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Direito Processual Penal

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INQUÉRITO POLICIAL
1 – Conceito
Inquérito policial é um procedimento administrativo inquisitório e preparatório, presidido pela autoridade policial, consistente no conjunto de diligências realizadas com o objetivo de colher elementos de informação quanto à autoria e à materialidade do delito, a fim de que o titular da ação penal possa ingressar em juízo.
A partir do momento em que um delito é praticado, o Estado começa a desenvolver uma série de medidas com o objetivo de punir o agente. As investigações policiais, iniciadas através do inquérito policial, são o começo dessas atividades.
1.1 – Fundamento da existência da investigação preliminar[2: Tópico extraído do livro do professor Aury Lopes Junior, pg. 267.]
O fundamento da existência do processo penal é a instrumentalidade constitucional e desse marco a investigação preliminar não se pode afastar. Explica Carnelutti que, para evitar equívocos, a função do procedimento preliminar não deve ser entendida no sentido de uma preparação ao procedimento definitivo, mas ao contrário, no sentido de um obstáculo a superar para que se possa abrir o processo penal.
Também colocando em relevo a finalidade de proteção, Leone afirma que a instrução preliminar tem duas finalidades:
i) assegurar a máxima genuinidade do matéria probatória;
ii) evitar que o imputado inocente seja submetido ao processo, que com sua publicidade (ainda que se conclua favoravelmente a ele) constitui uma causa de grave descrédito e humilhação.
2 – Natureza jurídica do inquérito policial
O inquérito policial é um procedimento de natureza administrativa (é um procedimento administrativo), porque dele não resulta a imposição direta de sanção. Há dois momentos bem distintos no Processo Penal, o das investigações (inquérito policial) e o da ação penal (denúncia ou queixa), ao final da qual será eventualmente imposta a sanção.
Eventuais vícios constantes do inquérito policial não contaminam o processo a que der origem, salvo em se tratando de provas ilícitas. Exemplo: a investigação de crime pela Polícia Federal em hipótese de atribuição da Polícia Civil é mera irregularidade, que não contaminará a ação penal. Todavia, viciará a ação penal a confissão obtida por Delegado, no curso das investigações, mediante tortura, por se tratar de prova ilícita.
3 – Finalidade do inquérito policial
A finalidade do inquérito policial é a colheita de elementos de informação quanto à autoria e à materialidade do delito. Alguns manuais falam ainda que a finalidade do inquérito seria a colheita de provas.
Aury Lopes Junior afirma que o inquérito policial tem por finalidade o fornecimento de elementos para decidir entre o processo e o não processo, assim como servir de fundamento para as medidas endoprocedimentais que se façam necessárias no seu curso.
O autor entende que a investigação preliminar serve para – provisionalmente – reconstruir o fato e individualizar a conduta dos possíveis autores, permitindo assim o exercício e a admissão da denúncia. Servirá sim para indicar elementos que permitam produzir a prova em juízo, isto é, para a articulação dos meios de prova. Uma testemunha ouvida no inquérito que aportou informações úteis será articulada como meio de prova e, com a oitiva em juízo, produz uma prova. Em efeito, o inquérito filtra e aporta as fontes de informação úteis. Sua importância está em dizer quem deve ser ouvido, e não o que foi declarado. A declaração válida é a que se produz em juízo, e não a contida no inquérito.
Em síntese, o CPP não atribui nenhuma presunção de veracidade aos atos do IP. Todo o contrário, atendendo a sua natureza jurídica e estrutura, esses atos praticados e os elementos obtidos na fase pré-processual devem acompanhar a ação penal apenas para justificar o recebimento ou não da acusação. É patente a função endoprocedimental dos atos de investigação. Na sentença, só podem ser valorados os atos praticados no curso do processo penal, com plena observância de todas as garantias. 
3.1 – Provas versus elementos de informação
Deve-se atentar para a distinção, feita com base na nova redação do art. 155 do CPP, dada pela lei 11.690/2008, que hoje é muito clara:
Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas. (...)
	Elementos de informação
	Provas
	Produzidos na fase investigatória.
	Em regra, são produzidas na fase judicial
(excepcionalmente, existe a possibilidade de produção de provas na fase investigatória: provas cautelares, não repetíveis e antecipadas).
	Não é obrigatória a observância do contraditório e da ampla defesa (posição majoritária). A surpresa é fundamental ao sucesso das investigações (ex.: no caso do goleiro Bruno, a Polícia dizia à imprensa quais seriam as próximas diligências, o que é prejudicial às investigações).
	É obrigatória a observância da ampla defesa e do contraditório, ainda que diferido.
	O Juiz só deve intervir quando provocado, para a proteção de garantias e direitos fundamentais. O objetivo é a preservação da imparcialidade do Magistrado.
	Deve ser produzida na presença do juiz. Sem a intervenção do juiz, não será chamada de prova. O CPP adotou em 2008, finalmente, o princípio da identidade física do juiz, segundo o qual o juiz que acompanhou a instrução deve, pelo menos em regra, proferir a sentença. Acompanhar o ato é muito diferente de ler o papel, em vista dos detalhes perceptíveis durante a colheita da prova, como nervosismo da testemunha etc. (art. 399, § 2º do CPP).[3: Art. 399. (...) § 2º O juiz que presidiu a instrução deverá proferir a sentença.]
	Finalidades: (i) formar a convicção do titular da ação penal (a opinio delicti) e (ii) servir de amparo para a decretação de medidas cautelares. 
	
	Elementos informativos, isoladamente considerados, não podem fundamentar uma condenação (o art. 155 fala em “exclusivamente”). Porém, não devem ser desprezados, podendo se somar à prova produzida em juízo para formar a convicção do magistrado. Alguns doutrinadores criticaram o advérbio, no sentido de que ensejaria o direito penal do inimigo. Todavia, o advérbio sempre representou a orientação do STF (RE 425.734 e RE 287.658).
	
Segundo Aury Lopes Junior, partindo dessa distinção, conclui-se facilmente que o inquérito policial somente gera atos de investigação e, como tais, de limitado valor probatório. Seria um contrassenso outorgar maior valor a uma atividade realizada por um órgão administrativo, muitas vezes sem nenhum contraditório ou possibilidade de defesa e ainda sob o manto do segredo. 
Na reforma de 2008, queriam que o inquérito policial fosse excluído, ou seja, que deixasse de fazer parte do processo penal, mas isso não passou.
3.2 – Provas cautelares, não repetíveis e antecipadas
A nova redação do art. 155 introduziu no CPP a terminologia “provas cautelares”, “provas não repetíveis” e “provas antecipadas”. Estas espécies podem ser produzidas tanto na fase do inquérito quanto no curso da ação penal.
3.2.1 – provas cautelares
Provas cautelares são aquelas em que há um risco de desaparecimento do objeto da prova em razão do decurso do tempo, em relação às quais o contraditório será diferido. São as provas urgentes.
3.2.2 – provas não repetíveis
Provas não repetíveis são aquelas que não têm como ser novamente coletadas ou produzidas em virtude do desaparecimento ou destruição da fonte probatória. Como o próprio nome diz, ela é produzida num primeiro momento, em geral sem autorização judicial.
Exemplo 1: exame pericial em crimes cujos vestígios podem desaparecer. Cuidado: não é todo o exame pericial que será considerado prova não repetível. Alguns deles podem ser repetidos, como o caso das drogas, em que pequena quantidade é guardada para a contraprova.
Exemplo 2: exame de corpo de delito em mulher vítima de violência doméstica.
Nas provas não repetíveis,o contraditório também será diferido. Hoje, há a possibilidade de nomeação de assistente técnico para a análise posterior da prova não repetível.
Aury Lopes Junior afirma que na grande maioria dos casos trata-se de provas técnicas que devem ser praticadas no curso do inquérito policial e cuja realização não pode ser deixada para um momento ulterior, já na fase processual. Pela impossibilidade de repetição em iguais condições, tais provas deveriam ser colhidas pelo menos sob a égide da ampla defesa (isto é, na presença fiscalizante da defesa técnica), visto que são provas definitivas e, via de regra, incriminatórias (ex.: exame de corpo de deito, apreensão de substância tóxica em poder do autor do fato). Nesse sentido, é importante permitir a manifestação da defesa, para postular outras provas, solicitar determinado tipo de análise ou de meios e formular quesitos aos peritos, cuja resposta seja pertinente para o esclarecimento do fato ou da autoria. 
O incidente de produção antecipada de prova é uma forma de jurisdicionalizar a atividade probatória no curso do inquérito, através da prática do ato ante uma autoridade jurisdicional e com plena observância do contraditório e do direito de defesa. A publicidade ou ausência de segredo externo poderia ser limitada atendendo às especiais características do ato, tendo em vista o momento em que se realiza e o interesse em evitar prejuízos para a investigação e a prematura estigmatização social do sujeito passivo.
O incidente de produção antecipada de prova somente pode ser admitido em casos extremos, em que se demonstra a fundada probabilidade de que será inviável a posterior repetição na fase processual da prova. Ademais, para justificá-lo, deve estar demonstrada a relevância da prova para a decisão da causa.
3.2.3 – provas antecipadas
Provas antecipadas são aquelas produzidas com a observância do contraditório real, perante a autoridade judiciária, em momento processual distinto daquele legalmente previsto, ou até mesmo antes do início do processo, em virtude de situação de urgência e relevância. A defesa acompanhará a produção da prova, que é realizada perante o magistrado.
O melhor exemplo de prova antecipada é o da oitiva de uma testemunha chave internada no hospital, que é a única vítima sobrevivente de uma chacina, em perigo de morte. Nesse caso, o Delegado tem de representar ao Juiz para a oitiva da pessoa como prova antecipada. Todos vão ao hospital, inclusive o suspeito, se houver (caso não haja, nomeia-se advogado dativo).
