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DIREITO CONSTITUCIONAL III- DIREITO À SAÚDE

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DIREITO CONSTITUCIONAL III- DIREITO À SAÚDE 
 
1º	
  JULGADO	
  
Poder Judiciário pode obrigar a Administração Pública a manter quantidade 
mínima de determinado medicamento em estoque. 
A Administração Pública pode ser obrigada, por decisão do Poder Judiciário, a manter 
estoque mínimo de determinado medicamento utilizado no combate a certa doença 
grave, de modo a evitar novas interrupções no tratamento. Não há violação ao 
princípio da separação dos poderes no caso. Isso porque com essa decisão o Poder 
Judiciário não está determinando metas nem prioridades do Estado, nem tampouco 
interferindo na gestão de suas verbas. O que se está fazendo é controlar os atos e 
serviços da Administração Pública que, neste caso, se mostraram ilegais ou abusivos 
já que, mesmo o Poder Público se comprometendo a adquirir os medicamentos, há 
falta em seu estoque, ocasionando graves prejuízos aos pacientes. Assim, não tendo a 
Administração adquirido o medicamento em tempo hábil a dar continuidade ao 
tratamento dos pacientes, atuou de forma ilegítima, violando o direito à saúde 
daqueles pacientes, o que autoriza a ingerência do Poder Judiciário. STJ. 1ª Turma. 
RE 429903/RJ, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 25/6/2014 (Info 752) 
 
2º	
  JULGADO	
  
Diferença de classes no SUS é inconstitucional. 
É inconstitucional a possibilidade de um paciente do Sistema Único de Saúde (SUS) 
pagar para ter acomodações superiores ou ser atendido por médico de sua preferência, 
a chamada "diferença de classes". Existe uma portaria do Ministério da Saúde 
(Portaria 113/1997) que proíbe a diferença de classe. Este ato estava sendo 
questionado e o STF, em recurso extraordinário submetido à repercussão geral, 
declarou www.dizerodireito.com.br Página 9 que ele é constitucional, firmando a 
seguinte tese, que vale de forma ampla para todos os casos envolvendo diferença de 
classe: "É constitucional a regra que veda, no âmbito do Sistema Único de Saúde - 
SUS, a internação em acomodações superiores, bem como o atendimento diferenciado 
por médico do próprio SUS, ou por médico conveniado, mediante o pagamento da 
diferença dos valores correspondentes." STF. Plenário. RE 581488/RS, Rel. Min. 
Dias Toffoli, julgado em 3/12/2015 (repercussão geral) (Info 810). 
 
 
 
 
3º	
  JULGADO	
  
	
  
CUIDADO: A União tem responsabilidade civil em caso de erro médico ocorrido em 
hospital do SUS? (Extraído do Blog DizerODireito) 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
Uma gestante, em trabalho de parto, procurou o hospital particular “Boa Saúde”, 
credenciado junto ao SUS para prestar atendimento gratuito à população em geral. Em 
outras palavras, esse hospital recebe verbas do SUS para que uma parte de seu 
atendimento seja destinada a todas as pessoas, independentemente de pagamento. 
Ocorre que a gestante teve que esperar quatro horas para ser atendida e, ao ser 
encaminhada para a sala de parto, não pode ser feita a cesárea em virtude da ausência 
de médico especialista. 
Essa longa espera fez com que a mulher perdesse o filho. 
Diante disso, ela ajuizou ação de indenização por danos morais contra a União 
alegando que, apesar de o hospital ser privado, o atendimento era realizado pelo SUS 
e a União, como gestora nacional do SUS, deveria ser responsabilizada pela má 
prestação dos serviços. 
 
Tese da União 
A AGU contestou o pedido afirmando que a União é parte ilegítima para figurar na 
ação indenizatória relacionada com a falha de atendimento médico, pois, apesar de ser 
a gestora nacional do Sistema Único de Saúde, a função de fiscalizar e controlar os 
serviços de saúde é delegada aos Municípios nos termos do art. 18 da Lei nº 8.080/90. 
 
Afinal de contas, a União possui ou não legitimidade para figurar no polo passivo 
dessa demanda? 
NÃO. A União não tem legitimidade passiva em ação de indenização por danos 
decorrentes de erro médico ocorrido em hospital da rede privada durante atendimento 
custeado pelo SUS. Isso porque, de acordo com a descentralização das atribuições 
previstas na Lei nº 8.080/90, a responsabilidade pela fiscalização dos hospitais 
credenciados ao SUS é do Município, a quem compete responder em tais casos. 
 
Assim, nos termos do art. 18, X, da Lei n.° 8.080/90, compete ao Município celebrar 
contratos e convênios com entidades prestadoras de serviços privados de saúde, bem 
como controlar e avaliar a respectiva execução. 
 
Não se deve confundir a obrigação solidária dos entes federativos em assegurar o 
direito à saúde e garantir o acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua 
promoção, proteção e recuperação, com a responsabilidade civil do Estado pelos 
danos causados a terceiros. Nesta, o interessado busca uma reparação econômica 
pelos prejuízos sofridos, de modo que a obrigação de indenizar se sujeita à 
comprovação da conduta, do dano e do respectivo nexo de causalidade. 
 
Dessa forma, não há qualquer elemento que autorize a responsabilização da União, 
seja porque a conduta não foi por ela praticada, seja em razão da impossibilidade de 
aferir-se a existência de culpa in eligendo ou culpa in vigilando. STJ. 1ª Seção. 
EREsp 1.388.822-RN, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 13/5/2015 (Info 563). 	
  
