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Biosfera, intervencoes antropicas 2015

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1 
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA 
CENTRO DE CIENCIAS BIOLOGICAS 
DEPARTAMENTO DE ECOLOGIA E ZOOLOGIA 
DISCIPLINA: ECZ-5112 
BIOSFERA, SUSTENTABILIDADE E PROCESSOS PRODUTIVOS 
PROFª PAULA BRÜGGER 
 
I. BIOSFERA, INTERVENÇÕES ANTRÓPICAS E SUSTENTABILIDADE 
Área equivalente à do Brasil pode estar degradada até 2050: 
Relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) alerta que o mundo pode 
ter 849 milhões de hectares - área equivalente ao Brasil - degradados até 2050 se os padrões atuais 
de uso da terra forem mantidos. A necessidade de produzir alimentos para uma população global em 
crescimento levou a agricultura a ocupar 30% das terras do mundo, o que resultou em degradação e 
perda de biodiversidade em 23% dos solos. O crescimento da renda e da urbanização faz com que 
as pessoas adotem dietas mais ricas em carne, o que exige mais terra para a pecuária. A crescente 
demanda por biocombustíveis também aumenta a necessidade de mais áreas cultiváveis. 
http://noticias.terra.com.br/ciencia/area-equivalente-a-do-brasil-pode-estar-degradada-ate-2050-
alerta-pnuma,44bae2b1f51c3410VgnCLD2000000ec6eb0aRCRD.html 
 
Segundo outro estudo, enquanto na Europa e EUA o consumo de carne vem estagnando, nos países 
em desenvolvimento, ele aumenta – impulsionado sobretudo pela crescente classe média. 
http://noticias.ambientebrasil.com.br/clipping/2014/01/14/101763-ambientalistas-alertam-para-perigos-do-
aumento-no-consumo-de-carne.html 
 
Entre 1960 e 2006 a população mundial cresceu 2,2 vezes, enquanto o consumo cresceu 6 vezes, 
ou seja, os gastos por pessoa praticamente triplicaram nos últimos 50 anos. Os 16% mais ricos são 
responsáveis por cerca de 78% do consumo mundial, enquanto os 84% restante s são responsáveis 
por apenas 22% do total (O Estado do Mundo 2010 – World Watch Institute). 
Consumo ultrapassou capacidade de renovação que a Terra poderia oferecer em 2013 
A cota de recursos naturais que a natureza poderia oferecer em 2013 se esgotou em 20 de agosto. 
O cálculo é da Global Footprint Network (Rede Global da Pegada Ecológica) . O levantamento 
compara a demanda sobre os recursos naturais empregados na produção de alimentos e o uso de 
matérias-primas com a capacidade da natureza de regeneração e de reciclagem dos resíduos, a 
chamada pegada ecológica. Em menos de 8 meses, o consumo global exauriu tudo o que a natureza 
consegue repor em um ano e, entre setembro e dezembro, o planeta vai operar no vermelho, o que 
causa danos ao meio ambiente. No início dos anos 1960 a humanidade empregou apenas cerca de 
2/3 dos recursos ecológicos disponíveis no planeta. Esse panorama mudou na década seguinte, 
quando o aumento das emissões de CO2 e a demanda humana por recursos naturais passaram a 
exceder a capacidade de produção renovável do planeta. Atualmente, mais de 80% da população 
mundial vivem em países que usam mais recursos do que seus próprios ecossistemas conseguem 
renovar. Os japoneses. p.ex, consomem 7,1 vezes mais do que têm e seriam necessárias 4 “It álias” 
para abastecer os italianos. O Brasil aparece ao lado das nações que ainda são credoras 
ambientais, mas isso está mudando. O país tem uma grande riqueza natural que está sob pressão 
devido ao aumento populacional e aos padrões de consumo. As pessoas podem fazer sua parte. 
Reduzir o desperdício de água e energia, o consumo de carne bovina e de alimentos altamente 
processados, usar mais transporte coletivo e adquirir produtos certificados são atitudes 
recomendadas.http://noticias.ambientebrasil.com.br/clipping/2013/08/26/97485-consumo-ultrapassou-
capacidade-de-renovacao-que-a-terra-poderia-oferecer-em-2013.html 
 
 
 
 2 
I.1 - Produção e decomposição: 
 
 A vida na superfície da Terra se caracteriza por ciclos quer da energia, quer da 
matéria. Essas são as relações dinâmicas que existem entre os vários organismos e 
entre os organismos e o meio, através de transformações sucessivas. 
Todo ano milhões de toneladas de matéria orgânica são produzidas na Terra 
por organismos fotossintéticos. Uma quantidade aproximadamente igual é oxidada, 
voltando a constituir CO2 (gás carbônico) e H20 (água) durante o mesmo intervalo de 
tempo, como resultado da atividade respiratória dos organismos vivos. Porém, o 
balanço não é exato. Durante grande parte do tempo geológico (pelo menos desde o 
início do Cambriano, há cerca de 540 milhões de anos atrás), uma fração muito 
pequena, porém significativa, da matéria orgânica produzida é incompletamente 
decomposta em sedimentos anaeróbicos, ou é enterrada e fossilizada sem nunca ser 
―respirada‖ ou decomposta. Essa fração de matéria orgânica não decomposta 
possibilitou a formação do que chamamos combustíveis fósseis, os quais vêm sendo 
intensamente utilizados pela sociedade industrial. 
Em escala de tempo geológico, a fotossíntese é responsável pela produção de 
oxigênio e ajuda na manutenção do equilíbrio de dióxido de carbono na a tmosfera. 
Mas a sua importância mais imediata é a de ser essencial à produção de matéria 
orgânica para a sustentação da vida. 
 
