes resultantes de preconceitos de raça ou de cor (Lei nº 7.716/1989). 10.8 Crimes de tortura (Lei nº 9.455/1997). 10.9 Crimes contra o meio ambiente (Lei nº 9.605/1998). 10.10 Crimes de responsabilidade (Decreto-Lei nº 201/1967, Lei nº 1.079/1950 e Lei nº 8.176/1991). Aula 8 – Delegado da Polícia Federal – 2013 Exercícios Comentados Pablo Farias Souza Cruz www.pontodosconcursos.com.br 2 10.11 Crimes falimentares (Lei nº 11.101/2005). 10.12 Crimes nas licitações e contratos da administração pública (Lei nº 8.666/1993; Lei nº 12.037/2009). Aspectos processuais das leis especiais Inicialmente é importante fazer uma advertência: Todo o texto da legislação que iremos comentar é importante para sua prova, haja vista a cobrança possivelmente conjunta de aspectos materiais e processuais da referida legislação nas provas da Cespe. Contudo, registramos que só iremos tratar dos aspectos processuais das leis em questão, isso porque o presente do curso se destina ao tratamento do Direito Processual Penal. 2012 – CESPE – TJ/RR, Analista Processual. Um juiz recebeu a denúncia de crime de estelionato oferecida pelo Ministério Público contra Juliano, que nunca havia respondido a inquérito policial ou à ação penal. O oficial de justiça, ao comparecer ao local informado por Juliano nos autos, a fim de citá-lo, foi recebido por Vinícius, que informou que residia naquele local havia dez anos e que não conhecia Juliano. Com relação a essa situação hipotética, julgue o item seguinte. Caso Juliano compareça ao cartório judicial e, citado pessoalmente, informe ao juízo não ter condições de arcar com os custos de advogado particular, o juiz poderá nomear um defensor público para responder por Juliano, devendo o defensor apresentar resposta à acusação no prazo de dez dias. Errada Comentário: Aula 8 – Delegado da Polícia Federal – 2013 Exercícios Comentados Pablo Farias Souza Cruz www.pontodosconcursos.com.br 3 Diante da leitura do § 2º do art. 396-A, poderia se chegar à conclusão de que a afirmação estaria correta, vejamos: “Não apresentada a resposta no prazo legal, ou se o acusado, citado, não constituir defensor, o juiz nomeará defensor para oferecê-la, concedendo-lhe vista dos autos por 10 (dez) dias. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).” Entretanto, em se tratando de defensor público, se conclui que os prazos devam correr em dobro, haja vista a incidência da lei complementar 80/94: “art. 44 - São prerrogativas dos membros da Defensoria Pública da União: I – receber, inclusive quando necessário, mediante entrega dos autos com vista, intimação pessoal em qualquer processo e grau de jurisdição ou instância administrativa, contando-se-lhes em dobro todos os prazos. ... Art. 128. São prerrogativas dos membros da Defensoria Pública do Estado, dentre outras que a lei local estabelecer: I – receber, inclusive quando necessário, mediante entrega dos autos com vista, intimação pessoal em qualquer processo e grau de jurisdição ou instância administrativa, contando-se-lhes em dobro todos os prazos; (Redação dada pela Lei Complementar nº 132, de 2009).” Assim, no caso o defensor público teria 20 dias para apresentar resposta à acusação e não 10 como afirma a questão. Acresça-se ainda o disposto na lei de Assistência Judiciária, Lei 1060/50, Art. 5º, ... § 5° Nos Estados onde a Assistência Judiciária seja organizada e por eles mantida, o Defensor Público, ou quem exerça cargo equivalente, será intimado pessoalmente de todos os atos do processo, em ambas as Instâncias, contando-se-lhes em dobro todos os prazos. (Incluído pela Lei nº 7.871, de 1989). Aula 8 – Delegado da Polícia Federal – 2013 Exercícios Comentados Pablo Farias Souza Cruz www.pontodosconcursos.com.br 4 Na oportunidade, visando ampliar o estudo e abarcar possíveis questionamentos, passamos a fazer considerações teóricas sobre a matéria: Iniciamos o estudo pelo procedimento comum ordinário, por ser o procedimento regra, natural à maioria dos crimes, infrações penais de maior potencial ofensivo (pena máxima superior a 4 anos). Após, trataremos dos procedimentos especiais, de modo a demonstrar suas peculiaridades e agilizar o respectivo estudo. Assim, passemos a estudar o que o edital denominou de processo criminal de crimes comuns, o que o CPP (pós-reforma de 2008) chama de procedimento comum ordinário. Procedimento comum ordinário Procedimento Comum Ordinário1 Primeiramente cabe fazermos a seguinte distinção: Procedimento Comum: É destinado à generalidade de infrações penais2, onde o critério de variação se atrela à pena máxima do delito. Procedimento Especial: É todo aquele previsto no CPP ou em leis especiais que incorporam regras próprias de tramitação processual, visando à apuração de crimes específicos.3 Vejamos a sequencia do procedimento comum ordinário de forma esquematizada: 1 CRUZ, Pablo Farias Souza. Processo Penal Sistematizado. No prelo a 1ª edição. Rio de Janeiro: Grupo Gen: Forense, 2013. 2 FEITOZA, Denilson. Direito processual penal: teoria, crítica e práxis. 7ª ed., rev. e atual. Niterói, RJ: Impetus, 2010, p. 490. 3 AVENA, Norberto Cláudio Pâncaro. Processo Penal: esquematizado/ Norberto Avena. – 4ª ed. – Rio de janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2012, p. 675. Aula 8 – Delegado da Polícia Federal – 2013 Exercícios Comentados Pablo Farias Souza Cruz www.pontodosconcursos.com.br 5 * As hipóteses de rejeição são as previstas no art. 395 do CPP. Por ora vale a definição do inciso I do referido artigo que dispõe: “A denúncia ou queixa será rejeitada quando for manifestamente inepta.” Entende-se por inépcia a inaptidão da peça inicial para detalhar o fato e todas as suas circunstâncias de modo a inviabilizar tanto o juízo de tipicidade aparente do fato, como o exercício da ampla defesa. Logo, inepta é a denúncia confusa, de difícil compreensão. ** A resposta escrita é o ato onde a defesa, inicialmente, lista suas teses (TUDO que interesse à defesa do réu neste momento processual). Prazo de 10 dias (art. 396, “caput”). Defensor dativo (10 dias4 → §2º, art. 396-A). 4 Sobre o referido prazo alertamos para a questão que inaugurou a aula de hoje com os seus respectivos comentários. Aula 8 – Delegado da Polícia Federal – 2013 Exercícios Comentados Pablo Farias Souza Cruz www.pontodosconcursos.com.br 6 Sobre o tema importa registrar importante discussão a respeito do momento em que se considera recebida, juridicamente, a denúncia. Tal definição importará em reflexoimportante, pois o recebimento da denúncia é uma das causas interruptivas da prescrição, nos moldes do que dispõe o art. 117, inciso I do CP. Se aventa essa discussão, na oportunidade, por se verificar que a mesma conflui para o tratamento da resposta escrita como defesa prévia ou como defesa preliminar, ou seja a definição do referido momento implica na definição de sua natureza jurídica5. A questão ainda está em debate, e sobre ela se encontram as seguintes posições: 1ª corrente) Para essa corrente, o momento em que se considera recebida a inicial acusatória se situa no início do procedimento, quando a magistrado não rejeita liminarmente a inicial, continuando assim a resposta escrita com natureza jurídica de DEFESA PRÉVIA. Tal tese se sustenta na redação do art. 396 do CPP que expressa, no imperativo, que, se o juiz não rejeita a denúncia, recebê-la-á. Assim, é a partir do recebimento, que se cria a oportunidade para a resposta escrita. A justificativa que ampara a primeira corrente é uma pretensa interpretação teleológica. A intenção do legislador, segundo essa corrente, era que o recebimento já se desse no início do procedimento. Segundo essa corrente não houve ampliação do contraditório preliminar para todos os procedimentos criminais, à exemplo do que ocorre no procedimento previsto na lei de drogas. São defensores desse entendimento: Pacelli, Luiz Flávio Gomes e Rogério Sanches, entre outros. 5 Apesar de sabermos que esse raciocínio, nessa ordem, não é imune à críticas de natureza científica. Aula 8 – Delegado da Polícia Federal – 2013 Exercícios Comentados Pablo Farias Souza Cruz www.pontodosconcursos.com.br 7 Importa registrar que, como essa primeira posição parece refletir a tendência, a esquematização feita acima se pauta nesse entendimento, em que pese sermos adeptos da segunda posição, que passamos a expor. 2ª corrente) Para uma segunda corrente, o momento em que se considera recebida a inicial acusatória é o da fase do art. 399, já que mencionado artigo utiliza o termo “recebida a denúncia, o juiz designará dia e hora para audiência...”