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POSITIVISMO DE COMTE

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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE PATOS DE MINAS - UNIPAM
DISCIPLINA: SOCIOLOGIA 			1º período de História
PROFESSOR ALTAMIR FERNANDES
Tema: Comte e o Positivismo 
POSITIVISMO: UMA PRIMEIRA FORMA DE PENSAMENTO SOCIAL
Auguste Comte (1798-1857) - Vida e obras
Estudante da Politécnica aos 16 anos, Comte é nomeado em 1832 explicador de análise e de mecânica nessa mesma escola e, depois, em 1837, examinador de vestibular. Ver-se-á retirado desta última função em 1844 e de seu posto de explicador em 1851. Apesar de seus reiterados pedidos, não obterá o desejado cargo de professor da Politécnica, nem mesmo a cátedra de história geral das ciências positivas no Collège de France, que quisera criar em benefício próprio. A obra de Comte guarda estreitas relações com os acontecimentos de sua vida. Dois encontros capitais presidem as duas grandes etapas desta obra. Em 1817, ele conhece H. de Saint-Simon: O Organizador, o Sistema Industrial, e concebe, a partir daí, a criação de uma ciência social e de uma política científica. Já de posse, desde 1826, das grandes linhas de seu sistema, Comte abre em sua casa, rua do Faubourg Montmartre, um Curso de filosofia positiva - rapidamente interrompido por uma depressão nervosa - (que lhe vale ser internado durante algum tempo no serviço de Esquirol). Retoma o ensino em 1829. A publicação do Curso inicia-se em 1830 e se distribui em 6 volumes até 1842. Desde 1831 Comte abrirá, numa sala da prefeitura do 3.° distrito, um curso público e gratuito de astronomia elementar destinado aos "operários de Paris", curso este que ele levaria avante por sete anos consecutivos. Em 1844 publica o prefácio do curso sob o título: Discurso sobre o espírito positivo. 
É em outubro de 1844 que se situa o segundo encontro capital que vai marcar uma reviravolta na filosofia de Augusto Comte. Trata-se da irmã de um de seus alunos, Clotilde de Vaux, esposa abandonada de um cobrador de impostos (que fugira para a Bélgica após algumas irregularidades financeiras). Na primavera de 1845, o filósofo de 47 anos declara a esta mulher de 30 seu amor fervoroso. "Eu a considero como minha única e verdadeira esposa não apenas futura, mas atual e eterna". Clotilde oferece-lhe sua amizade. É o "ano sem par" que termina com a morte de Clotilde a 6 de abril de 1846. Comte sente então sua razão vacilar, mas entrega-se corajosamente ao trabalho. Entre 1851 e 1854 aparecem os enormes volumes do Sistema de política positiva ou Tratado de sociologia que institui a religião da humanidade. O último volume sobre o Futuro humano prevê uma reformulação total da obra sob o título de Síntese Subjetiva. Desde 1847 Comte proclamou-se grande sacerdote da Religião da Humanidade. Institui o "Calendário positivista" (cujos santos são os grandes pensadores da história), forja divisas "Ordem e Progresso", "Viver para o próximo"; "O amor por princípio, a ordem por base, o progresso por fim", funda numerosas igrejas positivistas (ainda existem algumas como exemplo no Brasil). Ele morre em 1857 após ter anunciado que "antes do ano de 1860" pregaria "o positivismo em Notre-Dame como a única religião real e completa". 
Comte partiu de uma crítica científica da teologia para terminar como profeta. Compreende-se que alguns tenham contestado a unidade de sua doutrina, notadamente seu discípulo Littré, que em 1851 abandona a sociedade positivista. Littré - autor do célebre Dicionário, divulgador do positivismo nos artigos do Nacional - aceita o que ele chama a primeira filosofia de Augusto Comte e vê na segunda uma espécie de delírio político-religioso, inspirado pelo amor platônico do filósofo por Clotilde. 
Todavia, mesmo se o encontro com Clotilde deu à obra do filósofo um novo tom, é certo que Comte, já antes do Curso de filosofia positiva (e principalmente em seu "opúsculo fundamental" de 1822), sempre pensou que a filosofia positivista deveria terminar finalmente em aplicações políticas e na fundação de uma nova religião. Littré podia sem dúvida, em nome de suas próprias concepções, "separar Comte dele mesmo". Mas o historiador, que não deve considerar a obra com um julgamento pessoal, pode considerar-se autorizado a afirmar a unidade essencial e profunda da doutrina de Comte.
Introdução: cientificismo e organicismo
	A primeira corrente teórica sistematizada de pensamento sociológico foi o positivismo, a primeira a definir precisamente o objeto, a estabelecer conceitos e uma metodologia de investigação. Além disso, o positivismo, ao definir a especificidade do estudo científico da sociedade, conseguiu distinguir-se de outras ciências estabelecendo um espaço próprio à ciência da sociedade. Seu primeiro e principal sistematizador foi o pensador francês Auguste Comte (1798-1857).
Comte defendia o ponto de vista de somente serem válidas as análises das sociedades quando feitas com verdadeiro espírito científico, com objetividade e ausência de metas preconcebidas. Os estudos das relações humanas, assim, deveriam constituir uma nova ciência, a Sociologia. Esta não deveria limitar-se apenas à análise, mas propor normas de comportamento, seguindo a orientação na famosa fórmula positivista: “saber para prever, a fim de prover”.
