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PROCESSUAL PENAL DESMEMBRADO - AULA 10e11/11

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Aula 9 – Delegado da Polícia Federal – 2013 
Exercícios Comentados 
Pablo Farias Souza Cruz www.pontodosconcursos.com.br 
1 
Aula 9 – Delegado da Polícia Federal – 2013 
Olá amigos, 
Bom dia! 
Boa tarde! e 
Boa noite! 
Nosso objetivo de hoje: 
Aula 9: 
11 Interceptação telefônica (Lei nº 9.296/1996). 
12 Direito de representação e processo de responsabilidade 
administrativa civil e penal nos casos de abuso de autoridade 
(Lei nº 4.898/1965). 
13 Estatuto do desarmamento (Lei nº 10.826/2003). 
14 Apresentação e uso de documento de identificação pessoal 
(Lei nº 5.553/1968). 
15 Código de Proteção e Defesa do Consumidor (Lei nº 
8.078/1990). 
16 Estatuto do Índio (Lei nº 6.001/1973). 
17 Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/1990). 
18 Código Eleitoral (Lei nº 4.737/1965). 
19 Execução Penal (Lei nº 7.210/1984). 
20 Juizados especiais criminais (Lei nº 9.099/1995). Lei
Tratada na aula 3. 
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2013 – CESPE 
Um delegado de polícia, tendo recebido denúncia anônima de 
que Mílton estaria abusando sexualmente de sua própria filha, 
requereu, antes mesmo de colher provas acerca da informação 
recebida, a juiz da vara criminal competente a interceptação das 
comunicações telefônicas de Mílton pelo prazo de quinze dias, 
sucessivamente prorrogado durante os quarenta e cinco dias de 
investigação. 
Kátia, ex-mulher de Mílton, contratou o advogado Caio para 
acompanhar o inquérito policial instaurado. Mílton, então, ainda no 
curso da investigação, resolveu interceptar, diretamente e sem o 
conhecimento de Caio e Kátia, as ligações telefônicas entre eles, 
tendo tomado conhecimento, devido às interceptações, de que o 
advogado cometera o crime de tráfico de influência. Em razão disso, 
Mílton procurou Kátia e solicitou que ela concordasse com a 
divulgação do conteúdo das gravações telefônicas, ao que Kátia anuiu 
expressamente. Mílton, então, apresentou ao delegado o conteúdo 
das gravações, que foram utilizadas para subsidiar ação penal 
iniciada pelo MP contra Caio, pela prática do crime de tráfico de 
influência. 
Com base nessa situação hipotética, julgue os itens seguintes, 
a respeito das interceptações telefônicas. 
58 O fato de Kátia – que era interlocutora dos diálogos 
gravados – ter consentido posteriormente com a divulgação do 
conteúdo das gravações não legitima o ato nem justifica sua 
utilização como prova. 
Certo 
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3 
59 O delegado de polícia não poderia ter determinado a 
instauração de inquérito policial exclusivamente com base na 
denúncia anônima recebida. 
Certo 
60 A interceptação telefônica solicitada pelo delegado de polícia 
e autorizada judicialmente é nula, haja vista ter sido sucessivamente 
prorrogada pelo magistrado por prazo superior a trinta dias, o que 
contraria a previsão legal de que o prazo da interceptação telefônica 
não pode exceder quinze dias, renovável uma vez por igual período. 
Errado 
61 A interceptação telefônica realizada por Mílton é ilegal, 
porquanto desprovida da necessária autorização judicial. 
Certo 
Na oportunidade, visando ampliar o estudo e abarcar possíveis 
questionamentos, passamos a fazer considerações teóricas sobre a 
matéria: 
Lei Federal nº 9.296/1996 (Interceptação telefônica). 
INTERCEPTAÇÃO: REQUISITOS CONSTITUCIONAIS 
O art. 5º, XII autoriza a interceptação telefônica, mas desde 
que preenchidos três requisitos: 
1. Nos casos e na forma que a lei estabelecer. 
2. Por ordem judicial. 
3. Para fins de investigação criminal ou instrução 
processual penal. 
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1º REQUISITO: Nos casos e na forma que a lei estabelecer 
O primeiro requisito (nos casos e na forma que a lei 
estabelecer) é uma lei regulamentadora do dispositivo. Ou seja, uma 
lei que regulamente os casos e a forma dessa interceptação. Os casos 
nos quais a interceptação será realizada e a forma como será 
realizada como, por exemplo, o prazo. 
Deve-se atentar para o seguinte: a Constituição é de 1988 e a 
lei regulamentadora só foi editada em 1996. 
Bom, como então se fazia a interceptação telefônica no Brasil 
de 1988 até 1996? 
R.: Enquanto não surgiu a lei, os juízes a autorizavam com 
fundamento no art. 57, II, “e”, do Código Brasileiro de 
Telecomunicações. Contudo, todas essas interceptações foram 
consideradas provas ilícitas. Todas as interceptações realizadas antes 
de 1996 foram consideradas provas ilícitas pelo STF e pelo STJ. 
Em outras palavras, o Supremo e o STJ concluíram que o art. 
5º, XII não era uma norma autoaplicável, dependendo de 
regulamentação por legislação infraconstitucional. 
Até que sobreveio a Lei 9.296/96 e então foi satisfeito o 
primeiro requisito constitucional. Em seu art. 1º, a lei diz o seguinte: 
Art. 1º A interceptação de comunicações telefônicas, de 
qualquer natureza, para prova em criminal e em instrução 
processual penal, observará o disposto nesta Lei e dependerá de 
ordem do juiz competente da ação principal, sob segredo de justiça. 
Esta lei, portanto, regulamenta qualquer espécie de 
interceptação telefônica. Vejamos as espécies listadas pela doutrina: 
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I - Interceptação Telefônica ou Interceptação Telefônica em 
sentido estrito - “É a captação da conversa telefônica feita por um 
terceiro sem o conhecimento dos interlocutores.” 
II. Escuta Telefônica - “É a captação da conversa telefônica 
feita por um terceiro com o conhecimento de um dos interlocutores e 
sem o conhecimento do outro.” 
Nestas duas primeiras espécies, a captação da conversa é feita 
por um terceiro. A diferença é que na interceptação nenhum dos 
interlocutores sabe. Na escuta, um deles sabe. 
III. Gravação Telefônica ou, também chamada pelo STF, de 
Gravação Clandestina - “É a captação da conversa telefônica feita 
por um dos próprios interlocutores da conversa.” 
Percebam. Agora, nós não temos a figura do terceiro 
interceptador. A conversa está sendo gravado por um dos próprios 
interlocutores. 
IV. Interceptação Ambiental - “É a captação da conversa 
ambiente feita por um terceiro sem o conhecimento dos 
interlocutores.” 
V. Escuta Ambiental - “É a captação da conversa ambiente 
feita por um terceiro com o conhecimento de um dos interlocutores e 
sem o conhecimento do outro.” 
VI. Gravação Ambiental - “É a captação da conversa 
ambiente feita por um dos um dos interlocutores.” 
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Assim temos: 
 Interceptação telefônica e interceptação ambiental; 
 Escuta telefônica e escuta ambiental; 
 Gravação telefônica e gravação ambiental; 
Das seis espécies, as únicas duas que se submetem ao art. 5º, 
XII e, portanto, ao regime da Lei 9.296/96, são as duas primeiras. 
Isso quem afirma é o STF e o STJ. 
E por que só essas duas situações? Porque só nessas duas 
situações é que se tem: 
 Um terceiro interceptador e 
 Uma comunicação telefônica. 
Daí só essas duas primeiras hipóteses serem consideradas pelo 
Supremo interceptações telefônicas. Agora, essasoutras quatro 
situações, gravação telefônica e interceptações ambientais não se 
submetem ao regime do art. 5º, XII. Por que não? 
A gravação telefônica não se submete porque não há a figura 
do terceiro interceptador. Não existe, na situação da gravação 
telefônica, a figura do terceiro interceptador. É o próprio interlocutor 
que capta a conversa. 
Pergunta-se: Precisa de ordem judicial para fazer a gravação 
telefônica? Eu estou conversando com a pessoa ao telefone e quero 
gravar a conversa. Preciso de ordem judicial? 
R.: Não preciso. Isso foi decidido pelo Plenário do STF, na Ação 
Penal 447/RS, julgada em 18/02/09. 
Cuidado! Essas 4 hipóteses: gravação telefônica, 
interceptação/escuta/gravação ambiental, não precisam de ordem 
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judicial, pois não entram no regime do art. 5º, XII, sendo, a princípio, 
provas lícitas, salvo se atingirem o direito à intimidade. 
Ou seja, salvo se a conversa captada for uma conversa da vida 
privada da pessoa. Nesse caso, a prova será ilícita. Mas será ilícita 
por falta de ordem judicial? Não. Será ilícita por violação ao direito à 
intimidade. Será ilícita, não por violação ao inciso XII, mas por 
violação ao inciso X, do art. 5º, que garante o direito à intimidade. 
Situação: Você, como delegado, chamou o criminoso na 
delegacia e disse: “confessa o crime pra mim. Só para mim, para eu 
poder ir atrás dos outros e aí você some.” O sujeito contou o crime 
para você, delegado, que estava com um gravador. 
