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Módulo 1 – CLASSES DE SOLO E IRRIGAÇÃO Derli Prudente Santana1 Manoel Ricardo de Albuquerque Filho2 Luiz Marcelo Aguiar Sans3 1.1. O solo em perspectiva Conceito de solo Ao longo da história, o solo tem sido um elemento bastante familiar ao homem, que dele sempre dependeu para satisfazer suas necessidades básicas de locomoção, abrigo e alimentação. Assim, os conceitos de solo são quase tão variados quanto às atividades humanas que nele se desenvolvem. Cada indivíduo tem uma concepção mais identificada com suas próprias atividades e interesse, mas quase sempre, muito pouco relacionada com o conhecimento da natureza do próprio solo. Por exemplo, enquanto que para o agricultor o solo pode ser visto apenas como o meio para o desenvolvimento das plantas, para o engenheiro o solo é o material de enchimento em aterros e barragens. Os cientistas do solo preferem ver o solo como um “corpo natural da superfície da terra, alterada e biologicamente modelada, que suporta ou sendo capaz de suportar vida”. O solo e todas as suas correlações com a litosfera, a atmosfera e a biosfera formam um sistema aberto, a pedosfera, que atua em equilíbrio dinâmico, influenciando e sofrendo muita influência de todas essas esferas nas suas propriedades, em contínua evolução. A posição peculiar da pedosfera a torna uma das peças cruciais na estrutura dos ecossistemas terrestres. O solo (incluindo o relevo) está relacionado com todas as qualidades ecológicas e o clima do solo relaciona-se com a radiação solar, água, temperatura e arejamento. Ele é, além disso, o substrato principal da produção de alimentos e uma das principais fontes de nutrientes e sedimentos que vão para os rios e mares. A disponibilidade de água, nutrientes e ar nos solos variam bastante, condicionando, nos vários solos, uma produtividade diferente das culturas, quando outros fatores são considerados constantes. Solo, planta e água são fatores críticos e interdependentes na prática da irrigação: o balanço adequado desse trio deverá propiciar sucesso naquela prática. 1Eng°. Agr°, Ph.D., Pesquisador Senior, Embrapa Milho e Sorgo, Cx. P. 151, 35701-970 Sete Lagoas, MG, E-mail: derli.prudente@embrapa.br; 2Eng°. Agr°, D.Sc., Pesquisador A, Embrapa Milho e Sorgo, Cx. P. 151, 35701-970 Sete Lagoas, MG, E-mail: manoel.ricardo@embrapa.br; 3Eng°. Florestal, D.Sc., Pesquisador (ex - Embrapa Milho e Sorgo), Professor UNIFEMM. Gênese do solo Estudos de solos em diversas partes do mundo têm mostrado que os solos têm propriedades devidas ao efeito integrado do clima e organismo no material de origem (rocha), durante um determinado período de tempo. Esses fatores de formação do solo determinam a gênese dos vários solos existentes na face da crosta terrestre. A resultante da ação de interdependência desses fatores é que determina as características e propriedades de cada solo. Como os fatores de formação do solo variam pronunciadamente na superfície terrestre, tem-se, necessariamente, uma variação paralela das características dos solos nas diferentes porções das paisagens que eles ocupam. Solo = f (clima, organismos, material de origem e tempo) Na formação dos solos ocorrem reações físicas, químicas e biológicas que determinam os diferentes processos, com suas respectivas tendências (Tabela 1.1). Tabela 1.1 – Tipos de processos de formação do solo e exemplos Processos Exemplos Transformação Ruptura da rede cristalina dos minerais primários. Gênese dos minerais de argila. Decomposição da matéria orgânica. Remoção Lixiviação de elementos para o lençol freático. Translocação Eluviação de matéria orgânica, argila silicatada e óxidos do horizonte A para o B. Adição Incorporação de matéria orgânica ao solo. Sedimentação ligeira. Fonte: Simonson, 1959. Os processos de pedogênese estão ligados ao tempo que, por sua vez, é controlado pelo relevo. Os fatores ativos (clima e organismos) atuam de cima para baixo, isto é, os solos são mais intemperizados (velhos) na superfície do que em camadas mais profundas. A Figura 1.1 ilustra a interdependência entre os fatores e os processos de formação do solo. Em função desses fatores pedogenéticos, as propriedades preponderantes nas camadas ou horizontes do perfil dos diferentes solos vêm sendo conceituadas e agrupadas de maneira a constituir uma coleção de critérios e “atributos diagnósticos” que permitem classificar taxonomicamente e caracterizar esses solos, na paisagem em que se encontram. Trata-se do Sistema Brasileiro de Classificação de Solos – SiBCS (Embrapa, 2013), que agrupa os solos com base nos horizontes superficiais (horizontes A), subsuperficiais (horizontes B ou outros), suas inter-relações no perfil do solo e características remanescentes do material de origem. Nesse sistema são apresentados, de maneira detalhada, as definições e exemplos dos atributos e horizontes diagnósticos resumidos aqui: Figura 1.1 - Fatores de formação do solo e pedogênese. Horizonte A: Os agentes de intemperismo atuam na rocha de cima para baixo. À medida que aumenta a intensidade de intemperismo formam-se camadas mais ou menos paralelas à superfície chamadas horizontes. A primeira camada “terrosa” que se forma é mais rica em matéria orgânica e, por estar na superfície, é a camada que é mais afetada por fatores externos. Esta primeira camada mais escura é chamada de horizonte A. Principais Tipos de Horizonte A Horizonte hístico: É o horizonte que se caracteriza pela acumulação de resíduos orgânicos depositados superficialmente. Apresenta coloração escura e constitui-se de camadas superficiais espessas em solos orgânicos ou de espessura maior ou igual a 10 cm quando sobrejacente a rochas ou material com mais de 90 % de fragmentos de rocha. Horizonte A húmico: horizonte superficial, com espessura mínima de 10 cm, muito rico em matéria orgânica (mesmo quando tem alto teor de carbono - % peso – em relação à profundidade e teor de argila), espesso, bastante escuro e com baixa saturação de bases. Horizonte A chernozêmico: horizonte mineral superficial, relativamente espesso, escuro, rico em matéria orgânica (> 1%), no qual cátions divalentes (principalmente o cálcio e o magnésio) dominam o complexo sortivo. A saturação de bases é igual ou superior a 65% e o teor de P2O5 solúvel em ácido cítrico 1% é inferior a 250 mg kg-1 de solo. Apresenta estrutura granular ou grumosa, normalmente bem desenvolvida e consistência macia quando seco e friável quando úmido. Horizonte A proeminente: semelhante ao horizonte A chernozêmico em cor, consistência, estrutura, espessura, conteúdo de carbono orgânico e de P2O5, mas apresentando saturação de bases inferior a 65% e diferindo do horizonte A húmico por não satisfazer os requisitos quanto ao teor de carbono orgânico em relação à profundidade e teor de argila. Horizonte A moderado: horizonte superficial que apresenta teores de carbono orgânico variáveis, espessura e/ou cor que não satisfaçam aquelas requeridas para caracterizar um horizonte A chernozêmico, proeminente ou húmico, além de não satisfazer, também, os requisitos para caracterizar um horizonte A antrópico, horizonte A fraco e horizonte hístico. É o mais comum nos solos brasileiros. Horizonte A fraco: horizonte superficial que apresenta teores de carbono orgânico inferiores a 6 g kg-1 de solo (1% de matéria orgânica), cores muito claras, sem desenvolvimento de estrutura ou fracamente desenvolvida. É um horizonte característico de grande maioria dos solos da zona semiárida, com vegetação de caatinga hiperxerófila e bastante frequentes em solos mais arenosos. Horizonte A antrópico:É o horizonte formado ou modificado pela ação do homem. Caracteriza- se por apresentar teor de P2O5 solúvel em ácido cítrico mais elevado que na parte inferior do solum, em geral superior 250 mg/kg de solo. Solos em que o horizonte A ocorre diretamente sobre a rocha ( R ) são chamados de Neossolos Litólicos (Figura 1.2). O prefixo lito (= rocha) indica que o solo tem suas características diretamente herdadas da rocha. Horizonte C: Continuando o processo de intemperismo, podemos ter logo abaixo da camada mais influenciada pela matéria orgânica superficial (horizonte A), uma camada composta predominantemente de fragmentos de rochas e algum material “terroso”. Dá-se o nome de horizonte C a esta camada. Solos com sequência de horizontes tipos A, C, R são também chamados de Neossolos Litólicos (Figura 1.2). Figura 1.2 - Sequência de horizontes tipo AR e ACR, típica de Neossolos Litólicos. Horizonte B Continuando o processo de pedogênese, a camada de intemperismo vai aumentando de espessura. Os fragmentos de rocha do horizonte C vão se decompondo até o ponto em que o material “terroso” predomina sobre o material que ainda guarda a estrutura da rocha. Ao se atingir o ponto em que o horizonte adquire uma estrutura típica do solo, embora ainda possa apresentar algum vestígio de estrutura da rocha, dizemos que temos um horizonte B. Horizonte B Incipiente: Quando o horizonte B apresenta um certo grau de evolução, porém não suficiente para meteorizar completamente minerais primários de fácil intemperização, dá-se o nome de horizonte B incipiente. Os solos mais comuns que apresentam um horizonte B incipiente são chamados de Cambissolos (Figura 1.3). Figura 1.3 - Solos com horizonte B incipiente. Horizonte B Textural: Com a evolução da pedogênese, poderemos ter a translocação de argila do horizonte A ou E para o horizonte B, criando um gradiente textural pronunciado, determinado