	O positivismo derivou do “cientificismo”, isto é, da crença no poder exclusivo e absoluto da razão humana em conhecer a realidade e traduzi-la sob a forma de leis naturais. Essas leis seriam a base da regulamentação da vida do homem, da natureza como um todo e do próprio universo. Seu conhecimento pretendia substituir as explicações teológicas, filosóficas e de senso comum por meio das quais – até então – o homem explicava a realidade.
A rápida evolução dos conhecimentos das ciências naturais – física, química, biologia – e o visível sucesso de suas descobertas no incremento da produção material e no controle das forças da natureza atraíram os primeiros cientistas sociais para o seu método de investigação. Essa tentativa de derivar as ciências sociais das ciências físicas é patente nas obras dos primeiros estudiosos da realidade social. O próprio Comte deu inicialmente o nome de “física social” às suas análises da sociedade, antes de criar o termo sociologia.
Essa filosofia social positivista se inspirava no método de investigação das ciências da natureza, assim como procurava identificar na vida social as mesmas relações e princípios com os quais os cientistas explicavam a vida natural. A própria sociedade foi concebida como um organismo constituído de partes integradas e coesas que funcionavam harmonicamente, segundo um modelo físico ou mecânico. Por isso o positivismo foi chamado também de organicismo.
O darwinismo social
	É importante situar o desenvolvimento do pensamento positivista no contexto histórico do século XIX.
	A expansão da Revolução Industrial pela Europa, obtida pelas revoluções burguesas que atingiram todos os países europeus até 1870, trouxe consigo a destruição da velha ordem feudal e a consolidação da nova sociedade – a capitalista, estruturada sobre a indústria. Já no final do século, a livre concorrência, que era a regra geral de funcionamento da sociedade capitalista européia, passa por profundas transformações com a crescente substituição da concorrência entre inúmeros produtores de cada ramo industrial por uma concorrência limitada a um pequeno número de produtores de cada ramo. Surgia a época dos monopólios e dos oligopólios, que, associados ao capital dos grandes brancos, dão origem ao capital financeiro. Crescer para fora dos limites da Europa era, portanto, a única saída para garantir a continuidade dessas indústrias.
	Da mesma forma, o capital financeiro necessitava de novos mercados para poder crescer, pois era perigoso continuar investindo na indústria européia sem causar novas e mais profundas crises de superprodução. Desencadeava-se, assim, a corrida para a conquista de impérios além-mar; os alvos eram a África e a Ásia. Nesses continentes podia-se obter matéria-prima bruta a baixíssimo custo, bem como mão-de-obrabarata; eram também pequenos mercados consumidores, bem como locais ideais para investimentos em obras de infra-estrutura. Porém, a exploração eficaz dessas novas colônias encontrava resistência nas estruturas sociais e produtivas vigentes nesses continentes que, de forma alguma, atendiam às necessidades do capitalismo europeu.
	A Europa deparou com civilizações organizadas sob princípios tais como o politeísmo, a poligamia, formas de poder tradicionais, castas sociais sem qualquer tipo de mobilidade, economia agrária de subsistência, em sua grande maioria, ou voltada pra um pequeno comércio local e artesanato doméstico. Assim, o europeu teve primeiro de organizar, sob novos moldes, as nações que conquistava, estruturando-as segundo os princípios que regiam o capitalismo. De outra forma seria impossível racionalizar a exploração da matéria-prima e da mão-de-obra, de modo a permitir o consumo de produtos industrializados europeus e a aplicação rentável dos capitais excedentes na Europa, nesses territórios.
	Transformar esse modo conquistado em colônias que se submetessem aos valores capitalistas requeria uma empresa de grande envergadura, pois dessa transformação dependiam a expansão e a sobrevivência do capitalismo industrial. Assim a conquista, a dominação e a transformação da África e da Ásia pela Europa precisavam apresentar uma justificativa que ultrapassasse os interesses econômicos imediatos. Isso explica o fato de a conquista européia estar revestida de um manto humanitário que ocultava a violência da ação colonizadora. Assim, a conquista e a dominação foram transformadas em “missão civilizadora”. Países como Inglaterra, França, Holanda, Alemanha, Itália se apoderavam de regiões do mundo cujo modo de vida era totalmente diferente do capitalismo europeu. A “civilização” era oferecida, mesmo contra a vontade dos dominados, como forma de “elevar” essas nações do seu estado primitivo a um nível mais desenvolvido.
	A atuação dos europeus sobre os demais continentes foi intensa, no sentido de transformar suas formas tradicionais de vida e neles introduzir os valores do colonizador. Como foi dito, essa nova forma de colonialismo se assentava na justificativa de que a Europa tinha, diante dessas sociedades, a obrigação moral de civilizá-las, de retirá-las do atraso em que viviam. Nesse sentido, entendia-se que o ápice da humanidade – o mais alto grau de civilização a que o homem poderia chegar – seria a sociedade industrial européia do século XIX.