. Logo, o recebimento da denúncia ocorre DEPOIS da apresentação da resposta escrita e, sendo assim, a natureza jurídica da mencionada peça seria de DEFESA PRELIMINAR (permitindo, para além das alegações relacionadas à absolvição sumária, a apreciação de teses relacionadas a rejeição de denúncia). Para essa corrente, o contraditório preliminar vigora no Procedimento Comum Ordinário, o que, por consequência, em nossa visão, determinaria sua aplicação à todos os procedimentos criminais. Sustentam essa segunda posição, por exemplo, os autores: Paulo Rangel, Paulo Fuller e Tourinho Filho6. Para contextualizar, vale mencionar as lições de Aury Lopes Júnior a respeito do tema: “A mesóclise da discórdia contida no art. 396 não constava no projeto de Lei 4.207/2001 e gerou grande surpresa e decepção ao ser inserida à vésperas da promulgação da nova lei. O projeto desenhava uma fase intermediária, há muito reclamada pelos processualistas, de modo que a admissão da acusação somente ocorreria após o oferecimento da defesa (o ideal seria uma 6 “Se o juiz não rejeitar a peça acusatória, determinará seja o réu notificado para responder para responder à acusação, por escrito, no prazo de 10 dias. A lei fala em citação. Parece-nos, contudo, tratar-se de notificação, mesmo porque, após a resposta do réu, se não houver absolvição sumária, diz a lei: “ recebida a denúncia ou queixa”... Aliás, o legislador já vinha adotando essa postura: o recebimento da denúncia ou queixa deverá ocorrer após a resposta do réu. A propósito, vejam-se as leis n. 8038/90 e 11.343/2006.” TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Manual de Processo Penal. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2012, págs. 732 e 736. Aula 8 – Delegado da Polícia Federal – 2013 Exercícios Comentados Pablo Farias Souza Cruz www.pontodosconcursos.com.br 8 audiência, regida pela oralidade). Era um juízo prévio de admissibilidade da acusação, para dar fim aos recebimentos automáticos de denúncias infundadas, inserindo um mínimo de contraditório nesse importante momento procedimental. Por isso, o art. 399 estabelece (aqui foi mantida a redação do projeto de 2001) que “recebida a denúncia ou queixa...”, demarcando que o recebimento da acusação deveria ocorrer no momento após a defesa escrita.”7 3ª corrente) Para uma terceira corrente, aparentemente conciliatória, seriam dois os momentos de recebimento da inicial. O primeiro, previsto no art. 396, seria baseado em um juízo superficial e provisório, que decorreria da não rejeição liminar prevista no art. 395. Já o segundo apresentaria um grau de profundidade maior e seria pautado na dicção do art. 399, onde o magistrado, concluindo pela impossibilidade de rejeição liminar iria se debruçar sobre as hipóteses de absolvição sumária previstas no art. 397. Esse terceiro posicionamento é o sustentado por Antonio Scarance Fernandes e Mariângela Lopes. Segundo esses autores, haveriam dois juízos de admissibilidade, de elaboração progressiva, e diversificados pela profundidade de cognição exigida8. Por derradeiro se percebe que a mencionada discussão reflete efeitos práticos no conteúdo a ser alegado em sede de resposta escrita. Assim, de acordo com o primeiro entendimento, as teses se limitariam às hipóteses de absolvição sumária. Por outro lado, se for adotado o raciocínio da segunda corrente, seria possível ampliar o rol 7 Lopes Jr., Aury. Direito Processual Penal e sua conformidade constitucional. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009, vol. II, p. 193. 8 SCARANCE FERNANDES, Antonio e LOPES, Mariângela. O recebimento da denúncia no novo procedimento. Boletim IBCCrim, São Paulo, ano 16, n. 190, p. 2-2, set. 2008. Aula 8 – Delegado da Polícia Federal – 2013 Exercícios Comentados Pablo Farias Souza Cruz www.pontodosconcursos.com.br 9 de discussão em sede de resposta escrita, que poderia elencar tanto hipóteses de absolvição sumária, quanto hipóteses de rejeição liminar da denúncia, já que o juiz, nesse caso, ainda não teria recebido juridicamente a peça inicial. *** Entretanto, caso o réu NÃO compareça, haverá SUSPENSÃO DO PROCESSO E DA PRESCRIÇÃO (segundo art. 366). O que se questiona é: por quanto tempo? R.: Primeiramente deve-se fazer o raciocínio que compreende a ampla defesa como a soma da Autodefesa (que é disponível) com a Defesa técnica (que é indisponível). O processo, onde o réu é citado por edital e não comparece, NÃO pode correr sem a presença do mesmo, porque poderia prejudicar a ampla defesa, ficando, então, SUSPENSO junto com o prazo prescricional. Nesse período de suspensão o juiz PODERÁ determinar a produção antecipada das provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar PRISÃO PREVENTIVA (quando houver um lastro probatório mínimo de autoria e materialidade do crime – “fumus boni iuris” (“comissi delicti”) e “periculum in mora”(“periculum in libertatis”)). Para uma primeira corrente, você teria que determinar um prazo para suspensão do prazo. Esta corrente pode ser subdividida em duas subcorrentes: • Prazo da suspensão será, no máximo, o período relacionado à pena máxima abstratamente prevista. • Prazo seria o da PRESCRIÇÃO, calculado com base na pena máxima em abstrato previsto para o tipo penal objeto do processo,(com observância do art. 109, CP) → POSIÇÃO DO Aula 8 – Delegado da Polícia Federal – 2013 Exercícios Comentados Pablo Farias Souza Cruz www.pontodosconcursos.com.br 10 STJ (Súmula 415, STJ: “O período de suspensão do prazo prescricional é regulado pelo máximo da pena cominada”). Com a interpretação do STJ, suprimiu a chamada “Crise de Instância”. • Todavia, outro entendimento sustenta que o prazo de suspensão é INDETERMINADO. Neste sentido, são os precedentes do STF. A crítica a este posicionamento é no sentido de que o legislador ordinário não poderia criar outros casos de imprescritibilidade fora das hipóteses constitucionais, o que acabaria ocorrendo se entender que o prazo de suspensão é indeterminado. O STF, entretanto, sustenta que não há que se falar de um caso de imprescritibilidade previsto por lei, já que o réu pode aparecer a qualquer momento e exercer, justamente, o seu direito à ampla defesa, direito fundamental. Além disso, Lei Ordinária não poderia restringir direito fundamental (se nem Emenda Constitucional pode, quiçá a Lei Ordinária). Ademais o processo suspenso de forma ilimitada violaria a Segurança Jurídica, já que a relação jurídica nunca se estabilizaria. Acresça-se à isso os danos provocado às vítimas que seriam então perpetuados se não reparados em tempo oportuno. Como se não bastasse, ainda se poderia invocar a garantia à uma duração razoável ao processo, essa visualizada tanto da perspectiva instrumental garantista quanto da punitiva, já que o processo penal sempre lida com interesses igualmente indisponíveis, quais sejam, a segurança pública, a liberdade e o bem jurídico supostamente violado pela prática delituosa. Assim a posição do STF, com todo o respeito que merece, consolida a denominada “crise de instância” do processo penal, perpetuando assim a pretensão punitiva estatal. Aula 8 – Delegado da Polícia Federal – 2013 Exercícios Comentados Pablo Farias Souza Cruz www.pontodosconcursos.com.br 11 **** Absolvição Sumária é a decisão judicial que põe fim ao processo nas hipóteses taxativamente prevista no art. 397 do CPP. Trata-se de julgamento antecipado do caso penal. Novidade no procedimento comum ordinário, antes previsto somente no rito do tribunal do júri, a absolvição sumária se aplica a todos os procedimento de 1º grau, por força do Art. 394, §2º que afirma: “Aplica-se a todos os processos o PROCEDIMENTO COMUM” (previstos ou não no CPP). Doutrina complementa: “... PROCEDIMENTO COMUM ORDINÁRIO”. Sobre o art. 397 destacamos o seguinte: Art. 397, CPP: II – Inimputabilidade decorrente de aspecto psicológico (segue o processo, mas no final – medida de segurança) – sentença absolutória imprópria que, no fundo, é a condenatória que aplica medida de segurança. Sob o aspecto biológico, o correto é não haver o recebimento da denúncia (porque o menor de 18 anos não pode ser réu no processo penal). Entretanto, é possível haver a absolvição sumária quando o juiz não rejeitar a denúncia por inobservância da ilegitimidade passiva do infrator. III – Atipicidade da conduta. Expressamente, é causa de absolvição sumária. Porém, antes da Reforma de 2008, o art. 43, CPP, colocava como hipótese expressa de rejeição da inicial. Hoje, o juiz pode considerar como absolvição sumária (prevista expressamente) ou hipótese de rejeição pela falta de condição da ação (falta de possibilidade jurídica do pedido). Na absolvição sumária, o princípio que vigora é o do “in dubio pro societate” (e não o “in dubio pro reo”). Aula 8 – Delegado da Polícia Federal – 2013 Exercícios Comentados Pablo Farias Souza Cruz www.pontodosconcursos.com.br 12 ***** Após a reforma de 2008 o Interrogatório passou a ser o último ato da INSTRUÇÃO. Procedimento Comum Ordinário - continuação (crimes de MAIOR potencial ofensivo) Até 8 testemunhas 1 Envolve um juízo de CERTEZA por parte do magistrado. 2 Na dúvida, NÃO absolve, pois, aqui, ainda vigora o Princípio do “In Dubio Pro Societate” (hipótese de resquício desse princípio no processo penal). 3 Permite a celeridade processual. Os 60 dias são contados a partir de quando? Aula 8 – Delegado da Polícia Federal – 2013 Exercícios Comentados Pablo Farias Souza Cruz www.pontodosconcursos.com.br 13 Prevalece o entendimento de que é da data em que o magistrado designa a audiência (do juízo de admissão). 