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Arts 48 a 59 Da transparência controle e fiscalização

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uomentartos a Lei cie Itesponsaonioaae riscai

~++
vinculadas - as prestadoras de serviços públicos propriamente ditas e asque lhe dão suporte, excluídas as exploradoras de atividade econômica. Noque tange a estas últimas, subordinam-se ao art. 173, ao mesmo regime dasempresas privadas.
"Portanto, o inc. VIII dá respaldo à `contratação direta' entre apessoa de direito público e a entidade por ela criada, cujo objeto seja aprestação de serviços públicos (em sentido amplo), o que abrange tan-to o serviço público propriamente dito como as atividades de 'suporte'administrativo.
Esta interpretação é reforçada pela redação do dispositivo, queexplicitamente alude ao `fim específico' da entidade contratada. Iden-tifica-se, portanto, que a contratação se relaciona com o fim específicoda entidade contratada, consistente em atuar em prol e a favor da pes-soa de direito público interno que a controla".
Ora, o contrato de gestão - vencidas todas as críticas a este instituto eas exigências que se impõem para sua utilização válida e eficaz pelo PoderPúblico - é um instrumento pelo qual se pode aumentar a autonomiagerencial, administrativa e financeira das empresas estatais. Ora, umcontraponto a esse aumento, uma contrapartida dessa maior autonomia, re-side exatamente nas exigências instituídas pelo art. 47 da Lei Complemen-tar n. 101/2000. Para entidades que gozarem de maior autonomia, por forçada celebração de contratos de gestão, cabe, em contrapartida, maior contro-l e, em busca da eficiência, que é justamente o que vem a instrumentalizar oart. 47"".
O inciso II, que exige nota explicativa sobre recursos recebidos docontrolador, a qualquer título, especificando valor, fonte e destinação, é normajá presente em nosso ordenamento jurídico (parágrafo único do art. 70 daCF).
87. Justen f = ilho, Corneniários, cit., p. 226
88. Luísa Cristina Pinto e Netto, Federaìisnio_... Revista. cit.
Arts. 48 a 59Gilmar Ferreira Mendes
Capítulo IX
DA TRANSPARÊNCIA, CONTROLE E FISCALIZAÇÃO
Seção 1
Da Transparência da Gestão Fiscal
Art. 48. São instrumentos de transparência da gestão fiscal, aos
quais será dada ampla divulgação, inclusive em meios eletrônicos deacesso público: os planos, orçamentos e leis de diretrizes orçamentá-rias; as prestações de contas e o respectivo parecer prévio; o RelatórioResumido da Execução Orçamentária e o Relatório de Gestão Fiscal; eas versões simplificadas desses documentos.
Parágrafo único. A transparência será assegurada também medi-ante incentivo à participação popular e realização de audiências públi-cas, durante os processos de elaboração e de discussão dos planos, leide diretrizes orçamentárias e orçamentos.
COMENTÁRIO
1. INSTRUMENTOS DE TRANSPARÊNCIA DA GESTÃO FISCAL
Conjuntamente com o art. 49, o art. 48 compõe a Seção 1 ("Da Trans-
parência da Gestão Fiscal") do Capítulo IX ("Da Transparência, Controle e
Fiscalização").
O princípio da transparência ou clareza foi estabelecido pela Consti-
tuição de 1988 como pedra de toque do Direito Financeiro. Poderia serconsiderado mesmo um princípio constitucional vinculado à idéia de segu-
';omenianos a Lei ae tcesponsaouiaaae riscai

J•+ o
rança orçamentária'. Nesse sentido, a idéia de transparência possui a impor-tante função de fornecer subsídios para o debate acerca das finanças públi-
cas, o que permite uma maior fiscalização das contas públicas por parte dosórgãos competentes e, mais amplamente, da própria sociedade. A busca
pela transparência é também a busca pela legitimidade.
No contexto específico da Lei de Responsabilidade Fiscal, a transpa-rência aparece como princípio da gestão orçamentária responsável ou comosubprincípio do princípio da responsabilidade'.
O princípio da gestão orçamentária responsável, no qual se baseia porinteiro a nova lei, é explicitado no art. 1 4 . Os seus principais objetivos se-riam: a) evitar os déficits; b) reduzir substancialmente a dívida pública; c)
adotar uma política tributária racional; d) preservar o patrimônio público; e)promover uma crescente transparência das contas públicas.
