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Aula 06

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EDUCAÇÃO E ECONOMIA POLÍTICA
TEORIA DO CAPITAL HUMANO 
CURSO DE PEDAGOGIA – professora BEATRIZ PINHEIRO
Rio de Janeiro, 22 de setembro de 2011
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OBJETIVOS DA AULA
Identificar e problematizar a Teoria do Capital Humano, nos seus aspectos conceituais e históricos e sua relação com práticas educativas e políticas públicas em educação no cenário nacional e internacional do século XX. 
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A TEORIA DO CAPITAL HUMANO 
A Teoria do Capital Humano foi desenvolvida na década de 1960, por dois economistas: Schultz e Becker. De acordo com esta teoria, o desenvolvimento econômico de um país está diretamente ligado ao investimento em capital humano, ou seja, em aperfeiçoamento /educação dos trabalhadores. A tese central da teoria do capital humano vincula a educação ao desenvolvimento econômico, à distribuição de renda, à melhoria de qualidade de vida e ao fim da desigualdade social.
Essa teoria é um dos desdobramentos (relativos ao estudo dos efeitos econômicos da educação) da teoria econômica neoclássica e, como tal, tem um caráter ideológico, oculta a natureza espoliativa e desigual do capitalismo, de modo a obter o consenso social em torno da ordem burguesa.
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O CONTEXTO QUE EXPLICA O SURGIMENTO
 DA TEORIA
A teoria do capital humano foi formulada numa época de forte intervenção estatal: o Estado do Bem Estar Social. Esse momento se destaca pela: 
a) divisão internacional do trabalho (países do 1° mundo são produtores de tecnologia, e os do 3° mundo fornecedores de matéria-prima e consumidores dos produtos e da tecnologia dos países desenvolvidos). 
b) pelo início da mundialização do mercado, da globalização. O capitalismo se expande pelo mundo e cada grupo de países assume um papel determinado nesse grande mercado mundial. As fábricas começam a se espalham em busca de mão-de-obra mais barata e maiores lucros.
Nesse contexto, a ideologia liberal entra em crise. O sonho de ascensão social da classe trabalhadora se torna uma promessa cada vez mais distante, fazendo com esta classe questione a visão liberal da escola. Assim, foi fundamental o surgimento de uma teoria que reafirmasse o papel da escola como construtora de uma sociedade mais desenvolvida. A teoria do Capital Humano traz a confirmação científica da pertinência da visão liberal da escola, contribuindo para a manutenção do consenso em torno da ordem burguesa. 
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SCULTZ E A TEORIA NEOCLÁSSICA DO DESENVOLVIMENTO.
A teoria do Capital Humano é um desdobramento da teoria neoclássica do desenvolvimento. 
A teoria neoclássica do desenvolvimento postulava que o crescimento econômico dependia de aumentos nos estoques de três fatores: capital, trabalho e tecnologia. Entretanto, esta teoria não conseguia explicar todo o crescimento por meio desses três fatores. Havia um resíduo não explicado, que Schultz passou a atribuir ao investimento nos indivíduos, denominado analogicamente por ele de capital humano. Este investimento nos homens envolveria os investimentos em educação, treinamento e saúde. O fator humano, então, complementaria os demais fatores explicativos propostos pela teoria neoclássica.
Nessa perspectiva, o investimento do ponto de vista macroeconômico no fator humano passa a ser visto como um dos determinantes básicos do aumento da produtividade do trabalho e elemento de superação do atraso econômico das diferentes nações 
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SCULTZ E A TEORIA DO CAPITAL HUMANO – 
NÍVEL MACROECONÔMICO
Schultz comparou o número de pessoas matriculadas nas escolas secundárias e no ensino superior e a renda per capita de um país. Observou que quanto maior o nível de escolarização de uma população, maior é a renda per capita do país e o seu desenvolvimento econômico. Cria-se, então, a idéia de que a educação está diretamente vinculada ao desenvolvimento.
A educação, assim, foi entendida como um investimento como qualquer outro. É compreendida como capital humano, já que ela passa a ser vista como produtora da capacidade de trabalho.
O processo educativo, escolar ou não, fica reduzido à função de produzir habilidades, gerando capacidade de trabalho e de produção e a escola é concebida como a salvadora de todas as questões sociais, além de possibilitar o desenvolvimento de um país.
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AS CRÍTICAS À EXPLICAÇÃO MACROECONÔMICA
DA TEORIA DO CAPITAL HUMANO
As tentativas de mensurar, em termos macro, a contribuição da educação para o crescimento econômico foram alvo de muitas críticas. Essas críticas se prenderam à debilidade das medidas que tentam apreender a influência da educação para o crescimento e se limitaram a questionar os métodos de medição e o cálculo do fator humano. Elas não colocaram em questão a existência do fator humano nem os pressupostos da teoria neoclássica.