	Em consonância com essa forma de pensar desenvolveram-se as idéias do cientista inglês Charles Darwin a respeito da evolução biológica das espécies animais. Para Darwin, as diversas espécies de seres vivos se transformam continuamente com a finalidade de se aperfeiçoar e garantir a sobrevivência. Em conseqüência, os organismos tendem a se adaptar cada vez melhor ao ambiente, criando formas mais complexas e avançadas de existência, que possibilitam, pela competição natural, a sobrevivência dos seres mais aptos e evoluídos.
	Tais idéias, transpostas para a análise da sociedade, resultaram no darwinismo social, isto é, o princípio de que as sociedades se modificam e se desenvolvem num mesmo sentido e que tais transformações representariam sempre a passagem de um estágio inferior para outro superior, em que o organismo social se mostraria mais evoluído, mais adaptado e mais complexo. Esse tipo de mudança garantiria a sobrevivência dos organismos – sociedades e indivíduos – mais fortes e mais evoluídos.
	Os principais cientistas sociais positivistas, combinando as concepções organicistas e evolucionistas inspiradas na perspectiva de Darwin, entendiam que as sociedades tradicionais encontradas na África e na Ásia, na América e na Oceania não eram senão “fósseis vivos”, exemplares de estágios anteriores, “primitivos”, do passado da humanidade. Assim, as sociedades mais simples e de tecnologia menos avançada deveriam evoluir em direção a níveis de maior complexidade e progresso na escala da evolução social, até atingir o “topo”: a sociedade industrial européia. Porém essa explicação aparentemente “científica” para justificar a intervenção européia nesses continentes era, por sua vez, incapaz de explicar o que ocorria na própria Europa. Lá, os frutos dos progresso não eram igualmente distribuídos, nem todos participavam igualmente das conquistas da civilização.
Uma visão crítica do darwinismo social – ontem e hoje
	Essa transposição de conceitos físicos e biológicos para o estudo das sociedades e das relações entre essas trouxe, ao darwinismo social, desvios importantes. O fundamento do conceito de espécie em Darwin dificilmente pode ser transposto para o estudo das diferentes sociedades e etnias.
	Se o homem constitui sociologicamente uma espécie, o mesmo não se pode dizer das diferentes culturas que ele desenvolveu. Os princípios da seleção natural são aplicáveis às espécies cujo comportamento é expressão das leis imperativas da natureza.
	Hoje, sente-se que a complexidade da cultura humana tem concorrido para limitar a ação da lei de seleção natural. A adaptabilidade do homem e a sua dependência cada vez menor em relação ao meio têm transformado o ser humano numa espécie à qual a seleção natural se aplica de maneira especial e relativa.
	Essa transposição serviu entretanto como justificativa de uma ação política e econômica que nem sequer avaliava efetivamente aquilo que representaria o “mais forte” ou mais evoluído.
	Ainda hoje se tenta essa transposição para justificar determinadas realidades sociais. A regra darwinista da competição e da sobrevivência do mais forte é aplicada às leis de mercado, principalmente pela doutrina do neoliberalismo.
	Pressupõe-se que a competitividade seja o princípio natural – e portanto universal e exterior ao homem – que assegura a sobrevivência do melhor, do mais forte e do mais adaptado. É preciso lembrar que o mercado, como outros elementos da cultura humana, obedece a leis de organização social essencialmente humanas – e portanto, resultantes do desenvolvimento das relações entre os homens e entre as sociedades.
Duas formas de avaliar as mudanças sociais
	O darwinismo social, além de justificar o colonialismo da Europa no resto do mundo, refletia o grande otimismo com que o progresso material da industrialização era recebido pelo europeu.
	O desenvolvimento industrial gerava a todo momento novos conflitos sociais. Os empobrecidos e explorados – camponeses e operários – organizavam-se exigindo mudanças políticas e econômicas. Os primeiros pensadores sociais positivistas responderam com as idéias de ordem e progresso.
	Haveria, então, dois tipos característicos de movimento na sociedade. Um levaria à evolução transformando as sociedades, segundo a lei universal, da mais simples à mais complexa, da menos avançada à mais evoluída. Outro procuraria ajustar todos os indivíduos às condições estabelecidas, garantindo o melhor funcionamento da sociedade, o bem comum e os anseios da maioria da população. Esses dois movimentos revelariam ser a ordem o princípio que rege as transformações sociais, princípio necessário para a evolução social ou o progresso. Essa ordem implicaria o ajustamento e a integração dos componentes da sociedade a um objetivo comum.
	Os movimentos reivindicatórios, os conflitos, as revoltas deveriam ser contidos sempre que pusessem em risco a ordem estabelecida ou o funcionamento da sociedade, ou ainda quando inibissem o progresso.
	Auguste Comte identificou na sociedade esses dois movimentos vitais: chamou de dinâmico o que representava a passagem para formas mais complexas de existência, como a industrialização; e de estático o responsável pela preservação dos elementos permanentes de toda organização social. As instituições que mantém a coesão e garantem o funcionamento da sociedade, por exemplo, família, religião, propriedade, linguagem, direito etc seriam responsáveis pelo movimento estático da sociedade. Comte relacionava os doismovimentos vitais de modo a privilegiar o estático sobre o dinâmico, a conservação sobre a mudança. Isso significava que, para ele, o progresso deveria aperfeiçoar os elementos da ordem e não destruí-los.