O art. 225 do CPP disciplina uma hipótese de prova antecipada (“depoimento ad perpetuam rei memorium”):
Art. 225. Se qualquer testemunha houver de ausentar-se, ou, por enfermidade ou por velhice, inspirar receio de que ao tempo da instrução criminal já não exista, o juiz poderá, de ofício ou a requerimento de qualquer das partes, tomar-lhe antecipadamente o depoimento.
4 – Atribuição para a presidência do inquérito policial
Deve-se atentar para o fato de que é equivocado utilizar a expressão competência, pois quem tem competência é o Juiz.
A atribuição para o inquérito é, em geral, relacionada com a competência para o julgamento do delito.
4.1 – Crime militar
Em se tratando de competência da Justiça Militar da União, as Forças Armadas (Exército, Marinha ou Aeronáutica) investigarão o delito, através do inquérito policial militar.
Se o crime praticado for da competência da Justiça Militar dos Estados, investigará a própria Polícia Militar ou o Corpo de Bombeiros, através, mais uma vez, do inquérito policial militar.
4.2 - Crime “federal” (da competência da Justiça Federal)
No caso de crime da competência da Justiça Federal, investigará o crime a Polícia Federal. Não havendo Polícia Federal na cidade, não há ilegalidade nas investigações realizadas pela Polícia Civil.
4.3 - Crime eleitoral
A Justiça eleitoral é da União, de modo que quem investigará o crime é a Polícia Federal. Mais uma vez, não havendo Polícia Federal na cidade, não há ilegalidade nas investigações da Polícia Civil.
4.4 - Crime de competência da Justiça Estadual
Em se tratando de crime da competência da Justiça Estadual, realizará a investigação, em regra, a Polícia Civil.
Cuidado, entretanto, pois se o delito possuir repercussão interestadual ou internacional e exigir repressão uniforme, é possível que as investigações sejam feitas não só pela Polícia Civil como pela Polícia Federal:
Art. 144, § 1º, I, parte final, da CR:
Art. 144. (...) § 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se a:
I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei; [nesses casos, é possível que a Polícia Federal auxilie as instâncias estaduais nas investigações] 
A lei a que se refere o dispositivo é a Lei nº 10.446/2002 (“Dispõe sobre infrações penais de repercussão interestadual ou internacional que exigem repressão uniforme, para os fins do disposto no inciso I do § 1º do art. 144 da Constituição”)
Art. 1o Na forma do inciso I do § 1o do art. 144 da Constituição, quando houver repercussão interestadual ou internacional que exija repressão uniforme, poderá o Departamento de Polícia Federal do Ministério da Justiça, sem prejuízo da responsabilidade dos órgãos de segurança pública arrolados no art. 144 da Constituição Federal, em especial das Polícias Militares e Civis dos Estados, proceder à investigação, dentre outras [ex.: crimes praticados pela Internet, como a clonagem de cartões], das seguintes infrações penais:
I – sequestro, cárcere privado e extorsão mediante sequestro (arts. 148 e 159 do Código Penal), se o agente foi impelido por motivação política ou quando praticado em razão da função pública exercida pela vítima;
II – formação de cartel (incisos I, a, II, III e VII do art. 4o da Lei no 8.137, de 27 de dezembro de 1990); e
III – relativas à violação a direitos humanos, que a República Federativa do Brasil se comprometeu a reprimir em decorrência de tratados internacionais de que seja parte; e
IV – furto, roubo ou receptação de cargas, inclusive bens e valores, transportadas em operação interestadual ou internacional, quando houver indícios da atuação de quadrilha ou bando em mais de um Estado da Federação.
Parágrafo único. Atendidos os pressupostos do caput, o Departamento de Polícia Federal procederá à apuração de outros casos, desde que tal providência seja autorizada ou determinada pelo Ministro de Estado da Justiça.
5 – Características do inquérito policial
5.1 – Escrito
O inquérito policial é uma peça escrita. Tudo é documentado no papel (art. 9º, CPP):
Art. 9o Todas as peças do inquérito policial serão, num só processado, reduzidas a escrito ou datilografadas e, neste caso, rubricadas pela autoridade.
O inquérito ou algumas diligências dele podem ser gravadas? Deve-se aplicar o art. 405, § 1º, do CPP, inserido no Capítulo que trata do procedimento judicial:
Art. 405. (...) § 1o Sempre que possível, o registro dos depoimentos do investigado, indiciado, ofendido e testemunhas será feito pelos meios ou recursos de gravação magnética, estenotipia, digital ou técnica similar, inclusive audiovisual, destinada a obter maior fidelidade das informações.
Ora, se é possível a gravação de um depoimento no curso do processo judicial, por que não no inquérito policial?
Há doutrinadores que entendem pela possibilidade de gravação de diligências no inquérito policial. Todavia, não é tudo que será gravado, pois a peça escrita é mais produtiva, na hora de reanálise da prova. As gravações têm sido muito utilizadas nas reconstituições dos crimes.
5.2 – Dispensável
Se o titular da ação penal contar com elementos de informação a partir de peças de informação distintas, poderá dispensar o inquérito policial.O inquérito policial ainda é hoje o principal instrumento investigatório, mas não é a única fonte de investigação, como demonstra, por exemplo, o art. 39, § 5º, do CPP:
Art. 39 (...) § 5o O órgão do Ministério Público dispensará o inquérito, se com a representação forem oferecidos elementos que o habilitem a promover a ação penal, e, neste caso, oferecerá a denúncia no prazo de quinze dias.
5.3 – Sigiloso
A surpresa é essencial à eficácia das diligências investigatórias. A CR determina que a publicidade deve ser observada no processo judicial. O que hoje tem acontecido é uma deturpação do sigilo, pois os Delegados frequentemente dão excessiva publicidade ao inquérito nos meios de comunicação.
O sigilo do inquérito policial não se opõe ao Ministério Público, ao Juiz e ao defensor. Quanto ao advogado, hoje o tema é pacífico: no art. 5º, LXIII, a CR prevê a assistência de advogado à pessoa objeto de investigação. O EAOAB (Lei 8.906/94), em seu art. 7º, XIV (direitos do advogado), permite a análise de autos de inquérito policial:
Art. 5º (...) LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado;
Art. 7º São direitos do advogado: (...)
XIV - examinar em qualquer repartição policial, mesmo sem procuração, autos de flagrante e de inquérito, findos ou em andamento, ainda que conclusos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos;
Esse acesso, contudo, não é amplo, ilimitado. O advogado tem acesso às diligências já realizadas e documentadas no inquérito policial, mas não àquelas em andamento. Essa separação serve para evitar a ineficácia das investigações. Trata do assunto a Súmula Vinculante nº 14:
Súmula Vinculante 14 – É DIREITO DO DEFENSOR, NO INTERESSE DO REPRESENTADO, TER ACESSO AMPLO AOS ELEMENTOS DE PROVA QUE, JÁ DOCUMENTADOS EM PROCEDIMENTO INVESTIGATÓRIO REALIZADO POR ÓRGÃO COM COMPETÊNCIA DE POLÍCIA JUDICIÁRIA, DIGAM RESPEITO AO EXERCÍCIO DO DIREITO DE DEFESA.
Se o acesso do advogado ao inquérito for negado, os instrumentos de que ele pode se valer são: 
i) Reclamação para o STF, em virtude da Súmula Vinculante;
ii) Mandado de Segurança, que deve ser impetrado em nome do advogado, detentor do direito líquido e certo de acesso ao inquérito policial;
iii) Habeas Corpus, sempre que houver, ainda que de modo potencial, risco ou prejuízo à liberdade de locomoção. O HC, diferentemente do MS, é impetrado apontando o investigado como paciente.
5.4 – Inquisitorial
Não é obrigatória a observância do contraditório e da ampla defesa no inquérito policial. Há doutrina minoritária em sentido diverso (Marta Saad).
O “inquérito para a expulsão de estrangeiro” (arts. 68 a 71 da Lei 6.815/80) não se trata, propriamente, de um inquérito, mas de um procedimento diverso. Nele, é obrigatória a observância do contraditório e da ampla defesa.[4: Art. 68. Os órgãos do Ministério Público remeterão ao Ministério da Justiça, de ofício, até trinta dias após o trânsito em julgado, cópia da sentença condenatória de estrangeiro autor de crime doloso ou de qualquer crime contra a segurança nacional, a ordem política ou social, a economia popular, a moralidade ou a saúde pública, assim como da folha de antecedentes penais constantes dos autos. (Renumerado pela Lei nº 6.964, de 09/12/81) Parágrafo único. O Ministro da Justiça, recebidos os documentos mencionados neste artigo, determinará a instauração de inquérito para a expulsão do estrangeiro.Art. 69. O Ministro da Justiça, a qualquer tempo, poderá determinar a prisão, por 90 (noventa) dias, do estrangeiro submetido a processo de expulsão e, para concluir o inquérito ou assegurar a execução da medida, prorrogá-la por igual prazo. (Renumerado pela Lei nº 6.964, de 09/12/81) Parágrafo único. Em caso de medida interposta junto ao Poder Judiciário que suspenda, provisoriamente, a efetivação do ato expulsório, o prazo de prisão de que trata a parte final do caput deste artigo ficará interrompido, até a decisão definitiva do Tribunal a que estiver submetido o feito.Art. 70. Compete ao Ministro da Justiça, de ofício ou acolhendo solicitação fundamentada, determinar a instauração de inquérito para a expulsão do estrangeiro. (Renumerado pela Lei nº 6.964, de 09/12/81)Art. 71. Nos casos de infração contra a segurança nacional, a ordem política ou social e a economia popular, assim como nos casos de comércio, posse ou facilitação de uso indevido de substância entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica, ou de desrespeito à proibição especialmente prevista em lei para estrangeiro, o inquérito será sumário e não excederá o prazo de quinze dias, dentro do qual fica assegurado ao expulsando o direito de defesa. (Renumerado pela Lei nº 6.964, de 09/12/81)]
5.5 – Discricionário
O inquérito é conduzido de maneira discricionária pela autoridade policial, que deve guiar as investigações de acordo com as peculiaridades do caso concreto. Não é um procedimento predeterminado passo a passo. As etapas dependerão do caso concreto.