Essas críticas fizeram com que a teoria do capital humano se deslocasse da esfera da macroeconomia para a da microeconomia, em busca da maior precisão da mensuração do fator humano.
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A TEORIA DO CAPITAL HUMANO – 
A EXPLICAÇÃO MICROECONÔMICA 
Do ponto de vista microeconômico foi estudada a rentabilidade do fator humano a partir da comparação entre a renda de pessoas que não freqüentaram a escola e outras, semelhantes em tudo mais, que se educaram. Viu-se que existia uma forte correlação entre a educação e a renda individual. A suposição básica do ponto de vista microeconômico é de que o indivíduo, na perspectiva da produção, é uma combinação de trabalho físico e educação. O indivíduo é produtor de suas próprias capacidades de produção. Assim, o investimento em capital humano é entendido como um fluxo de despesas em educação que cada um deve fazer para aumentar a sua produtividade. Cada acréscimo em escolaridade corresponderia a um acréscimo de produtividade. Como a renda individual é vista como dependente da produtividade, acréscimos em produtividade, por sua vez, levariam a acréscimos na renda individual. 
Com base nesse raciocínio, conclui-se que a educação potencia o fator trabalho, aumenta a sua produtividade e, consequentemente, a aumenta a renda individual, contribuindo para uma melhor distribuição de renda e equalização social. A educação passa a ser vista como um fator explicativo das diferenças individuais de produtividade e renda e, consequentemente, de mobilidade social. 
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A TEORIA DO CAPITAL HUMANO – 
NOVOS ESTUDOS A COLOCAM EM QUESTÃO
Sob a ótica microeconômica desenvolveram-se técnicas de mensuração dos diferentes tipos de escolarização em termos de retorno econômico (custo-benefício). Essas análises microeconômicas só aparentemente davam maior confiabilidade, uma vez que ressuscitavam os conceitos da teoria neoclássica (que supunha um mercado em concorrência perfeita) em uma época em que a economia já estava pautada nos rendimentos dos monopólios.
Novos estudos sobre a escola colocam em questão a teoria do capital humano. Muitas pesquisas buscaram entender os determinantes da escolaridade. O que determina a escolaridade dos indivíduos? As pesquisas de cunho positivista que investigam os determinantes do nível de escolaridade dos indivíduos chegaram sempre à mesma conclusão: o fator socioeconômico é o que tem maior peso na determinação das diferenças encontradas no fracasso escolar e na baixa escolaridade das crianças.
Assim, as análises sobre os determinantes da escolaridade chegam a uma conclusão contrária à da teoria do capital humano: não é a educação que determina a renda, mas é a renda que determina o desempenho escolar.
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FRIGOTTO E A CIRCULARIDADE DA
TEORIA DO CAPITAL HUMANO
A teoria do capital humano afirma que o indivíduo investindo em educação, em capital humano, poderá aumentar sua renda. E como se forma o capital humano? Pelo investimento em escolaridade. O fator humano seria determinado pelo conjunto de anos de escolaridade.
Mas o que determina tanto o acesso à escola, quanto o nível escolar e os diferentes tipos de desempenho escolar? Eles são explicados pelos fatores socioeconômicos (família, nutrição, renda familiar, características
ambientais, etc).
Assim, de acordo com Frigotto temos uma análise circular. Sob a ótica do capital humano a educação é vista como fator de aumento de renda e mobilidade social. A escolarização é posta pela teoria do capital humano como determinante da renda. Mas por sua vez, o acesso à escola, a permanência nela e o desempenho escolar são determinados fundamentalmente pela renda dos indivíduos e outros indicadores que descrevem a situação econômica familiar. 
O determinante vira determinado! 
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O CARÁTER IDEOLÓGICO DA 
TEORIA DO CAPITAL HUMANO
Para alguns autores, como Frigotto, essa circularidade decorre do caráter ideológico da teoria do capital humano. 
É também o caráter ideológico da teoria do capital humano que faz com que ela sobreviva a tantas críticas e embates. 
Certamente a teoria foi bem sucedida na sua intenção de justificar a ordem capitalista, de fazer uma apologia da ordem burguesa. É fácil mesmo perceber que já faz parte do senso comum acreditar que a educação é fundamental para o desenvolvimento econômico de um país.
A teoria do capital humano conferiu à ideologia liberal uma roupagem científica, técnica, e por isso mesmo mais difícil de questionar. Era a legitimidade “científica” que lhe faltava...
