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JOSÉ AFONSO DA SILVA é Professor Titular r -- aposentado da USP, onde também foi respon- s_g_J * A sável pelo Curso de Direito Urbanístico em I I I ; 4 - Pós-Graduaçäo. É Procurador do Estado de São Paulo aposentado, além de ter sido Pro- lessor Livre-Docente de Direito Financeiro, de Processo Civil e de Direito Constitucional da - - _i Facuidade de Direito da UFMG. : É membro do lAB, do Instituto dos Advo- gados do Pará e do Instituto Ibero-americano 4 de Derecho Constitucional (cuja Seçào Brasi- - n inter- leira organizou e preside); do Instituto de De- _ lavras -: , recho Político y Constitucional da Faculdade . 6 A de Ciências Jurídicas e Sociais da Universidade que teiñ Nacional de La Plata (Argentina) e membro correspondente do Instituto de Derecho Parla- aneira J inodo-= mentario del Senado de la Nación Argentina e . da Academia Nacional dc Dcrecho de Cordoba ?-: (Argentina). É fundador da Associaçào Brasi- ite := leira de Constitucionalistas Democratas. Publicou várias obras, dentre as quais se st6ic destacam: Recurso Extraordincírio no Direito gua_ Processual Brasileiro; Açdo Popular C'onsti- tucional; Orçamento-Prograina no Brasil; Do A Recurso Adesivo no Processo Civil Brasileiro; nJt ; ::L * Execuçâo Fiscal; O Municzio e a Constitui- - cao; O Prefeito e o Munic(pio; Principios do 4 Processo de Formaçäo das Leis no Direito - : . 4 Constitucional, além de colaboraçôes em revis- ntun-1: - - ii;J . tas especializadas. - _: :i;E E autor, também, do Açdo Popular Consti- r tucional (2 ed., 2007), Aplicabilidade das Nor- pct_ . -: mas Constitucionais (75 ed., 2 tir., 2008), Cur- vV ---v so de Direito Constitucional Positivo (32 ed., : , I 2009), DireitoAmbiental Constitucional (75 ed., - 2009), Direito Urbanístico Brasileiro (55 ed., :.-; ' I : i : 2008), A Faculdade e men Itinerário Constitu- ;-: -;: cional (2007), Manual da Constituiçdo de 1988 .- : E (2002), Manual do Vereador (55 ed., 2004), . ; - Ordenaçdo Constitucional da Cultura (2001), Poder Constituinte e Poder Popular (Estudos sobre a Constituiçdo) (l ed., 3 tir., 2007), Pro- . cesso Constitucional de Formaçâo das Leis (2 ed., 2 tir., 2007) e Um Pouco de Direito Cons- 341 24 (C i 988) titucional Comparado (2009), publicados por S586c esta Editora. 2009 ex 2 . MALHEROS :=: -rJ' PDF compression, OCR, web optimization using a watermarked evaluation copy of CVISION PDFCompressor PDF compression, OCR, web optimization using a watermarked evaluation copy of CVISION PDFCompressor I Ministérlo Público de Pernamb Procuradorja Gera! de Justiça PDF compression, OCR, web optimization using a watermarked evaluation copy of CVISION PDFCompressor José fonso da Silva 6 edição, atualizadaatéa Emenda Constitucional 57, de 18. 122OO8 y iu;iii.i PDF compression, OCR, web optimization using a watermarked evaluation copy of CVISION PDFCompressor COMENTARIO CONTEXTUAL À CONSTITUIÇAO © JosE AFONS0 DA SILVA 1 edição: 4.2005; 2 ediçâo: 32OO6; 3 edição: 1.2007; 4 edição: 7.2007; 5 ediçao: 4.2008. - . : ISBN 978-85742O-921-O . Direitos reservados desta ediçäo por MALHEIROS EDITORES LTDA. Rua Paes de Araújo, 29, conjunto i 71 CEP 04531-940 - São Paulo - SP Tel.: (11) 3078-7205 - Fax: (1 1) 3168-5495 URL: www.ma'heiroseditores.com.br e-mail: maiheiroseditores @terra.com.br Composição PC Editorial Ltda. - CDI Capa ) I Criaçäo: Vânia Lúcia Amato I i-u0 Arte: PC Editorial Ltda. IQ t'-c: t. , ____£TO :° .- c:D -.3 Impresso no Brasil - Printed in Brazil 01.2009 Ac JOAQUIM AFONSO DA SILVA, meu neto parisiense, que, ao nascer, mudou o mundo e enriqueceu a vida dos avós, pais e tios, embelezando o Universo e todos nós corn seus magníficos olhos negros e seu sorriso contagiante "VovOZic" ..»i .. BBLOTECA PDF compression, OCR, web optimization using a watermarked evaluation copy of CVISION PDFCompressor IiAYJ7Th ;1 bj:III 'i.ijIyi1'I.I :1;,1. PREAMBULO . 21 TÍTULO - Dos PRINCIPIOS FUNDAMENTAS (arts. i a 4Q) 27 TÍTULO H - Dos DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAlS ............................................... 55 I CAPÍTULO I - Dos Dir&tos e Deveres ndMduais e Coeflvos (art. 5Q) 62 1 CAPITULO II - Dos Dir&tos Socîas (arts. 6 a 11) .......................................... 183 CAPITULO HI - Da NaconaUdade (arts. 12 e 13) ............................................ 201 CAPÍTULO V - Dos Direitos Polificos (art. 1 4 a 1 6) ....................................... 21 1 CAPITULO V - Dos Partidos Políticos (art. 1 7) ............................................... 235 TÍTULO ifi - DA ORGANIZAÇÄO DO ESTADO ................................................................. 243 1 CAPÍTULO I - Da Orgarüzaçâo Poítico-Administrativa (arts. 1 8 e 1 9) ......... 247 I CAPITULO II - Da Unâo (arts. 20 a 24) ............................................................ 253 CAPÍTULO III - Dos Estados Federados (arts. 25 a 28) .................................. 282 I CAPÍTULO IV - Dos Mufflcípos (arts. 29 a 31 ) ............................................... 300 CAPÍTULO V - Do Distrto Federa e dos Terrtóros ..................................... I 318 SEÇÄO I - Do Distrito Federal(art. 32) ....................................................... 318 I SEcAD II - Dos Territórios (art. 33) ............................................................ 321 CAPÍTULO VI - Da ntervenção (arts. 34 a 36) ................................................ 324 I CAPÍTULO VII - Da Administração Pública .................................................... 330 I SEÇÄO I - Disposiçöes Gerais (arts. 37 e 38) ............................................ 330 SEÇAO II - Dos Servidores Públicos (arts. 39 a 41 ) ................................... 351 I SEÇAO lii - Dos Militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios I (art. 42) ..................................................................................................... 377 SEÇAO IV - Das Regioes (art. 43) .............................................................. 379 I TíTuLo W - DA ORGANIZAÇAO DOS PODERES ............................................................. 381 I CAPÍTULO I - Do Poder LegsIativo ................................................................ 383 SEÇÄO I -. Do Congresso Nacional (arts. 44 a 47) ..................................... 385 I SEÇÂO II - Das Atribuiçt5es do Congresso Nacional (arts. 48 a 50) ........... 395 I SEÇAO Ill - Da Câmara dos Deputados (art. 51 ) ....................................... 409 SEçÄ0IV-DoSenadoFederal(art.52) ................................................... 412 SEÇÄO V- Dos Deputados e dos Senadores (arts. 53 a 56) ..................... 418 VI - Das Reuniães (art. 57) ............................................................ 426 I PDF compression, OCR, web optimization using a watermarked evaluation copy of CVISION PDFCompressor 6 COMENTÁRO CONTEXTUAL À CONSTTUIÇAO SEÇAO VII - Das ComissOes (art. 58) ........................................................ 431 SEÇAO VIII - Do Processo Legislativo ....................................................... 437 SUBSEÇAO -Dsposiçäo Gera (art. 59) ............................................... 437 SUBSEÇAO I - Da Emenda à Constituição (art. 60) ............................... 439 SUBSEÇAO U - Das Leis (arts. 61 a 69) ................................................. 443 SEÇAO IX - Da Fiscalização Contábil, Financeira e Orçamentária (arts. 70 a 75) ........................................................................................... 463 CAPÍTULO U - Do Poder Execufivo ................................................................472 SEÇÄO I - Do Presidente e do Vice-Presidente da República (arts. 76 a 83) ........................................................................................... 473 SEÇÄO II - Das Atribuiçãos do Presidente da República (art. 84) .............. 481 SEÇÂO lii - Da Responsabilidade do Presidente da República (arts. 85 e 86) ........................................................................................... 489 SEÇAO IV - Dos Ministros de Estado (arts. 87 e 88) .................................. 495 SEÇÄO V - Do Conselho da República e do Conseiho de Defesa Nacional . 497 SUBSEÇAO - Do Conseiho da RepúbHca (arts. 89 e 90) ...................... 497 SUBSEÇAO H - Do Conseiho de Defesa Nacona (art. 91) ..................... 498 CAPÍTULO - Do Poder Judcáro ............................................................... 500 SEÇÄO I - Disposíçöes Gerais (arts. 92 a i 00) .......................................... 504 SEÇÄO II - Do Supremo Tribunal Federal (arts. 1 01 a 1 03) ........................ 528 SEÇÄO Ill - Do Superior Tribunal de Justiça (arts. 1 04 e 1 05) ................... 565 SEÇÂO IV - Dos Tribunals Regionais Federais e dos Juízes Federais (arts. 106 a 110) ....................................................................................... 571 SEÇÄO V - Dos Tribunais e Juízes do Trabalho (arts. 1 1 1 a 1 1 7) ............... 577 SEÇAO VI - Dos Tribunais e Juízes Eleitorais (arts. 118 a 121) ................. 585 SEÇÂO VII Dos Tribunais e Juízes Militares (arts. 1 22 a i 24) .................. 587 SEÇÄO VIII - Dos Tribunais e Juízes dos Estados (arts. 1 25 e 1 26) .......... 589 CAPÍTULO V - Das Funçäes Essenclais à Jusflça ....................................... 593 SEÇÂO I - Do Ministério Público (arts. 1 27 a 1 30) ...................................... 593 SEÇÂO li - Da Advocacia Pública (arts. 1 30-A a 1 32) ................................ 604 SEÇÄO Ill - Da Advocacia e da Defensoría Pública (arts. 1 33 a 1 35) ........ 