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Igualdade de chances.Parte I.6 Direito Eleitoral

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6. PROPAGANDA ELEITORAL —HORÁRIO GRATUITO — DISTRIBUIÇÃO EQÜITATIVA1
<texto>Trata-se de requerimento formulado por candidato a Governador do Estado de São Paulo, objetivando a argüição de inconstitucionalidade das alíneas “a”, “l”, “c” e “d” do inciso II do art. 1.º da Lei n. 7.508, de 04.07.1986. Pede ainda o requerimento da suspensão liminar da vigência das disposições.
<texto>1. Os fundamentos do presente pedido de argüição podem ser assim resumidos:
<texto>a) o critério adotado pelo legislador condicionou o acesso das agremiações partidárias, ao rádio e à televisão, à existência de representação no Congresso Nacional;
<texto>b) a sistemática referida excluiu do rádio e da televisão todos os Partidos que não dispõem, no momento, de representação nas Casas Legislativas, uma vez que a propaganda gratuita é a única forma de acesso a esses meios de comunicação;
<texto>c) outrossim, a distribuição do tempo de propaganda gratuita foi dimensionada na proporção da representação dos Partidos nas Casas Legislativas, o que acarreta séria distorção entre as agremiações com acesso ao rádio e à televisão;
<texto>d) a representação proporcional de que trata o art. 148 da Lei Maior não poderia servir de base para a inexplicável discriminação contida na Lei n. 7.508/86, pela singela razão de que essa representação proporcional deve dar-se única e exclusivamente no âmbito das Casas Legislativas;
<texto>e) se a instituição da propaganda gratuita se deu em função da divulgação de candidaturas registradas perante a Justiça Eleitoral, é inaceitável que a lei discrimine candidatos a mandatos futuros em função da representação atual de seus partidos;
<texto>f) se a assertiva de que todos são iguais perante a lei, sem distinção de convicções políticas expressa no § 1.º do art. 153 da Lei Maior, merece ser levada a sério, não se pode admitir que o tempo de propaganda no rádio e na televisão seja diverso para candidatos legalmente registrados, só porque pertencem a tal ou qual Partido, convindo lembrar, a propósito, que os diferentes candidatos só pertencem a diferentes Partidos em razão de diferentes convicções políticas;
<texto>g) tendo o Estado chamado a si a incumbência de regular o acesso dos candidatos ao rádio e à televisão, instituindo um horário de propaganda e a ele confinando qualquer manifestação política por meio de comunicação, não poderia marginalizar a maioria das agremiações partidárias, sem frontal ofensa, também, à liberdade de manifestação do pensamento e de convicção política, assegurada pelo art. 153, § 8.º, da CF de 1967/69;
<texto>h) embora o art. 152 da CF de 1967/69 estabeleça que os partidos políticos resguardarão, na sua organização e funcionamento, “a soberania nacional, o regime democrático e o pluralismo partidário”, entre outros valores, é fácil de ver que o pluralismo partidário e o regime democrático foram seriamente lesados com a sumária exclusão dos partidos existentes do acesso aos meios de comunicação;
<texto>i) poder-se-ia argumentar que a ordem jurídica deve repudiar os Partidos inexpressivos, tidos como inviáveis, invocando até mesmo os §§ 1.º e 2.º do art. 152 da Lei Maior, que estabelecem requisitos mínimos de representatividade para que certas agremiações possam subsistir. O argumento, que já seria falacioso, relativamente a Partidos que, bem ou mal, estão habilitados a disputar o pleito, torna-se imprestável quando se verifica que, por força do art. 5.º da EC 25/85, “o disposto nos §§ 1.º e 2.º do art. 152 da CF não se aplica às eleições de 15.11.1986”;
<texto>j) a disposição contida no art. 174, § 2.º, da CF, complementa a garantia constitucional da liberdade de manifestação do pensamento e de convicção política (art. 153, § 8.º), permitindo que o legislador condicione o funcionamento das empresas de rádio e televisão no interesse do regime democrático;
<texto>l) no caso em apreço, os condicionamentos contidos nas alíneas “a”, “b”, “c” e “d” do inciso II do art. 1.º da Lei n. 7.508/86 recaíram, efetivamente, sobre o funcionamento das empresas de rádio e televisão, operando, todavia, em detrimento do regime democrático, ao cercear a liberdade de pensamento e de informação relativamente a todas as agremiações partidárias excluídas do horário de propaganda gratuita;
<texto>m) é oportuno salientar, ainda, que a exclusão da maioria dos Partidos, legitimados às eleições, do acesso ao rádio e à televisão ou horário exclusivamente destinado à propaganda partidária, configura forma indireta de censura;
<texto>n) ainda que o critério proporcional fosse admitido, sua aplicabilidade haveria de cingir-se aos candidatos a eleições que se realizam sob a égide do princípio da proporcionalidade, não sendo extensivo aos candidatos ao Senado e ao Governo do Estado.
<texto>2. Dispõe o art. 1.º da Lei n. 7.508/86, in verbis:
<texto>“Art. 1.º A propaganda eleitoral, no rádio e na televisão, para as eleições de 15.11.1986, restringir-se-á, unicamente, ao horário gratuito disciplinado pela Justiça Eleitoral, obedecidas as seguintes normas:
<texto>I — Todas as emissoras do País reservarão, nos 60 dias anteriores à antevéspera das eleições, duas horas diárias para a propaganda, sendo uma hora à noite, entre 20 e 23 horas;
<texto>II — A Justiça Eleitoral distribuirá os horários reservados entre os partidos políticos que tenham candidatos registrados na Circunscrição às eleições majoritárias, às eleições proporcionais, ou a ambas, nos termos previstos no inciso VIII deste artigo, observados os seguintes critérios:
<texto>a) 50 minutos serão distribuídos na proporção do número de representantes de cada partido no Congresso Nacional;
<texto>b) 40 minutos serão distribuídos igualmente entre todos os partidos políticos com representação no Congresso Nacional e que tenham candidatos nos termos previstos no inciso VIII deste artigo, observando-se o limite máximo de 5 minutos para cada um;
<texto>c) 30 minutos serão distribuídos entre os partidos políticos na proporção do número de seus representantes na Assembléia Legislativa;
<texto>d) Havendo sobra de tempo na aplicação do critério da alínea “b” deste inciso, essa será acrescida ao tempo previsto na alínea “a”;
<texto>e) No Distrito Federal, o horário será distribuído observando-se os seguintes critérios:
<texto>1 — 80 minutos serão distribuídos na proporção do número de representantes de cada partido no Congresso Nacional;
<texto>2 — 40 minutos serão distribuídos igualmente entre todos os partidos políticos com representação no Congresso Nacional e que tenham candidatos nos termos previstos no inciso VIII deste artigo, observando-se o limite máximo de cinco minutos para cada um;
<texto>3 — Havendo sobra de tempo na aplicação do critério do n. 2 desta alínea, essa será acrescida ao tempo previsto no n. 1;
<texto>III — Cada partido deverá utilizar pelo menos a metade de seu tempo para a propaganda de candidatos à Assembléia Nacional Constituinte;
<texto>IV — Compete aos partidos, por meio de comissão especialmente designada para esse fim, distribuir, entre os candidatos registrados, os horários que lhes couberem;
<texto>V — Desde que haja concordância entre todos os partidos interessados, em cada parte do horário gratuito poderá ser adotado critério de distribuição diferente do fixado pela Justiça Eleitoral, à qual caberá homologar;
<texto>VI — As emissoras de rádio e televisão ficam obrigadas a divulgar, gratuitamente, comunicado ou instruções da Justiça Eleitoral, até o máximo de 15 minutos diários; consecutivos ou não, nos 30 dias anteriores ao pleito;
<texto>VII — Fica facultada a transmissão, pelo rádio e pela televisão, de debates entre os candidatos registrados pelos partidos políticos e coligações;
<texto>VIII — Dos horários gratuitos de propaganda eleitoral, nas rádios e televisões, somente participarão os partidos políticos ou coligações partidárias que tenham candidatos às eleições majoritárias ou às proporcionais, devendo ter preenchido, para estasúltimas, pelo menos nos 1/3 das cadeiras em disputa para a Câmara dos Deputados e Assembléias Legislativas”.
