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Resumo Textos Civil IV

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Resumo Textos Civil IV
Do Contrato – Darcy Bessone:
Segundo Domat e Pothier, é próprio do contrato ser produtivo de obrigações, ao passo que a convenção (gênero da espécie contratual) pode ser produtiva, modificativa ou extintiva de obrigações preexistentes.
O consentimento é elemento capital do contrato, mas com este não se confunde. De acordo com Scutto, a causa é um dos requisitos essenciais do contrato, sendo absolutamente impossível aplicá-la ao negócio de natureza não patrimonial, porque ela se refere e se prende, intimamente, ao caráter patrimonial da relação jurídica.
- Código civil italiano (reformado) - CONCLUSÃO: o contrato é o acordo de duas ou mais pessoas para, entre si, constituir, regular ou extinguir uma relação jurídica de natureza patrimonial. Etapas históricas da conceituação de contrato – direito romano; direito francês e, atualmente, direito italiano.
2) Constituição, Economia e Contrato: As Transformações do Direito Civil – Rafael Viola:
A crise do direito civil e a unidade do sistema: 
Code Civil de Napoleão (1804) – foram codificados os ideais burgueses, com a constituição de duas ideias a partir do valor fundamental constituído pelo indivíduo na sua capacidade de agir livremente, assumindo os riscos do sucesso ou insucesso e, também, a partir da importância da autonomia privada, garantida como livre escolha dos fins individuais (1ª ideia). Além disso, garantia-se a exigência de estabilidade e segurança jurídica (2ª ideia). O código funcionava como uma constituição do direito privado, assegurando as ingerências arbitrárias do poder executivo. Esta concepção veio através do ideal liberal cujo papel do Estado nas relações econômicas e sociais era de mero observador, guardião da ordem pública (Estado Liberal Clássico). O sistema liberal, porém, entra em decadência com os abismos sociais criados pela Revolução Industrial, potencializados pela Primeira Guerra Mundial. 
Sendo assim, o Estado, influenciado por ideias socialistas, passa a intervir na economia, compensando os desequilíbrios causados pelo capitalismo industrial (Estado Social). Nesse contexto, o Estado adquire uma função promocional do direito, que passa a ser forma de controle e direção social. Além disso, houve o processo de “descodificação”, uma vez que o código não conseguia acompanhar as necessidades sociais da época, fazendo com que o código se tornasse parte de um todo universo legislativo, e não sendo centro do sistema de fontes: setores socialmente relevantes se tornaram autônomos, conseguindo se desvincular do código a partir de legislação especial. Há profunda interpenetração entre o direito público e privado (uma vez que se cria uma esfera social pública nas relações patrimoniais privadas), ou seja, a “socialização” do direito civil, sendo seus institutos funcionalizados (fundamental, agora, é a análise funcional prático-social a que se destinam as situações jurídicas subjetivas). O centralismo jurídico, portanto, é deslocado do Código Civil para a Constituição, que desempenha papel reunificador e garantidor do sistema.
A influência da análise econômica no direito privado:
O marco histórico para expansão do direito constitucional foi o cenário da Europa continental pós-guerra, em particular a Alemanha e Itália. Em paralelo, há o surgimento da Análise Econômica do Direito nos Estados Unidos (EAD), fundada nas noções de racionalidade econômica e eficiência, para análise das normas jurídicas. O conceito de eficiência está associado à maximização da fórmula de bem-estar social, maximizando sua utilidade, no qual se enquadram os diferentes critérios: de Kaldor-Hicks (somatório simples dos níveis de utilidades dos indivíduos da sociedade – uma medida que aumenta a totalidade o patrimônio de um grupo, por exemplo, será eficiente – maximização da riqueza) e de Pareto (melhora o nível de bem-estar de alguém sem piorar o nível de bem-estar de ninguém – uma medida só é considerada eficiente se há o aumento de patrimônio do grupo sem que haja prejuízo a ninguém – maximização da utilidade). A EAD, porém, é incompatível com a função social do contrato ao auferir ao ordenamento jurídico apenas a análise econômica, podendo desconsiderar a justiça no caso concreto, pois é carente de valores. Apesar disso, é fundamental que haja uma análise econômica a partir de valores constitucionais, a fim de se conseguir a eficiência no sistema jurídico para garantir a melhor decisão possível.
A função social do contrato (funcionalização do contrato) é o dever imposto às partes de perseguir, para além dos interesses individuais, interesses extracontratuais “socialmente relevantes, dignos de tutela jurídica, que se relacionam com o contrato ou são por ele atingidos”, tendo como consequência, a alteração da noção de autonomia privada, não mais absoluta e subordinada aos interesses constitucionais. A ideia de função social não provém de inspiração socialista, mas é conceito próprio do regime capitalista, na medida em que legitima o lucro “ao configurar a atividade do produtor de riqueza como exercício de uma profissão de interesse geral”.