	Assim se justificava a intervenção na sociedade sempre que fosse necessário assegurar a ordem ou promover o progresso. A existência da sociedade burguesa industrial era defendida tanto em face dos movimentos reivindicativos que aconteciam em seu próprio interior quanto em face da resistência das sociedades agrárias e pré-mercantis em aceitar o modelo industrial e urbano.
(COSTA, Cristina. Introdução à ciência da sociedade. São Paulo: Moderna, 2000) 
Ordem e Progresso
	As palavras que ficam no centro da bandeira do Brasil, são conhecidas de todos. Mas nem sempre se sabe de onde elas vêm. “Ordem e progresso” é o lema do positivismo, escola sociológica fundada por Auguste Comte, na França. O positivismo teve seus adeptos entre os republicanos brasileiros, sobretudo militares, que conseguiram deixar seu lema bordado na bandeira verde, amarela, azul e branca. Desde então, algumas idéias positivistas tornaram-se dominantes no Brasil, presentes não apenas nos cérebros e nas ações dos donos do poder, mas também aceitas e praticadas inconscientemente pela maioria da população, a ponto de integrarem o senso comum – entendido como idéias gerais incorporadas por quase todos, de modo que quem delas diverge aparece como exceção, destoa do conjunto.
O modelo biológico de sociedade
	Na visão positivista, a sociedade contemporânea é analisada como um todo orgânico, regulado por leis naturais. A sociedade seria um organismo composto por partes diferentes, mas mutuamente dependentes, da mesma forma que o organismo de um ser vivo é composto por vários órgãos interdependentes.
	O modelo desse tipo de pensamento está na biologia. Por exemplo, o corpo de um animal, enquanto um todo, só sobrevive a partir do bom funcionamento de cada um dos seus órgãos (coração, fígado, cérebro etc). sua existência saudável dependerá de leis naturais, que existem objetivamente, independentemente de quaisquer vontades individuais, consagrando uma harmonia biológica natural. Essa harmonia só se quebra por exceção, em caso de doença. A integração, a interdependência entre os diversos órgãos do animal é a regra,que prevalece enquanto ele tem saúde. Se não houver integração entre os órgãos, é sinal de que o animal está doente, podendo até morrer. 
	Por analogia, aconteceria algo parecido com o organismo social, isto é, com a sociedade. Ela também seria regida por leis naturais, invariáveis, independentes da ação e da vontade dos indivíduos. Uma harmonia natural reinaria no organismo social: cada um dos órgãos (segmentos, partes da sociedade) teria uma função específica, diferente das demais, mas funcionando integradamente para o bom desenvolvimento da totalidade do corpo social. Da mesma forma que cérebro, rins e pulmões têm funções específicas e distintas, mas agem integrados para o bom desempenho do organismo animal. A regra seria a integração entre as partes que compõem o organismo social (por isso a sociologia positivista também é chamada de “sociologia da integração”). Cada parcela da sociedade teria sua função específica (daí essa corrente ser conhecida como “funcionalista”, indispensável ao funcionamento integrado, harmônico, pacífico do corpo social. Portanto, a regra, o padrão de normalidade da vida em sociedade seria integração, o consenso, a conciliação, o funcionamento harmônico das várias partes que a compõem. Só com a harmonia entre as partes, dentro da ordem natural das coisas, é que se torna possível a sociedade crescer como um todo, desenvolver-se, atingir o progresso.
	Uma sociedade saudável e progressista seria aquela em que todos trabalhassem em ordem e com afinco para o desenvolvimento do corpo social, que traria a todos o fruto do progresso. A regra normal seria a integração entre os membros da sociedade. Já os conflitos seriam vistos como exceção, sintoma de doença no organismo social.
	A persistência dos conflitos, do estado de anomia (ausência de regras, leis), seria um risco para a continuidade da vida em sociedade, pois instalaria o caos e a desordem que impedem o progresso. Daí a necessidade de surgir uma ciência específica, a sociologia, para estudar o funcionamento das instituições ou fatos sociais. A sociologia seria uma espécie de biologia social, estudaria o desenvolvimento natural do organismo social, da mesma maneira que os biólogos estudam o funcionamento dos organismos vivos. O sociólogo observaria a sociedade como um olho pairando sobre ela, com a mesma neutralidade e ausência de juízos de valor com que um biólogo, um físico se posicionam diante de uma matéria desconhecida nos seus campos de trabalho.
A política positivista
	O cientista social (sociólogo) pode lançar mão de seu instrumental de análise para detectar a normalidade e a doença da sociedade, mas não tem condições de atuar no sentido de por em prática as suas descobertas. Só os políticos podem fazê-lo, como integrantes do Estado, que, na visão positivista, encarna o bem comum. O Estado seria uma entidade acima dos indivíduos e dos grupos sociais em particular, tendo por função coordenar as funções da sociedade em seu conjunto. Ele tem a responsabilidade de coordenar as funções de todos os órgãos para que o corpo se mantenha saudável. O Estado seria o cérebro social, o lugar da política que zela pelo bem comum.