4 A primeira pessoa a ser ouvida é o ofendido. Qual o Sistema de Inquirição (que não é expresso no CPP)? Por falta de previsão legal, a doutrina entende que seguirá a regra: Sistema Presidencialista. Quem faz pergunta primeiro? JUIZ. Em nome do contraditório, o juiz deve permitir que o MP e o advogado de defesa façam perguntas. Destes dois, quem faz pergunta primeiro? O MP, porque é ele quem arrola o ofendido e o réu. 5 Oitiva das demais provas orais como peritos e assistentes técnicos (também não há previsão legal para sistema de inquirição). Qual será o sistema de inquirição? Isso dependerá. Pode-se visualizar que os peritos teriam o mesmo tratamento das testemunhas e, sendo assim, o sistema seria DIRETO. Entretanto, se se entender a oitiva dos peritos como prova atípica, deveria se seguir a regra geral, qual seja o sistema PRESIDENCIALISTA. 6 No procedimento comum, o interrogatório segue o Sistema PRESIDENCIALISTA. No Tribunal do Júri o sistema é DIRETO. 7 Neste caso, acabou a instrução. Abre-se oportunidade para ALEGAÇÕES FINAIS ORAIS. Depois, o juiz proferirá a SENTENÇA. 8 Apresentação de MEMORIAIS (5 dias). Depois, profere sentença (10 dias). Aula 8 – Delegado da Polícia Federal – 2013 Exercícios Comentados Pablo Farias Souza Cruz www.pontodosconcursos.com.br 14 CESPE – 2011 – PC/ES – DELEGADO DE POLÍCIA Os crimes de racismo, tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os crimes definidos como hediondos, assim como a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o estado democrático podem ser compreendidos na categoria de delitos inafiançáveis por disposição constitucional expressa. Certo Comentário: Trata-se de disposição constitucional expressa, prevista no art. 5º, XLIII, da CF. Na oportunidade, visando ampliar o estudo e abarcar possíveis questionamentos, passamos a fazer considerações teóricas sobre a matéria: Lei Federal nº 11.343/2006 (Tráfico ilícito e uso indevido de substâncias entorpecentes). Muito bem, então vamos falar agora sobre o procedimento dos crimes relacionados a entorpecentes, relacionados ao uso indevido e ao tráfico ilícito de drogas. CAPÍTULO III DO PROCEDIMENTO PENAL Art. 48. O procedimento relativo aos processos por crimes definidos neste Título rege-se pelo disposto neste Capítulo, aplicando-se, subsidiariamente, as disposições do Código de Processo Penal e da Lei de Execução Penal. Os tipos penais da Lei nº 11.343/2006 estão sujeitos a dois ritos diferenciados: Aula 8 – Delegado da Polícia Federal – 2013 Exercícios Comentados Pablo Farias Souza Cruz www.pontodosconcursos.com.br 15 a) aos crimes de tráfico, cultivo, auxílio, maquinários, associação, financiamento, colaboração e condução de veículo marítimo ou aéreo, nas formas simples e qualificada (arts. 33, caput e §§ 1º e 2º, 34, 35, 36, 37 e 39, parágrafo único), aplica-seo iter previsto nas Seções I e II (arts. 50 a 59) do mesmo capítulo III, com utilização subsidiária do procedimento comum do Código de Processo Penal; b) as infrações de porte e cultivo para consumo pessoal, compartilhamento e prescrição culposa (arts. 28, caput e §1º, 33, §3º e 38), como são infrações de menor potencial ofensivo, devem ser processadas pelo rito dos Juizados Especiais Criminais, previsto na Lei 9.099/95, com as especificidades trazidas pelo art. 48 em relação aos tipos do art. 28. § 1o O agente de qualquer das condutas previstas no art. 28 desta Lei, salvo se houver concurso com os crimes previstos nos arts. 33 a 37 desta Lei, será processado e julgado na forma dos arts. 60 e seguintes da Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995, que dispõe sobre os Juizados Especiais Criminais. Com o art. 48, §1º foi ampliado o conceito de infração de menor potencial ofensivo, passando agora a abranger os crimes que não tenham qualquer cominação de pena privativa de liberdade ou multa. Teríamos, nesse contexto, o que Guilherme de Souza Nucci chama de infrações penais de ínfimo potencial ofensivo. Não obstante sejam os delitos de porte e cultivo para consumo pessoal crimes de menor potencial ofensivo, nem todos os preceitos da lei dos juizados especiais são cabíveis. É o caso da composição dos danos civis (art. 74, lei 9099), pois os delitos do art. 28 não apresentam vítimas determinadas. Aula 8 – Delegado da Polícia Federal – 2013 Exercícios Comentados Pablo Farias Souza Cruz www.pontodosconcursos.com.br 16 O mesmo ocorre com a previsão de representação como condição de procedibilidade (art. 88, lei 9099). Outras previsões da lei 9099 são cabíveis como o impedimento da prisão em flagrante, o termo circunstanciado de ocorrência como substituto do inquérito policial e a transação penal. A falta de previsão de pena privativa de liberdade nos crimes do art. 28 não constitui óbice ao seu enquadramento no benefício previsto no art. 89 da Lei 9099, haja vista a incidência do princípio da proporcionalidade. Contudo, deve–se ter sempre em conta que as condições do sursis processual não devem ser mais gravosas que as próprias penas previstas no art. 28. Concurso de crimes envolvendo porte e cultivo para consumo pessoal (art. 28): O mesmo art. 48, §1º prevê que não será possível a aplicação do rito dos Juizados Especiais em hipótese de concurso com os tipos penais dos arts. 33 a 37 da lei. Em caso de concurso deve haver unidade de processo e julgamento no juízo previsto para a infração a que for cominada pena mais grave (art. 78, II, a, CPP). Porém, segundo a nova redação do art. 60, parágrafo único da Lei 9099/95, a reunião de processos, apesar de impossibilitar a utilização do rito sumaríssimo, não impede que sejam aplicados os institutos despenalizadores, como o da transação penal. Caso não seja aceita a transação penal, aí sim deverá o agente ser julgado utilizando-se o procedimento previsto nos arts. 54 a 59 da lei de drogas, fora dos juizados especiais. § 2o Tratando-se da conduta prevista no art. 28 desta Lei, não se imporá prisão em flagrante, devendo o autor do fato ser imediatamente encaminhado ao juízo competente ou, na falta deste, assumir o compromisso de a ele comparecer, lavrando- Aula 8 – Delegado da Polícia Federal – 2013 Exercícios Comentados Pablo Farias Souza Cruz www.pontodosconcursos.com.br 17 se termo circunstanciado e providenciando-se as requisições dos exames e perícias necessários. § 3o Se ausente a autoridade judicial, as providências previstas no § 2o deste artigo serão tomadas de imediato pela autoridade policial, no local em que se encontrar, vedada a detenção do agente. § 4o Concluídos os procedimentos de que trata o § 2o deste artigo, o agente será submetido a exame de corpo de delito, se o requerer ou se a autoridade de polícia judiciária entender conveniente, e em seguida liberado. Em face do usuário apreendido com drogas não se lavrará auto de prisão em flagrante. Em seu lugar, deve ser elaborado TCO (Termo Circunstanciado de Ocorrência). O usuário deverá ser encaminhado pela autoridade policial, de imediato, para o juízo competente, que, no caso, é o Juizado Especial. Chegando lá, será elaborado o termo circunstanciado pela secretaria do Juízo e não pela autoridade judicial, sob pena de violação ao sistema acusatório (conforme entendimento prevalente). Na falta do “juízo competente”, as providências previstas serão tomadas pela autoridade policial, no local em que se encontrar, vedada a detenção do agente. Por falta de “juízo competente” deve-se entender as situações em que não há juízo na própria cidade onde ocorreu o fato ilícito ou quando não haja juízo de plantão, como ocorre nos finais de semana. Em resumo, pela dicção do art. 48, dois são os procedimentos cabíveis: a) autoridade policial conduz o autor do fato imediatamente ao juízo competente, para que a Secretaria do Juízo elabore o termo circunstanciado e requisite os exames necessários; b) não sendo possível o encaminhamento ao juízo competente, deve a autoridade policial, no local em que encontrou o agente, Aula 8 – Delegado da Polícia Federal – 2013 Exercícios Comentados Pablo Farias Souza Cruz www.pontodosconcursos.com.br 18 elaborar o termo circunstanciado, requisitando os exames necessários, não o encaminhando à Delegacia de Polícia. Vislumbram-se dificuldades práticas nesse rito: 1) Eventuais dificuldades materiais para a elaboração do termo circunstanciado no local dos fatos; 2) a distinção entre o mero usuário e o traficante é muito tênue, uma vez que a quantidade de substância não é o único critério que poderá levar à tipificação. A própria lei, em duas passagens, orienta as autoridades sobre quais circunstâncias devem ser observadas para classificação do delito. A primeira está no art. 28, §2º e a segunda, no art. 52, I. Tendo em vista as dificuldades práticas, a melhor opção para o policial, em caso de dúvidas, é conduzir o agente à Delegacia de Polícia, apesar da letra da lei não ter deixado explícita tal possibilidade. Em síntese, portanto, poderá a autoridade policial que encontrar algum suposto usuário em situação de flagrante tomar as seguintes providências: a) se