Buscar

ANaLISE DA FOME MUNDIAL POR MEIO DO ENSINO DA GEOGRAFIA

Prévia do material em texto

ANÁLISE DA FOME MUNDIAL POR MEIO DO ENSINO DA GEOGRAFIA: 
UM CAMINHO POSSÍVEL PARA O DESPERTAR 
DA ATITUDE POLÍTICA 
 
 Maria de Lourdes Lepre Oliveira
1
 
 Victor da Assunção Borsato
2
 
 
 
Resumo 
 
Este artigo é uma síntese dos resultados práticos e teóricos vivenciados na 
implementação da Proposta de Intervenção Pedagógica do Programa de 
Desenvolvimento Educacional – PDE, da Secretaria de Estado da Educação do 
Paraná. O principal objetivo foi o de trabalhar algumas reflexões sobre as 
necessidades de subsidiar os alunos da escola Estadual 29 de Novembro Ensino 
Fundamental do município de Araruna/PR, com conhecimentos sistematizados e 
pautados na concepção Histórico-Crítica. A proposta trabalhou o tema “Fome 
Mundial” como forma de permitir ao educando um embasamento teórico que lhes 
permitam compreender as desigualdades do espaço como resultantes da ação 
política do homem. A mesma foi aplicada diretamente para os alunos das 8ªs 
séries e estes aplicaram para os das 5ªs séries. Os resultados mostraram 
avanços importantes, principalmente nos conhecimentos pré e pós a aplicação do 
projeto. Espera-se que os resultados resultem na concretização de atitudes 
políticas e um posicionamento efetivo de todos para uma sociedade mais 
igualitária. 
 
Palavras-chave: Ensino de Geografia. Conhecimento Científico. Fome Mundial. 
Atitude política. 
 
Abstract 
 
This article is a synthesis of the practical and theoretical results lived in the 
implementation of the Intervention Pedagogical Proposal of the Development 
Educational Program - PDE, from General Office Education of Paraná. The main 
objective was to work some reflections about the needs of subsidizing the students 
 
1
 Professora integrante do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), licenciada em Geografia, 
educadora do Ensino Fundamental da rede pública do Estado do Paraná lotada no município de Araruna – 
lumll@hotmail.com 
2
 Professor Doutor, Departamento de Geografia da FECILCAM (Faculdade de Ciências e Letras de Campo 
Mourão) – victorborsato@yahoo.com.br 
 
os “29 November School” from Araruna, state of Paraná, with systematized 
knowledge and ruled in the historical-critical conception. The proposal worked the 
theme “World Hunger” , as a form of allowing to the student a theoretical 
basement that allow them to understand the inequalities of the space as resultants 
of the man´s political action. The proposal was apllied directly for the students os 
the 8th Grade and these applied for the ones of the 5th. The results showed 
important progress, mainly in the knowledge pre and post the application of the 
project. It is expected that the results would result in the implementation of political 
attitudes and effective placement of all for a more egalitarian society. 
 
 
Key Words: Ensino de Geografia. Conhecimento Científico. Fome Mundial. Atitude 
política. 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
 O presente artigo é composto de recortes das experiências vivenciadas na 
execução do Projeto de Intervenção Pedagógica, aplicado no período de fevereiro 
a julho de 2009 na Escola Estadual 29 de Novembro – Ensino Fundamental. 
 Para não perder a especificidade da disciplina de Geografia optou-se 
desvendar, por meio do conhecimento científico, as reais causas e as principais 
consequências da fome no mundo, isso por considerá-la a pior forma de 
desigualdade cristalizada no espaço geográfico. Também, mostrar por meio da 
prática pedagógica que as causas se devem mais às questões humanas do que 
às causas naturais. Portanto, o estudo da fome no mundo oportuniza ao 
estudante perceber-se agente das transformações, sabedor de que as 
desigualdades tendem a se agravar ante a alienação e despolitização da grande 
massa da população, a qual advém da manipulação e inculcação da ideologia 
dominante. 
 Assim, desvendar a fome e suas reais causas pode ser uma forma de 
subsidiar o alunado para atitudes políticas mais conscientes. É oferecer a eles 
 
condições de enxergar além das aparências, de compreender que o espaço 
geográfico é o resultado do processo histórico, produto das ações humanas ao 
longo do tempo. Ações essas que na maioria das vezes atende aos interesses de 
uma minoria que detêm o poder econômico e, por extensão o poder político, e 
que, recebendo suas benécies, não têm interesses em mudanças. 
O processo de intervenção pedagógica na escola envolveu a Direção, os 
professores de Geografia e os alunos das 5ªs e 8ªs séries do período diurno. A 
Direção efetivou sua participação concedendo momentos para a divulgação do 
respectivo projeto junto a comunidade escolar, agendando horários para o uso do 
Laboratório de Informática e da Biblioteca, bem como, acompanhando e avaliando 
o cumprimento de todas as ações previstas. 
Os professores de Geografia da Escola contribuíram participando da 
avaliação da Unidade Didática a ser trabalhada na implementação do projeto, 
bem como fazendo inclusive a opção de incluir o tema “Fome Mundial” no Plano 
de Trabalho Docente de todas as 8ªs séries da escola. 
Os alunos das 8ªs séries foram os selecionados para efetuarem um estudo 
minucioso sobre o tema, e a partir daí, ministrarem mini-aulas para os alunos das 
5ªs séries, objetivando contribuir com a superação do conhecimento empírico e 
compreensão de que se constituem em agentes de transformação social. 
A grande maioria dos alunos diretamente envolvidos demonstraram 
superar o conhecimento do senso comum e evoluir para um conhecimento mais 
elaborado, possível de ser utilizado com mais consciência no espaço geográfico 
de vivência. Evidenciaram saber quão importante é a atitude de cada cidadão na 
efetivação de uma sociedade mais igualitária. 
 