Os arts. 6º e 7º do CPP preveem um roteiro de diligências que podem ser realizadas pela autoridade. Trata-se de rol exemplificativo:
Art. 6o Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade policial deverá:
I - dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e conservação das coisas, até a chegada dos peritos criminais; (Vide Lei nº 5.970, de 1973)
II - apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos peritos criminais; 
III - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e suas circunstâncias;
IV - ouvir o ofendido;
V - ouvir o indiciado, com observância, no que for aplicável, do disposto no Capítulo III do Título VII, deste Livro, devendo o respectivo termo ser assinado por duas testemunhas que Ihe tenham ouvido a leitura;
VI - proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a acareações;
VII - determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo de delito e a quaisquer outras perícias;
VIII - ordenar a identificação do indiciado pelo processo datiloscópico, se possível, e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes;
IX - averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista individual, familiar e social, sua condição econômica, sua atitude e estado de ânimo antes e depois do crime e durante ele, e quaisquer outros elementos que contribuírem para a apreciação do seu temperamento e caráter.
Art. 7o Para verificar a possibilidade de haver a infração sido praticada de determinado modo, a autoridade policial poderá proceder à reprodução simulada dos fatos, desde que esta não contrarie a moralidade ou a ordem pública.
A condução do inquérito é discricionária, não arbitrária. Eventual arbitrariedade praticada sujeitará o Delegado às penas do crime porventura cometido.
A discricionariedade do inquérito policial, todavia, não tem natureza absoluta. O art. 14, parte final, do CPP, gramaticalmente lido, parece dizer que o Delegado pode fazer o que quiser com as investigações:
Art. 14. O ofendido, ou seu representante legal, e o indiciado poderão requerer qualquer diligência, que será realizada, ou não, a juízo da autoridade.
Todavia, para os tribunais, só é possível o indeferimento de diligências inúteis, protelatórias ou desnecessárias (STJ HC 69.405).
Aury Lopes Junior afirma que a polícia judiciária leva a cabo o inquérito policial com autonomia e controle. Contudo, depende de intervenção judicial para a adoção de medidas restritivas de direitos fundamentais.
5.6 – Indisponível
O Delegado não pode arquivar o inquérito. O arquivamento é um procedimento complexo, que passa pelo MP e chega ao Juiz (art. 17, do CPP):
Art. 17. A autoridade policial não poderá mandar arquivar autos de inquérito.
5.7 – Temporário
Para a doutrina, se o investigado está solto, o prazo para a conclusão do inquérito pode ser sucessivamente prorrogado.
Essa é a posição que ainda prevalece. Todavia, a EC 45 trouxe a garantia da razoável duraçãodo processo. A doutrina mais moderna vem entendendo que ela se aplica aos inquéritos policiais, para evitar que alguém seja investigado indefinidamente. No STJ HC 96.666, por exemplo, foi trancado o inquérito policial de um sujeito investigado por 7 anos. Recentemente, em 2014, o STJ no HC 283.751/RJ reconheceu ilegalidade em Inquérito que já tramitava há 04 anos. 
6 – Formas de instauração do inquérito policial
As formas de instauração do inquérito policial variam de acordo com a espécie de ação penal.
6.1 – Crimes de ação penal pública incondicionada
6.1.1 - de ofício
Por conta do princípio da obrigatoriedade, se a autoridade policial toma conhecimento da prática de um delito, é obrigada a instaurar o inquérito policial. Nesse caso, o Delegado lavra uma Portaria, que será a peça inaugural do IP.
6.1.2 - requisição do Juiz ou do MP
A peça inaugural do inquérito policial, nesse caso, é a própria requisição do Juiz ou do MP. Mediante requisição, o Delegado é obrigado a instaurar o IP.
Cuidado: de acordo com o CPP, o Juiz poderia requisitar o inquérito policial. Todavia, o Juiz que o faz acaba por colocar em xeque a sua parcialidade. O CPP é de 1942, de inspiração fascista italiana. A maioria da doutrina mais moderna entende que a regra não foi recepcionada, por violar a regra da imparcialidade.
6.1.3 - requerimento do ofendido ou de seu representante legal
O Delegado, no caso de requerimento do ofendido ou de seu representante legal, não é obrigado a instaurar o inquérito policial. A instauração do inquérito, por si só, é um prejuízo muito grande para a pessoa, razão pela qual, antes de fazê-lo, o Delegado deve verificar a procedência das informações.
Na hipótese de indeferimento, cabe recurso para o chefe de Polícia (art. 5º, § 2º, CPP):
§ 2o Do despacho que indeferir o requerimento de abertura de inquérito caberá recurso para o chefe de Polícia.
Hoje, o chefe de Polícia, dependendo do Estado, é o Secretário de Segurança Pública ou o Delegado-Geral da Policia Civil (São Paulo).
Entendendo procedentes as alegações da vitima, o Delegado lavra uma Portaria e inicia o inquérito policial.
6.1.4 - notícia oferecida por qualquer do povo
Código de Processo Penal
Art. 5º (...) § 3o Qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da existência de infração penal em que caiba ação pública poderá, verbalmente ou por escrito, comunicá-la à autoridade policial, e esta, verificada a procedência das informações, mandará instaurar inquérito.
Usa-se, para designar esta hipótese, a expressão “delatio criminis”. Um terceiro comunica o delito à autoridade policial. Neste caso, o Delegado também deve analisar a procedência das informações, para não instaurar um inquérito temerário contra um inocente.
6.1.5 - auto de prisão em flagrante delito
No caso do inquérito policial instaurado em virtude de flagrante delito, o próprio auto será a peça inaugural.
No Código de Processo Penal Militar, se o auto de prisão em flagrante for suficiente para a elucidação do fato, ele constituirá o próprio inquérito.
É importante saber como o inquérito policial foi instaurado, para fins de definição da autoridade coatora. Instaurado através de Portaria ou auto de prisão em flagrante, o Delegado será a autoridade coatora para o fim de eventual Habeas Corpus. Caso o inquérito tenha sido instaurado mediante Requisição do MP, o MP será a autoridade coatora. Caso o Delegado seja a autoridade coatora, o HC será apreciado por Juiz de 1ª instância; caso se trate do MP, o HC será apreciado pelo respectivo tribunal.
6.2 – Crimes de ação penal pública condicionada e de ação penal privada
6.2.1 – requerimento do ofendido ou de seu representante legal
O inquérito policial, nos crimes de ação penal pública condicionada ou de ação penal privada, pode ser instaurado mediante requerimento do ofendido ou de seu representante legal.
6.2.2 - requisição do Ministro da Justiça
Outra hipótese de instauração de inquérito policial é a requisição do Ministro da Justiça.
7 – Notitia Criminis
7.1 - Conceito
Notitia Criminis é o conhecimento, espontâneo ou provocado, por parte da autoridade policial, acerca de um fato delituoso. É popularmente chamada de “queixa”.
7.2 - Espécies de notitia criminis
7.2.1 – notitia criminis de cognição imediata
Ocorre quando a autoridade policial toma conhecimento do delito por meio de suas atividades rotineiras. Ex.: o Delegado, investigando um delito, descobre outro delito.
7.2.2 - notitia criminis de cognição mediata (ou de cognição provocada)
Ocorre quando a autoridade policial toma conhecimento do crime por meio de um expediente escrito. Nesse caso, autoridade é provocada a tomar conhecimento do fato delituoso.
7.2.3 - notitia criminis de cognição coercitiva
Ocorre quando a autoridade policial toma conhecimento do crime através da apresentação de alguém preso em flagrante. É aquela que o Delegado não tem como evitar. É obrigado a tomar conhecimento.
7.3 – Observações
7.3.1 – notitia criminias versus delatio criminis
Delatio criminis nada mais é que a notitia criminis feita por qualquer do povo.
7.3.2 – notitia criminis inqualificada
A notitia criminis inqualificada é vulgarmente conhecida como “denúncia anônima”.
O Delegado pode instaurar inquérito policial com base em denúncia anônima? A denúncia anônima, por si só, não serve para fundamentar a instauração de um inquérito. Mas, a partir dela, a Polícia pode realizar diligências preliminares para verificar a veracidade das informações e, então, instaurar o inquérito policial (STF HC 99.490).
8 – Identificação Criminal
A identificação criminal é realizada em dois momentos: i) identificação fotográfica; e ii) identificação datiloscópica (envolve a colheita das impressões digitais) e atualmente iii) identificação genética. A formação dos pontos característicos relacionados à impressão digital começa a surgir a partir dos três meses de estado fetal, permanecendo até depois do falecimento.
Antes da CR/88, a identificação criminal era a regra, mesmo que o indivíduo se identificasse civilmente. Prova disso é a Súmula 568 do STF:
Súmula 568 – A IDENTIFICAÇÃO CRIMINAL NÃO CONSTITUI CONSTRANGIMENTO ILEGAL, AINDA QUE O INDICIADO JÁ TENHA SIDO IDENTIFICADO CIVILMENTE.
Essa Súmula perdeu a razão de ser. Em razão do teor do art. 5º, LVIII, da CR, a identificação criminal tornou-se excepcional. Ela somente será possível nos casos previstos em lei:
Art. 5º (...) LVIII - o civilmente identificado não será submetido a identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei;
Tratam da identificação criminal os seguintes dispositivos legais:
i) art. 109 da Lei 8.069/90 (ECA):
Art. 109. O adolescente civilmente identificado não será submetido a identificação compulsória pelos órgãos policiais, de proteção e judiciais, salvo para efeito de confrontação, havendo dúvida fundada.
ii) art. 5º da Lei 9.034/95 (Lei das Organizações Criminosas): 
Art. 5º A identificação criminal de pessoas envolvidas com a ação praticada por organizações criminosas será realizada independentemente da identificação civil.