	E o discurso oficial dos políticos é o de que eles defendem os interesses da sociedade em seu conjunto, o bem comum. Quase todos os cidadãos concordam que o Estado é uma entidade acima dos indivíduos, dos grupos e das classes, capaz de pensar o destino e os interesses do conjunto da sociedade. Essa idéia, difundida por todo lado e que parece uma verdade banal, é parte do ideário positivista, estando longe de ser consensual entre os estudiosos do Estado e da política.
(RIDENTI, Marcelo. Política pra quê? São Paulo: Atual, 1997)
Características gerais do Positivismo 
a sociedade é regida por leis naturais, espontâneas, isto é, leis invariáveis, independentes da vontade e da ação humana.
Na sociedade reina uma harmonia natural e qualquer perturbação é sintoma de “doenças sociais”.
A sociedade deve ser estudada pelos mesmos métodos, técnicas e processos aplicados ao estudo da natureza.
A ciência da sociedade deve limitar-se à observação e á explicação causal dos fenômenos, de forma a objetiva, neutra, livre de julgamento de valores, descartando as prenoções (idéias pré-concebidas de determino fenômeno)
Fundamentos do Positivismo:
Teoria dos Três estados ou estágios
Registra a passagem que conduziria os conhecimentos e as instituições humanas da idade teológica à positiva, passando pela transição metafísica. A humanidade, no seu envolver espiritual, passa por três estados em sua evolução intelectual, de concepção do mundo e da vida:
Estado teológico deve ser sempre concebido como provisório e preparatório; metafísico, que do 1º constitui apenas uma modificação dissolvente, é transitório, a fim de conduzir ao terceiro: positivo – único normal e constitui o regime da razão humana.
A – Estado Teológico: (explicação religiosa – Idade Antiga). Corresponderia a uma fase da sociedade num período distante (os homens não dispunham de Razão para explicar o mundo). É o estágio da sociedade em que os homens não se valem da Razão, pois acreditam em forças sobrenaturais, deuses). 
Explica os diversos fenômenos através de causas primeiras, em geral, personificadas aos deuses. É um conhecimento absoluto e o saber assenta no poder e produção da imaginação.
 O homem só consegue explicar a natureza mediante a crença na intervenção de seres pessoais e sobrenaturais. A sociedade vai evoluindo e possui três fases:
Fetichismo: o homem confere vida, ação e poder sobrenatural a seres inanimados e a animais. Todos os fenômenos da natureza são divinos; aadoração dos astros caracteriza a fase.
Politeísmo: atribui-se a diversos deuses certos traços da natureza humana: vícios, virtudes, etc. Cada classe de fenômenos possui seu deus distinto.
Monoteísmo: quando se desenvolve a crença num deus único.
B – Estado metafísico (Idade Média; explicação filosófica). Fase que corresponde ao desenvolvimento da filosofia, como método de argumentação. Busca-se na Razão, o conjunto de explicações, ou seja, tenta-se explicar a natureza dos seres, a origem e o destino de todas as coisas e como se produzem os fenômenos. Predomina o pensamento especulativo, entretanto, o homem não consegue fazer ciência.
C – Estado Positivo (Idade Moderna; explicação científica). Fase dominada pela Ciência, baseada na experimentação e nas provas, que vai construir uma sociedade ideal, ou seja, o homem tenta compreender as relações entre as coisas e os acontecimentos através da observação científica e do raciocínio, formulando leis. Por que? Para fazer previsões e eliminar os problemas. Fórmula: “saber para prever, a fim de prover”.
É o estado dominado pela ciência, que vai construir uma sociedade ideal. Tem por objetivo estabelecer leis (relações constantes que existem entre os fenômenos observados), naturais invariáveis, as “constantes”.
 Teoria da ordem e progresso
Desenvolvimento industrial: gera conflitos de camponeses e proletários. Exigiam?
Mudanças políticas, econômicas. Resposta do Estado? Ordem e progresso
Ordem: ajustar todos os indivíduos às condições estabelecidas, garantindo o bem comum.
Progresso: transformações das sociedades, da mais simples a mais complexa.
	 Dois movimentos vitais:
Estático
teoria da ordem social (busca as condições de equilíbrio na sociedade)
instituições que mantém a coesão social: família, religião, propriedade, tradição, comportamentos sócio-culturais
estuda as leis de harmonia social e hierarquia social
divisão do trabalho social leva à solidariedade social
noção central: consenso entre todos os fenômenos sociais
Dinâmico
teoria do progresso (busca as leis de sucessão)
evolução natural: ela é geral, universal
mobilidade (indivíduos e classes)
estuda o desenvolvimento contínuo e gradual da humanidade
Em síntese: teoria da ordem/progresso – controle sobre a evolução natural, o progresso destina-se a aperfeiçoar os elementos da ordem, não destruí-la.
Positivismo e a Política
Comte defende a forma de governo republicana
Adversário do sufrágio universal
Defendia a supressão do Parlamento
Defendia um Executivo forte e o único responsável pela elaboração das leis
Contrário aos sonhos revolucionários
Enaltece a aceitação passiva do “status quo” social
Antiliberal, pregava a intervenção do Estado na vida econômica e na organização social. A desordem e anarquia originam-se da ausência de regulação positiva. É preciso haver plano e controle.