A atividade fotossintética, realizada pelos vegetais verdes, retira da atmosfera 
continuamente o CO2 e produz O2, enquanto que a atividade respiratória retira-lhe 
O2, e enriquece-a com CO2. Da mesma forma, muitas bactérias e outros 
microrganismos, da água ou do solo, consomem O2 e produzem CO2 nas reações de 
decomposição que restituem carbono ao meio. 
 
A decomposição, como um todo, resulta de processos tanto bióticos quanto 
abióticos. A decomposição orgânica constitui uma das mais importantes atividades 
biológicas em nosso planeta. Se considerarmos o processo de uma forma ampla, 
podemos constatar que toda a biota está envolvida em processos de decomposição. 
Os animais, por exemplo, ao se alimentarem para suprir suas necessidades vitais, 
estão também realizando parte desse processo de decomposição, pois, o alimento, ao 
passar pelo tubo digestivo desse animal, resulta na liberação de CO 2 e H20, como 
produtos finais do metabolismo respiratório. Devemos considerar ainda que seus 
dejetos serão decompostos por outros organismos. 
 
A existência e a sobrevivência dos seres humanos e milhares de outras 
espécies estão na dependência da continuidade de formas de vida mais ―primitivas‖ e 
microscópicas, tais como bactérias e muitos outros organismos que integram os 
ciclos da matéria e da energia na natureza. A putrefação de cadáveres no solo, a 
fermentação de alimentos ou do lixo, a decomposição de folhas, etc, são todos 
processos de decomposição orgânica realizados por microorganismos. Na verdade 
nada mais são do que processos naturais de nutrição e respiração. A decomposição 
biológica é um processo de assimilação. Pode-se dizer que o que é assimilável é 
decomponível biologicamente, ou seja, biodegradável — e o que não é assimilável é 
recalcitrante (não biodegradável). 
 
Há, pois, em torno de nós, uma intensa atividade biológica que não vemos 
mas cujos resultados são facilmente percebidos: A formação de substâncias húmicas 
(recalcitrantes naturais), a putrefação de alimentos mal conservados, etc. A 
propósito, a baixa degradabilidade das substâncias húmicas se deve à sua natureza 
química. São condensações de compostos aromáticos (fenóis) combinados com 
produtos da decomposição de proteínas e polissacarídeos. O tipo fenólico de anel de 
benzeno e as ligações das cadeias laterais tornam esses compostos resistentes à 
 3 
decomposição microbiana. Ironicamente muitas substâncias tóxicas acrescentadas ao 
ambiente natural, como pesticidas e certos efluentes industriais, são derivadas do 
benzeno e causam sérios problemas devido à sua baixa degradabilidade e alta 
toxicidade. 
A poluição química a que estamos sujeitos hoje não conhece fronteiras ou barreiras geográficas. Muitos 
compostosquímicos cujos efeitos nocivos acreditava-se serem bem conhecidos começam a revelar 
novas facetas até então não imaginadas. Esse é o caso dos químicos que atuam como disruptores 
endócrinos. Eles afetam adversamente o sistema imune, endócrino e reprodutivo, causam infertilidade, 
câncer e malformações congênitas em seres humanos e provocam mudanças de sexo em animais 
machos selvagens. Tudo isso se encontra fartamente documentado em estudos tanto epidemiológicos, 
quanto provenientes de outras fontes. Esses químicos - alguns dos quais já reconhecidos como 
poluentes orgânicos persistentes (POPs) - estão muito presentes no nosso cotidiano como nos 
plásticos de diversos tipos (inclusive de embalagens de alimentos), detergentes, revestimentos internos 
de enlatados, resinas e selantes dentários, tintas, pesticidas, e uma infinidade de outros itens. Eles 
estão no ar, na água e nos alimentos que ingerimos. Os cientistas destacam ainda que os efeitos 
aditivos desses compostos é maior que a soma de suas partes, ou seja, somente dentro da perspectiva 
sistêmica pode-se entender seus efeitos nefastos (Brügger, 2004b, p.103-104). Também digno de nota 
é o fato de 41% das espécies de rãs e sapos estão em risco de extinção por causa de pesticidas. A 
União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) culpa a perda de habitat, a poluição, 
incêndios, as mudanças climáticas, doenças e a superexploração da terra. Mas um novo estudo, 
publicado na Scientific Reports, destacou que os anfíbios são especialmente vulneráveis a estes 
produtos químicos porque sua pele é altamente permeável. “A toxicidade demonstrada é alarmante e 
um efeito negativo em larga escala da exposição terrestre a pesticidas nas populações de anfíbios 
parece provável” (25/01/2013) http://noticias.ambientebrasil.com.br/clipping/2013/01/25/91002-estudo-
culpa-pesticidas-por-queda-na-populacao-de-anfibios.html 
Além dessas substâncias de baixa degradabilidade, o Homo sapiens industrial 
tem introduzido na natureza grandes quantidades de substâncias biodegradáveis que, 
devido ao seu enorme volume, têm tornado insuficiente a atuação dos processos 
naturais de ―digestão‖. Bons exemplos são o lixo urbano e os dejetos orgânicos 
provenientes de esgotos e instalações industriais como granjas, abatedouros etc. 
 