O que ele fez? R.: Gravação ambiental. 
Essa prova é lícita? R.: O Supremo afirmou que isso é forma de 
interrogatório ilegal, sem as garantias constitucionais e processuais. 
“Gravação ambiental feita pela polícia para obter 
confissão de criminoso: prova ilícita (STF)” 
O Supremo considerou que isso é espécie de interrogatório sub-
reptício (foi o termo que o ministro usou), realizado sem as garantias 
constitucionais e processuais. 
Cuidado: na Lei do Crime Organizado, a polícia pode realizar 
gravação ambiental para obter qualquer prova, inclusive confissão, 
desde que com ordem judicial (art. 2º, IV, da Lei 9.034/95). Mas 
mesmo lá precisa de ordem judicial. 
Quebra de sigilo telefônico não se confunde com interceptação 
de comunicação telefônica. São coisas completamente diferentes. 
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Quebra de sigilo telefônico significa requisitar à operadora de 
telefonia a relação das ligações efetuadas e recebidas pela linha 
interceptada. 
Essa quebra de sigilo telefônico só permite saber para quais 
números ligou, de que números recebeu ligações. Não dá acesso ao 
teor do que foi falado. Percebam que a quebra do sigilo telefônico 
permite apenas identificar: dia, hora e número das chamadas, mas 
não dá acesso ao teor das conversas telefônicas. 
Nesse contexto se pergunta: É necessária ordem judicial? 
R.: Sim, mas não por conta do art. 5º, XII, e sim em razão do 
inciso X, que protege a vida privada, a intimidade, a privacidade. 
Tema que interessa à você, futuro Delegado: 
Relação das últimas ligações na memória do celular. A 
polícia quando prende o criminoso (traficante, ladrão de carga), 
costuma apreender celular. A polícia pode utilizar os números 
gravados na memória do celular que foram usados nas últimas 
ligações para investigar sem ordem judicial? O STJ foi chamado a se 
pronunciar sobre a questão e decidiu da seguinte forma: 
STJ: “a utilização pela polícia, sem ordem judicial, das ligações 
registradas na memória do celular apreendido é prova lícita, pois não 
configura nem interceptação telefônica, nem quebra de sigilo 
telefônico por não haver acesso a todas as ligações efetuadas e 
recebidas por aquele aparelho.” (HC 66368/PA, 2007, 5ª Turma do 
STJ). 
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Interceptação de comunicações telefônicas de advogados. 
Pergunta-se: O advogado pode ser grampeado? 
R.: Devemos delinear as situações: 
1ª Situação: As conversas entre o advogado e o 
acusado/investigado (seu cliente) JAMAIS podem ser interceptadas e 
utilizadas no processo porque essas conversas estão protegidas por 
duas garantias: 
 Garantia do sigilo profissional do advogado e 
 Direito da não auto-incriminação. 
2ª Situação: Se o advogado é o próprio investigado ou acusado. 
As conversas telefônicas referentes ao crime pelo qual o advogado 
está sendo investigado ou acusado podem ser interceptadas e 
utilizadas no processo. Nesse caso, não há o sigilo profissional porque 
o advogado não está sendo interceptado na condição de advogado, e 
sim na condição de suspeito ou acusado de crime. Portanto, não há 
garantia de sigilo profissional, pois os direitos e garantias 
fundamentais não podem servir de escudo para a prática de ilícitos. 
2º REQUISITO: Para fins de investigação criminal/instrução 
processual penal 
Dispõe o art. 5º, XII, da CF: 
XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das 
comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, 
salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma 
que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou 
instrução processual penal; 
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A constituição não está dizendo apenas que a interceptação tem 
que ser realizada no processo ou investigação criminal. Está dizendo 
mais: que a interceptação só pode ser utilizada para fins de 
investigação criminal e instrução processual penal. 
Disso resulta o seguinte: o juiz não pode autorizar a 
interceptação em processo civil, administrativo, tributário, etc. Não se 
pode autorizar interceptações nesses casos. Também não pode 
autorizar em inquérito civil instaurado pelo MP porque não é 
procedimento criminal. 
Contudo fique alerta para uma questão: Pode uma 
interceptação, feita devidamente numa investigação criminal, ou num 
processo penal, ser transportada como prova emprestada para um 
processo administrativo disciplinar, por exemplo? 
O Supremo foi chamado a se manifestar nessa questão e 
Supremo decidiu que a interceptação feita na investigação criminal ou 
no processo penal pode ser utilizada como prova emprestada em 
processo administrativo disciplinar, inclusive contra outros servidores 
que não figuraram na investigação criminal. 
STJ segue a mesma a orientação do STF e admite a utilização 
de prova emprestada. 
Por fim registre-se que não precisa de inquérito para autorizar a 
interceptação. Isso porque tanto o art. 5º, XII, da Constituição, 
quanto o art. 1º, da Lei 9.296/96, utilizam a expressão “investigação 
criminal”. 
3º REQUISITO: Ordem judicial
O art. 5º, XII, da Constituição exige ordem judicial apenas. 
Então, nós poderíamos pensar em qualquer juiz. Ocorre que o art. 1º, 
da Lei de Interceptação afirma: “ordem do juiz competente para a 
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ação principal. Assim, não é qualquer juiz que pode autorizar a 
interceptação. 
Conclusão: Só os juízes criminais têm competência para 
determinar a interceptação telefônica. 
Art. 1º A interceptação de comunicações telefônicas, de 
qualquer natureza, para prova emcriminal e em instrução 
processual penal, observará o disposto nesta Lei e dependerá de 
ordem do juiz competente da ação principal, sob segredo de 
justiça. 
Contudo se houver mudança de competência em razão das 
interceptações, a interceptação autorizada pelo juiz anterior é 
plenamente válida. 
“Quando ocorrer modificação de competência, justamente pelo 
que foi descoberto nas interceptações, a interceptação autorizada 
pelo juiz anterior ou pela Justiça anterior é plenamente válida.” (HC 
66873). 
“Quando a interceptação é uma medida cautelar preparatória, 
ou seja, quando a interceptação telefônica é realizada ainda na fase 
das investigações criminais, a regra de que deve ser decretada por 
juiz competente deve ser mitigada, vista com temperamentos.” 
É com base nesses argumentos que o STF autoriza o juiz da 
Central de Inquéritos a determinar a interceptação, autoriza que a 
interceptação realizada por um juiz incompetente seja utilizada no 
novo juízo quando a modificação de competência se descobre durante 
as investigações. Essas duas últimas situações têm como fundamento 
esse argumento do STF e STJ: quando a interceptação é determinada 
como medida cautelar preparatória na fase da investigação, a regra 
de que tem que ser pelo juiz da ação principal deve ser mitigada, 
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deve ser tomada com temperamentos, ou seja, deve admitir algumas 
exceções. 
Percebam que quase toda construção jurisprudencial da Lei 
9.296 é uma construção contra o réu. Assim, acaba servindo como 
uma dica para concurso. Na dúvida, adote a jurisprudência menos 
favorável ao réu. 
Quando o crime se arrasta por diversas localidades (crime 
permanente, por exemplo), qual é o juiz competente para decretar a 
interceptação? 
R.: É o juiz que primeiro tomar conhecimento do fato e 
autorizar a interceptação. No caso de haver vários juízes igualmente 
competentes, aquele que decretou a interceptação fica prevento. 
ACESSO DO ADVOGADO ÀS INTERCEPTAÇÕES TELEFÔNICAS
Como funciona uma interceptação telefônica? 
R.: A polícia vai fazendo a interceptação, o que já está gravado 
vai transcrevendo e juntando a um apenso do inquérito e continua 
interceptando. Transcreve mais um pouco, junta no apenso e vai 
interceptando. Assim, há interceptação já transcrita e interceptação 
em andamento. 
Logo, o que se entende é que o advogado pode ter pleno 
acesso às interceptações já transcritas e juntadas aos autos do 
inquérito. Ou seja, as interceptações já documentadas. 
Sobre o tema dispõe a Súmula Vinculante 14: 
STF Súmula Vinculante nº 14 - É direito do defensor, no 
interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de 
prova que, já documentados em procedimento investigatório 
realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam 
respeito ao exercício do direito de defesa. 
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INTERCEPTAÇÃO DE COMUNICAÇÃO EM SITEMAS DE 
INFORMÁTICA E TELEMATICA 
Parágrafo único. O disposto nesta Lei aplica-se à 
interceptação do fluxo de comunicações em sistemas de 
informática e telemática. 
Essa lei, que é conhecida como Lei de Interceptação Telefônica, 
não está autorizando só a interceptação telefônica. Ela autoriza a 
interceptação das comunicações telefônicas, mas está autorizando 
também a interceptação das comunicações informáticas e 
interceptação das comunicações telemáticas (telefonia + 
informática). 
No caso interceptações telemáticas não há muito problema 
porque você tem telefonia envolvida. O problema é que a lei 
autorizou interceptação de comunicações informáticas. Pergunto: a lei 
é constitucional nesse ponto? Vamos voltar ao art. 5º, XII, da CF: 
XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das 
comunicações telegráficas, de dados e das comunicações 
telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e 
na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou 
instrução processual penal; 
STF e STJ consideram o § único, citado inicialmente, como 
constitucional. E não tem julgado. Por isso mesmo. O Supremo e o 
STJ nunca declararam como prova ilícita, as interceptações de 
informática. 