 
 
 
 
 
O ENSINO DA GEOGRAFIA E SUA IMPORTÂNCIA SOCIAL PARA O 
INDIVÍDUO 
 
 A educação no atual contexto social tem muito a contribuir para impulsionar 
a tendência de transformação da realidade social vivida pelos homens e de 
aprimoramento da qualidade de vida de cada indivíduo (VIEIRA, 2004). 
Os professores de Geografia, na sua grande maioria estão empenhados 
em promover e adotar estratégias de ensino que permitam ao aluno perceber a 
necessidade do conhecimento científico para a compreensão e intervenção na 
realidade. Quando isso ocorre, a aprendizagem realmente se efetiva. Não basta o 
professor mostrar ao aluno apenas a realidade materializada. É necessário 
promover espaço de informação, discussão e reflexão que possa subsidiar esses 
indivíduos para tomada de decisões mais conscientes sobre a realidade que os 
cerca. 
 Kaercher (2001) ressalta que conscientizar implica num desafio: se 
desvelamos a realidade, esta deixa de ser um “beco sem saída” e passa a tomar 
o seu verdadeiro aspecto – um desafio que os homens devem responder. 
Entende-se que é preciso um ensino de Geografia que forneça bases sólidas e 
reais, ou seja, conhecimento científico historicamente produzido. Demo (2002) 
salienta que o conhecimento talvez seja a invenção mais potente do ser humano, 
porque é sua ferramenta de intervenção tanto na natureza como na sociedade. 
O conhecimento geográfico deve se constituir uma arma de combate a 
qualquer situação que se faça contraditória. Nesse particular é importante 
ressaltarmos por meio do conhecimento as razões históricas da fome mundial, 
suas causas e conseqüências na própria comunidade (Santos, 1978). Pois assim, 
acredita-se que o indivíduo será capaz de compreender a problemática que 
envolve a desigualdade social e nela intervir. 
 O ensino da Geografia não deve se limitar a tratar o espaço geográficocomo se ele fosse um espaço acabado, apenas um depósito, reflexo das ações 
humanas. Kaercher (2001), nessa mesma linha de análise, posiciona-se contra a 
 
apatia, o conformismo e a linearidade de estudos que são incapazes de buscar as 
causas sociais que geram os espaços desiguais, sem dúvida, que habitamos. 
 Coaduna-se com essas reflexões Castro (1968, p. 77), quando diz que é 
preciso antes de tudo trabalhar para extirpar do pensamento político 
contemporâneo esta ideia errônea da economia considerada como um jogo em 
que alguns devem sempre perder para permitir a outros sempre ganhar. 
 Neste contexto, é preciso que a escola, o ensino da Geografia sejam 
mediadores das transformações da sociedade. Elas podem exercer essa função a 
partir do momento em que consigam instrumentalizar os seus alunos para a luta 
contra a exploração pelo capital. É o domínio do conhecimento, do saber 
sistematizado que dará essa condição aos alunos provenientes das classes 
trabalhadoras. 
 Na interpretação de Oliveira (1996 p. 63), a relação do homem com sua 
realidade social não são imediatas, mas mediatizadas pela apropriação do 
conhecimento científico. Por outro lado, Kaercher (1997) afirma que conscientizar 
é tomar posse da realidade. Ler o mundo de modo plural, aberto e em movimento. 
Afirma ainda que se a escola for um espaço de diálogo e de questionamento 
estaremos deixando boas sementes para que essas qualidades – diálogo e 
questionamento, - se enraízem pelas demais instituições da sociedade. 
 De acordo com as Diretrizes Curriculares de Geografia da Secretaria de 
Estado da Educação do Paraná, o ensino da Geografia na Educação Básica deve 
contribuir com a formação de um cidadão capaz de compreender o espaço 
geográfico, nas mais diversas escalas, e atuar de maneira crítica na produção 
socioespacial do seu lugar, território, região, enfim, de seu espaço. Para isso, não 
se deve simplesmente apresentar o conteúdo que será trabalhado, é necessário 
que o professor faça uma problematização inicial de forma a mobilizar o aluno 
para o conhecimento. 
(...) Outro pressuposto metodológico para a construção do conhecimento 
em sala de aula é a contextualização do conteúdo. Na perspectiva 
teórica destas Diretrizes, contextualizar o conteúdo é mais do que 
relacioná-lo à realidade vivida do aluno, é, principalmente, situá-lo 
historicamente e nas relações políticas, sociais, econômicas, culturais, 
 
em manifestações espaciais concretas, nas diversas escalas 
geográficas. (DCEs GEOGRAFIA/PR, 2008). 
Kaercher (1997) também destaca a importância política do ensino da Geografia: 
“creio que a geografia pode ser um instrumento valioso para elevarmos a 
criticidade de nossos alunos. Por tratar de assuntos intrinsicamente 
polêmicos e políticos, a Geografia pode gerar um sem número de 
situações – limite, quebrando-se assim a tendência secular de nossas 
escolas como algo tedioso e desligado do cotidiano”. 
 
 A prática pedagógica tem um papel fundamental na formação do indivíduo. 
Ressalta Vieira (2004) que: 
“o principal da educação dentro do processo de formação do indivíduo é 
levá-lo a compreender que sua existência como ser humano vai além de 
sua existência empírica, ou seja, levá-lo a se apropriar do conhecimento 
sistematizado como forma de lhe garantir bases sólidas de pensamento 
para a compreensão crítica de sua realidade”. 
 