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EXPLICANDO O CARÁTER IDEOLÓGICO – 
ponto de vista macro
A teoria do capital humano revela-se como uma ideologia que busca o desenvolvimento do capitalismo e que tem como objetivo manter a hegemonia na recomposição do imperialismo capitalista. Uma ideologia que busca manter cada pais no lugar que ocupa na ordem internacional, afirmando que o subdesenvolvimento de alguns países da periferia do capitalismo não é uma realidade histórica, associada aos interesses de domínio dos países do capitalismo central e da divisão internacional do trabalho, mas uma questão de escolha. O caminho do desenvolvimento é visto como um processo gradual, fruto dos investimentos em educação. Assim, a teoria passa a idéia de que o subdesenvolvimento nada tem a ver com as relações de poder, mas se trata de um problema de mudança ou modernização de alguns fatores, ente os quais se destaca a presença de recursos humanos qualificados: de capital humano. Não se discutem as relações de poder econômico internacionais. 
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EXPLICANDO O CARÁTER IDEOLÓGICO –
ponto de vista micro 
Na medida em que a teoria do capital humano afirma que uma despesa em educação garante maior produtividade no trabalho e maior renda individual, a teoria acaba por fazer acreditar que a decisão de aumentar a renda é uma escolha individual. Os sujeitos podem escolher livremente aumentar sua renda: basta investir em educação. Ser rico ou pobre é uma decisão de cada indivíduo, só depende de cada um. Se não se é bem sucedido, a responsabilidade é do indivíduo. 
O fato do indivíduo não ser proprietário de capital, ou não ser um burguês pouco importa, uma vez que investindo em capital humano o indivíduo poderá aumentar sua renda. É dele a decisão. A idéia que se passa é que a médio e longo prazo, este investimento lhe permitirá ter acesso ao capital físico ou aos privilégios dos que o possuem.
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O QUE A TEORIA DO CAPITAL HUMANO OCULTA : 
A DESIGUALDADE SOCIAL E A LUTA DE CLASSES
A teoria do capital oculta a desigualdade social determinada pelas relações de produção capitalistas que separam as classes sociais. Escamoteia a relação de dominação e exploração, que se concretiza na mais valia, definindo interesses antagônicos e irreconciliáveis para as duas classes sociais fundamentais: burguesia e classe trabalhadora.
Encobre com um véu a luta entre essas duas classes, mostrando que o que existe é a divisão da sociedade em estratos diferentes. As pessoas que tem capital, se esforçaram mais, pouparam mais, sacrificaram suas horas de lazer e tiveram uma maior escolaridade. Os demais trabalharam apenas o tempo necessário para a sua sobrevivência e não demonstram real interesse pela escola. 
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O QUE A TEORIA DO CAPITAL HUMANO OCULTA : 
A DESIGUALDADE SOCIAL E A LUTA DE CLASSES
A questão da desigualdade e dos antagonismos de classe fica encoberta pela crença na meritocracia. A sociedade capitalista se reveste de uma igualdade de oportunidades. A todos é dado o poder de conseguir, através da educação, ascender socialmente e aqueles que não conseguem não podem reclamar, já que se não a alcançam é por falta de mérito próprio. O problema da desigualdade tende a reduzir-se a um problema de qualificação.
Culpar cada um pelo “fracasso” e pela posição social retira do debate a responsabilidade do Estado e da classe dominante sobre as trajetórias de vida dos sujeitos da classe trabalhadora. As relações de poder e de dominação cedem lugar à ideologia do mérito, do dom, do esforço individual.
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O QUE A TEORIA DO CAPITAL HUMANO OCULTA: 
O PAPEL DA ESCOLA CAPITALISTA
A teoria do capital humano faz o investimento em educação parecer uma escolha pessoal, ocultando a real função da escola capitalista. Oculta que a escola capitalista contribui para manter a ordem social desigual, na medida em que ela difunde a ideologia (constrói o consenso em torno da ordem burguesa) e que “nega” o acesso ao saber acumulado às classes trabalhadores, alvo de uma educação desqualificante. Os sujeitos das diferentes classes sociais chegam à escola em condições distintas. A escola, em trajetórias escolares diferenciadas, forma os profissionais que ficarão a cargo das funções intelectuais e instrumentais da sociedade, reproduzindo a desigualdade social, reproduzindo as diferenças sociais.
A escola fica reduzida a uma dimensão asséptica, separada do político e do social. Sua função passa a ser formar recursos humanos, produzir capital humano.