Detalhe importante: quando se vê a Polícia naquelas operações 
que aparecem na TV, os policiais levando CPU’s. O que acontece? 
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R.: A Polícia faz uma apreensão de CPU’s e a defesa afirma: 
“isso é interceptação de comunicação de dados”. 
E o que o Supremo decide? R.: “o que a Constituição protege é 
a comunicação por meio de dados e não os dados em si mesmos que 
estão armazenados no computador. Uma coisa é a comunicação de 
dados, outra coisa são os dados que se tem armazenados nas pastas 
do computador. 
O Ministro Sepúlveda, que foi relator do caso emblemático que 
envolvia a temática, até fez uma comparação: aquelas pastinhas que 
temos no computador se assemelham às pastinhas de papel que 
poderiam estar num armário de ferro e que poderiam ser apreendidas 
(RE 418416/SC). 
Contudo esta apreensão de computadores depende de ordem 
judicial, porque envolve direito à intimidade. 
REQUISITOS LEGAIS PARA A INTERCEPTAÇÃO 
O art. 2º trata dos requisitos para a interceptação. O art. 2º diz 
quando não é cabível a interceptação. 
Art. 2º Não será admitida a interceptação de comunicações 
telefônicas quando ocorrer qualquer das seguintes hipóteses: 
I - não houver indícios razoáveis da autoria ou participação em 
infração penal; 
II - a prova puder ser feita por outros meios disponíveis; 
III - o fato investigado constituir infração penal punida, no 
máximo, com pena de detenção. 
Inciso I – O primeiro requisito é que haja indícios razoáveis de 
autoria ou participação em infração penal. 
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Inciso II – que a interpretação seja o único meio investigatório 
possível de captação da prova. Ou seja, deve ficar provado que o 
elemento indiciário (prova) se perderá se a interceptação não for 
realizada. 
Inciso III – para que haja interceptação é necessário que o 
crime seja punido com reclusão. Só cabe interceptação em crime 
punido com reclusão. 
Não cabe interceptação em contravenção penal e em crime 
punido com detenção. Por exemplo, ameaça por telefone. Não cabe 
interceptação para descobrir uma ameaça por telefone porque 
ameaça é crime punido por detenção. 
Contudo, uma interceptação telefônica pode ser utilizada como 
prova num crime punido com detenção. Tal situação é admitida desde 
que esse crime punido com detenção seja conexo com o crime punido 
com reclusão que viabilizou a interceptação. 
O que a lei proíbe é interceptação para apurar diretamente um 
crime punido com detenção. Isso não pode. 
Mas e se o crime não for conexo? 
R.: Segundo o entendimento do STJ a prova pode ser utilizada 
mesmo que não haja conexão entre os crimes por três razões: 
primeiro porque a Lei 9.296 não exige conexão entre os crimes 
(argumento frágil, pois ela também não autoriza interceptação em 
crime punido com detenção), segundo porque o Estado não pode 
manter-se inerte diante da notícia de um crime. E o terceiro motivo 
que consta do julgado: se a interceptação foi com ordem judicial não 
há que se falarem nenhuma ilicitude da prova (HC 69552/PR). 
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AUTORIDADE COMPETENTE PARA AUTORIZAR A 
INTERCEPTAÇÃO 
Art. 3º A interceptação das comunicações telefônicas poderá 
ser determinada pelo juiz, de ofício ou a requerimento: 
I - da autoridade policial, na investigação criminal; 
II - do representante do Ministério Público, na investigação 
criminal e na instrução processual penal. 
Só quem pode determinar a interceptação é o juiz. 
E ele pode fazer isso: 
a) De ofício 
b) A requerimento da autoridade policial apenas na fase das 
investigações. 
c) A requerimento do MP que pode requerer na fase das 
investigações ou na fase da ação. 
Obs.: Contra decisão que indefere o pedido do MP é cabível 
mandado de segurança. Não cabe apelação porque não é decisão 
definitiva, não cabe RESE porque não está no rol do RESE, não cabe 
correição parcial porque não está causando nenhuma inversão 
tumultuada do processo. 
E qual é o recurso cabível da decisão que autoriza o pedido de 
interceptação? 
R.: HC! Então, para combater ilegalidade de uma autorização, 
habeas corpus. 
PRAZO DA INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA – Art. 5º 
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Art. 5º A decisão será fundamentada, sob pena de nulidade, 
indicando também a forma de execução da diligência, que não poderá 
exceder o prazo de quinze dias, renovável por igual tempo uma 
vez comprovada a indispensabilidade do meio de prova. 
Uma interpretação puramente literal desse dispositivo nos leva 
à concluir que o prazo máximo de uma interceptação é de 30 dias (15 
+ 15). 
Contudo, o STF e o STJ pacificaram o seguinte entendimento: 
“A renovação de 15 dias pode ocorrer quantas vezes forem 
necessárias, desde que fundamentada a necessidade de cada 
renovação.” 
CONDUÇÃO DAS INTERCEPTAÇÕES TELEFÔNICAS – Art. 6º, 
caput
Art. 6º Deferido o pedido, a autoridade policial conduzirá os 
procedimentos de interceptação, dando ciência ao Ministério Público, 
que poderá acompanhar a sua realização. 
Portanto, quem conduz a interceptação telefônica é a 
autoridade policial e o MP apenas pode acompanhar a realização das 
interceptações. Quem preside, quem conduz, é a autoridade policial 
que dá ciência ao MP que pode acompanhar as interceptações. 
A Polícia Rodoviária Federal pode conduzir as interceptações? 
R.: O STJ considerou lícita uma interceptação que foi conduzida 
pela Polícia Rodoviária Federal. Por quê? Porque o art. 1º, X, do 
Decreto 1.655/95, diz que compete à Polícia Rodoviária Federal 
colaborar na prevenção e repressão a crimes. Este inciso X foi 
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submetido a uma Ação Direta de Inconstitucionalidade 1413 e o 
Supremo afirmou sua constitucionalidade. A ADI foi julgada 
improcedente. 
A Polícia Rodoviária Federal pode colaborar: Segundo o STJ: 
“Ante as peculiaridades do caso, há que se autorizar a Polícia 
Rodoviária Federal auxiliar nas investigações.” 
O art. 6º diz que o delegado tem que dar ciência ao MP. A falta 
de ciência ao MP constitui mera irregularidade. Nesse sentido o 
entendimento do STF e do STJ. 
TRANSCRIÇÃO DAS CONVERSAS GRAVADAS – Art. 6º §1º 
Art. 6º, § 1º No caso de a diligência possibilitar a gravação da 
comunicação interceptada, será determinada a sua transcrição. 
Em alguns casos a polícia ouve a conversa, mas não grava. 
Ouve só para ver onde está a droga, para fazer o flagrante e etc. 
Desse modo, nem toda interceptação é gravada. 
Assim, pergunta-se: a polícia tem que transcrever toda a 
conversa gravada ou parte da conversa gravada? 
R.: Segundo o STF basta que sejam transcritos os trechos 
necessários ao oferecimento da denúncia. A conversa não precisa ser 
transcrita integralmente. 
Art. 6º, § 2º Cumprida a diligência, a autoridade policial 
encaminhará o resultado da interceptação ao juiz, 
acompanhado de auto circunstanciado, que deverá conter o resumo 
das operações realizadas. 
A interceptação tramita em autos apartados no IP. 
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Não é juntada nos autos principais. 
Encerrado o IP o delegado terá dois volumes: o do inquérito e o 
da interceptação. 
O inquérito ele encerra com o relatório final. 
O auto circunstanciado encerra o procedimento de 
interceptação. 
O auto circunstanciado é um resumo de tudo o que foi feito 
durante as interceptações. 
O STF decidiu que: “esse auto circunstanciado é 
formalidade essencial para a validade da prova, mas o seu 
defeito (se foi feito errado) enseja apenas nulidade relativa.” 
(HC 87859). 
DESTRUIÇÃO DAS CONVERSAS GRAVADAS – Art. 9º 
Art. 9º A gravação que não interessar à prova será inutilizada 
por decisão judicial, durante o inquérito, a instrução processual ou 
após esta, em virtude de requerimento do Ministério Público ou da 
parte interessada. 
Parágrafo único. O incidente de inutilizarão será assistido pelo 
Ministério Público, sendo facultada a presença do acusado ou de seu 
representante legal. 
Toda gravação que não tiver nenhuma pertinência com o 
processo deve ser destruída. 
A destruição ocorre por meio de um incidente de inutilização, 
que deve ser assistido pelo MP e pode ser acompanhado pelo acusado 
e/ou seu defensor. 
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QUESTÃO SIMULADA 
A ação penal, nos crimes de Abuso de Autoridade, é 
condicionada a representação da vítima, nos termos expressos da lei. 
Errado 
Na oportunidade, visando ampliar o estudo e abarcar possíveis 
questionamentos, passamos a fazer considerações teóricas sobre a 
matéria: 
Lei Federal nº 4.898/1965. 