<texto>3. Cobra relevo observar que alguns sistemas constitucionais, como o alemão, lograram formular o princípio da igualdade de chances, entre os partidos políticos, como autêntico direito fundamental, assentando seus fundamentos, dentre outros, no postulado geral da igualdade (Lei Fundamental, art. 3.º, I).2
<texto>4. O princípio da Chancengleicheit parece ter encontrado sua formulação inicial na República de Weimar, com as obras de Herman Heller (Probleme der Demokratie, I und II, 1931, e Europa und der Faschismus, 1929) e de Carl Schmitt (Der Hüter der Verfassung, 1931, e Legalität und Legitimität, 1932).
<texto>5. Na concepção de Heller, “o Estado de Direito Democrático atual encontra seu fundamento, principalmente, na liberdade e igualdade da propaganda política, devendo assegurar-se a todas as agremiações e partidos igual possibilidade jurídica de lutar pela prevalência de suas idéias e interesses”.3 O notável publicista acrescentava que a fórmula técnica para preservar a unidade da formação democrática assenta-se na livre submissão da minoria, à vontade majoritária, isto é, na renúncia das frações minoritárias a uma superação da maioria, mediante o uso da violência. Isto pressupõe a renúncia à opressão da minoria e exige a preservação das perspectivas dela vir a se tornar maioria.4
<texto>6. Por seu turno, advertia Carl Schmitt que um procedimento neutro e indiferente da democracia parlamentar poderia dar ensejo à fixação de uma maioria por via da matemática ou da estatística, causando, dessa forma, o próprio esfacelamento do sistema de legalidade. Tal situação somente haveria de ser evitada com adoção de um princípio consagrador da igualdade de chances para alcançar a maioria, aberto a todas as tendências e movimentos.5 E, enfaticamente, asseverava Carl Schmitt in verbis:
<texto>
<rec>“Sin este principio, las matemáticas de las mayorías, con su indiferencia frente al contenido del resultado, no solo serían ún juego grotesco y un insolente escarnio de toda justicia, sino que, a causa del concepto de legalidad derivado de dichas matemáticas, estas acabarían también con el sistema mismo, desde el instante en que se ganara la primera mayoría, pues esta primera mayoría se instituiría enseguida legalmente como poder permanente. La igualdad de chance abierta a todos no puede separarse mentalmente del Estado legislativo parlamentario. Dicha igualdad permanece como el principio de justicia y como una condición vital para la autoconservación”6
<rec>
<texto>7. Com impecável lógica, consignava o eminente publicista que a legalidade do poder estatal conduz à negação e à derrogação do direito de resistência enquanto Direito,7 uma vez que ao poder legal, conceitualmente, não é dado cometer injustiças, podendo, para isso, converter em “ilegalidade” toda resistência e revolta contra a injustiça e antijuridicidade.8 E o eminente mestre acrescentava que:
<texto>
<rec>“Si la mayoría puede fijar a su arbitrio la legalidad y la ilegalidad, también puede declarar ilegales a sus adversarios políticos internos, es decir, puede declararlos hors-la-loi, excluyéndolos así de la homogeneidad democrática del pueblo. Quien domine el 51 por 100 podría ilegalizar, de modo legal, al 49 por 100 restante. Podría cerrar tras sí, de modo legal, la puerta de la legalidad por la que ha entrado y tratar como a un delincuente común al partido político contrario, que tal vez golpeaba con sus botas la puerta que se le tenía cerrada”.9
<rec>
<texto>8. Destarte, a adoção do princípio de igualdade de chances constitui condição indispensável ao exercício legal do poder, uma vez que a minoria somente há de renunciar ao direito de resistência, se ficar assegurada a possibilidade de vir a se tornar maioria.10 Vale registrar, ainda nesse particular, o seu magistério, in verbis:
<texto>
<rec>“El Estado legislativo parlamentario de hoy, basado en la dominación de las mayorías del momento, solo puede entregar el monopolio del ejercicio legal del poder al partido momentáneamente mayoritario, y solo puede exigir a la minoría que renuncie al derecho de resistencia mientras permanezca efectivamente abierta a todos la igualdad de chance para la obtención de la mayoría y mientras presente visos de verdad este presupuesto de su principio de justicia”.11
<rec>
<texto>9. Na vigência da Lei Fundamental de Bonn (1949), a discussão sobre a igualdade de chances entre os partidos foi introduzida por Forsthoff, que assentou os seus fundamentos nas disposições que consagram a liberdade de criação das agremiações políticas (art. 21, I, 2) e asseguram a igualdade de condições na disputa eleitoral (art. 38 e 28).12
<texto>Também Gerhard Leibholz considerou inerente ao modelo constitucional o princípio de “igualdade de chances”, derivando-o, porém, diretamente, do preceito que consagra a ordem liberal-democrática (freiheitlich demokratischen Grundordnung).13
<texto>Mais tarde, após os primeiros pronunciamentos do Tribunal Federal Constitucional, passou Leibholz a considerar que o postulado da igualdade de chances encontrava assento no princípio da liberdade e pluralidade partidárias (arts. 21, I, e 38, I) e no princípio geral de igualdade (art. 3.º, l).