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O QUE A TEORIA DO CAPITAL HUMANO OCULTA: 
O PAPEL DA ESCOLA CAPITALISTA
A teoria do capital humano faz do elemento determinado (educação), o elemento determinante (da renda), invertendo a lógica da análise crítica sobre a relação escola/sociedade e reafirmando a visão liberal da escola
A teoria do capital humano faz da escola uma instituição a serviço do indivíduo e promotora da construção de uma sociedade aberta (mobilidade social), já que oferece iguais oportunidades a todos e permite o desenvolvimento dos talentos individuais.
Essa teoria surge em resposta às necessidades de expansão do capitalismo, já que com o início da sua mundialização, é necessário algum tipo de qualificação para os trabalhadores dos países subdesenvolvidos. A proposta é oferecer uma escola que garanta um mínimo de qualificação para o trabalhador do chão da fábrica, mas fazendo todos acreditarem que o aumento dos níveis de escolarização, o esforço individual e o sacrifício viabilizam uma ascensão profissional e um aumento de renda. 
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RELAÇÕES ENTRE EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO: VISÃO CRÍTICA
Alguns economistas e educadores brasileiros vão buscar compreender, ao longo das décadas de 80 e 90, as relações entre a prática educativa escolar e a estrutura social e econômica capitalista sob uma perspectiva crítica. Foram três as leituras realizadas:
1) A ESCOLA É PRODUTIVA PARA O CAPITAL
Alguns autores acreditam, da mesma forma que a teoria do capital humano, que a educação potencia trabalho, gerando maior produtividade. Essa maior produtividade, entretanto, não geraria aumento da renda individual, mas uma ampliação da mais valia. O trabalhador, mais escolarizado seria mais produtivo, diminuindo o tempo de trabalho necessário para que produzisse um valor igual ao valor de sua força de trabalho.
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RELAÇÕES ENTRE EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO: VISÃO CRÍTICA
2) A ESCOLA É IMPRODUTIVA PARA O CAPITAL
Um segundo grupo de autores critica a primeira leitura dizendo que ela não na consegue ir além da teoria do capital humano, já que ela vê a escola apenas como um departamento produtor de mão de obra qualificada. Ambos, teoria do capital humano e o primeiro grupo de autores acreditam, erroneamente, que a escola consegue gerar maior produtividade do
trabalho, permitindo a criação do excedente. Enquanto a teoria do capital humano chama esse excedente de taxa de retorno, o primeiro grupo de autores chama isso de mais valia relativa.
Observando o agigantamento do sistema educacional e a desqualificação crescente da classe trabalhadora, esse segundo grupo de autores acredita que é no seio da produção que o capital forma os trabalhadores com as qualificações requeridas. O capital não precisa da escola para preparar os trabalhadores. Eles são treinados no próprio local de trabalho.
Não existe, portanto, vínculo entre a educação escolar e a estrutura produtiva. A escola desempenharia no interior do processo capitalista de produção apenas uma função política e ideológica. 
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RELAÇÕES ENTRE EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO: VISÃO CRÍTICA
3) A PRODUTIVIDADE DA ESCOLA IMPRODUTIVA - Frigotto
Esse autor concorda em parte com a segunda interpretação: de fato, a escola não gera mais valia relativa. De fato, a escola tem uma função política e ideológica na sociedade capitalista. Entretanto, discorda do segundo grupo, acusando-o de realizar uma análise mecanicista, por negar a existência de um vínculo entre educação e estrutura produtiva. 
Frigotto defende a tese de que a prática educativa se relaciona com a estrutura produtiva não de forma imediata, direta, mas de forma MEDIATA. Afirma que a prática educativa realiza diferentes mediações com a estrutura produtiva. 
a) a mediação da escola com o processo produtivo se dá, em primeiro lugar, pelo fornecimento de um saber geral, com traços ideológicos, que se articula ao saber prático que se desenvolve no interior do processo produtivo. Esse saber geral é fundamental para criar os trabalhadores com o perfil desejado pelo capital
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RELAÇÕES ENTRE EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO: VISÃO CRÍTICA
3) A PRODUTIVIDADE DA ESCOLA IMPRODUTIVA - Frigotto
b) em segundo lugar, a escola, mediante a criação de centros de excelência, prepara os intelectuais que atuam como trabalhadores improdutivos, mas necessários à realização da mais valia, já que são eles que organizam, planejam, gerenciam e supervisionam a produção. Sua atuação é voltada para maximizar as condições de produção da mais valia e, nessa tarefa, o domínio dos saberes transmitidos pela escola é fundamental.
c) Por fim, a escola cumpre também uma função mediadora mediante sua INEFICIÊNCIA. Na medida em que a escola oferecida para as classes trabalhadoras é de péssima qualidade, isto é, na medida em que os trabalhadores não têm acesso ao saber acumulado, a escola acaba cumprindo uma dupla função na reprodução das relações de produção: 1) justifica a situação de exploração; 2) limita a luta da classe trabalhadora contra o capital.