O ato de abuso de autoridade enseja tríplice responsabilização: 
 Responsabilização Administrativa 
 Responsabilização Civil 
 Responsabilização Penal – Significando crime de abuso de 
autoridade 
Já se indagou em concurso para o cargo de Delegado de Polícia: 
“A Lei de Abuso de Autoridade é um diploma exclusivamente penal?” 
R.: Não. Porque ela cuida de responsabilidade administrativa, 
civil e penal, conforme dispõe seu art. 1º: 
Art. 1º O direito de representação e o processo de 
responsabilidade administrativa civil e penal, contra as 
autoridades que, no exercício de suas funções, cometerem abusos, 
são regulados pela presente lei. 
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Art. 6º O abuso de autoridade sujeitará o seu autor à sanção 
administrativa, civil e penal. 
AÇÃO PENAL 
Vamos ao art. 12 da Lei de Abuso de Autoridade: 
Art. 12. A ação penal será iniciada, independentemente de 
inquérito policial ou justificação por denúncia do Ministério Público, 
instruída com a representação da vítima do abuso. 
Se é denúncia do MP, se trata de ação pública. 
Cuidado, pois a leitura apressada do presente artigo poderia 
dar a impressão, pela parte final grifada, que o crime é de ação 
pública condicionada à representação. Mas não é! 
Os crimes de abuso de autoridade são de ação penal pública 
incondicionada. A representação mencionada no art. 12 não é aquela 
condição de procedibilidadedo Código de Processo Penal. É apenas o 
direito de petição contra o abuso de poder previsto no art. 5º, XXXIV, 
“a”, da Constituição. 
COMPETÊNCIA 
Competência para julgar o crime de abuso de autoridade. 
Considerando que a pena máxima é de 6 meses, a competência 
será dos Juizados Especiais Criminais, estaduais ou federais, a 
depender do caso. 
Regra geral será da justiça estadual. 
Somente irá para o Juizado Especial Federal se atingir bens, 
interesses ou serviços da União. 
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Questão bem frequente em provas objetivas se refere à 
competência para julgar o abuso de autoridade praticado por militar 
em serviço. 
Nesse caso, quem julga é a Justiça Comum, estadual ou 
federal. Não é a justiça militar. 
Sobre o tema dispõe a Súmula 172 do STJ: Compete à Justiça 
Federal processar e julgar militar por crime de abuso de autoridade, 
ainda que praticado em serviço. 
A Justiça Militar não julga esse crime, pois o mesmo não é 
crime militar. 
QUESTÃO SIMULADA 
Quando, para a realização de determinado ato, for exigida a 
apresentação de documento de identificação, a pessoa que fizer a 
exigência fará extrair, no prazo de até 10 dias, os dados que 
interessarem devolvendo em seguida o documento ao seu exibidor. 
Errado 
Comentário: 
A parte sublinhada está errada, haja vista a disposição do art. 
2º da lei 5553/68 citada abaixo. 
Apresentação e uso de documento de identificação 
pessoal (Lei nº 5.553/1968). 
LEI Nº 5.553, DE 6 DE DEZEMBRO DE 1968. 
Dispõe sobre a apresentação e uso 
de documentos de identificação 
pessoal. 
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 O PRESIDENTE DA REPÚBLICA. Faço saber que o Congresso 
Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: 
 Art. 1º A nenhuma pessoa física, bem como a nenhuma 
pessoa jurídica, de direito público ou de direito privado, é 
lícito reter qualquer documento de identificação pessoal, ainda 
que apresentado por fotocópia autenticada ou pública-forma, 
inclusive comprovante de quitação com o serviço militar, título de 
eleitor, carteira profissional, certidão de registro de nascimento, 
certidão de casamento, comprovante de naturalização e carteira de 
identidade de estrangeiro. 
 Art. 2º Quando, para a realização de determinado ato, for 
exigida a apresentação de documento de identificação, a pessoa que 
fizer a exigência fará extrair, no prazo de até 5 (cinco) dias, os 
dados que interessarem devolvendo em seguida o documento ao seu 
exibidor. 
 § 1º - Além do prazo previsto neste artigo, somente por ordem 
judicial poderá ser retirado qualquer documento de identificação 
pessoal. (Renumerado pela Lei nº 9.453, de 20/03/97) 
 § 2º - Quando o documento de identidade for indispensável 
para a entrada de pessoa em órgãos públicos ou particulares, serão 
seus dados anotados no ato e devolvido o documento imediatamente 
ao interessado. (Incluído pela Lei nº 9.453, de 20/03/97) 
 Art. 3º Constitui contravenção penal, punível com pena de 
prisão simples de 1 (um) a 3 (três) meses ou multa de NCR$ 0,50 
(cinqüenta centavos) a NCR$ 3,00 (três cruzeiros novos), a retenção 
de qualquer documento a que se refere esta Lei. 
 Parágrafo único. Quando a infração for praticada por preposto 
ou agente de pessoa jurídica, considerar-se-á responsável quem 
houver ordenado o ato que ensejou a retenção, a menos que haja , 
pelo executante, desobediência ou inobservância de ordens ou 
instruções expressas, quando, então, será este o infrator. 
 Art. 4º O Poder Executivo regulamentará a presente Lei dentro 
do prazo de 60 (sessenta) dias, a contar da data de sua publicação. 
 Art. 5º Revogam-se as disposições em contrário. 
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Lei Federal nº 7.210/1984 (Lei de execução penal). 
De início lembramos que o estudo aqui elaborado terá como 
foco os aspectos processuais penais da lei de execuções penais, haja 
vista se tratar de lei interdisciplinar, nos debruçaremos sobre os 
temas que reputamos mais relacionados ao direito processual penal, 
sem descurar, obviamente, da importância do estudo sistematizado. 
A natureza jurídica da execução penal: a execução penal é 
predominantemente judicial. 
Predominantemente uma atividade natureza jurisdicional 
porque na verdade a execução penal é uma atividade complexa, pois 
se desenvolve de forma vinculada ao plano administrativo. 
Assim, a Lei 7210/84, deu ênfase ao aspecto jurisdicional da 
execução penal sem, no entanto, se descuidar das atividades dos 
órgãos do poder executivo no contexto penitenciário. 
No curso do processo de execução da pena devem ser 
observados os direitos e garantias individuais, tais como: devido 
processo legal, contraditório e ampla defesa. 
As decisões do juiz da execução penal devem, de regra, ser 
precedidas de contraditório, da manifestação do ministério público e 
do condenado através de seu defensor. 
As decisões do juiz da execução penal, que se sujeitam também 
à obrigatoriedade de fundamentação, são recorríveis, estando à 
disposição das partes o denominado recurso de agravo, contido no 
artigo 197 da LEP. 
Registre-se que o Juiz de execução penal nem sempre é o juiz 
especializado da vara de execuções penais. Isso porque, 
eventualmente, a competência para execução poderá ser atribuída a 
um outro Juiz diferente do juiz da vara de execuções penais. Nesse 
contexto dispõe o art. 65 da LEP: A execução penal competirá ao juiz 
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indicado na lei local de organização judiciária e, na sua ausência, ao 
da sentença. 
Registre-se ainda a possibilidade da competência da execução 
poder ser atribuída à um outro juiz de execução, diverso do território 
onde o réu foi condenado, situação que ocorre em caso de detento 
transferido para outra comarca. Assim, mesmo que um juiz do Rio de 
Janeiro condene um réu e ele tenha que cumprir pena em Minas 
Gerais, o juiz da execução será o de Minas Gerais. 
Entendimento prevalente na jurisprudência é o de que é 
possível execução penal provisória da sentença condenatória já 
transitada em julgado para a acusação, desde que não pautada pela 
simples existência de sentença condenatória. 
É provisória, essa execução, porque a sentença condenatória 
ainda não transitou em julgado, ainda não se falando em 
imutabilidade do comando que emerge da sentença. Contudo, se 
deve registrar que a execução provisória, não implica no efeito 
automático de determinar a prisão do condenado que tenha 
aguardado o processo em liberdade, já que, atualmente o juiz deve 
declarar os motivos da manutenção ou não da prisão, que ainda será 
cautelar. 
Desse modo, o que se está admitindo é que a execução 
provisória seja viável para o benefício do réu, de modo que, em 
sendo o caso, progrida de regime, ou obtenha outro benefício penal 
caso o tempo de prisão cautelar já oportunize essas faculdades. 
O fundamento para a execução provisória se reflete no § único 
do art. 2º da LEP: 
Art. 2º. A jurisdição penal dos juízes ou tribunais 
da justiça ordinária, em todo o território nacional, será 
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exercida, no processo de execução, na conformidade 
desta lei e do CPP. 
Parágrafo único. Esta lei aplicar-se-á igualmente 
ao preso provisório e ao condenado pele Justiça Eleitoral 
ou Militar, quando recolhido a estabelecimento sujeito à 
jurisdição ordinária. 