A doutrina positivista seria a única capaz de, mantendo a ordem, enfrentar os subversivos, impedindo a revolução violenta e permitindo a melhoria pacífica da sociedade.
Divisão do trabalho
positividade do trabalho : leva à coesão e solidariedade social
combate aos conflitos sociais
consenso, conciliação ou parceria entre o capital e o trabalho
otimista diante da ciência e da indústria.
Papel do cientista social
Neutralidade científica, de forma objetiva e imparcial
Moral positivista
família: célula-mater da sociedade
valores a serem preservados: virgindade, casamento indissolúvel, viuvez eterna
Positivismo: filosofia social conservadora
	Antiliberal e antiindividualista, pregava Comte a intervenção do Estado na vida econômica e na organização social. A desordem e anarquia originam-se da ausência de regulação positiva. É preciso haver plano, controle, que se inicia pela formação de uma sólida e forte opinião pública, através de ampla liberdade de pensamento e de discussão. A educação deve ser universal, abrangendo todas as classes da sociedade e todos os ramos do conhecimento humano, desde a Matemática à Moral. Assim, teriam todos as mesmas oportunidades, ricos e pobres, burgueses e proletários.
	Contudo, não admitia saltos na evolução da natureza nem da sociedade, um estado nascia do anterior. O homem somente é livre na medida em que compreende e consegue colocar as leis naturais a seu serviço; caso contrário, nada mais lhe resta senão se resignar. A mudança social, sem saltos, processa-se dentro da ordem, condição indispensável para o progresso; sem ordem, não há progresso, e vice-versa. A doutrina positiva, segundo Comte vê na liberdade o instrumento do progresso.
	Apresenta-se defensora da ordem e garantidora do progresso. Na prática, revela-se o sistema positivista como conservador, tal a ojeriza que tinha Comte pela anarquia. Comte apresentava a doutrina positivista como a única capaz de, mantendo a ordem, enfrentar os subversivos, impedindo a revolução violenta e permitindo a melhoria pacífica da sociedade francesa.
	Adversário do sufrágio universal, da monarquia absoluta ou constitucional, das assembléias, via na república, o estado normal da humanidade, com supressão do parlamento, unicamente necessário para a elaboração do orçamento. As leis deveriam ser de competência do executivo, com o desaparecimento da hipócrita distinção entre leis e decretos.
	Via no proletariado e na mulher os dois agentes mais capacitados para compreender e aceitar o advento do positivismo, pelo seu não comprometimento com os interesses constituídos da burguesia e por não terem recebido a educação oficial.
	O exército permanente, transformado, poderia ser utilizado nessa manutenção da ordem.
	Mas a questão social e toda a crise social eram mais de natureza espiritual e moral, do que propriamente de natureza material “ sem perturbar a economia geral, a reorganização mental, interpondo habitualmente uma comum autoridade moral entre os operários e seus chefes, oferecerá a única base regular de uma conciliação equitativa e pacífica de seus conflitos.” 
	A favor do casamento indissolúvel e da viuvez eterna, da herança e da propriedade, via nesta uma “instituição fundamental”, embora devendo sofrer sérias e profundas limitações no seu uso em proveito da coletividade.
	Sempre em busca da unanimidade e da completa unidade espiritual, já havia Comte criado a Religião da Humanidade em 1847. Para constituir o seu poder espiritual, criou o sacerdócio positivista, como classe especulativa, sendo ele próprio o Grande-Sacerdote. Para expor a nova religião, com culto, regime e dogma, escreveu o Catecismo Positivista. Inaugurou um novo calendário, com novas festas comemorativas em homenagem aos grandes cultos do passado. Religião positiva, demonstrável, não-sobrenatural, viria em breve a substituir todas as religiões teológicas, anteriormente existentes.
Críticas à doutrina positivista
	Para o sociólogo Michael Lowy , em seu livro Método dialético e teoria política, a idéia central da corrente positivista é uma simplicidade evangélica: nas ciências sociais, como nas ciências da natureza é necessário afastar os preconceitos, separar os julgamentos de fato dos julgamentos de valor, a ciência da ideologia. A finalidade do sociólogo ou historiador deve ser a de atingir a mesma neutralidade serena, imparcial e objetiva do físico, do químico e do biólogo. Deixemos a palavra com Comte: “eu entendo por física social a ciência que tem por objetivo próprio o estudo dos fenômenos sociais, considerados dentro do mesmo espírito que o dos fenômenos astronômicos, físicos, químicos e fisiológicos, quer dizer, sujeitos a leis naturais invariáveis, cuja descoberta é a finalidade especial dessas pesquisas.”
	O positivismo comteano está, portanto, fundamentado sobre duas premissas essenciais, estreitamente ligadas:
A – a sociedade pode ser epistemologicamente (estudo crítico do conhecimento científico) assimilada à natureza (o que nós chamaremos de “naturalismopositivista”); na vida social reina uma harmonia natural.
B – a sociedade é regida por leis naturais, quer dizer, leis invariáveis, independentes da vontade e da ação humana..
Por estas premissas, se conclui que o método nas ciências sociais pode e deve ser o mesmo que o das ciências da natureza, com os mesmos métodos de pesquisa e sobretudo, com o mesmo caráter de observação “neutra”, objetiva e desligada dos fenômenos.