pela média dos teores de argila dos horizontes B, divididos pelo dos horizontes A. Cerosidade, isto é, películas de argila envolvendo os agregados, geralmente blocos subangulares, definem essa translocação (Figura 1.4). O fato de o horizonte superficial ser menos argiloso do que o horizonte B quase sempre significa uma mudança (diminuição) na permeabilidade com a profundidade. É o horizonte típico dos Argissolos entre outros. Uma variação do B Textural, que normalmente se apresenta com cores acinzentadas, escuras ou neutras, resultantes de processos de redução hidromórfica, é o Horizonte B Plânico. Esse horizonte difere do B Textural por se apresentar muito mais adensado e com baixa permeabilidade, além de poder apresentar caráter sódico, estrutura maciça, prismática ou colunar. Horizonte B Nítico: Diferencia-se do B textural por não apresentar incremento de argila do horizonte A para o B, ou quando o incremento não é suficiente para caracterizar a relação textural B/A do B textural, com argila de atividade baixa ou caráter alítico (Embrapa, 2013). Figura 1.4 - Solos com horizonte B Textural. Horizonte B Latossólico: À medida que o intemperismo atua e se a taxa de pedogênese for maior do que a taxa de remoção (erosão), aumenta-se a espessura do manto de intemperismo. Nessas condições, o material tem mais tempo de exposição aos processos pedogenéticos e o solo torna- se mais “velho”. Solos em avançado estágio de intemperismo apresentam um horizonte B que se caracteriza por uma concentração relativa de óxidos de ferro e de alumínio, argilas pouco ativas e totalmente floculadas, virtual ausência de minerais facilmente intemperizáveis. Este tipo de horizonte é chamado de B latossólico. (Figura 1.5). Solos B latossólico são chamados de Latossolos (lato = amplo). São solos muito profundos, muito friáveis, tendo a massa do solo um aspecto maciço e muito poroso. Apresentam seqüencia de horizonte ABC com transição normalmente difusas e planas entre os sub-horizontes do B. Figura 1.5 - Os Latossolos apresentam perfis muito profundos e transições difusas entre os sub- horizontes. Horizonte Glei Devido à posição na paisagem, há, na gênese de alguns solos, a atuação de um fator local – topografia – condicionando lençol freático elevado e conseqüente condições de baixo potencial de oxi-redução (deficiência de oxigênio). Nessas condições, há uma intensa redução do ferro, evidenciado nas cores cinzento-oliváceas, esverdeadas, azuladas, típicas do horizonte glei. Essas cores apresentam-se em colorido uniforme ou compondo mosqueamento (manchas) em quantidade comum ou abundante. Esse é o horizonte Glei e sua presença, a menos de 50 cm de profundidade, é um dos critérios utilizados para identificar os Gleissolos. Nos solos Neossolos Flúvicos, aqueles formados em depósitos aluviais recentes e caracterizados por uma sucessão de camadas estratificadas sem relação pedogenética entre si, é comum a presença de horizonte glei a maiores profundidades (Figura 1.6). Figura 1.6 - Solos Neossolos Flúvicos (Aluviais) apresentam uma sucessão de camadas sem relações pedogenéticas entre si. Horizonte Vértico Caracteriza-se pela expansão e contração das argilas, o que lhe confere feições pedológicas típicas denominadas superfícies de fricção (“slickensides”). Deve ter no mínimo 20 cm de espessura e coeficiente de expansão de Cole deve ser 0,06 ou expansibilidade linear de 06 cm ou mais. Horizonte Plíntico Horizonte com no mínimo 15 cm de espessura com presença de plintita (mistura de óxidos de ferro e alumínio, quartzo e outros minerais, macia ou pouco dura, que pode ser desfeita a mão ou facilmente cortada a faca) em quantidade igual ou superior a 15%. A semelhança do Horizonte Glei, ou simplesmente como uma evolução desse, o Horizonte Plíntico se forma sob efeito de processos de oxi-redução, em terrenos com lençol freático elevado ou restrição temporária à drenagem e, assim, apresentam coloração variegada, ou seja, com arranjo de cores vermelhas e acinzentadas ou brancas, com ou sem cores amareladas ou brunadas e bruno-acinzentadas-avermelhadas. Horizontes Concrecionário e Litoplíntico Com a sucessão de ciclos de umedecimento e secagem (redução e oxidação) no perfil do solo, a plintita tende a um endurecicemnto irreversível, originando concreções de ferro ou ferro e alumínio, denominadas “petroplintita”. Quando essas concreções e nódulos ferruginosos, com ou sem presença de outros materiais grosseiro, ocupam 50 % ou mais do volume do horizonte, com espessura mínima de 30 cm, esse horizonte é classificado como Concrecionário (Figura 1.7). Nos casos em que a petroplintita forma um contínuo ou predomina em blocos com, no mínimo, 20 cm de tamanho, com espessura mínima de 10 cm, constitui-se então, o Horizonte Litoplíntico (Figura 1.8). Figura 1.7 – Superfície concrecionária de petroplintita, exumada a partir da erosão diferencial do horizonte superficial. Figura 1.8 – Solo com horizonte litoplíntico em área de Projeto de Produção Irrigada de Frutas, no Estado do Tocantins. Horizonte Cálcico Caracteriza-se por conter 15% ou mais de carbonato de cálcio equivalente. Quando muito rico em carbonatos e cimentado, formando um horizonte contínuo, endurecido e maciço, com poros obstruídos e estrutura laminar na qual não há penetração de raízes, passa a ser denominado Horizonte Petrocálcico, As definições e a caracterização desses horizontes possibilitam interpretações práticas, não apenas para a classificação taxonômica dos solos na paisagem, mas também para o seu uso e manejo agrícola. Da mesma forma, os demais atributos diagnósticos descritos no SiBCS devem ser considerados na implantação e manejo de sistemas de produção, especialmentequando tratam de características do solo que afetam sistemas irrigados, como caráter coeso, concrecionário, retrátil, redóxico, sálico, salino, sódico, vértico, matérias sulfídricas e teor de óxidos de ferro (Embrapa, 2013). Dentre esses, destacam-se ainda os de uso generalizado descritos a seguir, que são empregados nas análises de rotina de laboratórios e sistemas de interpretação de análises de solo para fins agrícolas, principalmente para a recomendação de fertilizantes e corretivos. Saturação por Bases: Refere-se à proporção (taxa percentual) de cátions básicos trocáveis (valor S – soma de bases), em relação à capacidade de troca de cátions total (T) determinada a pH 7,0. (eq. 1.1) A interpretação direta do resultado faz inferência à condição de eutrofismo e distrofismo do solo: Eutrófico: Solo que apresenta saturação de bases (valor V) igual ou superior a 50%. Distrófico: Solo que apresenta saturação de bases (valor V) inferior a 50%. Atividades das Argilas: Refere-se à capacidade de troca de cátions (valor T) da fração argila, utilizada para solos das classes texturais franco-arenosa ou mais fina e, portanto, não se aplica para solos das texturais areia e areia franca. Atividade alta: valor igual ou superior a 27 cmolc kg-1 de argila. Atividade baixa: inferior a este valor. A equação que se segue pode ser utilizada: (eq. 1.2) Onde: T é a capacidade de troca de cátion, determinada pela soma do conteúdo de bases trocáveis (Ca2+ + Mg2+ + Na+ + K+) e acidez extraível (H+ + Al3+) (Embrapa 2013). Grupamento Textural É o agrupamento de uma ou mais classes de textura, determinada a partir da fração terra fina seca ao ar (TFSA), ou seja, das frações minerais do solo com tamanho de até 2 mm (areia, silte e argila). O SiBCS utiliza os grupamentos texturais: Textura Arenosa: Compreende as classes texturais areia e areia franca, ou seja, teor de areia menos o teor de argilha > 700 g kg-1. Textura Média: Material com menos de 350 g kg-1 de argila e mais de 150 g kg-1 de areia, excluídas as classes texturais areia e areia franca; Textura Argilosa: Material com conteúdo de argila entre 350 g kg-1 e 600 g kg-1; Textura Muito Argilosa: Material com conteúdo de argila superior a 600 g kg-1 Textura Siltosa: Material com menos de 350 g kg-1 de argila e menos de 150 g kg-1 de areia Outros atributos que têm relação direta com a textura do solo e podem interferir diretamente na drenagem do solo são a Distribuição de cascalhos no perfil e a Constituição esquelética do solo. O primeiro se refere à proporção de material mineral com tamanho entre 2 mm e 2 cm, em relação à TFSA, cuja ocorrência pode ser utilizada como qualificador do grupamento textural, adicionam-se ao final desse, os termos: pouco cascalhenta (conteúdo de cascalho de 80 a menos de 150 g kg-1), cascalhenta (conteúdo de cascalho entre 150 e 500 g kg-1) e muito cascalhenta (conteúdo de cascalho superior a 500 g kg-1). O segundo se refere à condição em que o volume total do solo apresenta a fração mineral constituída por materiais com diâmetro maior que 02 cm em proporção entre 35 % e 90 %. 