Neste caso, havia identificação criminal compulsória, caso a pessoa estivesse sendo investigada por participar de organização criminosa. A Lei 9.034/95 foi revogada pela Lei 12.850/2013, que não prevê semelhante dispositivo.
iii) Lei 10.054/00 (específica sobre identificação criminal): a lei foi revogada em 2009. O art. 3º, I, previa um rol de crimes em que seria possível a identificação criminal, mesmo tendo sido o agente identificado civilmente:
Art. 3o O civilmente identificado por documento original não será submetido à identificação criminal, exceto quando:
I – estiver indiciado ou acusado pela prática de homicídio doloso, crimes contra o patrimônio praticados mediante violência ou grave ameaça, crime de receptação qualificada, crimes contra a liberdade sexual ou crime de falsificação de documento público;
O STJ entendia que, como o dispositivo não ressalvava a ação praticada por organizações criminosas, o art. 5º da Lei 9.034/95 teria sidotacitamente revogado (RHC 12.965).
iv) Lei 12.037/09 (atual lei que dispõe sobre a identificação criminal, tendo revogado a Lei 10.054/2000):
O art. 1º da Lei 12.037/2009 ressalva os casos nela previstos, o que permite concluir que a identificação criminal está regulamentada apenas por essa lei:
Art. 1º O civilmente identificado não será submetido a identificação criminal, salvo nos casos previstos nesta Lei.
Não é o caso de se preocupar, portanto, com os dispositivos anteriormente citados.
Ao contrário da lei 10.054/00, a 12.037/09 não trouxe um rol taxativo de delitos em que seria possível a identificação criminal. A lei anterior era muito criticada, justamente por conta do rol: era algo meio lombrosiano.
As hipóteses de identificação criminal estão previstas no art. 3º da nova lei:
Art. 3º Embora apresentado documento de identificação, poderá ocorrer identificação criminal quando:
I – o documento apresentar rasura ou tiver indício de falsificação;
II – o documento apresentado for insuficiente para identificar cabalmente o indiciado; [é o caso, por exemplo, da apresentação somente da certidão de nascimento]
III – o indiciado portar documentos de identidade distintos, com informações conflitantes entre si;
IV – a identificação criminal for essencial às investigações policiais, segundo despacho da autoridade judiciária competente, que decidirá de ofício ou mediante representação da autoridade policial, do Ministério Público ou da defesa;
V – constar de registros policiais o uso de outros nomes ou diferentes qualificações;
VI – o estado de conservação ou a distância temporal ou da localidade da expedição do documento apresentado impossibilite a completa identificação dos caracteres essenciais.
Relativamente ao inciso IV, cumpre observar que, em algumas situações, a colheita da impressão digital é importante para a apuração do crime. Entende-se que, nesse caso, em vista da previsão na CR, não há violação ao princípio da não autoincriminação.
Caso ocorra a absolvição do agente ou o não oferecimento de denúncia, é possível a retirada da identificação fotográfica do sujeito do inquérito policial (Aury Lopes defende que a genética também poderia, por analogia). A identificação datiloscópica é mantida. É instrumento que busca preservar a intimidade e a vida privada das pessoas.
Desde 2012, Lei 12.654/2012, passou a ser prevista, juntamente com a identificação datiloscópica e fotográfica, a identificação genética do suspeito/indiciado, nas hipóteses do inciso IV do artigo 3° da Lei. Há muito debate quanto a constitucionalidade desta novel hipótese (Vide Eugênio Pacelli e Aury Lopes no assunto). 
9 – Incomunicabilidade do indiciado preso
O art. 21 do CPP autoriza a incomunicabilidade do indiciado, que segundo a lei pode durar por até três dias:
Art. 21. A incomunicabilidade do indiciado dependerá sempre de despacho nos autos e somente será permitida quando o interesse da sociedade ou a conveniência da investigação o exigir.
Parágrafo único. A incomunicabilidade, que não excederá de três dias, será decretada por despacho fundamentado do Juiz, a requerimento da autoridade policial, ou do órgão do Ministério Público, respeitado, em qualquer hipótese, o disposto no artigo 89, inciso III, do Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil (Lei n. 4.215, de 27 de abril de 1963) 
Todavia, o dispositivo, que é da década de 1940, não foi recepcionado pela CR/88, para a quase unanimidade da doutrina (exceto Vicente Greco e Damásio).
O argumento comumente utilizado é o de que a incomunicabilidade não é possível sequer durante o estado de defesa (art. 136, § 3º, IV, da CR):
Art. 136 (...) § 3º - Na vigência do estado de defesa: (...)
IV - é vedada a incomunicabilidade do preso.
Se no estado de defesa, que é de exceção, não se admite a incomunicabilidade, com muito mais razão não ser ele admitido no estado de normalidade. Além disso, a CR assegura ao preso assistência da família e de advogado.
O regime disciplinar diferenciado, inserido na LEP pela Lei 10.972, foi tido por alguns doutrinadores como uma espécie de incomunicabilidade. Todavia, o RDD não acarreta a incomunicabilidade do preso (art. 52, III da LEP). Há restrições severas, mas não se pode concluir daí que se considere o preso incomunicável:
Art. 52. A prática de fato previsto como crime doloso constitui falta grave e, quando ocasione subversão da ordem ou disciplina internas, sujeita o preso provisório, ou condenado, sem prejuízo da sanção penal, ao regime disciplinar diferenciado, com as seguintes características: (...)
III - visitas semanais de duas pessoas, sem contar as crianças, com duração de duas horas; 
10 – Indiciamento
A expressão traz um peso deletério e vem sendo muito utilizada pela mídia, em especial a sensacionalista. Indiciar é atribuir a alguém a prática de determinada infração penal. É apontar para alguém e dizer que essa pessoa é a provável autora do delito. [5: Cuidado com a sequência terminológica: suspeito, indiciado, denunciado, réu e sentenciado (checar esta informação).]
Para o indiciamento, é indispensável a presença de elementos de informação quanto à autoria e à materialidade do delito. O CPP não fala muito sobre o assunto. Em SP, há portarias e regulamentos das Secretarias de Segurança Pública (ou Delegacia Geral) determinando justamente que o indiciamento depende de elementos suficientes, em vista da seriedade do ato.
Portanto, para os Tribunais, ausentes elementos de informação quanto ao envolvimento do agente, é possível a impetração de HC buscando o “desindiciamento”, ou seja, a anulação do indiciamento feito pela autoridade policial (STJ HC 43.599). O indiciamento traz inegavelmente um transtorno à pessoa.
Em regra, qualquer pessoa pode ser indiciada. Há, contudo, exceções:
i) membros do MP (art. 41, II e parágrafo único, da Lei 8.625/93):
Art. 41. Constituem prerrogativas dos membros do Ministério Público, no exercício de sua função, além de outras previstas na Lei Orgânica: (...)
II - não ser indiciado em inquérito policial, observado o disposto no parágrafo único deste artigo; (...)
Parágrafo único. Quando no curso de investigação, houver indício da prática de infração penal por parte de membro do Ministério Público, a autoridade policial, civil ou militar remeterá, imediatamente, sob pena de responsabilidade, os respectivos autos ao Procurador-Geral de Justiça, a quem competirá dar prosseguimento à apuração. [Nesse caso, o Procurador-Geral designa três Promotores para realizarem a investigação.]
ii) magistrados (art. 33, parágrafo único, da LC 35/79):
Art. 33 (...) Parágrafo único - Quando, no curso de investigação, houver indício da prática de crime por parte do magistrado, a autoridade policial, civil ou militar, remeterá os respectivos autos ao Tribunal ou órgão especial competente para o julgamento, a fim de que prossiga na investigação.
Obs.: Deputados, Senadores e demais autoridades como foro por prerrogativa de função:
Não há dispositivo expresso dizendo que Deputados e Senadores não podem ser indiciados. O STF entendeu, num primeiro momento, que não era vedado o indiciamento de Senador. Todavia, a orientação mudou após uma questão de ordem de um dos Ministros, passando o Tribunal a entender que para o indiciamento do parlamentar seria necessária autorização do STF. Essa decisão, segundo o STF, seria extensível às demais autoridades com foro por prerrogativa de função.
Para o STF, em se tratando de autoridade com foro por prerrogativa de função, é necessária autorização do Tribunal respectivo, não só para a abertura das investigações, como também para o indiciamento (questão de ordem suscitada no Inquérito 2411). 
Ver o HC n° 82.507/SE em que o STF discutiu os limites da atuação nos casos de atribuição originária (precedente que entendo mais consentâneo com o sistema acusatório). Vide ementa
Ementa: STF: competência originária: habeas corpus contra decisão individual de ministro do tribunal superior, não obstante susceptível de agravo.
...
2. A remessa do Inquérito Policialem curso ao tribunal competente para eventual ação penal e sua imediata distribuição a um relator não faz deste “autoridade investigadora”, mas apenas lhe comete as funções, jurisdicionais ou não, ordinariamente conferidas ao juiz de primeiro grau, na fase pré processual das investigações. (HC n° 82.507/SE. 1° Turma. Min. Rel. Sepúlveda Pertence)
Ver novel Lei 12.830 2013 que regulou a função do delegado de polícia e tratou do indiciamento como um ato privativo deste agente do Estado, que age com independência funcional neste caso.
O STF, no Informativo n° 717 entendeu (corretamente a meu ver) que o indiciamento determinado por Magistrado é nulo. Além de violar o sistema acusatório e a imparcialidade, o STF ressaltou ser o ato de indiciamento exclusividade da autoridade policial, que o faz de acordo com seu convencimento motivado. 
11 – Conclusão do Inquérito Policial
11.1 – Prazo para a conclusão do inquérito policial[6: Recomenda-se memorizar a tabela.]