<texto>10. Tais elementos serviram de base para o desenvolvimento da construção jurisprudencial iniciada pelo Bundesverfassungsgericht em 1952. Observe-se que, nos primeiros tempos, a jurisprudência da Corte Constitucional parecia identificar o princípio de igualdade de chances com o direito de igualdade eleitoral — Wahlrechtsgleicheit — (Lei Fundamental, art. 38, l). As controvérsias sobre o financiamento dos partidos e a distribuição de horários para transmissões radiofônicas e televisivas ensejaram o estabelecimento da distinção entre o princípio da igualdade de chances, propriamente dito, e o direito de igualdade eleitoral. Os preceitos constitucionais atinentes à liberdade partidária (art. 21, l) e ao postulado geral da isonomia (art. 3.º, I) passaram a ser invocados como fundamento do direito de igualdade de chances dos partidos políticos.14
<texto>11. Converteu-se, assim, a igualdade de chances em princípio constitucional autônomo, um autêntico direito fundamental dos partidos, assegurando-se às agremiações tratamento igualitário por parte do Poder Público e dos seus delegados.15
<texto>12. Inicialmente, perfilhou o Tribunal Constitucional orientação que preconizava aplicação estritamente formal do princípio de igualdade de chances. Todavia, ao apreciar controvérsia sobre a distribuição de horário para transmissão radiofônica, introduziu o 2.º Senado da Corte Constitucional o conceito de “igualdade de chances gradual” — absgetufte Chencengleicheit, de acordo com a “significação do Partido” (Parteibedeutung).16
<texto>Considerou-se, dentre outros aspectos, que o tratamento absolutamente igualitário levaria a uma completa distorção da concorrência, configurando a equiparação legal das diferentes possibilidades (faktische Chancen) manifesta afronta ao princípio da neutralidade que deveria ser observado pelo Poder Público em relação a todos os partidos políticos.17
<texto>13. A Lei dos Partidos de 1967 veio consagrar, no § 5.º, o princípio da igualdade de chances tal como concebido pela Jurisprudência do Bundesverfassungsgericht, estabelecendo o seguinte exercício “(1) Se um delegado do Poder Público coloca suas instalações ou serviços à disposição dos partidos, há de se dar igual tratamento às demais agremiações partidárias. A amplitude da garantia pode ser atribuída, gradualmente, de acordo com a “significação do partido”, assegurando-se, porém, um mínimo razoável à consecução dos objetivos partidários. A significação do partido é aferida, em especial, pelos resultados obtidos nas últimas eleições para a Câmara de Representantes. Ao partido com representação no Parlamento há de se assegurar uma participação não inferior à metade daquela reconhecidaa qualquer outro partido”. (“Wein ein Träger öffentlicher Gewalt den Parteien Einrichtungen zur Verfügung stellt oder andere offentliche Leistungen gewärht, sollen alle Parteien gleichbehandelt werden. Der Umfang der Gewährung kann nach der Dedeutung der Parteien bis zu dem für die Erreichung ihres Zweckes erforderlichen Mindestmass abgestuft werden. Die Bedeutung der Parteien bemisst sich insbesondere auch nach den Ergebnissen vorausgegangener Wahlen zu Volksvertretungen. Für eine Partei, die im Bundestag in Fraktiosstärke vertreten ist, muss der Umfang der Gewährung mindestens halb so gross vie für jede andere Partei sein”).
<texto>14. Como se constata, o § 5.º da Lei dos Partidos consagrou a gradação da “igualdade de chances” (abgestufte Chancengleicheit), estabelecendo inequívoca “cláusula de diferenciação” (Differenzierungsklausel).18 É evidente que uma interpretação literal do dispositivo poderia converter o postulado da “igualdade de chances” numa garantia do status quo, consolidando-se a posição dos partidos estabelecidos (etablierte Parteien).19
<texto>15. Tal possibilidade já havia sido enunciada por Carl Schmitt, ao reconhecer que os partidos no governo desfrutam de inevitável vantagem, configurando-se uma autêntica e supralegal “mais-valia política” decorrente do exercício do poder.20 Após asseverar que a detenção do poder outorga ao partido dominante a forma de poder político que supera de muito o simples valor das normas, observa Carl Schmitt:
<texto>
<rec>“El partido dominante dispone de toda la preponderancia que lleva consigo, en un Estado donde impera esta clase de legalidad, la mera posesión de los medios legales del poder. La mayoría deja repentinamente de ser un partido; es el Estado mismo. Por mas estrictas y delimitadas que sean las normas a las que se sujeta el’Estado legislativo en la ejecución de la ley, resalta “siempre lo ilimitado que está detrás”, como dijo una vez Otto Mayer. En consecuencia, por encima de toda normatividad, la mera posesión del poder estatal produce una plusvalía política adicional, que viene a añadirse al poder puramente legal y normativista, una prima superlegal a la posesión legal del poder legal y al logro de la mayoría”.21
<rec>
<texto>16. Não se pode negar, pois, que os partidos estabelecidos gozam de evidente primazia em relação aos newcomers, decorrente sobretudo de sua posição consolidada na ordem política.22 Por outro lado, a realização de eleições com o propósito de formar um Parlamento capaz de tomar decisões respaldado por uma nítida maioria enseja, não raras vezes, modificações legítimas nas condições de igualdade. Disso pode resultar, à evidência, um congelamento (Erstarrung) do sistema partidário.23
<texto>17. Todavia, há de se observar que o direito de igualdade de chances não se compadece com a ampliação ou a consolidação dos partidos estabelecidos. Eventual supremacia há de ser obtida e renovada em processo eleitoral justo (fairer Wettbewerb) e abrangente da totalidade da composição partidária (“Der Grundsatz der Chancengleicheit fordert, das die bestehende Vorherschaft der etablierten Pateien nicht durch Wahlrechts — und sonstige “Privilegien verfestigt oder erweitert wird”). Er gebietet, das dieses Vorherrschaft “nur im fairem Wettbewrb ... errungen und stets aufs neue behauptet wird”, nicht nur innerhalb des “geschlossenen Kreises” der etablierten, sondern auch und gerade gegen alle anderen “Parteien” im Sinne eines witen, örtliche und überörtliche Wählergruppen einschliessenden Parteibegriffs”).24
<texto>18. Como já ressaltado, a gradação da igualdade de chances, tal como desenvolvida pelo Tribunal Constitucional e assente na Lei dos Partidos (§ 5.º), há de levar em conta a “significação do partido”. Esta deve corresponder à sua participação na formação da vontade política (... Anteil den sie an der politischen Willensbildung des Volkes hat).25 E o critério fundamental para aferição do grau de influência na vontade política é fornecido, basicamente, pelo desempenho eleitoral.26