O princípio da responsabilidade, introduzido pela nova lei - embora
podendo já ser visualizado com o advento da Emenda n. 19, que, em seu art.30, determinava a apresentação de projeto de lei complementar pelo Execu-
tivo ao Legislativo em cento e oitenta dias da promulgação da emenda' -,vem preencher uma lacuna no Direito brasileiro. A idéia de que o dinheiropúblico deve ser aplicado na forma em que previamente se convencionou,
sendo necessário o esclarecimento de como ele foi utilizado, era bastanteconfusa e ineficiente.
O conceito de accountability, próprio do sistema anglo-saxão, pareceidentificar-se bastante com a idéia de responsabilidade fiscal, embora com
ele não se confunda. Sua tradução é bastante difícil, havendo os que, mes-mo analisando profundamente o conceito, não conseguiram encontrar uma
1. Cf. Ricardo Lobo Torres, Tratado de direito constitucional financeiro e tributário;o orçamento na Constituição, 2. ed., Rio de Janeiro: Renovar, 2000, v. 5, p. 258.
2. Ricardo Lobo Torres, Tratado, cit., p. 260.
3. Para João Henrique Pederiva, "Há que se considerar a prestação de contas como umdos princípios constitucionais que se manifesta de várias formas ao longo do texto da Lei
Maior. De uni lado, o setor público precisa informar a si próprio. Nesse papel, os sistemas dei nformação - mormente o sistema contábil - devem sinalizar, no mínimo, os efeitos que ogestor da coisa pública deve evitar quando tomar decisões. Quanto mais adequadas forem a
qualidade e quantidade das informações, mais facilmente apresentar-se-á a melhor solução.De outro lado, é mister que os governantes busquem o respaldo de suas ações junto à opiniãopública, por meio da publicidade" (Accountability, Constituição e contabilidade, RIL, Bra-sília, 140:18, 1 998).
J•t /
tradução satisfatória do termo para o português'. Outros, muitas vezes com
algum desconforto, definem accountability como: "responsabilidade pela
prestação de contas" 5 ou "responsabilidade pela eficiente gerência de recur-
sos públicos".
De fato, a tomada de posição acerca de uma tradução correta para o
termo leva consigo uma gama de questões outras, mais gerais. A existência
de efetiva democracia, proporcionando o florescimento de uma cidadania
participante, não somente se liga à questão da accountability comocondiciona sua própria existência. À medida que se desenvolve o arcabouço
burocrático, os direitos do cidadão devem também se desenvolver, no intui-to de evitar os abusos da burocracia em relação àqueles'. Não há dúvidas de
que "o exercício de accountability é determinado pela qualidade das rela-ções entre governo e cidadão, entre burocracia e clientelas. O comporta-
mento (responsável ou não-responsável) dos servidores públicos é conse-qüência das atitudes e comportamento das próprias clientelas'".
Isso leva a crer que o amadurecimento da sociedade e a emergência deuma cidadania mais ativa faz surgir em seu seio, de modo natural, o concei-
to de accountability. À medida que se vão densificando as relações de cida-dania, faz-se necessário o conceito de accountability, até que se tome algocorriqueiro tanto para a burocracia como para os cidadãos'.
A Lei de Responsabilidade Fiscal é, indubitavelmente, um passo de gran-
de importância para o fortalecimento das relações entre os gestores públicos e
4. Cf. Anna Maria Campos, Accountability: quando poderemos traduzi-la para o por-
tuguês?, Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro, v. 24, n. 2, p. 30-50, 1990.5. João Henrique Pederiva, Accountability..., RIL, 140:18.
6. Ricardo Lobo Torres, Tratado. cit., p. 308.7. Cf. Anna Maria Campos. Accountability..., Revista, cit., p. 33.
8. Arma Maria Campos, Accountability..., Revista, cit., p. 35.
9. A idéia de accountability, nos países anglo-saxões, é tão indispensável ao funciona-mento da sociedade que é comum afirmar que ela faz parte da própria condução dos gover-nos:"Accountability is the foundation of any governing process. The effectiveness of thatprocess depends upon how those in authority account for the manner in which they havefulfilled their responsibilities. both constitutional and legal" (O. P. Dwivedi, Ethics and values
of public responsibility and accountability, Revista Internacional de Ciências Administrati-vas, Bruxelas, v. 51. n. 1. p. 63. 1985). De modo semelhante: —Se seu sistema não assegura
accountability perante os cidadãos, então ele é, por definição, inaceitável" (Robert D. Behn,O novo paradigma da gestão pública e a busca da accountability democrática, Revista do
Serviço Público, Brasília, v. 49, n. 4, p. 5, 1998).