Calcula-se que Santa Catarina (SC) produziu 19,01 milhões de m3 de dejetos de suínos - 
fezes e urina, e 835.810,9 toneladas de cama de aviário, o que significa dizer que SC 
acumulou o equivalente a dejetos de mais de 23 milhões de humanos, somente com o abate 
de suínos no ano de 2001 - quase 5 vezes o número de habitantes humanos do estado*. 
http://www.vegetarianismo.com.br/sitio/index.php?option=com_content&task=view&id 
 
No Brasil, se forem excluídas as emissões de gases do efeito estufa (GEE) geradas pelas 
queimadas e desmatamentos, a pecuária (gado de corte e de leite) torna -se a maior fonte 
emissora, com mais de 42% das emissões (Schlesinger, 2010, p.57). Relativamente à 
agricultura, a pecuária emite um volume de GEE cerca de 40 vezes maior para produzir uma 
unidade do PIB (Zen, 2008, apud Schlesinger, 2010, p.72). 
 
Segundo relatório da ONU, uma mudança global para uma dieta vegana é vital para salvar o 
mundo da fome, da escassez de combustíveis e dos piores impactos das mudanças 
climáticas. A agricultura, sobretudo carne e laticínios, é responsável por 70% da água doce 
do planeta, 38% do uso da terra, e 19% da emissão de GEE 
http://portugalmundial.com/2014/03/onu-recomenda-mudanca-global-para-dieta-sem-carne-
e-sem-laticinios/=344&Itemid=39 
 
A criação de animais, em seu conjunto, é responsável por 12% do consumo de água no 
Brasil, uma demanda superior a do uso urbano (10%) e industrial (7%). Além disso, os 
abatedouros paulistas utilizam 2,6 mil litros de água para processar cada carcaça bovina 
 4 
(Schlickmann & Schauman, 2007, apud Schlesinger, 2010, p.66-67) 
 
Nos últimos 60 anos a população mundial duplicou. No mesmo período o consumo de água pelas 
diferentes atividades humanas aumentou em 7 vezes. Acentuou-se, na mesma proporção, a 
degradação desse recurso fundamental para todas as formas de vida. A deterioração e o uso excessivo 
têm relação direta com o crescimento e a diversificação das atividades agrícolas e industriais, o 
aumento da urbanização e a intensificação das ações humanas nas bacias hidrográficas. A combinação 
da poluição dos mananciais com o desperdício, além das limitações naturais em certas regiões do 
planeta, é a principal razão de a escassez já ser um problema, em especial, nas grandes cidades 
(Haverá água para todos? Marussia Whately 
22/03/2010;http://operamundi.uol.com.br/opiniao_ver.php?idConteudo=1076) 
 
 A poluição pode ser então quantitativa, ou seja, por excesso de substâncias 
biodegradáveis; ou qualitativa, quando se trata de substâncias que apesar da pequena 
quantidade, são extremamente tóxicas. 
Não é difícil entender porque os processos de reciclagem devam se projetar 
como metas prioritárias em sociedades industriais. ―Contudo é preciso observar que 
a ―pedagogia dos 3Rs‖ estabelece uma hierarquia: ―1) Reduzir; 2) Reutilizar; e 3) 
Reciclar‖. O respeito a essa hierarquia costuma acarretar, entretanto, prejuízos 
econômicos pois, ―redução e reutilização‖, funcionam como freios no processo 
produtivo. É também impressionante o fato de a indústria de embalagens funcionar 
como um dos principais termômetros da economia 
(http://www.plastico.com.br/reportagem.php?rrid=88).Embalagens retornáveis são 
ecologicamente corretas, mas economicamente indesejáveis no que tange aos 
interesses dos fabricantes pois tendem a provocar uma forte queda nas vendas de 
muitos produtos, uma vez que poucas pessoas andariam com garrafas de vidro em 
suas bolsas, ou no porta-malas de seus automóveis. A reciclagem é portanto uma 
bandeira forte no setor empresarial porque a implementação dos dois prime iros ―Rs‖ 
seria desastrosa economicamente, dentro da lógica do contexto dominante‖. 
 
A reciclagem de latas de alumínio é um exemplo emblemático de vantagem para as 
empresas. O Brasil hoje é o líder mundial de reciclagem de latas de alumínio, mas essa 
liderança não se deve a uma conscientização ecológica e sim a questões de ordem 
econômica. Enquanto prestam um grande serviço à sociedade em troca de uma migalha em 
termos de retorno financeiro, os catadores de lixo de alumínio economizam para a indústria 
uma substancial soma de dinheiro via economia de energia (Brügger, 2004a, p.99 -100). 
 
I.2 - Ciclos biogeoquímicos e suas alterações: 
 
A energia que recebemos do sol atravessa constantemente os ecossistemas 
terrestres. No entanto, os ecossistemas não possuem qualquer fonte extraterrestre de 
carbono, nitrogênio, fósforo ou potássio, por exemplo, e muitos outros elementos 
indispensáveis à vida. Esses elementos devem ser reciclados permanentemente 
através dos ecossistemas, em vias características: do ambiente aos organismos e 
destes novamente ao ambiente. Essas vias mais ou menos circulares, chamam -se 
ciclos biogeoquímicos. 
Cada ciclo pode ser didaticamente dividido em dois compartimentos: 
O pool reservatório, componente maior, de movimentos lentos e 
geralmente não biológico; 
E o pool de ciclagem, menor, porém mais ativo, que se permuta 
rapidamente entre os organismos e o meio.Os ciclos biogeoquímicos podem ainda ser 
 5 
classificados em gasosos (onde o reservatório está na atmosfera , hidrosfera, ou 
ambos) e sedimentares (onde o reservatório encontra-se na crosta terrestre). 
 