<texto>19. Não há dúvida de que a gradação da “igualdade de chances” deve-se realizar cum grano salis, de modo a assegurar razoável e adequada eficácia a todo e qualquer esforço partidário.27 Até porque o abandono da orientação que consagra a igualdade formal entre os partidos não pode ensejar, em hipótese alguma, a nulificação do tratamento igualitário que lhes deve ser assegurado pelo Poder Público. Eventual gradação do direito de igualdade de chances há de se efetivar com a observância de critério capaz de preservar a própria seriedade do sistema democrático e pluripartidário.28
<texto>20. Tal constatação mostra-se particularmente problemática no que concerne à distribuição dos horários para as transmissões radiofônicas e televisivas (Wahlsendezeit). Uma radical gradação do direito de igualdade de chances acabaria por converter-se em autêntica garantia do status quo. Daí ter-se consolidado na Jurisprudência constitucional alemã orientação que assegura a todos os partícipes do prélio eleitoral, pelo menos, uma “adequada e eficaz propaganda” (angemessene und wirksame Wahl-propaganda).29 Considera-se, assim, que um Sendezeitminimum (“tempo mínimo de transmissão”) deve ser assegurado a todos os concorrentes, independentemente de sua “significação”.30
<texto>21. Ainda assim, verificam-se na doutrina sérias reservas à gradação do direito de igualdade de chances, no tocante às “transmissões eleitorais” (Wahlsendezeit). É que tal oportunidade assume relevância extraordinária para os pequenos partidos e as novas agremiações, que, diversamente dos etablierten Parteien, não dispõem de meios adequados para difundir a sua plataforma eleitoral.31 Também Tsatsos e Morlok sustentam, nesse particular, que a igualdade formal de todos os que participam do processo eleitoral deve ser decididamente afirmada. Entendem que, “em uma democracia, não constitui tarefa de um Poder onisciente e interventivo tomar providências que indiquem aos eleitores a imagem ‘correta’ dos partidos. Ao revés, com a escolha prévia dos partidos arroga-se o Estado, um direito que apenas é de se reconhecer à cidadania na sua manifestação eleitoral”. (“Es ist in der Demokratie nicht Aufgabe einer allsorgenden Obrigkeit Vorkehrungen zu treffen, dass sich die Wähler das richtige Bild von den Parteien machen. Im Gegenteil, mit seiner Vorsortierung der Parteien masst sich der Staat ein Recht an, das ausschiliesslich der Aktivbürgerschft bei ihrer Wahlentscheidung zusteht”).32
<texto>22. Digna de relevo é a problemática relativa ao financiamento dos partidos. Em 1958, declarou o Bundesverfassungsgericht a inconstitucionalidade de lei que facultava a subvenção aos partidos mediante desconto de imposto, ao fundamento de que tal prática não era compatível com o princípio de igualdade de chances.33 Posteriormente, declarou-se a inconstitucionalidade de disposição contida na lei de orçamento, que assegurava aos partidos representados no Parlamento significativa soma de recursos, entendendo que o funcionamento permanente das organizações partidárias através de recursos públicos não era compatível com a liberdade e abertura do processo de formação da vontade popular.34
<texto>23. Calcado na orientação consagrada pelo Tribunal, que considerava legítima apenas a alocação de recursos públicos para fazer face aos elevados custos da campanha,35 estabeleceu o legislador disposição que concedia aos partidos políticos que obtivessem o mínimo de 2,5% dos votos válidos apurados em cada região eleitoral uma subvenção a título de “reembolso de despesas eleitorais” (Erstattung vom Wahlkampfkosten), (Lei dos Partidos, § 18).
<texto>24. A Corte Constitucional declarou, todavia, a nulidade do preceito, pelos fundamentos seguintes: “No que concerne ao ‘reembolso das despesas eleitorais’, hão de ser contempladas todas as agremiações que participaram do prélio eleitoral, não sendo possível estabelecer uma votação mínima (Mindesstimmenanteil) com a justificativa de que as eleições devamcriar um parlamento com poder de decisão. Ao revés, tal exigência somente pode ser estabelecida como pressuposto indispensável de aferição da seriedade das propostas e programas apresentados pelos partidos, isto é, a sua avaliação pelos eleitores traduzida pelo resultado das eleições. No tocante ao ‘reembolso das despesas eleitorais’, há de se reconhecer o perigo de alguns grupos fragmentários tomarem parte do pleito tão-somente em virtude da subvenção pública. A votação mínima que legitima a concessão do “reembolso das despesas eleitorais” somente há de ser fixada tendo em vista as relações concretas fornecidas pelas eleições parlamentares. O número de eleitores correspondia, nas últimas eleições, a cerca de 38 milhões; o número de votantes, 33,4 milhões. Nessas condições, se se considerar a média de participação nas eleições, um partido deveria obter cerca de 835.000 votos para atingir o percentual de 2,5% legalmente exigido. Tal exigência como prova de seriedade dos esforços eleitorais não parece razoável. Uma votação mínima de 0,5% dos votos apurados significaria que um partido deveria somar cerca de 167.000 votos. Um partido que logrou tantos sufrágios não pode ter contestada a seriedade de seu esforço eleitoral” (“Bei der Wahlkampfkostenerstattung, bei der grundsätzlich alle Parteien, die am Wahlkampf teilgenommen haben, berücksichtigt werden müssen, kann ein Mindeststimmenanteil nicht mit dem Hinweis, Wahlen sollten funktionsfähige Parlamente schaffen, sondern nur durch die für jede Wahl unerlässliche Voraussetzung gerechtfertigt werden, dass die zur Wahl gestellten Vorschläge und Programme ernst gemeint, d.h. allein auf den Wahlerfolg und nich auf sonstige Ziele gerichtet sind. Bei der Wahlkampflostenerstattung besteht die Gefahr, dass sich kleine Splittergruppen nur deshalb am Wahlkampf beteiligen, weil sie von Staat finanziert werden. Wie hoch der Mindeststimmenanteil sein darf, der kleine Gruppen berechtigt, an der Wahlkampfkostenerstattung teilzunehmen, kann nur unter Berücksichtitung der konkreten Verhältnisse bei den Bundestagswahlen ermittelt werden. Die Zahl der Wahlberechtigten betrug bei der letzten Bundestagswahl rd. 38,5 Mill., die Zahl der Wählen rd. 33,4 Mill. Hiernach müsste, wenn man die duschschnittliche Wahlbeteiligung in Rechnung stellt, eine Partei rd. 835.000 Stimmen auf sich vereinigen, ehe sie die 2,5 vH-Grenze erreicht. Diese Anforderung an den Nachweis der Ernsthaftigkeit der Wahlkampfbemühungen ist jedoch night vetretbar. Ein Mindeststimmenanteil von 0,5 vH. der abgegebenen Stimmen Würde bedeuten, dass eine Partei 167.000 Stimmen auf sich gewinnen muss. Einer Partei, die so viele Stimmen auf sich zu vereinigen vermag, kann jedoch die Ernsthaftigkeit ihrer Wahlkampfbemühungen nicht bestritten werden” (BVerfGE 24, 300).36
<texto>25. Em face da referida decisão, não restou ao legislador outra alternativa senão a de fixar em 0,5% o aludido percentual mínimo (Lei dos Partidos, § 18, 2).