 
 Assim, o conhecimento científico além de permitir ao educando uma leitura 
crítica do espaço, pode ainda contribuir para que ele trace estratégias e adote 
posturas capazes de nele interferir de forma significativa, colaborando para uma 
sociedade com menos desigualdade social. 
 
A DESPOLITIZAÇÃO DA COMUNIDADE LOCAL 
 
 Na comunidade onde está situada a Escola Estadual 29 de Novembro – 
Ensino Fundamental, grande parcela da população se caracteriza pela 
passividade, submissão, manipulação e alienação, por isso são facilmente 
manipulados pela classe dominante, principalmente aqueles que sofrem as 
consequências nefastas de uma sociedade excludente. Entre estes, apesar das 
dificuldades enfrentadas como baixo salário, extensas jornadas de trabalho, falta 
de moradia, falta de atendimento médico e uma alimentação de qualidade, muitos 
 
agem de maneira bastante submissa e apolítica. Não se organizam, não lutam, se 
permitem “cabrestos3”, são manipulados por uma minoria que detém o poder 
político e econômico. Quando questionados sobre os problemas enfrentados, é 
comum afirmarem que “nada muda”, que “devem ainda agradecer pelo pouco que 
recebem”, que “devem dar graças a Deus pelo trabalho que têm”, “ que ocorre a 
fome no mundo por não ter alimento suficiente para todos”, que “devem aproveitar 
a época de eleições para receber cestas básicas, tijolos, entre outros”. 
Essas considerações são resultados das experiências que se vive no 
cotidiano da comunidade escolar. Esse modo de vida pode ser percebido no 
contato com os alunos, com seus familiares por ocasião da entrega de boletins 
escolares e nas reuniões para assuntos relacionados às atividades pedagógicas. 
 
A PROPOSTA DE INTERVENÇÃO 
 
 A Secretaria de Estado da Educação do Paraná (SEED-PR) iniciou em 
2007 um programa de Capacitação Continuada (PDE), onde os professores do 
Nível II, Classe 11, estão aptos a concorrer a uma vaga para o aprimoramento 
dos conhecimentos. Ao ingressar no programa retomam os contatos com as 
Universidades, cujo objetivo principal é o de renovar e ampliar os conhecimentos 
científicos da disciplina específica de atuação e também pedagógicos, bem como 
produzir novos conhecimentos sobre o processo ensino aprendizagem. 
 Em 2008, na continuidade do programa, foi classificada a segunda turma. 
Assim como na primeira, cada professor, em sua disciplina, frequentou os cursos 
e os debates promovidos nas Universidades paranaenses onde se debateram 
importantes temas concernentes ao conhecimento específico das diversas áreas 
do conhecimento. 
 Ao ingressar no programa PDE-PR, cada professor assumiu o 
compromisso com a SEED/PR de participar efetivamente de toda a programação 
oferecida, tutoria do Grupo de Trabalho em Rede, produção de material didático, 
implementação da proposta de intervenção na escola de atuação, sob a 
 
3
 Algo que reprime,controla, subjuga. 
 
orientação de um professor de uma Instituição de Ensino Superior (IES), além da 
produção de um artigo científico. 
 A motivação para a participação no programa, foi a oportunidade de 
estudar, debater questões relevantes para a educação paranaense e 
principalmente produzir conhecimento o qual pudesse contribuir de forma 
significativa para a melhoria da qualidade de ensino na Escola Estadual 29 de 
Novembro – Ensino Fundamental do município de Araruna – Paraná. Escola em 
que a autora é professora efetiva da disciplina de Geografia. 
 A experiência vivenciada em sala de aula, permitiu a constatação de um 
sério problema enfrentado pelos alunos: um conformismo e uma apatia ante a 
realidade social vivida por eles. Por isso, pensou-se em abordar a alienação, a 
falta de atitude política das pessoas e suas repercussões no espaço geográfico, e 
com isso, demonstrar que a situação socioeconômica da grande maioria da 
população nada mais é do que o resultado das ações humanas. E também que, 
para reverter o processo das desigualdades, seria necessário subsidiar os 
indivíduos para uma percepção e leitura menos ingênua do espaço geográfico 
produzido e organizado a partir da classe mais privilegiada. Para fazer essa 
abordagem sem perder a especificidade da geografia, foi decidido propiciar aos 
alunos um estudo aprofundadosobre a fome no mundo, uma das piores formas 
de desigualdade. Assim, o tema “Fome Mundial” foi o escolhido para se trabalhar 
com os alunos do Ensino Fundamental. Ao longo da carreira profissional verificou-
se que a maioria dos alunos dessa escola são provenientes da classe menos 
favorecida, por isso o nível de conhecimento dos pais e familiares é muito baixo. 
Esse baixo grau de escolaridade gera na grande maioria da população um grande 
conformismo. Diante dessa realidade se estabeleceu o principal objetivo, o qual 
foi o de permitir ao aluno, por meio de um conhecimento sistematizado amplo e 
reflexivo sobre a “fome mundial” desvendar as máscaras sociais e as 
contraditórias relações de classe, bem como subsidiá-los para atitudes mais 
críticas e políticas no espaço de vivência, a comunidade da Escola Estadual 29 de 
Novembro – Ensino Fundamental do município de Araruna – Paraná. 
 Para a execução das ações previstas no programa elaborou-se o projeto 
de intervenção pedagógica “A Análise da Fome Mundial por meio do Ensino da 
 