	
	Preso
	Solto
	CPP
	10 dias
	30 dias
	Justiça Federal
	15 (+ 15) dias
	30 dias
	Inquérito Policial Militar
	20 dias
	40 dias
	Lei de drogas
	30 (+ 30) dias
	90 (+ 90) dias
	Lei de crimes contra a economia popular
	10 dias
	10 dias
	Prisão temporária em crimes hediondos ou equiparados
	30 (+ 30) dias
	Não aplicável a quem está solto
Observações:
Em se tratando de investigado solto, prevalece o entendimento de que é possível a prorrogação dos prazos do quadro, raciocínio esse que não se aplica ao investigado preso. Como ressaltado anteriormente, o inquérito policial é temporário, de modo que a prorrogação não pode ser ad eternum, sob pena de violar a duração razoável do processo.
Trata-se de prazos de natureza processual penal (art. 798, CPP: não se computa o dia do começo) ou penal (art. 10, CP: o dia do começo inclui-se no cômputo do prazo)? Em se tratando de investigado solto, esse é um prazo de natureza processual (sobre isso não há maiores controvérsias). Em se tratando de indiciado preso, o entendimento varia de acordo com o tipo de concurso. Nucci entende que o prazo é de natureza penal. Para Renato Brasileiro, Mirabete e Denílson Feitosa, mesmo na hipótese do investigado preso continua-se diante de um prazo de natureza processual, pois não se pode confundir prisão (penal) com inquérito (processo).
Aury Lopes Junior lembra que a regra geral é o descumprimento sistemático dos prazos. O autor entende que os prazos do inquérito devem ser fixados categoricamente e a partir de critérios mais razoáveis. Descumprido o prazo fixado em lei, deveria haver uma sanção (algo inexistente), como a pena de “inutilidade dos atos praticados depois de esgotado o prazo” ou mesmo a perda do poder de acusar do Estado pelo decurso do tempo.
11.2 – Relatório da autoridade policial
Trata-se de peça elaborada pela autoridade policial com conteúdo eminentemente descritivo, com a síntese das diligências realizadas na fase investigatória. No relatório, a autoridade policial deve se abster de realizar juízo de valor (dando sua opinião sobre o crime), pois não é o titular da ação penal.
Há uma hipótese, todavia, em que o Delegado deve emitir seu juízo de valor. A Lei de drogas faz essa exigência (art. 52, I):
Art. 52. Findos os prazos a que se refere o art. 51 desta Lei, a autoridade de polícia judiciária, remetendo os autos do inquérito ao juízo:
I - relatará sumariamente as circunstâncias do fato, justificando as razões que a levaram à classificação do delito, indicando a quantidade e natureza da substância ou do produto apreendido, o local e as condições em que se desenvolveu a ação criminosa, as circunstâncias da prisão, a conduta, a qualificação e os antecedentes do agente; (...)
Nesse caso, deve o Delegado indicar: “trata-se de tráfico de drogas pelos motivos A, B e C”. Evidentemente, o MP e o Juiz não estão adstritos à opinião emitida pela autoridade policial.
O relatório é peça dispensável para o início do processo.
11.3 – Destinatário do inquérito policial
Pela leitura do CPP (art. 10, § 1º), concluído o inquérito policial, ele deve ser remetido ao Poder Judiciário e, em seguida, enviado pelo Juiz ao MP.
Art. 10. (...) § 1o A autoridade fará minucioso relatório do que tiver sido apurado e enviará autos ao juiz competente.
Essa dinâmica, todavia, tem sido bastante criticada pela doutrina, pois se o inquérito é destinado ao MP, não há necessidade de passar pelo Judiciário. Isso sem contar o atraso que essa passagem gera.
A Resolução n° 63 do Conselho da Justiça Federal e outras resoluções de tribunais estaduais determinam que, concluído o inquérito, deve ele ser encaminhado diretamente ao MP, salvo na hipótese em que houver necessidade de apreciação de medidas cautelares.
Assim, para o CPP, o destinatário do inquérito policial é o Juiz. Todavia, para a maioria dos tribunais (e a doutrina), o destinatário é o MP (salvo no caso de ação penal de iniciativa privada ou se houver a necessidade de medidas cautelares).
Ver o Informativo 741 do STF, onde houve o julgamento de uma ADIn com bastante discussão quanto ao trâmite do Inquérito Policial e o seu confronto com o atual sistema acusatório, ocasião em que alguns ministros defenderam a incompatibilidade do CPP com a Constituição. 
11.4 – Providências a serem adotadas após a remessa do inquérito
11.4.1 – Crimes de ação penal de iniciativa privada
Em se tratando de crime de ação penal de iniciativa privada, o Juiz determina a permanência dos autos em cartório, aguardando-se a iniciativa do ofendido (art. 19, CPP):
Art. 19. Nos crimes em que não couber ação pública, os autos do inquérito serão remetidos ao juízo competente, onde aguardarão a iniciativa do ofendido ou de seu representante legal, ou serão entregues ao requerente, se o pedir, mediante traslado.
Obs.: na prática, o Juiz manda tudo para o MP.
11.4.2 – Crimes de ação penal de iniciativa pública
Se o crime apurado for de ação penal pública, as possibilidades que se abrem ao MP são:
11.4.2.1 – oferecimento de denúncia
A denúncia será estudada adiante.
11.4.2.2 – promoção de arquivamento
A promoção de arquivamento será estudada adiante.
11.4.2.3 – requisição de diligências, desde que imprescindíveis ao oferecimento da denúncia (art. 16 do CPP)
Art. 16. O Ministério Público não poderá requerer a devolução do inquérito à autoridade policial, senão para novas diligências, imprescindíveis ao oferecimento da denúncia.
Se já há elementos para denunciar, mas falta alguma diligência não imprescindível, deve o MP fazer a denúncia e depois pedir, no curso da ação penal, alguma diligência complementar não imprescindível.
Essas diligências devem ser requisitadas diretamente à autoridade policial, salvo se houver necessidade de intervenção do Poder Judiciário. Não há necessidade de o MP pedir ao Juiz que ordene ao Delegado. Indeferido o retorno dos autos à Delegacia pelo Juiz, caberá correição parcial. Se o MP é o titular da ação penal, é ele quem sabe se sua convicção está formada.
Ver doutrina de Afrânio Silva Jardim e Hugo Nigro neste assunto. Ambos defendem que o juiz não pode entrar no mérito da diligência, se dispensável ou não, pois o titular da ação penal é o MP, a ele cabendo avaliar a necessidade ou não de alguma diligência. Este entendimento, é claro, não se aplica a atos sob reserva de jurisdição que envolvam direitos fundamentais da pessoa. 
11.4.2.4 – pedido de declinação de competência
O MP requer a declinação de competência quando entende que o Juiz não tem competência para julgar o crime. Ex.: no caso de inquérito policial tramitando na Justiça Estadual pelo crime de moeda falsa, o Promotor requer a remessa dos autos à Justiça Federal.
11.4.2.5 – suscitar conflito de competência ou de atribuições
Esta hipótese não se confunde com a anterior. Aqui, já houve manifestação prévia de outro Juízo quanto à incompetência. No exemplo acima, se o Procurador da República entende que não é moeda falsa, por ser a falsificação grosseira, ele não pode mandar o inquérito de volta à Justiça Estadual,devendo suscitar o conflito de competência.
11.4.2.5.1 – conflito de competência
Conflito de competência é aquele que se estabelece entre duas ou mais autoridades jurisdicionais. Ocorre quando dois órgãos jurisdicionais discutem quanto à competência. O conflito pode ser positivo ou negativo. Naquele, ambos os órgãos jurisdicionais consideram-se competentes para o julgamento do feito. É algo muito raro. Neste, dois ou mais órgãos jurisdicionais consideram-se incompetentes. É bem mais comum.
Para saber quem será o competente para julgar um conflito, geralmente se deve subir na estrutura do Poder Judiciário até encontrar um órgão comum aos suscitantes:
i) o Juiz de São Paulo e o de Minas terão o conflito julgado pelo STJ;
ii) o conflito entre o Superior Tribunal Militar e o Juiz Federal será julgado pelo STF;
iii) o conflito suscitado entre um Juiz Federal de São Paulo e um Juiz do Juizado Especial Federal de São Paulo será julgado pelo TRF da 3ª Região (a Súmula 348 do STJ foi cancelada em 23 de março de 2010, em virtude do RE 590.409, tendo sido editada a Súmula 428):
Súmula 348 (cancelada)
Compete ao Superior Tribunal de Justiça decidir os conflitos de competência entre juizado especial federal e juízo federal, ainda que da mesma seção judiciária. (*).
(*) julgando o CC 107.635-PR, na sessão de 17/03/2010, a Corte Especial deliberou pelo CANCELAMENTO da súmula n. 348.
Súmula 428:
Compete ao Tribunal Regional Federal decidir os conflitos de competência entre juizado especial federal e juízo federal da mesma seção judiciária. [veja que a expressão “seção judiciária” está errada, pois pode haver mais de uma seção judiciária em uma mesma região].
iv) se o conflito for entre Juiz Federal vinculado ao TRF da 3ª Região e um Juiz do Juizado Especial Federal da 4ª Região, será o STJ o competente para o julgamento.
11.4.2.5.2 – conflito de atribuições
Conflito de atribuições é o que ocorre entre duas ou mais autoridades administrativas, em regra órgãos do MP.
Hipóteses:
i) Ministérios Públicos Estaduais do mesmo estado (ex.: MPE/SP x MPE/SP): quem decide o conflito é o PGJ/SP;
ii) Ministério Público Federal de um estado e Ministério Público Estadual do mesmo estado (ex.: MPF/RJ x MPE/RJ): a solução é polêmica.