-Tu
os cidadãos. O desenvolvimento de uma filosofia da responsabilidade fiscal,no Brasil, fará surgir um conceito sólido de accountability, próprio da neces-sidade imposta por aquelas relações, em um contorno ímpar 1 0 .
Da mesma forma que a idéia de responsabilidade fiscal e accountability,o princípio da transparência guarda estreita ligação com o fortalecimentodemocrático. Aqui, como em relação ao princípio da responsabilidade fis-cal, o princípio democrático opera em mão dupla. O acesso às informaçõesgovernamentais que proporciona o princípio da transparência fortalece ademocracia; do mesmo modo, o fortalecimento desta estimula um maioracesso àquelas informações.
A burocracia vai amalgamando-se aos princípios democráticos, demodo que se tornam imprecisos os conceitos de esfera pública e esfera pri-vada.
"A transparência informacional é entendida aqui como um terri-tório para o qual confluem práticas informacionais do Estado e da so-ciedade. Território, por sua vez, construído e demarcado por essasmesmas práticas. A opacidade informacional do Estado sinaliza, aocontrário, um hiato entre este e a sociedade, configurando-se comoprocesso e produto das características de geração e uso da informaçãopelos diversos atores aí envolvidos como o administrador público, oprofissional da informação e o cidadão. Trata-se, como tal, de umaarena de tensão e distensão ordenada na base do conflito e do jogodemocrático. Qualquer projeto de reforma do Estado inclui, portanto,esta problemática na sua pauta de prioridades".
Não há dúvidas que, especialmente no que tange à transparência dascontas públicas, a Lei de Responsabilidade Fiscal deve muito ao FiscalResponsibility Act 1994, da Nova Zelândia. Esta lei criou uma série de me-canismos para aumentar os relatórios sobre matérias fiscais. Esse sistemateria dois propósitos básicos: monitorar a consistência dos objetivos fiscais
1 0. Historicamente, é possível perceber que a relação entre representação popular egastos públicos, e seu devido controle, surge posteriormente ao controle exercido em rela-ção aos impostos. Cf. Gabriel Casado Ollero, La Constitución y el derecho financiero: Iaconstitucionalización de ta justicia en el gasto público, in Enrique Álvarez Conde (coord),
Administraciones Públicas y Constitución: reflexiones sobre el XX aniversario de Ia
Constitución Espanola de 1978, Madrid: INAP, 1998, p. 279-80.1 1. José Maria Jardim, A face oculta do Leviatã: gestão da informação e transparênciaadministrativa, Revista do Serviço Público, Brasília, v. 119, n. 1, p. 149, 1995.
propostos pela lei com a atividade fiscal do Estado e trazer transparência
para as contas públicas''-.
2. AMPLA DIVULGAÇÃO DOS PLANOS ORÇAMENTÁRIO-
FINANCEIROS
O capuz do art. 48 estabelece que será dada ampla divulgação, inclusi-ve mediante utilização de meios eletrônicos, aos planos, orçamentos e leisde diretrizes orçamentárias-, às prestações de contas e ao respectivo parecerprévio; ao Relatório Resumido da Execução Orçamentária e ao Relatóriode Gestão Fiscal; e às versões simplificadas de tais documentos.
Os meios eletrônicos a que se refere o dispositivo são aqueles em queo acesso é público, no sentido de que são abertos a qualquer pessoa. Seriavedado, portanto, o acesso restrito de tais documentos referidos pelo caput.A referência a meios eletrônicos de acesso público significa, principalmen-te, que o acesso deve ser dado através da Internet, mas não exclusivamentenela. Embora a Internet seja, hoje, o meio mais eficaz de acesso público àinformação, não é muito difícil conceber que, no futuro, sejam criados no-vos meios eletrônicos de acesso à informação, quiçá mais eficazes que a
Internet.A academia, especialmente a norte-americana, tem travado já há al-guns anos um debate acerca do papel da Internet na sociedade, no Direito eno próprio Estado. Unia das discussões mais importantes dentro desse de-bate é a da questão de saber se a Internet representaria uma ameaça à sobe-
rania dos Estados ou não".Uma corrente acredita que a Internet configurar-se-ia, sim, numa amea-
ça à soberania estatal. Esse posicionamento se baseia na idéia de que aemergência de atores não estatais estaria retirando o poder decisório doEstado, a fim de criar uma zona à margem deste, com regras próprias, ver-dadeiros sistemas "auto-suficientes". A falta ou a ineficácia de regulamen-tação do Estado no que tange a diversas atividades, como tributação e apli-cação de legislação penal, somente comprovaria que esse processo de
"marginalização" do Estado só estaria começando.