Embora comungando do raciocínio acima exposto, o STF 
reputou inconstitucional a execução provisória de pena, o que, na 
verdade, é uma afirmação que decorre de outra ótica de análise e 
não necessariamente de uma divergência. Vejamos a decisão: 
"HABEAS CORPUS. INCONSTITUCIONALIDADE DA 
CHAMADA "EXECUÇÃO ANTECIPADA DA PENA". ART. 5º, 
LVII, DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL. DIGNIDADE DA 
PESSOA HUMANA. ART. 1º, III, DA CONSTITUIÇÃO DO 
BRASIL. 1. O art. 637 do CPP estabelece que "[o] recurso 
extraordinário não tem efeito suspensivo, e uma vez 
arrazoados pelo recorrido os autos do traslado, os 
originais baixarão à primeira instância para a execução da 
sentença". A Lei de Execução Penal condicionou a 
execução da pena privativa de liberdade ao trânsito em 
julgado da sentença condenatória. A Constituição do 
Brasil de 1988 definiu, em seu art. 5º, inciso LVII, que 
"ninguém será considerado culpado até o trânsito em 
julgado de sentença penal condenatória". 2. Daí que os 
preceitos veiculados pela Lei n. 7.210/84, além de 
adequados à ordem constitucional vigente, sobrepõem-se, 
temporal e materialmente, ao disposto no art. 637 do 
CPP. 3. A prisão antes do trânsito em julgado da 
condenação somente pode ser decretada a título cautelar. 
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4. A ampla defesa, não se a pode visualizar de modo 
restrito. Engloba todas as fases processuais, inclusive as 
recursais de natureza extraordinária. Por isso a execução 
da sentença após o julgamento do recurso de apelação 
significa, também, restrição do direito de defesa, 
caracterizando desequilíbrio entre a pretensão estatal de 
aplicar a pena e o direito, do acusado, de elidir essa 
pretensão. 5. Prisão temporária, restrição dos efeitos da 
interposição de recursos em matéria penal e punição 
exemplar, sem qualquer contemplação, nos "crimes 
hediondos" exprimem muito bem o sentimento que 
EVANDRO LINS sintetizou na seguinte assertiva: "Na 
realidade, quem está desejando punir demais, no fundo, 
no fundo, está querendo fazer o mal, se equipara um 
pouco ao próprio delinqüente". 6. A antecipação da 
execução penal, ademais de incompatível com o texto da 
Constituição, apenas poderia ser justificada em nome da 
conveniência dos magistrados --- não do processo penal. 
A prestigiar-se o princípio constitucional, dizem, os 
tribunais [leia-se STJ e STF] serão inundados por recursos 
especiais e extraordinários e subseqüentes agravos e 
embargos, além do que "ninguém mais será preso". Eis o 
que poderia ser apontado como incitação à 
"jurisprudência defensiva", que, no extremo, reduz a 
amplitude ou mesmo amputa garantias constitucionais. A 
comodidade, a melhor operacionalidade de funcionamento 
do STF não pode ser lograda a esse preço. 7. No RE 
482.006, relator o Ministro Lewandowski, quando foi 
debatida a constitucionalidade de preceito de lei estadual 
mineira que impõe a redução de vencimentos de 
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servidores públicos afastados de suas funções por 
responderem a processo penal em razão da suposta 
prática de crime funcional [art. 2º da Lei n. 2.364/61, que 
deu nova redação à Lei n. 869/52], oSTF afirmou, por 
unanimidade, que o preceito implica flagrante violação do 
disposto no inciso LVII do art. 5º da Constituição do 
Brasil. Isso porque --- disse o relator --- "a se admitir a 
redução da remuneração dos servidores em tais 
hipóteses, estar-se-ia validando verdadeira antecipação 
de pena, sem que esta tenha sido precedida do devido 
processo legal, e antes mesmo de qualquer condenação, 
nada importando que haja previsão de devolução das 
diferenças, em caso de absolvição". Daí porque a Corte 
decidiu, por unanimidade, sonoramente, no sentido do 
não recebimento do preceito da lei estadual pela 
Constituição de 1.988, afirmando de modo unânime a 
impossibilidade de antecipação de qualquer efeito afeto à 
propriedade anteriormente ao seu trânsito em julgado. A 
Corte que vigorosamente prestigia o disposto no preceito 
constitucional em nome da garantia da propriedade não a 
deve negar quando se trate da garantia da liberdade, 
mesmo porque a propriedade tem mais a ver com as 
elites; a ameaça às liberdades alcança de modo efetivo as 
classes subalternas. 8. Nas democracias mesmo os 
criminosos são sujeitos de direitos. Não perdem essa 
qualidade, para se transformarem em objetos 
processuais. São pessoas, inseridas entre aquelas 
beneficiadas pela afirmação constitucional da sua 
dignidade (art. 1º, III, da Constituição do Brasil). É 
inadmissível a sua exclusão social, sem que sejam 
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consideradas, em quaisquer circunstâncias, as 
singularidades de cada infração penal, o que somente se 
pode apurar plenamente quando transitada em julgado a 
condenação de cada qual".1
Registre-se, nesse âmbito, que os recursos excepcionais 
(recurso especial e recurso extraordinário), não produzem efeito 
suspensivo: Súmula 267 do STF: A interposição do recurso, sem 
efeito suspensivo, contra decisão condenatória não obsta a expedição 
de mandado de prisão. 
Ainda se deve lembrar da aplicação possivelmente analógica da 
súmula 717 do STF para delimitar o âmbito de possibilidade execução 
penal provisória: Não impede a progressão de regime de execução da 
pena, fixada em sentença não transitada em julgado, o fato de o réu 
se encontrar em prisão especial. 
Por fim é importante apontar que a execução provisória já é 
objeto de uma súmula do STF: Súmula 716. Admite-se a progressão 
de regime de cumprimento de pena ou a aplicação imediata de 
regime menos severo nela determinada, antes do trânsito em julgado 
da sentença condenatória. 
A quem compete a execução provisória da pena? 
Embora ainda haja divergência, a posição majoritária é no 
sentido de que a competência é do juiz da execução. Neste caso 
deverá ser expedida guia de recolhimento provisório, carta de 
sentença provisória, porque a sentença pode ser reformada. 
 
1
STF, Tribunal Pleno, HC 84078/MG, Rel. Min. Eros Grau, j. em 05.02.2009, DJe-035 de 25.02.2010. 
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Pergunta: Condenação proferida pela justiça federal comum, a 
quem caberá a execução dessa pena, ao juiz federal ou ao juiz de 
direito? 
R.: Depende, a competência será do juiz de direito estadual 
incumbido das execuções se o condenado pela justiça federal estiver 
cumprindo pena em estabelecimento prisional do estado, 
estabelecimento prisional sujeito a administração estadual. Se o 
condenado estiver preso em presídio federal, aí sim a competência 
será do juiz federal, súmula 192 do STJ: Compete ao Juízo das 
Execuções Penais do Estado a execução das penas impostas a 
sentenciados pela Justiça Federal, Militar ou Eleitoral, quando 
recolhidos a estabelecimentos sujeitos à administração estadual. 
No quetange à competência do juiz da execução penal é 
importantíssimo apontar que o mesmo é o órgão competente para 
aplicar a lei penal nova que de qualquer modo favorecer ao agente, 
nos moldes do que dispõe o artigo 66, I da LEP: Compete ao juiz da 
execução: I – aplicar aos casos julgados lei posterior que de 
qualquer modo favorecer o condenado. 
O artigo 66, I só se aplica aos casos de sentença penal 
condenatória transitada em julgado. Se o processo estiver em grau 
de recurso caberá ao tribunal aplicar a lei posterior que de qualquer 
modo beneficie ao agente. Isso não suprime a instância porque é 
matéria de ordem pública, cabendo ao tribunal sobre ela decidir de 
ofício, independentemente de provocação. 
Se a condenação já houvesse transitado em julgado, caberia ao 
juiz da execução penal aplicar a lei nova posterior. Súmula 611 do 
STF: Transitada em julgado a sentença condenatória, compete ao 
juízo das execuções a aplicação da lei mais benigna. 
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Também é da competência do juízo da execução declarar na 
fase da execução a extinção da punibilidade. Artigo 66. Compete ao 
juiz da execução: II- declarar extinta a punibilidade. 
Aqui é importante relembrar que se o juiz da execução declarar 
extinta a punibilidade ou indeferir o requerimento de declaração da 
extinção da punibilidade caberá agravo, artigo 197 da LEP. 
Compete ao juiz da execução decidir sobre soma ou unificação 
de penas. 
Soma de penas no caso de concurso material de crimes 
(sentenças diversas por crimes praticados em concurso material). O 
juiz da execução, neste caso, somará as penas. Do somatório das 
penas poderá resultar alteração do regime de cumprimento de pena, 
que incumbirá ao juiz da execução alterar. 
Em regra, a quem cabe estabelecer o regime de cumprimento 
de pena? 
Ao juiz da condenação, artigo 59, III, CP. Contudo, conforme 
afirmamos, o juiz da execução, ao somar as penas, poderá alterar o 
regime fixado na sentença. 
Unificação de penas no caso de crime continuado ou concurso 
formal de crimes. Na hipótese de concurso formal ou continuidade 
delitiva, deve haver, é recomendável que haja unidade de processo e 
julgamento de molde a possibilitar ao juiz da condenação o 
reconhecimento do concurso formal de delitos ou da continuidade 
delitiva. Mas se por acaso forem instaurados processos diferentes? E 
não houver a reunião dos processos na fase do conhecimento? 