	As implicações ideológicas conservadoras, reacionárias e contra-revolucionárias dessa concepção são evidentes e aliás explicitamente formuladas por Comte, cuja franqueza não é um dos méritos menores: posto que as leis sociais são leis naturais, a sociedade não pode ser transformada; contra os sonhos revolucionários utópicos e negativos, o positivismo enaltece a aceitação passiva do “status quo” social: “o positivismo tende profundamente por sua natureza, a consolidar a ordem pública, pelo desenvolvimento de uma sábia resignação (...) Evidentemente, não pode existir verdadeira resignação, quer dizer, disposição permanente para suportar com constância e sem nenhuma esperança de compensação, quais males inevitáveis a não ser como conseqüência de um profundo sentimento das leis invariáveis que regem todos os diversos gêneros dos fenômenos naturais.” (Comte)
	Baseado neste trecho, podemos apreender melhor o sentido verdadeiro da palavra “positivo”, empregada por Comte para distinguir, ou melhor, opor sua doutrina às perigosas teorias negativas, críticas, destrutivas, dissolventes, subversivas, em uma palavra, revolucionárias da filosofia das luzes, da Revolução Francesa e do socialismo.
A socióloga Lelita Benoit em seu livro Sociologia Comteana diz “ Para Marcuse, a sociologia de Comte, voltando-se contra as tendências negativas do Iluminismo, erige-se não só em defesa ideológica da sociedade burguesa, como ademais contém “as sementes de uma justificação ideológica do autoritarismo.” A idéia central de Marcuse é que a sociologia de Comte foi construída com o objetivo de preparar os homens para a disciplina e a obediência à ordem estabelecida,levando-os à resignação; sua idéia de progresso exclui a revolução, pois o desenvolvimento histórico era tão-somente “a evolução harmoniosa da ordem social sob leis naturais perenes.” Ainda segundo Marcuse, o Estado concebido por Comte tem traços em comum o “moderno Estado autoritário” , uma vez que as relações sociais, em particular aquelas entre trabalhadores e empresários, não podiam ocorrer livremente mas deviam ser regulamentadas a fim de se obter uma “harmonia indispensável”. O que não implicava eliminar a posição de inferioridade dos operários, determinada por uma hierarquia social rígida.
	 
ARON, Raymond. As etapas do pensamento sociológico. São Paulo: Martins Fontes, 1993.
		Auguste Comte
As três etapas do pensamento de Comte
	A evolução filosófica de August Comte se dá pelas três obras principais: Opúsculos de Filosofia Social (entre 1820 e 1826); Curso de Filosofia Positiva (1830-1842) e Sistema de Política Positiva (1851-1854).
	O jovem Comte reflete sobre a sociedade de seu tempo, a sociedade européia no princípio do século XIX. A sociedade que nasce é científica, no sentido em que a sociedade que morre era teológica. Os cientistas substituem os sacerdotes e teólogos como a categoria social que dá a base intelectual e moral da ordem social. Os empreendedores, diretores de fábricas, banqueiros estão assumindo o lugar dos militares.
	Desde essa época, Comte conclui que a reforma social tem como condição a reforma intelectual. Para isso é preciso uma síntese das ciências e a criação de uma política positiva.
	Comte considera que a sociedade moderna está em crise e a contradição entre uma ordem histórica e a contradição entre uma ordem histórica teológico-militar em vias de desaparecer e uma ordem social científico-industrial que nasce.
	.
CARVALHO, José Murilo de. Os positivistas e a manipulação do imaginário. In: A formação das Almas. São Paulo: Companhia das Letras, 1990 p. 129-142
O imaginário Comtista
	Antes do encontro com Clotilde de Vaux, em 1844, responsável por sua “regeneração moral”, o pensamento de Comte já exibia elementos que não provinham de fontes científicas ou positivistas. A partir do encontro com Clotilde, Comte desenvolveu os elementos utópicos e religiosos de seu pensamento. O sentimento foi colocado em primeiro plano, deslocando a razão, base de sua obra anterior, para uma posição subordinada. O positivismo comtiano evoluiu na direção de uma religião da humanidade, com sua teologia, seus rituais; fundia o religioso com o cívico. Os santos da nova religião eram os grandes homens da humanidade, os rituais eram festas cívicas, a teologia era sua filosofia e sua política, os novos sacerdotes eram os positivistas. Na base, ficava a família, seguida da pátria e, como culminação do processo, a humanidade.
	A guinada clotideana foi indiscutível na elaborada visão da mulher e de seu papel na evolução social. No Cours de philosophie, sua posição em relação à mulher não discrepava da visão tradicional de inferioridade em relação ao homem. Agora, ele terminou por afirmar a superioridade social e moral da mulher sobre o homem. Tal superioridade se basearia no fato de a mulher representar o lado afetivo e altruístico da natureza humana. A mulher, seria o principal responsável pela reprodução da espécie, mas o seu papel não se limitaria à reprodução, mas se daria na família, em que, como mãe, ela teria a responsabilidade da formação moral do futuro cidadão.