12. Cf. Organisation for Economic Co-operation and Development, Budgeting for the
Future, OCDEIGD(97)178, Paris: OCDE, 1997, p. 20.13. Nesse sentido, cf., dentre outros, Henry H. Perritt Jr.. The Internet as a threat tosovereignty? Thoughts on the Internet's role in strenghtening national and global governance,
Indiana Journal of Global Studies, Bloomington, v. 5, n. 2, p. 423-42.
tomentanos a Lei ae Hesponsaimiaaae riscai

35u
Outra corrente, por sua vez, acredita que a Internet pode mesmo forta-
lecer a soberania, no sentido de que contribuiria para ampliar o acesso dos
cidadãos aos processos decisórios, fortalecendo a democracia e o Estado de
Direito. Casos mostram que grupos opositores a regimes de exceção utili-
zaram a Internet como meio de denunciar abusos cometidos por estes. Do
mesmo modo, a publicização da informação, facilitada em grande monta
pela Internet, fortalece os laços entre o Poder Público e os cidadãos.
3. PARTICIPAÇÃO POPULAR E AUDIÊNCIAS PÚBLICAS
Pode-se dizer que, ao menos no que tange ao novo regime de respon-
sabilidade fiscal, a publicização de todos os documentos preconizados pela
lei através da Internet somente fortalece e legitima o Estado, tornando as
decisões governamentais cada vez mais próximas dos cidadãos. A Internet
propicia tanto a fiscalização como dá acesso a que sugestões sejam dadas a
fim de que o regime fiscal seja aperfeiçoado em um grau cada vez maior.
É justamente nesse sentido que o parágrafo único do artigo estabelece
ser a transparência assegurada pela participação popular e a realização de
audiências públicas nos processos de elaboração e discussão dos planos, lei
de diretrizes orçamentárias e orçamentos.
A própria Lei de Responsabilidade Fiscal, na sua elaboração, contou
com inúmeras contribuições da sociedade. Consulta pública foi realizada
através da Internet, com 5.000 visitas à homepage. Segmentos da sociedade
e autoridades estaduais e municipais participaram do debate acerca da ela-
boração da lei.
A participação popular e a realização das audiências públicas na ela-
boração dos instrumentos de responsabilidade fiscal, dos quais exige a lei
devida transparência, é salutar em dois pontos: o primeiro deles é a maior
legitimidade que adquirirão tais instrumentos, uma vez que sua confecção
foi feita com respaldo da sociedade; o segundo tem a ver com o fato de que
os esboços de tais instrumentos podem ser maximizados em sua qualidade
com a interação entre sociedade e Poder Público, tanto porque, diversas
vezes, este não possui a devida acuidade para perceber as carências sociais,
tanto porque, tecnicamente, eles podem ser aprimorados com a colaboração
dos diversos entes sociais.
Art. 49. As contas apresentadas pelo Chefedo Poder Executivo
ficarão disponíveis, durante todo o exercício, no respectivo Poder Le-
3D1
gislativo e no órgão técnico responsável pela sua elaboração, para con-
sulta e apreciação pelos cidadãos e instituições da sociedade.
Parágrafo único. A prestação de contas da União conterá demons-
trativos do Tesouro Nacional e das agências financeiras oficiais de fo-
mento, incluído o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social, especificando os empréstimos e financiamentos concedidos com
recursos oriundos dos orçamentos fiscal e da seguridade social e, no
caso das agências financeiras, avaliação circunstanciada do impacto
fiscal de suas atividades no exercício.
COMENTÁRIO
1. DISPONIBILIDADE DAS CONTAS PARA CONSULTA POPULAR
O art. 49, também pertencente à Seção I, "Da Transparência da Gestão
Fiscal", aprofunda a necessidade da transparência como um dos corolários
do regime de responsabilidade fiscal.