Geografia: um caminho possível para o despertar da atitude política local”. O 
mesmo foi disponibilizado na plataforma moodle4 na site 
http://www.pde.pr.gov.br/modules/noticias/, onde os professores da SEED-Paraná 
através de inscrição prévia e posterior certificação, puderam participar. 
A socialização dos estudos e reflexões obtidos com a participação dos 
professores foi um momento muito importante. As informações e sugestões 
disponibilizadas pelo grupo se constituíram no ponto de partida para que a 
implementação da proposta se efetivasse e de forma satisfatória. 
 O projeto também previu que a Unidade Didática fosse disponibilizada e 
discutida em grupo, pelos professores da SEED-PR através de Grupo de 
Trabalho em Rede pelo sistema moodle. A análise da Unidade Didática pelos 
professores de Geografia da Escola e pelos professores do Grupo de Trabalho 
em Rede do SEED-PR (para verificação da adequação idade/série, atendimento 
às DCEs/PR e relevância para a comunidade local) possibilitou um respaldo 
importante para a aplicação do projeto. Foi o momento em que além dos 
conteúdos específicos da disciplina de Geografia, também foram analisados a 
linguagem, as ilustrações e a metodologia Histórico Crítica utilizada, que como 
proposta teórica, analisa o espaço geográfico a partir de suas contradições, 
buscando respostas na história, reportando a outros tempos e espaços para 
responder aos problemas vivenciados na atualidade. 
As contradições postas no espaço geográfico foram analisadas 
dialeticamente, com o objetivo de “desmascarar” e elucidar os diversos fatores e 
atores sociais da organização espacial, e assim, permitir aos alunos serem eles 
protagonistas de sua própria história. 
Como os manuais didáticos utilizados nas escolas do Ensino Fundamental 
não incluem em seu rol de conteúdos, um estudo aprofundado sobre a fome 
mundial, o primeiro encaminhamento para a implementação do projeto foi, com o 
aval dos professores de geografia da escola, a inclusão no Plano de trabalho 
Docente para os anos 2008/2009. O Texto incluído para se trabalhar com as 8ªs 
 
4
 Moodle é um sistema de administração de atividades educacionais destinado à criação de 
comunidades on-line, em ambientes virtuais voltados para a aprendizagem - MOODLE. 
Sítio, 2005. Disponível em http://moodle.org. 
 
séries, foi o da Unidade Didática “A Fome Mundial” produzido especialmente para 
esta unidade. 
Como foi consenso entre os professores da disciplina de Geografia da 
Escola Estadual 29 de Novembro – Ensino Fundamental, todos os alunos das 8ªs 
séries iniciariam o ano letivo de 2009 fazendo um estudo detalhado sobre a Fome 
Mundial. Paralelamente, em contra turno, os alunos da série se reuniriam para 
debater e aprofundar os conhecimentos relativos ao tema. O objetivo principal foi 
cumprir a tarefa de se produzir um material didático para posteriormente ser 
utilizado por eles próprios, como recurso para ministrarem mini-aulas para as 5ªs 
séries da mesma escola e organizarem a exposição de cartazes para os demais 
alunos e comunidade escolar. 
Essa etapa foi a que demandou mais tempo, cerca de um trimestre, uma 
vez que compreenderam ações como a problematização do tema, leituras, 
análise dos textos lidos, debates e a realização das atividades inseridas no 
decorrer de toda a Unidade Didática. 
 Na seqüência apresentam-se os questionamentos e as atividades 
propostas na Unidade Didática os quais objetivaram a superação do senso 
comum e a evolução para um conhecimento sistematizado e consciente: 
1 – Como pode nosso semelhante chegar nessa situação? Morrer de fome é a 
maior crueldade por que pode passar um ser humano. Mas então, por que isso 
acontece? Se existe alimento suficiente, por que existe a fome? Quais serão as 
causas? 
2 – Como pode um ser humano não suprir uma necessidade tão básica para sua 
subsistência? Como é possível a esse ser, viver como um animal a revirar o lixo 
para encontrar comida? Será este um problema recente do mundo globalizado? 
Ou a fome já acompanha toda a história do homem? Será muita gente e pouca 
comida? 
3 – A equiparação entre crescimento na produção de alimentos e crescimento 
populacional tem permitido a todos o necessário para a sua alimentação? 
4 – E a chamada Revolução Verde, não contribuiu para o aumento da produção? 
Mas então porque a desnutrição e a fome? Em que países elas são mais graves? 
 
5 – E a nova Revolução Verde, também é apenas um sonho? 
6-Em sua opinião qual a condição de vida de quem vive abaixo da linha da 
pobreza? 
7 – Os países subdesenvolvidos, não o são, por razões naturais, mas, por razões 
históricas. Circunstâncias históricas desfavoráveis, principalmente o colonialismo 
político e econômico mantiveram estas regiões à margem do rápido processo 
evolutivo da economia mundial. Faça uma pesquisa sobre isso. 
8 – Que produtos tem sido usados no Brasil para a fabricação de 
biocombustíveis? A fabricação desse produto tem contribuído para o aumento nos 
preços dos alimentos? Por quê? 
9 – Existem em sua comunidade pessoas que passam fome? O que pode ser 
feito para minimizar esse mal? 
10 – Faça uma entrevista na sua comunidade com integrantes da Pastoral da 
Criança e descubra o que tem sido feito para combater a subnutrição. 
11 – Pesquise quais alimentos são ricos em vitamina A. 
12 – Faça uma pesquisa sobre transgênicos, ressaltando pontos positivos e 
negativos. 
13 – Monte um painel com recortes de revistas e jornais que retratem a fome em 
diversos lugares do mundo. 
14 – Observe o espaço georáfico onde vive e descreva como se dá a organização 
desse espaço. Caso exista desigualdade social, explique o que deve ser feito e 
por quem, para melhorar a situação. 
 Também foi pesquisado os dados socioeconômicos, Índice de 
Desenvolvimento Humano (IDH) do município de Araruna e demais municípios do 
Paraná. Todo esse trabalho foi também supervisionado pela equipe pedagógica 
da escola. 
Essa Unidade Didática foi produzida com o objetivo de desmascarar a mais 
cruel forma de desigualdade existente - a fome -, buscou explicações para suas 
causas e consequências. Isso só é possível, ao nosso entender, por meio de um 
aprofundado e minucioso estudo capaz de subsidiar o aluno para um 
 
