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O PAPEL DA OPEP NO MERCADO INTERNACIONAL DE PETRÓLEO

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES 
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS 
PROJETO “A VEZ DO MESTRE” 
PÓS-GRADUAÇÃO EM FINANÇAS E GESTÃO CORPORATIVA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O PAPEL DA OPEP NO MERCADO INTERNACIONAL DE 
PETRÓLEO 
 
 
 
 
 
Orientador: Celso Sanchez 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Rio de Janeiro/2003 
 
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES 
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS 
PROJETO “A VEZ DO MESTRE” 
PÓS GRADUAÇÃO EM FINANÇAS E GESTÃO CORPORATIVA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O PAPEL DA OPEP NO MERCADO INTERNACIONAL DE 
PETRÓLEO 
 
 
 
 
CELINALVA DAS GRAÇAS GONSALVES DE SOUZA 
 
 
 
 
 
 
 
Monografia de apresentação como requisito parcial para 
a obtenção do grau de especialista em Finanças e 
Gestão Corporativa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Rio de Janeiro/2003 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Agradeço 
A 
Deus, 
Por me permitir chegar até aqui. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho a minha filha, 
Tayná, 
Pois sem sua compreensão esta obra não 
Aconteceria. 
 
 
RESUMO 
 
 
O mercado internacional de petróleo, ao longo do século XX, foi 
cenário de grandes disputas pela apropriação da renda petrolífera entre os 
países hospedeiros e as companhias internacionais. 
Os países exportadores, possuidores das maiores jazidas de petróleo 
do mundo, depois de décadas de exploração, decidiram se organizar em 
1960. O principal objetivo da organização, chamada de Organização dos 
Países Exportadores de Petróleo (OPEP), era apropriar-se das receitas 
petrolíferas. 
Essa organização teve um papel decisivo na transformação da 
indústria petrolífera mundial, passando por momentos de muito poder, como 
nos choques de 1973 e 1979, e outros de pouca influência, como no choque 
de 1986. 
Esta monografia trata do desenvolvimento dessa organização, desde o 
início das desavenças, entre os principais atores deste mercado, no pós-
guerra, até os dias atuais, através de uma análise histórica e de economia 
política. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
 
 
 
RESUMO ___________________________________________________________ 05 
 
INTRODUÇÃO _______________________________________________________ 07 
 
CAPÍTULO I – O MERCADO PETROLÍFERO, NO PÓS-SEGUNDA GUERRA 
MUNDIAL E A CRIAÇÃO DA OPEP _______________________________________ 09 
 
I.1 Ricardo e o Conflito pela Renda Petrolífera _______________________________ 09 
I.2 O Princípio do Fifty-Ffty ______________________________________________ 12 
I.3 A Criação da OPEP _________________________________________________ 15 
I.4 A Primeira Fase da OPEP ____________________________________________ 20 
I.5 A Nova Fase da OPEP _______________________________________________ 23 
 
CAPÍTULO II – OS CHOQUES DO PETRÓLEO, NAS DÉCADAS DE 70 E 80, E A 
REESTRUTURAÇÃO DA INDÚSTRIA PETROLÍFERA ________________________ 28 
 
II.1 A Crise de 1973 ____________________________________________________ 28 
II.2 O Significado do Embargo e da Quadruplicação do Preço Mundial do Petróleo __ 34 
II.3 O Pós-Crise de 1973 ________________________________________________ 38 
II.4 A Crise de 1986 ____________________________________________________ 40 
II.5 O Pós-Crise de 1979 ________________________________________________ 42 
II.6 A Crise de 1986 ____________________________________________________ 45 
 
CAPÍTULO III – A OPEP E AS PRINCIPAIS MUDANÇAS NO MERCADO PETROLI- 
FERO MUNDIAL NA DÉCADA DE 90 _____________________________________ 49 
 
III.1O Mercado Petrolífero na Década de 90 ________________________________ 49 
III.2 A Transição Pós-Petróleo e a OPEP: A Questão das Reservas ______________ 51 
III.3 A Evolução da Produção ____________________________________________ 57 
III.4 a Evolução da Demanda ____________________________________________ 60 
 
CONCLUSÃO ________________________________________________________ 64 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS _______________________________________ 65 
 
ANEXO : ESPAÇO CULTURAL __________________________________________ 67 
 
INTRODUÇÃO 
 
 
A proposta deste trabalho é analisar o papel da OPEP, na evolução e 
nas mudanças da estrutura do mercado internacional de petróleo, desde o 
período pós-guerra até os dias atuais, incluindo tendências para o futuro. 
 
A análise inicia-se com a introdução da teoria da determinação da renda 
de Ricardo, para explicar a base dos conflitos, entre as nações hospedeiras e 
as companhias internacionais de petróleo, as majors. Essa teoria aponta 
elementos objetivos que contribuem para o entendimento da força econômica 
crescente dos países que possuem as melhores jazidas de petróleo no mundo, 
e, nesse sentido, menores custos. 
Já na década de 70, ocorreram as maiores vitórias da OPEP. Primeiro o 
choque de 1973, onde esta organização reduziu significativamente a sua 
produção diária de petróleo fazendo com que o preço do barril chegasse a 
quadruplicar. 
Em 1986 ocorreu o "contra-choque" do petróleo, em que o mercado se 
tornou favorável ao comprador. O crescimento da oferta de petróleo extra 
OPEP fez com que a oferta ultrapassasse a demanda e os preços entrassem 
em queda. A OPEP agiu de forma defensiva e com o objetivo de reconquistar 
mercados consumidores. 
Atualmente a demanda mundial está em crescimento, mas em uma taxa 
bem inferior a das décadas de 60 e 70. A oferta extra OPEP está, praticamente, 
no seu ápice, e a tendência é de progressiva queda nos próximos anos, 
aumentando ainda mais a taxa de participação da OPEP na oferta mundial, o 
que a coloca com mais poder de influência nesse mercado, dado que controla 
 
atualmente 77,8% das reservas, com especulações de aumento progressivo 
durante esse século XXI. 
Portanto, depois de anos, agindo, defensivamente, a fim de recuperar 
mercado, a OPEP se vê com um futuro garantido devido à escassez em outros 
locais, o que gradativamente vai elevar o seu poder de influenciar o mercado e 
controlar o preço de acordo com os seus interesses. 
Para explicar essa evolução, o capítulo I trata da estrutura do mercado 
petrolífero mundial, desde o pós-guerra, com os primeiros movimentos 
individuais dos países exportadores e a posterior fundação da OPEP, em 1960, 
até o início da década de 1970, antes da primeira grande crise. 
O capítulo II trata desde os choques de 1973 e 1979 até o "contra-
choque" de 1986, com seus respectivos períodos pós-crise, e suas principais 
causas e mudanças no mercado e na estrutura da indústria petrolífera mundial. 
Finalmente, apresentaremos uma reunião das principais conclusões 
referentes à participação da OPEP nesse mercado, a atual conjuntura, 
tendências para o futuro e possíveis conseqüências, através de uma análise 
econômica. Essa análise se baseou em dados da British Petroleum e do EIA-
DOE (Governo dos Estados Unidos). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO I - O MERCADO PETROLÍFERO, NO PÓS-
SEGUNDA GUERRA MUNDIAL, E A CRIAÇÃO DA OPEP 
 
 
 David Ricardo, em sua obra “Princípios de Economia Política e 
Tributação” (1821), desenvolveu o conceito que permite explicar a disputa pela 
renda petrolífera entre as nações detentoras de jazidas e as companhias de 
petróleo. Esse conceito foi o de rendimento como algo distinto dos lucros 
normais de uma atividade econômica. Seu estudo concreto envolvia grãos na 
atividade agrícola, mas poder-se-ia aplicar, também, ao petróleo dos países 
exportadores que se organizaram na OPEP. 
 
A crescenteconsciência de que a generosa dotação da natureza podia e 
devia ser transformada em instrumento econômico e político de 
desenvolvimento é o tema desenvolvido neste capítulo. 
 
 
I.1 Ricardo e o Conflito pela Renda Petrolífera 
 
 
A teoria de determinação da renda de Ricardo baseia-se em duas 
hipóteses. A primeira supõe que as terras são diferentes em sua fertilidade e 
podem ser ordenadas a partir da mais fértil para a menos fértil. A segunda 
propõe que a concorrência sempre iguala a taxa de lucro dos capitalistas que 
arrendam as terras dos proprietários (Terra, 1999). 
As rendas de situação são definidas por Ricardo nos termos de rendas 
diferenciais. Estas são observadas, na produção agrícola, e resultam das 
diferenças de fertilidade do solo e localizados próximos aos centros urbanos 
possuem custos menores. Essas diferenças são, de certa forma, naturais, ou 
 
inerentes, e definem custos que são externos ao processo de produção, sob os 
quais o agricultor pouco pode agir, a não ser mudar-se (Dutra, 1996). 
Imaginemos dois proprietários, sendo um possuidor de campos muito 
mais férteis que o outro. Ambos vendem os grãos, pelo mesmo preço, no 
mercado consumidor, porém os custos de produção daquele que possui os 
campos mais férteis são muito menores dos custos incorridos por aquele que 
possui campos menos férteis. Este último talvez tivesse lucros, mas o primeiro, 
não só tem lucros como, também, algo muito mais importante, os rendimentos. 
Esses rendimentos, que são sua remuneração extra, derivam da qualidade 
específica de suas terras, que é resultado de generosa dotação da natureza 
(Yergin, 1992). 
O petróleo é mais um desses legados da natureza. Sua presença 
geológica nada tem a ver com o caráter ou a conduta daqueles que são donos 
do solo em que jaz, ou com determinado regime político dominante na região 
onde foi encontrado. 
Essa dotação também gera o rendimento, que pode ser definido como a 
diferença entre o preço de mercado e os custos de produção, acrescido de 
custos adicionais, como transporte, processamento, distribuição e alguma 
reposição do capital. 
Assim, o princípio a pautar as negociações estabeleceu que o 
rendimento ou a renda a ser apropriada pelo país exportador fosse definido a 
partir da diferença entre o preço de mercado e os custos de produção, 
acrescidos de uma margem para custos adicionais e para a reposição do 
capital. Os países produtores queriam ficar com esse rendimento, já que não 
havia acordo pré-definido, para essa questão. 
 