Pacceli entende que o conflito deve ser resolvido com vistas à competência dos Juízes para decidir a causa. Nesse caso, quem resolveria seria o STJ. Todavia, o STF entende que, em se tratando de conflito entre União e Estado, quem deve julgar é o STF. Pacceli chama essas hipóteses de conflitos virtuais de competência.
iii) Ministério Público Federal de um estado e Ministério Público Militar do mesmo estado (ex.: MPF/MS x MPM/MS): o MPM é ramo do Ministério Público da União, de modo que quem julgará será o PGR, chefe do MPU;
iv) Ministérios Públicos Estaduais de estados diferentes (ex.: MPE/SP x MPE/RJ): haveria um conflito entre Estados, de modo que deve decidir o conflito o STF (posição do próprio STF).
Obs.: checar essa posição, que não faz muito sentido, pois o conflito de competências entre juízes de estados diferentes é julgado pelo STJ, e não pelo STF.
12 – Arquivamento do Inquérito Policial
12.1 – Características
Pelo menos em regra, o arquivamento do inquérito policial tem natureza jurídica de decisão judicial. Cuidado, pois o CPP, equivocadamente, refere-se ao arquivamento como mero “despacho”.
Há uma peça apresentada pelo MP, denominada pela doutrina de “promoção de arquivamento”, que é encaminhada à apreciação do Juiz. Trata-se de procedimento complexo, que depende do Juiz e do MP para ser realizado.
É perfeitamente possível o arquivamento de peças de informação e de termos circunstanciados (art. 76 da Lei 9.099/95). “Peças de informação” são todo e qualquer conjunto investigatório fora do inquérito policial (exemplos: relatório de comissão parlamentar de inquérito, auditoria de uma empresa etc.) Termo circunstanciado é o instrumento investigatório previsto no art. 69 da Lei dos Juizados Especiais (Lei 9.099/95):
Art. 69. A autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência lavrará termo circunstanciado e o encaminhará imediatamente ao Juizado, com o autor do fato e a vítima, providenciando-se as requisições dos exames periciais necessários. (...)
Art. 76. Havendo representação ou tratando-se de crime de ação penal pública incondicionada, não sendo caso de arquivamento, o Ministério Público poderá propor a aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multas, a ser especificada na proposta. (...)
12.2 – Fundamentos para o arquivamento do inquérito policial
O CPP não fala expressamente acerca dos fundamentos para o arquivamento do inquérito policial, mas as hipóteses podem ser extraídas da interpretação dos seus dispositivos:
i) ausência de pressupostos processuais ou de condições da ação penal. Exemplo: inquérito policial instaurado pelo crime de estupro sem a representação ou manifestação da vítima demonstrando o interesse na ação penal.
ii) ausência de elementos de informação quanto à autoria e/ou materialidade do delito. Trata-se de 99% dos casos de arquivamento de inquéritos policiais.
iii) atipicidade do fato delituoso: pode ser tanto a atipicidade formal quanto a material. O melhor exemplo de atipicidade material é a aplicação do princípio da insignificância.
iv) presença de manifesta causa excludente da ilicitude. Exemplo: duas mulheres estavam sendo estupradas ao mesmo tempo, pelo mesmo agressor. Uma delas, então, puxa a arma e mata o estuprador.
v) presença de manifesta causa excludente da culpabilidade, salvo inimputabilidade (art. 26, caput, do CPP). No caso de inimputabilidade, o inquérito não será arquivado. As investigações continuam e, se o caso, ao final do processo o agente é absolvido, com a imposição de medida de segurança (absolvição imprópria).
vi) presença de causa extintiva da punibilidade. Exemplo: morte do investigado. Há doutrinadores que entendem que esta não seria uma hipótese de arquivamento do inquérito policial (Pacelli).
12.3 – Coisa julgada na decisão de arquivamento
Neste tópico, será analisada a eventual definitividade da decisão de arquivamento.
Coisa julgada é a decisão jurisdicional contra a qual não cabem mais recursos, seja por não terem sido interpostos, seja por eles haverem se esgotado. A imutabilidade da decisão é o efeito da coisa julgada, e não a coisa julgada em si.
A coisa julgada pode ser formal ou material. Coisa julgada formal é a imutabilidade da decisão dentro do processo em que proferida. Ou seja, naquele processo específico, a decisão se torna imutável. A coisa julgada material, que pressupõe a coisa julgada formal, é a imutabilidade da decisão fora do processo em que proferida.
A coisa julgada no arquivamento está diretamente relacionada ao fundamento pelo qual ele é realizado:
i) no arquivamento em decorrência da ausência de pressupostos processuais ou de condições da ação penal, ocorre coisa julgada formal. No exemplo citado anteriormente, obtida dentro do prazo a representação da vítima, as investigações podem ser retomadas.
ii) no arquivamento em decorrência da ausência de elementos de informação quanto à autoria e/ou materialidade do delito, ocorre coisa julgada formal. Exemplo: surgindo novos elementos probatórios, as investigações podem ser retomadas.
iii) no arquivamento por atipicidade do fato delituoso, a decisão faz coisa julgada formal e material (STF HC 84.156).
iv) no arquivamento em razão da presença de manifesta causa excludente da ilicitude, de acordo com a doutrina, há coisa julgada formal e material. O raciocínio é exatamente igual ao da atipicidade: ao decidir, o magistrado aprecia o mérito da questão.
Deve-se atentar, todavia, para a decisão proferida no STF HC 95.211. Nesse julgado, o STF entendeu que o arquivamento com base na excludente da ilicitude somente faz coisa julgada formal, de modo que seria possível o oferecimento de denúncia com base em provas novas. No caso, o inquérito teria sido direcionado para dar a entender que se tratava de excludentede ilicitude, e com isso beneficiar aquele que praticara o crime (queima de arquivo). Todavia, como se trata de julgado proferido pela 1ª Turma, esse entendimento pode não ser o do tribunal. Deve-se atentar, por conta disso, para o STF HC 87.395, que está sendo julgado pelo Plenário, e ainda não foi concluído (está com vista de Carlos Ayres Britto e até 7 de novembro de 2013 ainda não havia sido julgado).
v) no arquivamento em virtude da presença de manifesta causa excludente da culpabilidade, salvo inimputabilidade (art. 26, caput, do CPP), ocorre coisa julgada formal e material.
vi) no arquivamento em decorrência da presença de causa extintiva da punibilidade, ocorre coisa julgada formal e material.
Observação: para os Tribunais Superiores, a decisão de arquivamento com base em certidão de óbito do réu falsa pode ser revogada, já que não produz coisa julgada em sentido estrito (STF HC 84.525). Há doutrinadores que entendem que nada poderia ser feito nesse caso, por não haver revisão criminal pro societate.
12.4 – Desarquivamento e oferecimento de denúncia
Desarquivamento e oferecimento de denúncia são figuras que não se confundem.
Desarquivamento consiste na reabertura das investigações policiais. Para desarquivar um inquérito policial, não são necessárias provas novas, mas a notícia de provas novas. Exemplo: posteriormente ao arquivamento do inquérito, aparece uma senhora que anotara o número da placa do carro do criminoso. As investigações são reabertas, mas o número fornecido não é capaz de levar ao conhecimento da autoria. Nesse caso, não haverá o oferecimento da denúncia, pois não houve a produção de provas novas. Mas o inquérito resta desarquivado, por conta da notícia de provas novas. Na verdade, são necessárias provas novas para o oferecimento da denúncia (O que para Afrânio Silva Jardim é uma condição de procedibilidade no caso de inquéritos arquivados).
Provas novas são aquelas que alteram o contexto probatório dentro do qual foi proferida a decisão de arquivamento.
Essas provas novas podem ser substancial ou formalmente novas. Substancialmente novas são as provas que até então estavam ocultas (ex.: aparecimento do cadáver ou da arma de um crime). Formalmente novas são as provas que já eram conhecidas, mas ganharam uma nova versão (ex.: descobre-se que as testemunhas estavam ameaçadas, e elas acabam por alterar o testemunho).
Nesse sentido, a Súmula 524 do STF:
Súmula 524 - ARQUIVADO O INQUÉRITO POLICIAL, POR DESPACHO DO JUIZ, A REQUERIMENTO DO PROMOTOR DE JUSTIÇA, NÃO PODE A AÇÃO PENAL SER INICIADA, SEM NOVAS PROVAS.
Recomenda-se a leitura do HC 94.869/DF, que é bastante didático. A decisão de arquivamento é baseada na cláusula rebus sic stantibus (se as coisas permanecerem como estão).
O STF já entendeu que, sem provas novas, é irretratável decisão de PGR/PGJ (ou promotor) no caso, que entenda pelo arquivamento e posteriormente tente rever sua posição (Inquérito 2.028/BA. Plenário. Min. Rel. Joaquim Barbosa). 
12.5 – Procedimento do arquivamento
12.5.1 – no âmbito da justiça estadual
Na justiça estadual, o pedido de arquivamento parte do MP, que apresenta a peça chamada de “promoção de arquivamento”, submetida à apreciação do Juiz.
Logicamente, abrem-se ao magistrado duas possibilidades: i) ele concorda com o pedido, hipótese em que profere decisão determinando o arquivamento; e ii) ele discorda da promoção de arquivamento, hipótese em que ele remete os autos ao PGJ.
Quando o juiz manda os autos ao PGJ, ele exerce uma função anômala de fiscal do princípio da obrigatoriedade da ação penal pública. O art. 28 é muito criticado pela doutrina. Isso porque o juiz que remete os autos ao PGJ já antecipa, de certa forma, seu julgamento, o que lhe prejudica a imparcialidade.
O princípio plasmado no art. 28 do CPP é o princípio da devolução. Segundo ele, o juiz, não concordando com a manifestação do MP, remete os autos para a reapreciação do caso ao PGJ.
Recebendo os autos, o PGJ pode:
i) oferecer denúncia;
ii) requisitar diligências;
iii) designar outro órgão do MP para oferecer denúncia.
O PGJ não pode designar o mesmo Promotor que promoveu o arquivamento, sob pena de violação da independência funcional dele. Ainda prevalece a ideia de que esse “outro Promotor” é obrigado a oferecer a denúncia (posição para concurso).