<texto>26. Tais considerações estão a demonstrar que, não obstante eventuais percalços de ordem jurídica ou fática, a “igualdade de chances”, concebida como princípio constitucional autônomo, constitui expressão jurídica da neutralidade do Estado em relação aos diversos concorrentes.37 O seu fundamento não se assenta única e exclusivamente no postulado geral da “igualdade de chances” (Lei Fundamental, art. 3.º, I). Ao revés, a igualdade de chances é considerada como derivação direta dos preceitos constitucionais que consagram o regime democrático (art. 20, I) e pluripartidário (art. 21, I).38
<texto>27. Assentes tais fundamentos, cumpre indagar se o princípio de igualdade de chances, tal como desenvolvido pela doutrina e jurisprudência alemãs, afigura-se compatível com o ordenamento constitucional brasileiro.
<texto>28. Considere-se, de imediato, que o postulado geral de igualdade tem ampla aplicação entre nós, não se afigurando possível limitar o seu alcance, em princípio, às pessoas naturais, ou restringir a sua utilização a determinadas situações ou atividades. Nesse sentido, já observara Seabra Fagundes que “tão vital se afigura o princípio ao perfeito estruturamento do Estado democrático, e tal é a sua importância como uma das liberdades públicas, para usar a clássica terminologia de inspiração francesa, que, não obstante expresso como garantia conferida a ‘brasileiros e estrangeiros (e estrangeiros) residentes no País’, o que denota, à primeira vista, ter tido em mira apenas as pessoas físicas, se tornou pacífico alcançar, também, as pessoas jurídicas”.39
<texto>29. Em virtude, a chamada “força irradiante do princípio da igualdade” parece espairar-se por todo o ordenamento jurídico, contemplando, de forma ampla, todos os direitos e situações. Daí ter asseverado Francisco Campos:
<texto>
<rec> “A cláusula relativa à igualdade diante da lei vem em primeiro lugar, na lista dos direitos e garantias que a Constituição assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País. Não foi por acaso ou arbitrariamente que o legislador constituinte iniciou com o direito à igualdade a enumeração dos direitos individuais. Dando-lhe o primeiro lugar na enumeração, quis significar expressivamente, embora de maneira tácita, que o princípio de igualdade rege todos os direitos em seguida a ele enumerados. É como se o art. 141 da Constituição estivesse assim redigido: ‘A Constituição assegura com “igualdade os direitos concernentes à vida, à liberdade, à segurança individual e à propriedade, nos termos seguintes: ...’”.40
<rec>
<texto>30. Explicitando esse pensamento, acrescenta o insigne jurista que o princípio de igualdade tem por escopo a proteção da livre concorrência entre os homens em todos os âmbitos de atividade. Vale transcrever, nesse particular, o seu magnífico magistério:
<texto>
<rec>“O alcance do princípio de igualdade perante a lei há de ser, portanto, interpretado na maior latitude dos seus termos, ou como envolvendo não só a hipótese de que, embora não havendo existido, venha, entretanto, a se criar no País o regime de classes, como toda e qualquer situação, a que, embora casualmente ou episodicamente, sem caráter sistemático, ou de modo puramente singular, se deixe de aplicar o critério ou a medida geral prevista para casos ou situações da mesma espécie, e se lhes aplique critério ou medida de exceção. O princípio não tem, portanto, como foco de incidência, um ponto preciso e definido. Ele se difunde por todo o tecido das relações humanas que possam constituir objeto de regulamentação jurídica ou sejam suscetíveis de configurar-se em conteúdo de um ato ou de um comando da autoridade pública. Não é princípio adstrito a um aspecto ou a uma forma de organização social; é um postulado de ordem geral, destinado a reger o comércio jurídico em todas as modalidades, de modo a assegurar, particularmente sob as constituições liberais e democráticas, o regime da concorrência, que é a categoria sob a qual elas concebem não somente a ordem social, como a ordem política, a ordem econômica e a ordem jurídica. O princípio de igualdade tem por principal função proteger e garantir a livre concorrência entre os homens, seja quando a sua atividade tem por objeto o poder, seja quando o pólo de seu interesse são os bens materiais ou imateriais, cujo gozo exclusivo lhes é assegurado pelo direito de propriedade”.41
<rec>
<texto>31. De resto, a concorrência é imanente ao regime liberal e democrático, tendo como pressuposto essencial e inafastável a neutralidade do Estado.