Com efeito, o Chefe do Poder Executivo, ao apresentar suas contas,
deverá deixá-las disponíveis no respectivo Poder Legislativo e no órgão
técnico que cuidou da sua elaboração, a fim de que os cidadãos possam
conferi-las.
2. REQUISITOS PARA A PRESTAÇÃO DE CONTAS DA UNIÃO
No parágrafo único, estabelece a lei uma regulamentação específica
para a União. Inclui a necessidade de que a prestação de suas contas conte-
nha demonstrativos do Tesouro Nacional e das agências financeiras oficiais
de fomento. Ao impor tal exigência, a lei determina a imprescindibilidade
de certos documentos, o que não supre a necessidade de uma ampla presta-
ção de contas, minuciosa a ponto de não deixar quaisquer dúvidas acerca da
verdadeira monta dos gastos públicos. Dessa forma, além de conter os de-
monstrativos, a prestação de contas deve ser bastante detalhada para permi-
tir que o regime de responsabilidade fiscal se paute pela transparência.
3. AVALIAÇÃO DO IMPACTO FISCAL
A avaliação circunstanciada do impacto fiscal a que se refere o pará-
grafo único tem direta relação com as repercussões para o fisco de determi-
nadas políticas públicas. Uma avaliação desse tipo é útil e imprescindível
ì
Seção 11
Da Escrituração e Consolidação das Contas
Art. 50. Além de obedecer às demais normas de contabilidade pú-
blica, a escrituração das contas públicas observará as seguintes:
1- a disponibilidade de caixa constará de registro próprio, de modo
que os recursos vinculados a órgão, fundo ou despesa obrigatória fi-
quem identificados e escriturados de forma individualizada;
II - a despesa e a assunção de compromisso serão registradas se-
gundo o regime de competência, apurando
-se, em caráter complemen-
tar, o resultado dos fluxos financeiros pelo regime de caixa;
III - as demonstrações contábeis compreenderão, isolada e con-
juntamente, as transações e operações de cada órgão, fundo ou entida-
de da administração direta, autárquica e fundacional, inclusive empre-
sa estatal dependente;
IV - as receitas e despesas previdenciárias serão apresentadas em
demonstrativos financeiros e orçamentários específicos;
V - as operações de crédito, as inscrições em Restos a Pagar e as
demais formas de financiamento ou assunção de compromissos junto a
terceiros, deverão ser escrituradas de modo a evidenciar o montante e
a variação da dívida pública no período, detalhando, pelo menos, a
natureza e o tipo de credor;
para o regime de responsabilidade fiscal, isto é, a idéia de que o agente
público não mais pode gastar sem antes ter noção do impacto de tais gastos
para o patrimônio público.
O respeito às gerações futuras é fundamento mesmo de uma responsa-
bilidade fiscal. Nesse sentido, o direito das gerações futuras deve ser prote-
gido pelo constitucionalismo atual, uma vez que, se se admite claramente
no Direito Ambiental que os recursos existentes no mundo não são ilimita-
dos, possuindo as gerações atuais não somente o compromisso como o de-
ver de preservá-los para o futuro, do mesmo modo, é impensável hoje que o
agente público não considere os impactos de suas políticas para as gerações
futuras, que não planejaram tais gastos, e muitas vezes não o desejariam. A
necessidade de controle dos gastos públicos funda-se nessa necessidade
inadiável de também não onerar as futuras gerações com gastos desregra-
dos.
353 171111101 1 c..cuu • ."	
VI - a demonstração das variações patrimoniais dará destaque à
origem e ao destino dos recursos provenientes da alienação de ativos.
§ ls No caso das demonstrações conjuntas, excluir-se-ão as opera-
ções intragovernamentais.
§ 2s A edição de normas gerais para consolidação das contas pú-
blicas caberá ao órgão central de contabilidade da União, enquanto
não implantado o conselho de que trata o art. 67.
§ 34 A Administração Pública manterá sistema de custos que per-
mita a avaliação e o acompanhamento da gestão orçamentária, finan-
ceira e patrimonial.
COMENTÁRIO
1. ESCRITURAÇÃO DAS CONTAS PÚBLICAS
As normas de contabilidade a que se refere o artigo são disciplinadas
pela Lei n. 4.320, de 17 de março de 1964, estatuindo disposições gerais de
Direito Financeiro para elaboração e controle dos orçamentos e balanços da
União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal. O art. 50 cuida
de acrescentar algumas normas de contabilidade pública visando a aprimo-
rar o sistema e coadunar-se com a idéia de responsabilidade fiscal.