612 TÍTULO V - DA DEFESA DO ESTADO E DAS INSTITUÇÖES DEMOCRÁTICAS ......................... 617 CAPÍTULO I - Do Estado de Defesa e do Estado de Sitio ............................. 619 SEÇAO I - Do Estado de Defesa (art. 1 36) ................................................. 619 SEÇÂO li - Do Estado de SItio (arts. 1 37 a 1 39) ........................................ 621 SEÇAO III - Disposiçoes Gerais (arts. 1 40 e i 41 ) ...................................... 625 CAPÍTULO Il - Das Forças Armadas (arts. 142 e 143) .................................... 628 CAPÍTULO U - Da Segurança Púbilca (art. 144) ............................................ 635 TÍTULO VI - DA TRIBUTAÇÄO E DO ORÇAMENTO .......................................................... 641 CAPÍTULO - Do Sistema Trbutário Naciona' .............................................. 642 SEÇAO I - Dos PrincIpios Gerais (arts. i 45 a 1 49-A) ................................. 642 SEÇA0 li - Das Limitaçoes do Poder de Tributar (arts. 1 50 a i 52) ............ 652 SEÇÂO Ill - Dos lmpostos da União (arts. 1 53 e 1 54) ................................ 660 SEÇAO IV- Dos Impostos dos Estados e do Distrito Federal(art. 155) ..... 667 SEÇAO V - Dos Impostos dos MunicIpios (art. i 56) ................................... 675 SEÇAO VI - Da Repartiçäo das Receitas Tributárias (arts. 1 57 a 1 62) ....... 677 j SUMARIO 7 i CAPÍTULO U - Das Fnanças Públicas ............................................................ 683 SEÇAO I - Normas Gerais (arts. 1 63 e 1 64) ............................................... 683 SEÇAO Il - Dos Orçamentos (arts. 1 65 a i 69) ........................................... 687 TÍTULO VU - DA ORDEM ECONOMICA E FINANCEIRA ................................................. CAPÍTULO I - Dos Prncípios Geras da AtMdade Econômca (arts. 170a 181) ........................................................................................ CAPÍTULO U - Da Poíflca Urbana (arts. 1 82 e i 83) .................................... CAPÍTULO H - Da Poíflca Agrícoa e Fundiára e da Reforma Agrára (arts. 184a 191) ........................................................................................ CAPÍTULO V - Do Sstema Fnanc&ro Nacona (art. 1 92) ....................... . . 705 TÍTULO VIH - DA ORDEM SOCIAL ............................................................................ CAPITULO -Dsposçao Gera (art. 1 93) ...................................................... CAPÍTULO UI - Da Segurdade Soca ............................................................. SEÇAO I - Disposiçoes Gerais (arts. 1 94 e 1 95) ....................................... SEçÄ0II-DaSaúde(arts. 196a200) ..................................................... SEÇAO Ill - Da Previdência Social (arts. 201 e 202) ................................. SEÇAO IV - Da Assistência Social (arts. 203 e 204) ................................. CAPÍTULO HI - Da Educação, da Cuftura e do Desporto ............................. SEÇÄO I - Da Educaçäo (arts 205 a 21 4) ................................................. SEÇAO Il - Da Cultura (arts. 21 5 e 21 6) .................................................... SEÇAO Ill - Do Desporto (art 21 7) ........................................................... CAPÍTULO IV - Da Cênca e Tecnooga (arts. 21 8 e 21 9) ............................ CAPÍTULO V - Da Comuncação Soca (arts, 220 a 224) ............................. CAPÍTULO VI Do M&o Ambiente (art. 225) ................................................. CAPÍTULO VII - Da FamíUa da Criança, do Adoesoente e do doso (arts. 226 a 230) ........................................................................................... CAPÍTULO VIII - Dos ndos (arts. 231 e 232) ................................................. TÍTULO X -. DAS DISPOSIÇOES CONSTITUCIONAIS GERAIS (arts. 233 a 250) ................. TÍTULO X -ATo DAS DISPOSIQOES CONSTITUCIONAIS TRANSITORIAS (arts. 1 a 94) ........ Bibliografía ....................................................................................................... índice alfabético-remissivo .............................................................................. 708 736 743 752 757 758 759 759 767 773 781 784 784 802 815 818 824 834 S.S PDF compression, OCR, web optimization using a watermarked evaluation copy of CVISION PDFCompressor 1 Tentei organizar estes comentários do modo mais smpIes possív&, sem prejuízo da correçäo e da precisão conceituals e científicas. Procurei elaborar urna obra que nao fosse muito longa, como costumam ser os comentários constitucionais, mas também em que estes nao fossem rnuito sintéticos, de modo a deixar de fora aspec- tos mportantes de cada dispositivo comentado. Preocupou-me destacar o que fos- se fundamental em cada dispositivo comentado, dando especial atenção aqueles te- mas que requeriam maior desenvolvirnento. E evidente que tudo isso está contami- nado de muito subjetivismo, por mais objetivo que 'o autor pretendesse ser. Nao há método inteiramente objetivo; há aspectos seletivos que dependern de urna visão subjetiva, do modo de ser do autor, de sua formaçäo científica - enfim, de sua ideo- logia e concepçao do mundo. É razoável esperar que reapareça nestes cornentários muito do que já escrevi an- tes, nao raro em urna nova formulaçao, porque também, ao elaborá-los, muitas ve- zes me dei conta de que escritos anteriores deveriam sofrer reelaboração, reajusta- mentos e, mesmo, correçöes. Ver-se-á, contudo, que se trata de uma obra compie- tamente nova, especialmente pela abordagem de temas novos e pela nova roupa- gem de temas versados antes. O que aqui desejo consignar é que me utiiizei de qua- se todas as minhas obras anteriores na feitura destes comentários, sern citá-las es- pecificamente. Urna vez ou outraas citei. Utilizei em especial o meu Curso de Direito Constitucional Positivo, hoje em 32 edição, pela Maiheiros Editores; mas outras obras foram utilizadas, tais corno: Do Recurso Extraordinário no Direito Processual Brasileiro, São Paulo, Ed. RI, 1963 (esgotado); Processo Constitucionalde Forma- çäo das Leis, 2 ed., 2 tir., São Paulo, Malheiros Editores, 2007; Açao Popular Cons- titucional, Doutrina e Processo, 2 ed., São Paulo, Maiheiros Editores, 2007; Tributos e Normas de Política Fiscal na Constituição do Brasil, tese impressa na Ed. RT, i 968 (esgotado); Aplicabilidade das Normas Constitucionais, em 7 ed., 2 tir., São Pau- lo, Maiheiros Editores, 2008; Manualdo Vereador, em 5ed., São Paulo, Malheiros Editores, 2004; Orçamento-Programa no Brasil, São Paulo, Ed. RT, i 973 (esgota- do); Sistema Tributário Nacional, São Paulo, IBDF/Resenha Tributária, i 975 (esgo- tado); Direito Urbanístico Brasileiro, em 5 ed., São Paulo, Malheiros Editores, 2008; 0 Município na Constituição de 1988, São Paulo, Ed. RT, i 989 (esgotado); Mandado de lnjunção e "Habeas Data", São Paulo, Ed. RT, i 989; Direito Ambiental Constitucional, em 7 ed., São Paulo, Malheiros Editores, 2009; Poder Constituinte e Poder Popular (Estudos sobre a Constituiçäo), em la ed., 3â tir., São Paulo, Malhei- ros Editores, 2007 - especialmente os textos sobre dignidade da pessoa humana (que é de i 994), construção da cidadania (que é de i 993), acesso à Justiça e cida- dania, direitos humanos e direitos humanos da criança; Ordenaçao Constitucional da a PDF compression, OCR, web optimization using a watermarked evaluation copy of CVISION PDFCompressor 10 COMENTÁRO CONTEXTUAL À CONSTTUIÇÂO Cultura, São PaUlo, Maiheiros Editores, 2001 ; Manual da Constituição de 1988, São Paulo, Malheiros Editores, 2002. 2. Comentários à Constituiçâo nao se fazem sem se recorrer ao que de fundamen- tal já se produziu antes. Sempre dei especial primazia ao Constitucionalismo brasi- leiro, sem embargo de buscar no Constitucionalismo estrangeiro o instrumental conceitual e as idéias universais indispensáveis à compreensâo das normas constitu- cionais. Mas minha preocupaçào foi sempre a de fazer direito constitucional em con- sonância com a realidade brasileira, sempre contribuí para a construção de um Constitucionalismo brasileiro, se nao latino-americano. Enfim, recorri às liçòes de nossos comentadores em geral, e em especial os comentadores da Constituiçào de i 988, tais como: a) Comentários a anotaçOes às Constituiçöes al) Comentários à Constituição de 1891 BARBALHO (Uchba Cavalcanti), Joäo. Constituição Federal Brasileira: Comentários. Brasí- lia, Senado Federal, 1992. BARBOSA, Ruy. Comentários à Coristituição Federal Brasile/ra. 5 vols. São Pulo, Saraiva, i 933. MAXIMILIANO (PEREIRA DOS SANTOS), Carlos. Comentários à Constituiçào Brasile/ra. 3 ed. Rio de Janeiro, 1929. a.2) Comentários à Constituição de 1934 PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Comentários à Constituiçäo da República dos Estados Unidos do Brasil. Rio de Janeiro, Ed. Guanabara, i 936. a.3) Comentários à Constituiçäo de 1946 CAVALCANTI, Themístocles Brandào. A Constituiçäo Federal Comentada. 2 ed., vol. I. Rio de Janeiro, José Konfino Editor, i 951. DUARTE, José. A Constituiçào Brasile/ra de 1946, Exegese dos Textos à Luz dos Trabalhos da Assembléla Constituinte. 3 vols. Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1947 (no final do volume, na anotação da casa impressora consta a data de 1948). ESPINOLA, Eduardo. Constituiçào dos Estados Unidos do Brasil. 2 vols. Rio de Janeiro/Sao Paulo, Freitas Bastos, 1952. MAXIMILIANO (PEREIRA DOS SANTOS), Carlos. Comentários à Constituiçào Brasile/ra. 5 ed. Rio de Janeiro, Freitas Bastos, 1954. PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Comentários à Constítuiçào de 1946. 