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A HISTORICIDADE DAS TEORIAS INTERPRETATIVAS DO PROCESSO SAÚDE-DOENÇA. O caráter do texto de Oliveira e Egry (2000) versa sobre as distintas teorias que englobam a historicidade do processo saúde-doença. É possível identificar duas vertentes até o século XIX: A ontológica e a dinâmica. Na concepção ontológica a doença é retratada como algo que sofre alteração de coisa externa, manifestado nesse corpo através de uma invasão. Essa vertente era predominante na antiguidade: O corpo humano é tomado com receptáculo de um elemento natural ou espírito sobrenatural que, invadindo- o, produz a 'doença'; sem haver qualquer participação ou controle desse organismo no processo de causação (CANGUILHEM apud OLIVEIRA e EGRY, 2000, p. 10). A vertente dinâmica de causalidade diz respeito ao desequilíbrio das harmonias de um corpo. Concepção esta muito presente nas antigas medicinas hindu e chinesa, onde compreendia a doença como desequilíbrio de um corpo e buscava equilibrar e restabelecer as forças vitais desse corpo. A concepção dinâmica foi muito defendida no final século XVIII até haver o desenvolvimento da bacteriologia que passou a ser usado o modelo vinculado à concepção ontológica, não levando em conta os aspectos sociais que envolviam o processo de adoecimento de uma sociedade. As autoras afirmam que atualmente predomina o modelo da multicausalidade, respeitando a individualidade do ser humano. As autoras citam Hipócrates, que defendia a tese da concepção dinâmica além de referenciar diferentes vetores (destaca-se a nutrição) responsáveis na busca do equilíbrio do corpo humano. Visto como pai da medicina moderna, Hipócrates foi indispensável no processo de transição da visão mítica ao que era considerado racional. Andery et al apud Oliveira e Egry (2000) relatam que na Idade Média o cristianismo foi responsável por um grande retrocesso do que havia sido conquistado até então. Devido à preocupação com o espírito, a prática clínica ficou de lado, o corpo era considerado inferior e o espírito era enaltecido através da preocupação com a salvação deste. No entanto, ao final desse período, voltou-se àpreocupação com as doenças, devido ao numero elevado de epidemias que assolavam toda a Europa somada às frequentes guerras. A partir de então houve um progresso considerado das ciências médicas. Surge a dissecação cadavérica, onde o avanço do estudo da anatomia possibilitou o desenvolvimento da fisiologia, buscando compreender a inter-relação do funcionamento do organismo humano. Surge também a patologia, disciplina que vem classificar as doenças existentes, a fim de se obter uma melhor compreensão das doenças. Juntas, a Anatomia, a Fisiologia e a Patologia, esta com o seu sistemaclassificatório das doenças, permitiram que se realizasseo deslocamento epistemológico - e clínico - da medicinamoderna, de uma arte de curar indivíduos doentes para uma disciplina das doenças (LUZ apud OLIVEIRA e EGRY, 2000, p. 10). No século XIX houve uma revolução sanitária, sendo uma sistematização voltada para tornar um ambiente mais seguro. Surge a preocupação em se conter as doenças infecciosas ea descoberta das vacinas como via preventiva dos agentes externos causadores das patologias. Em um trecho, ao citar diversos autores, Oliveira e Egry procuram mostrar que após a revolução industrial a situação da população se agravou. As condições de vida eram precárias, os achados epidemiológicos dessa época apontam para uma devastação social da população inglesa por conta da cólera. Surgem os primeiros modelos estatais de se olhar a doença no coletivo. O inicio da reforma sanitária e a preocupação com a saúde coletiva contou com participação mínima da sociedade médica. Aos poucos a medicina foi percebendo a importância dessa causa. A saúde pública inicia-se com participação reduzida do Estado, tida como complementação da iniciativa privada. Aos poucos os progressos na saúde vão se disseminando por toda a Europa. Surgem vários movimentos, formulados a partir de critérios de soluções dos problemas de saúde da população. A medicina passo a passo foi avançando, se reorganizando, institucionalizando-se, tudo isso na busca pela cura das doenças infecciosas, no combate às enfermidades agudas e no tratamento. As investigações científicas em saúde se expandiram para