Ambos apresentariam reivindicações legítimas. O país hospedeiro 
detinha a soberania, sobre o petróleo, em seu solo. Já o petróleo teria pouco 
valor, se a companhia estrangeira não tivesse arriscado seu capital e 
empregado sua experiência e técnica, para descobri-lo, produzi-lo e colocá-lo 
no mercado. 
O país hospedeiro era o proprietário, a companhia uma simples 
possuidora, que deveria pagar uma renda pré-negociada. Mas, e se, pelos 
esforços e riscos do possuidor, fosse feita uma descoberta, e o valor da 
propriedade aumentasse substancialmente, deveria o possuidor continuar 
pagando a mesma renda estabelecida nas condições iniciais, ou ela deveria ser 
aumentada pelo proprietário? Este é o grande divisor da indústria petrolífera: 
uma descoberta valiosa significa um proprietário insatisfeito. Isto porque o 
proprietário sabe que o lucro do possuidor é muito maior do que o necessário 
para mantê-lo produzindo e, dessa forma, deseja uma parcela dos rendimentos. 
Essa disputa pelos rendimentos, no pós-guerra, não ficou restrita 
exclusivamente à área econômica, mas, também à área política. Para os 
proprietários, a luta estava ligada aos temas da soberania, construção da 
nação e da defesa nacionalista contra os exploradores do país, que 
prejudicavam o desenvolvimento e negavam a prosperidade social, 
corrompendo a classe política e agindo de maneira arrogante e superior. Os 
estrangeiros eram vistos como a personificação do colonialismo (Yergin, 1992). 
Do ponto de vista das companhias, a percepção do problema era 
completamente diferente. Elas assumiram os riscos e escolheram aplicar capital 
e esforços, num certo país, e assinaram contratos negociados, que lhes 
conferiram certos direitos. Tinham gerado riqueza onde não havia nada. 
Deveriam ser recompensadas pelos riscos que haviam assumido. As 
companhias acreditavam que estavam sendo exploradas por ganância e 
irresponsabilidade do poder constituído local. 
 
Existia uma outra dimensão política para essa disputa. Para os países 
consumidores industrializados, o acesso ao petróleo era uma vantagem 
estratégica, essencial para sua economia e capacidade de crescimento, e, 
também, elemento fundamental na estratégia nacional. Além disso, o petróleo 
era uma grande fonte de tributação, tanto diretamente pelos impostos, sobre o 
consumo, como pela alimentação da atividade econômica como um todo, 
promovendo o crescimento econômico. Para o país produtor, o petróleo 
também significava poder, influência, expressão e status, todos eles 
anteriormente inexistentes. 
Um bom exemplo da nacionalização da indústria do petróleo se deu no 
México. A nacionalização do petróleo mexicano1 representou o exemplo mais 
significativo, em escala mundial, de intervencionismo direto do Estado contra o 
que, em 1938, se denominou cartel internacional do petróleo. Daí concluiu-se 
que para se implantar uma política nacional de petróleo é preciso que a nação 
esteja politicamente preparada, e o país capacitado, econômica e tecnicamente, 
de modo a poder eleger livremente o seu estatuto do petróleo (Marinho Jr., 
1989). 
 
I.2 – O Princípio do Fifty-fifiy 
 
 
Os países produtores de petróleo do Oriente Médio, limitados quanto aos 
seus conhecimentos técnicos e de capitais, e carentes de uma independência 
política, chegaram a um estágio de autodeterminação política e econômica na 
década de 50. 
 
 
1 No México, o Presidente Lázaro Cárdenas expropriou as 17 companhias norte-americanas e 
européias de petróleo. O Estado interveio diretamente na economia do petróleo, através de sua 
empresa, a Petróleos Mexicanos – Pemex, assumindo o controle integrado da exploração. 
 
 
Entraram, os países da OPEP, para a Organização das Nações Unidas 
(ONU), e participaram de diversos trabalhos de nacionalidade e de igualdade, 
reconhecendo o “direito inalienável que o Estado soberano tem de dispor 
livremente de suas riquezas e de seus recursos naturais, de acordo com os 
seus interesses nacionais de desenvolvimento2”. 
 
Algumas condicionantes econômicas levaram os países produtores do 
Oriente Médio, juntamente com a Venezuela, a manterem a opção pelo controle 
indireto de suas fontes de produção. 
Eles consideraram excessiva a carga de responsabilidade de uma 
intervenção direta, na economia do petróleo, diante da impossibilidade de 
mobilizarem os recursos necessários, tais como capital de risco, empréstimos e 
tecnologia para implantar e desenvolver a indústria nacional de petróleo. 
Os governos incorriam em muitos riscos, quando não dispunham de 
condições e mercados, para escoar a produção nacional, já observados em 
outras ocasiões. Desta forma, as, companhias tiveram que conviver com menos 
poder, em contraposição ao poder crescente de controle dos países produtores, 
em relação a planos de produção e a preços. 
A evolução da estrutura da indústria de petróleo, conferindo aos países 
hospedeiros maior controle sobre seus recursos naturais, encontrou barreiras 
no sistema concessionário, proporcionando aos países de ingresso cada vez 
mais benefícios, num processo de modernizaçãona fiscalização e na gestão. 
O controle indireto do Estado se confundiria com a intervenção direta 
estatal, quando ações entre as companhias concessionárias e os governos dos 
países produtores passaram a ser empresariais e comerciais. 
 
2 Resolução 1.803 (XVII) da ONU, de 14 de dezembro de 1962. 
 
O exemplo mais típico do sistema concessionário ocorreu na Venezuela. 
Se a nacionalização mexicana representa a intervenção direta do Estado contra 
o poder econômico das grandes companhias da indústria mundial de petróleo, 
na Venezuela ocorreu o controle indireto do governo. 
No final dos anos 40 e início dos anos 50, os países exportadores de 
petróleo fizeram exigências às empresas que tinham as concessões de 
exploração do petróleo em seus países. O objetivo principal que se tinha era o 
de deslocar receitas oriundas das companhias de petróleo e dos cofres dos 
países consumidores, que as taxavam, para os cofres dos países exportadores 
de petróleo. Havia uma disputa pela renda do petróleo e, ao mesmo tempo, 
pelo poder (Yergin, 1992). 
O primeiro país a entrar nessa luta foi a Venezuela. Depois de longas 
negociações incorridas de 1945 a 1948, entre o governo venezuelano e as 
companhias concessionárias estrangeiras, foi sancionada a Lei do Imposto 
sobre a Renda. 
Essa lei era baseada no postulado do fifty-fifty. Ele foi um marco divisório 
na história da indústria petrolífera. Nela, as taxas e os royalties poderiam ser 
aumentados, até o ponto em que a parcela do governo se igualasse aos lucros 
líquidos das empresas, na Venezuela. 
Em troca, as questões relativas à validade das concessões seriam 
postas de lado. O direito para as concessões seria consolidado, e sua vigência 
estendida, além de criarem novas oportunidades de exploração. Ou seja, era 
introduzido, na indústria petrolífera, o princípio fiscal de divisão igualitária do 
governo nos lucros das companhias. 
A concorrência proveniente da produção farta e barata do Oriente Médio 
foi se tornando uma grande ameaça à Venezuela. Assim, os venezuelanos 
 
decidiram difundir os benefícios do princípio do fifty-fifty para a região que 
ameaçava os seus negócios, o próprio Oriente Médio. 
Em 1950, a companhia Aramco, que tinha a concessão de exploração, 
na Arábia Saudita, autorizou as negociações, para uma revisão completa, na 
sua concessão. Em dezembro de 1950, após complexas negociações, a 
Aramco e a Arábia Saudita assinaram um novo acordo, tendo como ponto 
central o princípio venezuelano do fifty-fifty. Depois foi a vez do governo do 
Kuwait, seguido pelo Iraque, por Bahrein e pelo Qatar. Eles também adotariam 
a divisão igualitária nos lucros, que, em pouco tempo, se consagrava como 
fórmula universal de tributação dentro do sistema concessionário da década de 
50 (Marinho Jr., 1989). 
O contato direto com os países industrializados ensinou os países do 
Oriente Médio a tomarem consciência do crescente grau de dependência dos 
países consumidores, em relação ao abastecimento de petróleo3, colocando-
lhes a perspectiva de se libertarem da condição de explorados. Tal perspectiva 
seria realizável se se apropriassem corretamente os recursos provenientes das 
receitas petrolíferas, que em 1955 correspondiam a 40% do orçamento do Irã, a 
54% do Iraque, a 71 % da Arábia Saudita e a 97% do Kuwait (Marinho Jr., 
1989). 
 
I.3 - A Criação da OPEP e seus Antecedentes 
 
 
O amadurecimento político-econômico dos países produtores seguiu-se 
ao revigoramento do nacionalismo na estrutura da indústria internacional de 
petróleo. 
 