A grande dúvida suscitada diante de tal dispositivo é o seu § 24 ,
estatuindo que a edição de normas gerais para consolidação das contas pú-
blicas caberá ao órgão central de contabilidade da União, enquanto o Con-
selho de Gestão Fiscal, estabelecido no art. 67 e constituído por todos os
Poderes e esferas de governo, do Ministério Público e de entidades técnicas
representativas da sociedade, não for implantado. Alega-se que a fase ini-
cial de aplicação da lei, enquanto não estiver em funcionamento o Conse-
lho, poderia suscitar questões sobre uma possível inconstitucionalidade da
aplicação de normas de um órgão federal a órgãos estaduais e municipais,
violando o princípio federativo.
Não há qualquer inconstitucionalidade neste dispositivo. A lei resol-
veu um problema procedimental. Ë necessário tempo para que o referido
Conselho de Gestão Fiscal seja implantado. Enquanto isso não acontece, é
preciso que algum órgão edite normas gerais para a consolidação das contas
públicas. Tais normas não podem, logicamente, contrapor-se à Constituição
Federal, mais especificamente ao art. 68, § 1 2 , III, que proíbe delegação em
caso de legislação sobre planos plurianuais, diretrizes orçamentárias e orça-
mentos.
L.unrerrtarws d Ler ue ttesponsaonlaaae F-i scai

354
Art. 51. O Poder Executivo da União promoverá, até o dia trinta
de junho, a consolidação, nacional e por esfera de governo, das contas
dos entes da Federação relativas ao exercício anterior, e a sua divulga-
ção, inclusive por meio eletrônico de acesso público.
§ 1 4 Os Estados e os Municípios encaminharão suas contas ao Po-
der Executivo da União nos seguintes prazos :
1 - Municípios, com cópia para o Poder Executivo do respectivo
Estado, até trinta de abril;
II - Estados, até trinta e um de maio.
§ 24 O descumprimento dos prazos previstos neste artigo impedi-
rá, até que a situação seja regularizada, que o ente da Federação rece-
ba transferências voluntárias e contrate operações de crédito, exceto as
destinadas ao refinanciamento do principal atualizado da dívida
mobiliária.
COMENTÁRIO
1. CONSOLIDAÇÃO DAS CONTAS DOS ENTES FEDERATIVOS
A Lei de Responsabilidade Fiscal concedeu ao Poder Executivo da
União Federal o papel precípuo de consolidar, nacionalmente, as contas dos
demais entes, bem como a sua própria. Mas não cabe à União somente
consolidar tais contas. Necessitam elas ser divulgadas de forma ampla, in-
clusive através de meios eletrônicos de acesso público, como a Internet.
Novamente, aqui emerge a idéia de quea transparência é peça funda-
mental em um regime de responsabilidade fiscal. O efetivo controle dos
gastos públicos somente é exercido quando são dispostos, de maneira não
obtusa, os modos em que o dinheiro público é utilizado. Ademais, o contro-
le é facilitado com a consolidação, uma vez que são uniformizadas, através
de tal documento, as formas de expor como se deram os gastos públicos.
2. PRAZOS PARA AS CONTAS DOS ESTADOS E MUNICÍPIOS
O § 1 2 estabelece prazos que, rigidamente, devem ser observados pe-
los Municípios e Estados para a apresentação das contas. Aos Municípios
caberá enviar suas contas ao Poder Executivo da União, além de uma cópia
ao Poder Executivo de seu respectivo Estado. Este, por sua vez, e com um
prazo maior, enviará suas contas ao Poder Executivo da União.
J55 UM 11U, ,1.,1..x-	
O § 22 dispõe que o descumprimento de tais prazos acarretará determi-
nadas sanções, como o não-recebimento de transferências voluntárias.
Como já observado, a aplicação de tais sanções é ex offcio 1 °, o que
não elide a necessidade do contraditório e da ampla defesa, quer no âmbito
administrativo, quer no judicial.