outros continentes. Nas Américas foi estabelecido um novo contexto, pois o período era voltado para a exportação agrícola. Começou-se uma abordagem social dos fenômenos de saúde-doença somente após a Segunda Guerra Mundial, com pessoas à margem da sociedade, desprovidas de recursos para subsidiar os benefícios oferecidos pela medicina daquela época. Um olhar começa a ser voltado para as enfermidades crônicas, para doenças não infecciosas e para o estudo das organizações hospitalares, já que o atendimento médico começa a ser mais corriqueiro nesse ambiente. O estudo desenvolvido pelas autoras reafirma que há limitação na tentativa de se conceituar o processo de saúde-doença, visto que por ideologias diferentes determinadas vertentes sobrepõe-se sobre a outra, a depender do contexto: Ancoram-se em marcos teóricos e filosóficos distintos e expressam-semodelos de causalidade que, por sua vez, desdobram-seem formas de registro, mensuração, análise, interpretação e intervenção correspondentes. Retratama diversidade conceitual e metodológica resultante dastransformações dos marcos de inferência causal ao longo da história da constituição desses saberes - das crenças mágico-religiosas, passando pelo empirismo racional, até à ciência moderna (OLIVEIRA e EGRY, 2000, p. 12). Pensar em saúde atualmente abrange um conceito mais amplo, como proposto pela Organização Mundial da Saúde que define ser a saúde "o completo bem-estar físico, mental e social”. O texto aponta alguns autores que veem empasses nessa definição, pois ao invés do conceito nortear a busca por uma melhor qualidade de vida, há um risco potencial de se somente enxergar a saúde quando esta atingir tal totalidade. A respeito da multicausalidade foram identificadas algumas limitações. Uma delas refere-se ao risco de não atribuir o devido peso a cada uma das mais variadas causas. Na prática as perdas são ainda maiores, devido os elementos de intervenção ser substituídos por ações implementares utilizadas na resolução rotineira dos problemas, reduzindo-se à unicausalidade. São apresentados no texto quatro modelos de teorias ligadas à unicausalidade: “a teoria do germe, a dos estilos de vida, a ecologia ou ambiental e a teoria genética.” (BARRETO apud OLIVEIRA e EGRY; 2000, p. 13). Onde as estratégias de intervenção apresentadas nesses modelos limitam-se a fatores isolados de causalidade. As autoras propõem vetores que possam intermediar a coletividade com a individualidade no processo saúde-doença. Além de defender a tese de que se devem achar novas explicações para esse fenômeno no modo socioeconômico de vida das pessoas, onde os determinantes de saúde estão fortemente atrelados a esse fator. Os fenômenos que definem o que é saúde e o que é doença nem sempre podem ser quantificáveis. Todavia, as pesquisas científicas em saúde são baseadas nessas evidências e esse sistema tem se mostrado eficaz de um modo em geral. Tal modelo é criticado por Goodman e Beagle Holf, ambos citados na obra de Oliveira e Egry (2000, p. 14), sendo visto como resultado de intervenções que se reduzem a aplicação de técnicas. A saúde da população é uma preocupação determinante na busca de pesquisas científicas. No entanto essa procura torna-se prejudicada, haja vista que muitas discussões partem de instrumentosgeneralistas, equivocados e sem foco. E novamente, no texto, são citados diversos autores que reforçam a afirmativa e propõem novos olhares para a saúde coletiva, que deve ser sistematizada a partir da realidade do paciente. É possível observar que a sociedade vem tendo uma nova visão acerca de saúde-doença. O indivíduo, sendo conhecedor de variadas vertentes que existem, tem lançado mão da oportunidade de escolha do tratamento que lhe é mais conveniente. Assim, deixa de ser um mero receptor de técnicas e procedimentos terapêuticos e passa a ter um papel ativo na busca de sua qualidade de vida. Dessa forma percebe-se que as diferentes teorias é consequência da procura humana em classificar a causalidade da doença. E, ao passo que se forma uma determinada teoria, há uma materialização social desta, onde a sociedade sofre uma intervenção de variadas vertentes filosóficas. Por fim, o conceito de saúde deve estar pautado numa dimensão ampla que preconiza a assistência integral ao indivíduo.
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