3 Nessa época o Oriente Médio supria 85% dos mercados europeus (Marinho Jr., 1989). 
 
 
Este foi sacudido na década de 50 por turbulências nas relações 
internacionais, quando os governos dos grandes países consumidores, por 
duas vezes, intervieram militarmente no Oriente Médio para assegurar suas 
posições e estratégias petrolíferas. 
A primeira foi a incursão anglo-franco-israelense contra o Egito, em 1956, 
em represália à nacionalização do Canal de Suez, determinada pelo Presidente 
Nasser. A segunda foi a intervenção anglo-americana, no Líbano e na Jordânia, 
em seguida à Revolução Iraquiana de 1958. Em ambos os casos o controle de 
suprimento de petróleo esteve em perigo e foi preciso agir de forma 
emergencial. 
Conseqüências muito importantes adviriam da Crise de Suez, de 1956. 
As potências ocidentais certificaram-se que deviam intensificar a diversificação 
das fontes alternativas de produção e entenderam que a vulnerabilidade do 
suprimento do Oriente Médio era o transporte, que vindo do Canal de Suez, 
representava 43% do movimento exportador do Oriente Médio, e estava sob 
ameaça de bloqueio egípcio. 
Por outro lado, os produtores de petróleo concluíram que o preço do 
petróleo continuava sendo determinado pelas companhias de petróleo, como 
ocorreria com a baixa tendência do mercado internacional, a partir de 1959 
(Marinho Jr., 1989). 
Dessa forma, os países produtores se conscientizaram da necessidade 
de formularem uma política nacional de petróleo de acordo com os seus 
anseios nacionais de desenvolvimento econômico e progresso social. Eles 
aprenderam que não havia clima para a confrontação direta e isolada. O 
nacionalismo, no que dizia respeito ao petróleo, se ergueria de forma pacífica, 
de acordo com as tradições jurídicas dos direitos minerais e sem criar riscos de 
retaliação por parte das grandes potências. 
 
Em agosto de 1960, sem nenhum comunicado direto aos exportadores, a 
Standard Oil of New Jersey anunciou redução superior a US$ 0,14 por barril, 
sobre o preço bruto do Oriente Médio, uma redução em torno de 7%. As outras 
companhias a seguiram, mas sem nenhum entusiasmo, e até alarmadas. Não 
se pode deixar guiar por pressões do mercado em uma indústria tão essencial a 
tantos governos. Era preciso ser extremamente cuidadoso com tais medidas. 
Com essa medida, a Standard Oil of New Jersey havia provocado uma 
significativa redução nas receitas dos países exportadores. 
As companhias de petróleo logo se deram conta de que a redução 
unilateral dos preços foi um erro terrível. Em setembro de 1960, representantes 
dos maiores países exportadores, Arábia Saudita, Venezuela, Kuwait, Iraque e 
Irã, reuniram-se em Bagdá. Em 14 de setembro, o grupo havia concluído o seu 
trabalho. Haviam formado uma nova organização com a finalidade de enfrentar 
as companhias intencionais de petróleo. Ela foi chamada de Organização dos 
Países Exportadores de Petróleo4.(OPEP). 
Os principais objetivos da OPEP, no momento da sua fundação, 
refletiam, na sua essência, uma atitude defensiva dos países-membro em 
relação à política de preços imposta pelas companhias internacionais. 
Seus objetivos consistiam em: i) coordenar e unificar as políticas 
petrolíferas, para salvaguardar os interesses dos países-membro, individuais ou 
coletivos; ii) criar e desenvolver meios para garantir a estabilização dos preços 
do petróleo, nos mercados internacionais, evitando flutuações; iii) assegurar 
receitas estáveis aos países produtores, assim como suprimentos eficientes, 
econômicos e regulares, para os países consumidores; e iv) garantir um justo 
retorno ao capital investido na indústria petrolífera. 
 
 
4 Mais tarde seriam admitidos: Qatar (1961), Indonésia (1962), Emirados Árabes Unidos e 
Bahrein (1967), Argélia (1969). Nigéria (1971) e Gabão (1975). 
 
A criação da OPEP representou o primeiro ato coletivo de afirmação da 
soberania, por parte dos exportadores de petróleo, e o primeiro momento 
decisivo nasrelações econômicas internacionais em direção ao controle dos 
Estados sobre os recursos naturais (Yergin, 1992). 
Apesar de toda a movimentação, no entanto, a recém-criada OPEP não 
aparentava ser muito ameaçadora para as grandes companhias petrolíferas. 
Elas se recusaram a reconhecer a sua existência. As companhias 
argumentavam que a organização não tinha sentido econômico e insistiram em 
negociar diretamente com os países produtores, havendo maior capacidade 
conciliadora. Ou seja, elas resistiram, enquanto puderam, em adotar as 
resoluções da OPEP como base das negociações, entre as partes5. 
Havia motivos para a OPEP ter pouco a mostrar em seus primeiros anos 
de existência. Com exceção do Irã, as reservas ainda pertenciam, por contrato, 
às companhias concessionárias, limitando dessa maneira o controle dos 
países-membro. Além do mais, o mercado mundial de petróleo estava com 
excesso de oferta, e os países exportadores eram concorrentes e tinham de se 
preocupar em manter seus mercados consumidores a fim de garantir seus 
rendimentos. Portanto não poderiam, ainda, isolar as companhias de que tanto 
dependiam para ter acesso aos mercados6. 
Enquanto vigorava uma fase favorável ao mercado comprador na década 
de 60, desenvolveram-se consideráveis mudanças estruturais, na indústria 
internacional do petróleo, que adubariam o terreno para a confrontação 
 
5 As grandes companhias de petróleo evitaram ao máximo fazer negociações diretas com a 
OPEP durante a maior parte da década de 60. Dessa forma a própria OPEP continuou a ser um 
ato secundário (Yergin, 1992). 
6 Durante a década de 60, o contexto mundial foi marcado pela descolonização e pelo 
surgimento de questões e controvérsias acerca do Terceiro Mundo. Assim, as questões de 
soberania do mundo do petróleo, que foram tão básicas na formação da OPEP em 1960. foram 
acalmadas nos anos seguintes. Isso aconteceu à medida que as companhias satisfaziam os 
países exportadores em suas exigências por receitas maiores, ao pressionar para cima a 
produção. 
 
estrutural de um cartel de países produtores e um cartel de companhias 
internacionais. Como as regras do jogo estavam mudando, e se as estratégias 
eram outras, as relações entre as companhias internacionais e os governos dos 
países produtores também tinham que se recompor para se ajustar às 
condições de abastecimento e de preço dos novos tempos (Marinho Jr., 1989). 
 
Os países produtores, tão cedo conseguiram tornar viáveis os seus 
projetos de justa remuneração pela exploração controlada de seus recursos 
nacionais, conseguiram também fortalecer o seu organizado poder político para 
atingir uma conjuntura de valorização do petróleo. Nesse sentido, com a 
descoberta de petróleo na Líbia, por volta de 1961, as companhias começaram 
a exploração e a produção em quantidade muito alta. 
 
No entanto, nesse país, a receita que o governo obtinha do petróleo seria 
equilibrada com o preço real de mercado para seu petróleo, que era mais baixo 
do que os outros preços tabelados. Isso significava que o petróleo líbio seria 
mais lucrativo do que o petróleo dos outros países. Esse era um motivo para 
qualquer companhia elevar sua produção na Líbia. 
 
Essa onda de petróleo líbio afetou fortemente os preços mundiais, 
gerando pressões para a queda, que havia se iniciado depois da Crise do Suez. 
Mais da metade da produção de petróleo líbio estava nas mãos de companhias 
independentes, que não possuíam mercados próprios e também não 
enfrentavam nenhuma barreira. O aumento da produção, que detinham, acabou 
forçando as companhias independentes, que atuavam na Líbia, a avançar rumo 
ao mercado da Europa e tentar vender seu petróleo a qualquer custo. Não 
apenas na Europa, mas em todo mundo, havia mais petróleo, para suprir os 
mercados, do que a demanda. O resultado disso foi uma competição acirrada. 
Assim, entre 1960 e 1969, o preço de mercado do petróleo teve uma queda de 
 
22%, que, corrigida pela inflação, era maior ainda, em torno de 40%. O petróleo 
estava disponível para todos e pelo preço mais baixo (Yergin, 1992). 
Foi nesse cenário que em 1965, a OPEP, transferindo sua sede de 
Genebra para Viena, ganhou o reconhecimento oficial do governo austríaco 
como entidade internacional (Marinho Jr., 1989). 
 
 
I.4 - A Primeira Fase da OPEP 
 
 
A história da indústria internacional de petróleo na década de 60 é a 
história da OPEP para se impor como organismo internacional. Isso na 
condição de cartel dos países exportadores de petróleo, como é, na década de 
70, a saga dos países produtores para vencer as últimas resistências das 
grandes companhias internacionais e atingir determinados objetivos políticos e 
econômicos de controle da indústria petrolífera. 
Para melhor entender o papel da OPEP, é preciso entender a 
complexidade dos conflitos entre os governos do Oriente Médio pela hegemonia 
política da região. Tais conflitos refrearam a lucratividade e a expansão das 
companhias de petróleo e influenciaram, decisivamente, nos destinos da OPEP 
e nos rumos da crise energética, que eclodiriam ao longo da década de 70. 
O papel da OPEP na década de 60 pode ser considerado menor. A 
OPEP teve um aumento do seu poder de barganha e de intervenção dos países 
produtores, mas não foi um importante fator com respeito às mudanças 
estruturais que se formaram nessa década e que se formariam no futuro. Na 
década de 70, porém, o crescente poder de barganha dos países-membro da 
OPEP foi o fator seminal dos abalos estruturais que prenunciaram o limiar de 
uma nova era da indústria do petróleo. 
 
