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Quarta, 04/03/09 Aula 02 – Administrativo – Fernanda Marinela Regime jurídico-administrativo Introdução Regime jurídico-administrativo: é o conjunto harmônico de princípios que compõem o direito administrativo; obs.: exige-se que os princípios guardem entre si uma correlação lógica, sejam harmônicos, para que estejam integrados num mesmo regime jurídico; assim, para integrar a lista, é necessário que o princípio seja harmônico com os demais. O rol de princípios é muito polêmico na doutrina; assim, será passada lista com os que mais aparecem. Critério de ponderação dos interesses: de natureza constitucional, esse critério orienta a aplicação, num caso concreto, de princípios em conflito, determinando qual deles deve prevalecer, sem que o outro seja retirado do ordenamento jurídico. Pedras de toque do direito administrativo (CABM): são os 2 mais importantes princípios para CABM: supremacia do interesse público; indisponibilidade do interesse público. Supremacia do interesse público Noção: trata-se da sobreposição do interesse público em face do interesse particular. Desafio: compreender o significado de interesse público; observações: o interesse público não se confunde com: interesse do administrador; interesse do Estado enquanto máquina administrativa; Conceito de interesse público: trata-se do somatório dos interesses individuais, representando a vontade majoritária da sociedade; CABM tem um capítulo inteiro para definir interesse público. Distinção: interesse público primário x interesse público secundário. primário: refere-se efetivamente à vontade do povo, da sociedade; ex.: vontade do povo é pagar IR como consta da lei; secundário: refere-se à vontade do Estado; ex.: vontade do Estado é recolher o máximo de tributos. obs.: os dois devem ser coincidentes; entretanto, em caso de conflito, deve prevalecer o interesse público primário. Observações: trata-se de princípio implícito, não constando expressamente da legislação; todavia, permeia todo o ordenamento jurídico brasileiro; exs.: desapropriação de bens; requisição de bens; cláusulas exorbitantes dos contratos administrativos; auto-executoriedade dos atos administrativos; etc. em nome da supremacia do interesse público, o Administrador pode quase tudo, porém não pode dispor desse interesse público; daí decorre o princípio da indisponibilidade do interesse público; Teoria da desconstrução do princípio da supremacia do interesse público: há corrente minoritária que defende a extinção do princípio da supremacia do interesse público: Marçal Justen Filho: a supremacia do interesse público deveria desaparecer, dado que justifica arbitrariedades e ilegalidades do Administrador Público; entretanto, essa corrente não deve prevalecer, visto que o desaparecimento do princípio da supremacia do interesse público não apagará arbitrariedades; a corrente majoritária sustenta que o problema não é a existência desse princípio, mas sua aplicação indevida. Indisponibilidade do interesse público Noção: trata-se da outra face da moeda relativa ao interesse público; a supremacia envolve direitos especiais; a indisponibilidade refere-se a uma obrigação especial. Função pública: trata-se de exercer atividade em nome e no interesse do povo. assim, se o interesse não pertence ao Administrador, esse não pode dispor desse interesse; Observações: também se trata de princípio implícito, não constando expressamente do ordenamento jurídico brasileiro; situações em que há violação desse princípio, dentre outros: contratação direta sem que tenha sido configurada hipótese de dispensa ou inexigibilidade de licitação; contratação temporária injustificada, postergando-se a realização de concurso público. Princípio da Legalidade Introdução: rol dos princípios constantes do art. 37, caput, CRFB: toda a Administração Pública sujeita-se aos seguintes princípios: legalidade; impessoalidade; moralidade; publicidade; eficiência: incluído pela EC 19/98. trata-se do conjunto mínimo de princípios. Noção de princípio da legalidade: tem 2 aspectos distintos: legalidade para o direito privado: o particular pode tudo, desde que não esteja vedado pela lei; é o chamado critério de não-contradição à lei; legalidade para o direito público: o Administrador apenas pode fazer o que está expresso na lei; é o chamado critério de subordinação à lei; entretanto, isso não significa que o Administrador não tenha certa margem de atuação, dado que a própria lei permite a discricionariedade ao Administrador em determinadas hipóteses; assim, trata-se de liberdade na lei. Interpretação: o princípio da legalidade deve ser interpretado de modo amplo, conforme já decidiu o STF; assim, um ato que viola disposições constitucionais, tanto faz se princípios ou regras constantes da CRFB, isso também configura violação ao princípio de legalidade, em sentido amplo. Princípio da legalidade x Princípio da reserva de lei. princípio da reserva de lei: aparece quando a CRFB separa uma matéria e determina que essa seja regulada por lei; ou seja, seria a simples escolha da espécie normativa “lei”; princípio da legalidade: como visto, é fazer tudo em virtude da lei (direito público); assim, é noção mais ampla que a de princípio da reserva legal. Observações: é princípio expresso da CRFB: consta dos artigos 5º, inciso II, 37, 84 e 150. o princípio da legalidade é indispensável à existência de um Estado de Direito, que é aquele Estado politicamente organizado e que obedece às próprias leis. Princípio da Impessoalidade Exs. de impessoalidade na CRFB: licitações; concurso público. Noções: 1ª: impessoalidade significa ausência de subjetividade; ou seja, o Administrador não pode buscar interesses pessoais, próprios; 2ª: impessoalidade significa também que os atos administrativos são impessoais; pertencem à pessoa jurídica e essa responde pelo ato; exs.: certidão negativa de débitos: o ato praticado pelo agente que a expede não é dele, mas da pessoa jurídica; o contrato administrativo assinado pelo Governador é ato do Estado. 3ª: segundo CABM, impessoalidade significa também que a Administração deve tratar a todos os administrados sem discriminações benéficas ou detrimentosas, sem favoritismos ou perseguições; parece muito com o princípio da isonomia, o que demonstra bem a exigência de correlação lógica entre os princípios administrativos. Observações: prática do nepotismo. CNJ e CNMP: proibiram parente nos seguintes casos: cargo em comissão; contratação temporária; contratação direta de empresa em que esteja o parente na direção; CNJ: Resoluções ns. 07 e 09; CNMP: Resoluções ns. 04 e 07; nepotismo cruzado: é a hipótese em que um Administrador empregava os parentes de outro, e vice-versa; há certa dificuldade de fiscalização quando o nepotismo cruzado se dá entre distintos Poderes; também foi proibido; STF: ADC n. 12; decidiu duas questões: CNJ pode expedir ato normativo regulando matéria administrativa do Poder Judiciário, por meio de Resolução; prática do nepotismo viola pelo menos 4 princípios constitucionais: impessoalidade, moralidade, eficiência e isonomia. Súmula Vinculante n. 13: SÚMULA VINCULANTE Nº 13 A NOMEAÇÃO DE CÔNJUGE, COMPANHEIRO OU PARENTE EM LINHA RETA, COLATERAL OU POR AFINIDADE, ATÉ O TERCEIRO GRAU, INCLUSIVE, DA AUTORIDADE NOMEANTE OU DE SERVIDOR DA MESMA PESSOA JURÍDICA INVESTIDO EM CARGO DE DIREÇÃO, CHEFIA OU ASSESSORAMENTO, PARA O EXERCÍCIO DE CARGO EM COMISSÃO OU DE CONFIANÇA OU, AINDA, DE FUNÇÃO GRATIFICADA NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DIRETA E INDIRETA EM QUALQUER DOS PODERES DA UNIÃO, DOS ESTADOS, DO DISTRITO FEDERAL E DOS MUNICÍPIOS, COMPREENDIDO O AJUSTE MEDIANTE DESIGNAÇÕES RECÍPROCAS, VIOLA A CONSTITUIÇÃO FEDERAL. proibiu a prática do nepotismo até o 3º Grau, inclusive o nepotismo cruzado; entretanto, a redaçãoda súmula demonstra certo exagero, visto que muito ampla (qualquer servidor, dentro da mesma pessoa jurídica); além disso, a fiscalização é muito difícil em razão da amplitude da súmula; assim, trata-se de enunciado com difícil aplicação prática, fadado a se tornar letra morta; 3 pontos críticos para Marinela: proibição dentro da mesma pessoa jurídica; proibição quanto à função gratificada, que se trata de um plus ao servidor de carreira; designações recíprocas: pois seria difícil verificar a intenção de nepotismo cruzado entre pessoas jurídicas distintas, como entre a União e o Estado; exemplo do absurdo: se o Prefeito nomeia para a autarquia municipal, não é dentro da mesma pessoa jurídica e pode