1.2. Classificação de solos A classificação de objetos é essencial para organizar os nossos conhecimentos, propiciando à mente uma visão global e sistemática dos objetos classificados e facilidade em relacioná-los. A classificação tem ocupado uma posição central em todos os ramos das ciências naturais, incluindo estudos de solo. A ciência do solo, uma disciplina relativamente nova comparada a outros campos tais como botânica, biologia, zoologia e mineralogia, sente a falta de um sistema taxonômico internacionalmente aceito. Muitos fatores são responsáveis pela larga variedade de esquemas de classificação, mas tal proliferação é talvez devida em parte a propriedades peculiares dos solos, os quais existem como sistemas multidimensionais no espaço e no tempo. Portanto, o propósito da classificação é: a) Organizar os conhecimentos (dessa maneira, contribuindo para economia de pensamento); b) Salientar e entender relações entre indivíduos e classes da população sendo classificada; c) Relembrar propriedades dos objetos classificados; d) Aprender novas relações e princípios na população que está sendo classificada; e) Estabelecer grupos ou subdivisões (classes) de objetos sob estudo de uma maneira útil para propósitos práticos, aplicados em: - predizer seu comportamento; - identificar seus melhores usos; - estimar sua produtividade e; - prover objetos ou unidades para pesquisa e para extensão e extrapolação dos resultados de pesquisa ou de nossas observações. Uma classificação natural ou taxonômica é aquela em que o propósito é, tanto quanto possível, o de revelar relações das propriedades mais importantes da população sendo classificada sem referência a nenhum objetivo específico, e a classificação aplicada seria, por exemplo, o mapa de aptidão agrícola dos solos de uma determinada propriedade agrícola. Numa classificação natural, praticamente todos os atributos da população são considerados e aqueles que têm maior número de características covariantes ou associadas são selecionados para definir e separar as várias classes. Nos atuais sistemas de classificação do solo tenta-se aproximar o máximo possível do sistema de classificação natural, embora haja a tendência de dar-se peso a propriedades de maior relevância agrícola (Finkl, 1982). 1.2.1. Classificação brasileira de solos A classificação usada no Brasil é profundamente relacionada com a ocorrência do solo na paisagem. Objetiva principalmente servir ao levantamento de solos. Isto torna a correspondência entre os conceitos de cada classe e a ocorrência dos solos na paisagem muito estreita. Contudo, conforme já destacado, a interpretação aprofundada dos conceitos do SiBCS permite muitas inferências técnicas acerca do comportamento do solo e de seu funcionamento face ao uso e manejo estabelecido. Os sistemas de classificação que eram usados no Brasil são, sob certa forma, uma mistura de nomes antigos com conceituações novas. Alguns nomes dos sistemas americanos de 1938 (com revisões de 1949) foram adotados, mas definidos de uma forma mais precisa; algumas conceituações de “Soil Taxonomy” (classificação americana – Soil..., 1975) são usadas, mas não estritamente, assim como alguns conceitos da FAO (Soil Map of the World - Food..., 1979). O Sistema Brasileiro de Classificação de Solos, a partir da década de 70, passou a ser objeto de um projeto nacional onde participam várias instituições, buscando definir um sistema hierárquico multicategórico e aberto que permita a inclusão de novas classes e que torne possível classificar todos os solos do território nacional. Essa parceria foi desenvolvida na forma de aproximações sucessivas de modo a permitir o aprimoramento constante. Em 2013 foi lançada a terceira edição, revista e ampliada do SISTEMA BRASILEIRO DE CLASSIFICAÇÃO DE SOLOS (Embrapa, 2013), que substituiu as versões e aproximações anteriores. Assim, são apresentados aqui apenas um esboço das principais classes de solos do Brasil, extraído diretamente dessa publicação). 1.2.1.1. Nomenclatura das classes O SiBCS está organizado em Níveis Categóricos que hierarquizam as classes de solos de acordo com propriedades que possam ser identificadas no campo ou inferidas com base no conhecimento de campo, da Ciência do Solo ou disciplinas correlatas. São seis níveis categóricos: ordens, subordens, grandes grupos, subgrupos, famílias e séries, em que preponderam, nos níveis mais elevados, as propriedades resultantes diretamente dosprocessos pedogenéticos (Embrapa, 2013). A exemplo, no primeiro nível categórico (ordem), as classes são separadas com base em características de campo (presença ou ausência de atributos, horizontes diagnósticos ou propriedades) que diferenciam o tipo e grau de desenvolvimento do conjunto de processos predominantes na formação do solo. Nesse nível, os nomes das 13 classes são formados pela associação de um elemento formativo com a terminação "-ssolos". São apresentados na Tabela 1.2 os nomes das classes, seus respectivos elementos formativos e os seus significados. Tabela 1.2 - Nomes das classes dos solos brasileiros, em ordem alfabética, seus respectivos elementos formativos e os seus significados (Embrapa, 2013) Classe Elemento formativo Termos de conotação e de memorização ARGISSOLO ARGI argilla, “argila”, processos de acumulação de argila, com baixa saturação por bases. Horizonte B textural. CAMBISSOLO CAMBI cambiare, “trocar”, em formação (transformação). Horizonte B incipiente CHERNOSSOLO CHERNO chern, “preto”, de cor esrura, horizonte A rico em matéria orgânica e com alta saturação por bases. ESPODOSSOLO ESPODO spodos, “cinza vegetal”, acumulação de matéria orgânica e Al. Horizonte B espódico GLEISSOLO GLEI glei, “massa de solo pastosa”, conotativo de excesso de água. Horizonte glei LATOSSOLO LATO lat, “muito alterado”, solo muito intemperizado. Horizonte B latossólico. LUVISSOLO LUVI luere, “lavar”, conotativo de acumulação de argila, com alta saturação por bases e atividade de argila alta (Ta). Horizonte B textural. NEOSSOLO NEO neo, “novo”, solos pouco desenvolvidos. NITOSSOLO NITO nitidus, “brilhante”, conotativo de superfícies brilhantes nas unidades estruturais. Horizonte B nítico. ORGANOSSOLO ORGANO organicus, horizonte de constituição orgânica (H ou O). PLANOSSOLO PLANO planus, “plano”, desenvolvido em planícies ou depressões, com encharcamento estacional. Horizonte B plânico PLINTOSSOLO PLINTO plinthus, “tijolo”, materiais argilosos coloridos, que endurecem quando expostos ao ar. Horizonte plíntico VERTISSOLO VERTI vertere, “virar”, “inverter”, movimento de material de solo na superfície e que atinge a subsuperfície (expnsão/contração). Horizonte vértico. 1.2.1.2. Base e critérios do SiBCS A base é definida como ordem de consideração que governa a formação das classes. Os critérios são elementos pelos quais as classes são diferenciadas na aplicação do sistema aos solos, isto é, atributos que distinguem as classes das demais de mesmo nível categórico; constituem as características diferenciais da classe. A base e os critérios envolvidos na conceituação e definição das classes ora reconhecidos (Embrapa, 2013) são: ARGISSOLOS: grupamento de solos com B textural, com argila de atividade baixa ou alta conjugada com saturação por bases baixa ou caráter alítico. *Base – evolução avançada com atuação incompleta de processo de ferralitização, em conexão com paragênese caulinítica – oxídica ou virtualmente caulinítica ou vermiculita com hidróxi-AL entrecamadas na vigência de mobilização de argila da parte mais superficial, com concentração ou acumulação em horizonte subsuperficial. *Critério – desenvolvimento (expressão) de horizonte diagnóstico B textural em vinculação com atributos evidenciadores de baixa atividade da fração argila ou o caráter alítico. CAMBISSOLOS: grupamento de solos pouco desenvolvidos com horizonte B incipiente. *Base - pedogênese pouco avançada evidenciada pelo desenvolvimento da estrutura do solo, com alteração do material de origem expressa pela quase ausência da estrutura da rocha ou da estratificação dos sedimentos, croma mais alto, matizes mais vermelhos ou conteúdo de argila mais elevado que o dos horizontes subjacentes. *Critério - desenvolvimento de horizonte B incipiente em sequência a horizonte superficial de qualquer natureza, inclusive o horizonte A chernozêmico, quando o B incipiente deverá apresentar argila de atividade baixa e/ou saturação por Base baixa. CHERNOSSOLOS: grupamento dos solos com horizonte A Chernozêmico, com argila de atividade alta e saturação por bases alta, com ou sem acumulação de carbonatos de cálcio. *Base - evolução não muito avançada, segundo atuação expressiva de processo de bissialitização, manutenção de cátions básicos divalentes, principalmente cálcio, conferindo alto grau de saturação dos coloides e eventual acumulação de carbonato de cálcio, promovendo reação aproximadamente neutra com enriquecimento em matéria orgânica, favorecendo complexação e floculação de colóides minerais e orgânicos. *Critério - desenvolvimento de horizonte superficial, diagnóstico, A chernozêmico, seguido de horizonte C, desde que seja cálcico, petrocálcico ou carbonático, ou conjugado com horizonte B textural ou B incipiente, com ou sem horizonte cálcico ou caráter carbonático, sempre com argila de atividade alta e saturação por Base alta. ESPODOSSOLOS: grupamento de solos com B espódico. *Base – atuação de processo de podzolização com aluviação de materiais compostos principalmente por uma mistura de matéria orgânica humificada e alumínio, podendo ou não conter ferro, e consequente acumulação iluvial desses constituintes *Critério – desenvolvimento de horizontes diagnóstico B espódico em sequência a horizonte E (álbico ou não), A ou hístico. GLEISSOLOS: grupamento de solos com expressiva gleização. *Base – hidromorfia expressa por forte gleização, resultante de processos de intensa redução de compostos de ferro, em presença de matéria orgânica, com ou sem alternância de oxidação, por efeito de flutuação de nível de lençõl freático, em condições de regime de excesso de umidade permanente ou periódico. *Critério – preponderância e profundidade de manifestação de atributos que evidenciam gleização conjugada