houver Juízo, conduzi-lo coercitivamente para que a Secretaria do Juízo elabore o Termo Circunstanciado; b) na falta do Juízo, abrem-se-lhe duas possibilidades: b.1) elaborar o termo circunstanciado no local dos fatos ou b.2) encaminhar o agente para a Delegacia de Polícia, na qual será lavrado termo circunstanciado ou auto de prisão em flagrante, caso o Delegado entenda tratar-se ou não de usuário. § 5o Para os fins do disposto no art. 76 da Lei no 9.099, de 1995, que dispõe sobre os Juizados Aula 8 – Delegado da Polícia Federal – 2013 Exercícios Comentados Pablo Farias Souza Cruz www.pontodosconcursos.com.br 19 Especiais Criminais, o Ministério Público poderá propor a aplicação imediata de pena prevista no art. 28 desta Lei, a ser especificada na proposta. O art. 48, § 5º tratou apenas de adaptar a proposta do Ministério Público às penas previstas para os crimes do art. 28 da lei de drogas, restringindo-a. A transação deve envolver a aplicação imediata das penas de advertência sobre os efeitos das drogas, prestação de serviços à comunidade e medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo. Em divergência ao tratamento dado aoscrimes de menor potencial ofensivo, não será possível o oferecimento de proposta de penas de prestação pecuniária, perda de bens e valores, interdição temporária de direitos, limitação de fim de semana ou multa. Caso haja o descumprimento das penas objeto da transação penal, não devem ser aplicadas as medidas de garantia previstas no art. 28, §6º, uma vez que elas destinam-se a forçar o condenado a cumprir a pena principal aplicada no processo penal. Para Andrey Borges e Paulo Galvão a melhor solução é a devolução dos autos ao Ministério Público para o oferecimento de denúncia, caso descumprida a transação penal. É esta a inclusive a posição dominante no STF (HC 79.572/GO e HC 80.83/MS) Art. 49. Tratando-se de condutas tipificadas nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 a 37 desta Lei, o juiz, sempre que as circunstâncias o recomendem, empregará os instrumentos protetivos de colaboradores e testemunhas previstos na Lei no 9.807, de 13 de julho de 1999. Compete ao Conselho Deliberativo, composto na forma do art. 4º da lei 9.807/99, após manifestação do Ministério Público, decidir Aula 8 – Delegado da Polícia Federal – 2013 Exercícios Comentados Pablo Farias Souza Cruz www.pontodosconcursos.com.br 20 sobre o ingresso do protegido no programa e sobre as providências necessárias ao cumprimento do programa. Seção I Da Investigação Art. 50. Ocorrendo prisão em flagrante, a autoridade de polícia judiciária fará, imediatamente, comunicação ao juiz competente, remetendo-lhe cópia do auto lavrado, do qual será dada vista ao órgão do Ministério Público, em 24 (vinte e quatro) horas. § 1o Para efeito da lavratura do auto de prisão em flagrante e estabelecimento da materialidade do delito, é suficiente o laudo de constatação da natureza e quantidade da droga, firmado por perito oficial ou, na falta deste, por pessoa idônea. § 2o O perito que subscrever o laudo a que se refere o § 1o deste artigo não ficará impedido de participar da elaboração do laudo definitivo A lei fala em “autoridade de polícia judiciária”. Com isso pretendeu deixar claro que não será tarefa da polícia militar lavrar o auto de prisão em flagrante, mas sim da polícia judiciária. Apesar de a disposição dar a impressão de que, uma vez detido o agente, a autoridade policial deva comunicar a prisão ao juiz antes de qualquer outro procedimento, não é esta a interpretação que se coaduna com o sistema processual penal. O art. 306, caput, do CPP, com a nova redação dada pela lei 11.449, de 15 de janeiro de 2007, dispõe que “a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados imediatamente ao juiz competente e à família do preso ou a pessoa por ele indicada.” Complementando, o §1º do mesmo artigo determina que “dentro de 24 horas depois da prisão, será encaminhado ao juiz competente o auto de prisão em flagrante acompanhado de todas as oitivas colhidas, e, caso o autuado não informe o nome de seu advogado, cópia integral para a Defensoria Aula 8 – Delegado da Polícia Federal – 2013 Exercícios Comentados Pablo Farias Souza Cruz www.pontodosconcursos.com.br 21 Pública”. Ou seja, a comunicação ai juiz deve ser feita já com o encaminhamento do auto de prisão em flagrante lavrado, o que deve ocorrer em até 24 horas após a prisão. E é exatamente isso o que dispõe o art. 50 da lei de drogas, ao exigir que a comunicação ao juiz deva ser acompanhada de cópia do auto de prisão lavrado. Consequência disso é que a comunicação “imediata” da prisão poderá ocorrer em até 24 horas. E a jurisprudência do STJ e do STF é no sentido de que a inobservância deste prazo não acarreta nulidade da prisão em flagrante, mas sim eventual responsabilidade administrativa (LC 75/93, art. 10). Laudo de constatação: Nos §§ 1º e 2º do art. 50 está prevista a suficiência do laudo de constatação da natureza e quantidade da droga – dito laudo preliminar - para a lavratura do auto de prisão em flagrante. Sua finalidade é unicamente comprovar, provisoriamente, a materialidade delitiva e poderá ser firmado por perito oficial ou pessoa idônea. Para se constatar definitivamente a materialidade do delito de drogas, não bastará o laudo de constatação, devendo ser elaborado um laudo de exame definitivo, também chamado de laudo de exame toxicológico, a ser realizado por um perito oficial ou dois não oficiais (segundo entendimento majoritário após as alterações do art. 159 do CPP). O perito que participou da confecção do laudo de constatação não ficará impedido de elaborar o laudo definitivo. O magistrado deverá requisitar o laudo definitivo quando do recebimento da denúncia, nos termos do art. 56, I da nova lei. Art. 51. O inquérito policial será concluído no prazo de 30 (trinta) dias, se o indiciado estiver preso, e de 90 (noventa) dias, quando solto. Aula 8 – Delegado da Polícia Federal – 2013 Exercícios Comentados Pablo Farias Souza Cruz www.pontodosconcursos.com.br 22 Parágrafo único. Os prazos a que se refere este artigo podem ser duplicados pelo juiz, ouvido o Ministério Público, mediante pedido justificado da autoridade de polícia judiciária. Com a nova lei, o prazo para conclusão do inquérito foi ampliado para 30 dias, em caso de investigados presos, e 90, caso estejam em liberdade, podendo estes prazos ser duplicados diante de pedido justificado da autoridade de polícia judiciária. Apesar do prazo do inquérito estabelecido indicar que a duplicação seria por uma única vez, nada impedirá que a autoridade policial faça sucessivos pedidos de prorrogação para a conclusão de diligências. Art. 52. Findos os prazos a que se refere o art. 51 desta Lei, a autoridade de polícia judiciária, remetendo os autos do inquérito ao juízo: I - relatará sumariamente as circunstâncias do fato, justificando as razões que a levaram à classificação do delito, indicando a quantidade e natureza da substância ou do produto apreendido, o local e as condições em que se desenvolveu a ação criminosa, as circunstâncias da prisão, a conduta, a qualificação e os antecedentes do agente; ou II - requererá sua devolução para a realização de diligências necessárias. Parágrafo único. A remessa dos autos far-se- á sem prejuízo de diligências complementares: I - necessárias ou úteis à plena elucidação do fato, cujo resultado deverá ser encaminhado ao juízo competente até 3 (três) dias antes da audiência de instrução e julgamento; II - necessárias ou úteis à indicação dos bens, direitos e valores de que seja titular o agente, ou que figurem em seu nome, cujo resultado deverá ser encaminhado ao juízo competente até 3 (três) dias antes da audiência de instrução e julgamento. Aula 8 – Delegado da Polícia Federal – 2013 Exercícios Comentados Pablo Farias Souza Cruz www.pontodosconcursos.com.br 23 A nova lei utiliza-se do procedimento de audiência una, na qual são realizados o interrogatório, a oitiva das testemunhas, as sustentações orais e a prolação da sentença. No que tange ao interrogatório, há forte entendimento no sentido de que as reformas promovidas em 2008 no CPP também tivessem o condão de alterar seu posicionamento para último ato da instrução, também nos procedimento especiais, isso por força do art. 394, § 4º do CPP. A providência do inciso II do § único do art. 52 também se afigura como disposição original no ordenamento brasileiro. O Ministério Público sempre pode requisitar à autoridade policial diligências em autos apartados ou complementares, mesmo depois deoferecida a ação penal. A particularidade aqui é que tais diligências dizem respeito à indicação dos bens, direitos e valores de que seja titular o agente, ou que figurem em seu nome. Qual a relevância do patrimônio do agente para a instrução e julgamento de determinada conduta? A identificação do patrimônio do agente tem duas finalidades. A primeira decorre do sensível aumento imposto às penas de multa. A segunda finalidade é a de identificar os bens do agente com o escopo de