A razão principal da aparente inoperância ocorreu devido às relações de 
mercado, que era essencialmente do comprador, com preços baixos, e em que 
a competitividade do petróleo independente, que pressionou os preços para 
baixo, em especial na Europa, obrigou a OPEP a desempenhar uma posição 
defensiva nos primeiros anos de sua existência. 
Assim, a OPEP concentrou-se em estabilizar os preços e evitar sua 
queda ou flutuação, conforme as suas aspirações econômicas e seus objetivos, 
desde a sua fundação. Outro motivo foi o de deixar ao sistema concessionário a 
tarefa de fixar os preços conforme o senso comercial das companhias de 
exploração de petróleo. Tanto um motivo quanto outro descartou o uso da 
unidade política e econômica dos seus membros, em favor da civilidade, 
racionalidade e senso de fair play das companhias de petróleo, que 
convenceram os países envolvidos de que as receitas petrolíferas deviam 
depender do mercado livre (Marinho Jr., 1989). 
Os resultados da OPEP nos 10 primeiros anos de sua criação foram 
modestos ou até mesmo limitados, conseguindo restaurar os níveis de preços 
de 1958 apenas em 1971. 
Não se pode subestimar a estabilização dos preços com os ganhos 
obtidos na área fiscal, descaracterizando o royalty com crédito, para efeito de 
imposto de renda, e eliminando os descontos comerciais das companhias 
independentes. Se a OPEP falhou em atingir o ideal, ela aprendeu na 
experiência a se contentar com o possível, sem perder de vista os fatores 
conjunturais externos, para que eles atuassem sempre a seu favor. 
Outra causa do alcance relativo de resultados, na fase de gestação da 
crise energética, estaria na sua própria estrutura e organização. Ela reunia 13 
membros da maior diversidade de credo político-ideológico, o que foi 
 
surpreendente, pois não diminuiu o senso de unidade e solidariedade de seus 
membros, todos iguais perante o seu estatuto. 
Nos primeiros anos, as suas decisões eram demoradas e previa longas 
discussões preliminares, até se chegar à pauta da conferência, que requeriaa 
unanimidade de votos. As companhias de petróleo só tinham a ganhar com 
esse sistema organizacional e decisório, minando o poder coletivo de barganha 
da OPEP com propostas de última hora, obviamente inaceitáveis. Contudo, não 
foi por falta de iniciativa que não se alcançou um imediato resultado no domínio 
dos preços na década de 60. 
Quatro anos foram necessários para a Comissão Econômica da OPEP 
sedimentar uma estratégia que viabilizasse a aspiração de unificação política 
dos países-membro e persuadisse a conferência a usar táticas negociais mais 
políticas. Mesmo porque se tornara cada vez mais difícil conter os sentimentos 
nacionalistas de confrontação unilateral de certos países-membro, de 
resultados comprovadamente eficazes no passado, impacientes com as 
medidas das companhias internacionais. 
A Comissão Econômica demonstrou que tinha chegado o momento de os 
governos negociarem suas pretensões de forma global, simultânea, e em 
regime de urgência. Em 1968 os países-membro lançaram seu principal 
manifesto político. Nele eles reivindicaram que podiam: i) invocar o princípio da 
mudança de circunstâncias para rever acordos de concessões; ii) rescindir 
unilateralmente os acordos de concessão, caso o concessionário não iniciasse 
a exploração nos prazos previstos; iii) fixar unilateralmente os preços de 
referência, prevendo-se uma atualização em relação aos preços dos produtos 
manufaturados, e iv) adquirir uma participação, no capital da companhia 
concessionária, em bases razoáveis. 
 
Além da fixação unilateral dos preços de referência, a pretensão de que 
pudessem participar das antigas concessões foi posta em pauta, pela primeira 
vez, pelos países produtores. Seu objetivo dominou as relações entre os 
governos produtores e as companhias internacionais, na década de 70, com a 
opção: nacionalização ou participação acionária. 
 
 
I.5 - A Nova Fase da OPEP 
 
 
As últimas resoluções da OPEP emolduram a época de transição da 
indústria mundial de petróleo, quando o poder de decisão foi passando cada 
vez mais para as mãos dos seus países-membro, apesar das desavenças 
internacionais entre si (Marinho Jr., 1989). 
Pressões de toda a parte atuaram mais ou menos em sincronia no 
contexto da indústria mundial do petróleo. Quanto à demanda, as necessidades 
energéticas aumentaram, em razão do desenvolvimento industrial ter-se 
expandido acima do previsto, do progressivo abandono das minas de carvão, 
dos atrasos acumulados dos programas das centrais nucleares, da escassez de 
gás natural nos Estados Unidos e da rápida expansão da procura de óleo de 
baixo teor de enxofre. 
A taxa de crescimento da demanda mundial de petróleo era crescente7, 
variando entre 6 e 8% ao ano ao longo da década de 60, chegando à marca 
dos 9,47% em 1968, e ao seu ápice no ano de 1969, quando essa taxa de 
crescimento ultrapassou a barreira dos 10%. Outro ponto importante foi a 
duplicação da demanda mundial de petróleo em 10 anos, entre 1961 e 1970. 
Do lado da oferta, as quantidades disponíveis foram sendo reduzidas 
pelo efeito somatório da expropriação no Iraque, do movimento de 
 
7 Calculado a partir de dados do International Energy Annual 2000. 
 
nacionalização na Argélia, da ruptura acidental e depois voluntária na Síria, que 
prejudicou as exportações da Arábia Saudita, e do contínuo fechamento do 
Canal de Suez, juntamente com a estratégia de baixa na produção da Líbia. 
No final de 1970, a crise do abastecimento tinha-se agravado mais pela 
ameaça de possível colapso de fornecimento do Oriente Médio, que repercutiria 
especialmente no mercado americano. Nos Estados Unidos, a preocupação 
maior era que faltasse óleo combustível no inverno, notadamente na sua costa 
leste, sob os efeitos de uma crise energética regional. 
Esse foi o momento encontrado pelos países-membro da OPEP para 
deflagrarem a ofensiva de caráter global, estimulados pela Venezuela, que 
elevou unilateralmente a taxa de imposto de renda de 52% para 60%, com 
efeito retroativo, e em seguida, pela Líbia, que imediatamente aumentava o 
preço de referência do barril. Estava criado o clima de emergência propício a 
mais uma conferência da OPEP, em dezembro de 1970. Dessa conferência 
resultou mais uma resolução, um verdadeiro marco histórico na evolução do 
relacionamento entre os países produtores e as companhias internacionais. 
Essa conferência conclamou os países-membro a negociar, global e 
imediatamente, com as companhias internacionais para obter: i) a uniformidade 
dos preços de referência em todos os países produtores, pelo alinhamento ao 
maior preço de referência vigente, que na época era o líbio; ii) a eliminação 
imediata de qualquer desconto; iii) a elevação do percentual de imposto sobre a 
renda de 50% para 55% e iv) o aumento geral e uniforme dos preços de 
referência, bem como a indexação desses preços em relação aos preços 
industriais mundiais, com o objetivo de manter um poder de compra constante 
para a aquisição de bens e equipamentos. 
 
Os países consumidores, conscientes da necessidade de se 
estancaressa escalada de reivindicações e sob a crença de uma escassez de 
 
energia, aceitaram a intermediação das companhias petrolíferas. Essas se 
organizaram para compor uma frente de negociações. 
 
As companhias de petróleo se mostraram dispostas a aceitar os novos 
preços de referência, corrigidos anualmente, na base de um índice que poderia 
ser tanto o da inflação mundial como outro critério similar. Por outro lado, as 
companhias se recusavam a admitir qualquer alta nos percentuais vigentes do 
imposto de renda, que era de 55%, qualquer pagamento de efeito retroativo e 
qualquer obrigação de reinvestimento no país produtor. 
As posições foram claramente definidas, quer da parte dos países 
produtores, articulados em blocos regionais dentro da OPEP, com seu status 
internacional finalmente reconhecido, quer do lado das companhias apoiadas 
pelos seus respectivos governos. 
Com o esgotamento dos prazos finais fixados pela OPEP para se firmar 
um acordo definitivo, foi convocada às pressas mais uma conferência 
extraordinária da OPEP, em Teerã. Em clima de ameaças, de suspensão de 
fornecimento e de pressão política reiniciaram-se as negociações. Finalmente, 
com o apoio total do governo norte-americano, as companhias internacionais 
concordaram em elevar os preços. Foi assinado o Acordo de Teerã com 
validade de 5 anos e referente exclusivamente às entregas de petróleo 
provenientes de seis países8 do Golfo Árabe. 
Esse foi o início da primeira crise internacional do petróleo. Os lucros das 
companhias estavam sendo seriamente prejudicados pela rigidez da 
fiscalização, na produção, e pelo aumento dos custos devido à inflação e à 
instabilidade dos preços dos produtos. Entretanto, os países árabes tiveram um 
 
8 Eram eles: Abu Dhabi (atual Emirado Árabes Unidos), Arábia Saudita, Kuwait, Irá, Iraque e 
Qatar. 
 
 
grande aumento de suas receitas petrolíferas9. Esse foi um grande começo 
para os países produtores do Golfo e, também, o fim de uma era de energia 
barata, oferecida a preços de expansão de consumo (Marinho Jr., 1989). 
 