	O dogma da superioridade do sentimento e do amor sobre a razão e a atividade aplicava-se também às raças e às culturas. A raça negra seria superior à branca por se caracterizar, como as mulheres, pelo predomínio do sentimento, ao passo que a raça branca era marcada pela razão.
	Os ortodoxos brasileiros basearam-se principalmente nos ensinamentos finais de Comte, salientando os aspectos religiosos e ritualísticos. Por essa razão, foram acusados pelos adversários de excesso de ortodoxia, de fanatismo religioso, até mesmo de lunatismo. Ridicularizava-se sua clotildolatria.
	Com efeito, Miguel Lemos e Teixeira Mendes, os dois reconhecidos chefes da ortodoxia positivista, efetuaram uma reorientação do movimento no Brasil. Anteriormente a seu ingresso, dominava a corrente mais próxima de Littré, o discípulo de Comte que não aceitava a fase pós-clotilde do mestre. Ao regressar ao Brasil, em 1881, Lemos buscou assumir a direção da Sociedade Positivista.
Manipuladores de símbolos
 
	A junção da doutrina comtista com a visão estratégica dos ortodoxos fez desses positivistas os principais manipuladores de símbolos da República.
	Se a ação tinha de se basear no convencimento, impunha-se o uso dos símbolos. Em primeiro lugar, a palavra escrita e falada. Dela fizeram uso abundante em livros, jornais, publicações da Igreja, conferências públicas. Era sua arma principal de convencimento dos setores médios. Mas empregaram também o simbolismo das imagens e dos rituais, especialmente tendo em vista dois públicos estratégicos: as mulheres e os proletários, menos afetos, ao menos no Brasil, à palavra escrita. Atingir esses dois públicos, convencê-los da verdade da doutrina. A briga pelas imagens adquiria importância central.
	Daí a luta incansável dos ortodoxos pelo coração e pela cabeça dos cidadãos, por meio da batalha dos símbolos. Daí sua luta pelos monumentos, pelo mito de Tiradentes, pela bandeira republicana, pela figura feminina.
O Positivismo no Jornal ‘O TRABALHO’(1º jornal de Patos de Minas, editado em 1905)
Na edição nº 4, um artigo escrito e assinado por P.M. (positivista) , sob o título “A instrução da mocidade”, foi dedicado aos amigos Dr. Eufrásio Rodrigues e Agenor Maciel. Não nos foi possível identificá-lo, mas percebe-se que conhece a fundo a doutrina filosófica positivista de Comte. Diz ele: “A civilização é o aperfeiçoamento progressista dos homens na sociedade.O desenvolvimento da moral, da ciência, da literatura, das artes, da legislação, do comércio e da indústria indica o grau de civilização ao qual pode cada povo chegar. A época contemporânea nos oferece o espetáculo de um desenvolvimento extraordinário, devido ao progresso das ciências matemática, física ou naturais à feliz aplicação dessas ciências à industria e ao comércio.
	O progresso científico, causa principal do progresso material e econômico, data do dia em que foram abandonadas os velhos erros do método a priori, para seguir os ensinamentos da experiência, as regras de uma restrita indução, os processos de análise, de síntese, de classificação natural que criaram.
	Como observar as regras do honesto, do bem e cumprir os seus deveres para com Deus, para com seus semelhantes? Jamais poderá ser bom cidadão, jamais poderá amar a sua pátria o homem ignorante, razão por que afirmo que sem a instrução não pode haver civilização, não pode haver progresso. E no entanto a nossa mocidade é descuidada, dela não se pensa. Infelizmente ainda não temos no nosso vasto e esperançoso município um só estabelecimento onde os jovens filhos do sertão possam receber a luz da instrução civilizada e religiosa. Crescem embebidos nos vícios e na mais depravada corrupção.
	Façamos justiça, sejamos civilizados e instruamos a mocidade, esperança do porvir.”
	No jornal de edição nº 6, P.M. voltou ao assunto “A instrução da mocidade”, dizendo que um velhote havia lido o artigo, mas que era bobagem, pois os meninos e a nossa mocidade já não está tão adiantada? O articulista respondeu: “poderão eles conhecer os seus deveres e praticá-los se ignoram até mesmo os princípios rudimentares da verdadeira civilização, o que seja a sociedade e a família? Não, meu bom velho, a mocidade é o futuro da pátria e sua instrução é o manancial da ordem e do progresso. A religião, a pátria e a família reclamam a instrução de nossa mocidade que, uma vez instruída, é como uma nau embandeirada prestes a fazer vela em mar , onde encontraremos as bases do direito social, o princípio da autoridade, a constituição da família e o amor da pátria, tendo por guia o sopro benefício e indispensável da religião.” 
Bibliografia
ARON, Raymond. As etapas do pensamento sociológico. São Paulo: Martins Fontes, 1993 p. 69-115
BENOIT, Lelita. Sociologia Comteana. São Paulo: Discurso Editorial, 1999.
COMTE, Auguste. Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1986.
LOWY, Michael. Método dialético e teoria Política. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978.
MORAES FILHO, Evaristo (org) Comte. São Paulo: Ática, 1982. 
RIBEIRO, João. O que é Positivismo. São Paulo: Brasiliense, 1982. 
(textos organizados pelo professor Altamir Fernandes)
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