garantir que o juiz decida sobre o perdimento do produto e proveito do crime, nos termos do art. 63 da nova lei de drogas e do art. 91, II, b, do CP. Art. 53. Em qualquer fase da persecução criminal relativa aos crimes previstos nesta Lei, são permitidos, além dos previstos em lei, mediante autorização judicial e ouvido o Ministério Público, os seguintes procedimentos investigatórios: I - a infiltração por agentes de polícia, em tarefas de investigação, constituída pelos órgãos especializados pertinentes; II - a não-atuação policial sobre os portadores de drogas, seus precursores químicos ou outros produtos utilizados em sua produção, que se Aula 8 – Delegado da Polícia Federal – 2013 Exercícios Comentados Pablo Farias Souza Cruz www.pontodosconcursos.com.br 24 encontrem no território brasileiro, com a finalidade de identificar e responsabilizar maior número de integrantes de operações de tráfico e distribuição, sem prejuízo da ação penal cabível. Parágrafo único. Na hipótese do inciso II deste artigo, a autorização será concedida desde que sejam conhecidos o itinerário provável e a identificação dos agentes do delito ou de colaboradores A lei traz a previsão de procedimentos investigatórios especiais. O primeiro deles é a infiltração de agentes públicos em organizações criminosas. São requisitos para o deferimento e a execução da infiltração: 1) existência de procedimento formal de investigação; 2) requerimento ou manifestação favorável do Ministério Público; 3) autorização prévia da autoridade judiciária competente; indícios suficientes da prática de crimes de drogas; 4) real necessidade da medida; descrição detalhada dos meios de prova que poderão ser produzidos; 5) descrição pormenorizada com a delimitação das ações e comportamentos do agente infiltrado e prazo para a conclusão da diligência. Apesar de a regra ser a autoridade policial solicitar a infiltração, nada impede o Promotor de Justiça ou o Procurador da República de requerer ao magistrado a providência. A ação controlada é a autorização legal de suspensão do dever de realizar a captura imediata em caso de flagrante. Assim, monitora- se a ação dos investigados com o objetivo de responsabilizar maior número de integrantes das operações de tráfico. A nova lei foi mais genérica que a anterior, pois admite a não atuação policial para delitos em curso e em continuidade, Aula 8 – Delegado da Polícia Federal – 2013 Exercícios Comentados Pablo Farias Souza Cruz www.pontodosconcursos.com.br 25 integralmente, no território nacional – como já era permitido pela Lei das Organizações Criminosas (art. 2º, II da Lei 9034/95). É importante constatar que, na sistemática da Lei de Organizações Criminosas, não é necessário a autorização judicial para a ação controlada, ficando a critério da autoridade de polícia judiciária a medida. Diversamente, a nova lei de drogas exige expressamente, no caput e no § único do art. 53, a autorização judicial para que a autoridade policial deixe de efetuar a prisão em flagrante. Para concessão da medida, a nova lei exige duas condições: a) que se conheça o itinerário provável da droga; b) que se conheçam os agentes do delito e seus colaboradores, pois isso garante o conhecimento do eventual trajeto da droga e permite continuar a fiscalização sobre a substância ilícita. Diante da ampliação da gama de opções para a utilização da ação controlada (agora é possível para crimes praticados integralmente no país), deixou-se de prever o requisito de garantia contra a fuga dos suspeitos e o extravio das drogas por autoridades dos países estrangeiros, pelos quais as drogas tenham transitado ou venham a transitar (art. 33, II, lei 10409). Isto não significa que a providência não deva ser seguida em caso de delitos transnacionais, ficando a análise de sua necessidade sob o crivo do magistrado e dos órgãos da persecução penal. Art. 54. Recebidos em juízo os autos do inquérito policial, de Comissão Parlamentar de Inquérito ou peças de informação, dar-se-á vista ao Ministério Público para, no prazo de 10 (dez) dias, adotar uma das seguintes providências: I - requerer o arquivamento; II - requisitar as diligências que entender necessárias; Aula 8 – Delegado da Polícia Federal – 2013 Exercícios Comentados Pablo Farias Souza Cruz www.pontodosconcursos.com.br 26 III - oferecer denúncia, arrolar até 5 (cinco) testemunhas e requerer as demais provas que entender pertinentes. O prazo para o oferecimento da denúncia é de 10 dias, estando ou não o réu preso. Foi mantido o número de testemunhas que poderá o órgão acusatório arrolar na denúncia, qual seja, cinco. Art. 55. Oferecida a denúncia, o juiz ordenará a notificação do acusado para oferecer defesa prévia, por escrito, no prazo de 10 (dez) dias. § 1o Na resposta, consistente em defesa preliminar e exceções, o acusado poderá argüir preliminares e invocar todas as razões de defesa, oferecer documentos e justificações, especificar as provas que pretende produzir e, até o número de 5 (cinco), arrolar testemunhas. § 2o As exceções serão processadas em apartado, nos termos dos arts. 95 a 113 do Decreto-Lei no 3.689, de 3 de outubro de 1941 - Código de Processo Penal. § 3o Se a resposta não for apresentada no prazo, o juiz nomeará defensor para oferecê-la em 10 (dez) dias, concedendo-lhe vista dos autos no ato de nomeação. § 4o Apresentada a defesa, o juiz decidirá em 5 (cinco) dias. § 5o Se entender imprescindível, o juiz, no prazo máximo de 10 (dez) dias, determinará a apresentação do preso, realização de diligências, exames e perícias. Manteve a nova lei a sistemática introduzida pela lei 10409/02 sobre a chamada fase preliminar que introduziu um verdadeiro contraditório prévio ao recebimento da denúncia. Oferecida esta, deve o magistrado determinar a notificação do denunciado para apresentar defesa preliminar. Aula 8 – Delegado da Polícia Federal – 2013 Exercícios Comentados Pablo Farias Souza Cruz www.pontodosconcursos.com.br 27 Como neste passo ainda não houve recebimento da denúncia, melhor a nova redação, ao determinar a notificação apenas, como já era previsto, entre outros, no art. 514 do CPP (relativo aos procedimentos dos crimes funcionais) e no art. 4º da Lei 8038/90 (que define as normas procedimentais para os crimes de competência originária dos Tribunais). O acusado então deverá apresentar defesa escrita, no prazo de 10 dias. O prazo de 10 dias, no silêncio da lei, deve ser contado de acordo com a regra geral do Código de Processo Penal, prevista no art. 798, §5º, alínea “a”, segundo a qual os prazos correrão da intimação (Súmula 710, STF: no processo penal, contam-se os prazos da data da intimação, e não da juntada aos autos do mandado ou da carta precatória ou de ordem). Na resposta, poderá o acusado arguir todas as questões de fato e de direito, como também apresentar exceções de suspeição, incompetência do juízo, litispendência,ilegitimidade de parte e coisa julgada. Deverá ainda especificar as provas que pretende produzir, arrolando até o número de cinco testemunhas, sob pena de preclusão. É também na defesa preliminar que deve o acusado alegar a sua dependência à drogas para fins de realização de eventual exame pericial e aplicação dos arts. 45 e 46. A nova lei mencionou a possibilidade de nomeação de defensor dativo apenas para a hipótese de, notificado, o denunciado quedar-se inerte. Porém, a nova lei não tratou da hipótese de ele não ser encontrado para ser notificado. Deve o magistrado notificar o denunciado por edital ou bastaria a nomeação de defensor dativo para este ato? Aula 8 – Delegado da Polícia Federal – 2013 Exercícios Comentados Pablo Farias Souza Cruz www.pontodosconcursos.com.br 28 R.: No silêncio da nova lei, deve-se aplicar o art. 370 do CPP que, ao tratar das intimações e notificações, afirma que estas devem observar as mesmas regras da citação, no que for aplicável. A nova lei não previu mais a manifestação do Ministério Público sobre a defesa preliminar. No entanto, se esta trouxer alegações fáticas ou jurídicas que não foram tratadas pelo Ministério Público, entende-se necessária a abertura de vista para que se permita à acusação exercer o contraditório. O mesmo se diga se a defesa requerer realização de diligências, nos termos do art. 55, §1º, bem como documentos e provas novas. Como o § 4º do art. 55 dá ao juiz prazo de 5 fias para o juízo de prelibação, não há vedação para, dentro deste prazo, ele ouça o MP e decida. Art. 56. Recebida a denúncia, o juiz designará dia e hora para a audiência de instrução e julgamento, ordenará a citação pessoal do acusado, a intimação do Ministério Público, do assistente, se for o caso, e requisitará os laudos periciais. § 1o Tratando-se de condutas tipificadas como infração do disposto nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 a 37 desta Lei, o juiz, ao receber a denúncia, poderá decretar o afastamento cautelar do denunciado de suas atividades, se for funcionário público, comunicando ao órgão respectivo. § 2o A audiência a que se refere o caput deste artigo será realizada dentro