4 voIs. e um Suplemento sobre o Ato Adicional 4/1963. Rio de Janeiro, Henrique Cahen Editor, s/d (o Suplemento é do Editor Borsól, 1962). SAMPAIO DORIA, AntOnio. Direito Constitucional: Comentários à Constituiçào de 1946. São Paulo, Max Limonad, 1960. a.4) Comentários à Constituiçäo de 1967 PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Comentários à Constituição do 1967. 6 ts. São Paulo, Ed. RI, 1967/1 968. a.5) Comentários à Constituição de 1969 (Emenda 1 à Constituição de 1967) FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Comentários à Constituiçao Brasile/ra. 2 ed., 3 voIs. São Paulo, Saraiva, 1977. MELLO FILHO, José Celso de. Constituiçào FederalAnotada. São Paulo, Saraiva, i 984. INFORMAÇAO AO LEITOR 11 PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Cornentários à Constituiçào de 1967 corn a Ernenda n. 1 de 1969. 6 ts. São Paulo, Ed. RT, i 970/1972. a.6) Comentários e anotaçOes à Constituiçâo de 1988 BARROSO, Luís Roberto. Const/tuiçào da República Federativa do Brasil Anotada e Logis- laçào Complementar. São Paulo, Saraiva, 1998. BASTOS, Celso Ribeiro, e MARTINS, Ives Gandra da Silva. Comentários à Constituiçào do Brasil. 15 vols. São Paulo, Saraiva, 1988/1 998. COSTA, Nélson Nory, e ALVES, Geraldo Magela. Constítuição FederalAnotada o Expilcada. Rio de Janeiro, Forense, 2002. CRETELLA JR., José. Cornentários à Constituiçao de 1988. Rio de Janeiro, Forense Univer- sitária, i 989/1993. DANTAS, Ivo. Coristítuiçao FederalAnotada. 2 ed. Rio de Janeiro, Renovar, 2002. FERREIRA FILF-IO, Manoel Gonçalves, Comentários à Constituição Brasileira. 3 ed., 2 vols. São Paulo, Saraiva, 2000. FUNDAÇAO PREFEITO FARlA LIMA (CEPAM). Breves Anotaçöes à Constituiçào do 1988. São Paulo, Atlas, 1990. MORAES, Alexandre de. Constituiçéo do Brasil Interpretada e Legislaçao Constitucional. São Paulo, Atlas, 2002. PINTO FERREIRA, Luiz. Comentários à Constituíçào Brasileira. 7 vols. São Paulo, Saraiva, 1989/1995. PRICE WATERHOUSE. A Constituiçao do Brasil de 1988, Comparada e Comentada. São Paulo, Price Waterhouse, i 989. b) Cursos, manuals e estudos sobre a Constituíçào de 1988 A promulgaçao da Constituição de 1 988 despertou grande interesse pelos estudos de direito constitucional. Diversos cursos, manuais e estudos foram produzidos. Im- portantes monografias têm sido publicadas, com especial atençao aos direitos fun- damentais e à jurisdição constitucional, que, infelizmente, nao posso indicar aqui, dada a exigüidade de espaço. Vou, porém, apontar os cursos, manuals e estudos que chegaram a meu conhecimento. AGRA, Walter de Moura. Manual do Dire/to Constitucional. São Paulo, Ed. RI, 2002. ARAUJO, Luís Alberto David, e NUNES JR., Vidai Serrano. Curso de Dire/to Constitucional. São Paulo, Saraiva, 2003. BARBOSA, Erivaldo Moreira. Dire/to Constitucional, urna Abordagem Histórico-Crítica. São Paulo, WVC Editora, 2003. BARROSO, Luís Roberto. Temas de Dire/to Constitucional. 2 ts. Rio de Janeiro, Renovar, 2001 e 2003. BASTOS,Celso Ribeiro. Curso de Direito Constitucional. 20 ed. São Paulo, Saraiva, 1999 (obra escrita corn base na Constituição de i 969 e reelaborada em face da Constituição de 1988). BONAVIDES, Paulo. A Constituição Aberta. 3 ed. São Paulo, Malheiros Editores, 2004. ______ . Curso de Dire/to Constitucional. 24 ed. São Paulo, Malheiros Editores, 2009. CARRION, Eduardo Kroeff Machado. Apontamentos de Dire/to Constitucional. Porto Alegre, Livraria do Advogado, 1 997. CARVALHO, Kildare Gonçalves. Dire/to Constitucional Didático. 6 ed. Belo Horizonte, Del Rey, 1999. CASTRO, Carlos Roberto de Siqueira. A Constítuiçào Aberta e os Direitos Fundamentals, Ensa/os sobre o Constitucionalismo Pós-Moderno e Comunitário. Rio de Janeiro, Forense, 2003. CENEVIVA, Walter. Dire/to Constitucional Brasileiro. 2 ed. São Paulo, Saraiva, 1991. PDF compression, OCR, web optimization using a watermarked evaluation copy of CVISION PDFCompressor 12 COMENTÁRO CONTEXTUAL À CONSTITUIÇÂO CLEVE, Clémerson Merlin. Tomasde Diroito Constitucional. São Paulo, Acadêmica, i 993. DALLA-ROSA, Luiz VrgíUo. Urna Teoria do Discurso Constitucional. São Pau$o, Landy, 2002. FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de Direito Constitucional. 30 ed. São Paulo, Saraiva, i 999 (obra produzida primeiramente corn base na Constituição de 1 969, reela- borada orn face da Constituiçao de i 988). GRAU, Eros Roberto, e CUNHA, Sergio Sórvulo da (coords.). Estudos de Direito Constitucio- na! em Homenagem a José Afonso da Silva. São Paulo, Malheiros Editores, 2003. HORTA, Raul Machado. Estudos de Direito ConstitucionaL Belo Horizonte, 1995 (corn estu- dos de teoria constitucional e outros anteriores à Constituição de i 988). LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 6 ed. São Paulo, Método, 2003. MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 6 ed. São Paulo, Atlas, i 999. PEÑA, Guilherme. Dire/to Constitucional, Teoria da Constituição. Rio de Janeiro, Lurnen Ju- ris, 2003. PONTES FILHO, Walrnir. Curso Fundamental de Direito Constitucional. São Paulo, Dialéti- ca, 2001. REIS FRIEDE, R. Curso Analítico de Direito Constitucional e Teoria Geral do Estado. Rio de Janeiro, Forense, 2002. ROSA, Antônio José Miguel Feu. Direito Constitucional. São Paulo, Saraiva, 1998. TEMER, Michel. Elementos de Direito Constitucional. 22a ed., 2 tir., São Paulo, Malheiros Edi- tores, 2008 (obra produzida corn base na Constituição de 1 969 e reelaborada ern face da Constituição de 1988). SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 32 ed. São Paulo, MaIhel- ros Editores, 2009 (as 4 prirneiras ediçoes de acordo corn a Constituição de 1 969; na 5 o Curso foi inteirarnente reelaborado em face da Constituição de 1988). _________. Manual da Constituição de 1988. São Paulo, Malheiros Editores, 2002. ________. Poder Constituinte e Poder Popular (Estudos sobre a Constituição). 1 ed., 3 tir. São Paulo, Malheiros Editores, 2007. TAVARES, André Rarnos. Curso de Direito Constitucional. São Paulo, Saraiva, 2002. WEBER, Albrecht, e outros. Direlto Constitucional, Esiudos erri Horrienagern a Manuel Gon- çalves Ferreira FIIho. São Paulo, Dialética, 1999. c) Repertórios de jurisprudência constitucional Recorri aos diversos repertórios de jurisprudência constitucional relativos à Cons- tituiçäo de i 988, tais como: BARBOSA LIMA SOBRINHO. A Constituiçäo Federal Vista pelo STF. 3 ed. São Paulo, Jua- rez de Oliveira Editor, 2001. CUSTODIO, Joaquirn Ferreira. Constituição Federal Interpretada pelo STF. 7 ed. São Pau- Io, Juarez de Oliveira Editor, 2002. Revista de DíreitoAdrninistratívo (RDA). Rio de Janeiro, Renovar. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Revista Trimestral de Jurisprudência (RTJ). TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 1 REGIÄO. Gabinete da Revista. A Constituiçäo na Vi- são dos Tribunais, lnterpretaçäo e Julgados Artigo porArtigo. 3 vols. São Paulo, Saraiva, 1997. a Finalmente, o leitor encontrará a bibliografia geral no final do volume. Quero consignar aqui meus agradecimentos ao Prof. José Manoel de Aguiar Barros pela minuciosa leitura deste volume e pelas correçöes e sugestöes apresentadas. "Ora, a meti ver essa ínterpretaçän puramente literal de urn texto iso/ado nao seria boa. Ternos que interpretar as normas constitucionais no seu contexto e quando interpretamos a Constituiçäo é born lern- brar a afirmativa de Marshall, no M'Culloch vs. Maryland, de 1819: quando se interpretarn normas cons- titucionais, deve o intérprete estar atento ao espIrito da Constituiçäo, ao que e/a çontÓrn noseu contex- to Parece me que a ,nterpretaçao literal nao prestana obséquio à Constituição que deve ser sistemati carnente interpretada" (Min. CARLOS VELLOSO, voto na Red. 383-SP, RTJ 147/465). I Pressupostos. 2. Texto e contexto. 3. Sentido do texto constitucional: de onde vem?. 4. Ta- refa da hermenéutica constitucional. 5. Hermenêutica das palavras. 6. Hermenêutica do espín- to. 7. Hermenéutica contextual. 8. Conclusào. A interpretaçao (ou herrnenêutica) é urn rnodo de conhecimento de objetos cultu- raa Quando esses objetos se cornpoern de palavras, tern-se a interpretaçào de um texto que é, ao mesmo tempo, urn objeto de sgnificaçôes e umobjeto de comurnca- çao, cujo sentido se capta mediante análi- se interna e análise externa Ou seja, o 1 . Este texto nao está interessado em fazer urna teoria da interpretaçao constitucional. Vai preocupar-se corn urn aspecto pouco cuidado do assunto. Para os interessados em estudos mais aprofundados de herrnenêutica constitucional, lernbro alguns textos brasileiros (corn informa- çöes adicionais sobre as obras na "Bibliografia"): Luís Roberto Barroso, lnterpretaçäo e Aplica çào da Constituiçäo, 2 ed.; Márcio Augusto Vascon- celos Diniz, Constituiçäo e Hermenéutica Consti- tucional, 2 ed.; Glauco Barreira Magalhaes Filho, Hermenéutica e Unidade Axiológica da Constitui- cao, 2 ed. ; George Salornâo Leite, Interpreta cáo Constitucional e Tópica Jurídica; Lenlo Luiz Streck, Jurisdição Constitucional e Hermenéutica - nao ti- picarnente de interpretaçáo constitucional, mas corn born desenvoivimento sobre a interpretaçâo conforme a Constituiçâo. sentido do texto se reconstrói de duas perspectivas distintas e complementares de dentro para fora, a partir da análise in- terna das muitas pistas nele espalhadas; de fora para dentro, por meto das relaçöes contextuais 2 A Constituição é um texto, um texto normativo, um texto jurídico, por isso, sua interpretaçào - ou seja, a capta- cao de seu sentido, a descoberta das nor- mas que esse texto veicula - também se submete às relaçöes de contexto. Ela é urn texto que está no rnundo, independen- te daqueles que a captarn. A percepção que cada um tern dela é considerada se- paradamente dela prOpria. De igual modo, as intençòes de seu autor -o constituinte - são consideradas separadas dola, por- que ola é, em si mesma, um ser, um ser corn sous próprios poderes e sua dinâmi- ca, um ser autOnomo. Atarefa do intérpre- te é como a de aIgLiém que penetra nesse ser autônomo, por melo da artálise tetual. Elá se vê que a intorpretaçâo tern um as- 2. Cf. Diana Luz Pessoa de Barros, Teoria Se- miótica do Texto, pp. 7 e 83. ii i/ PDF compression, OCR, web optimization using a watermarked evaluation copy of CVISION PDFCompressor 14 COMENTÁRO CONTEXTUAL À CONSTITUÇÂO pecto objetivo - que se refere ao objeto a ser nterpretado -e um aWcT5uJbjetivo - - ueeefere às quaHficaçòes e ideolo- gis do iiiJete, porque ¡sté io é neu- fr6?oEssointerpretativo, porque fleJe - .