à identificação de horizonte glei. LATOSSOLOS: grupamento de solos com B latossólico. *Base – evolução muito avançada com atuação expressiva de processo de latolização (ferralitização), resultando em intemperização intensa dos constituintes minerais primários, e mesmo secundários menos resistentes, e concentração relativa de argilominerais resistentes e/ou óxidos e hidróxidos de ferro e alumínio, com inexpressiva mobilização ou migração de argila, ferrólise, gleização ou plintitização. *Critério – desenvolvimento (expressão) de horizonte diagnóstico B latossólico, em seqüência a qualquer tipo A e quase nulo ou pouco acentuado aumento de teor de argila de A para B. LUVISSOLOS: grupamento de solos com B textural, argila de atividade alta e saturação por base alta. *Base – evolução segundo atuação de processos de bissialitização, conjugada à produção de óxidos de ferro e à mobilização de argila da parte mais superficial, com acumulações em horizonte superficial. *Critério – desenvolvimento (expressão) de horizonte diagnóstico B textural com alta atividade da fração argila e alta saturação por base em sequência a horizonte A ou E. NEOSSOLOS: grupamento de solos pouco evoluídos, sem horizonte B diagnóstico definido. *Base - solos em vias de formação, seja pela reduzida atuação dos processos pedogenéticos, sejam por características inerentes ao material originário. *Critérios - insuficiência de expressão dos atributos diagnósticos que caracterizam os diversos processos de formação, exígua diferenciação de horizontes, com individualização de horizonte A seguido de C ou R e predomínio de características herdadas do material originário. NITOSSOLOS: grupamento de solos com horizonte B nítico abaixo do horizonte A. *Base – avançada evolução pedogenéticapela atuação de ferratilização com intensa hidrólise, originando composição caulinítica-oxídica ou virtualmente caulinítica, ou com presença de argilo-minerais 2:1 com hidróxi-Al entrecamadas (VHE e EHE). *Critério – desenvolvimento (expressão) de horizonte diagnóstico B nítico, em sequência a qualquer tipo A, com pequeno gradiente textural, porém apresentando estrutura em blocos subangulares, ou angulares ou prismática, de grau moderado ou forte, com cerosidade expressiva e/ou superfícies de compressão (foscas ou brilhantes) nas unidades estruturais e/ou caráter retrátil. ORGANOSSOLOS: grupamento de solos orgânicos *Base – predominância dos atributos dos constituintes orgânicos sobre os dos constituintes minerais. *Critério – desenvolvimento de horizonte hístico em condições de saturação por água, permanente ou periódica, ou em ambientes de clima úmido, frio e de vegetação alto- montana e saturados com água por apenas poucos dias durante o período chuvoso. PLANOSSOLOS: grupamento de solos minerais com horizonte B plânico, subjacente a qualquer tipo de horizonte A, podendo ou não apresentar horizonte E (álbico ou não). *Base – desargilização vigorosa da parte mais superficial e acumulação ou concentração intensa de argila no horizonte subsuperficial. *Critério – expressão de desargilização intensa evidenciada pela nítida diferenciação entre o horizonte B plânico e os horizontes precedentes A ou E, com mudança textural abrupta ou com transição abrupta conjugada com acentuada diferença de textura do horizonte A ou E para o B (Capítulo 2, p. 55, subitem h do SiBCS. Embrapa, 2013); restrição de permeabilidade em subsuperfície, que interfere na infiltração e no regime hídrico, com evidências de processos de redução, com ou sem segregação de ferro, que se manisfesta nos atributos de cor, podendo ocorrer mobilização e sorção do cátion Na+. PLINTOSSOLOS: grupamento de solos com expressiva plintização com ou sem formação de petroplintita. *Base – segregação localizada de ferro, atuante como agente de cimentação, com capacidade de consolidação acentuada. *Critério – preponderância e profundidade de manifestação de atributos que evidenciam a formação de plintita, conjugados com horizonte diagnóstico subsuperficial plíntico, concrecionário ou litoplíntico. VERTISSOLOS: grupamento de solos com horizonte vértico. *Base - desenvolvimento restrito pela grande capacidade de movimentação do material constitutivo do solo em consequência dos fenômenos de expansão e contração, em geral associados à alta atividade das argilas. *Critério - expressão e profundidade de ocorrência dos atributos resultantes dos fenômenos de expansão e contração do material argiloso constitutivo do solo. 1.3. Classes de solo e disponibilidade de água Assim que termina a chuva e/ou irrigação, se a água que tenha ficado na superfície desaparecer, dizem que o processo de infiltração terminou. Na realidade, o processo de infiltração não para bruscamente como se tivesse fechado uma torneira. Num solo saturado, a água tem diferentes caminhos. Parte move para baixo, ou seja, para camadas mais profundas do solo sob a ação do potencial gravitacional, outra parte move segundo outros potenciais o que denominamos de redistribuição. A infiltração é uma das características físicas que diferenciam os solos. Portanto, para cada tipo de solo a água tem comportamento diferencial. Como exemplo, pode-se observar valores diferenciados para a condutividade hidráulica, o que permite verificar o diferencial movimento de água nos diferentes solos. A textura tem, também, grande influência na capacidade de armazenamento de água no solo. Utilizando-se curvas características de umidade proveniente de estudos de solos brasileiros desenvolvidos em diferentes locais definiram-se funções que podem ser utilizadas para estimar a disponibilidade de água no solo. Pereira e Sans (2004) estabeleceram funções que permitiram agrupar as classes de solos segundo as disponibilidades de água. A análise de tendência foi feita através do ajuste de distribuições probabilísticas determinadas pelas funções, nas suas formas derivadas: Gama y´= x e - x / Logística y´= e x /( + e x ) 2 Weibull y´ = e- x x - 1 O n d e : , , : P a r â m e t r o s d e a j u s t e s x : Á g u a d i s p o n í v e l n o s o l o Tomou-se o quadrado médio dos resíduos como critério para a seleção do modelo mais eficiente para explicar as tendências observadas. Com base na capacidade de retenção de água disponível, os dados foram agrupados em classe de frequência. Fez-se uma analise de tendências por meio do ajuste de distribuições probabilísticas utilizando o quadrado médio como critério para seleção do modelo mais eficiente para explicar as tendências observadas (Tabela 1.3). Tabela 1.3 – Parâmetros de ajustes e quadrado medio do residuo das funções utilizadas. Modelo Parâmetros de ajuste Q.M.R. Gama 0,000567 9,4309 0,8921 10,4753 Logística 0,89106 0,009169 -0,54383 7,5291 Weibull 174,9000 0,000699 3,19040 10,4823 Observa-se na Tabela 1.4 que a função logística foi a que melhor descreveu a tendência de distribuição dos dados, indicando assim uma configuração similar à descrita pela curva normal. Com base nos resultados, procedeu-se à classificação dos solos em 3 tipos, sendo: Tipo 1 - solo de baixa retenção de água: Solos com menos de 5% de água disponível (representado por solos com mais de 60% de areia e teores de argila menores do que 15%). Tipo 2 - solos de média retenção de água: Solos entre 5% e 15% de água disponível (teores de argila entre 15% a 35%). Tipo 3 - solos com alta retenção: Solos com mais de 15% de água disponível (teores de argila maiores do que 35%). Ficaram, portanto, agrupados em apenas três grupos, ou seja, baixa, média e alta retenção. Agruparam-se os solos, segundo o armazenamento de água na zona radicular, em 20 mm (solos de baixa retenção de água, normalmente solos arenosos), 40 mm (solos de retenção de água média, geralmente textura média) e 60 mm (solos de alta retenção de água, normalmente solos de textura argilosa). O índice de satisfação da necessidade de água para a cultura é uma função da quantidade de água disponível (CAD) às plantas e das condições climatológicas. Como a CAD está relacionada com as propriedades físico-químicas do solo, a classe de solo por si só não define a capacidade de água disponível. Dentro de uma mesma classe de solos podem ocorrer diferentes CAD’s. Caso não seja conhecida a capacidade de água disponível, é possível usar a Tabela 1.4 como referência, que é uma tentativa de agrupar os solos segundo a sua capacidade de retenção de água. Tabela 1.4 - Classes de solos em função da capacidade de retenção de água a ser utilizada como referência no caso de ausência de dados específicos Capacidade de retenção de água Classes de solo Baixa a média Neossolos Quartzarênicos Latossolos álico e distrófico textura média Latossolos eutróficos textura média fase floresta e caatinga Argissolo distróficos latossólicos textura arenosa / média Regossolo eutrófico e distróofico textura arenosa e média Neossolos Litólicos álicos, distróficos, eutróficos textura arenosa Solos Concrecionários indiscriminados Neossolos Flúvicos textura arenosa Média Latossolo álico, distrófico, eutrófico textura argilosa / média Argisolos e Luvissolos distróficos eutróficos textura argilosa / média Neossolos textura argilosa Cambissolos textura argilosa / média Neossolos Litólicos textura argilosa Planossolo Solódicotextura arenosa / média Chernossolos textura média Neossolo Fluvicos textura média Plintossolos textura média Gleissolos textura média Latossolos Alta Latossolos textura argilosa / muito argilosa Latossolos Roxo textura argilosa Luvissolos e Argissolos textura argilosa / média Nitossolos estruturada similar textura argilosa Cambissolos eutróficos textura argilosa Planossolo Solódico textura argilosa Planossolos textura média/argilosa Chernossolos avermelhado textura argilosa Neossolos flúvicos textura média / argilosa Gleissolos textura indiscriminada Luvissolos textura média / argilosa Vertissolos Gleissolos textura argilosa Recentemente, tem-se utilizado funções de pedotransferência (PTF) para estimar a água disponível em solos. Inúmeras PTF têm sido desenvolvidas para esse fim, a partir de propriedades físicas do solo, com os mais diferentes graus de sofisticação. Porém os modelos mais simples têm-se baseado na textura do solo. Os modelos normalmente utilizam dados de silte e argila para estimar os limites superior e inferior de água disponível, por meio do uso de equações de regressão (Assad e Sans, 2001). O uso de valores de argila muitas vezes pode levar a erros de análise, principalmente no que se refere à dispersão. Portanto, foram estabelecidas funções embasadas no teor de areia. Além disso, é uma variável que pode ser, inclusive, determinada em condições de campo. As melhores PTF derivadas a partir do teor de areia foram: a) para o conteúdo volumétrico de água no solo no potencial de –10 kPa: y = a + bxc onde x é o teor de areia e a, b e c parâmetros de ajustes b) para estimar a água no limite inferior (-1500 kPa): y = d + bx * lnx Sendo a, b, c, d, e parâmetros de ajuste. A água disponível (AD) é calculada pela equação: AD % vol = q10 – q1500 AD % vol = ( a + bxc ) - ( d + bx * ln x) a = 39,07; b= -0,041; c = 1,455; d = 26,17; e = -0,0545 Sendo: q10 e q1500 quantidade de água retida no solo tensões de 0,01 e 1,5 MPa e a, b e c parâmetros de ajuste. Um aspecto de grande importância quanto ao uso da água é a sua redistribuição nas diferentes classes de solo, pois em qualquer situação a velocidade de redistribuição decresce pelo gradiente de potencial matricial entre zonas secas e úmidas e, à medida que a zona úmida perde água, a condutividade hidráulica decresce. Embora os princípios que regem a redistribuição de água sejam os mesmos em qualquer tipo de solo, a intensidade de cada um varia com o tipo de solo. Uma vez cessada a drenagem, o movimento de água no solo passa a ser governado pelo potencial matricial. Pode-se observar em qualquer situação que o fluxo e a velocidade de variação do teor de água decrescem com o tempo após cessada a infiltração. No momento em que a drenagem interna praticamente cessa, damos ao teor de umidade do solo o nome de capacidade de campo e, provavelmente, a melhor denominação deva ser limite superior de água disponível. É bom deixar claro que a capacidade de campo não é uma característica física do solo. A capacidade de campo está relacionada com o tempo e a composição textural. Outro conceito importante é o que denominamos de ponto de murcha permanente, conceito este que talvez seja melhor substituí-lo por limite inferior de água disponível. Pode-se considerar como sendo o conteúdo de água no solo adsorvida que uma planta não consegue retirar, ficando, portanto, sob estresse que conduz a morte da mesma, ou seja, atinge a murcha permanente. Normalmente, considerada como água retida a -1,5 MPa. O importante é conhecer a diferença entre os limites superior e inferior. Entre ambos os limites, temos o que denominamos de água disponível. O solo de textura mais fina tem capacidade maior de armazenar água. De uma maneira geral, o teor de argila é o fator que governa a adsorção de água, sendo argilas do tipo 2:1 as que apresentam maior retenção de água. Um aspecto importante, quando se pensa no uso do solo, é não utilizar os conceitos capacidade de campo e ponto de murcha isoladamente, mas sim a disponibilidade de água nos solos. A demanda de água pela cultura é ditada pelas condições climáticas até um determinado nível de água no solo, que denominamos de conteúdo crítico, a partir do qual a retirada de água é governada pelas condições físicas do solo. Daí a importância de se conhecer a disponibilidade de água no solo e não apenas a sua capacidade de retenção. É vasta a literatura mostrando que para a maioria das culturas esse ponto crítico de água no solo está em torno de 30-35% da água extraível, ou seja, até que a planta retire 65-70% da água extraível do solo não há limitações edáficas. Conclusivamente, o importante é conhecer a quantidade de água disponível, o que está relacionado com a textura, porosidade, tipo de argila e outras características físicas do solo. Como estas características também são usadas para caracterizar as diferentes classes de solos, logo, para cada classe, temos características físico-hídricas diferenciadas. 1.4 – Classes de solo e irrigação Nesta seção procurar-se-á analisar um pouco mais a respeito das classes apresentadas anteriormente, no que tange à prática de irrigação. Os Latossolos têm geralmente profundidades maiores de que todos os outros solos; estão nas posições mais estáveis da paisagem (relevo plano), enquanto os Litólicos, quase sempre associados aos afloramentos de rocha, ocupam posições muito instáveis (de relevo acidentado). Os solos com B textural constituem um grupo muito heterogêneo, mas com espessura, em geral, intermediária entre Latossolos e Cambissolos. Latossolos Os Latossolos ocorrem tipicamente nos chapadões, em relevo plano, e normalmente apresentam baixa fertilidade natural e excelentes condições para mecanização. Mesmo sendo muito argiloso (nos Latossolos o teor de argila varia muito pouco com a profundidade), podem apresentar uma grande permeabilidade, devido à estrutura granular muito pequena e muito bem expressa. Os Latossolos apresentam boa conformação mesmo sob relevo um pouco mais acidentado do que o comum (plano e suave ondulado). Esta conformação faz com que a água das chuvas escorra sob a forma de uma lâmina uniforme não localizada, o que é de grande importância para o armazenamento de água e resistência à erosão. A grande permeabilidade e profundidade aliada a esta boa conformação conferem ao solo uma alta taxa de infiltração e uma grande caixa de armazenamento de água. Tal fato explica o aproveitamento de água pelas raízes e grande profundidade proporcionando-lhe umidade suficiente durante praticamente todo ano. Estes solos podem ter mais de 80% de argila até o limite da classe textura franco- arenosa; as classes texturais areia e areia franca já passam a pertencer à classe dos Neossolos Quartzarênicos, nos quais a predominância quase total da fração areia implica em um sistema extremamente aberto e a capacidade de retenção de água, mesmo a altas tensões, é muito reduzida. O tipo especial no arranjo das partículas de argila nos Latossolos pode também influir a disponibilidade de água. Isto é, quando se trata de Latossolos, não há muita diferença de disponibilidade de água entre os solos quando se varia a textura, desde que a areia seja dominantemente mais fina. Isso ocorre porque o grau de desenvolvimento da estrutura dos Latossolos lhes confere alta porosidade e uma boa relação entre os macroporos, mais associados à drenagem e aeração do perfil e os microporos, responsáveis pela retenção da água no perfil e disponibilização às plantas, por capilaridade. Em alguns Latossolos mais argilosos, há um aumento no teor de argila e silte em profundidade, tornando o sistema mais fechado e aumentandoa sua capacidade de retenção de umidade. Noutros, a distribuição granulométrica (proporção de argila e areia fina, como por exemplo, 20% e 70%, respectivamente) leva a criar uma grande predisposição ao encrostamento quando sob uso, principalmente com culturas expositoras. A irrigação poderá agravar ainda mais esse processo. Cambissolos Ocorrem principalmente nas áreas mais acidentadas, associados geograficamente com os Litossolos. Por este aspecto, os Cambissolos tendem a apresentar maiores teores de silte, pouca espessura do “solum”, isto é, dos horizontes A e B, tendência ao encrostamento, portanto, constituindo-se num grande desafio no que se refere ao seu uso (Resende, 1985). Tudo isso em conjunto sugere que tais solos devem ser considerados como marginais para irrigação, até que se tenham maiores informações de pesquisa sobre o uso e manejo dos mesmos. Mesmo quando mais desenvolvidos, com características morfológicas semelhantes às dos Latossolos, os Cambissolos apresentam horizonte B incipiente pouco espesso (menor que 50 cm de espessura) e, assim, possuem baixa capacidade de retenção de água. Em regiões mais secas e em depósitos aluviais antigos, há ocorrência de Cambissolos em relevo plano, os quais já têm maior probabilidade de sucesso com culturas irrigadas. Mesmo aí, a baixa permeabilidade, os teores de silte elevados e a grande tendência ao encrostamento são dignos de registro. Neossolos Litólicos São rasos, possuindo, em geral, uma fina camada de material terroso sobre a rocha. Normalmente estão associados a muitos afloramentos de rocha. Os sistemas de solos Litólicos são, portanto, altamente instáveis, o que, em associação aos afloramentos de rocha, sugerem que, por ora, apenas os sistemas de irrigação por aspersão e localizada mereçam atenção. Solos com B Textural Ao contrário dos solos comentados até agora, os solos com B textural se caracterizam por uma grande diferença no teor de argila, que aumenta com a profundidade. O horizonte A é menos argiloso que o horizonte B. Isto quase sempre significa uma mudança (diminuição) na permeabilidade com a profundidade. De maneira geral, a