dos 30 (trinta) dias seguintes ao recebimento da denúncia, salvo se determinada a realização de avaliação para atestar dependência de drogas, quando se realizará em 90 (noventa) dias. A lei determina a citação do acusado mesmo ele já tendo conhecimento da acusação, que se fará pessoalmente. Caso o denunciado já tenha constituído advogado na fase preliminar, não há razão para o magistrado suspender o processo Aula 8 – Delegado da Polícia Federal – 2013 Exercícios Comentados Pablo Farias Souza Cruz www.pontodosconcursos.com.br 29 com base no art. 366, CPP, pois a finalidade deste artigo já terá sido atingida. O art. 56, caput, continua a prever a possibilidade de assistência para os crimes previstos na lei. Contudo, é difícil definir uma pessoa determinada, como vítima desses crimes, pois os mesmos atingem a saúde pública, bem jurídico metaindividual. Por outro lado, poder-se-ia autorizar a assistência no caso de crime de prescrição irregular de drogas, previsto no art. 38, considerando-se que o prejudicado seria verdadeira vítima, ainda que secundária. O art. 56, § 1º traz dispositivo inovador que permite ao juiz, desde o recebimento da denúncia, determinar o afastamento de réu, que seja servidor público, de suas atividades, diante da prática das infrações mais graves. Nesse caso, além dos pressupostos cautelares gerais, o juiz deve constatar que a infração possua relação com o exercício funcional. Caso a defesa não tenha arguido a questão da dependência na fase da defesa preliminar, poderá o magistrado determinar a realização do exame, caso exista dúvida razoável sobre a dependência, redesignando a AIJ. Porém, caso o réu se encontre preso, não poderá alegar excesso de prazo da prisão (Súmula 64, STJ: não constitui constrangimento ilegal o excesso de prazo na instrução, provocado pela defesa). Suspensão Condicional do Processo: É cabível o benefício previsto no art. 89 da lei 9099/95 nos crimes dos arts. 33, §§2 º (induzimento ao uso) e 3º (uso compartilhado), 38 (prescrição ou ministração culposa) e 39, caput (condução de embarcação ou aeronave sob influência de droga). Aula 8 – Delegado da Polícia Federal – 2013 Exercícios Comentados Pablo Farias Souza Cruz www.pontodosconcursos.com.br 30 O Ministério Público deve, ao oferecer a denúncia, já determinar as condições do benefício. Art. 57. Na audiência de instrução e julgamento, após o interrogatório do acusado e a inquirição das testemunhas, será dada a palavra, sucessivamente, ao representante do Ministério Público e ao defensor do acusado, para sustentação oral, pelo prazo de 20 (vinte) minutos para cada um, prorrogável por mais 10 (dez), a critério do juiz. Parágrafo único. Após proceder ao interrogatório, o juiz indagará das partes se restou algum fato para ser esclarecido, formulando as perguntas correspondentes se o entender pertinente e relevante. Art. 58. Encerrados os debates, proferirá o juiz sentença de imediato, ou o fará em 10 (dez) dias, ordenando que os autos para isso lhe sejam conclusos. Manteve-se a unidade da audiência de instrução e julgamento. Destruição da droga apreendida: Art. 58 (...) § 1o Ao proferir sentença, o juiz, não tendo havido controvérsia, no curso do processo, sobre a natureza ou quantidade da substância ou do produto, ou sobre a regularidade do respectivo laudo, determinará que se proceda na forma do art. 32, § 1o, desta Lei, preservando-se, para eventual contraprova, a fração que fixar. § 2o Igual procedimento poderá adotar o juiz, em decisão motivada e, ouvido o Ministério Público, quando a quantidade ou valor da substância ou do produto o indicar, precedendo a medida a elaboração e juntada aos autos do laudo toxicológico. Aula 8 – Delegado da Polícia Federal – 2013 Exercícios Comentados Pablo Farias Souza Cruz www.pontodosconcursos.com.br 31 O art. 58, §1º sujeita a destruição das drogas apreendidas à prolação da sentença, e desde que não tenha havido controvérsia, no curso do processo, sobre sua natureza, fazendo remissão ao procedimento do art. 32, 1º. Em seguida o art. 58, §2º permite que a ordem de destruição antes da sentença, a depender de motivação sobre a necessidade da medida, diante da quantidade ou valor das drogas apreendidas, mas desde que juntado aos autos o laudo toxicológico. Trata-se, em verdade, de medida de natureza administrativa que tem por fim o resguardo da incolumidade, da ordem e da segurança públicas e que é posta sob a tutela do Poder Judiciário, do Ministério Público, das autoridades de polícia e das autoridades sanitárias. O art. 32 trata da destruição das plantações ilícitas e afirma que esta se dará de forma imediata, guardando-se quantidade suficiente para exame pericial (caput). Em seguida, seu §1º dispõe que as drogas serão destruídas no prazo máximo de 30 dias. Por isso, pode-se defender que a destruição das drogas pode ocorrer no prazo máximo de 30 dias após a elaboração do laudo de constatação preliminar. Excepcionalmente, caso haja controvérsia sobre a natureza da substância apreendida, poderá o juiz aguardar a elaboração do laudo definitivo. Direito de Recorrer em Liberdade: Art. 59 Nos crimes previstos nos arts. 33, caput e §1º, e 34 a 37 desta Lei, o réu não poderá apelarsem recolher-se a prisão, salvo se for primário e de bons antecedentes, assim reconhecido na sentença condenatória. Aula 8 – Delegado da Polícia Federal – 2013 Exercícios Comentados Pablo Farias Souza Cruz www.pontodosconcursos.com.br 32 Dispositivo superado diante da incidência do princípio da presunção de inocência e da revogação da fuga como causa de deserção e do recolhimento do réu como fato impeditivo, conforme tratamos ao falar da teoria geral dos recursos criminais. CAPÍTULO IV DA APREENSÃO, ARRECADAÇÃO E DESTINAÇÃO DE BENS DO ACUSADO Art. 60. O juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público ou mediante representação da autoridade de polícia judiciária, ouvido o Ministério Público, havendo indícios suficientes, poderá decretar, no curso do inquérito ou da ação penal, a apreensão e outras medidas assecuratórias relacionadas aos bens móveis e imóveis ou valores consistentes em produtos dos crimes previstos nesta Lei, ou que constituam proveito auferido com sua prática, procedendo-se na forma dos arts. 125 a 144 do Decreto-Lei no 3.689, de 3 de outubro de 1941 - Código de Processo Penal. § 1o Decretadas quaisquer das medidas previstas neste artigo, o juiz facultará ao acusado que, no prazo de 5 (cinco) dias, apresente ou requeira a produção de provas acerca da origem lícita do produto, bem ou valor objeto da decisão. § 2o Provada a origem lícita do produto, bem ou valor, o juiz decidirá pela sua liberação. § 3o Nenhum pedido de restituição será conhecido sem o comparecimento pessoal do acusado, podendo o juiz determinar a prática de atos necessários à conservação de bens, direitos ou valores. § 4o A ordem de apreensão ou seqüestro de bens, direitos ou valores poderá ser suspensa pelo juiz, ouvido o Ministério Público, quando a sua execução imediata possa comprometer as investigações. As medidas dirigidas ao produto ou proveito do crime estão descritas nos arts. 60 e 61. Produto do crime é o bem obtido diretamente pela prática criminosa, como, por exemplo, o dinheiro Aula 8 – Delegado da Polícia Federal – 2013 Exercícios Comentados Pablo Farias Souza Cruz www.pontodosconcursos.com.br 33 obtido com a venda de droga. Já o proveito auferido pelo agente com a prática do crime, também chamado de produto indireto, é o bem obtido com o produto do crime. Ambos, produto e proveito podem ser designados pela expressão producta sceleris. A disciplina da apreensão, utilização e arrecadação dos instrumentos do crime é tratada no art. 62. Para garantir o perdimento ou confisco, os bens utilizados na prática do crime, assim como os que constituam produto do crime, devem ser apreendidos (art. 240, §1º, b CPP). O proveito do crime deve ser sequestrado (arts. 125 a 132 do CPP). Por fim, para garantir a indenização do dano causado pelo crime e o pagamento das penas pecuniárias e das despesas processuais (art. 140, CPP), são cabíveis a especialização da hipoteca legal (arts.134 a 136) e o arresto (arts. 136 e 137). A nova lei introduziu disciplina específica para a apreensão dos bens que constituam produto ou proveito da prática dos crimes nela tipificados. O art. 60, §1º afastou-se das disposições do CPP. A ordem judicial encontra fundamento na existência de indícios suficientes, mas estes podem ser infirmados pela apresentação ou requerimento de provas pelo acusado. Não há qualquer violação ao princípio da presunção da inocência nesta medida. Está previsto que a apreensão e o sequestro dos produtos ou proveitos do crime poderão ser decretados tanto no curso do inquérito como durante a ação penal. Mas, a lei não estipula por quanto tempo poderá perdurar a medida antes da instauração da ação penal. Art. 61. Não havendo prejuízo para a produção da prova dos fatos e comprovado o interesse Aula 8 – Delegado da Polícia Federal – 2013 Exercícios Comentados Pablo Farias Souza Cruz