4º	
  JULGADO	
  
ATENÇÃO: Jan. 2015 – Entendimento NÃO pacífico: Plano de saúde pode ser 
condenado a custear tratamento experimental em caso de ineficácia dos tratamentos 
convencionais. (Retirado do Blog DizeroDireito) 
 
Pedro, que tinha um plano de saúde da Unimed® de Belo Horizonte, foi diagnosticado 
com câncer na língua. 
O médico oncologista prescreveu um tratamento consistente em quimioterapia 
utilizando três drogas diferentes (carboplatina, docetaxel e capecitabina). 
Ainda de acordo com o médico, esse é o único tratamento indicado para a cura ou 
controle eficaz dessa espécie de câncer, sendo realizado no Centro de Oncologia do 
Hospital Sírio-Libanês em SP. 
O plano de saúde recusou-se a custear o tratamento alegando que ele ainda é 
experimental. 
Vale ressaltar que uma das cláusulas do contrato de plano de saúde exclui 
expressamente a cobertura do plano em caso de tratamentos experimentais. 
 
Tratamento experimental 
Tratamento experimental é aquele que emprega fármacos, vacinas, testes, aparelhos 
ou técnicas que ainda estão sendo objeto de pesquisas, ou que utiliza medicamentos 
não registrados no país, bem como aquele considerado experimental pelo Conselho 
Federal de Medicina, ou o tratamento a base de medicamentos com indicações que 
não constem da bula registrada na ANVISA (Resolução Normativa RN 167/207 
ANS). 
 
Ação cominatória 
O paciente ajuizou ação cominatória com pedido de tutela antecipada contra o plano 
de saúde requerendo que ele seja condenado a custear o tratamento. 
 
Contestação 
O plano de saúde apresentou contestação, na qual alega que o contrato possui uma 
cláusula expressa que exclui a cobertura em caso de tratamento experimental e que tal 
previsão contratual está de acordo com o art. 10, I, da Lei n.° 9.656/98: 
Art. 10. É instituído o plano-referência de assistência à saúde, com cobertura 
assistencial médico-ambulatorial e hospitalar, compreendendo partos e tratamentos, 
realizados exclusivamente no Brasil, com padrão de enfermaria, centro de terapia 
intensiva, ou similar, quando necessária a internação hospitalar, das doenças listadas 
na Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com 
a Saúde, da Organização Mundial de Saúde, respeitadas as exigências mínimas 
estabelecidas no art. 12 desta Lei, exceto: 
 I - tratamento clínico ou cirúrgico experimental; 
 
O STJ concordou com o pedido do paciente? O plano de saúde deverá custear o 
tratamento? 
SIM. A seguradora ou operadora de plano de saúde deve custear tratamento 
experimental existente no País, em instituição de reputação científica reconhecida, de 
doença listada
na CID-OMS, desde que haja indicação médica para tanto, e os 
médicos que acompanhem o quadro clínico do paciente atestem a ineficácia ou a 
insuficiência dos tratamentos indicados convencionalmente para a cura ou controle 
eficaz da doença. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.279.241-SP, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 16/9/2014 
(Info 551). 
 
Realmente, o art. 10, I, da Lei n.° 9.656/98 permite que o plano de saúde deixe de 
custear tratamentos experimentais. No entanto, segundo decidiu o STJ, esse 
dispositivo não pode ser interpretado de forma absoluta ou literal, devendo ser lido 
em conjunto com o art. 12 da mesma Lei. 
 
A interpretação correta do art. 10, I, da Lei n.° 9.656/98, portanto, deve ser a seguinte: 
 
• Se houver tratamento convencional que seja eficaz para ser aplicado ao paciente: 
Nesse caso, as operadoras de planos de saúde não podem ser obrigadas a custear 
tratamentos experimentais. Assim, havendo tratamento convencional, com 
perspectiva de resposta satisfatória, não pode o paciente, à custa do plano de saúde, 
optar por tratamento experimental, por considerá-lo mais eficiente ou menos 
agressivo, pois lhe é disponibilizado tratamento útil, suficiente para atender o mínimo 
garantido pela Lei. 
 
• Se não houver, dentro do protocolo médico, tratamento convencional para a cura 
ou controle eficaz da doença: 
Nesse caso, pode-se prescrever para o paciente um tratamento de natureza 
experimental, desde que ele exista no Brasil e seja realizado por instituição de 
reputação científica reconhecida, devendo o a operadora de plano de saúde custear o 
tratamento. 
 
Assim, a restrição contida no art. 10, I, da Lei n.° 9.656/98 somente deve ter aplicação 
nas hipóteses em que os tratamentos convencionais mínimos garantidos pelo art. 12 
da mesma Lei são de fato úteis e eficazes para o contratante segurado. Em situações 
em que os tratamentos convencionais se mostram ineficientes, deve a operadora se 
responsabilizar pelo tratamento experimental, desde que haja indicação médica e seja 
realizado em instituição de saúde reconhecida, isto é, cientificamente bem reputada. 
 
Vale ressaltar que o STJ não declarou inconstitucional o art. 10, I, da Lei n.°9.656/98, 
mas apenas fez uma interpretação sistêmica dele em conjunto com o art. 12 da mesma 
Lei. 
 
Obs: importante esclarecer que este precedente é apenas de uma Turma do STJ e que 
o julgamento foi por maioria. Além disso, mesmo entre os Ministros que votaram a 
favor do paciente houve divergência quanto à fundamentação, tendo um dos Ministros 
entendido que o tratamento não era experimental. Dessa forma, fica o alerta de que 
não se trata ainda de um tema pacífico, mas consiste, certamente, em um alento para 
as pessoas que precisam de tratamentos experimentais como única chance de cura.

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