-. participa corn a carga de experiencia, de conhecimentos, cultura e ideologia que in- formam sua formaçao jurídica. Nao se tern levado em consideraçao a importância do contexto na interpretação constitucional. A Constituição é um texto que, como qualquertexto, tern seu ser nas palavras, no seu arranjo, que nem sempre exprimem corn clareza sua intencionalida- de. E a função do intérprete está al, preci- sarnente: tornar algo que é pouco familiar, distante o obscuro em algo real, próximo e inteligíveL O intérprete da Constituiçäo tern que partir da idéia de que ela é um texto que tern algo a dizer-nos que ainda ignorarnos. E funçâo da interpretação des- vendar o sentido do texto constitucional; a interpretaçáo é, assirn, urna maneira pela qual o significado mais profundo do texto t revelado, para além mesmo do seu con- teúdo material.' De onde vem o sentido desse texto? Como chegar a ele? Para chegar ao sentido, o intérprete tern que compreender o texto; tern que penetrar no horizonte do seu significado. Só quando consegue meter-se no círculo rnágico do seu horizonte é que o intérpre- teconsegue compreender seu significado. .- Esse é o tal "círculo herrnenêutico", sem o qual o sentido do texto nao pode emergir.ÇP.rn . ..pQd e u rn texto ser cornpreendido, cuando a çondiçäo para sua compreen são éjáter,percebido do que e que ele f . Y:.L!p.9ta é que, por urn processo 3Ìbhárd E. Palmer, Hermenéutica, pp. 27- 28. Observo, desde já, que o texto supra transpôe para a hermenéutica Jurídica os ensinamentos da hermenéutica nao-jurídica de Palmer. Mas tam- bém me vaU dos ensinamentos de Haidegger, de Hans-Georg Gadamer, de Emito Betti e de estu- dosos da Lingüística. 4. Rìchard E. Palmer, Hermenêutica, p. 53. dialético, há urna cornpreensão parcial que é usada para cornpreendermos cada vez mais.5 Esse pré-conhecimento, essa pré-compreensao, é o primeiro passo para que o intérprete possa chegar ao sentido do texto constitucional. Significa que o texto, antes de ser interpretado, tern que ser decifrado e, possivelmente, reintegra- do e restituído à sua autenticidade6 - corno, por exemplo, verificar o impacto da ernendas e modificaçöes sobre sua cornpreensao. Ern hermenéutica esta áreade urna compreensao pressuposta é designada por "pré-cornpreensáo". Toda in- térétaCão é ouiada oela oré-comoreen- nao é urna questào de receptividade antes, há de ser considerada rn processo de reconstruçäo que lve a própria experiência que o intér- tern do mundo. 3_ Sentido do texto constitucional: de onde vem? A compreensäo näo pode ser entend dacomömera reproduçáo do processo de i1açao däC óñstituiçâo, pois isso levaria a$originalismol_ modo de interpretaçào flc) constitucional que entende que o sentido da Constituiçáo se extrai dos anteceden- .. ts históricos, especialmente dos debates constituintes. Para o originalismo qualquer nterpretaçáo constitucional que se aparte da intençäo dos autores da Constituiçäo se revela corno urna usurpaçao de poder.6 Nessa perspectiva, somente caberá ao in- térprete perquirir e revelar a intençáo ori- ginal do constituinte) Diga-se, desde logo, que nao é esse o rnodo correto de se che- 5. Richard E. Palmer, Hermonêut!ca, p. 35. 5. Cf. Emilio Betti, Teoria Generale della Inter- prelazione, vol. I, p. 355. 7. Richard E. Palmer, Hermenêutica, p. 59. 8. Cf. Enrique Alonso García, La Interpretación de la Constitución, pp. 137-138; cf. também Mi- guel Beltrán, Originalismo e Interpretación, Dworkin vs. Gork: una Polémica Constitucional, 1989. INTRODUÇAO - HERMENÊUTICA CONTEXTUAL DA CONSTITUIÇAO 15 gar ao sentido da Constituição. Pois nao é äeitável a idéia de que a herrnenêutica tern por objetivo captai5pensameiìto dos autores da do constituinte - de resto, de difícil captação - née tern relevancia no processo inter preta .i .o. A interpretaçáo é diálogo, sim; mase1 diálogo nao corn os autores da Cöiitituição, mas diálogo corn o texto cria- 'ornpreenoer é urna operau .: ialrnente referencial; cornpreendernos ... algo quando o compararnos corn algo que .: conhecernos. Aquilo que compreende- mos agrupa-se em unidades sistemáticas, ou círculo composto de partes. O círculo corno urn todo define as partes individuais, e as partes em conjunto forrnam o círculo. Por exernplo, urna frase, corno urn todo, é urna unidade. Cornpreendemos o sentido de urna palavra individual quando a consi- deramos na sua referência à totalidade da frase; e, reciprocamente, o sentido da f ra- se corno urn todo depende do sentido das palavras individuais; ou seja: "tern-se de cornpreenr1r o toda a partir do individua] e o individual a partir do todo".1° E que 'c movimento da cornpreensâo vai constan temente do todo à parte e desta ao todo A tarefa é ampliar a unidade do sentidc cornpreendido em círculos concéntricos o critério correspondente para a correçãc da cornpreensâo é sempre a concrdân cia de cada particularidade como . todo Quando nao há tal concordância, isso sig 9. Ainda Richard E. Palmer, Hermenéutica, p. 89. lo. Cf. Hans-Georg Gadamer, Verdade e Md- todo, Traços Fundamentais de urna Herrnenêutica Filosófica, 46 ed., p. 436. 1 1 . Hans-Georg Gadamer, Verdade e Métoóo, ..., 4 ed., p. 436. Dilthey chama "compreensâo" o processo pelo quai, corn a aiuda de signos per- cebidos do exterior através dos sentidos, conhe- cornos urna interioridade (cf. "Origens da herme- náutica", in S. Agostinho e outros, Textos de Her- menêutica, p. 150). dual tira o. seu significado do contexto ou horii6î ñò qual se situa; contudo, o ho- rizonfe .ötröi-se corn os próprios ele- nètosatiis dá sentido. Por urna in- teraçäod1?lética entre o todo e as partes, cada urn dá sentido ao outro; a compreen- são é, portanto, circular. E, porque o sen- tido aparece dentfo deste circulo charna mo-Jo de 'círcub hermenêutico".12 No eritanto está superada a deia de qua a frase e que e a unidade de sentido o desenvolvimento dos estudos sobre a relaçâô da IingiÍáTh .... contexto de- rnônstrÌ o é que é a unidade de sentidö cjiie o sentido da frase deperfde do sritido do texto Assirn se pode con palavras nern as f ra- sos qué. d äose ... ido às normas constitu- cionais,FiÌYíÍoestas que dão sentido à Constituiço . ;Es ta, corno texto jurídico, corno toaIidade e que e urna unidade de sentido1 de sorte que as normas que a compöôm:íe cebern seu sentido a partir do sentido do todo ainda que por urna inte raçäo dialetica entre texto e contexto cada um dé sentido ao outro como visto aciñla. .:...:. . . . Pode-se dizer, a partir daí, que a tarefa da hermenéutica constitucional co nsiste em desvendar o sentido mais profupdo da Constituiçào pela captação de se4ignifi- cado interno, da relaçéo de suas partes entró si e, mais latamente, de sua relaçáo cö*ó espirito da época- ou seja, a corn- preénsào histórica de sou conteúdo, sua cornpreensào gramatical na sua relaçào corn a linguagern e sua cornpreensáo es- iritual na sua relaçào corn a visào total da época. Ou, em outras palavras, o sentido da Constituiçào se alcançará pela aplica- 12. Cf. Richard E. Palmer, Hermenéutica, pp. 93-94; Hans-Georg Gadamor, Verdade e Método, ..., 4a ed., pp. 437 e ss. - onde também atribui a Heidegger a concepçäo do "círculo hermenêutico" (p. 439). PDF compression, OCR, web optimization using a watermarked evaluation copy of CVISION PDFCompressor 16 COMENTARIO CONTEXTUAL À CONSTITUIÇAO çao de três formas de hermenêuflca: (a) a hermenêutica das pa/auras; (b) a herme- nêutica do espIrito; (c) a hermenêutica do sentido - segundo Rchard Pamer13 -, que prefiro chamar de "hermenêutica con- textual". L Hermenêutica das palavras A hermenêutica das palavras nao é a interpretação gramatical estritamente con- siderada. Nela se incluem, sim, a explica- çao de palavras assim como a explicação do contexto factual, tal como o cenário histórico; mas cIa exige nao só o coriheci- mntó faothal do meio histórico no mo- thntodintepetaçäo mas tambem o oñécimento da Lingua de suas trans forffíòöÈtuist&icäs e de suas caracte rIs- ticas intrínas, porqUé a interpretaçáo gramatical perteri6ï6rnêîito da lin guagern. A interpretaçao da linguagern mostra a Constituiçäo na sua relaçáo com a LIngua, tanto na estrutura das normas como na de suas partes normati- vas; assim podemos ver o princípio das partes e do todo, em açäo na interpretação gramatical,14 e só assim esse tipo de inter- pretaçáo tern alguma utilidade, ainda que se possa destacar seu born serviço no mo- mento da pré-compreensâo constitucional. 