www.pontodosconcursos.com.br 34 público ou social, ressalvado o disposto no art. 62 desta Lei, mediante autorização do juízo competente, ouvido o Ministério Público e cientificada a Senad, os bens apreendidos poderão ser utilizados pelos órgãos ou pelas entidades que atuam na prevenção do uso indevido, na atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas e na repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas, exclusivamente no interesse dessas atividades. Parágrafo único. Recaindo a autorização sobre veículos, embarcações ou aeronaves, o juiz ordenará à autoridade de trânsito ou ao equivalente órgão de registro e controle a expedição de certificado provisório de registro e licenciamento, em favor da instituição à qual tenha deferido o uso, ficando esta livre do pagamento de multas, encargos e tributos anteriores, até o trânsito em julgado da decisão que decretar o seu perdimento em favor da União. Trata-se de normatização relativa ao uso dos bens apreendidos na forma do art. 60, isto é, que constituam produto ou proveito dos crimes relacionados a drogas. A autorização pode ser dada tanto no curso do inquérito policial quanto durante a ação penal, mediante decisão do juiz competente. A utilização destes bens não se restringe aos órgãos públicos que exerçam atividades de repressão ao tráfico. A lei permite que sejam destinados a qualquer órgão ou entidade que atuem em todas as atividades previstas na lei. Art. 62. Os veículos, embarcações, aeronaves e quaisquer outros meios de transporte, os maquinários, utensílios, instrumentos e objetos de qualquer natureza, utilizados para a prática dos crimes definidos nesta Lei, após a sua regular apreensão, ficarão sob custódia da autoridade de polícia judiciária, excetuadas as armas, que serão recolhidas na forma de legislação específica. Aula 8 – Delegado da Polícia Federal – 2013 Exercícios Comentados Pablo Farias Souza Cruz www.pontodosconcursos.com.br 35 § 1o Comprovado o interesse público na utilização de qualquer dos bens mencionados neste artigo, a autoridade de polícia judiciária poderá deles fazer uso, sob sua responsabilidade e com o objetivo de sua conservação, mediante autorização judicial, ouvido o Ministério Público. § 2o Feita a apreensão a que se refere o caput deste artigo, e tendo recaído sobre dinheiro ou cheques emitidos como ordem de pagamento, a autoridade de polícia judiciária que presidir o inquérito deverá, de imediato, requerer ao juízo competente a intimação do Ministério Público. § 3o Intimado, o Ministério Público deverá requerer ao juízo, em caráter cautelar, a conversão do numerário apreendido em moeda nacional, se for o caso, a compensação dos cheques emitidos após a instrução do inquérito, com cópias autênticas dos respectivos títulos, e o depósito das correspondentes quantias em conta judicial, juntando-se aos autos o recibo. § 4o Após a instauração da competente ação penal, o Ministério Público, mediante petição autônoma, requererá ao juízo competente que, em caráter cautelar, proceda à alienação dos bens apreendidos, excetuados aqueles que a União, por intermédio da Senad, indicar para serem colocados sob uso e custódia da autoridade de polícia judiciária, de órgãos de inteligência ou militares, envolvidos nas ações de prevenção ao uso indevido de drogas e operações de repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas, exclusivamente no interesse dessas atividades. § 5o Excluídos os bens que se houver indicado para os fins previstos no § 4o deste artigo, o requerimento de alienação deverá conter a relaçãode todos os demais bens apreendidos, com a descrição e a especificação de cada um deles, e informações sobre quem os tem sob custódia e o local onde se encontram. § 6o Requerida a alienação dos bens, a respectiva petição será autuada em apartado, cujos autos terão tramitação autônoma em relação aos da ação penal principal. Aula 8 – Delegado da Polícia Federal – 2013 Exercícios Comentados Pablo Farias Souza Cruz www.pontodosconcursos.com.br 36 § 7o Autuado o requerimento de alienação, os autos serão conclusos ao juiz, que, verificada a presença de nexo de instrumentalidade entre o delito e os objetos utilizados para a sua prática e risco de perda de valor econômico pelo decurso do tempo, determinará a avaliação dos bens relacionados, cientificará a Senad e intimará a União, o Ministério Público e o interessado, este, se for o caso, por edital com prazo de 5 (cinco) dias. § 8o Feita a avaliação e dirimidas eventuais divergências sobre o respectivo laudo, o juiz, por sentença, homologará o valor atribuído aos bens e determinará sejam alienados em leilão. § 9o Realizado o leilão, permanecerá depositada em conta judicial a quantia apurada, até o final da ação penal respectiva, quando será transferida ao Funad, juntamente com os valores de que trata o § 3o deste artigo. § 10. Terão apenas efeito devolutivo os recursos interpostos contra as decisões proferidas no curso do procedimento previsto neste artigo. § 11. Quanto aos bens indicados na forma do § 4o deste artigo, recaindo a autorização sobre veículos, embarcações ou aeronaves, o juiz ordenará à autoridade de trânsito ou ao equivalente órgão de registro e controle a expedição de certificado provisório de registro e licenciamento, em favor da autoridade de polícia judiciária ou órgão aos quais tenha deferido o uso, ficando estes livres do pagamento de multas, encargos e tributos anteriores, até o trânsito em julgado da decisão que decretar o seu perdimento em favor da União. A previsão do art. 62, em relação aos instrumentos do crime, é mais restritiva, pois não alcança entidades não governamentais, e não se destina às atividades de atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas. O momento processual a partir do qual se passa a permitir a utilização dos bens deixa de ser a instauração da ação penal e passa Aula 8 – Delegado da Polícia Federal – 2013 Exercícios Comentados Pablo Farias Souza Cruz www.pontodosconcursos.com.br 37 a ser no momento de sua apreensão. E poderá persistir até a instauração da ação, quando se farão necessárias outras medidas para definir se será mantida a utilização, se será indicado outro órgão ou será objeto de alienação cautelar. Art. 63. Ao proferir a sentença de mérito, o juiz decidirá sobre o perdimento do produto, bem ou valor apreendido, seqüestrado ou declarado indisponível. § 1o Os valores apreendidos em decorrência dos crimes tipificados nesta Lei e que não forem objeto de tutela cautelar, após decretado o seu perdimento em favor da União, serão revertidos diretamente ao Funad. § 2o Compete à Senad a alienação dos bens apreendidos e não leiloados em caráter cautelar, cujo perdimento já tenha sido decretado em favor da União. § 3o A Senad poderá firmar convênios de cooperação, a fim de dar imediato cumprimento ao estabelecido no § 2o deste artigo. § 4o Transitada em julgado a sentença condenatória, o juiz do processo, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, remeterá à Senad relação dos bens, direitos e valores declarados perdidos em favor da União, indicando, quanto aos bens, o local em que se encontram e a entidade ou o órgão em cujo poder estejam, para os fins de sua destinação nos termos da legislação vigente. Art. 64. A União, por intermédio da Senad, poderá firmar convênio com os Estados, com o Distrito Federal e com organismos orientados para a prevenção do uso indevido de drogas, a atenção e a reinserção social de usuários ou dependentes e a atuação na repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas, com vistas na liberação de equipamentos e de recursos por ela arrecadados, para a implantação e execução de programas relacionados à questão das drogas. Aula 8 – Delegado da Polícia Federal – 2013 Exercícios Comentados Pablo Farias Souza Cruz www.pontodosconcursos.com.br 38 Ao cabo da ação penal, deve o juiz declarar o perdimento dos bens apreendidos ou sequestrados, que constituíram produto, proveito ou instrumento do crime. Em relação aos instrumentos do crime, a lei de drogas distancia-se do regime geral do Código Penal, em que apenas os bens cujo uso, fabrico, alienação, porte ou detenção constituam fato ilícito serão perdidos. Para os crimes de drogas, todo e qualquer bem utilizado para a prática do crime, seja ele ilícito ou lícito, por si só, será perdido em favor da União. O caput do art. 63 afastou-se do art. 91 do CP, ao determinar que o magistrado motive o perdimento destes bens na sentença condenatória. Veja, que enquanto no código Penal o perdimento dos bens é efeito automático da sentença condenatória – portanto, o magistrado sequer precisa expressamente declará-lo, pois é decorrência automática da condenação -, parece que foi intenção do presente artigo transformar em efeito específico da condenação o perdimento do produto, bem ou valor apreendido, seqüestrado ou declarado indisponível, de modo que o magistrado deverá motivar na sentença a sua ocorrência. Liberdade Provisória na lei de Drogas Art. 44. Os crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 