entendimento de que esse mal se deve mais às questões humanas do que às 
causas naturais, sendo, portanto passível de mudança, desde que haja atitudes e 
vontade política. 
A referida Unidade Didática “Fome Mundial” utilizada como material 
didático foi estruturada em treze etapas, iniciando com um questionamento 
investigatóriopara se diagnosticar a visão do aluno em relação ao tema e também 
através de dados estatísticos mostrar que o volume de alimento produzido é 
suficiente para alimentar toda a população mundial. Também fez uma 
diferenciação entre fome crônica e fome transitória, relacionando-as às questões 
históricas e naturais respectivamente. 
Selecionou-se textos que expuseram um histórico sobre a fome, desde os 
primórdios da existência do homem, os quais permitiram também uma reflexão 
sobre o crescimento da população mundial, a Revolução Industrial e suas 
correlações com a fome. Analizou-se também a chamada Revolução Verde, a 
qual, apesar de ter contribuído com o aumento da produção de alimentos, não 
conseguiu aplacar a fome de milhões de pessoas, uma vez que ela fome não se 
deve a baixa produção de alimentos, mas sim a forma como ocorre sua 
distribuição. Da mesma forma, a também chamada de Nova Revolução Verde ter 
se constituído apenas num sonho, uma vez que, apesar das revoluções científicas 
e tecnológicas, as concentrações do poder econômico e o acesso a terra 
continuaram. O permite a constatação de que se os pobres não têm dinheiro para 
comprar comida, de nada adianta somente aumentar a produção. 
Ainda em relação ao texto, o mesmo enumera as diversas causas da fome 
e estimula a reflexão sobre alguns mitos a ela relacionados. Entre estes, o de que 
a fome existe porque não se produz alimentos suficientes, que há poucas terras 
cultiváveis e que há áreas com superpopulação. Apresenta também as 
consequências nefastas da fome para uma enormidade de pessoas as quais 
ficam vulneráveis a desnutrição, retardamento mental, cegueira, anemia, 
raquitismo, entre outros. O mesmo texto apresenta os números e dados 
estatísticos com relação a quantidade de subnutridos, mortes, doentes, conflitos 
pela falta de alimentos no mundo e no Brasil. 
 
Para os dados sobre a fome no Brasil se fez um trabalho mais incisivo. 
Solicitou-se que os alunos pesquisassem também a realidade do município de 
Araruna e do estado do Paraná, onde imaginavam não existir esse problema. 
Completando estas considerações, na Unidade Didática se apresentou reflexões 
sobre a elevação dos preços dos principais alimentos nos últimos tempos e suas 
causas e conseqüências para o agravamento da fome. Os resultados 
surpreenderam os alunos. 
Finalizando, o texto faz referência às responsabilidades do ser humano em 
relação a minimização e erradicação desse mal que há tempo assola grande 
parcela da humanidade. Enfatiza que se a humanidade, com todo o avanço 
científico e tecnológico atingido até então, como até a conquista da Lua, ainda 
não conseguiu minimizar a fome no mundo e diminuir a pobreza na Terra é 
porque não houve ações efetivas e vontade política para tal. 
 De posse da Unidade Didática, o primeiro passo foi a motivação das 
turmas, considerando a importância de sensibilizá-los e conquistá-los para um 
maior engajamento nos trabalhos posteriores. O sucesso do projeto dependia 
dessa conquista. Então, conquistá-los, conseguir o envolvimento da maioria deles 
se tornou um dos principais objetivos da etapa. Objetivos esses atingidos, haja 
vista que a grande maioria participaram ativamente e de maneira satisfatória. 
 
A IMPLEMENTAÇÃO DA PROPOSTA 
 
 As 8ªs séries são compostas por um total de 107 alunos na faixa etária 
entre 13 a 16 anos. A proposta de trabalho envolveu de forma direta esses 
alunos, por serem na escola os mais preparados para protagonistas dessa 
proposta. De forma indireta, os alunos das 5ªs séries num total de 193, e na faixa 
etária de 09 a 11 anos. Foram alvos e assistiram as mini-aulas ministradas pelos 
alunos das 8ªs séries. 
 Essa estratégia foi utilizada porque a linguagem e o linguajar das 8ªs são 
mais apropriadas para a faixa etária dos alunos das 5ªs. A utilização de uma 
linguagem mais atrativa é mais uma possibilidade de engajamento para a 
 