6. Hermenêutica do espIrito A hermenêutica do espfrito procura a idéia fundante, a concepçáo básica que encontra sua expressáo ou incorporaçäo na Constituiçäo. E nessa concepçâo bási- ca, por detrás da multiplicidade das nor- mas constitucionais, que descobrirnos a unidade de seu sentido.15 O Preámbulo das Constituiçées costuma indicar ele- mentos importantes dessa concepçáobá- sica, a idéia fundante do texto constitucio- nal. Assim é que, segundo o Preâmbulo da Constituição de 1988, o poyo brasilei- ro, por seus representantes, procurou ins- 13. Hermenêutica, p. 86. i 4. Cf. Palmer, Hermenêutica, pp. 86 e 95-96. i 5. Cf. Palmer, Hermenéutica, pp. 86-87. tituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercíclo dos direitos sociais e individuals, a liberdade, a segurança, o bern-estar, o desenvolvimento, a igualda- de e a justiça como valores supremos de urna sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida na ordern interna e inter- nacional corn a sotuçáo pacífica das con- trovérsias; isso mais os princIpios funda- mentais do respeito à dignidade da pes- soa humana e da cidadania, do art. 1, e os objetivos fundarnentais constantes do art. 3, especialmente o de constituir urna sociedade ivre, justa e solidária, é que oferecern a idéia-sintese da concepçâo básica da Constituiçào que há de orientar a compreensào de todas as suas partes e normas. 7_ Hermenéutica contextual A hormenêutica contextual refere-se à exploraçâo da influência do contexto so- bre o sentido da Constituiçâo e, reciproca- mente, desta sobre o contexto em que ela se situa. E pela hermenéutica contextual que se descobre que duas passagens se- melhantes, dentro da mesma Constitui- çao, podem ter sentidos diversos, con- soante o lugar que ocupam relativamente ao texto como um todo. Aqui se tern que o contexto intrínseco (ou contexto interno) é que indica ao intérprete o sentido de umanorma dentro de urna estrutura nor- Lvspecífica dentro da totalidade fl:OV da Constituiçáo. Mas nao bas- la ocôntexto interno ou intrinseco para o desvendamento do sentido das normas k: constitucionais, porque a hermenêutica do sentido também busca definir o objeto da interpretaçâo -a Constituiçao - no mun- do,.aSi.rncomo atensäo do mundo sobre eta . Aqul, interpretaçâo envolve a busca deumfator externo, que se acha no con- têöé*fratexto, para designar o sentido da Constitùição e de suas normas. Só na pre- senç à deste fator é que os textos constitu- cionais se tornarn significativos. Isso su- gere que o sentido tern sempre a ver corn INTRODUÇAO - HERMENÉUTICA CONTEXTUAL DA CONSTITUIÇÂO 17 o contexto - aliás, como observa Palmer em outro contexto.16 Nao se caia no "mito do contexto", admitindo que só se conse- gue o entendirnento num "contexto co- mum de pressupostos básicos" - situaçâo que pode ser válida para urna discussão racional, mas nao para a percepçáo do sentido de urn texto normativo.17 Pode-se sempre captar o sentido das normas jurl- dicas em qualquer contexto, apenas corn a observaçäo de que a mesma norma ou o mesmo texto normativo tém sentidos ou significados diferentes quando situados em contextos diferentes. lsso se percebe até mesmo em contextos lingüisticos di- versos. Seja como for, o certo é que para melhor compreender isso é necessário aprofundar o conceito de "contexto". A hermenêutica contextual (ou do sen- tido) nao tern sido considerada na campo 16. Palmer (Hermenêutica, p. 34) dá exemplo de uma passagem do Evangeiho em que Cristo desvendou o significado dos textos colocando-os no contexto do seu sofrimento redentor e colocan- do esse sofrimento no contexto das profecias do Antigo Testamento, mostrando que aqui a interpre- tação envolve a busca de um fator externo, para designar o "sentido" dos textos antigos, e conclui que Issu sugere que o sijuiÍieadu tern a ver corn o contexto; o processo explicativo fornece o palco da compreensâo; um acontecimento só se torna sig- nificativo dentro de um contexto específico. 17. Faço tais observaçòes atento ao artigo de Karl R. Popper traduzido para o Portugués como "O mito do contexto", depois integrado no seu Ii- vro que também recebeu em Portugués o título O Mito do Contexto, em Defesa da Ciência e da Ra- cionalidade, em 1999. Mas o título do original in- gles - The Myth of the Framework - sugere idéia diferente; ou seja, sugere a idéia de "estrutura", nao propriamente de 'contexto", e a definiçào de "contexto" na traduçao portuguesa indica o sentido de estrutura, in verbis: "Entendo por contexto' um conjunto de pressupostos básicos, ou princIpios fundamentais - ou seja, uma textura intelectual' (p. 57). E chama mito do contexto: "A existência de urna discussâo racional e produtiva é impossi- vel, a menos que os participantes partilhem um contexto cornum de pressupostos básicos ou, pelo menos, tenharn acordado em semelhante contexto em vista da discussào". No máximo se tena, aqui, uma idéia limìtada de contexto estrutu- ral. "Contexto" em Ingles é context logo, "o mito do contexto" tena que provir de um original assim: The Myth of the Context. Cf. a nota seguinte. Cléncias Jurídicas. Perde-se, corn um enorme potencial de possibilidades. A complexidade do tema talvez seja responsável pela desconside- raçäo que os juristas tém votado ao con- texto como um dos mais ricos elementos para o desvendar do sentido dos textos jurídicos. Interpretar urna Constituiçáo sig- rilfica caminhar em direçâo ao contexto no quai ela se move A Constltuição como reöit6rio de valores e um objeto de cul turae por iseo solidario corn outros ob jetös de'ct.ltura. Disse antes que ela, com1ët?5JêìTi sua própria autonomia, mas isso nao a desvincula da realidade contextual em que ela se insere. Logo, para compreendê-la é indispensável té-la em funçâo desse contexto. Ela é, nesse particular, também um elemento do con- texto. A filosofia da linguagem dá inúmeras quaIificçöes ao contexto: contexto livre, contéko independente, contexto depen- dente contexto estrutural etc Por outre lad de "contexto", no campo da Linguistica Sempre inclul os participantes do processo de enunclaçao -o que nao tern cabimento aqui Aqui so interessa con&deîar duas formas de contexto: o contexto interno ou intrínseco - que pref i- ro denominar "contexto intratexto", para indicar que se trata do contexto no interior do objeto a interpretar -e o contexto ex- terno - que prefiro chamar de "contexto extratexto", porque nao é inteiramente ex- terno ao objeto a interpretar, pois este também o integra. o contexto intratexto consiste na rela- çáo entre as partes e o todo, entre as nor- mas e o conjunto de normas e entre estes e a Constituiçâo como um texto unitário. E esse contexto que define o sentido das normas constitucionais, em particular em funçâo do sentido do texto constitucional 18. Sobre a noçáo e a natureza do contexto, nessa perspectiva, cf. Stephen C. Levinson, Prag- matics, pp. X, 22 e 30 e Ss.; Ann M. Johns, Text, Role, and Context, pp. 27-29; Mary-Annick Morel e Laurent Danon-Boleau, La Deixis, p. 475. 1f 11 f f f f f f f I t I E ) f f i I I I PDF compression, OCR, web optimization using a watermarked evaluation copy of CVISION PDFCompressor 18 COMENTARIO CONTEXTUAL À CONSTITUIÇAO .1 INTRODUÇAO - HERMENÉUTICA CONTEXTUAL DA CONSTITUPÇAO 19 na sua totalidade. esse contexto que dá fundamento e operatMdade à interpreta- çao sistemática, porque é dele que decor- rem ôsdois grandes principios da herme- '. nautica constitucional, o princIpio da uni- dade da Constituição e o princIpio da coo- rência das normas da Constituição, pois esta "nao é um conjunto de normas justa- postas, mas um sistema normativo funda- do em determinadas idéias que configuram um núcleo irredutível, condicionante da in- teligência de qualquer de suas partes". E esse princIpio da unidade impöe ao intér- prete o dover de harmonizar as tensòes e contradiçöes entre normas, e deverá fazê- to guiado pelos princIpios fundamentals,gerais e setoriais inscritos ou decorrentes da própria Constituiçáo.19 o contexto extratexto refere-se a toda a realidade lingüística e nao-lingüística, nor- matia e nao-normativa, em que se insere a Constituiçáo. Refere-se, em síntese, a todos os eventos e acontecimentos que r se movem em torno da Constituiçáo2° Esta nao é, porém, alheia a esse entorno, pois nele está inserida, e também porque recebo influxos renovadores e a ele conferc orientaçáo normativa, na medida : em que a realidade estatal é submetida a uma rígida ordenaço jurídica c'ue tem nela seu fundamento de validade4Näo se há de pensar que as bases conitucio- nais definem a estrutura do contexto, pois sso seria admitir que a Constituiçäo for- mal (superostrutura) constitua a realidade material (infra-estrutura). Mas também r!o se trata de aceitar um determinismo - do contexto - especialmente do contexto éòonômico - sobre a realidade jurídica for- 19. Cf. Luís Roberto Barroso, Interpretaçao p. 182. 