a 37 desta Lei são inafiançáveis e insuscetíveis de sursis, graça, indulto, anistia e liberdade provisória, vedada a conversão de suas penas em restritivas de direitos. Parágrafo único. Nos crimes previstos no caput deste artigo, dar-se-á o livramento condicional após o cumprimento de dois terços da pena, vedada sua concessão ao reincidente específico. Sobre o tema, recentemente, decidiu o STF: Aula 8 – Delegado da Polícia Federal – 2013 Exercícios Comentados Pablo Farias Souza Cruz www.pontodosconcursos.com.br 39 “Tráfico de drogas e liberdade provisória – 1: O Plenário, por maioria, deferiu parcialmente habeas corpus — afetado pela 2ª Turma — impetrado em favor de condenado pela prática do crime descrito no art. 33, caput, c/c o art. 40, III, ambos da Lei 11.343/2006, e determinou que sejam apreciados os requisitos previstos no art. 312 do CPP para que, se for o caso, seja mantida a segregação cautelar do paciente. Incidentalmente, também por votação majoritária, declarou a inconstitucionalidade da expressão “e liberdade provisória”, constante do art. 44, caput, da Lei 11.343/2006 (“Os crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º, e 34 a 37 desta Lei são inafiançáveis e insuscetíveis de sursis, graça, indulto, anistia e liberdade provisória, vedada a conversão de suas penas em restritivas de direitos”). A defesa sustentava, além da inconstitucionalidade da vedação abstrata da concessão de liberdade provisória, o excesso de prazo para o encerramento da instrução criminal no juízo de origem. HC 104339/SP, rel. Min. Gilmar Mendes, 10.5.2012. (HC- 104339) Tráfico de drogas e liberdade provisória – 2: Discorreu-se que ambas as Turmas do STF teriam consolidado, inicialmente, entendimento no sentido de que não seria cabível liberdade provisória aos crimes de tráfico de entorpecentes, em face da expressa previsão legal. Entretanto, ressaltou-se que a 2ª Turma viria afastando a incidênciada proibição em abstrato. Reconheceu-se a inafiançabilidade destes crimes, derivada da Constituição (art. 5º, XLIII). Asseverou-se, porém, que essa vedação conflitaria com outros princípios também revestidos de dignidade constitucional, como a presunção de inocência e o devido processo legal. Demonstrou-se que esse empecilho apriorístico de concessão de liberdade provisória seria incompatível com estes postulados. Ocorre que a disposição do Aula 8 – Delegado da Polícia Federal – 2013 Exercícios Comentados Pablo Farias Souza Cruz www.pontodosconcursos.com.br 40 art. 44 da Lei 11.343/2006 retiraria do juiz competente a oportunidade de, no caso concreto, analisar os pressupostos de necessidade da custódia cautelar, a incorrer em antecipação de pena. Frisou-se que a inafiançabilidade do delito de tráfico de entorpecentes, estabelecida constitucionalmente, não significaria óbice à liberdade provisória, considerado o conflito do inciso XLIII com o LXVI (“ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança”), ambos do art. 5º da CF. Concluiu-se que a segregação cautelar — mesmo no tráfico ilícito de entorpecentes — deveria ser analisada assim como ocorreria nas demais constrições cautelares, relativas a outros delitos dispostos no ordenamento. Impenderia, portanto, a apreciação dos motivos da decisão que denegara a liberdade provisória ao paciente do presente writ, no intuito de se verificar a presença dos requisitos do art. 312 do CPP. Salientou-se que a idoneidade de decreto de prisão processual exigiria a especificação, de modo fundamentado, dos elementos autorizadores da medida (CF, art. 93, IX). Verificou-se que, na espécie, o juízo de origem, ao indeferir o pedido de liberdade provisória formulado pela defesa, não indicara elementos concretos e individualizados, aptos a justificar a necessidade da constrição do paciente, mas somente aludira à indiscriminada vedação legal. Entretanto, no que concerne ao alegado excesso de prazo na formação da culpa, reputou-se que a tese estaria prejudicada, pois prolatada sentença condenatória confirmada em sede de apelação, na qual se determinara a continuidade da medida acauteladora, para a garantia da ordem pública. HC 104339/SP, rel. Min. Gilmar Mendes, 10.5.2012. (HC- 104339) Tráfico de drogas e liberdade provisória – 3: O Min. Dias Toffoli acresceu que a inafiançabilidade não constituiria causa Aula 8 – Delegado da Polícia Federal – 2013 Exercícios Comentados Pablo Farias Souza Cruz www.pontodosconcursos.com.br 41 impeditiva da liberdade provisória. Afirmou que a fiança, conforme estabelecido no art. 322 do CPP, em certas hipóteses, poderia ser fixada pela autoridade policial, em razão de requisitos objetivos fixados em lei. Quanto à liberdade provisória, caberia ao magistrado aferir sua pertinência, sob o ângulo da subjetividade do agente, nos termos do art. 310 do CPP e do art. 5º, LXVI, da CF. Sublinhou que a vedação constante do art. 5º, XLIII, da CF diria respeito apenas à fiança, e não à liberdade provisória. O Min. Ricardo Lewandowski lembrou que, no julgamento da ADI 3112/DF (DJe de 26.10.2007), a Corte assinalara a vedação constitucional da prisão ex lege, bem assim que os princípios da presunção de inocência e da obrigatoriedade de fundamentação de ordem prisional por parte da autoridade competente mereceriam ponderação maior se comparados à regra da inafiançabilidade. O Min. Ayres Britto, Presidente, consignou que, em direito penal, deveria ser observada a personalização. Evidenciou a existência de regime constitucional da prisão (art. 5º, LXII, LXV e LXVI) e registrou que a privação da liberdade seria excepcional. HC 104339/SP, rel. Min. Gilmar Mendes, 10.5.2012. (HC- 104339) Tráfico de drogas e liberdade provisória – 4: Vencidos os Ministros Luiz Fux, Joaquim Barbosa e Marco Aurélio, que entendiam constitucional, em sua integralidade, o disposto no art. 44 da Lei 11.343/2006. O Min. Luiz Fux denegava a ordem. Explicitava que a Constituição, ao declarar inafiançável o tráfico, não dera margem de conformação para o legislador. O Min. Joaquim Barbosa, a seu turno, concedia o writ por entender deficiente a motivação da mantença da prisão processual. Por sua vez, o Min. Marco Aurélio também concedia a ordem, mas por verificar excesso de prazo na formação da culpa, visto que o paciente estaria preso desde agosto de 2009. Ao Aula 8 – Delegado da Polícia Federal – 2013 Exercícios Comentados Pablo Farias Souza Cruz www.pontodosconcursos.com.br 42 fim, o Plenário, por maioria, autorizou os Ministros a decidirem, monocraticamente, os habeas corpus quando o único fundamento da impetração for o art. 44 da Lei 11.343/2006. Vencido, no ponto, o Min. Marco Aurélio. HC 104339/SP, rel. Min. Gilmar Mendes, 10.5.2012. (HC- 104339)”9 9 Disponível em: http://www.stf.jus.br//arquivo/informativo/documento/informativo665.htm Aula 8 – Delegado da Polícia Federal – 2013 Exercícios Comentados Pablo Farias Souza Cruz www.pontodosconcursos.com.br 43 QUESTÃO SIMULADA Atualmente há definição de organização criminosa na legislação brasileira. Gabarito: Certo QUESTÃO SIMULADA Segundo a legislação brasileira, considera-se organização criminosa a associação, de 3 (três) ou mais pessoas, estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, formalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de crimes cuja pena máxima seja igual ou superior a 4 (quatro) anos ou que sejam de caráter transnacional. Gabarito: Errado Comentário: A parte sublinhada está errada, conforme se verá adiante. Na oportunidade, visando ampliar o estudo e abarcar possíveis questionamentos, passamos a fazer considerações teóricas sobre a matéria: Lei Federal nº 9.034/1995. Na verdade, essa lei é eminentemente processual. Regula aspectos processuais relacionados a: � meios de prova; e � procedimentos investigatórios. É só isso do que trata a Lei 9.03/95. Agora, sobre qualquer delito? Não. Ela vai fazer menção a meios de prova e procedimentos investigatórios que poderão ser adotados aos ilícitos praticados por: Aula 8 – Delegado da Polícia Federal – 2013 Exercícios Comentados Pablo Farias Souza Cruz www.pontodosconcursos.com.br 44 � Quadrilha ou bando � Associações criminosas � Organizações criminosas Esse é o objeto da Lei 9.034/95. Se alguém perguntar: essa lei trata do quê? Você vai dizer: essa lei trata de meios de prova e procedimentos investigatórios relativos a crimes praticados por quadrilha ou bando, associações criminosas e organizações criminosas. É isso do que trata a lei. Vejamos o art. 1º da Lei 9.034/95: Art. 1º Esta Lei define e regula meios de prova e procedimentos investigatórios que versem sobre ilícitos decorrentes de ações praticadas por quadrilha ou bando ou organizações ou associações criminosas de qualquer tipo. Alterado pela L-010.217-2001) A Lei 9.034, vocês vão perceber, é toda confusa. E por quê? Olha a ementa dela: Dispõe sobre a utilização de meios operacionais para a prevenção e repressão de ações praticadas por organizações criminosas. Então, começa fazendo menção a organizações.
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