Os ciclos biogeoquímicos gasosos como o do carbono, nitrogênio ou oxigênio 
ajustam-se mais rapidamente a perturbações por causa dos grandes reservatórios 
atmosféricos, oceânicos ou ambos. Os aumentos locais na produção de CO2 por 
combustão, por exemplo, tendem a ser rapidamentedissipados por movimentos 
atmosféricos, sendo o aumento dessa produção compensado pelo aumento de 
absorção pelas plantas no processo de fotossíntese e formação de carbonatos no mar. 
Os ciclos gasosos são então considerados menos passíveis de perturbação, em termos 
globais, devido à sua maior capacidade de se ajustarem às mudanças. 
Entretanto, existem limites quanto a essa capacidade de ajuste. É bom 
lembrar, por exemplo, que a destruição de florestas em todo o mundo e o massivo 
lançamento de CO2 na atmosfera (devido à queima de combustíveis fósseis e outras 
atividades industriais), tornam esse ajuste menos viável. Vejamos estas matérias: 
 
Demanda por carne e soja aumenta pressão sobre a Amazônia 
O aumento da demanda externa por carne bovina e soja vai induzir o Brasil a desmatar mais a floresta 
amazônica, revertendo o sucesso recente na diminuição das perdas florestais, mostrou um estudo divulgado em 
04/04/2013. Cerca de 30% do desmatamento no Brasil na primeira década deste século ocorreram porque 
agricultores e pecuaristas procuraram terras para expandir a produção de carne e soja para exportação, contra 
cerca de 20 por cento na década de 1990, disse o relatório.“O comércio está emergindo como o principal motor 
do desmatamento no Brasil”, de acordo com especialistas do Centro de Pesquisas Internacionais sobre Clima e 
Meio Ambiente. “Isso pode contribuir indiretamente para a perda das florestas que os países industrializados 
estão tentando proteger por meio de acordos internacionais”, escreveram eles na revista Environmental 
Research Letters. As exportações de carne bovina e soja responderam por 2,7 bilhões de toneladas de emissões 
de carbono causadas pelo desmatamento no Brasil na década de 2010, disse o relatório. Isso excede as 
emissões de gases de efeito estufa de uma nação como o Egito, no mesmo período. Mundialmente, o 
desmatamento representa até um quinto das emissões de gases do efeito estufa de origem humana, de acordo 
com estimativas da ONU (Agência Brasil: http://noticias.ambientebrasil.com.br/clipping/2013/04/05/93078 -
demanda-externa-por-carnes-e-soja-aumenta-pressao-sobre-amazonia.html 
Desmatamento cresce na Amazônia (Greenpeace) 
A parceria com a bancada ruralista começa a passar uma amarga fatura para o governo Dilma: o desmatamento 
da floresta amazônica, que demorou tanto para começar a ser controlado, mostra sinais evidentes de subida. 
Segundo dados do Deter, em maio de 2013 a Amazônia perdeu 46,5 mil hectares de floresta, quase a área da 
cidade de Porto Alegre. Isso representa um aumento de mais de 400% em comparação com o mesmo período 
de 2012. Isso tudo com uma cobertura de nuvens de 42% sobre a Amazônia Legal, o que prejudica a detecção 
de focos de desmatamento pelos satélites. E mais: o Deter só identifica corte raso em áreas médias e grandes - 
as pequenas e fragmentadas, que se tornaram frequentes para justamente sumirem aos olhos do satélite, não 
entram nessa conta. Segundo Kenzo Jucá (Greenpeace), “o governo Dilma cedeu aos ruralistas e, em nome de 
um modelo atrasado e predador de desenvolvimento, avança sobre unidades de conservação e territórios 
indígenas”. No acumulado de agosto de 2012 a maio de 2013, o país perdeu 233,8 mil hectares de floresta – um 
aumento de 35% em comparação com o mesmo período do ano anterior. A pressão não poupa nem unidades de 
conservação (UCs) e terras indígenas (TIs), que são alvo atual dos ruralistas. Em maio, o Deter viu 5,4 mil 
hectares de florestas desmatadas em UCs e 8,9 mil hectares em TIs. Os Estados campeões foram Mato Grosso, 
com 27,7 mil ha, seguido de Pará (13,4 mil), Amazonas (3,3 mil), Tocantins (900), Rondônia (770) e Maranhão 
(440).http://www.greenpeace.org/brasil/pt/Noticias/Dilma-poe-mais-essa-na-
conta/?utm_source=SilverpopMailing&utm_medium=email&utm_campaign=Transicao_20130710_DZ%20%282%29&utm_content= 
 
 
 6 
 Os ciclos sedimentares que envolvem elementos como o fósforo e o fe rro, 
tendem a ser muito menos estáveis e são, portanto, mais afetados por perturbações 
locais, porque a grande massa de material está no reservatório relativamente inativo e 
imóvel da crosta terrestre. 
 
Aceleramos tanto o movimento de muitos materiais que, ou os ciclos tendem 
a se tornar imperfeitos, ou o processo se torna acíclico, resultando em carências em 
um lugar e excessos em outros. Por exemplo, mineramos e processamos a rocha de 
fosfato com tanta negligência que criamos séria poluição local perto das minas e 
usinas de fosfato. Depois, com igual ―miopia‖ aguda aumentamos a entrada de 
fertilizantes fosfatados em sistemas agrícolas, sem controlarmos de modo algum o 
aumento inevitável da quantidade que escoa, prejudicando gravemente a qua lidade 
das águas de rios e outros corpos d’água. 
Os mecanismos de devolução do fósforo, por exemplo, podem ser insuficientes 
para compensar a perda. Em algumas partes do mundo não está havendo, atualmente 
uma elevação extensiva de sedimentos; e o transporte de peixes do mar para a terra, 
não é suficiente para compensar o fósforo que flui da terra para o mar. É relevante 
observar também que a pesca excessiva (na tentativa de ―reaver‖ o fósforo perdido) 
tem graves conseqüências no ambiente marinho. 
 