20. Noçào do contexto' que, mutatis mutan- dis, vem de Ann M. Johns, Text ..... p. 27: Contoxt refers not merely to a physical place, such as a t classroom, or a particular publication, such as a journal, but to all of the nonlinguistic and nontex- tuai elements that contribute to the situation in f which reading and writing are accomplished. Thus, context refers to the events that are going - on around when people speak (and writ)' (Halliday, f l991,p.5)". malSe esta é a forma, torna-se evidente ue recebe daquela os fundamentos de seu conteúdo, mas a forma também influi na modelagem da matéria. Chamo de "po- sitivismo dialético" a essa concepçäo do Direito conformado por influência da infra- estrutura, mas que a eta retorna como par- te da realidade toda, influenciando-a, e assim modificada condiciona novas for- mas jurídicas que retornam .. . num pro- cesso dialético dinámico de dominância do real à superestrutura jurídica e influên- cia desta naquela, de modo que a corn- preensão do Direito legislado (ou nao) de- pende da compreensäo da realidade que o condiciona, porque ocorre aí urna cone- xäo de sentido desta para aquele. Dá-se, assim, um processo dialético, que o posi- tivismo dialético por mim concebido oxpli- ca como sendo o processo segundo o quai o sentido da Constituição sobe da realidade subjacente, em que suas nor- mas incidem, para transformé-la na peça fundamental da realizaçâo da convivência humana, e, depois, esse sentido revivifica- do desce das normas àquela realidade para ajusté-la - ou soja, torriá-la justa - àqucics fins de convivência. O contexto extratexto é histórico, o que vale dizer que nao é estático, mas dinâmico, porque ovo- lui. E é este evoiver que imprime muta- çòes constitucionais ao longo do tempo; cu seja, é ele que ocasiona mudanças constitucionais semânticas (mudança de sentido) sem alteraçâo formal do seu tex- to -o que prova mais urna vez que a nor- ma nâo se confunde corn o texto. o ordenamento jurídico é parte relevan- te desse contexto, mas é necessário ad- venir que a inter-relação entre ele e a Constituiçäo se realiza pela consideraçao de que são as normas constitucionais que servem de fundamento de validado das normas infraconstitucionais. Embora o contexto extratexto tenha relevância para a busca do sentido da Constituiçâo, tom- se que "rechaçar a doutrina segundo a qual é o direito ordinário que dota de con- teúdo os preceitos constitucionais". Vale dizer, nao é a Constituiçäo que tern que ser compreendida e interpretada confor- me a lei, mas é a lei que tern que ser inter- pretada conforme a Constituiçâo. No en- tanto, também nao é aceitável a doutrina que sustenta a separação radical entre a legalidade constitucional e a legalidade ordinária. Há urna conexäo necessária entre ambas, que o intérprete tom que e- var em conta, corno tern que ter em mente todos os aspectos do contexto em garai.21 A variedade de elementos desse con- texto externo dé origem às formas de con- texto social, contexto cultural, contexto político, contexto histórico etc. Enfirn, é pertinente, nesta oportunidade, lembrar as observaçôes de Cláudio Ari de Mello se- gundo as quais "a ¡nvestigaçâo do sentido de urna norma constitucional nao se reduz ao exame da sua ratio lingüística e de sou telos, e mesmo a apuraçãO da lógica e da finalidade dela nao se faz sem conecté-la corn o sistema normativo-constitucional. Nem a literalidade do texto nem a sua fi- nalidade dizern algo de definitivo sobre o sentido correto da norma se analisada fora do contexto social e cultural em que ela deve incidir, e sem a conjuqaçäo da letra e dos telos corn outros principios e valores que, previstos na Constituiçâo, concernern igualmente ao mesmo âmbito 21 . Sobre essa tamática, cf. Enrique Alonso García, La Interpretación pp. 477 e 499. de incidência do preceito, e que exigem observância por parte do intérprete. E per- ceba-se que a própria finalidade da norma ganha outro sentido se sua interpretaçâo nao se processa através de seu isolamen- to do restante do sistema constitucional, mas sim mediante sua exegese reflexiva, concertada corn outros princípios e valo- res corn a mesma pertinência temática".22 É na hermenéutica contextual que a pragmática se encontra corn a semântica. E que o àstudo das relaçöes da linguagem corn o contexto é urn toma da pragmática, mas, na medida em que o sentidodo tex- to se estabelece em funçäo do contexto, tern-se urna manifestaçâo semántica. Tal- vez seja essa a razäo por que parte da doutrina reconhece que também cabe à pragmática o estudo de todos aqueles as- pectos do sentido nao capturados na too- ria da sernântica.23 Os comentários que seguem nao rea- lizarn inteiramente a interpretaçâo corI- textual da Constituiçâo, mas dâo algumas indicaçOes que bem podem servir de base para aprofundamentos posteriores, se se confirmar, na prática, sua fertilidade. 22. Hermenéutica filosófica e interpretaçao constitucional, o caso do número de vereadores', RDA 230/27. 23. Cf. Stephen C. Levinson, Pragmatics, pp. 9 e 12. PDF compression, OCR, web optimization using a watermarked evaluation copy of CVISION PDFCompressor ;I uI :] p :] ;7j II Nós, representantes do poyo brasileiro, reundos em Assembéa Naciona Constitifinte para inshtwr um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuals, a liberdade, a segurança, o bern-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de urna sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmona social e comprometida, na ordern interna e nternaconal, corn a souçäo pacÍfi ca das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte 1. Conc&to e funçäo. 2. V&or e eficácia. 3. Conteúdo do Preâmbulo da CoflstituiçäO de 1988. 4. Os re- presentantes do pavo brasileiro. 5. Assembéia Nacional Constituinte 6. Um Estado Democrático. 7 Va'ores supremos. 8. Socedade fraterna, puraIista e scm preconceftos. O ProteçSo de Deus. 1O Pro- muigamos. 11. Constltuiçâo da República Federativa do Brasil. 1_ CONCEITO E FUNÇAO. "Preâmbulo" é a parte que precede o texto articulado das Cons tituiçöes. E a expressâo solene de propósitos, urna afirrnaçäo de principios, urna síntese do pensamento que dominou naAssernbléia Cons- tituinte ern seu trabaiho de eiaboração constitu- clonai) Enuncia por quern, em virtude de que autoridade e para que fim foi estabelecida a Constituiçâo.2 Nao raro exerce a funçao de cláu- sula de promulgaçao e ordern de obedióncia, corlo tOrn sido os Preãmbulos das Constitui- cöos Brasileiras, desde a do Imperio. 2. VALOR E EFICACIA. Controverte-se em doutrina quanto ao valor do Preâmbulo das Constituiçöes.A generalidade dos autores re- cusa-Ihe natureza normativa no sentido técni- co-jurfdico, reconhecendo nele simples direti- vas básicas (políticas, morals e filosóficas) do i . Cf. Themistocles Brandáo Cavalcanti, A Constítui- cao Federal Comentada, 2 ed., vol. I, p.13; Rafael Bielaa, Derecho Constitucional, 2 ed., p. 71. 2. Cf. JOtO Ramalho, Constituiçäo Federal Brasileira, pp. 1-2. 3. Ci. flesso Aplicabilidade das Normas Constituclo- nais, 7 ed., 2 tir., pp. 202-204, corn consideraçöes sobre o tema que repetiremos aquí. regime constitucional. É essa a opinião de Hans Keisen, para quern o Preámbulo eprcs- sa as délas políticas, morals e religiosas que a ConsUtuiçao tende a promover. Geralmente, o Preâmbulo nao estipula normas definidas em relação corn a conduta humana e, por conse- guinte, carece de um conteúdo jurídicamente importante. Tern um caräter antes ideológico que jurídico".4 Karl Friedrich, no entanto, reconhece nele padicuar irnportância, porque reflete a opiniáo pública à quai cada Constituição deve sua for- ça.5 Georges Burdeau entende que o Preâmbu- lo, qualquer que seja, fixa a atitude do regime diartte dos grandes problemas socials, políticos e internacionais.6 Carl Schmitt sustentou que as Constituiçóes da Alemanha de 1871 e 1919 continham Preámbulos em que a decisâo políti- ca se encontrava formulada de maneira singu- larmente clara e penetrante, rebatendo a teoria que os tratava quase sempre como "simples 4. Teoría General del Derecho y del Estado, 2 ed., p. 309. 5. La Démocratie Constitutionnelle, 2 ed., p. 86. 6. Droit Constitutionnel et Institutions Politiques, i 2 ed. , p. 376. PDF compression, OCR, web optimization using a watermarked evaluation copy of CVISION PDFCompressor 22 COMENTARIO CONTEXTUAL À CONSTITUIÇÄO - PREÁMBULO deciaraçöes", ou 'notIcias históricas", ou decla- raçôes dè valor meramente enunóiativo, nao dìspositivo7 ManuëlGárcía-Pelayo, após expor o pensamento de Schmitt, nao titubeia em con- siderar as declaraçöes contidas no Preâmbulo como parte integrante e essencial da ordern ju- rídica constitucional, posto que dâo sentido às normas jurídicas.8 Do exposto, já é possível fixar urna tese ge- rai sobre o valorjurídico e a eficácia dos Preâm- bulos das Constituiçöes. Namais das vezes eles fazem referência explícita ou implícita a urna situaçäö passáda indesejável, e postulam a construçao de urna ordern constitucional corn outra direção,9 ou urna sltuaçâo de iuta na per- seguiçâo de propósitos de justiça e liberdade;1° outras vezes exprirnern urn princípio básico, po- lítico, social e filosófico, do regime instaurado pela Constituiçâo Há casos em que tudo isso vem misturado adeclaraçôes de direitos e ga- rantias constitucionais Em qualquer dessas hipóteses, os Preârn- , bulos valern corno orientaçâo para a interpreta- çao e aplicaçâo das normas constitucionais Têrn, pois, eficácia interpretativa e integrativa; mas, se contêm urna deciaraçao d direitos po- líticos e soclais do homem, valem como regra de principio se nô texto articulado da Constitui- çao nao houver norma que os confirme eficaz- mente Se houver, a eficácia da norma será Aqiiiia ditada pelo conteúdo da dispositiva que a contenha. A jurisprudência francesa, corno nota Georges Liet-Veaux, Ihe dá valor de lei, urna espécie de lei supletiva.12 Para Pinto Fer- reirao Preâmbuloé urna parte integrante da Constituição e está acima das eis ordinárias.13 Assirn será quando estabelece principios e de- terminaçöes jurídicas claras Assim, quando o Preâmbulo ora em comen- tário declara que os poderes inerentes à sobe- rania sao exercidos por representantes eleitos ou por mecanismos departicipaçäo popular direta, está assumindo urna decisâo política fundamental e abrindo-se para um regime de democracia participativa que poderia desenvol- ver-se mesmo que o texto constitucional nao 7 Teoría de ¡a Constitución, p. 29. 