Nestes casos, a reunião dos processos será feita na fase da 
execução penal para a unificação das penas, artigo 82 do código de 
processo penal. 
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32 
Artigo 82. Se, não obstante a conexão ou 
continência, forem instaurados processos diferentes, a 
autoridade de jurisdição prevalente deverá avocar os 
processos que corram perante outros juízes, salvo se já 
estiverem com sentença definitiva. Neste caso, a unidade 
dos processos, só se dará, ulteriormente, para o efeito de 
soma ou de unificação de penas. 
Local da execução: 
a) Pena privativa de liberdade: o local onde o individuo está preso. 
b) Pena restritiva de direito: será o juiz do local do domicilio do 
reeducando. 
c) Pena multa: Segundo o entendimento do STF e do STJ ocorrerá no 
juízo da fazenda publica. 
d) Foro por prerrogativa de função: local será o do Tribunal que o 
processou e julgou. 
Direitos e deveres do preso (também se aplica àquele que cumpre 
medida de segurança): art. 38 a 43 da LEP. 
Sanção disciplinar. 
A falta disciplinar se subdivide em: 
a) Falta leve; 
b) Falta média; 
c) Falta grave: art. 50. 
Disciplina (art.50) – Sistema de bônus e marcas (bonus and marks) 
As faltas podem ser: 
· Leves 
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33 
· Médias 
· Graves. 
As faltas graves só podem ser determinadas por lei federal, 
devendo ser observado o devido processo legal também no 
procedimento administrativo. 
Espécies de sanções disciplinares: 
RDD características: artigo 52 da LEP. 
Hipóteses de cabimento do RDD: art. 52 “caput”, art.52 § 1º, 
art. 52 § 2º. 
Quem aplica o RDD? Apenas o juiz, conferir o art. 57 da LEP. 
RDD: Isolamento por até 360 dias que pode ser prorrogado em 
caso de nova falta. 
Tem sua constitucionalidade discutida, pois violaria a dignidade 
humana na medida em que afasta qualquer proposta construtiva e 
ataca a sanidade psíquica do preso pelo hipoestímulo. 
As condutas passíveis de levar o preso ao RDD, são condutas 
dolosas capazes de subverter a ordem ou a disciplina do 
estabelecimento prisional ou o envolvimento em organização 
criminosa. 
É o Juiz que decide sobre a inclusão no RDD. 
Execuções das penas privativas de liberdade: 3 sistemas: 
a) Sistema Filadélfia; 
b) Sistema auburn ou auburniano; 
c) Sistema inglês ou progressivo: é o adotado pelo Brasil. 
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Progressão de regime2: 
A lei 11.464/07 aboliu toda e qualquer norma que vedasse 
progressão. 
Progressão do regime fechado para o semi-aberto: 
Requisitos: 
a) cumprir 1/6 da pena (se hediondo ou equiparado cumprir 2/5 
da pena se primário e 3/5 da pena se reincidente). 
b) bom comportamento carcerário. 
c) Exame criminológico: STF decidiu que ele existe embora 
passe a ser requisito facultativo.
d) Sumula 716 STF permite a execução provisória nesse caso. 
e) Crimes praticados contra a administração pública o requisito 
do art. 33 § 4º do CP. 
Progressão do regime semi-aberto para o aberto: 
Requisitos são os dos arts. 112 + art. 113/114/115. 
Prisão domiciliar: 
Art. 117 da LEP traz rol taxativo das hipóteses, qual seja: 
a) condenado maior de 70 anos; 
b) condenado acometido de doença grave; 
 
2 Regimes de cumprimento de pena: 
· Fechado: Cumprido em estabelecimento de segurança máxima ou média e vigilância ostensiva. 
· Semi-aberto: cumpre-se em colônia agrícola, industrial ou similar. Com trabalho durante o dia e sem 
vigilância ostensiva e recolhe-se a noite para dormir. (Começa a trabalhar a responsabilidade pessoal do 
preso). 
· Aberto: preso trabalha durante o dia fora da unidade prisional e sem escolta e volta a noite para a casa 
do albergado, local onde também freqüenta cursos e palestras. 
O RDD não é regime de cumprimento de pena, é uma sanção disciplinar. 
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35 
c) condenada (o) com filho menor ou deficiente físico ou mental que 
precise dela (e). 
d) Condenada gestante. 
OBS. 1: Os direitos de assistência (arts. 10 e 11 da LEP) 
também são estendidos ao egresso. Além do artigo 25 da LEP 
(assistência e alojamento). 
O preso tem o dever de trabalhar, se não o fizer comete falta 
grave. Para o preso provisório o trabalho é facultativo. 
Possível o trabalho externo que deverá ter escolta e pode ser 
em empresas públicas e em empresas privadas. 
No regime semiaberto o trabalho não envolve escolta. 
Os deveres do preso estão elencados no art. 39. Entre eles está 
o dever de trabalhar. 
Os direitos estão no art. 41 da LEP. Dentre eles a remuneração 
ao trabalho. 
O atestado de pena a cumprir, que deve ser concedidoanualmente, tem servido como fator de tranquilidade na 
penitenciária; 
Remição: Sempre prevaleceu o entendimento de que o estudo 
é equivalente ao trabalho, podendo também ser remido. Tal 
conclusão foi consolidada na súmula 341 (A frequência a curso de 
ensino formal é causa de remição de parte do tempo de execução de 
pena sob regime fechado ou semiaberto) e regulamentada pela lei 
12.433/11. 
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Permissão de saída: é a permissão dada ao preso que vai 
escoltado, para ausentar-se da unidade prisional em eventos 
especiais como tratamento médico ou funeral familiar. 
Saída Temporária: é autorizada pelo Juiz e permite que o 
preso no regime semiaberto visite a família ou frequente em cursos 
de educação ou outras atividades compatíveis com a finalidade da 
pena. Tem duração de sete dias e pode ser concedida até cinco vezes 
no ano, com exceção dos cursos de educação que serão concedidos 
enquanto eles durarem. 
QUESTÃO SIMULADA 
O Código de Defesa do Consumidor faz previsão expressa da 
possibilidade de pessoa jurídica atuar como assistente da acusação 
no processo penal. 
Certo 
Na oportunidade, visando ampliar o estudo e abarcar possíveis 
questionamentos, passamos a fazer considerações teóricas sobre a 
matéria: 
Código de Proteção e Defesa do Consumidor (Lei nº 
8.078/1990). 
Sobre a CDC e o processo penal, lembramos o que afirmamos 
em nossa aula 2: 
“Ainda se poderia indagar: A pessoa jurídica de direito 
público pode ser assistente do MP? Responde-se: Para uma primeira 
corrente, prevalente, Sim. Nesse sentido: Pacelli, Feitoza, Nucci, STJ 
e STF – RTJ 72/923. Entretanto há quem sustente a impossibilidade. 
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Sustentando a impossibilidade encontram-se os posicionamentos de 
Mirabete e Tourinho Filho. 
Segundo Eugênio Pacelli o MP no processo penal representa “os 
interesses de toda a coletividade organizada” e tais interesses não 
necessariamente se confundem com o interesse secundário da pessoa 
jurídica de direito público eventualmente ofendida. 
Há que se ressaltar que “a simples irregularidade na admissão 
do assistente não origina nulidade do processo” (STF – RT 72/687). 
Prova da possibilidade da assistência ser titularizada por pessoa 
jurídica são as seguintes previsões legais. O art.26, § un, Lei 
7492/86 (lei que define os crimes contra o sistema financeiro 
nacional) prevê a assistência da Comissão de Valores Mobiliários e do 
Banco Central, in verbis: “Sem prejuízo do disposto no art. 268 do 
Código de Processo Penal, aprovado pelo Decreto-lei nº 3.689, de 3 
de outubro de 1941, será admitida a assistência da Comissão de 
Valores Mobiliários - CVM, quando o crime tiver sido praticado no 
âmbito de atividade sujeita à disciplina e à fiscalização dessa 
Autarquia, e do Banco Central do Brasil quando, fora daquela 
hipótese, houver sido cometido na órbita de atividade sujeita à sua 
disciplina e fiscalização”. 
O art. 80 do CDC também admite a assistência, nos crimes 
previstos no CDC, e nos crimes e contravenções que envolvam 
relações de consumo. Os legitimados são os indicados no art. 82, 
inciso III e IV, in verbis: “III - as entidades e órgãos da 
Administração Pública, direta ou indireta, ainda que sem 
personalidade jurídica, especificamente destinados à defesa dos 
interesses e direitos protegidos por este código; IV - as associações 
legalmente constituídas há pelo menos um ano e que incluam entre 
seus fins institucionais a defesa dos interesses e direitos protegidos 
por este código, dispensada a autorização assemblear.” 
Tal dispositivo ainda faculta ao legitimado a propositura da ação 
penal subsidiária. 
Importante ainda o registro feito por Guilherme de Souza Nucci
que cita o art. 2º, §1º, DL 201/67: “Os órgãos federais, estaduais 
ou municipais, interessados na apuração da responsabilidade do 
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Prefeito, podem requerer a abertura do inquérito policial ou a 
instauração da ação penal pelo Ministério Público, bem como intervir, 
em qualquer fase do processo, como assistente da acusação”. Ver tb 
art. 49, §un, Lei 8906/94 (OAB). 