Pesca e poluição ameaçam esgotar os mares até 2048: 
 
Ostras, mariscos, bacalhau e até espetinhos de peixe frito poderão virar uma memória 
distante em poucas décadas se a tendência atual de pesca predatória e poluição dos mares 
continuar. Populações de praticamente todos os frutos do mar entrarão em colapso por volta 
de 2048, segundo pesquisa publicada na Science. Embora o foco do estudo tenha sido o 
oceano, já se manifestaram preocupação com espécies de água doce também. “Neste 
momento, 29% das espécies de peixes e frutos do mar entraram em colapso, ou seja, o 
rendimento da pesca caiu mais de 90%”, alerta Worm. Pesquisadores pedem mais reservas 
marítimas, um gerenciamento mais eficiente para evitar a pesca excessiva e um controle 
mais rígido para a poluição (http://noticias.ambientebrasil.com.br/clipping/2006/11/03/27641 -pesca-e-
poluicao-ameacam-esgotar-os-mares-ate-2048.html); Veja também: http://urbantimes.co/2012/04/the-state-of-
the-oceans-an-interview-with-dr-boris-worm/ 
 
 
Segundo o Panorama da Biodiversidade Global 3 – GBO3 (2010; p.80), a procura por frutos do mar 
continua a crescer com o aumento da população e com mais pessoas tendo renda suficiente para 
incluí-los em sua dieta. Estoques pesqueiros continuam sob pressão e a aqüicultura se expande. A 
crescente tendência da extensão da exploração pesqueira para toda a cadeia alimentar marinha, dos 
predadores de topo para os demais níveis tróficos, ocorre às custas da biodiversidade marinha. As 
mudanças climáticas fazem com que as populações de peixes se redistribuam em direção aos polos e 
os oceanos tropicais se tornem comparativamente menos diversificados. A acidificação do oceano 
enfraquece a capacidade de moluscos, crustáceos, corais e fitoplânctons marinhos formarem seus 
esqueletos, ameaçando destruir a cadeia alimentar marinha, bem como as estruturas de recifes. As 
descargas crescentes de nutrientes e de poluição aumentam a incidência de zonas costeiras mortas, e 
o aumento da globalização cria mais danos por espécies exóticas invasoras transportadas em águas de 
lastro de navios. 
 
Há mais ou menos 20 anos cerca de 1/5 dos estoques de peixes encontravam-se 
superexplorados; essa cifra subiu para 40%. A degradação da terra hoje afeta cerca de ¼ da 
superfície terrestre em graus e extensão variados e vem crescendo em torno de 1% ao ano 
desde a década de 1980 (Rumo a uma Economia Verde: Caminhos para o Desenvolvimento Sustentável e 
a Erradicação da Pobreza/UNEP, 2011) 
 7 
Golfo do México pode ter área tóxica do tamanho de Sergipe, diz NOAA (28/06/2013) 
A zona morta do Golfo do Méxicopode alcançar este ano uma extensão recorde de águas 
sem O2 devido à contaminação (dados da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica - 
(NOAA). As zonas mortas, tóxicas para a vida marinha, são geradas pela contaminação 
excessiva da água com o transporte de nutrientes usados na agricultura. Quando há pouco 
O2 na água, a maior parte da vida marinha que permanece perto do fundo do mar não 
consegue sobreviver.De acordo com a NOAA, a zona morta do Golfo do México pode 
alcançar 22.171 km², área pouco maior que o estado do Sergipe. Nos últimos 5 anos, a zona 
morta do Golfo ocupou, em média, 14.504 km². A NOAA informou que a zona morta do Golfo 
do México afeta a pesca “comercial e recreativa e põe em risco a economia da 
região”http://noticias.ambientebrasil.com.br/clipping/2013/06/28/95718 -golfo-do-mexico-pode-ter-
area-toxica-do-tamanho-de-sergipe-diz-noaa.html 
 
 Outro fato é que, embora as aves marinhas desempenhem um papel importante 
na devolução do fósforo para o ciclo (considere os fabulosos depósitos de guano na 
costa do Peru), essa transferência não mais ocorre na velocidade em que ocorria no 
passado. 
Da mesma forma que alteramos o ciclo do fósforo e do carbono, outros ciclos 
naturais vêm sendo drasticamente alterados. Tanto o ciclo do nitrogênio como o do 
enxofre vêm sendo cada vez mais afetados pela poluição atmosférica industrial. Os 
óxidos de nitrogênio (N2 O e NO ) e de enxofre (SO2), ao contrário dos nitratos e dos 
sulfatos, são tóxicos em diversos graus. Normalmente, constituem apenas etapas 
transitórias nos seus respectivos ciclos, estando presentes em concentrações muito 
baixas na maioria dos ambientes. A queima de combustíveis fósseis, entretanto, 
aumentou a concentração desses óxidos voláteis na atmosfera, principalmente nas 
áreas urbanas, a ponto de afetarem adversamente componentes bióticos dos 
ecossistemas. Esses óxidos constituem cerca de 1/3 dos poluentes atmosfér icos 
industriais liberados nos EUA e em muitos lugares são causadores da chuva ácida. 
Alteração nos ciclos de carbono e nitrogênio preocupa pesquisadores (02/07/2014) 
Para atender à crescente demanda por alimento e energia, a humanidade vem alterando o ciclo de dois 
importantes nutrientes para a vida no planeta: o nitrogênio e o carbono. Entre os efeitos indesejáveis da 
mudança estão a chuva ácida, o aumento na concentração de gases-estufa na atmosfera e a consequente 
elevação da temperatura global. http://noticias.ambientebrasil.com.br/clipping/2014/07/02/106668-alteracao-nos-
ciclos-de-carbono-e-nitrogenio-preocupa-pesquisadores.html 
http://noticias.ambientebrasil.com.br/clipping/2013/04/15/93362-cientistas-alertam-para-
desequilibrio-de-nitrogenio-na-america-latina.html 
 