8. Derecho Constitucional Comparado, 4 ed., p. 111. 9. Cf. o Preâmbulo da constituiçao doe Estados Uni- dos da América. i o. ci. o Preâmbulo da Constituiçäo da Tcheco-EsIo- váqula de i 948 e o da constituiçao da ugosiávia de 1974 (a de 1 946 nao tinha Preâmbuio). I 1 . cf. o Preámbulo da Constituiçäo Francesa de i 946. i 2. Droit Constitutionnel, pp. 1 36-1 37. i 3. ct. "Preâmbulo", in Enciclopédia Saraiva de Direi- to, vol. 59, p. 505. consignasse qualquer forma de participaçao di- reta. 3. CONTEUDO DO PREAMBULO DA CONSTITUIÇAODE 1988. Distinguimos aí: (1) quern estabeieceu a Constituiçâo - os repre- sentantes do pavo brasileiro; (2) em virtude de que autoridade - reunidos em Assembidia Na- clonai Constituinte, ou seja, no exercício do po- der constituinte originário; (3) para que fins, ou seja;-corn que propósitos, se estabeleceu a nova Constituiçâo - para instituir um Estado De- mocrático; (4) corn que objetìvos - destinado a assegurar o exercíclo dos direitos sociais e in- dividuais, a liberdade, a segurança, o bem-es- far, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça; (5) fundado em que valores nos direitos so- oíais e individuals, na liberdadé, na segurança, no bern-estar, no desenvolvimento, na igualda- de e na justiga como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconcei- tos, fundada na harmonia social e comprometi- da, na ordern interna e internacional, corn a so- Iuçao pacifica das controvérsias; (6) cláusula de promúlgaçao: promulgamos a seguinte Consti- tuiçäo da República Federativa do Brasil; (7) sob que invocaçäo: sob a proteçäo de Deus. 4 OS REPRESENTANTES DO POVO BRA- SILEIRO. Em verdäde, nao foi bem assim A Assemblóia que elaborou a Constituiçào corn- pos-se de 487 deputados e 49 senadores elei- tos em 15i1.1986, mais 23 senadores eleitos em i 5.1 1 .1 982. Portanto, se tivermos em conta que senadores representam os Estados, ternos que concluir que a expressâo do Preâmbulo nao corresponde à realidade. Nem todos eram representantes do pavo Nern todos forarn elel- toscom poderes para tazar urna Constituiçao Nâo quer isso dizer que a Constituiçâo de i 988 padeça de ilegitirnidade por essas razôes A maiòria da Assemblóia - ou seja, os 487 depu- tados e os 49 senadores - foi eleita cam pode- res especlais para elaborar a nova Constituiçao, e assirn o tizeram. 1550 Ihe dà sustentaçâo. Houve consentimento popular, e até participa- çäopopular, para sua elaboraçao, sem embar- gp das notórias imperfeiçòes da convocaçao dos constituintes 5 ASSEMBLEIA NACIONAL CONS TI rUIN- TE. Foi convocada pela Emenda Constitucional 26, de 27 11.1985. Por esta foram convocados os membros da Cámara dos Deputados e do Senado Federal para se reunirem, unicameral- mente, em Assembléia Nàcional Constituinte, Ii- vra e soberana, no dia 1.2.1987, na sede do Congresso Nacional, sob a presidência do Pre- COMENTARIO CONTEXTUAL À CONSTITUIÇAO - PREÂMBULO 23 Ísidente do STF, a quem coube dirigir a sessâo de eleiçao do seu Presidente - É preciso observar que as eieiçöes para a Cá- mara dos Deputados e para o Senado Federal deveriam mesmo realizar-se no dia 15.11.1986, : de modo que a Emenda apenas criou condiçoes j para que o poyo outorgasse aos eleitos os po- deres coristituintes origiriários Essa foi urna i complicaçáo, porque, em lugar de se convocar : urna autêntica Assembléia Nacional Constituin- te, na verdade, apenas se convocou urn Con- - gresso Coristituinte - alias, como forarn o de 1890/1891 e o de 1945/1946, que produziram -i as ConstituiçOes de 1 891 e de 1 946 Melhor te- ria sido convocar urna Assemblóia Nacional Constituinte exclusiva, no sentido de que nao ti- i vesse vínculo algurn corTi os poderes legislati- ., vos constituIdos que compöem o Congresso , Nacional. Foi essa,no entanto, a Constituinte , politicamente possívei. Nem por isso a Consti- i tuiçáo deixa de ser produto do constituinte ori- ginário, ainda que atuado corn imperfeiçáo. . 6. UM ESTADO DEMOCRÁTICO. Vê-se que a Assernbléia Nacional Constituinte se propos - instituir(criar) nao "o" Estado Democrático, mas 'um" Estado Democrático. Quer-se, corn isso, dizer que nao se cogitava de adatar o Estado Democrático clássico, como mero Estado de . Direito como Estado contraposto ao Estado gendarme e ao Estado despótico. O artigo inde- tinido "um" tern, no contexto, funçáo diretiva im- portante, conotativa da idéia de que o objetivo era instituir um tipo diferente de Estado Demo- crático, corn nova destinaçào - qual soja, a de aesegurar os valores supremos (infra) de urna . sociedade fraterna, pluraiistae sam preconbel- to. Esse objetivo se realiza no art 1 corn con- cretizaçào normativa do Estado Democrático de . Qjçito. que, corno veremos, nâo é a simples soma dos princIpios do Estado Democrático tra- dicional e do Estado Liberal de Direito Significa isso que onde a Constituiçao fala em "Estado Democrático" está se referindo a esse que ela instituiu no art, 1 em curnprimento ao previsto no Preâmbulo. E sua existência e sua vigoncia que a Constituiçâo garante corn mecanismos Ypressamente estabelecidos nos arts. 55, XLIV, e91,1,iV,enoTítuloV. 7. VALORES SUPREMOS. O Estado Demo- crático depireito destina-se a assegurar o oxer- cIclo de determinados valores supremos. "As- -- , segurar' tern, no contexto, funçao de(garantia dogmatico constitucional )náo porern diga rantia des valores abstratamente considerados mas do sau "exercício". Êste signo decampe- nha, aí, funçäo pragmática, porque, como obje- to de "assegura', tern o e feito irnediato de pres- crever ao Estado urna açao em favor da efetiva jiRaçäo dos ditas valores em dìreção (funçâo diretiva) de destinatários das normas consti- tucionais que dâo a esses valores conteúdo es- peolfipp. Os valores supremos, expressarnente enun- ciados, sãO: os direitossoclais, os direitos indi- viduais. a ilberdade, a segurança, bern-estar, o desanvolvimento, a igualdade e a justiça. Os artigas definidos (os direitos, a liberdade etc.) são do texto constitucional e tOrn, no contexto, importante papel, porque cumprem funçâo de generalizador, de qualificador universal ou ope- rador total, valern para a classe do termo reten- do; por elesse expressa urna vincuiaçâo uni- versal dos valores do argumento. A oraçao se converte num juízo universal positivo de deter- minaçáo, quer dizer, corn respeito à função di- retiva, em esquema diretivo de açao univer- sal" 14 "Valores supremos" é expressâo superlativa, que corresponde a valoressuperioresdo art. 1 da Constituiçáo Espanhoia: "A Espanha se constitui em um Estado Social e Democrático de Direito, que propugna como valores superb- res de seu ordenamento jurídico a liberdade, a justiça, a iguaidade e o pluralismo político". A nossa expressáo é, porém, mais rica de conteú- do, porque inclui também os direitos sociais, to- doe os direitos individuals e nao sé a liberdade, a segurança, o bern-estar e o desenvolvimento, além da igualdade e da justiça. De outro lado, os valores superiores da Constituiçâo Espanho- la são valores de seu ordenarnento jurídico, en- quanto os nossos valores supremos o são de urna sociedade fraterna, pluralista e sem pre- conceitos, fundada na harmonie social e corn- prometida, na ordern interna e internacional, corn a soluçáo pacífica das controvérsias. O "urna", determinante da sociedade, importa de- notar que só urna sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos incorpora aqueles valores e, reciprocamente, sé numa sociedade de tal tipo é que eles vigem. Ainda em correlaçao corn os valores superb- resda Constituiçao Espanhola, poder-se-iaob- servar que estes se situam no âmbitodánor- mas - e, assim, tOm caráter normativo15 -, ao passo que os nossos valores supremos figurarn ño Preâmbulo -- e, assim, carecem de normati- vidade. Nao nos parece que se possa assim 14. Cf., sobre o iema, Waldemar Schreckenberguer, Semiótica del Discurso Jurídico, pp. 41-42. i 5. Cf. Gregorio Peces-Barba, Los Valores Superiores, pp. 36 e 42. PDF compression, OCR, web optimization using a watermarked evaluation copy of CVISION PDFCompressor 24 COMENTÁRO CONTEXTUAL À CONSTITUIÇAO - PREAMBULO concluir, porque os valores ai enumerados como supremos recebem depo s,cada qua! de- les, tratamento normativo específico no contex- to da Constituiçäo (arts 3 e 5g), salvo o valor da fustiça, que nao precisa ser normatizado, por- que está na base do Diretto, como seu valor fun- dante. Sendo valores, a normatividade é de sua essência, tâm vetor que aponta para o dever- ser, que nao se esgota logicamente na normati- vidade técnico-jurídica, porquanto funcionam como fun amento de legitimaçao do Estado Democrático de Direito, razäc ética do sistema politico guia da interprataçao consLituctonal évitam o formalismo ético que concebe o direito positivo como justo só por ser positivo, porque "tern um çonteúdo conceptual que no se esgo- ta em sua perspectiva normativa, senâo qe ex- cede da mesma e funde suas raízes no campo da moralidade".16 8. SOCIEDADEFRATERNA, PLURALISTA E SEM PRECONCEITOS. Sociedade sem pre- conceitos é aspiração salutar de um poyo que se constitui de urna pluralidade étnica; a luta contra o preconceito, especialmente contra o preconceito de cor, que tern sido urna nódoa disfarçada na rnal-charnada "democracia racial brasileira". Vârios dispositivos da Constituiçao concretizarn a condenaçäo do preconceito e es- tatuern sançäo inafiançável a quern os transgri- da (arts. 3, IV, e 5, capute incisos XLI e XLII). A fraternidade é, no dizer de Hauriou, urna forma de oIidrIOddO, ou de ajuda mUtua. À idéia de fraternidade, segundo ele, hào que re- ferir as instituiçöes de beneficência pública para os indigentes, os enfermos, as crianças aban- donadas, os velhos etc.17 Sociedade fraterna, assirn, corresponde à sociedade solidária men- cionada no art 3Q, I. Corn isso, o sistema cons- titucional se orienta no sentido do solidarismo - principio, esse, que examinaremos, mais a fun- do, nos comentários do art. 3Q Agora, cabe ape- nas observar que, optando por urna sociedade fraterna, a Constituiçäo pretende construir urna sociédade fundada no sentimento de irrnandade - ou seja, urna sociedade cujes rnembros e gru- pos, a despeito de suas divergências, hào de buscar a realizaçào da harmonia social da Na- cao. E importante ter isso em mente, porque a Constituiçào promete nao apenas urna socieda- de fraterna, mas urna sociedade fraterna e plu- ralista -o que, na sua aparente contradiçâo, sO pode significar a procura da convergência para i 6. Ct. Gregorio Peces-Barba, Los Valores Superiores, p. 36. 