Admite-se a figura do assistente nos moldes dos Arts. 269, 272 
e 273. Assim, o assistente pode ser admitido após o recebimento da 
denúncia, em qualquer fase processual, enquanto não transitada em 
julgado a decisão judicial. 
No Tribunal do Júri, para funcionar em plenário, o ofendido 
deve requerer a habilitação pelo menos 05 dias antes do julgamento 
(art. 430). 
Segundo o CPP é vedada a assistência de corréu no mesmo 
processo (art. 270). Contudo nos alinhamos ao entendimento de 
Denilson Feitoza e Guilherme de Souza Nucci ao admitirem a 
assistência do corréu absolvido por sentença transitada em julgado 
para acusação, pois, nessa situação, sua qualificação jurídica de réu 
foi superada.” 
Lei Federal nº 10.826/2003 (Estatuto do desarmamento). 
O Estatuto do Desarmamento manteve uma entidade que já 
existia na vigência lei 9.437 que é o SINARM (Sistema Nacional de 
Armas). O SINARM foi mantido e suas atribuições foram, inclusive, 
ampliadas no Estatuto do Desarmamento. 
O SINARM é um cadastro único das armas que circulam no país, 
sendo uma entidade da União. Apesar do cadastro do controle de 
armas no Brasil ser federal, atualmente se entende que os crimes do 
Estatuto do Desarmamento seguem a regra geral, ou seja, os crimes 
do estatuto do desarmamento, em regra, são da competência da 
Justiça Estadual. 
Assim, só serão de competência da Justiça Federal se atingirem 
interesse direto e específico da União. 
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Logo, se o crime for de tráfico internacional de armas (art. 18, 
do Estatuto), aí sim se falará em competência da Justiça Federal. 
Processo Penal Eleitoral - Código Eleitoral (Lei nº 
4.737/1965). 
Primeiramente devemos registrar que os crimes previstos no 
Código Eleitoral, são crimes de ação penal pública 
incondicionada, até mesmo os delitos contra a honra, previstos nos 
arts. 324, 325 e 326 do CE. Assim, só se falará em ação penal 
privada, se esta for subsidiária da pública. 
Listemos os dispositivos que tocam o direito processual penal 
ou se relacionam às atividades do cargo, com os realces que 
reputamos de conveniente cobrança em provas objetivas. 
“ Art. 236. Nenhuma autoridade poderá, desde 5 (cinco) 
dias antes e até 48 (quarenta e oito) horas depois do 
encerramento da eleição, prender ou deter qualquer eleitor, 
salvo em flagrante delito ou em virtude de sentença criminal 
condenatória por crime inafiançável, ou, ainda, por 
desrespeito a salvo-conduto. 
 § 1º Os membros das mesas receptoras e os fiscais de 
partido, durante o exercício de suas funções, não poderão ser 
detidos ou presos, salvo o caso de flagrante delito; da mesma 
garantia gozarão os candidatos desde 15 (quinze) dias antes da 
eleição. 
 § 2º Ocorrendo qualquer prisão o preso será imediatamente 
conduzido à presença do juiz competente que, se verificar a 
ilegalidade da detenção, a relaxará e promoverá a responsabilidade 
do coator. 
 Art. 237. A interferência do poder econômico e o desvio ou 
abuso do poder de autoridade, em desfavor da liberdadedo voto, 
serão coibidos e punidos. 
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 § 1º O eleitor é parte legítima para denunciar os culpados e 
promover-lhes a responsabilidade, e a nenhum servidor público. 
Inclusive de autarquia, de entidade paraestatal e de sociedade de 
economia mista, será lícito negar ou retardar ato de ofício tendente a 
esse fim. 
 § 2º Qualquer eleitor ou partido político poderá se dirigir ao 
Corregedor Geral ou Regional, relatando fatos e indicando provas, e 
pedir abertura de investigação para apurar uso indevido do poder 
econômico, desvio ou abuso do poder de autoridade, em benefício de 
candidato ou de partido político. 
 § 3º O Corregedor, verificada a seriedade da denúncia 
procederá ou mandará proceder a investigações, regendo-se 
estas, no que lhes fôr aplicável, pela Lei nº 1579 de 18/03/1952. 
 Art. 238. É proibida, durante o ato eleitoral, a presença de 
força pública no edifício em que funcionar mesa receptora, ou 
nas imediações, observado o disposto no Art. 141.” 
... 
Art. 258. Sempre que a lei não fixar prazo especial, o recurso 
deverá ser interposto em três dias da publicação do ato, resolução 
ou despacho.
...
DO PROCESSO DAS INFRAÇÕES 
 Art. 355. As infrações penais definidas neste Código são de 
ação pública. 
 Art. 356. Todo cidadão que tiver conhecimento de infração 
penal dêste Código deverá comunicá-la ao juiz eleitoral da zona 
onde a mesma se verificou. 
 § 1º Quando a comunicação fôr verbal, mandará a autoridade 
judicial reduzi-la a têrmo, assinado pelo apresentante e por duas 
testemunhas, e a remeterá ao órgão do Ministério Público local, que 
procederá na forma dêste Código. 
 § 2º Se o Ministério Público julgar necessários maiores 
esclarecimentos e documentos complementares ou outros elementos 
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de convicção, deverá requisitá-los diretamente de quaisquer 
autoridades ou funcionários que possam fornecê-los. 
 Art. 357. Verificada a infração penal, o Ministério Público 
oferecerá a denúncia dentro do prazo de 10 (dez) dias. 
 § 1º Se o órgão do Ministério Público, ao invés de 
apresentar a denúncia, requerer o arquivamento da 
comunicação, o juiz, no caso de considerar improcedentes as 
razões invocadas, fará remessa da comunicação ao Procurador 
Regional3, e êste oferecerá a denúncia, designará outro 
Promotor para oferecê-la, ou insistirá no pedido de 
arquivamento, ao qual só então estará o juiz obrigado a 
atender. 
 § 2º A denúncia conterá a exposição do fato criminoso com 
todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou 
esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a 
classificação do crime e, quando necessário, o rol das 
testemunhas. 
 § 3º Se o órgão do Ministério Público não oferecer a 
denúncia no prazo legal representará contra êle a autoridade 
judiciária, sem prejuízo da apuração da responsabilidade 
penal. 
 § 4º Ocorrendo a hipótese prevista no parágrafo anterior 
o juiz solicitará ao Procurador Regional a designação de outro 
promotor, que, no mesmo prazo, oferecerá a denúncia. 
 § 5º Qualquer eleitor poderá provocar a representação 
contra o órgão do Ministério Público se o juiz, no prazo de 10 
(dez) dias, não agir de ofício. 
 Art. 358. A denúncia, será rejeitada quando: 
 I - o fato narrado evidentemente não constituir crime; 
 II - já estiver extinta a punibilidade, pela prescrição ou outra 
causa; 
 III - fôr manifesta a ilegitimidade da parte ou faltar condição 
exigida pela lei para o exercício da ação penal. 
 
3 Trata-se do procurador Regional Eleitoral – art.77 da LC 75/93. 
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 Parágrafo único. Nos casos do número III, a rejeição da 
denúncia não obstará ao exercício da ação penal, desde que 
promovida por parte legítima ou satisfeita a condição.
 Art. 359. Recebida a denúncia, o juiz designará dia e hora 
para o depoimento pessoal do acusado, ordenando a citação 
deste e a notificação do Ministério Público. (Redação dada pela 
Lei nº 10.732, de 5.9.2003) 
 Parágrafo único. O réu ou seu defensor terá o prazo de 10 
(dez) dias para oferecer alegações escritas e arrolar 
testemunhas. (Incluído pela Lei nº 10.732, de 5.9.2003) 
 Art. 360. Ouvidas as testemunhas da acusação e da defesa e 
praticadas as diligências requeridas pelo Ministério Público e deferidas 
ou ordenadas pelo juiz, abrir-se-á o prazo de 5 (cinco) dias a 
cada uma das partes - acusação e defesa - para alegações 
finais. 
 Art. 361. Decorrido esse prazo, e conclusos os autos ao juiz 
dentro de quarenta e oito horas, terá o mesmo 10 (dez) dias 
para proferir a sentença. 
 Art. 362. Das decisões finais de condenação ou absolvição 
cabe recurso para o Tribunal Regional, a ser interposto no 
prazo de 10 (dez) dias. 
 Art. 363. Se a decisão do Tribunal Regional fôr condenatória, 
baixarão imediatamente os autos à instância inferior para a 
execução da sentença, que será feita no prazo de 5 (cinco) dias, 
contados da data da vista ao Ministério Público. 
 Parágrafo único. Se o órgão do Ministério Público deixar de 
promover a execução da sentença serão aplicadas as normas 
constantes dos parágrafos 3º, 4º e 5º do Art. 357. 
 Art. 364. No processo e julgamento dos crimes eleitorais e 
dos comuns que lhes forem conexos, assim como nos recursos 
e na execução, que lhes digam respeito, aplicar-se-á, como lei 
subsidiária ou supletiva, o Código de Processo Penal.” 