nem haver designação recíproca, dado que o Prefeito não precisou nomear ninguém em troca. Princípio da Impessoalidade x Princípio da Finalidade. Princípio da Impessoalidade: lembrar que significa ausência de subjetividade; Princípio da Finalidade: há duas correntes doutrinárias: clássica (HLM): dizia que o princípio da impessoalidade também se denominava princípio da imparcialidade e princípio da finalidade; significa que o Administrador não podia buscar interesses pessoais, ausência de subjetividade; ou seja, antigamente eram sinônimos, e HLM dizia que a partir da CRFB o princípio da finalidade passou a se chamar princípio da impessoalidade; moderna (CABM): diz que impessoalidade e finalidade são princípios distintos: impessoalidade: ausência de subjetividade; finalidade: significa que o Administrador tem que buscar a vontade maior da lei, o espírito da lei; CABM diz que o princípio da finalidade está ligado ao princípio da legalidade, vez que não dá pra aplicar a lei sem aplicar o espírito da lei, e vice-versa; o princípio da finalidade consta do art. 2º, Lei 9784/99; atualmente é a doutrina prevalecente. Princípio da Moralidade Noções: base: está ligado às ideias de: honestidade; lealdade; boa-fé. moralidade administrativa x moralidade comum: moralidade comum: é o certo e errado em nosso dia-a-dia; moralidade administrativa: a moralidade administrativa é mais rigorosa que a moralidade comum; o Administrador tem que: agir correto; + da melhor maneira possível: isso significa boa administração, com o que o princípio da moralidade encontra correlação lógica com o princípio da eficiência; em suma: conceito do princípio da moralidade ainda é muito aberto, encontra-se muito vago; por isso, os Tribunais têm certa dificuldade em anular um ato administrativo por violação apenas ao princípio da moralidade; assim, normalmente aparece junto com outro princípio, tendo dificuldade em ser aplicado isoladamente. Princípio da Publicidade Noção: liga-se às ideias de: transparência, conhecimento; princípio da publicidade: 4 significados: dar conhecimento: sobre as atividades realizadas ao titular do direito; o povo é o titular do direito, logo tem que ter conhecimento dos atos administrativos; produção de efeitos do ato administrativo: ou seja, a publicidade é condição de eficácia dos atos administrativos; ex.: art. 61, Lei 8666/93; termo inicial para contagem de prazos; contam-se os prazos dos atos administrativos a partir da publicação; mecanismo de controle; ex.: a publicidade das contas municipais tem que estar disponível para análise e questionamento durante 60 dias por exercício (v. art. da CRFB); Publicidade x Publicação. ex.: na modalidade convite de licitação não se exige publicação do instrumento convocatório, entretanto a publicidade é indispensável, como em qualquer ato administrativo, e dá-se por meio de: envio de carta-convite, afixação em mural, etc. assim, a publicação é apenas uma das formas de se concretizar o princípio da publicidade, e não a única. Dever de publicar: regra: o Administrador tem o dever de publicar seus atos administrativos; não publicar enseja ato de improbidade administrativa, nos termos do art. 11, Lei 8429/92; exs.: art. 37, CRFB; habeas data: só informação quanto ao próprio impetrante (art. 5º, LXXII); mandado de segurança: informações quanto a quaisquer outras pessoas, que não o impetrante (para cumprimento do direito de petição); direito de certidão: art. 5º, XXXIV, CRFB. exceções: entretanto, há situações em que o Administrador não tem o dever de publicar, por expressa permissão legal: quando colocar em risco à segurança (art. 5º, XXXIII, CRFB; pacífica na doutrina): da sociedade; ou, do Estado. quando violar (art. 5º, X, CRFB): intimidade; vida privada; honra; imagem das pessoas. sigilo dos atos processuais na forma da lei (art. 5º, LX, CRFB): também se aplica a atos administrativos em sede processual, para aqueles que entendem que a jurisdição voluntária não é jurisdição, mas administração de interesses privados? processos éticos: que tramitam em conselhos de classe; processo disciplinar: na Administração Pública. Princípio da publicidade x Promoção pessoal dos agentes públicos: publicidade dos órgãos públicos quanto a: atos, programas, obras, serviços e campanhas; deve