efetivação da proposta. Para problematizar o tema, foi exibido um recorte do filme 
Amor Sem Fronteiras dirigido por Martin Campbell, e vídeos disponibilizados no 
site do You Tube como A Pobreza, de Priscila Karem, Ilha das Flores, do Diretor 
Jorge Furtado, Duas Classes...duas vidas...várias escolhas, do ENEEnf, de 
Cristiano A. Silva, O que você tem a ver com a corrupção, do MP e TC de Santa 
Catarina, além de reportagens, mapas, gráficos e fotos (Youtube.com, 2009). 
 Outro momento importante foi descobrir o ponto de partida, ou seja, qual o 
conhecimento espontâneo apresentado pelos alunos. Para isso, foi aplicado um 
questionário onde todas as questões apresentavam um quadro de opções para 
que o aluno assinalasse a que considerasse mais correta. Foi perguntado a eles: 
a) A quantidade de alimento produzida no mundo é suficiente para alimentar toda 
a população da Terra? 
b) A fome existe em decorrência de condições naturais (secas, geadas, solos 
pobres etc) ou é uma consequência da atuação do homem? (má distribuição da 
riqueza?) 
c) O que precisa ser feito para acabar com a fome no mundo? 
d) Em que regiões do nosso planeta você sabe que existe um grande número de 
pessoas passando fome? 
e) Qual a principal causa da fome no Nordeste brasileiro? 
f) A quem cabe a responsabilidade de tomar medidas para diminuir a fome na 
Terra? 
 Posteriormente se fez a tabulação dos dados. O resultado permitiu saber o 
ponto de partida para a superação do conhecimento prévio “senso comum” e 
quais as intervenções necessárias para uma mudança de atitude do aluno. 
Constatou-se que a grande maioria deles não apresentava conhecimento além do 
senso comum. 
 Na análise das respostas obtidas no questionamento, constatou-se que 
grande parte, cerca de 90%, atribuía a fome no mundo à falta de alimentos. 
Quando questionados sobre onde existem pessoas passando fome, cerca de 80% 
deles afirmaram ser na África e no Nordeste brasileiro. Não fizeram referência aos 
 
que passam fome também nos países desenvolvidos ou emergentes, na periferia 
das grandes e pequenas cidades além daqueles que vivem no campo. 
Um outro dado interessante foi que 80% pensam que a responsabilidade 
em resolver o problema é dos governantes. Entendem as eleições dos nossos 
governantes como sendo um fato totalmente desvinculado da atitude dos 
cidadãos, ou seja, não se percebem com poder de decisão e mudança. Quando 
questionados sobre o que seria pior, morrer 300 crianças num acidente de avião 
ou uma criança a cada sete segundos no mundo devido a fome, cerca de 85% 
responderam que era mais grave a morte de crianças num acidente de avião. 
Ficou evidente então o poder da mídia na divulgação e exploração das fatalidades 
em detrimento da ocultação da miséria provocada pela ganância capitalista. 
 Mostrou-se os resultados finais da pesquisa para os próprios alunos das 
8ªs séries. Aproveitou-se a oportunidade para trabalhar os resultados, mostrando 
que os mesmos refletem os conhecimentos e que estes não passam do senso 
comum. Disponibilizou-se o “material didático” para terem contato ao 
conhecimento sistematizado. Efetuou-se a leitura, debate, análise e realizou-se as 
atividades de interpretação do texto. 
Mesmo não apresentando uma problemática alimentar séria, foi 
pesquisado também pelos alunos, no site do IPARDES (Instituto Paranaense de 
Desenvolvimento Econômico e Social) a situação da pobreza no Estado do 
Paraná através dos censos socioeconômicos do IBGE e análise do IDH do Estado 
(IPARDES 2009). 
Também foi realizada uma entrevista com a Sra Ramos da Silva, 
Coordenadora da Pastoral Da Criança da cidade de Araruna/PR, ( SILVA 2009) 
tendo como objetivo se conhecer a realidade apresentada pelo município. 
Uma outra açãofoi a de pesquisar e divulgar receitas de alimentos 
alternativos, visando o reaproveitamento de alguns produtos ou partes deles, 
quando descartados no preparo, e consequentemente combater o desperdício. 
Ao todo, foram distribuídas trinta e duas receitas, atendendo a mais um objetivo 
da proposta. A maioria das receitas tinha como principais ingredientes básicos, 
sobras de alimentos, talos, folhas e cascas de vegetais consumidos no dia-a-dia. 
Dentre as receitas apresentadas, as mais interessantes foram: torta de sobras de 
 
arroz, massa de pizza com sobras de arroz, suflê de sobras de legumes, bolo de 
casca de mamão, suflê de folhas de couve flor, farofa com sobras de macarrão, 
bolo de casca de banana, refogado de bananeira e palmito de bambu. 
 Apesar do texto “A Fome Mundial” (Anexo 2), apresentar uma linguagem 
adequada para a idade/série percebeu-se algumas dificuldades na interpretação, 
o que, na medida do possível, foi sanado com a intervenção da professora. 
 Percebeu-se também que grande parte dos alunos teve um aproveitamento 
satisfatório a ponto de pelo menos superarem o conhecimento empírico. 
Finalmente, compreenderam que a organização do espaço e as condições 
socioeconômicas da atualidade é o resultado das ações que os homens 
estabelecem entre si e com a natureza, sendo portanto passível de mudança. 
Mudanças essas que podem beneficiar a todos. Apenas uma minoria se manteve 
pessimista e resistente com relação às mudanças necessárias para se reverter o 
quadro de desigualdade social materializado no espaço geográfico. Para 
exemplificar a constatação eis algumas respostas pós trabalho com os alunos 
(transcritas na íntegra): 
a) Qual a sua opinião sobre a distribuição de cestas básicas em época de 
eleição? 
“Temos é que agradecer o pouco que fazem pela gente”. 
b) Qual a importância do “Bolsa Família” para a população carente? 
“Bolsa Família só serve para sustentar vagabundo”. 
c) Por que existem tantos pobres? 
 “Porque tem preguiça de trabalhar”. 
d) Você acredita ser importante a mobilização das pessoas para o enfrentamento 
da pobreza? 
“Cada um que se vire como pode”. 
Depois de ter sido trabalhado e debatido o texto da unidade didática, 
acredita-se que os alunos adquiriram pré-requisito, ou seja, conhecimento 
suficiente para serem agentes repassadores de informações acerca das reais 
causas e consequências da fome no mundo. 
 