Considerações acerca do Atual Debate sobre o Princípio da Função Social do Contrato – Pablo Renteria:
 Há distinção doutrinária entre eficácia interna e externa da função social: a primeira diz respeito à repercussão sobre a relação entre os contratantes, enquanto a segunda diz respeito à repercussão para terceiros. De acordo com Jorge Cesa Ferreira da Silva e Luis Renato Ferreira da Silva, a função social do contrato é um princípio de “normatividade exógena”, agindo somente sobre reflexos externos da relação contratual. Para o último autor, a solidariedade social, concretizada em deveres de colaboração, incide dentro da relação contratual por meio da boa-fé objetiva e, fora, por meio da função social.
Segundo a eficácia interna da função social, essa serviria para sistematizar e orientar aplicação de específicos institutos que procuram tutelar o equilíbrio contratual (lesão e onerosidade excessiva) e, fora do CC, a função social do contrato se manifestaria por meio dos diversos estatutos legislativos que dirigem uma tutela específica aos indivíduos que se encontram em típicas situações de vulnerabilidade. Quanto à eficácia externa da função social, temos que diferenciar duas vertentes: a eficácia entre contrato e terceiros determinados (análise de como a função social serve para embasar mitigação do P. da relatividade dos efeitos do contrato), e entre contrato e coletividade (analisando eventual conflito entre interesses individuais patrimoniais e interesses hierarquicamente superiores – int. coletivos, difusos ou até individuais existenciais). Para que o contrato exerça sua função social, a liberdade contratual deve ofuscar-se.
É a partir da nova compreensão do direito privado que surge a perspectiva funcional que se sobrepõe à estrutural, que marcou a teoria jurídica clássica. Agora, os institutos jurídicos são sempre analisados como instrumentos para a consecução de finalidades consideradas úteis e justas. Não há, portanto, oposição entre função social e autonomia privada, estando ambos intrincados como duas faces da mesma moeda, porque a finalidade social é o próprio título justificativo do ato de autonomia: há a permissão ao controle da autonomia privada através da função social, para que aquela possa, de fato, existir.
Devemos entender por objeto [do contrato] “o conjunto dos atos que as partes se comprometeram a praticar, singularmente considerados, não no seu entrosamento finalístico, ou as prestações das partes, não o intercâmbio entre elas, pois esta é a causa”. Entendeu-se a causa do contrato como síntese dos efeitos essenciais de cada contrato. É a partir do concreto regulamento de interesses, que constitui o contrato, que se deve verificar quais são os efeitos que o negócio está apto a produzir (dentro os efeitos, alguns são essenciais, pois é a sua efetiva identificação que permite que se qualifique tal contrato como o de certo tipo). A identificação da causa contratualcom a síntese dos efeitos essenciais não afasta a ideia de que a causa seja a função concreta, a finalidade prática, perseguida pelo contrato. O que se tem é que essa função é tecnicamente revelada por essa síntese de efeitos.
Enquanto a causa subjetiva trazia a ideia de que o fundamento de cada obrigação contratual era a motivação que tinha levado a parte a contraí-la, a causa objetiva está a exigir que o contrato vincule um interesse prático que esteja em consonância com o interesse social e geral (deslocamento da valoração do contrato do ponto de vista dos contraentes para o ponto de vista do ordenamento). Porém, não se pode interpretar a função social do contrato de modo a exigir dos contraentes um comportamento altruístico, a impor que eles procurem realizar, antes de seus interesses, os interesses dos outros: há um interesse social a ser atendido quando se tutela o interesse individual.
Contribuições da causa para a efetividade da função social do contrato: é através da causa que se chega ao tipo de contrato, para atribuir-lhe a disciplina jurídica adequada. Além disso, a correta qualificação do contrato, por meio da identificação de seus efeitos essenciais, permite que seja feito um melhor controle de sua ilicitude. Na fraude à lei, o negócio realizado exibe uma estrutura lícita, sem máculas, porém, quando se desce ao exame de sua finalidade prática, dos interesses envolvidos e dos efeitos almejados, o contrato recebe uma outra qualificação que escancara sua ilicitude. Em outros casos, a análise da causa permite que se vislumbre a inidoneidade do ato de autonomia para produzir efeitos, porque a finalidade almejada se demonstra imoral, sem significância social ou econômica.
A Proibição de Comportamento Contraditório: tutela da confiança e Venire Contra Factum Proprium – Anderson Schreiber:

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