Na prática, esse acordo propiciou o aumento do preço de referência.10 
Em contrapartida, os países produtores do Golfo Pérsico se comprometeram a 
não reivindicar, em quaisquer circunstâncias, novos aumentos dos preços de 
referência às companhias internacionais, nem pleitear compromissos 
financeiros suplementares durante os cinco anos de vigência do acordo 
(Marinho Jr., 1989). 
Após a conclusão desse acordo, a atenção sevoltava para as 
negociações com a Líbia, já que nenhum compromisso tinha sido firmado em 
relação aos terminais do Mediterrâneo Oriental e aos oleodutos que escoavam 
a produção da Arábia Saudita e do Iraque. O governo líbio modificou a sua 
atitude em razão dos resultados alcançados pelo Acordo de Teerã e do apoio 
que recebeu dos países-membro da OPEP. 
Em abril de 1971, após difíceis negociações, foi assinado o Acordo de 
Trípoli entre o governo líbio e, separadamente, com cada companhia de 
petróleo. Esse acordo aumentou de 50% para 55% o imposto sobre a renda e 
elevou o preço de referência em US$ 0,52, assim como impôs outras vantagens 
inerentes à privilegiada posição geográfica da Líbia, com o compromisso das 
concessionárias de reaplicarem, na região, uma parcela dos lucros na pesquisa 
de outras jazidas. Em contrapartida, as empresas obtiveram do governo líbio a 
 
9 O Irã, por exemplo, teve uma receita extra de US$ 100 milhões e a Arábia Saudita de US$ 
1.200 milhões em 1970 e US$ 2.160 milhões em 1971, o Kuwait teve uma elevação de US$ 895 
milhões para US$ 1.395 milhões. 
10 O preço de referência fiscal foi afetado por um aumento uniforme de US$ 0,33 por barril, com 
reajustes sucessivos de US$ 0,50 a partir de junho de 1971, e a cada início de ano, de 1971 a 
1975. 
 
 
garantia de que não haveria modificação das condições financeiras por um 
período de cinco anos, tal como previsto no Acordo de Teerã. 
Dessa forma, a Líbia teve o apoio de seus parceiros da OPEP para 
conduzir sozinha as negociações com as companhias de petróleo, que não 
hesitaram em transferir as exigências para o consumidor final, incidindo sobre 
ele os aumentos de preços muito superiores aos aumentos de seus próprios 
custos, sob o apoio do governo norte-americano. 
 
Os países exportadores, progressivamente, ao obter maior controle 
sobre as empresas petrolíferas, por meio de participação ou estatização total, 
conseguiram conseqüentemente um maior controle sobre os preços. 
Ao invés de aumentar os rendimentos, apenas aumentando o volume, 
para colocar mais barris no mercado, o que provocava apenas a queda dos 
preços, as empresas buscaram preços mais elevados. O resultado foi o sistema 
de preços submetidos a negociações entre as empresas e os países 
exportadores. A iniciativa de forçar a subida dos preços, cabia agora aos países 
hospedeiros. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO II - OS CHOQUES DO PETRÓLEO, NAS 
DÉCADAS DE 70 E 80, E A REESTRUTURAÇÃO DA 
INDÚSTRIA PETROLÍFERA 
 
 
 No início da década de 70, havia se estabelecido um equilíbrio entre a 
oferta e a demanda. O petróleo barato havia possibilitado um grande 
desenvolvimento econômico, porém isso era difícil de se manter. A demanda 
era crescente e era preciso desenvolver mais suprimentos, o que significava o 
fim da capacidade de manter reservas. Pouco tempo depois, o equilíbrio entre a 
oferta e a demanda já estava prejudicado. 
Neste capítulo são examinados os fatores e eventos, em particular os 
choques de preços da década de 1970, que conduziram a grande influência da 
OPEP na indústria petrolífera mundial, bem como a evolução que a levou a 
retornar a uma posição defensiva com o "contra-choque" do petróleo de 1986. 
 
 
II.1 – A Crise de 1973 
 
 
No final de 1970, havia 3 milhões de barris por dia de capacidade 
excedente no mundo, sendo a maior parte concentrada no Oriente Médio. Em 
1973, a capacidade adicional estava reduzida a menos da metade, em menos 
de 1,5 milhões de barris por dia, que significava aproximadamente 3% da 
demanda total. Depois de novos cortes de produção, feitos pelos países árabes, 
a capacidade de produção excedente estava reduzida a apenas 500 mil barris 
por dia. 
Nessa época, a dependência dos países industrializados do Ocidente 
mais o Japão, em relação ao petróleo como fonte de energia, era muito grande. 
 
o Japão tinha uma dependência de 90% e os países da Europa Ocidental entre 
60% e 80%. Desta forma, o embargo chegou como um choque. 
Em 1973 o petróleo havia se tornado essencial, para as economias 
industriais do mundo, e circulava com muita escassez. Desde o pós-guerra, 
nunca a situação entre a oferta e procura havia sido tão apertada. Tratava-se 
de uma situação, onde qualquer pressão poderia precipitar uma crise em 
proporções mundiais (Yergin, 1992). 
A demanda continuava aumentando nos primeiros meses de 1973. Nos 
Estados Unidos, a produção nacional, mesmo protegida por cotas de produção, 
não poderia acompanhar a sua demanda. Dessa forma, o Governo Nixon abolia 
o sistema de cotas a fim de dividir proporcionalmente os suprimentos 
disponíveis. 
O primeiro elemento a por em causa a estabilidade foi a decisão norte-
americana de suspender a conversibilidade do dólar em ouro. Isso equivalia à 
desvalorização da moeda norte-americana, que tinha o efeito imediato de 
diminuir o poder de compra dos países membro da OPEP, cujos preços de 
referência eram cotados em dólar. Para as companhias de petróleo que 
acreditaram nos acordos e pagaram para assegurar a estabilidade, a 
desvalorização causou um novo impasse que só seria resolvido através de 
novas negociações. 
Com isso as companhias internacionais e os países-membro da OPEP 
reiniciaram as negociações, para fixar o percentual de aumento a ser acordado, 
para compensar as perdas, estimadas em US$ 153 milhões pelos países 
produtores, já que os acordos previam um ajustamento anual. Da reunião de 
janeiro de 1972 resultou o Acordo de Genebra, em que os preços foram 
ajustados em 8,49%. O segundo Acordo de Genebra, em junho de 1973, por 
motivo da segunda desvalorização do dólar, levou a um reajuste de 6,1% sobre 
 
os preços de referência de abril de 1973. Mais importante que o aumento foi a 
aceitação da proteção do preço do petróleo, preservando o poder de compra do 
"petrodólar”11. 
 
Convivendo com a desvalorização do dólar, estavam para surgir grandes 
mudanças na indústria internacional do petróleo. Isso ocorreu principalmente 
em função das relações financeiras e econômicas dos novos centros de poder, 
sem que condições políticas pudessem vulnerar os sistemas de transferência 
então vigentes. Embora a segurança do suprimento fosse garantida pelo 
sofisticado mecanismo do comércio internacional de petróleo, sob a base dos 
Acordos de Genebra, a ordem política do petróleo estava ameaçada, na medida 
em que cresciam temas como a nacionalização, a participação acionária e o 
fortalecimento da OPEP. 
Superando a inexperiência do passado, em outubro de 1973, a 
politização do petróleo ganhou consistência e solidariedade, integrando-se na 
conjuntura internacional como arma de pressão dos países árabes. Para se 
obter o petróleo árabe, além de aumentar o preço de referência, era preciso 
cobrar um preço político. 
Em 1973, as importações dos Estados Unidos alcançaram 6,256 milhões 
de barris por dia contra 4,741 milhões de 197212. Isso elevou o preço de tais 
suprimentos. 
Quando toda a demanda mundial emergiu, diante do limite de suprimento 
disponível, os preços de mercado excederam os preços oficiais (Yergin, 1992), 
invertendo a situação em que, por muito tempo, como reflexo do excesso de 
suprimentos, os preços de mercado permaneciam abaixo dos preços fixados. 
 
11 Denominação informal das receitas em dólar recebidas pelos países da OPEP com a 
exportação de petróleo e de seus derivados. 
12De acordo com o Petroleum Supply Annual 1999. 
 
Entre 1970 e 1973 o preço de mercado do barril de petróleo havia 
dobrado. Os lucros dos países exportadores subiam, assim como a participaçãodas empresas nos rendimentos. Em outubro de 1973, com a decisão de 
aumentar o preço fixado do petróleo em 70%, para US$ 5,11 o barril, alinhava-
se aos preços de um mercado em crise (Yergin, 1992). 
O que pavimentou o preço político do petróleo árabe foram os problemas 
militares na região do Oriente Médio com a Guerra do Yom Kippur, contra 
Israel. A decisão de embargo coletivo foi anunciada em outubro de 1973. 
Nesse embargo coletivo, cada país árabe se comprometia a reduzir 
imediatamente sua produção, de um mínimo de 5%, e de mais 5% nos meses 
subseqüentes, até que Israel se retirasse dos territórios ocupados desde 1967. 
Alguns países anunciaram o corte de 10%, em vez de 5%. Essas reduções 
assegurariam absoluto rebaixamento nos níveis de fornecimento disponíveis. A 
oferta teria uma redução drástica. A expectativa de reduções mensais, 
acrescida da diferenciação entre os países consumidores, devido à guerra, 
maximizaria a incerteza futura. 
O embargo assinalou uma nova era para o petróleo mundial. O petróleo 
era agora um problema importante demais. 
A partir de então, os países consumidores entenderam que desta vez o 
embargo coletivo era para valer. Esse embargo levou o Ocidente a repassar os 
inesperados 70% da alta dos preços para os consumidores, e até a realizar 
lucros suplementares, como de fato correu diante desses acontecimentos. As 
companhias americanas tiveram seus lucros aumentados de 40% até 150%, e, 
na pior das hipóteses, ficaram inalterados. 
O embargo do petróleo árabe tinha dois elementos. Um era composto 
pelas restrições progressivas da produção que afetava todo o mercado, as 
 