A etapa seguinte foi a preparação das mini-aulas aplicadas pelos alunos 
das 8ªs para as 5ªs séries e a exposição dos cartazes. 
Para as mini-aulas, os alunos das 8ªs séries frequentaram por vários dias o 
laboratório de Informática da Escola, onde prepararam slides no power pointer 
com fotos e frases, as quais enfocaram o tema “a fome – causas e 
consequências”. Para a confecção dos cartazes, buscaram imagens na internet, 
elaboraram frases relevantes ao tema, como exemplo “é mentira que a fome 
existe porque não tem alimentos suficientes para todos”, “a fome no mundo, em 
sua maior parte, é consequência de atitudes humanas”, “a falta de alimentos pode 
provocar as chamadas doenças da fome: anemia, bócio endêmico, 
hipovitaminose A e raquitismo”, “a miséria e a fome são males provocados pelo 
capitalismo”, “as elites do poder econômico, dominam também o poder político”, 
“a fome é o pior crime que a sociedade pode cometer”, “atitudes políticas de todos 
os cidadãos são necessárias para se combater a ineficiência do poder político”. 
 As mini-aulas e a sessão de apresentação dos cartazes ocuparam 
também o contra-turno. Os alunos das 8ªs séries explicaram para os das 5ªs 
séries e para os demais que participaram da exposição, os reais significados das 
frases expostas. 
 A utilização de imagens foi uma estratégia escolhida, por se tratar de um 
recurso importante pelo papel na instrumentalização do conhecimento. 
Fotografias e frases bem elaboradas compondo os cartazes são formas bastante 
atrativas de expor um conhecimento. A imagem constituiu-se no paradigma mais 
significativo para o desenvolvimento do conhecimento no século XX (SERPA, 
2004). 
 Além da apresentação dos cartazes na escola, cópias foram distribuídas e 
ou afixadas em pontos estratégicos da comunidade, com o objetivo de envolver 
um maior número de pessoas e também porque é uma forma rápida, prática e 
atrativa de se abordar e socializar um conhecimento. 
 O painel feito e exposto pelos alunos despertou a atenção da comunidade 
escolar para o problema abordado. Mesmo os funcionários, professores, alunos e 
pais que não estavam diretamente envolvidos com o projeto, puderam entender a 
mensagem transmitida pelos cartazes expostos. Essa atividade com os painéis foi 
 
programada como a sétima ação desenvolvida pelos alunos. Foi montado na 
véspera da realização das mini-aulas, e por utilizar imagens e frases, tornou-se 
um atrativo a mais na programação. 
 Após a preparação dos slides no laboratório de informática, foi o momento 
dos alunos exercitarem a fala para ministrarem a palestra (mini-aulas). 
Primeiramente fizeram sessões de ensaio, onde foi possível se fazer correções e 
ajustes. Ainda como ensaios, fizeram uma sessão de apresentação para a própria 
turma, com o objetivo de exercitarem e aumentarem a segurança, onde também, 
puderam cronometrar o tempo, uma vez que as mini-aulas durariam 45 minutos 
cada, aproximadamente. 
 Preparados, os alunos das 8ªs Séries apresentaram VIII sessões, para 
todas as 5ªs séries. De modo geral, os alunos se mostraram receptivos e 
interessados, uma vez que os apresentadores eram os seus próprios colegas. O 
mais interessante foi a constatação de que, por se tratar de colegas, despertou-se 
o interesse da grande maioria e durante as sessões o clima foi harmonioso e 
disciplinado. 
 Quando questionados pelos alunos palestrantes sobre o problema da fome, 
os alunos de 5ªs séries manifestaram o conhecimento do senso comum, como “a 
fome existe porque não tem comida para todo mundo”, “que a fome existe na 
África” etc., assim como o manifestado anteriormente pelos alunos das 8ªs séries. 
 Ao término das mini-aulas, foi possível perceber que os alunos de 5ª série, 
apesar da faixa etária, conseguiram evoluir de um conhecimento do senso comum 
para um conhecimento mais sistematizado. Manifestaram um entendimento de 
que a fome no mundo se deve a razões históricas podendo então ser minimizada 
se houver interesse político e posicionamento de efetiva participação das pessoas 
para isso. Inclusive fizeram algumas críticas à compra de votos em épocas de 
eleições e à corrupção de modo geral. 
 Aos alunos de 8ªs séries, mesmo não tendo sido atribuído nenhuma “nota” 
para o trabalho, demonstraram bastante interesse, foram responsáveis, 
cumpriram todos os horários agendados. Realizaram com atenção e dedicação 
todas as atividades propostas, conseguiram entender a importância da 
participação de cada cidadão na construção de um espaço geográfico melhor. O 
 