A maioria da doutrina entende que esse órgão do MP age por delegação, como uma longa manus do PGJ. Há corrente minoritária que entende que mesmo o outro Promotor poderia recusar o oferecimento da denúncia.
Na prática, eventuais recusas resolvem-se com o chamado “Promotor do 28”: um Promotor que atua diretamente com o PGJ, exatamente para o oferecimento de denúncias quando, com base no art. 28 do CPP, o PGJ entende que é o caso de ajuizamento da ação penal (ou requisição de diligências).
iv) insistir no pedido de arquivamento.
Caso o PGJ entenda que o Promotor estava correto, o Juiz estará obrigado a atender ao pedido.
12.5.2 - no âmbito da Justiça Federal e na Justiça Comum do Distrito Federal
Na Justiça Federal, quem atua são os Procuradores da República. Na Justiça Comum do DF, quem atua é o MPDFT. Ambos, todavia, fazem parte do MPU, de modo que têm de observar a LC 75/93.
Há uma pequena diferença em relação à hipótese anterior. Submetida ao magistrado a promoção de arquivamento oferecida pelo Procurador da República, podem ocorrer duas hipóteses: i) o juiz federal concorda com a promoção de arquivamento, hipótese em que os autos do inquérito policial são arquivados; e ii) o juiz federal discorda da promoção de arquivamento, hipótese em que ele determina a remessa dos autos às Câmaras de Coordenação e Revisão, órgãos existentes tanto no MPF quanto no MPDFT (art. 62, IV da LC 75/93)
Art. 62. Compete às Câmaras de Coordenação e Revisão: (...)
IV - manifestar-se sobre o arquivamento de inquérito policial, inquérito parlamentar ou peças de informação, exceto nos casos de competência originária do Procurador-Geral;
Há doutrinadores que dizem que à Câmara caberia a decisão. Todavia, a LC 75/1993 determina que a manifestação daquele órgão tem caráter meramente opinativo, de modo que, proferido o parecer, os autos são remetidos ao PGR, a quem cabe a decisão final sobre a matéria.
12.5.3 – no âmbito da Justiça Eleitoral
A justiça eleitoral não conta com corpo próprio de Juízes e Promotores eleitorais. O cargo é acumulado.
O art. 357, § 1o, do Código Eleitoral (Lei 4.737/65) determina que, caso o Juiz eleitoral não concorde com a promoção de arquivamento apresentada pelo promotor eleitoral, deve encaminhar os autos ao Procurador Regional Eleitoral:
Art. 357 (...) § 1º Se o órgão do Ministério Público, ao invés de apresentar a denúncia, requerer o arquivamento da comunicação, o juiz, no caso de considerar improcedentes as razões invocadas, fará remessa da comunicação ao Procurador Regional, e êste oferecerá a denúncia, designará outro Promotor para oferecê-la, ou insistirá no pedido de arquivamento, ao qual só então estará o juiz obrigado a atender.
No MPF, no entanto, tem prevalecido a orientação segundo a qual se o Juiz não concordar com o arquivamento, os autos devem ser encaminhados à Câmara de Coordenação e Revisão do MPF, pois o art. 357, § 1o, do Código Eleitoral estaria derrogado pelo art. 62, IV, da Lei Complementar 75/93.
Essa matéria é tratada pelo Enunciado n° 29 da 2a Câmara de Coordenação e Revisão.
Enunciado 29 - Compete à 2ª Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal manifestar-se nas hipóteses em que o Juiz Eleitoral considerar improcedentes as razões invocadas pelo Promotor Eleitoral ao requerer o arquivamento de inquérito policial ou de peças de informação, derrogado o art. 357, § 1º do Código Eleitoral pelo art. 62, inciso IV da Lei Complementar nº 75/93.
Mais uma vez, aqui a manifestação da Câmara é de caráter opinativo. Há casos em que o PGR delega a função de decidir à própria Câmara.
12.5.4 – no âmbito da Justiça Militar da União
Caso o Juiz Auditor não concorde com a promoção de arquivamento oferecidapelo Promotor de Justiça Militar da União, deve encaminhar os autos para a Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Militar (o MPM também está abrangido pela LC 75/93), a qual se manifestará de maneira opinativa, competindo a decisão final ao Procurador-Geral de Justiça Militar.
É possível que o juiz auditor concorde com a promoção de arquivamento, hipótese em que o procedimento divergirá das hipóteses anteriores, pois ele deverá remeter os autos ao Juiz Auditor-Corregedor, que apreciará o arquivamento do inquérito policial militar.
Caso o Juiz Auditor-Corregedor concorde com o arquivamento, os autos restarão arquivados. Caso ele não concorde com a promoção de arquivamento, existe a previsão legal de interposição de correição parcial, a ser apreciada pelo Superior Tribunal Militar (art. 498, b, do CPM):
Art 498. O Superior Tribunal Militar poderá proceder à correição parcial: (...)
b) mediante representação do Ministro Corregedor-Geral, para corrigir arquivamento irregular em inquérito ou processo.
Nesse caso, Juiz-Auditor-Corregedor recorre da decisão do Juiz Auditor junto ao STM. Em julgados antigos, o STF já se manifestou no sentido da legalidade desse recurso (HC 74.816, proferido em 1997). Tramita no STF a ADI 4.153, proposta recentemente, visando impugnar esse dispositivo. Renato Brasileiro acha que a posição do STF mudará, em virtude dos entendimentos mais modernos do tribunal acerca do princípio da imparcialidade do juiz. Até 7 de novembro de 2013, essa ADI não havia sido julgada.
O STM pode negar provimento ao recurso, hipótese em que ocorrerá o arquivamento do inquérito policial militar. Caso o STF dê provimento ao recurso, os autos são encaminhados à Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Militar, que opinará e encaminhará os autos ao Procurador-Geral de Justiça Militar, a quem competirá a decisão final acerca do arquivamento ou não.
12.5.5 – nas hipóteses de atribuição originária do PGJ ou do PGR
Caso o PGR esteja investigando um Deputado Federal e, ao final das investigações, ele entenda que não há elementos para o oferecimento da denúncia, precisa formular pedido de arquivamento junto ao STF? Note que, caso o STF não concorde com o arquivamento, ele não terá como aplicar o princípio da devolução.
Em regra, o arquivamento é feito a partir de uma decisão judicial, após promoção formulada pelo MP. Porém, nos casos de atribuição originária do PGJ ou do PGR, não há necessidade de submeter a decisão de arquivamento à análise do Poder Judiciário, pois o respectivo tribunal não teria como não acatar a decisão do Chefe do Ministério Público. Obviamente, a manifestação do PGR/PGJ deve ser devidamente fundamentada.
Ressalva a essa regra diz respeito às hipóteses em que a decisão de arquivamento seja capaz de fazer coisa julgada formal e material, quando, então, será obrigatória a apreciação do arquivamento pelo Tribunal (Inquéritos 2341 e 2044).
Há algumas leis que regulam MPs estaduais, que preveem um recurso no caso de decisão de arquivamento pelo PGJ, envolvendo atribuição originária. Seria o caso da LC 734/SP que regula o MP/SP e prevê um recurso para o colégio de procuradores. 
12.6 – Arquivamento implícito
O arquivamento implícito ocorre quanto o MP deixa de incluir na denúncia algum corréu ou algum fato investigado, sem se manifestar expressamente quanto ao arquivamento. Esse arquivamento implícito não é admitido pelos Tribunais, devendo o Juiz devolver os autos ao MP para que se manifeste expressamente, sob pena de aplicação do art. 28 do CPP.
Os Tribunais não admitem ação penal privada subsidiária da pública, caso o MP deixe de incluir na denúncia algum corréu ou fato investigado. Já houve caso concreto, não admitido pelo STJ, que entendeu que o ajuizamento da ação penal privada subsidiária pressupõe tenha havido inércia do MP (HC 21.074).
Aury Lopes Junior entende cabível que o ofendido ofereça queixa-crime subsidiária em face do imputado em relação ao qual houve inércia do MP. 
12.7 – Arquivamento indireto
Caso o Promotor entenda que se trata de crime da competência da Justiça Federal e o Juiz entenda ser a competência da Justiça estadual, é realizado o arquivamento indireto: o juiz, por analogia, remete os autos ao PGJ.
Assim, o arquivamento indireto ocorre quanto o Juiz, em virtude do não oferecimento de denúncia pelo MP, fundamentado em razões de incompetência do juízo, recebe essa manifestação como se tratasse de um pedido de arquivamento, aplicando, por analogia, o art. 28 do CPP.
12.8 – Arquivamento em crimes de ação penal privada
Para a maioria da doutrina, o pedido de arquivamento do inquérito policial, formulado pelo ofendido, em crime de ação penal privada (contra a honra, por exemplo), no caso em que ele sabe quem é o ofensor, muito mais que um arquivamento, mas uma verdadeira renúncia.
Caso o ofendido não saiba quem é o ofensor, como no caso de crime contra a honra praticado pela Internet, o pedido de arquivamento não equivalerá à renúncia, e é importante para evitar a decadência.
Assim, se o ofendido sabe quem é o autor do delito e pede o arquivamento, tal manifestação deveria ser acolhida como espécie de renúncia tácita, com a consequente extinção da punibilidade. No entanto, se o ofendido não sabe quem é o autor do delito, é perfeitamente possível o pedido de arquivamento, preservando-se, assim, o direito de queixa para quando a autoria for identificada.
12.9 – Recorribilidade contra a decisão de arquivamento
Em regra, a decisão de arquivamento é irrecorrível. Também não cabe ação penal privada subsidiária da pública. Nesses casos, em geral, o interesse de recorrer é da vítima.
Todavia, há algumas exceções:
i) o art. 7º da Lei 1.521/51 (Lei dos Crimes contra a Economia Popular) prevê a hipótese de recurso de ofício dos juízes.