reduções iniciais e depois os 5% adicionais em cada mês. O outro elemento era 
a total proibição da exportação de petróleo para países como os Estados 
Unidos, fiel aliado de Israel, restrição depois estendida para outros. 
Em meio aos cortes de produção, havia grande incerteza sobre quanto o 
petróleo estava disponível, combinado com uma tendência para se exagerar a 
perda. Isso tinha influência direta nos preços. Antes do embargo, o petróleo 
disponível totalizava 20,8 milhões de barris por dia. No momento mais crítico do 
embargo, era de 15,8 milhões de barris por dia, uma perda bruta de 5 milhões 
de barris diários de abastecimento do mercado (Yergin, 1992). 
Dessa vez não havia capacidade de reserva nos Estados Unidos, os 
quais haviam perdido sua capacidade de influenciar o mercado mundial de 
petróleo. 
O aumento da produção em outros países significava que a perda líquida 
de abastecimento em dezembro era de 4,4 milhões de barris por dia, cerca de 
9% do total de 50,8 milhões que haviam estado disponíveis dois meses antes. 
Seus efeitos tornaram-se ainda mais graves, devido à rápida taxa de 
crescimento do consumo de petróleo do mundo, que era, em média, de 7,5% ao 
ano. 
Outra incerteza vinha do fato de os países exportadores de petróleo 
pensarem em termos de rendimentos. Agora, com o preço do barril chegando 
às alturas, os países exportadores poderiam reduzir mais os volumes e ainda 
aumentar a sua renda total. Poderiam vender menos e ainda lucrar mais. 
Poderiam tornar esses cortes permanentes e nunca mais devolver ao mercado 
aqueles barris retirados dele, o que elevaria ainda mais os preços. 
A era da escassez havia chegado. A perspectiva era de queda no 
crescimento econômico, inflação e recessão das economias. O sistema 
 
monetário poderia estar sujeito a grandes mudanças. A maior parte do mundo 
desenvolvido sofreria um retrocesso significativo. 
Em meio ao leilão de preços no mercado à vista, a reunião da OPEP, em 
dezembro de 1973, decidiu pelo aumento dos preços para US$ 11,65. Dessa 
forma o preço do barril quadruplicou em 1974. 
Esse evento, marcado pela decisão unilateral da OPEP de quadruplicar 
os preços, foi resultado dos limites dinâmicos da indústria petrolífera para 
sustentar a lógica do mercado comprador, puxado pelo crescimento capitalista 
mundial, principalmente nas décadas de 50 e 60. No início dos anos 70, a 
demanda de petróleo estava se nivelando à produção existente, e o excedente 
acumulado, nesses 20 anos, se aproximava da exaustão (Alveal e Pinto Jr., 
1996). 
Com o ritmo de crescimento da demanda de petróleo mundial, antes de 
1973, dois fatores no segmento de exploração e segmentação contribuíram 
para essa evolução: i) o decréscimo de descobertas de jazidas; e ii) a 
estagnação da produção interna de hidrocarbonetos nos Estados Unidos 
(Alveal e Pinto Jr., 1996). 
Nessa conturbada conjuntura, os países árabes continuaram a embargar 
todos os suprimentos de óleo para países que tivessem posições pró-
israelenses. Dessa forma não deixaram dúvida de que, se a medida fosse mal 
interpretada na Comunidade Européia, toda a Europa seria atingida. Ao final de 
1973, concretizado o corte generalizado de 25% sobre o nível de setembro, 
correspondente a 6 milhões de barris por dia, os preços do petróleo bruto 
dispararam. Os países consumidores tiveram que conviver com a chamada 
"chantagem árabe", de comprovada eficiência, já que os embarques do Golfo 
só eram autorizados após rigorosa fiscalização dos conhecimentos da carga 
dos petroleiros, identificando os destinatários beneficiados. 
 
Os produtores árabes certamente subestimaram a decisão de novembro 
de cortar um total de 25%. A Europa e o Japão começaram a encarar a 
possibilidade de recessão de suas economias. 
Diante dos efeitos colaterais não desejados da politização do petróleo, foi 
decidido isentar tanto a Comunidade Européia como o Japão do corte adicional 
de 5% programado para dezembro. Em termos absolutos, essa decisão 
reconduziu a redução total dos suprimentos ao nível de 2,7 milhões de barris 
por dia, em vez dos 4 milhões de barris por dia, previstos para janeiro. No curso 
dos anos de 1974 e 1975, na Europa, nos Estados Unidos e no Japão, o 
desenvolvimento econômico tornou-se quase sempre nulo ou negativo, de 1 % 
a 2% (Marinho Jr., 1989). 
Em termos geopolíticos, o embargo foi um ato que se beneficiou de 
circunstâncias econômicas e requereu ação política em três frentes interligadas: 
entre Israel e seus vizinhos árabes, entre a América do Norte e seus aliados, e 
entre os países industrializados, principalmente os Estados Unidos, e os países 
exportadores (Yergin, 1992). O fim do embargo só aconteceria em meados de 
1974, com o fim das hostilidades entre árabes e israelenses. A partir da 
separação das forças militares egípcias e israelenses, em janeiro de 1974, a 
arma política do embargo foi perdendo sua força até ocorrer o consenso da sua 
suspensão. 
 
 
II.2 - O Significado do Embargo e da Quadruplicação do Preço 
Mundial do Petróleo 
 
 
Os países produtores árabes se mostraram recompensados pela 
conscientização da opinião pública, sobre a importância do mundo árabe para o 
bem-estar da economia mundial, e pela mudança da política da Comunidade 
Econômica Européia. 
 
O longo embargo de cinco meses falhou, como estratégia, para forçar os 
Estados Unidos e seus aliados a pressionarem Israel a evacuar as terras 
árabes ocupadas. Mas, por outro lado, foi bem sucedido como instrumento 
político, capaz de unificar os países produtores árabes, em torno de uma causa 
comum, e valorizar seu produto de exportação. A politização do petróleo ainda 
teve o mérito de chamar a atenção da opinião pública internacional para o 
problema palestino no Oriente Médio. 
Em termos de valorização, o preço do petróleo chegou a atingir, em 
janeiro de 1974, a marca dos 470% de aumento, em relação ao ano anterior. 
Pela primeira vez na história, os 31 países da OPEP assumiram o papel 
principal no mecanismo de formação de preços, até então umprivilégio das 
majors e dos países desenvolvidos, grandes consumidores13. 
O favorável contexto de reversão de um mercado comprador para um 
mercado vendedor foi o grande responsável pelo deslize do poder de decisão 
das companhias internacionais para os países produtores de petróleo. 
Isso de nada adiantaria, se os países produtores não estivessem 
preparados, política e economicamente, para assumir juntos o poder de decisão 
e agir individualmente ou coletivamente, tirando partido do favorável contexto 
internacional e do laissez-faire do governo norte-americano. Merece todos os 
créditos por ter consolidado o senso de unidade e solidariedade dos países-
membro bem como ter viabilizado o embargo do petróleo árabe como arma 
política, pondo fim à ilusão de que a crise era passageira. 
Sem os movimentos revolucionários nacionalistas do Iraque, Argélia e 
Líbia, sem a pregação altista da tributação venezuelana, sem a substituição da 
estratégia de negociar racionalmente, e sem a revitalização da liderança da 
 
13 Daí as receitas petrolíferas terem triplicado tão rapidamente, saltando de US$ 7.694 milhões 
em 1970, para US$ 21.105 milhões em 1973 (Yergin, 1992). 
 
 
Arábia Saudita, em prol do fortalecimento da unidade do sentimento árabe, era 
pouco provável que o ano de 1973 terminasse como um marco histórico, 
prenúncio de uma nova ordem internacional na indústria mundial do petróleo. 
Ou ainda que sem a OPEP, individualmente, cada país-membro estivesse na 
posição de tomar as decisões certas e maximizar suas receitas petrolíferas 
como efetivamente ocorreu nessa escalada. 
 
O primeiro grande choque do petróleo encerrou o ciclo de uma era em 
que os países industrializados podiam importar vastas quantidades de energia, 
a baixo custo, em troca de produtos finais a preços inflacionados. 
Os Acordos de Teerã, Trípoli e Genebra oficializaram a inversão dos 
custos decrescentes para custos crescentes no mercado internacional do 
petróleo. Isso comprovou que os países da OPEP acertaram rapidamente o 
passo nos anos 70, ao contrário dos seus primeiros anos de existência. 
Diante do comportamento das companhias internacionais de petróleo, 
com o apoio dos setores públicos e privados norte-americanos, favoráveis a 
uma alta de preços, os países-membro da OPEP se sentiram motivados a 
cobrar-lhes o compromisso assumido de reinvestir uma parcela satisfatória dos 
lucros nas áreas de produção. Assim os interesses se tornaram conflitantes. As 
companhias viam nessa transferência de recursos, em favor dos países 
produtores, uma perigosa ameaça ao controle da produção e ao sigilo comercial 
de suas operações petrolíferas. Elas resistiram enquanto puderam. 
Porém os países-membro da OPEP, organizados em empresas públicas 
nacionais, desvendaram o nível de lucratividade das elites controladoras 
internacionais, conhecendo o preço entre filiais e o preço das transações 
internacionais. Dessa forma, conquistaram um espaço novo, no controle e na 
fiscalização das operações petrolíferas, chegando ao epicentro da estrutura de 
 
preços, tendo acesso ao verdadeiro preço de venda do petróleo bruto, até então 
desconhecido. 
A queda da resistência do cartel internacional do petróleo consagrou a 
tomada do poder da OPEP, superando metas de crescente ambição. É bom 
lembrar que o objetivo primordial dos países fundadores da OPEP consistia em 
estabilizar o preço de referência e obter uma parcela financeira cada vez maior 
das receitas provenientes do petróleo. 
A última meta só foi atingida com a criação das empresas estatais da 
OPEP ou com o processo de nacionalização14. 
O país produtor adquiriu o direito nominal de determinar os níveis de 
produção, como o poder de comercializar o seu petróleo diretamente com os 
países consumidores. Dessa forma as elites controladoras internacionais viam 
reduzidas as perspectivas de dominação e poder15. 
Iniciou-se a nova ordem internacional da indústria de petróleo, dominada 
por novas relações internacionais entre os países consumidores e os países 
exportadores, estes, agora, individualmente fortes, e mais fortes ainda por 
estarem regionalmente organizados. Chegava se a tempos de dependência, 
com seus fluxos de movimentação de petróleo, antecipando que nenhum 
acordo poderia regular ou resistir a uma situação de custos crescentes e de 
novas turbulências no contexto internacional. 
 