17. Cl. Maurice Hauriou, Derecho Público y Constifucio- na!, 2 ed., p. 119. urna sociedade equilibrada e justa, tambérn re- ferida no art. 35, I. A Constituiçäo opta, pois, pela sociedade pluralista, que respeita a pessoa humana e sua liberdade, em lugar de urna sociedade monista, que mutila os seres e engendra as ortodoxias opressivas.18 O pluralismo é urna realidade, pois a sociedade se compOe de urna pluralida- de de categorias soclais, de classes, grupos sociais, econômicos, culturais e ideológicos.19 Optar, pois, por urna sociedade pluralista signi- ficaacolher urna sociedade conflitiva, de inte- resàes contraditórios e antinômcos. O proble- rna do pluralismo está precisarnente em construir o equilibrio entre as tensOes rnúltiplas e por vezes cnntrarlitórias, .rn conciliar a soria- bilidade e o particularismo, em administrar os antagonismos e evitar divisOesirredutíveis. Ai se inseré o papel do poder político: "satisfazer pela ediçào de medidas adequadas o pluralis- mo social, contendo seu efeito dissolvente pela unidade de fundamento da ordern jurídica".20 O caráter pluralista da sociedade traduz-se no Constitucionalismo ocidental - corno nota André Hauriou - pelo pluralismo das opiniÖes entre os cidadéos; a libérdade de reuniäo, onde asopiniöes nâo-ortodoxás podem ser publica- mente sustentadas (semente, em princIpio, a passagem às açöescontrárias à ordern pública é vedada); a liberdade de associaçäo e o plu- ralismo dos partidos políticos, o pluralismo das canriidatiiras a o pluralismo clos grupos pa ria- mentares corn assente nos bancos das As- sernbléias21 Daífalar-se em pluralismo social, pluralismo político (art. 1, V), piuralisrno parti- dârlo (art. 17), pluralismo econôrnico(livre inicia- tiva e ivre concorrencia - art 170) pluralismo de idéias e de concepçòes pedagógicas (art. 206, Ill), pluralismo cultural, que se infere dos ails 215 a 216 e pluralismo de rneios de cornu ncaçao (220 § 50) Enfim a Constituiçào con sagra, corno um de seus princípios fundarnen- tais, o principio pluralista -o que vale dizer: encaminha-se para a construçào de urna demo- cracia pluralista, de que falarernos noutro lugar. É irnprescindível, contudo, notar que urna sociedade pluralista conduz à poliarquia, con- 18. Neaae sentido, cf. Georges Burdeau, Tra!téde Scion- ce Politique, t. Vii, p. 559. 19. Cf. Burdeau, Traité ..., t. Iii, p. 169; José .Joaquim Gomes Canotilbo, 0/reife Constitucional, 4" ed., p. 331; André Hauriou, Droit Constitutionne! et Institutions PoI/ti- ques, 5 ed., p. 226. 20. Sobre tudo sao, cf. Burdeau, Traitó ..., t, VIi, pp. 560 e 562, e t. i, p. 165. 21 . André Hauriou, Droit Constitutionnel ... , 5" ed., pp. 225-226. COMENTARIO CONTEXTUAL À CONSTITUIÇÄO - PREAMBULO 25 forme ressaita Burdeau corn as seguintes pala- vras: 'Politicamente a reaildade do pluralismo de fato conduz à poiiarquia, ou seja, a urn regi- me onde a dispersào do poder nurna multiplici- dade de grupos é tal que o sistema político nào pode funcionar senào por urna negociaçào coñstante entre os líderes dessés grupos. Nes- se regime o poder nào é urn potência unitária; ele é o resultado de um equilibrio iñcessante- mente renovado entre urna pluralidade de for- ças que são, a um tempo, rivais e cúmplices. Rivais porque cada urna visa a fazer prevalecer seus interesses e suas aspiraçOes; cúmplices porque as relaçées que alas mantêrn entre si nao vào jamais à ruptura que causarla a parali- sia do sistema".22 O que se coloca em face disso - ambra Bur- deau - são as condiçées à quais o pluralismo responde para constituir a base efetiva de urn sistema de governo: prirneira, "é preciso que exista no grupo urn acordo sobre os principios e as práticas essenclais que facilitem a compe- tiçào pacífica e sua aceitaçào pelos cidadàos"; segunda, "que o pluralismo social resulte da co- existência de organizaçöes sociais autónomas urnas em face das outras e cuja razào de ser nao seja exclusivamente, nem mesmo principal- mente, de ordern política"; terceira, "existência na sociedade de relativa igualdade dos recur- sos dos individuos; igualdade nao significa nive- lamento"; "pode haver ricos e pobres, mas é necessário qua a pobreza no ravisfa o caráter de urna irremediável maldiçào e quo a riqueza exija para conservá-la tanto esforço corno para adquiri-la"; enfim, a última mas fundamental condiçào é que as decisOes políticas nao ve- nharn a gerar divisöes irredutíveis na socieda- de) De tudo isso se deduz a importância de ter a Constituiçáo conjugado a concepção de urna sociedade pluralista corn a de urna sociedade livre, justa, fraterna e solidária (art. 30, I), pois, se o pluralismo é uma concepçäo liberal, e soli- darismo, de fundo socialista,24 aponta para urna realidade humanista de fundo igualitario, que supôe a superaçào dos conflitos, e, assim, fun- damenta a integraçào social, que evita os anta- gonismos irredutíveis que destroem o principio pluralista. Forma-se, assim, urna sociedade in- tégrada em que, por um lado, "cada urna das unidades componentes ocupa nela urn lugar conforme sau papel no conjunto" e em que, por 22. Traité ..., t. Vii, pp. 563-564. 23. Burdeau, Traité ..., t. VII, pp. 565-566. 24. Cf. Léon Duguit, Traité de Droit Constitutionnel, 3" ed., vot. Iii, p. 642. outro lado, "seus membros adrnitem os mes- mos valores, participam das mesmas crenças, unem-se nas mesmas representaçöes, aderem aos mesmos símbolos".25 Essa concepçào está expressamente tradu- zidano Preámbulo e na idéia de pluralismo po- lítico que consta do art. 1, que merecerá nos- sos comentários na oportunidade devida. g, PROTEÇAO DE DEUS O símbolo de re- ligiosidade consta d todas as nossas Constitui- çöes. Na do ImpOrle, D. Pedro I invocara a gra- ça de Deus e a unânime aclarnaçäo dos poyos. A esse tempo a religiào católica era estatal. A de i 891 nao invobara Deus, pois a República nas- cia sob o signo da separaçäo entre Estado e lgreja. Firmava-se a idéía do Estado leigo, e, por isso, sua Constituiçâo ñâo deveria invocar a divindade. A de 1934 tirmara-se na confiança em Deus. A ditatorial de i 937 nao o menciona- ra. As subseqüentes de i 946, 1 967 e i 969 ape- laram pela proteçäo de Deus. O deputado José Genoíno propôs extirpar a expressàO, que já constava do Substitutivo do Relator da Cornissào de Sistematizaçáo. Fez bonita sustentaçào filosófica no sentido de que a divindade permeia toda a vida e nao se corn- padece corn a simples banalizaçáo de urna in- vocaçãO formal. Só teve um voto a seu favor, que nao foi o seu, porque nao votava naquele momento. O voto favorável foi o do represen- tante do Partido Comunista do Brasil. O repre- sentante do Partido Comunista Brasileiro votou pela rnanutençäo da invocaçào. Disse que ou- trora (em i 946) seu Partido se pronunciara con- tra a inclusào da cláusula, mas, em nome da modernizaçào das idéias partidárias, e em res- peito ao sentimento religioso do poyo brasileiro, apoiava sua manutençäo no Preámbulo. Embo- ra deslocada, a invocaçäo permaneceu no tax- to aprovado pelo Plenário. De fato, um Estado leigo nao deveria invocar Deus em sua Constituiçào. Mas a verdade tam- bém é que o sentimento religioso do poyo bra- sileiro, se nao impöe tal invocação, a justifica. Por outro lado, para os religiosos ela é impor- tante. Para os ateus, há de ser indiferente. Logo, nao há por que condená-la. Razão forte a justifica: o sentimento popular, de quem pro- vém o poder constituinte. lo. PROMULGAMOS "NOs, representantes do poyo brasileiro, (...) promulgarnos, (...) a se- guinte Constituiçào da República Federativa do Brasil" - ternos aí a cláusula de promulgaçào da Constituiçào de i 98á0 ato de promulgaçäo tern 25. Cf. Georges Burdeau, Traité ..., t. IiI, pp. 180-1 81. PDF compression, OCR, web optimization using a watermarked evaluation copy of CVISION PDFCompressor 26 COMENTÁRO CONTEXTUAL À CONSTTUIÇAO - PREAMBULO por objeto dar conhecimento a todos de que a Constituiçäo foi votada e aprovada pela Assem- bléla Nacional Constituinte. Foi, enfim, criada, e existe corn determinado conteúdo. Nao se trata de verificar se o processo de sua formaçäo foi regular, ou nao. Urna Constituiçäo nao compor- la qualquer forma de sindicabilidade quanto à sua validade. SO a própria Constituinte dispöe de poderes para dosfazer norma constitucional por ela mesma criada. Urna vez, porém, termi- nado o processo constituinte, corn a aprovaçào do texto constitucional e sua conseqüente pro- mulgaçao, a Constituiçäo reputa-se válida, obri- gatória e aplicável, tanto quanto o enunciado de suas normas contenha as condiçòes
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