ter caráter educativo; não podem constar nomes, símbolos e imagens que caracterizem promoção pessoal de agentes públicos; art. 37, § 1º, CRFB; a violação desse artigo acarreta improbidade administrativa, por violação aos princípios da legalidade, da impessoalidade, da moralidade e até mesmo da publicidade, já que tinha que ter caráter informativo; jurisprudência: só há improbidade se restar caracterizada a promoção pessoal; o simples fato de constar o nome do Administrador da placa que inaugurou a obra não implica improbidade, visto que tem caráter educativo. Princípio da Eficiência Introdução: foi inserido no art. 37, caput, CRFB, pela EC 19/98; entretanto, mesmo antes da EC 19/98 a eficiência já era entendida como princípio, visto que já existia no art. 6º, Lei 8987/95, quanto aos serviços públicos; Noção: princípio da eficiência: ideias básicas: ausência de desperdício; produtividade, agilidade; economicidade. Desdobramentos do princípio da eficiência: princípio da eficiência x estabilidade do servidor público: a EC 19/98 também introduziu novas regras sobre a estabilidade do servidor público; para adquirir estabilidade, o servidor precisa de: nomeação para cargo efetivo, com prévia aprovação em concurso público; 3 anos de exercício; aprovação em avaliação de desempenho: é novidade que surgiu com a EC 19/98 como desdobramento do princípio da eficiência; perda da estabilidade: processo administrativo, com contraditório e ampla defesa; processo judicial com trânsito em julgado; avaliação periódica: também é desdobramento do princípio da eficiência, visto que, antes da EC 19/98 também já existia, mas não tinha força para retirar a estabilidade; depende da lei; princípio da eficiência x racionalização da máquina administrativa: fundamento: art. 169, CRFB; limite com gastos de pessoal: de acordo com previsão em lei complementar, que é a LC 101/00 (art. 19), que prevê os seguintes limites para gastos com pessoal, de acordo com cada ente da Federação: União: 50%; Estados: 60%; Municípios: 60%; ultrapassado o limite, a AP terá que cortar servidores, respeitando a seguinte ordem: cargos em comissão e funções de confiança; entretanto, o corte desses pode observar o limite mínimo de 20% do número de cargos em comissão e funções de confiança; servidores efetivos não-estáveis; a ideia dessa regra, para Marinela, é atingir os servidores que entraram antes de 1988 e que não atingiram a estabilidade; todavia, abarca todos os servidores não-estáveis; aqui não existe percentual mínimo, podendo ser exonerado o número necessário de servidores não-estáveis, até 100%; dentre os servidores não-estáveis, a escolha para exonerá-los está no âmbito de discricionariedade da AP, devendo haver critério razoável, entretanto;servidores estáveis: aqui devem ser feitas 4 observações: somente pode ocorrer exoneração desses caso exonerados servidores seguindo a ordem: 20% CC e FC > 100% não-estáveis; exoneração x demissão: exoneração: é a hipótese em que o servidor sai da AP sem ter caráter sancionatório; no caso do art. 169, CRFB, ocorre exoneração, e não demissão; demissão: é pena, é sanção por falta grave; ex.: servidor que desviou bens da AP em favor próprio; direito à indenização: apenas para os servidores estáveis, em caso de exoneração pelo art. 169, CRFB; extinção do cargo: caso o Administrador exonere algum servidor justificando-se nessa regra da racionalização administrativa, o cargo deverá ser extinto e só poderá ser novamente criado o mesmo cargo ou cargo com funções assemelhadas 4 anos depois; isso para evitar que esse instrumento seja utilizado como função de vingança contra eventual inimigo político do Administrador que conste dos quadros da AP. Meios x Fins: o princípio da eficiência tem muito cuidado com meios e fins eficientes; assim, o Administrador precisa: gastar o menor valor possível; para conseguir o melhor resultado possível; desse modo a equação investimentos altos x resultados pífios viola o princípio da eficiência. Princípio da eficiência x utopia: o conceito de princípio da eficiência é muito fluido; em razão disso, a doutrina ainda diz que o princípio da eficiência não saiu do papel, é lenda na AP, ainda trata-se de utopia. �PAGE �1�
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