14 Esse objetivo foi sendo atingido pelo aprimoramento do regime tributário dos países 
hospedeiros no sistema concessionário. Somente depois de muito tempo surgiram outros 
objetivos, com o de determinar o preço do petróleo, bem assim os volumes a serem produzidos 
e comercializados. A fixação do preço pela OPEP e não mais pelas companhias de petróleo foi 
conseguida em 1971, quando os países produtores podiam trabalhar em associação com 
companhias privadas estrangeiras. 
15 Como exemplo, tem-se a incapacidade do governo norte-americano, usando as majors, de 
não ter conseguido que a Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômico – 
OCDE, integrada pelos países da Comunidade Econômica Européia, pelos Estados Unidos, 
Canadá e Japão, se opusesse às reivindicações dos países produtores. 
 
A OPEP abandonava sua estratégia defensiva de outrora e estabelecia a 
era das decisões unilaterais 
 
 
II.3 - O Pós-Crise de 1973 
 
 
Durante boa parte da década de 70, entre 1974 e 1978, os países-
membro da OPEP influiriam sobre a política de relações exteriores e até sobre 
a autonomia de alguns países do mundo. Esses anos foram conhecidos como a 
"Era de Ouro da OPEP". Nessa época os países membro assumiram o controle 
completo de seus próprios recursos e sustentaram árduas lutas com os 
governos dos países grandes consumidores e, também, dentro da própria 
OPEP, sobre o preço do petróleo. Esses embates dominariam as estratégias 
econômicas e a política internacional por toda a década (Yergin, 1992). 
 
Os rendimentos dos países exportadores aumentaram de 23 bilhões de 
dólares, em 1972, para 140 bilhões de dólares, em 1977, acumulando grandes 
superávits financeiros que provocaram o temor de que não pudessem gastar 
todo esse dinheiro. Porém, os países da OPEP investiram em grandes 
programas de industrialização, construção de infra-estrutura, e para expandir, 
alocaram os recursos em subsídios para adquirir serviços, artigos essenciais e 
de luxo. 
Embora a OPEP fosse considerada um cartel, durante esse período, na 
verdade, não o era. Um cartel é definido como uma associação de produtores 
que regula os preços e a produção de uma determinada mercadoria. A OPEP 
estava certamente tentando fixar os preços, mas não a produção. Não havia 
cotas ou níveis de produção determinados. Assim, o mercado estava dominado 
por um oligopólio desordenado. Nesse período, a maior parte dos exportadores 
estava produzindo praticamente à plena capacidade. A única exceção era a 
 
Arábia Saudita que controlava a sua produção para tentar alcançar o preço a 
que se propunha (Yergin, 1992). 
A principal preocupação dos países consumidores, entre os anos de 
1974 e 1978, era se o preço do petróleo continuaria a subir ou permaneceria 
estável. Diante do interesse em não perpetuar os ciclos de recessão e inflação, 
que seriam estimulados por novos aumentos nos preços do petróleo, a OPEP 
assumiu uma posição mais cautelosa. Temia que os preços mais altos e os 
efeitos advindos desse fato pudessem dar início a um afastamento do consumo 
de petróleo, para a conservação de energia e para outras fontes de 
combustível, que poderiam modificar e reduzir o mercado de petróleo, a longoprazo, e, portanto, diminuir o valor das suas reservas (Yergin, 1992). 
O fato de o Irã ter se juntado à Arábia Saudita, no que dizia respeito à 
moderação, era um sinal de que manteriam os preços sob controle. Os dois 
países juntos representavam 48% da produção total da OPEP. Dessa forma, de 
1974 a 1978, houve apenas dois pequenos aumentos do preço geral, dos U$S 
10,84 em dezembro de 1973, para U$S 11,46 em 1975, e para U$S 12,70 no 
final de 197716. 
Com o fim das concessões, as empresas internacionais estavam agora 
se tornando contratadas, com acordos de participação, na produção. Assim, a 
quantidade de petróleo vendida diretamente, pelos próprios exportadores, ao 
mercado, sem beneficiar as companhias, no seu papel de intermediárias, 
aumentou de 8% da produção total da OPEP, em 1973, para 42% em 1979. A 
indústria global de petróleo havia, em pouco mais de cinco anos, se 
transformado completamente sob o império da OPEP17. 
 
 
16 Em 1978, o preço do petróleo, corrigido pela inflação, era cerca de 10% menor que em 1974. Em 
resumo o petróleo não era mais uma mercadoria barata, mas o preço também não foi parar nas alturas. 
17 No final de 1978, as políticas pós-embargo em outros países, como nos Estados Unidos, começaram a 
surtir efeito. Houve uma reação ao embargo de efeito instantâneo. O aumento de preços, a expectativa de 
novos aumentos, grande expansão do fluxo de caixa desencadeou uma grande procura por petróleo. 
 
A OPEP continuou a dominar o mercado mundial do petróleo ao longo 
dos anos 70. Era responsável por 65% da produção total de petróleo em 1973 e 
62% em 1978. Mas seu domínio começava a declinar. O incentivo do preço e 
as razões de segurança estimularam o desenvolvimento da produção de 
petróleo fora da OPEP e, em questão de anos, essas novas fontes 
transformariam o sistema de suprimento mundial de petróleo. Três novas 
regiões petrolíferas teriam influência dominante: o Alasca, o México e o Mar do 
Norte. As reservas do Mar do Norte, na Grã-Bretanha, seriam as mais 
importantes devido ao seu tamanho. 
 
 
II.4 - A Crise de 1979 
 
 
O novo choque do petróleo ocorreu em 1979, com a Revolução Islâmica 
ocorrida no Irã, encorajando as antecipações inflacionárias e favorecendo o 
surgimento de práticas de aumento de preços dentro da OPEP (Terra, 1999). 
Esse novo choque do petróleo passou por vários estágios. O primeiro 
prolongou-se do final de dezembro de 1978, quando cessaram as exportações 
de petróleo iraniano, até o outono de 1979. A perda da produção iraniana foi 
parcialmente compensada por aumentos de produção em outros lugares. A 
Arábia Saudita expandiu sua produção, além de 8,5 milhões de barris diários, 
para 10,5 milhões. Outros países da OPEP também aumentaram sua 
produção18. 
Portanto, o aumento de 150% no preço do petróleo não foi explicado 
somente com essa perda, mas por mais cinco fatores: i) o crescimento do 
consumo de petróleo e o sinal que esse fato representou para o mercado; ii) o 
rompimento de acertos contratuais dentro da indústria petrolífera resultante da 
 
18 O Irã era o segundo maior exportador de petróleo do mundo, atrás somente da Arábia 
Saudita. Porem comparada à demanda mundial de 50 milhões de barris por dia, a perda não 
era maior do que 5%. 
 
Revolução no Irã; iii) o conjunto de estratégias contraditórias e conflitantes dos 
governos consumidores19, iv) a possibilidade, por parte dos países 
exportadores de petróleo, de ganhar rendimentos extras, extremamente 
grandes20 e v) as expectativas da chegada de uma crise petrolífera mais 
profunda21. 
 
A indústria petrolífera mundial mantinha estoques. Esses estoques eram 
necessários para garantir a regularidade das operações. A manutenção de 
estoques era fundamental para o esforço de equilibrar a oferta e a demanda e 
manter a cadeia de operações na normalidade. Manter esses estoques custava 
caro. Significava dinheiro imobilizado no petróleo estocado. A mera suspeita de 
queda dos preços por diminuição no consumo provocava imediata ação de 
"desova" do petróleo estocado, para recuperá-lo, mais adiante, a preços 
menores. Dessa maneira a indústria se comportou na maior parte de 1978, em 
condições de mercado estável. 
 
As companhias, porém, compraram além do consumo previsto, 
principalmente porque não estavam certas de que conseguiriam petróleo mais 
tarde. Essas aquisições extras, para além das reais necessidades de consumo, 
associadas à especulação, levaram a mais um aumento dos preços. Em 1979 
os preços deram um salto, ultrapassando os US$ 5 do preço oficial, para US$ 
13,33. E em 1980 passaram para US$ 30. 
 
 A corrida das companhias para armazenar estoques, reforçada pela dos 
consumidores, resultou numa demanda extra de 3 milhões de barris diários, 
acima das necessidades reais de consumo. Portanto, esse foi um fenômeno 
predominantemente especulativo. 
 
19 Enquanto os governos prometiam cooperação para estabilizar os preços, as companhias 
dessas mesmas nações procuravam aumentar os preços. 
20 Mais uma vez eles podiam afirmar seu poder e influenciar no cenário mundial. A maioria 
continua a aumentar os preços em todas as oportunidades. 
21 A crise esperada para meados da década de 80 chegara em 1979. 
 
No começo de 1979, o petróleo iraniano começou a voltar ao mercado 
mundial, embora em níveis menores que antes. Neste mesmo ano, a produção 
da OPEP estava de volta aos 31 milhões de barris diários, o que mesmo 
computando a interrupção da produção iraniana, era de 3 milhões de barris 
acima da média de 1978. 
O aumento dos preços em 1979 se desenvolveu num momento em que 
as condições de equilíbrio seriam procuradas e estabelecidas num mercado em 
mudança. Os países que eram grandes consumidores adotaram medidas 
econômicas de energia, mesmo às custas da redução do crescimento 
econômico, somadas à produção em jazidas fora da OPEP, o que a fez ter uma 
participação reduzida no mercado mundial (Terra, 1999). 
 