Um outro exemplo lamentável é o do estrôncio-90, subproduto da fissão do 
urânio, que tende a entrar no ciclo do cálcio. O tecido hematopoiético da medula 
óssea é particularmente sensível à radiação beta do estrôncio-90. 
Os sistemas ecológicos são dinâmicos e têm estado em constante evolução 
desde os primórdios da vida. Eles se alteram em resposta às modificações das 
condições físicas, químicas, etc, e diante de novas informações genéticas. 
Se não houvessem essas contínuas alterações, também não ocorreriam os 
fenômenos de adaptação e seleção que resultaram na grande diversidade que 
conhecemos hoje. Mas o homem industrial se tornou um poderoso agente geológico. 
Assim, o objetivo da conservação dos recursos da natureza, estritament e falando, é 
tornar mais cíclicos os processos que tornamos acíclicos. Isso implica em rever 
 8 
muitos de nossos hábitos de consumo, incluindo, é claro, diversos processos 
produtivos a eles associados. 
 
II. RECURSOS NATURAIS E ECOSSISTEMAS 
 
Nossa sociedade industrial vem explorando e perturbando componentes dos 
ecossistemas e suas funções. Tem feito maior uso dos ecossistemas em relação a 
outras sociedades e aos outros animais, porque estes usos são muito mais 
diversificados, uma vez que não se restringem à satisfação de necessidades, mas 
também visam a atender desejos hedonistas (i.e aqueles que buscam a gratificação 
imediata, individual, como única e possível forma de vida moral, evitando tudo o que 
possa ser desagradável) 
 
Mas, afinal, o que é um recurso natural? O significado há longo tempo aceito 
é que recurso é estoque de material de uso ou valor para o homem. Os recursos 
naturais são ainda os materiais não alterados disponíveis na litosfera, hidrosfera e 
biosfera, que através de outros recursos (como capital e trabalho, por exemplo) 
podem ser explorados e utilizados para gerar riqueza. Como vemos, trata -se de uma 
visão bastante instrumental da natureza. 
É comum se dividir os recursos em materiais orgânicos e inorgânicos, sendo 
os primeiros renováveis e os segundos não renováveis, em geral, disponíveis apenas 
em quantidades fixas e finitas. Mas tal divisão é muito problemática, pois seri a um 
erro crasso considerar um jequitibá de 300 anos como um recurso renovável! 
 
Na verdade, todos os recursos naturais são renováveis, pois são parte de ciclos 
naturais (geológicos, sedimentares, hidrológicos, oceânicos, atmosféricos e 
biológicos). Mas o fato é que ciclos naturais têm durações variadas. Somente 
recursos baseados em ciclos de curta duração podem se auto-renovar dentro de um 
espaço de tempo compatível com seu aproveitamento pelos seres humanos em seus 
processos produtivos. 
Assim de forma geral, todos os recursos biológicos, junto com vários físicos - 
como água e energia solar - podem ser incluídos como renováveis. Alguns recursos 
como combustíveis fósseis e metais formam-se tão lentamente que, do ponto de vista 
humano, os limites de suprimento são considerados como fixos. Estes são, pois, não 
renováveis. 
 
Mas a desvantagem dessa divisão didática simplista é que ela não mostra 
adequadamente a complexa troca entre os componentes renováveis e não renováveis e 
que também, há limites para a quantidade de recursos renováveis que podem ser 
produzidos. Os recursos renováveis podem ser modificados, esgotados, conservados 
ou ―aumentados‖ pelas ações humanas. 
Desde que a Terra é um sistema fechado, exceto pela entrada de radiação solar 
e cósmica, o aumento de recursos renováveis se faz a custa de gastos de outros 
recursos essenciais e não renováveis. Culturas agrícolas, por exemplo são recursos 
renováveis a curto prazo e aumentam ou são mantidas às custas de recursos não 
renováveis como fertilizantes, energia fóssil e solo. 
O processo de exploração de recursos não renováveis interfere com ciclos de 
recursos renováveis a curto prazo, como água e ar, dos quais dependem todos os 
recursos biológicos. 
 
II.1 -Avaliação de recursos: 
 
Por definição, a existência de um recurso depende basicamente de seu valor 
humano (eis aqui, mais uma vez, um traço marcante do antropocentrismo e de um a 
ética ecológica rasa). A avaliação de recursos é difícil, pois se baseia em variáveis 
 9 
interdependentes, que sempre se alteram. Para criar recursos, o ser humano emprega 
habilidades tecnológicas e organizacionais. Entretanto suas ações podem ser 
restringidas por resistências ecológicas (como poluição) e dificuldades técnicas para 
exploração do recurso, passando-o novamente à condição de estoque na natureza. 
 
A utilização de um recurso depende da oferta e da demanda que são 
determinadas por condições sócio-econômicas. Desse modo a relação entre um 
estoque de material e um recurso é reversível. De acordo com habilidades técnicas ou 
científicas, um estoque pode gradualmente ou subitamente se tornar um recurso e o 
que foi um recurso, pode voltar a ser um estoque. 
Os recursos não têm valores nem absolutos nem constantes desde que são 
função de um conjunto de variáveis interdependentes que mudam com o tempo. 
Dependendodo tipo de exploração do recurso ele pode ser ―aumentado‖ ou 
―diminuído‖. O valor de um recurso depende, pois, da extensão de sua utilidade ou 
de quanto é desejável e de quanto é possível modificar o ecossistema a ele associado. 
 
