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A função social do ensino

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2. A função social do ensino: que finalidade deve ter o sistema de ensino?
Por trás de qualquer proposta metodológica se escondem uma concepção do valor que se atribui ao ensino, assim como certas idéias mais ou menos formalizadas e explícitas em relação aos processos de ensinar e aprender.
Antes de iniciarmos um processo de aprendizagem devemos fazer as perguntas: Quais são as nossas intenções educacionais?O que pretendemos que nossos alunos consigam?As respostas dadas às perguntas correspondem aos objetivos educacionais.
2.1. Papel dos objetivos educacionais
 Um modo de determinar os objetivos ou finalidades da educação consiste em fazê-lo em relação às capacidades que se pretende desenvolver nos alunos.
Existem diferentes formas de classificar as capacidades do ser humano. A proposta por César Coll (1986) estabelece um agrupamento em capacidades cognitivas ou intelectuais, motoras, de equilíbrio e autonomia pessoal (afetivas), de relação interpessoal e de inserção e atuação social. Esse agrupamento tem a vantagem, de apresentar as capacidades de forma inter relacionadas, ao mesmo tempo em que mostra a indissociabilidade, no desenvolvimento pessoal, das relações que se estabelecem com os outros e com a realidade social.
Tomando-se por base estes diferentes tipos de capacidades, a pergunta sobre intenções educativas, resume-se no tipo de capacidades que o sistema educativo deve considerar? 
Até hoje o ensino prioriza as capacidades cognitivas mais relevantes, que correspondem à aprendizagem das disciplinas ou matérias tradicionais. Na atualidade, devemos considerar que a escola também deve se ocupar das demais capacidades, ou esta tarefa corresponde exclusivamente à família ou a outras instâncias?Por acaso é dever da sociedade e do sistema educacional atender todas as capacidades da pessoa? 
Se a resposta é afirmativa e, se considerarmos que a escola deve promover a formação integral dos alunos, é preciso definir os conceitos de autonomia e equilíbrio pessoal, o tipo de relações interpessoais e de inserção e atuação social. 
As explicações dadas sobre estes conceitos mostram a maneira de entender a sociedade e o papel que as pessoas possuem nela.
Educar significa formar cidadãos, que não estão parcelados em compartimentos estanques, em capacidades isoladas. Ao tentar potencializar certos tipos de capacidades cognitivas, ao mesmo tempo, se está influindo nas demais capacidades. Ex : A capacidade de uma pessoa para se relacionar depende das experiências que vive, e as instituições educacionais são um dos lugares preferenciais, nesta época, para se estabelecer vínculos sociais e relações que condicionam e definem as próprias concepções pessoais sobre si mesmo e sobre os demais. Ex: Na escola a posição dos adultos frente à vida e as imagens que oferecemos aos mais jovens, a forma de estabelecer as comunicações na aula, o tipo de regras de jogo e de convivência incidem sobre todas as capacidades da pessoa.
Os professores poderão desenvolver a atividade profissional optando por: 
a) Deixar-se levar pela inércia ou tradição sem dar importância ao sentido das experiências que propomos;
b) Tentar compreender a influência que estas experiências possuem, e intervir para que seja o mais benéfica possível para o desenvolvimento e o amadurecimento dos alunos.
Por trás de qualquer intervenção pedagógica consciente se escondem uma análise sociológica e uma tomada de posição ideológica; pois para que o professor saiba quais serão as necessidades dos seus alunos quando adultos e avaliar as capacidades que deverão ser potencializadas para que possa superar os problemas e os empecilhos que surgirão em todos os campos (pessoal, sócia e profissional), há necessidade de:
a) Saber, considerar o papel que desempenharão na sociedade;
b) Refletir de forma profunda e permanente quanto à condição de cidadão e quanto às características da sociedade em que viverão. (posição ideológica).
Tudo quanto o docente faz na sala de aula incide na formação dos alunos (maneiras de organizar a aula, o tipo de incentivo, as expectativas os materiais, etc).
Os objetivos educacionais são imprescindíveis e úteis para realizar a análise global do processo educacional, mas quando nos situamos no âmbito da aula, e concretamente, numa unidade de análise válida para entender a prática que nela acontece, temos que buscar instrumentos mais definidos.
Para responder às perguntas: “por que ensinar?” e “o que ensinamos?” utilizamos os conteúdos da aprendizagem com certas restrições.
2.2. O papel dos conteúdos
O termo “conteúdo” constitui-se em elemento de discussões no contexto escolar. Falar em conteúdo é lembrar a “escola conteúdista”, “escola tradicional”. Foi utilizado para expressar aquilo que se deve aprender, mas em relação quase exclusiva aos conhecimentos das matérias ou disciplinas clássicas e, habitualmente, àqueles que se expressam no conhecimento de nomes, conceitos, princípios, enunciados e teoremas.
Ainda hoje, as escolas que privilegiam a aprendizagem dos conteúdos, são consideradas “fortes”. Entretanto, na avaliação do papel que os conteúdos devem ter no ensino existente nas concepções que entendem a educação como formação integral, o uso dos conteúdos como única forma de definir as intenções educacionais recebe muitas críticas.
De acordo com ZABALLA (1998), o termo conteúdo deve ser entendido, como tudo quanto se tem que aprender, para alcançar determinados objetivos que abrangem tanto as capacidades cognitivas, como também incluem as demais capacidades.
Deste modo, os conteúdos de aprendizagem não se reduzem unicamente às contribuições das disciplinas ou matérias tradicionais, mas todos os conteúdos de aprendizagem que possibilitam o desenvolvimento das capacidades motoras, afetivas, de relação interpessoal e de inserção social.
Segundo César Coll (1986), os conteúdos são agrupados de acordo com a sua tipologia:conceituais procedimentais ou atitudinais. Esta classificação corresponde às perguntas: “o que se deve saber?”, “o que se deve saber fazer?”, “por que ensinar?”.
Esses conteúdos nunca se encontram de modo separado, fragmentados, mas de forma integrada nas estruturas do conhecimento.
A distribuição da importância dos conteúdos não é a mesma em cada uma das etapas da escolarização. Ocorre uma distribuição mais equilibrada dos diversos conteúdos nos cursos iniciais ou que se dê prioridade aos procedimentais e atitudinais acima dos conceituais. À medida que se vai avançando nos níveis de escolarização aumenta o valor dos conteúdos conceituais em detrimento dos procedimentais e atitudinais. 
A tipologia de conteúdos pode servir de instrumento para definir as diferentes posições sobre o papel do ensino. Portanto, num ensino que propõe a formação integral, a presença dos diferentes conteúdos estará equilibrada; por outro lado, um ensino que defende a função propedêutica universitária priorizará os conceituais.

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