entendimento foi concretizado a partir das estratégias e dos materiais utilizados 
para as sessões das mini-aulas. 
 A evolução e o amadurecimento do conhecimento empírico para um 
conhecimento sistematizado puderam ser comprovadas através da análise das 
respostas sobre o questionamento: Quem são os responsáveis pela desigualdade 
social? Onde, 91% deles afirmaram “ser do próprio homem que muitas vezes se 
acomoda diante da situação, também dos que se deixam corromper e ainda 
daqueles que só visam enormes lucros”. 
 Questionados sobre quem são os responsáveis pela fome ou subnutrição, 
a maioria deles, cerca de 86% afirmaram “que a fome não deve ser atribuída 
apenas aos que não tem o que comer na África e ou, no Nordeste brasileiro, massim aos que vivem na pobreza em qualquer parte do mundo, inclusive nos países 
ricos” e ainda que “passar fome é também não consumir alimentos com os 
nutrientes adequados para uma boa saúde”. Perguntado a quem cabe resolver a 
situação de desigualdade, 93% afirmaram “ser de todos nós e não apenas da 
classe política, uma vez que estes são colocados nos cargos públicos pelos seus 
eleitores”. 
Nesse sentido, a proposta de trabalho com os alunos da Escola conseguiu 
provocar a indignação de todos diante de tamanha crueldade por que passam 
cerca de 925 bilhões de pessoas no mundo, desmistificar as causas e 
“desmascarar” os responsáveis por essa situação bem como alertá-los sobre a 
importância da atitude política das pessoas para se reverter o quadro das 
profundas desigualdades. A forma encontrada para fazer com que os alunos das 
8ªs séries se percebessem agentes de transformação, foi através do 
conhecimento adquirido e socializado com as 5ªs séries por meio das mini-aulas e 
com os demais alunos e com a comunidade local, por meio da exposição dos 
cartazes. 
 
 
 
 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Na experiência de 20 anos como educadora, constatou-se que a maioria 
dos educandos bem como seus familiares, demonstram ações e atitudes 
apolíticas no seu espaço de vivência. Isso, não se dá de forma diferente, 
provavelmente também com a maioria da população brasileira. 
A escolha do tema possibilitou uma profunda reflexão na comunidade, 
principalmente a diretamente envolvida (8ªs e 5ªs séries). A fome, pelo que se 
pôde constatar era tida como algo natural, estático e imutável. A partir da 
aplicação desse projeto, percebeu-se que houve uma ampliação da compreensão 
do espaço geográfico e o mais interessante, que a sociedade se constitue em 
agente da construção/transformação desse espaço. 
Comumente, o tema “Fome Mundial” não faz parte dos conteúdos 
propostos nos manuais didáticos destinados aos alunos do Ensino Fundamental. 
Quando o tema é abordado, é de forma superficial e não contextualizada. Dessa 
forma, foi elaborada uma Unidade Didática, a qual procurou tratar o tema de 
forma aprofundada e consistente, numa linguagem adequada e utilizando 
atividades que permitiram o desenvolvimento de um trabalho teórico-metodológico 
que culminasse na aprendizagem dos alunos. 
Humildemente, o principal objetivo foi o de jamais mudar a realidade da 
sociedade de Araruna, mas sim, acima de tudo, lançar, através da educação a 
“semente” que se “cultivada” poderá render bons frutos. Toda discussão sobre o 
tema teve por finalidade, além do acesso ao conhecimento sistematizado, 
possibilitar aos alunos uma reflexão crítica sobre o espaço geográfico e a 
percepção das “entrelinhas” de que, o que está materializado no seu espaço, 
pode ser modificado em benefício da sociedade, tornando-a mais igualitária, mais 
justa, e que mudanças ocorrem quando pessoas se posicionam e agem diante 
das injustiças. 
Se o propósito não foi plenamente alcançado, ao menos forneceu e 
subsidiou aqueles alunos e diversos personagens da sociedade local para uma 
desalienação, motivando-os a uma efetiva participação. 
 
REFERÊNCIAS 
AULETE, Caldas. Mini dicionário contemporâneo de língua portuguesa. 
Guarulhos: Nova Fronteira, 2004. 
CASTRO, Josué de. O livro negro da fome. São Paulo: Brasiliense, 1968. 
DEMO, Pedro; Pobreza Política. Campinas: Autores Associados, 1988. 
DEMO, Pedro;. Solidariedade como efeito de poder. São Paulo: Cortez, 2002. 
IPARDES, www ipardes.gov.br/ Índice De Desenvolvimento Humano Municipal 
Segundo Os Municípios Do PARANÁ - 1991/2000. Acesso em: 08/05/2009. 
KAERCHER, Nestor André. Desafios e utopias no ensino de Geografia. Santa 
Cruz do Sul: Edunisc, 1997. 
OLIVEIRA, B. O trabalho educativo: reflexões sobre paradigmas do pensamento 
pedagógico brasileiro. Campinas: Associados, 1996. 
PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Superintendência da Educação. 
Diretrizes Curriculares de Geografia para o Ensino Fundamental. Curitiba: 
SEED, 2006. 
SANTOS, Milton. Por uma Geografia nova. São Paulo: Hucitec, 1978. 
SERPA, F.P. A imagem como paradigma. Rascunho digital. Salvador, 
Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia, 2004. Disponível em 
<http://www.faced.ufba.br/rascunho_digital/textos/178.htm>. Acesso em: 08 jul.. 
2008. 
VIEIRA, N. R.. A educação escolar e o conhecimento geográfico: para um 
ensino de geografia além da realidade imediata do aluno. 2004. Tese 
(Doutorado) – Faculdade de Ciências e Tecnologia de Presidente Prudente – 
Campus da UNESP, Presidente Prudente, 2004. Disponível em 
http://scholar.google.com/scholar?q=a+educa%C3%A7%C3A3o+escolar+e+0+co
nhecimento+geogr% Acesso em 20/04/2008. 
 
Fonte Oral 
SILVA, I.R. Coordenadora da Pastoral da Criança de Araruna/PR. Entrevistada 
em 08/06/2009.

Continue navegando