 
II.2 - Conservação de recursos naturais: 
 
As intervenções antrópicas da sociedade industrial têm deixado poucos locais 
na Terra não sujeitos aos nefastos efeitos diretos ou indiretos de tais ações. Uma 
série de reações em cadeia têm se desenvolvido, estendendo-se por áreas cada vez 
maiores e persistindo por períodos de tempo muito superiores aos inicialmente 
previstos. Infelizmente, o conhecimento das implicações totais de tais impactos na 
biosfera são ainda incompletos. Entretanto, algumas questões que há pouco eram 
apontadas como meras conjecturas são hoje reconhecidas como problemas graves, de 
dimensão global. 
 E o que vem a ser conservar ? Termo difícil de precisar porque pode abranger 
um amplo espectro de conceitos. Estritamente falando, significa preservar, manter 
intacto ou inalterado. Num contexto mais amplo, significa manejo ou uso sensato. 
A idéia de conservação dos recursos naturais não é nova. Na China, três séculos 
A.C., existiam responsáveis para regular a extração de madeira e manter stands de 
florestas nas montanhas, devido ao alto grau de desflorestamento e erosão dos solos 
em áreas montanhosas. Na Idade Média, a aristocracia demarcava áreas nas quais a 
caça e a exploração de produtos florestais eram para seu uso exclusivo. Dessa forma, 
muitos reis poderiam estar apenas tentando manter um estoque de caça para seu 
próprio uso e diversão. E quanto ao movimento de conservação moderno? Será ele 
isento de interesses desse tipo? (Brügger, 2004a, p.20-29). 
 
O movimento de conservação moderno começou no inicio do século XIX, nos 
EUA, como reação pública à devastação de florestas virgens na parte oeste do 
continente. O estabelecimento de reservas estaduais e federais foi o primeiro passo 
no estabelecimento de parques e florestas nacionais e estaduais. Seca e depressão 
agrícola, nos anos 30’, revelaram o grau de erosão acelerada, conseqüente do cultivo 
nos EUA e outras partes do mundo. Erosão de solo era uma expressão tão forte 
quanto poluição hoje. Em 1934 foi estabelecido o Serviço de Conservação do Solo, 
nos EUA, sendo um dos maiores marcos no desenvolvimento e difusão do 
pensamento conservacionista moderno. Hoje, as discussões sobre ´o que´ e ´como 
conservar´ aumentaram muito, tanto em número, quanto em complexidade. Mas 
também cresceu o nível de devastação, o que nos faz pensar que a visão de mundo 
que permeia o conservacionismo não está dando conta da tarefa a que se propõe. 
 
Na verdade a ética conservacionista moderna encontra-se imersa numa 
racionalidade instrumental, marcada pelo antropocentrismo e pelas ego -ações. Muitas 
atitudes conservacionistas são portanto guiadas pelo medo, por necessidades 
 10 
prementes ou coerção, e não pela liberdade como tomada de consciência. No que 
tange à preservação da vida, a lógica é a mesma: preserva-se genes valiosos, ou seja, 
preserva-se a vida pelo seu valor instrumental, não pelo seu valor intrínseco. Assim, 
todos os componentes da biosfera - sejam eles estoques de materiais, ou seres vivos -
ficam reduzidos a meros recursos, ou seja, meios para se atingir um fim. No que 
tange aos seres vivos sencientes - isto é, capazes de experimentar prazer, dor e outras 
sensações (os animais!)- isso se torna especialmente grave, pois tais seres deveriam 
ser tratados como fins em si mesmos e não como meios, ou recursos (Brügger, 
2004a, p.22). 
 
 
A questão ambiental é hoje uma questão de poder e, assim, grande parte das 
decisões supostamente ―favoráveis ao meio ambiente‖, escondem motivos escusos, 
como interesses econômicos. O conceito de meio ambiente deve ser compreendido 
como um espaço-tempo socialmente instituído, como o resultado das relações entre 
as diversas sociedades e a natureza e não somente como os recursos naturais, 
ecossistemas, ciclos naturais ou os seus distúrbios, como a poluição. Entretanto esse 
conceito naturalista prevalece no mundo ocidental e acaba esvaziando o conteúdo 
político e ético da problemática ambiental, fazendo dela uma questão meramente 
técnica. É preciso estarmos atentos às diversas medidas que hoje são rotuladas como 
―boas para o meio ambiente‖, como a criação de parques e reservas (de forma pontual 
e pouco criteriosa), enquanto se permite a perpetuação de processos produtivos 
altamente impactantes, muitos dos quais, considerados ―bons para a economia‖. 
 
 
II.3 - Conservação de valores biológicos, ecológicos e científicos: 
 
O uso crescente de recursos orgânicos tem acarretado uma diminuição de 
valores ecológicos na biosfera. Há um favorecimento de espécies ―cultivadas‖ pelo 
homem às custas de outras. Isso acontece desde o início da agricultura e da 
domesticação, mas hoje essa tendência é muito mais acirrada. A caça e a pesca 
predatórias, a poluição e muitas práticas de biotecnologia acentuam essa tendência. 
Mas a atividade hoje mais impactante nesse sentido é a pecuária extensiva e as 
gigantescas áreas do Cerrado e Amazônia destinadas às monoculturas, como a soja. 
 