<texto>
<texto>É o que se constata na seguinte passagem do preclaro magistério de Francisco Campos:
<texto>
<rec>“O regime liberal e democrático postula a concorrência não apenas como categoria histórica, mas como a categoria ideal da convivência humana. Ora, a concorrência pressupõe, como condição essencial, necessária ou imprescindível, que o Estado não favoreça a qualquer dos concorrentes, devendo, ao contrário, assegurar a todos um tratamento absolutamente igual, a nenhum deles podendoatribuir prioridade ou privilégio, que possa colocá-lo em situação especialmente vantajosa em relação aos demais. Esta, no mundo moderno, a significação do princípio da igualdade perante a lei. Por ele, todos ficarão certos de que na concorrência, tomada esta expressão no seu sentido mais amplo, o Estado mantém-se neutro ou não procurará intervir senão para manter entre os concorrentes as liberdades ou as vantagens a que cada um deles já tinha direito ou que venha a adquirir, mediante os processos normais da concorrência. O princípio de igualdade tem hoje, como se vê, um campo mais vasto de aplicação do que nos tempos que se seguiram imediatamente às suas primeiras declarações”.42
<rec>
<texto>32. Afigura-se, pois, despiciendo ressaltar a importância do princípio da isonomia no âmbito das relações estatais. Como a ninguém é dado recusar a integração a uma determinada ordem estatal, faz-se mister reconhecer o direito de participação igualitária como correlato necessário da inevitável submissão a esse poder de império. E, o direito de participação igualitária na vida da comunidade estatal e na formação da vontade do Estado não se restringe à igualdade eleitoral, ao acesso aos cargos públicos, ao direito de informação e de manifestação de opinião, abrangendo a própria participação nos partidos políticos e associações como forma de exercer influência na formação da vontade política.43
<texto>33. Vê-se, pois, que o princípio de igualdade entre os partidos políticos constitui elementar exigência do modelo democrático e pluripartidário. No entanto, não se pode ignorar que a aplicação do princípio de igualdade de chances encontra dificuldade de ordem jurídica e fática. Do prisma jurídico, não há dúvida de que o postulado da igualdade de chances incide sobre uma variedade significativa de objetos (Gegenstand). E, do ponto de vista fático, impende constatar que o Estado, que deve conduzir-se de forma neutra, é, ao mesmo tempo, um Estado partidariamente ocupado (“Die tatsächlichen Schwierigkeiten bestehen darin, dass der Staat, der sich neutral gegenüber dem Parteienwettbewerb zu verhalten hat, selbst ein parteipolitisch besetzter Staat ist”).44
<texto>34. Aludidas dificuldades não devem ensejar, à evidência, o estabelecimento de quaisquer discriminações entre os partidos estabelecidos e os newcomers, porquanto eventual distinção haveria de resultar, inevitavelmente, no próprio falseamento do processo de livre concorrência.
<texto>35. É fácil de ver, assim, que toda e qualquer distorção no sistema de concorrência entre os partidos afeta de forma direta e frontal o princípio de isonomia, enquanto parâmetro e baldrame dos demais direitos e garantias.
<texto>36. Não se afirme, outrossim, que ao legislador seria dado estabelecer distinções entre os concorrentes com base em critérios objetivos. Desde que tais distinções impliquem alteração das condições mínimas de concorrência, evidente se afigura sua incompatibilidade com a ordem constitucional calcada no postulado de isonomia. Mais uma vez é de se invocar a lição de Francisco Campos, in verbis:
<texto>
<rec>“Se o princípio deve reger apenas a aplicação da lei, é claro que ao legislador ficaria devassada a imensidade de um arbítrio sem fronteiras, podendo alterar, à sua discrição, por via de medidas concretas ou individuais, as condições da concorrência, de maneira a favorecer, na corrida, a um dos concorrentes, em detrimento dos demais. O que garante, efetivamente, a concorrência não é tão-só o princípio da legalidade, entendido como a exigência que os atos da justiça e da administração possam ser referidos ou imputados à lei. Desde que ficasse assegurada ao legislador a faculdade de alterar a posição de neutralidade do Estado em face dos concorrentes, tomando o partido de uns contra outros, a ordem da concorrência não poderia ter a posição central e dominante que lhe cabe, incontestavelmente, no ciclo histórico que se abriu com a revolução industrial do Século passado e que ainda não se pode dar como encerrado no mundo ocidental. O caráter de norma obrigatória para o legislador, para ele especialmente, resulta da natureza e da extensão do princípio de igualdade perante a lei. Seria, de outra maneira, um princípio supérfluo ou destituído de qualquer significação”.45
<rec>
<texto>37. Não parece subsistir dúvida, portanto, de que o princípio da isonomia tem integral aplicação à atividade político-partidária, fixando os limites e contornos do poder de regular a concorrência entre os partidos.
<texto>38. Ademais, como já observado, faz-se mister notar que o princípio da igualdade de chances entre os partidos políticos parece encontrar fundamento, igualmente, nos preceitos constitucionais que instituem o regime democrático, representativo e pluripartidário (CF, arts. 1.º, § 1.º, 152 e 148). Tal modelo realiza-se, efetivamente, através da atuação dos partidos, que são, por isso, elevados à condição de autênticos e peculiares órgãos estatais, com relevantes e indispensáveis funções atinentes à formação da vontade política, à criação de legitimidade e ao processo contínuo de mediação (Vermittlung) entre povo e Estado (Lei 5.682/71, art. 2.º).46
<texto>39. Esta mediação tem seu ponto de culminância na realização de eleições, com a livre concorrência das diversas agremiações partidárias. E a disputa eleitoral é condição indispensável do próprio modelo representativo, como assinala com habitual precisão o eminente Ministro Francisco Rezek, in verbis:
<texto>
<rec>“O regime representativo pressupõe disputa eleitoral cuja racionalidade deriva da livre concorrência entre os partidos, cada um deles empenhado na reunião da vontade popular em torno de seu programa político. Não merece o nome de partido político, visto que não lhe tem a essência, o chamado ‘partido único’: aqui se trata, antes, de um grande departamento político do Estado, fundado na presunção de que seu ideário representa a vontade geral a ponto de alcançar o foro da incontestabilidade. As eleições, no Estado unipartidário, não traduzem o confronto de teses programas, mas a mera expedição popular, em favor dos eleitos, de um atestado de habilitação ao cumprimento do programa que de antemão se erigira em dogma. A pluralidade de partidos não é, dessa forma, uma opção. Sem ela não há que falar, senão por abusiva metáfora, em partido político de espécie alguma”.47
<rec>
<texto>40. Portanto, não se afigura necessário despender qualquer esforço de argumentação para que se possa afirmar que a concorrência entre os partidos, inerente ao próprio modelo democrático e representativo, tem como pressuposto inarredável o princípio de igualdade de chances.
<texto>41. No caso em apreço, não há dúvida de que o critério adotado pelo legislador na distribuição dos horários de propaganda eleitoral impossibilitou o acesso ao rádio e à televisão dos partidos políticos habilitados que não contam com representantes no Congresso Nacional. Ainda que se possa considerar razoável a sistemática estabelecida pelo legislador no tocante à distribuição dos horário de acordo com a representação parlamentar, afigura-se inevitável reconhecer que a negação, ainda que limitada, do direito de acesso ao rádio e à televisão, não se compadece com o postulado da igualdade de chances.
<texto>42. Não obstante a plausibilidade dos argumentos em que se arrima o presente pedido e a notória urgência de que se reveste, afigura-se evidente que eventual deferimento de suspensão liminar de vigência da lei provocaria uma situação de vácuo legislativo, com sérios e evidentes prejuízos para todas as agremiações políticas.