simples ocorrência de horizonte B textural não apresenta restrição ao uso agrícola em sistemas irrigados. Contudo, o conjunto de solos B textural é tão heterogêneo que não se podem sintetizar facilmente alguns comentários relativos à irrigação. Há necessidade de subdivisões: Planossolos Esta subdivisão inclui solos que apresentam algumas evidências de drenagem deficiente. Os solos desta subdivisão podem ser ordenados de acordo com a saturação de sódio (Figura 1.9). Figura 1.9 - Esquema ilustrando o relacionamento dos Planossolos (Resende e Rezende, 1983). O aumento relativo do teor de sódio torna o solo um ambiente inóspito para a maioria das culturas. O Planossolo típico (Hidromórfico Cinzento) é apto para cultivo de arroz irrigado, podendo, com sistemas eficientes de drenagem, ser cultivados com milho, soja e pastagem. Nos Planossolos, que ocupam relevo mais plano e cotas baixas, deve ser considerado o risco eventual de inundações em épocas chuvosas (Klamt at al., 1985). Os Planossolos com horizonte A espesso e arenosos apresentam limitações para uso com lavouras irrigadas por inundação ou infiltração, devido ao maior consumo de água. Foi registrado no levantamento de reconhecimento dos solos do Rio Grande do Sul, representando aproximadamente 5% da área mapeada, o Brunizem Hidromórfico (Brasil, 1973), atualmente agrupados na classe dos Chernossolos (Embrapa, 2013) e que apresenta horizonte B Textural ou B incipiente. Apresenta o manejo difícil, devido à presença de argilo-minerais expansivos, mas o arroz irrigado apresenta alta produtividade quando cultivados nesses solos (Klamt et al., 1985). Solos Hidromórficos Ocupam, geralmente, as partes de depressão da paisagem. Em condições de lençol freático elevado, a irrigação por superfície deve ser preferida (Scaloppi, 1986). Segundo Finkel e Nir (1959), somente quando houver um sistema de drenagem subterrânea efetivo e um controle rigoroso do volume de água aplicada é que se justificaria a irrigação superficial. Há, no entanto, a presença de solos hidromórficos de surgente (formados nas cabeceiras das veredas-várzeas ou clareiras de vegetação rasteira, com palmáceas), apresentando inclusive declives acentuados. Os solos hidromórficos gleizados, de coloração cinza e esbranquiçada, possuem permeabilidade muito baixa. Ao longo dos canais de drenagem é comum a ocorrência de desbarrancamento, o qual é criado pelo desnível entre o fundo do canal e a superfície do terreno. Como o conjunto dos solos hidromórficos é bastante diversificado, comentar-se-á sobre alguns tipos, isoladamente ou em conjunto, enquanto que outros canais já foram enfocados dentro do conjunto de solos com B textural, com problemas de drenagem. a) Gleissolos São solos minerais, que apresentam um horizonte A espesso e escuro (antigo Glei Húmico), sobre horizonte geralmente gleizado. A textura é média (menos de 35% de argila e mais de 15% de areia, excluídas as classes texturais areia e areia franca) ou argilosa (35 a 60% de argila) a muito argilosa (> 60% de argila) em todos os horizontes, apresentando ausência de gradiente textural, o que os diferenciam dos Planossolos. Se um solo parecido aluvial (sucessão de camadas estratificadas) apresentar cores acinzentadas nos primeiros 60 cm de profundidade, ele é considerado como um Solo Hidromórfico. São solos aptos para cultivo com arroz irrigado. Se drenados, podem ser utilizados com pastagem, hortaliças, milho, feijão, cana-de-açúcar etc. Como sugestões básicas de manejo tem– se a drenagem artificial das partes mais alagadas e correção da fertilidade através de calagens e adubações conforme as recomendações baseadas na análise de solo, observados os aspectos econômicos. O Gleissolo Tiomórfico apresenta compostos de enxofre e mosqueados (comumente alaranjados) de jarosita. Após drenagem artificial e consequente oxidação torna-se bastante ácido, pH em H2O (1:1) < 3,5, o que o torna inapto a qualquer uso agrícola. Pode cheirar muito mal. b) Organossolos Diferem dos demais solos de várzea por apresentarem horizonte turfoso, contendo teor de carbono orgânico acima de {19 + 0,15x (% argila)}, por exemplo, se possui 60% de argila deve ter mais de 18% de carbono orgânico, maior que 50% nos primeiros 80 cm de profundidade. Esses são as “turfas”, que pegam fogo com facilidade. Esta classe abrange solos geralmente pobres (alguns podem ser ricos na camada mais superficial), ácidos e com elevada relação C/N. Tanto a espessura da camada de material orgânico e seu estágio de decomposição, como a composição química, mineralógica e a textura do substrato podem variar bastante. O grau de subsidência, o armazenamento da água, a densidade do solo e o espaço poroso, entre outros, são muito afetados pelo teor de fibras do material. São de grande ajuda na identificação desses solos: o aspecto orgânico e a sensação turfosa ao tato, além da sensação que eles apresentam de estarem flutuando na água (sensação de colchão d’água) quando se caminha sobre os mesmos (Klamt et al, 1985). Tais solos quando drenados e cultivados, estão sujeitos a mudanças significativas e contínuas nas suas características e propriedades. Em caso de substrato arenoso e raso, tiomorfismo (quantidades elevadas de sulfetos e/ou sulfatos), alta salinidade, teores muitíssimo elevados de carbono orgânico (> 38%), posição inadequada à drenagem por gravidade e locais de impacto sobre o ecossistema local, os solos orgânicos devem ser evitados para utilização para fins agrícolas (Simpósio..., 1984). Hortaliças apresentam um bom potencial para serem cultivados quando essessolos têm condições adequadas ao uso agrícola. Esses solos exigem muitos cuidados para seu uso e preservação. Os drenos devem ter talude inclinado para evitar o desbarrancamento. A drenagem não deve ser profunda, objetivando diminuir a taxa de subsidência (rebaixamento da superfície) e a desidratação irreversível da camada superficial. Por essa razão, seria conveniente a irrigação por superfície (Curi et al, 1988) ou por aspersão (Simpósio Nacional de Solos Orgânicos, 1984), observadas as viabilidades econômica e operacional. c) Plintossolo A presença do horizonte plíntico (horizonte contendo mosqueados vermelhos, amarelos, macios quando úmidos, mas que endurecem irreversivelmente quando secam, formando nódulos duros), dentro dos primeiros 40 cm, é tida como a principal característica diferencial deste solo (Embrapa, 1982). Apresenta restrições temporárias à percolação da água ou oscilação do lençol freático. Deve ser utilizado preferivelmente com arroz irrigado ou pastagens, devido à possibilidade de endurecimento irreversível da plintita quando esse solo sofre ressecamento no horizonte B, o que vai limitar a profundidade efetiva desses solos com relação ao desenvolvimento do sistema radicular (Klamt et al, 1985). Vale ressaltar que nem todo Plintossolo é hidromórfico. d) Vertissolos São solos com alto teor de argila 2:1 expansiva (argila do grupo das esmectitas), têm fertilidade alta, mas apresentam problemas relacionados com suas propriedades físicas (ressecamento e fendilhamento no período seco e expansão no período chuvoso). São indicados para pastagens e cultivos de arroz irrigado. Quando bem drenados, podem ser utilizados com outras culturas. Apenas parte da classe dos Vertissolos é hidromórfica. Solos Halomórficos Encontram-se em depressões onde possa ocorrer excesso de sais. Estes são trazidos das elevações circunvizinhas pela enxurrada, ou pelo lençol freático. Muitas vezes o local é rico em sais por causa de depósitos marinho. Nestas depressões, com excesso de água (pelo menos temporários) e de sais, são formados os solos Salinos. A drenagem deficiente, observada em áreas irrigadas, pode-se constituir no principal fator responsável pela salinização de solos originalmente não salinos (Scaloppi e Brito, 1986). Também o excesso de fertilizantes, corretivos, herbicidas e inseticidas pode contribuir para isto. A remoção dos sais solúveis, através de lixiviação utilizando-se água não salina, favorece a germinação de sementes e o desenvolvimento radicular, tornando os solos normais. A tolerância da cultura ao excesso de sais é também um fator crítico. Geralmente, as culturas de feijoeiro, rabanete, rosáceas, citros, morango e abacateiro são enquadradas como culturas sensíveis; a maioria dos cereais e das culturas olerícolas, figueira, videira, melão etc. como tolerantes; e cevada, beterraba açucareira, algodão, capim-rhodes, capim-bermuda, aspargo, espinafre etc. como plantas muito tolerantes. Neossolos Flúvicos Enquanto os solos hidromórficos tendem a estar associados com depressões, os aluviais encontram-se numa posição um pouco mais elevada (calha do rio) (Figura 1.10). Os solos aluviais são caracteristicamente muito variáveis a pequenas distâncias, tanto na horizontal quanto na vertical. A disposição de camadas (depositadas durante as inundações nas margens dos rios e lagoas – camadas estratificadas) de textura arenosa e textura mais fina pode ter muita influência no regime hídrico do solo. Neste aspecto, uma das melhores combinações ocorre quando a uma parte mais superficial, espessa e arenosa, seguem-se lâminas de textura mais fina. A água da chuva ou irrigação infiltra-se com facilidade, mas é impedida de deixar em grande parte, o sistema, pela baixa permeabilidade de um lado e baixa capilaridade de outro. Na maioria dos casos, a fertilidade natural, aliada ao relevo plano ou quase plano, em que se encontram os solos desta classe, praticamente não