Por sua improdutividade, a escola torna-se produtiva ao capital. 
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A TEORIA DO CAPITAL HUMANO NO BRASIL
Após a Segunda Grande Guerra, a divisão internacional do trabalho penetra na economia brasileira. Nessa época, o Brasil implementou um processo de reestruturação produtiva, voltado para a realização da grande indústria taylorista-fordista. O capitalismo brasileiro se subordinou aos países dominantes e às suas multinacionais. As multinacionais buscam em países de capitalismo dependente mão de obra barata e a consolidação industrial que possibilite um aumento na acumulação de capital dos países centrais. Porém, nesses países periféricos, o desenvolvimento da indústria deve estar atrelado aos objetivos dos “mandatários”, que não tem interesse em permitir uma indústria que concorra com as suas e nem que esses países tenham um desenvolvimento tecnológico além do permitido. É, então, essencial para atingir esta meta, a formação de um trabalhador urbano e industrial adequado às regras da fábrica. Ou seja, um trabalhador que tenha disciplina e uma qualificação mínima para o trabalho e para o consumo. 
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A TEORIA DO CAPITAL HUMANO E AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE EDUCAÇÃO NO BRASIL
O governo militar buscava atrelar o modelo de desenvolvimento econômico brasileiro aos interesses do grande capital (internacionalizado). É nesse contexto que a teoria do capital humano passa a fundamentar as políticas educacionais do período. Ela esteve “presente” nos discursos do governo militar e nas diretrizes de organismos internacionais. Entre as medidas adotadas podemos citar a Lei 5692/71, que estabeleceu o aumento dos anos de escolarização obrigatória de quatro para oito anos. A justificativa oficial para isso foi a necessidade de democratização do acesso à escola, vista como preparação da mão de obra para o desenvolvimento econômico.
É a teoria do capital humano que fundamenta a profissionalização compulsória do segundo grau. Essa medida, embora tenha sido percebida na visão de muitos analistas como uma estratégia de contenção ao acesso ao ensino superior, foi apresentada como uma medida de preparação de profissionais de nível técnico para dar conta do projeto de desenvolvimento do país.
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A TEORIA DO CAPITAL HUMANO E 
A EDUCAÇÃO NO BRASIL 
A escola passa a ser compreendida em uma perspectiva econômica, isto é, como instância formadora de mão-de-obra e produtora de conhecimento técnico, atendendo às necessidades do capital.
A escola passa a ser organizada como uma empresa, e a lógica industrial penetra nos espaços escolares, difundindo-se uma visão economicista da educação, além da idéia de que a qualidade do ensino é sinônimo de maior eficácia e rentabilidade financeira.
Desenvolve-se uma concepção reducionista da educação e do ensino e a escola passa a ter uma organização semelhante a uma empresa, com separação entre especialistas da educação e simples docentes. 
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A PEDAGOGIA TECNICISTA
O conceito de capital humano reduz a prática educativa a um fator técnico de produção, direcionando a organização da escola e outros programas educativos para as necessidades e interesses do capital. Esse direcionamento e organização se baseiam na pedagogia tecnicista, que tem como objetivo uma reordenação do processo educativo para torná-lo mais “objetivo e racional”, e condizente com as idéias provenientes da teoria do capital humano.
A pedagogia tecnicista desloca as preocupações para os aspectos internos da escola, para os “meios” destinados a “modernizar” a prática docente, para “operacionalização” dos objetivos – instrucionais e comportamentais -, para o “planejamento e coordenação e o controle” das atividades, para os “métodos e técnicas” de avaliação (...). Busca tornar a escola “eficiente e produtiva. A formação privilegia as técnicas e os métodos envolvidos no processo de ensino-aprendizagem, em detrimento de uma pedagogia emancipatória.
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A TEORIA DO CAPITAL HUMANO E 
A EDUCAÇÃO NO BRASIL
É a partir dessa nova realidade que a teoria do capital humano se dissemina. A escola e consequentemente a educação assumem um novo papel na qualificação do trabalhador. A escola passa a ter a função de adestrar o trabalhador para o trabalho no chão da fábrica e para o consumo. Anteriormente a escola era o espaço das classes médias e dominantes, a partir de agora, ela é franqueada às classes trabalhadoras, e se torna uma política de Estado. É imperioso ter um espaço formal de educação que objetiva atender aos anseios das classes dirigentes na formação da mão de obra necessária a ampliação do capital. 
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