<texto>43. E, a propósito, deve-se assinalar que a questão relativa à declaração de inconstitucionalidade decorrente de uma omissão (Unterlassen) do legislador constitui um dos temas mais complexos e menos desenvolvidos do Direito Constitucional moderno. Tal situação mostra-se particularmente embaraçosa nos casos em que a lei estabelece discriminações infundadas, concedendo benefícios ou vantagens a determinadosgrupos, com a exclusão de outros. É o que a doutrina Constitucional alemã denomina “exclusão de benefício incompatível com o princípio da igualdade” (Gleicheitswidriger Begünstigungsausschluss).
<texto>Nesses casos, se a estrutura normativa (ou outro óbice de ordem constitucional, como aumento de despesa, etc.) não permite a declaração parcial de inconstitucionalidade, com o reconhecimento do direito de segmentos eventualmente discriminados, a supressão do tratamento discriminatório haveria de se fazer mediante a integral declaração de inconstitucionalidade do texto.48
<texto>44. Tal solução, além de traduzir possível injustiça com os beneficiados, pode levar a uma situação de ausência de norma, a um “vácuo de direito” (Rechtsvakuum) ou até ao chamado “caos jurídico” (Rechtschaos). Assim, a declaração de inconstitucionalidade de lei que disciplina o imposto de renda impossibilitaria a sua cobrança até a promulgação de novo diploma. Conseqüências semelhantes poderiam advir da declaração de nulidade de leis que fixam os vencimentos de funcionários ou que concedem determinados benefícios sociais (Schlaich, op. cit., p. 170). Considerando que, na espécie, cuida-se fundamentalmente da “inconstitucionalidade de uma lacuna” (verfassungswidrige Lücke), desenvolveu o Bundesverfassungsgericht fórmula que permite pronunciar a incompatibilidade (Unvereinbarkeit) da norma com o texto constitucional, sem declarar a sua nulidade.49
<texto>45. Contorna-se, assim, o problema da declaração de inconstitucionalidade (e seus efeitos), admitindo que uma providência legislativa deve suprimir o vício apontado.
<texto>O Tribunal Federal Constitucional chegou mesmo a asseverar que, em determinadas circunstâncias, a supressão da norma (declaração de nulidade) poderia tornar uma situação ainda mais inconstitucional (noch verfassunwidriger) do que a sua vigência condicional e temporária (temporäre Weitergeltung).50
<texto>46. A construção jurisprudencial não foi aceita sem objeções. Observou-se, a propósito, que, embora a orientação adotada apresentasse evidentes virtudes de ordem prática, caberia suscitar dúvida sobre a exatidão do critério jurídico (Massstab des Rechts) que autoriza o Tribunal a preferir uma lei inconstitucional a uma situação de vácuo legislativo (“Die temporäre Fortgeltung eines verfassungswidrigen Gesetzes, begleitet von der Verpflichtung des Gesetzgeberts, Abhilfe zu schaffen hat zwar manchen praktischen Vorteil und ist insbesondere geeignet, gelegentlicher Kritik an der Unkalkulierbarkeit verfassungsgerichtlicher Entscheidungen vorzubeugen. Nur sollen bereits an dieser Stelle Zweifel angemeldet werden, wie eine Entscheidung, ob ein verfassungswidriges Gesetz dem gesetzlosen Zustand vorzuziehen sei, am Masstab des Rechts getroffen werden kann”).51
<texto>47. No caso em apreço, não se vislumbra a possibilidade de configuração de um estado de anomia, em caso de eventual declaração de inconstitucionalidade do critério impugnado, uma vez que o próprio legislador reconheceu expressamente a competência da justiça eleitoral para distribuir os horários reservados entre os partidos políticos.
<texto>48. De resto, a Jurisprudência e doutrina brasileiras adotam a teoria da “divisibilidade das leis”, entendendo que quando uma parte da lei é inconstitucional, esse fato não autoriza, por si só, a declaração de inconstitucionalidade da parte restante.52 Tal orientação foi exposta de forma magistral por Lúcio Bittencourt, na sua obra clássica sobre o controle de constitucionalidade, in verbis:
<texto>“Quando, portanto, uma parte da lei é inconstitucional, esse fato não autoriza os tribunais a declarar também ineficaz a parte restante — that does fact not authorize the courts to declare the remainder void also — a menos que todas as prescrições sejam conexas, dependentes uma de outra, atuando juntas para o mesmo fim, ou de tal modo associadas no seu sentido, que se deva legitimidade presumir que a legislatura não adotaria uma desacompanhada de outra — the legislature would not have passed one without the other. Ainda que as prescrições inconstitucionais se encontrem num mesmo artigo em que se achem outras consideradas compatíveis com a Constituição, a regra pode prevalecer, julgando-se estas últimas plenamente eficazes, desde que possam permanecer por si próprias, separadas e distintas, sem que se considerem afetadas pela ineficácia das outras. O problema não consiste em saber se os preceitos se encontram no mesmo artigo, uma vez que a distribuição da matéria legislativa entre estes é meramente arbitrária; a questão se resume, apenas, em julgar do grau de dependência entre as prescrições e em decidir — como diz Cooley — se estas são, essencial e inseparavelmente, conexas em substância — essentialy and inseparably connectted in substance”.53
<texto>49. Destarte, manifestamo-nos, s.m.j., pela argüição de inconstitucionalidade da parte final do inciso II do art. 1.º (“observados os seguintes critérios”), bem como das suas alíneas “a”, “b”, “c”, “d” e “e”, da Lei 7.508/86. E, tendo em vista a urgência da matéria, opinamos no sentido de que se requeira a dispensa das informações, nos termos do art. 170, § 3.º, do RISTF.
(NOTAS)
<nota>1. Parecer publicado, originariamente, na Revista de Direito Público — RDP — n. 82 (1987), v. 20, p. 100-110. Publicado, ainda, na Advocacia Dinâmica: Seleções Jurídicas, p. 5, a. 12, ago. 1990.
<nota>2. HESSE, Konrad. Grundzüge des Verfassungsrechts der Bundesrepublik Deutschland, Heidelberg, 1982, p. 69; LIPPHARD, Hans Rudolf. Die Gleicheit der politischen Parteien vor der öffentlichen Gewalt. Berlim, 1975, p. 15 e s.; TSATSOS, Dimitris Th. e MORLOK, Martin. Die Parteien in der politischen Ordnung, Ferununiverstät Hagen, 1981, un. 3, p. 19 e s.
<nota>3. HELLER. Europa und der Faschismus, 1929, p. 95 e s., apud LIPPHARDT, op. cit., p. 37.
<nota>4. HELLER, op. cit., p. 9, apud LIPPHARDT, p. 37.38).