De acordo o GBO-3, vários ecossistemas podem estar próximos de sofrer mudanças 
irreversíveis, como o rápido desaparecimento de florestas, a proliferação de algas em rios e 
a morte generalizada de corais. A Amazônia é citada como um dos ecossistemas 
ameaçados de atingir esse “ponto de ruptura” (tipping point) - uma situação na qual um 
ecossistema experimenta um deslocamento para um nova situação, com mudanças 
significativas para a biodiversidade e serviços às pessoas que ele sustenta, em uma escala 
regional ou global. As alterações são de longa duração e de di fícil reversão. Continuamos a 
perder biodiversidade em um ritmo nunca visto antes na História. Em 2010, Ano 
Internacional da Biodiversidade, não houve nada a comemorar: nem a meta de redução de 
perda de biodiversidade, nem outras 21 metas subsidiárias – como a redução da perda e 
degradação de habitats - foram cumpridas globalmente. Este cenário sombrio pode ser 
constatado em dados que tratam do desmatamento anual e acumulado na Amazônia 
brasileira; do aumento das zonas mortas marinhas; e das perdas floresta is projetadas até 
2050. Interessante também são os indicadores de biodiversidade e informações sobre 
diversidade cultural e tendência de perda de línguas indígenas. Há ainda a pressão das 
mudanças climáticas sobre a biodiversidade, com efeitos mais devastadores à medida em 
que são associadas à perda de gelo marinho no Ártico e à acidificação dos oceanos, 
resultante de concentrações mais altas de CO2 na atmosfera. Não há sinais de diminuição 
no aumento das pressões sobre a biodiversidade com base em tendências de indicadores 
como a “pegada ecológica”; ao contrário, a maior parte deles mostra tendências negativas. 
 11 
 
Carnívoros em extinção 
Em ecossistemas ao redor do mundo, o declínio de grande predadores como leões, dingos, lobos, 
lontras e ursos tem mudado as paisagens selvagens desde os trópicos até o Ártico. A pesquisa 
descobriu que mais de 75% das 31 grandes espécies de carnívoros estudadas estão em declínio, e 17 
dessas espécies agora ocupam menos da metade do território em que costumavam viver 
anteriormente. A Amazônia está entre as áreas onde diversos animais estão perdendo sua população, 
assim como no sudeste da Ásia e em parte da África. Com algumas exceções, grandes carnívoros já 
foram exterminados de boa parte do mundo desenvolvido, incluindo Europa Ocidental e EUA. “Estamos 
perdendo nossos grandes carnívoros, ironicamente, quando estamos aprendendo sobre seus 
importantes efeitos ecológicos” http://noticias.ambientebrasil.com.br/clipping/2014/01/10/101670-declinio-de-grandes-predadores-representa-risco-a-preservacao-global.html 
II.4 - Conservação de valores estéticos: 
 
É problemático porque valor cênico é subjetivo, dependendo da percepção de 
beleza a qual é condicionada pelo ambiente cultural. Outra dificuldade é reconciliar o 
conflito entre demanda para recreação e aumento de valores biológicos, já que estes 
últimos estão diretamente ligados ao desempenho da economia de um país. A 
conservação de valores estéticos está diretamente ligada ao uso recreacional da 
Terra. E hoje, embora exista uma tendência de valorização de espaços naturais para a 
prática de esportes de aventura e turismo ecológico, por exemplo, ainda prevalece a 
ética da destruição de paisagens naturais para a implantação de ambientes artificiais 
para recreação e lazer, como os grandes shoppings. 
 
Segundo a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), em relatório intitulado 
“Previsões Ambientais da OCDE para 2050″, a perda agregada de biodiversidade e dos benefícios associados 
aos serviços ambientais com a perda global, por exemplo, das florestas é calculada entre US$ 2 trilhões e US$ 5 
trilhões. O relatório retomou os apelos por uma mudança de política. Poluir deveria se tornar mais caro e os 
subsídios aos combustíveis fósseis, danosos ao meio ambiente, deveriam ser reduzidos. Ao contrário, as 
riquezas naturais deveriam ser valoradas monetariamente de forma que seu real valor seja apreciado. “Avanços 
com base em implementações ou reformas feitas ao cenário atual nas próximas décadas não serão suficientes”. 
(Fonte: G1; 16/03/2012) 
Bibliografia citada e de interesse 
 
BRÜGGER, Paula. Educação ou adestramento ambiental? 3ªed. Chapecó: Argos; Florianópolis: Letras 
Contemporâneas, 2004a. 
BRÜGGER, Paula. Amigo Animal – reflexões interdisciplinares sobre educação e meio ambiente: animais, 
ética, dieta, saúde, paradigmas. Florianópolis: Letras Contemporâneas, 2004b. 
EHRLICH, Paul R. & EHRLICH, A.H. População Recursos e Ambiente . São Paulo: EDUSP/Polígono, 1974. 
ODUM, Eugene P. Ecologia. 1ª ed. Rio de Janeiro: Interamericana, 1985. 
SCHLESINGER, Sérgio. Onde pastar? O gado bovino no Brasil. Rio de Janeiro, FASE, 2010. 
STRAHLER, Arthur N. & STRAHLER. Alan H. Introduction to Environmental Science . California: Santa 
Barbara, 1974: 235-260. 
TIVY, Joy. Human Impact on the Ecosystem . Nova Iorque: Oliver & Boyd, 1981:170-189. 
A Biosfera. Texto do Scientific American , trad. Prof. Luiz Roberto Tommasi. São Paulo: EDUSP, 1974. 
 
O Panorama da Biodiversidade Global 3GBO-3 
Destaques do relatório ―Rumo a uma Economia Verde: Caminhos para o Desenvolvimento Sustentável e a 
Erradicação da Pobreza – Uma Síntese para Tomadores de Decisão‖ (UNEP, 21 de fev 2011 )

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