havendo problemas para o emprego de maquinaria agrícola, confere a estes solos condições adequadas para uma utilização agrícola intensiva com as mais diversas culturas anuais, destacando-se milho, feijão, arroz e algodão. Podem, no entanto, apresentar limitações quando à fertilidade e ao excesso de umidade, sendo que esta última limitação varia durante as diversas estações do ano. Nas partes mais úmidas, onde os riscos de inundação são mais frequentes, deve ser feita a drenagem. Também recomenda-se, quando for o caso, a correção da fertilidade através de calagens e adubações, tendo por base a análise de solo. Rotação de culturas e sistemas variados de preparo do solo (gradagem, plantio direto, lavração profunda, cultivo mínimo etc.) são importantes quando se tem em mente a manutenção das condições físicas satisfatórias desses solos. Figura 1.10 - Esquema mostrando uma várzea com os solos aluviais à calha do rio. Os solos hidromórficos se dispõem, com diferentes graus de hidromorfismo, em relação a uma depressão central onde estão os solos orgânicos (Resende e Rezende, 1983). Visando superar a elevada variabilidade segundo as características física, química, mineralógicas e morfológicas dos solos Neossolos Flúvicos, os sistemas de irrigação por aspersão convencional, localizada e subsuperficial parecem ser melhores alternativas (Scaloppi, 1986). Através de simples modificações operacionais, ou mesmo dimensionais, estes sistemas podem atender a eventuais variações de características de armazenamento e movimentação de água no perímetro irrigado, o que, sem sombra de dúvida, seria mais difícil de se conseguir nos sistemas por superfície, ou em alguns equipamentos mecanizados por aspersão, como o pivô central, o deslocamento linear e o autopropelido. 1.5. Classes de drenagem Nos levantamentos de solos, o arejamento é inferido a partir da classe de drenagem do solo (Figura 1.11), que é determinada por um critério de avaliação comparativa entre cada solo e um conjunto de oito padrões referenciais. Figura 1.11 - Classes de drenagem de solos brasileiros controlados pela altura do lençol freático, textura, natureza do substrato e declive (Resende, 1986). A descrição sumária desses padrões (Tabela 1.5) tende na prática a ser substituída por alguns referenciais (os exemplos), aferidos por um processo de comparação, principalmente visual. Este processo é chamado de correlação, nas Geociências. A atmosfera do solo é uma das características ambientais mais rebeldes à quantificação e os critérios de correlação mencionados são muito baseados na cor, em particular nas cores gleizadas, isto é, a cor cinza é indicadora, por este critério, de deficiência de oxigênio. Tabela 1.5 – Descrição das classes de drenagem e exemplos (Resende, 1986) Renovação Classe Exemplo Muito rápida, por excessiva permeabilidade, declives muito íngremes ou ambos. Excessivamente drenado Solos muito arenosos e Latossolos gibsíticos (“pó de café”) Rápida, em perfis permeáveis com pequena diferenciação. Fortemente drenado Latossolos de textura média Rápida em perfis permeáveis com pequena diferenciação Acentuadamente drenado Latossolos de textura argilosa a média Fácil, mas não rapidamente, tem mosqueado de redução, exceto a grandes profundidades Bem drenado Nitossolos, Argissolos, e Latossolos com baixos teores de ferro e cauliníticos. Lenta, perfil permanece molhado por pequena parte do tempo, camada de permeabilidade lenta e lençol freático no horizonte B, ou logo abaixo, e/ou remoção lateral interna Moderadamente drenado Argissolos e Cambissolos desenvolvidos de rochas peliticas. Lenta, perfil molhado por muito tempo,indício de gleização nas partes baixas Imperfeitamente drenado Vertissolos, Planossolo Lençol freático na superfície ou próximo a ela em boa parte do ano Mal drenado Gleissolos Lençol freático na superfície ou próximo a ela na maior parte do ano; estagnação de água Muito mal drenado Orgânicos, Glei Húmico (alguns), Glei Tiomórfico A cor cinza ou esbranquiçada (croma baixo), no entanto, é dada pela ausência de ferro oxidado, Fé+++, podendo ou não existir ferro reduzido, Fé++, e como o nível de lençol freático mudou muito no Brasil, em geral tendendo a baixar, é muito comum a existência de solos de cores gleizadas na paisagem, mas não mais sujeitos a lençol freático elevado, evidenciando uma paleodrenagem mais restrita. Mesmo considerando esse aspecto, é facilmente constatado na paisagem brasileira que os solos ricos em ferro dificilmente têm cores cinzentas, isto é, suas cores são mais vivas do que aquelas dos mais pobres em ferro, quando situados nas mesmas condições em termos de lençol freático. Assim, os solos dos terraços da Zona da Mata de Minas Gerais, de cores vivas e até um pouco avermelhadas, pelos relativamente altos teores de ferro que possuem, apresentam considerável deficiência de oxigênio na época chuvosa, prejudicando algumas culturas, como o feijoeiro, até mesmo sendo um ambiente não muito favorável às culturas mais sensíveis, como o abacateiro. A redução dos compostos de manganês, evidenciada pela formação de películas escuras, que efervescem com água oxigenada, indica que houve um ambiente com acentuada deficiência de oxigênio que não se reflete nas cores vivas. 1.6. Classificação de Solos para Irrigação No Sistema Brasileiro de Classificação de Solos, embora as informações permitam, além da classificação, a caracterização para uso e manejo dos solos em todo o território nacional, a maneira complexa e não interativa como o sistema se apresenta o torna pouco amigável para essa finalidade. Sendo assim, frequentemente essas informações não são consideradas ou interpretadas da maneira correta para o uso e manejo sustentável do solo nos sistemas de produção agrícola. Além disso, nesses sistemas de produção, é necessário levar em conta variáveis sobre características das culturas, das tecnologias e até mesmo do perfil do produtor, que não são objeto do SiBCS. Dessa forma, os manuais de interpretações técnicas complementam o SiBCS e proporcionam a interpretação mais prática das suas informações. O Sistema Brasileiro de Classificação de Terras para Irrigação (SiBCTI), com enfoque na região semiárida brasileira (Embrapa, 2011), trata-se de uma metodologia que associa o SiBCS a aspectos como a localização da propriedade em relação aos centros de comercialização, tamanho dos lotes e benfeitorias, características das culturas, do abastecimento e da qualidade da água na propriedade e características dos sistemas de irrigação. O objetivo do SiBCTI é, a partir de informações sistematizadas em um programa de computador, classificar a aptidão agrícola do solo em uma propriedade para a implantação de sistemas irrigados de produção, proporcionando ao usuário um leque de alternativas para a tomada de decisão a respeito de culturas e sistemas de irrigação a serem implantados. A base conceitual do SiBCTI é o método BUREC (Estados Unidos, 1953), em que a classe de solo para irrigação é determinada por uma relação complexa de parâmetros relativos a diferentes níveis de deficiência do solo quanto à drenagem e permeabilidade, topografia e necessidade de sistematização, aptidão agrícola, uso e manejo do solo, condutividade hidráulica. Contudo, a experiência acumulada no Brasil, principalmente acerca dos solos e sistemas de irrigação da região semiárida, possibilitou o aperfeiçoamento do método BUREC, com eliminação de informações desnecessárias, ponderação de parâmetros considerados redundantes e estabelecimento de novos enfoques para a relação custo/benefício potencial da área analisada. Sendo assim, o SiBCTI sintetiza as Classes de Terras para Irrigação conforme o parâmetro mais limitante ligado ao solo ou à qualidade e o custo de captação da água de irrigação para cada classe (Tabela 1.6). Em suma, a classificação das terras para irrigação proposta no SiBCTI não prescinde do SiBCS. Ao contrário, a precisão do método é tanto maior quanto mais aprofundado for a caracterização do solo e das unidades de mapeamento nos níveis categóricos do SiBCS. Sendo assim, é desejável utilizar informações de levantamentos pedológicos detalhados ou ultradetalhados (de alta intensidade e com escala grande, discutidos no item 1.7 desse capítulo), a fim de determinar os parâmetros de solos exigidos no SiBCTI. O sistema foi formulado de maneira similar à classificação por árvore de decisão, com regras e parâmetros pré-estabelecidos por critérios especialistas para cada classe de terra, ou seja, regras construídas pelo conhecimento relativo à terra (solo e ambiente) e à água, que permite a entrada ou seleção de dados para cada atributo do sistema. Em suma, o sistema define para cada situação específica (solo x sistema de irrigação x cultura vegetal e qualidade e custo da água), um intervalo de produtividade esperada, baseado em informações de campo, complementados ou não com bibliografia (Embrapa, 2011). Tabela 1.6. Simbologia referente aos parâmetros relacionados ao solo e à qualidade e custo de captação da água para irrigação no SiBCTI (Embrapa, 2011) Parâmetros ligados ao solo Z – profundidade (cm) K – Condutividade elétrica (cm h-1) V – Textura (g dag-1) I – Velocidade de infiltração básica (cm h-1) C – Capacidade de água disponível (mm) W – Profundidade da zona de redução (cm) Y – Ca + Mg (cmolc dm-3) A – Mineralogia da argila T – CTC Total (cmolc dm-3) D – Espaçamento entre drenos (m) M – Alumínio trocável (cmolc dm-3) G – Declividade do terreno (%) H – pH em água P – Pedregosidade S – Saturação por sódio trocável (%) R – Rochosidade E – Condutividade elétrica no extrato saturado (dS m-1) B – Posição na paisagem, zona abaciada. Parâmetros ligados à qualidade e custo de captação da água de irrigação e – Condutividade elétrica (dS m-1) b – Concentração de boro (mg L-1) s – Relação de absorção de sódio, RAS (mmolc1/2 L-1/2) d – distância de captação da água (km) c – Concentração de cloreto (mg L-1) h – Diferença de cota da captação f – Concentração de ferro (mg L-1) 1.6.1. Parâmetros do SiBCTI relacionados ao solo Profundidade do Solo (Z): é a espessura que o perfil apresenta sem impedimento à livre penetração do sistema radicular, ou seja, sem barreira física como rocha consolidada, duripã, fragipã, horizontes litoplíntico, plânico, plíntico ou elevado lençol freático. É determinada em centímetros e considera duas situações: profundidade até a camada semipermeável (permeabilidade limitada, mas existente) e profundidade até a camada impermeável (rocha consolidada, por exemplo). Esse parâmetro influencia tanto na propensão da terra à salinização pela altura do lençol freático, quanto no manejo mecanizado do solo, quando a camada permeável se encontra a menos de 100 cm de profundidade. Textura (V): diz respeito ao grupamento textural, conforme descrito no SiBCS. Considerando-se apenas esse parâmetro, solos com textura média-arenosa ou mais grosseira (franco-arenosa e arenosa) são considerados de melhor resposta econômica em sistemas irrigados que aqueles de textura mais fina e com mineralogia de argilas 2:1, como os Vertissolos. Capacidade de água disponível (C): é o teor de água do solo compreendido entre a capacidade de campo (CC) e o ponto de murcha permanente (PMP). É o conteúdo de água que o solo pode reter em seu perfil após cessadaa drenagem natural e que está disponível às plantas. eq. 1.3 Em que: C = Camada ou Capacidade ou Lâmina de Água Disponível para a camada Z; CC = Teor de água na Capacidade de Campo ou Umidade Equivalente, dependendo da textura do solo; PMP = Teor de água no Ponto de Murcha Permanente; D = Densidade do Solo; Z = Camada considerada (20, 60 ou 120 cm) Ca + Mg (Y): Embora sejam macronutrientes muito importantes e requeridos em grandes quantidades pelas culturas, as tecnologias modernas de correção e fertilização do solo reduziram o peso desse parâmetro no sistema, mas as informações ainda são requeridas, para as camadas 0-20, 20-60 e 60-120 cm. Valor T (T): Refere-se à capacidade de troca de cátions, conforme descrita no SiBCS e também perdeu importância no sistema em função da facilidade de correção por meio de fertilização do solo. Alumínio Trocável (M): parâmetro descrito conforme SiBCS, considerado pouco restritivo em função da fácil correção por calagem e gessagem. pH do Solo medido em água (H): caracteriza a acidez ou alcalinidade do solo, sendo considerado ideal para a maioria das culturas na faixa de 5,0 a 7,0 e sua correção é fácil apenas quando está na faixa de acidez moderada a neutro. Em solos com problema de alcalinidade ou excesso de sódio o problema é de difícil solução, comprometendo tanto a qualidade do solo quanto a produtividade da cultura. Saturação por Sódio Trocável (S): expressa em porcentagem de sódio trocável (100 Na T-1), indica a presença de solos salinosódicos ou sódicos e tem elevado custo de recuperação, podendo tornar a terra inapta ao uso agrícola em função da severidade do problema, frente às tecnologias atuais de manejo. As culturas apresentam sensibilidade variável à concentração do sódio na solução do solo, sendo consideras sensíveis aquelas com intolerância a teores menores de 15 %, como o milho e o feijão e semitolerantes aquelas que suportam teores de 15 a 40 %, como a cana-de-açúcar. Condutividade Elétrica (E): é uma medida indireta da salinidade do meio, relacionada aos constituintes iônicos totais na solução. Complementada pela saturação por sódio trocável e o pH do solo, fornece informação sobre a salinidade ou sodicidade, bem como situações transicionais. A salinidade é considerada negligenciável a valores de E entre 0 e 2,0 dS m-1 (a 25 0C), enquanto somente poucas culturas, muito tolerantes, produzem satisfatoriamente em solos com E maior que 16 dS m-1 (a 25 0C). A maioria das culturas agrícolas tem sua produtividade afetada em algum nível com valores de E entre 2,0 e 8,0 dS m-1 (a 25 0C). Condutividade Hidráulica (K): é o volume de água que atravessa por unidade de tempo uma determinada área do solo, impulsionada por uma diferença de potencial. Dá ideia da facilidade com que a água é transportada no perfil do solo. É função de propriedades como distribuição, tamanho e forma dos constituintes sólidos do solo, tortuosidade, tamanho e distribuição dos poros. É definida como muito lenta quando menor que 0,4 cm h-1, lenta (entre 0,4 e 2,0 cm h-1), moderada (entre 2,0 e 8,0 cm h-1), rápida (entre 8,0 e 12 cm h-1) ou muito rápida, quando maior que 12 cm h-1. Velocidade de infiltração (I): é uma determinação complementar à condutividade hidráulica, constituindo na aferição da velocidade de entrada da água no solo, sendo fundamental para a escolha do método de irrigação a ser empregado. Para sistemas irrigados por aspersão, por exemplo, os valores menos limitantes de velocidade básica de infiltração (VIB) na classe 01 do SiBCTI ficaram entre 1,2 e 20 cm h-1 para as culturas da cebola e do melão (Embrapa, 2011). Profundidade da zona radicular (W): compreende a superfície superior de uma zona de saturação, ou seja, representa a variação da altura do lençol freático e tem grande efeito sobre o desenvolvimento do sistema radicular das culturas. Assim, quanto mais próxima à superfície do solo, mais prejudicial ao sistema de produção. Mineralogia da argila (A): fornece informações para o entendimento do comportamento físico do solo e, consequentemente, sobre a condutividade hidráulica, drenagem, adaptação a diferentes tipos de sistemas de irrigação, manejo da fertilidade e desenvolvimento das culturas. Espaçamento entre drenos (D): é relacionada à necessidade de implementação de obras de drenagem subterrânea e afeta diretamente a economicidade do sistema. Quanto menor a condutividade hidráulica de um solo, menor o espaçamento entre drenos e maior o custo do sistema. Declividade (G): relacionado ao gradiente de inclinação do terreno, esse parâmetro influencia, principalmente, os sistemas de irrigação por superfície, podendo afetar tanto a distribuição da lâmina d’água aplicada, quanto provocar a erosão do solo. Incide diretamente sobre os custos do sistema e pode tornar inviável o uso da terra para a produção irrigada. Pedregosidade (P): afeta tanto o volume útil explorado pelo sistema radicular das culturas, quanto a uniformidade da lâmina d’água, podendo ainda tornar inviável o preparo do solo. Rochosidade (R): é um parâmetro de efeitos mais severos que a pedregosidade, que interfere fortemente no uso de implementos agrícolas e irrigação por superfície. Contudo, é contornável, dependo da intensidade e profundidade no solo. Posição na paisagem (B): refere-se, principalmente às restrições de terrenos em áreas abaciadas e depressões, onde não existe a possibilidade de drenagem natural para eliminação do excesso de sais. Essas áreas apresentam elevado risco de salinização em sistemas irrigados, sendo esse um parâmetro restritivo para enquadramento em outras classes do sistema, que não a classe 6. Da mesma forma dos parâmetros relacionados ao solo, descritos acima, o SiBCTI (Embrapa, 2011) apresenta, detalhadamente, os parâmetros do sistema relacionados à qualidade e custo de captação da água para irrigação resumidos na Tabela 1.3, bem como informações a respeito de diversas culturas perenes e anuais para subsidiar o usuário. É o conjunto de inter-relações entre esses parâmetros que determina a classificação das terras para irrigação, segundo a conceituação de cada classe. 1.6.2. Classes do SiBCTI (Embrapa, 2011) Classe 1: terra que, explorada em alto nível tecnológico, para determinada cultura, em determinado sistema de irrigação, apresenta a mais alta produtividade sustentável e baixo custo de produção. Situação referência. Classe 2: terra que, explorada em alto nível tecnológico, para determinada cultura, em determinado sistema de irrigação, apresenta um ou mais fatores que afetam os custos de desenvolvimento e/ou produção sustentável, de tal modo que a produtividade média corresponda aproximadamente a 90 % da situação de referência. Classe 3: terra que, explorada em alto nível tecnológico, para determinada cultura, em determinado sistema de irrigação, apresenta um ou mais fatores que afetam os custos de desenvolvimento e/ou produção sustentável, de tal modo que a produtividade média corresponda aproximadamente a 75 % da situação de referência. Classe 4: terra que, explorada em alto nível tecnológico, para determinada cultura, em determinado sistema de irrigação, apresenta um ou mais fatores que afetam os custos de desenvolvimento e/ou produção sustentável, de tal modo que a produtividade média corresponda aproximadamente a 50 % da situação de referência. Classe 5: terra que, explorada em alto nível tecnológico, para determinada cultura, em determinado sistema de irrigação, apresenta um ou mais fatores que afetam os custos de desenvolvimento e/ou produção sustentável, de tal modo que a produtividade média corresponda aproximadamente a 25 % da situação de referência. São terras que
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