Art. 7º. Os juízes recorrerão de ofício sempre que absolverem os acusados em processo por crime contra a economia popular ou contra a saúde pública, ou quando determinarem o arquivamento dos autos do respectivo inquérito policial.
Alguns criticam o fato de a lei falar em recurso. Para eles, esse “recurso de ofício” é tido como condição de eficácia objetiva da decisão.
ii) o art. 6º, parágrafo único, da Lei 1.508/51 (lei que regula o processo das contravenções penais do jogo do bicho e do jogo sobre corrida de cavalos fora do hipódromo) prevê a hipótese de interposição de RESE pelo autor da representação formulada junto ao Ministério Público:
Art. 6º Quando qualquer do povo provocar a iniciativa do Ministério Público, nos têrmos do Art. 27 do Código do Processo Penal, para o processo tratado nesta lei, a representação, depois do registro pelo distribuidor do juízo, será por êste enviada, incontinenti, ao Promotor Público, para os fins legais.
Parágrafo único. Se a representação fôr arquivada, poderá o seu autor interpôr recurso no sentido estrito.
iii) se o juiz arquiva o inquérito policial de ofício, cabe correição parcial (error in procedendo).
iv) o art. 12, XI, da Lei 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional do MP) prevê que, nas hipóteses de atribuição originária do PGJ, cabe pedido de revisão ao Colégio de Procuradores, mediante pedido do ofendido.
Art. 12. O Colégio de Procuradores de Justiça é composto por todos os Procuradores de Justiça, competindo-lhe: (...)
XI - rever, mediante requerimento de legítimo interessado, nos termos da Lei Orgânica, decisão de arquivamento de inquérito policial ou peças de informações determinada pelo Procurador-Geral de Justiça, nos casos de sua atribuição originária;
Cumpre observar que esse pedido de revisão ao Colégio de Procuradores somente ocorre no âmbito dos Ministérios Públicos Estaduais.
12.10 – Arquivamento determinado por juízo incompetente
Relativamente à validade do arquivamento determinado por juízo incompetente, há discordância entre a doutrina e a jurisprudência.
Pacelli defende que o arquivamento determinado por juízo incompetente não pode ser considerado válido, de modo que seria perfeitamente possível que o cidadão fosse processadopela justiça competente.
Para essa corrente, é possível o oferecimento de denúncia perante o juízo competente. Todavia, simultaneamente, deve ser suscitado conflito de competência. Isso porque, se o juiz incompetente arquivou o inquérito policial, ele entende ser o feito da competência dele (ao arquivar, ele implicitamente entendeu-se competente).
A posição do STF é diversa daquela da doutrina: para o Tribunal, pouco importa se a decisão de arquivamento foi proferida por juízo incompetente: ela será válida. Para o STF, a segurança da coisa julgada prepondera sobre a questão da incompetência (HC 94.982).
13 – Trancamento do Inquérito Policial
O trancamento do inquérito policial funciona como medida de força que acarreta a extinção do procedimento investigatório. O arquivamento é uma medida de consenso entre o juízo e o titular da ação penal. Trancamento é uma medida de força, que vem de cima para baixo.
Trata-se de medida de natureza excepcional (bastante grave, por privar o Estado da investigação de um crime), somente sendo permitida nas seguintes hipóteses:
i) manifesta atipicidade formal ou material da conduta delituosa;
ii) presença de causa extintiva da punibilidade; e
iii) ausência de requerimento da vítima ou de seu representante legal ou de requisição do Ministro da Justiça em crimes de ação penal privada ou crimes de ação penal pública condicionada à representação (lembrar que, nesses crimes, o inquérito policial somente pode ser instaurado com essas prévias manifestações).
O instrumento a ser utilizado para o trancamento do inquérito policial é o HC, desde que ao delito seja cominada pena privativa de liberdade. Lembrar que determinados delitos podem ser passíveis de pena de multa, hipótese em que o instrumento a ser utilizado será o mandado de segurança, pois a multa não pode mais ser convertida em pena de prisão.
14 – Investigação criminal pelo MP
	Argumentos contrários
	Argumentos favoráveis
	A investigação criminal pelo MP atenta contra o sistema acusatório, pois cria um desequilíbrio entre acusação e defesa (coloca o MP em situação de superioridade relativamente ao réu).
	A investigação criminal pelo MP não atenta contra o sistema acusatório, pois os elementos produzidos pelo MP terão o mesmo valor que aqueles produzidos em um inquérito policial, devendo ser ratificados perante a autoridade judiciária, sob o crivo do contraditório e da ampla defesa (o MP, convenhamos, não é parcial). Nada mais lógico que quem acusa possa também investigar.
	O MP pode requisitar diligências e a instauração de inquéritos policiais, mas não pode presidi-los.
	Teoria dos poderes implícitos (surgida na Suprema Corte Norte Americana, em 1819, no caso Mc Culloch vs. Maryland): a Constituição, ao conceder uma atividade-fim a determinado órgão ou instituição, implícita e simultaneamente também concede a ele todos os meios necessários para atingir esse objetivo. Se o MP é o titular da ação penal pública, deve ter, ao mesmo tempo, os meios para atingir essa finalidade institucional.
	A atividade investigatória é exclusiva da polícia judiciária.
	A atividade investigatória não é uma exclusividade da polícia. Vários outros órgãos podem realizar investigações, como determina o próprio art. 4º, parágrafo único, do CPP (desde 1942).[7: Art. 4º A polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais no território de suas respectivas circunscrições e terá por fim a apuração das infrações penais e da sua autoria. Parágrafo único. A competência definida neste artigo não excluirá a de autoridades administrativas, a quem por lei seja cometida a mesma função.]
Ademais, há previsão constitucional e legal da investigação pelo MP: art. 129, I, da CR; arts. 7º e 8º da LC 75/93; Lei 7.347/85 (a partir dos elementos obtidos em inquérito civil, pode-se oferecer denúncia); art. 201, VII, da Lei 8.069/90 (ECA).
	Não há previsão legal de instrumento para as investigações pelo MP.
	O instrumento que o MP usará é o procedimento investigatório criminal.
Procedimento investigatório criminal é o instrumento de natureza administrativa e inquisitorial, presidido pelo membro do MP com atribuição criminal, que tem como finalidade apurar a ocorrência de infrações penais de natureza pública, fornecendo elementos para o oferecimento ou não da denúncia.
Trata-se de algo cada vez mais comum. É quase o mesmo conceito do inquérito policial, com a diferença da autoridade responsável por sua presidência. Está regulamentado pela Resolução nº 13 do CNMP.
Posição jurisprudencial: 
O STJ é amplamente favorável à investigação criminal pelo MP. Prova disso, aliás, é a Súmula n° 234:
Súmula 234 – A participação de membro do Ministério Público na fase investigatória criminal não acarreta o seu impedimento ou suspeição para o oferecimento da denúncia.
No STF, atualmente, tem prevalecido a possibilidade de investigação pelo MP. A esse respeito, ver o HC 91.661 (neste julgado Ellen Gracie faz menção à teoria dos poderes implícitos), o HC 89.837 e o HC 94.173 (Min. Celso de Mello). Em julgados mais antigos, o STF já se posicionou contrariamente. Marco Aurélio é contra a investigação criminal pelo MP. 
Mais recentemente ver o Informativo n° 757 do STF, em julgado da 2° Turma em que foi aceito a investigação criminal realizada pelo MP, entretanto, de forma subsidiária, nos casos de delitos praticados por agentes do governo, principalmente aqueles responsáveis por efetivar investigações (policiais). Essa tese vem se consolidando cada vez mais e parece que irá prevalecer. 
15 – Controle externo da atividade policial
Quem exerce o controle externo da atividade policial é o MP (art. 129, VII, da CR).
Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: (...)
VII - exercer o controle externo da atividade policial, na forma da lei complementar mencionada no artigo anterior;
Todavia, o que é o controle externo e como ele será exercido na prática?
Controle externo da atividade policial deve ser compreendido como o conjunto de normas que regulam a fiscalização exercida pelo MP em relação à polícia, na prevenção, apuração e investigação de fatos delituosos, na preservação dos direitos e garantias dos presos que estejam sob custódia policial e na fiscalização do cumprimento de determinações judiciais. Esse controle decorre do sistema de freios e contrapesos inerentes a um regime democrático e não pressupõe subordinação ou hierarquia.
O controle externo da atividade policial pode ser exercido de maneira difusa ou concentrada.
	Controle Externo Difuso
	Controle Externo Concentrado
	Controle externo difuso é aquele exercido por todos os membros do MP com atribuição criminal.
	Controle externo concentrado é aquele exercido através de membros do MP com atribuição específica para o controle externo (o Promotor é designado para tal função).
	No controle externo difuso, é possível a adoção das seguintes medidas:
i) controle de ocorrências policiais. Trata-se de algo complicado de fazer, mas tem havido uma melhora, em virtude da informatização;
ii) verificação de prazos de inquéritos policiais;
iii) verificação da qualidade do inquérito policial;
iv) controle e verificação dos bens apreendidos;
v) propositura de medidas cautelares (ex.: busca numa Delegacia de Polícia).
	No controle externo concentrado, é possível a adoção das seguintes medidas:
i) realização de visitas periódicas a repartições policiais;
ii) ações de improbidade administrativa;
iii) ações civis públicas na defesa dos interesses difusos (ex.: fechamento de Delegacias);
iv) termos de ajustamento de conduta e recomendações (usado nas ações civis públicas, mas também possíveis aqui);
v) verificação das comunicações de prisões em flagrante e instauração de procedimentos investigatórios criminais.
Toda essa atividade do MP está disciplinada pela Resolução nº 20 do CNMP.
AÇÃO PENAL
1 – Conceito
É vedado às pessoas fazer justiça com as próprias mãos. Se o Estado detém o monopólio do exercício da jurisdição, ele deve dar ao jurisdicionados

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