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QUESTÃO SIMULADA 
A tutela que a Constituição Federal cometeu à União Federal no 
art. 231 é de natureza civil, e não criminal, segundo entendimento do 
STF. 
Certo 
Estatuto do Índio (Lei nº 6.001/1973). 
O Estatuto do Índio é uma norma eminentemente de natureza 
extrapenal, somente tendo-se a destacar as seguintes disposições 
que poderiam interessar ao processo penal. 
“TÍTULO VI 
Das Normas Penais 
CAPÍTULO I 
Dos Princípios 
 Art. 56. No caso de condenação de índio por infração penal, a 
pena deverá ser atenuada e na sua aplicação o Juiz atenderá também 
ao grau de integração do silvícola. 
 Parágrafo único. As penas de reclusão e de detenção serão 
cumpridas, se possível, em regime especial de semiliberdade, 
no local de funcionamento do órgão federal de assistência aos 
índios mais próximos da habitação do condenado. 
 Art. 57. Será tolerada a aplicação, pelos grupos tribais, de 
acordo com as instituições próprias, de sanções penais ou 
disciplinares contra os seus membros, desde que não revistam 
caráter cruel ou infamante, proibida em qualquer caso a pena de 
morte.. 
... 
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Art. 63. Nenhuma medida judicial será concedida 
liminarmente em causas que envolvam interesse de silvícolas 
ou do Patrimônio Indígena, sem prévia audiência da União e 
do órgão de proteção ao índio.” 
Mormente desse último dispositivo que se poderia encontrar 
reflexosprocessuais penais mais evidentes. Assim, diante da leitura 
literal do dispositivo, se pode concluir que as medidas cautelares 
penais, em que pese possam ser determinadas contra um índio, não 
poderiam ser concedidas pelo magistrado inaudita altera pars, que 
estaria impedido de concedê-la liminarmente, sendo assim 
obrigatória a oitiva da União e do órgão de proteção do índio antes da 
decretação. 
No que tange ao § único do art. 56, que trata da prisão penal 
(com pena), Renato Brasileiro afirma que: Considerando que a prisão 
penal do índio deve ser cumprida em regime especial de 
semiliberdade, no local do funcionamento do órgão federal de 
assistência aos índios mais próximo da habitação do condenado, 
entende-se que a prisão cautelar também deve se adequar a esse 
regramento, sob pena de a medida cautelar aplicada durante o curso 
do processo se revelar mais gravosa que aquela que, possivelmente, 
será aplicada com o transito em julgado de sentença condenatória, 
violando o princípio da homogeneidade.4
No sentido do sustentado pelo ilustre autor acima, é o 
entendimento do STJ: “para preservar os usos, costumes e 
tradições das comunidades indígenas, bem como conferir 
segurança àquele que vive á margem da sociedade, admite-se 
a possibilidade de a custódia do índio se dar em unidade da 
 
4 LIMA, Renato Brasileiro de. Curso de Processo Penal. Niterói, RJ: Impetus, 2013, p. 843. 
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45 
FUNAI, órgão estatal de proteção ao índio, desde que tal órgão 
administrativo possua condição de receber o réu”5. 
Sobre o tratamento do índio no processo penal, ainda informa o 
singular autor: 
“Ainda em relação à prisão do índio, convém destacar 
que, na hipótese de não ser ele aculturado e não 
compreender o idioma nacional é fundamental a 
presença de intérprete em seu interrogatório. Todavia, 
tratando-se de índio plenamente integrado, capaz de 
compreender completamente o português, torna-se 
dispensável a nomeação de intérprete. Como já se 
pronunciou o Supremo, tratando-se de índio alfabetizado, 
eleitor e integrado à cultura nacional, falando 
fluentemente a língua portuguesa, não se faz mister a 
presença de interprete. 
Outrossim, na hipótese de índio não integrados, 
entende-se que, por força do art. 231 da Constituição 
Federal e do Estatuto do Índio (Lei 6.001/73), que 
assegura aos índios e as comunidades indígenas ainda 
não integrados verdadeiro regime tutelar (art. 7º), deve 
haver a comunicação à FUNAI, órgão que exerce a tutela 
do índio em nome da União. De todo modo, é bom 
destacar que, na visão do Supremo, a tutela que a 
Constituição Federal cometeu à União Federal no art. 
231 é de natureza civil, e não criminal, consoante art. 7º 
e art. 8º da Lei 6.001/73 e art. 4º, parágrafo único, do 
Código Civil. Logo, não haveria necessidade de 
comunicação à FUNAI.”6 Grifos acrescidos. 
Ilustrativa é a jurisprudência citada pelo professor, que ora 
colaciono: 
“HC 79530 / PA - PARÁ 
EMENTA: ÍNDIO INTEGRADO À COMUNHÃO NACIONAL. 
CONDENAÇÃO PELO CRIME DO ART. 213 DO CÓDIGO PENAL. 
 
5 HC 124.622/PE – STJ – 5ª Turma em 13/10/2009. 
6 LIMA, Renato Brasileiro de. Curso de Processo Penal. Niterói, RJ: Impetus, 2013, p. 844. 
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DECISÃO QUE ESTARIA EIVADA DE NULIDADES. DENEGAÇÃO 
DE HABEAS CORPUS PELO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. 
RENOVAÇÃO DO PEDIDO PERANTE ESTA CORTE, À GUISA DE 
RECURSO. Nulidades inexistentes. Não configurando os crimes 
praticados por índio, ou contra índio, "disputa sobre direitos 
indígenas" (art. 109, inc. XI, da CF) e nem, tampouco, 
"infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços 
ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou 
empresas públicas" (inc. IV ib.), é da competência da Justiça 
Estadual o seu processamento e julgamento. É de natureza
civil, e não criminal (cf. arts. 7º e 8º da Lei nº 6.001/73 
e art. 6º, parágrafo único, do CC), a tutela que a Carta 
Federal, no caput do art. 231, cometeu à União, ao 
reconhecer "aos índios sua organização social, 
costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos 
originários sobre as terras que tradicionalmente 
ocupam", não podendo ser ela confundida com o dever que 
tem o Estado de proteger a vida e a integridade física dos 
índios, dever não restrito a estes, estendendo-se, ao revés, a 
todas as demais pessoas. Descabimento, portanto, da 
assistência pela FUNAI, no caso. Sujeição do índio às 
normas do art. 26 e parágrafo único, do CP, que regulam 
a responsabilidade penal, em geral, inexistindo razão 
para exames psicológico ou antropológico, se presentes, 
nos autos, elementos suficientes para afastar qualquer 
dúvida sobre sua imputabilidade, a qual, de resto, nem 
chegou a ser alegada pela defesa no curso do processo.
Tratando-se, por outro lado, de "índio alfabetizado, eleitor e 
integrado à civilização, falando fluentemente a língua 
portuguesa", como verificado pelo Juiz, não se fazia mister a 
presença de intérprete no processo. Cerceamento de defesa 
inexistente, posto haver o paciente sido defendido por 
advogado por ele mesmo indicado, no interrogatório, o qual 
apresentou defesa prévia, antes de ser por ele destituído, 
havendo sido substituído, sucessivamente, por Defensor 
Público e por Defensor Dativo, que ofereceu alegações finais e 
contra-razões ao recurso de apelação, devendo-se a 
movimentação, portanto, ao próprio paciente, que, não 
obstante integrado à comunhão nacional, insistiu em ser 
defendido por servidores da FUNAI. Ausência de versões 
colidentes, capazes de impedir a defesa, por um só advogado, 
de ambos os acusados, o paciente e sua mulher. Diligências 
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indeferidas, na fase do art. 499 do CPP, por despacho contra o 
qual não se insurgiu a defesa nas demais oportunidades em 
que se pronunciou no processo. Impossibilidade de exame, 
neste momento, pelo STF, sem supressão de um grau de 
jurisdição, das demais questões argüidas na impetração, visto 
não haverem sido objeto de apreciação pelo acórdão recorrido 
do STJ. Habeas corpus apenas parcialmente conhecido e, nessa 
parte, indeferido.” 
CESPE – 2012 – TJ/BA – Juiz 
Policiais militares flagraram José, adolescente com quinze anos 
de idade, cometendo infração equiparada a crime de roubo, em 
coautoria com três imputáveis, mediante o uso de arma de fogo 
carregada. 
Considerando a situação hipotética apresentada e as normas 
previstas no ECA para o procedimento de apuração de ato infracional 
atribuído a adolescente, assinale a opção correta. 
a) Oferecida a representação, a autoridade judiciária deve 
designar audiência de apresentação do adolescente, oportunidade na 
qual, decidirá, após ouvi-lo, sobre a manutenção da internação 
provisória, que pode ser determinada pelo prazo máximo de cinco 
dias. 
b) Na audiência, ouvidas as testemunhas arroladas na 
representação e na defesa prévia, cumpridas as diligências e juntado 
o relatório da equipe interprofissional, deve ser dada a palavra ao 
representante do MP e ao defensor público, sucessivamente, pelo 
tempo de vinte minutos para cada um, prorrogável por mais dez, a 
critério da autoridade judiciária, que, em seguida,

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