 
II.5 - O Pós-Crise de 1979 
 
 
A Guerra entre o Irã e o Iraque sacudiu o mercado internacional do 
petróleo em 1980. Essa guerra retirou do mercado 4 milhões de barris de 
petróleo por dia, ou seja, cerca de 15% da produção total da OPEP e 8% da 
demanda total mundial. Os preços obviamente aumentaram. Porém a demanda 
por petróleo estava diminuindo. A retração econômica havia começado, 
resultante do aumento de preços associado à decisão das nações do Ocidente 
de lutarem contra a inflação, a qualquer custo, mesmo se implicasse recessão 
profunda. Qualquer que fosse o motivo, a demanda estava diminuindo (Yergin, 
1992). 
 
Desde 1979 as empresas gastavam muito na compra de petróleo a 
qualquer preço, incluindo volumes superiores à demanda. Esse volume extra 
não era consumido, mas sim estocado. No final de 1980, enquanto os estoques 
se mantinham altos, a demanda continuava em alta queda e os preços estavam 
se debilitando. Assim, tornava-se cada vez mais antieconômico acumular 
 
estoques e, portanto, havia incentivo para dispor deles, em vez de comprar 
petróleo adicional. 
 
Não só o consumo estava diminuindo como a produção de outras fontes 
estava compensando a perda de petróleo do Irã e do Iraque (Yergin, 1992). 
Ao mesmo tempo em que alguns países da OPEP aumentavam sua 
produção, e até mesmo algum petróleo do Irã e do Iraque estava voltando ao 
mercado, aumentava-se a produção no México, no Mar do Norte, na Noruega e 
em outros países fora da OPEP, bem como no Alasca. Dessa forma, o uso de 
estoques tornou-se uma alternativa irresistível à compra do petróleo. Osprodutores fora da OPEP, a fim de aumentar suas fatias de mercado, faziam 
descontos significativos em seus preços oficiais. Seu ganho era perda para a 
OPEP e a sua demanda caía com isso. Como resultado, a produção da OPEP 
em 1981 foi 27% menor do que a de 1979. 
Em 1981, com a pressão saudita, para o aumento do preço de US$ 32 
para US$ 34 o barril, os preços do petróleo da OPEP aumentariam pela última 
vez. Alguns países baixariam seu preço para US$ 34. Dessa forma, o preço se 
reunificou. O consolo era que a produção saudita voltaria ao patamar de 8,5 
milhões de barris diários. Os maiores aumentos da produção petrolífera no 
México, no Alasca e no Mar do Norte começaram a mudar a estrutura da 
economia da energia, sendo que vários outros países, considerados de 
pequena expressão individualmente, mas importantes quando tomados em 
conjunto, se tornaram produtores e exportadores. 
Mudanças significativas também aconteciam com, a demanda. A 
dependência crescente do petróleo como fonte de energia, dentre todas as 
outras possibilidades, foi revertida pelo impacto dos preços altos. O carvão 
retornou na geração de energia elétrica e na indústria. A energia nuclear 
também surgiu rapidamente na geração de eletricidade. No Japão, o gás 
 
natural liquefeito aumentou sua participação na economia energética e no 
fornecimento de eletricidade. A combinação disso tudo mostrava que o petróleo 
estava perdendo terreno rapidamente. A participação do petróleo, no mercado 
da energia total consumida, nos países industrializados, caiu de 53%, em 1978, 
para 43%, em 1985. 
Não só o petróleo passava por uma queda, em sua participação no 
mercado da energia, como o próprio mercado estava diminuindo, devido ao 
reflexo do aumento da eficiência energética ou da economia de energia. 
Em 1983, o impacto da economia de energia e da substituição de 
combustíveis foi evidente. O consumo de petróleo mundial era de 6 milhões de 
barris a menos que em 1979, quando se atingiu o pico do consumo. Enquanto a 
demanda caíra entre 1979 e 1983, a produção extra OPEP aumentara em 4 
milhões de barris por dia. Além disso, as companhias de petróleo buscavam 
dispor dos altos estoques que haviam acumulado na previsão de um nível de 
demanda que nunca ocorreu. 
Essas três tendências, a queda na demanda, o crescimento da produção 
fora da OPEP e a grande liberalização dos estoques, reduziram a procura pelo 
petróleo da OPEP em quase 3 milhões de barris por dia, uma queda de 43% 
em relação aos níveis de 1979. A Revolução Iraniana, seguida da Guerra Irã-
Iraque havia afetado seriamente a capacidade de exportação daquele dois 
países. Em vez da escassez, o que se viu foi uma capacidade de produção 
muito maior que a demanda do mercado, em resumo, o aparecimento de um 
maciço excedente de produção (Yergin, 1992). 
Até 1977, a OPEP produzia dois terços de todo o petróleo cru consumido 
no mundo. Em 1982, pela primeira vez, a produção extra-OPEP tomou a 
dianteira em 1 milhão de barris por dia e continuava crescendo. 
 
A OPEP estava em dificuldades. O mercado a confrontava com uma 
escolha entre baixar o preço, para recuperar a sua participação, ou cortar a 
produção e manter os preços. Como a OPEP não ia baixar seus preços, teria 
que cortar a produção para dessa maneira preservar os preços. Em março de 
1982, a organização, que produzira 31 milhões de barris por dia, em 1979, 
estabelecia agora um limite de produção de 18 milhões de barris por dia, com 
cotas individuais de produção para cada país, exceto para a Arábia Saudita, 
que ajustaria sua produção conforme as necessidades. 
Finalmente a OPEP havia se tornado um cartel, administrando e 
alocando a produção e estabelecendo os preços. Esse papel nunca tinha sido 
alcançado anteriormente, pois as estratégias não eram coordenadas e seguidas 
por todos os seus países-membro de forma conjunta. 
Em meados de 1983, a competição continuava a crescer rapidamente no 
mercado de petróleo. Para neutralizar a competição, os descontos e os cortes 
de preços extra-oficiais tornou-se a regra geral entre os países da OPEP. Isso 
levou-a, em março de 1983, a cortar os preços em 15%, entre US$ 29 e US$ 34 
o barril. Era a primeira vez que isso acontecia na história da organização 
(Yergin, 1992). 
Dessa forma, até 1985, os preços foram orientados no sentido de baixa, 
e o papel diretor foi assumido pelo mercado livre. A OPEP, portanto, foi 
pressionada e obrigada a adotar novamente uma estratégia defensiva (Terra, 
1999). 
 
 
II.6 - A Crise de 1986 
 
 
Em meados da década de 80, o preço do petróleo equilibrava-se 
precariamente. A produção fora da OPEP continuava a aumentar, e o carvão, a 
 
energia nuclear e o gás natural continuavam a tomar o mercado do petróleo. À 
medida que os países da OPEP viam seus lucros diminuírem, as fraudes entre 
eles com relação às cotas tornavam-se mais evidentes, descaracterizando o 
cartel. Já que não conseguiam satisfazer a receita através dos preços, dariam 
descontos e tentariam alcançá-la pelo aumento do volume de produção. 
Assim, se viu numa posição crítica. A organização poderia reduzir o 
preço ou continuar a sustentar os altos preços. Mas, se fizesse isso, o petróleo 
que não lhe pertencia prosperaria, junto com as outras fontes de energia 
concorrentes ao petróleo, garantindo a si própria uma parcela muito reduzida do 
mercado. 
Assim, a Arábia Saudita passou da defesa dos preços à defesa dos 
volumes, ao seu próprio nível desejado de produção, e a escolher acordos de 
lucros garantidos com algumas companhias de petróleo. Seu objetivo era 
recuperar o seu nível de cotas da OPEP. O contrato de lucros garantidos 
significava que já não havia mais um preço saudita oficial. O preço seria aquele 
alcançado pelo petróleo no mercado. Dessa forma, não haveria mais um preço 
estabelecido pela OPEP. 
Por seus atos, a Arábia Saudita já tinha declarado guerra pela 
participação no mercado, contra os demais países da OPEP. Agora a OPEP, 
como um grupo, anunciava a sua intenção de disputar com os países não 
membros a recuperação dos mercados perdidos. A partir daí os preços 
começaram a desabar. 
Nos dois choques anteriores, perdas marginais e interrupções no 
fornecimento tinham sido o suficiente para mandar os preços para o alto. A 
produção da OPEP, nos quatro primeiros meses de 1986 variava numa média 
de 17,8 milhões de barris por dia, cerca de apenas 9% acima da produção de 
1985. Ao todo, a produção adicional não significava mais de 3% do suprimento 
 
total de petróleo no mundo. No entanto, isso tudo, associado ao compromisso 
com a participação no mercado foi o suficiente para fazer caírem os preços a 
níveis tão baixos (Yergin, 1992). 
Nesse terceiro choque do petróleo, eram os exportadores que lutavam 
por mercados, ao invés dos compradores a brigar por suprimentos, o que 
aconteceu nos choques anteriores do petróleo. Os preços entraram em queda e 
estavam também fora de controle. Afinal, o preço agora era estabelecido pelas 
inúmeras negociações individuais. Os próprios membros da OPEP, 
individualmente, entraram em disputa uns com os outros pela conquista de 
mercados. 
Os dois fatores fundamentais, que causaram essa queda, nos preços, 
eram que havia mais petróleo à procura de mercados do que mercados à 
procura de petróleo e que a posição de regulador ou swing producer, da Arábia 
Saudita, fora eliminada. 
Não havia existido uma experiência anterior a essa de um ambiente 
competitivo na indústria petrolífera mundial. Agora, o preço em que o petróleo 
devia competir com outras fontes de energia e com a economia de consumo era 
o de US$ 18 o barril. O novo preço iria reacender a demanda por petróleo,

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