<nota>5. SCHMITT, Carl, Legalidad y Legimitimidad, trad. esp., Madri, 1971, p. 43-44.
<nota>6. SCHMITT, Legalidad y Legimitimidad, op. cit., p. 44.
<nota>7. SCHMITT, Legalidad y Legimitimidad, op. cit., p. 44.
<nota>8. SCHMITT, Legalidad y Legimitimidad, op. cit., p. 46.
<nota>9. SCHMITT, Legalidad y Legimitimidad, op. cit., p. 46.
<nota>10. SCHMITT, Legalidad y Legimitimidad, op. cit., p .47.
<nota>11. SCHMITT, Legalidad y Legimitimidad, op. cit., p .47.
<nota>12. FORSTHOFF. Die politiche Parteien im Verfassungsrecht, 1950, p. 6 e 12, apud LIPPARDT, op. cit., p. 148-149.
<nota>13. LEIBHOLZ, Gerhard. Verfassungsrechtliche Stellung und innere Ordnung der Parteien”, DJT, p. C. 2, apud LIPPHARDT, op. cit., p. 152-153.
<nota>14. LIPPHARDT, op. cit., p. 244-245; BATTIS, Ulrich. Einführung in das Öffentliche Recht. Fernuniversität Hagen, 1981, un. 2, p. 22-23.
<nota>15. TSATSOS, Dimitris Th. e MORLOK, Martin. Die Parteien in der politischen Ordnung, Fernuniversität Hagen, un. 3, p. 23; TSATSOS, MOHR, MORLOK e WENZEL. Deutsches Staatsrecht, Fernuniversität Hagen, 1981, un, 2, p. 42; BATTIS. Op. cit., p. 22-23.
<nota>16. BVerfGE 14, 121; LIPPHARDT, op. cit. p. 691-692 e s.
<nota>17. LIPPHARDT. op. cit., p. 442.
<nota>18. LIPPHARDT. op. cit., p. 699.
<nota>19. LIPPHARDT. op. cit., p. 700; TSATSOS e MORLOK. op. cit., p. 30-31.
<nota>20. SCHMITT, Carl. Legalidad y Legitimidad, op. cit., p. 49.
<nota>21. SCHMITT, Carl. Legalidad y Legitimidad, ob. cit., p. 49.
<nota>22. TSATSOS e MORLOK. op. cit., p. 30.
<nota>23. HESSE, Konrad. Grundzüge des Verfassungsrechts der dundesrepublik Deutschland, Heidelberg, 1982, p. 69.
<nota>24. LIPPHARDT. op. cit., p. 700.
<nota>25. BVerfGE 24, 344; LIPPHARDT. op. cit., p. 446.
<nota>26. LIPPHARDT. op. cit., p. 446; TSATSOS e MORLOK. op. cit., p. 25. 
<nota>27. LIPPHARDT. op. cit., p. 700-701 e 438-439; TSATSOS, Deutsches Staatsrecht, op. cit., p. 43; BATTIS. op. cit., p. 22-25. 
<nota>28. BATTIS, op. cit., p. 21-22; cf. tb. BVerfGE, 24, 300.
<nota>29. LIPPHARDT, op.cit., p. 438-439. 
<nota>30. LIPPHARDT, op. cit., p. 438-439. 
<nota>31. Cf. GRIMM, Dieter. Handbuch des Verfassungsrechts, p. 346-347.
<nota>32. TSATSOS e MORLOK. Die Parteien in der politischen Ordnung, op. cit., p. 32.
<nota>33. BVerfGE 8/51; Vide, TSATSOS. Deutsches Staatsrecht. op. cit., p. 49; LIPPHARDT. op. cit., p. 258-264.
<nota>34. BVerfGE, 20, 56 ff — 19.07.1966 — TSATSOS, Deutsches Staatsrecht. op. cit., p. 49-50; BATTIS, Einführung in das Öffentliche Recht. op. cit., p. 27-28.
<nota>35. BVerfGE, 20, 56.
<nota>36. Cf. BATTIS, op. cit., p. 29-30.
<nota>37. GRIMM, op. cit., p. 344-345.
<nota>38. LIPPHARDT, op. cit., p. 92-93; GRIMM, op. cit., p. 344; TSATSOS e MORLOK, Die Parteien in der politischen Ordnung, op. cit., p. 22.
<nota>39. SEABRA FAGUNDES. O princípio constitucional de igualdade perante a lei e o Poder Legislativo, RF 161/78; Cf.. também: CAMPOS, Francisco. “Parecer”, RDA 72/403.
<nota>40. CAMPOS, Francisco. “Parecer de 19 de maio de 1947”, RF 116/396.
<nota>41. CAMPOS, op. cit., RF 116/397.
<nota>42. CAMPOS, op. cit., RF 116/397-398.
<nota>43. LARENZ, Karl. Richtiges Recht, München, 1979, p. 126-127.
<nota>44. GRIMM, op. cit., p. 344; Cf. também: SCHMITT, op. cit., p. 49.
<nota>45. CAMPOS, Francisco. Op. cit., RF 116/398.
<nota>46. Ver, a propósito: LEIBHOLZ, Gerhard. Verfassungstaat-Verfassungsrecht, Stuttgart, 1973, p. 81; DENNINGER, Erhard. Staatsrecht, Hamburg, 1973, p. 71-74.
<nota>47. REZEK, Francisco. Organização Política do Brasil — Estudos de Problemas Brasileiros (textos de aula), Ed. Universidade de Brasília, 1981, p. 34.
<nota>48. SCHLAICH, Klaus. Das Bundesverfassungsgericht, München, 1985, p. 170 e s.; IPSEN, Jörn. Rechtsfolgen der Verfassungswidrigkeit von Norm und Einzelakt, Baden-Baden, 1980, p. 109 e s.
<nota>49. BVerfGE, 61, 319; Cf. SCHLAICH, op. cit., p. 170-172; IPSEN, op. cit., p. 107 e s.
<nota>50. BVerfGE 33, 303; Cf. também SCHLAICH, op. cit., p. 171; IPSEN, op. cit., p. 116.
<nota>51. IPSEN, op. cit., p. 116-117.
<nota>52. Cf. nesse sentido, Rp. 940, Rel. Min. Moreira Alves, RTJ 92/1.022-1.023; V. também: BITTENCOURT, Lúcio. O Controle Jurisdicional da Constitucionalidade das Leis, op. cit., p. 126-127.
<nota>53. BITTENCOURT, Lúcio. O Controle Jurisdicional da Constitucionalidade das Leis, op. cit., p. 126-127.

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