Seção 111
Do Relatório Resumido da Execução Orçamentária
Art. 52.0 relatório a que se refere o § 34 do art. 165 da Constitui-
ção abrangerá todos os Poderes e o Ministério Público, será publicado
até trinta dias após o encerramento de cada bimestre e composto de:
1- balanço orçamentário, que especificará, por categoria econô-
mica, as:
a) receitas por fonte, informando as realizadas e a realizar, bem
como a previsão atualizada;
b) despesas por grupo de natureza, discriminando a dotação para
o exercício, a despesa liquidada e o saldo;
II - demonstrativos da execução das:
a) receitas, por categoria econômica e fonte, especificando a previ-
são inicial, a previsão atualizada para o exercício, a receita realizada no
bimestre, a realizada no exercício e a previsão a realizar;
b) despesas, por categoria econômica e grupo de natureza da des-
pesa, discriminando dotação inicial, dotação para o exercício, despesas
empenhada e liquidada, no bimestre e no exercício;
c) despesas, por função e subfunção.
§ 12 Os valores referentes ao refinanciamento da dívida mobiliária
constarão destacadamente nas receitas de operações de crédito e nas
despesas com amortização da dívida.
§ 22 O descumprimento do prazo previsto neste artigo sujeita o
ente às sanções previstas no § 24 do art. 51.
14. Cf. Carlos Pinto Coelho Motta e outros, Responsabilidade fiscal. Belo Horizonte:
Del Rey, 2000, p. 453.
l;omentanos a Lei de Responsabilidade Fiscal

356
Art. 53. Acompanharão o Relatório Resumido demonstrativos re-
lativos a:
I - apuração da receita corrente líquida, na forma definida no inciso
IV do art. 211, sua evolução, assim como a previsão de seu desempenho
até o final do exercício;
II - receitas e despesas previdenciárias a que se refere o inciso IV
do art. 50;
III - resultados nominal e primário;
IV - despesas com juros, na forma do inciso II do art. 42 ;
V - Restos a Pagar, detalhando, por Poder e órgão referido no art.
20, os valores inscritos, os pagamentos realizados e o montante a pagar.
§ ls O relatório referente ao último bimestre do exercício será acom-
panhado também de demonstrativos:
1- do atendimento do disposto no inciso III do art. 167 da Consti-
tuição, conforme o § 34 do art. 32;
II - das projeções atuariais dos regimes de previdência social, ge-
ral e próprio dos servidores públicos;
III - da variação patrimonial, evidenciando a alienação de ativos e
a aplicação dos recursos dela decorrentes.
§ 22 Quando for o caso, serão apresentadas justificativas:
1- da limitação de empenho;
II - da frustração de receitas, especificando as medidas de comba-
te à sonegação e à evasão fiscal, adotadas e a adotar, e as ações de fisca-
lização e cobrança.
COMENTÁRIO
1. RELATÓRIO RESUMIDO DA EXECUÇÃO ORÇAMENTÁRIA
O art. 52 explicita o conteúdo do Relatório Resumido da Execução
Orçamentária a que se refere o § 34 do art. 165 da Constituição Federal.
Será bimestral e publicado até trinta dias após o encerramento desse perío-
do. Sendo descumprido tal prazo, o ente da Federação fica sujeito às mes-
mas sanções estabelecidas no § 24 do art. 51.
O próprio constituinte visualizou a necessidade de um relatório desse
tipo, daí por que não se poderia alegar que o seu estabelecimento seria mera
cópia do modelo do Fiscal Responsibility Act, da Nova Zelândia, que dá
i
especial relevância à elaboração de diversos relatórios, a fim de que o pro-
posto regime de responsabilidade fiscal seja o mais completo possível.
O art. 53 detalha o conteúdo do Relatório Resumido da Execução Or-
çamentária. Trata especificamente dos demonstrativos que devem acompa-
nhar o Relatório Resumido. Um dos grandes feitos da Lei de Responsabili-
dade Fiscal é aclarar, nos mínimos detalhes, a origem dos gastos públicos, a
fim de que o dispêndio seja racionalizado e controlado quando em desacor-
do com os princípios constitucionais orçamentários e os regimes de respon-
sabilidade fiscal.
Tanto o art. 53 como o art. 52, dentre outros, demonstram a necessi-
dade de que sejam feitas previsões e projeções de gastos. O equilíbrio das
contas públicas somente é exercido se levado em conta o que no presente se
gasta e o que, no futuro, pretende-se gastar. Já é claro para a sociedade que
os enormes gastos que administradores deixam para seus sucessores, após o
processo eleitoral, são flagrantemente descabidos, ferindo a ética da boa
gestão da coisa pública e um regime de responsabilidade fiscal que se quer
implantar, sem falar que tal conduta indesejada onera a sociedade e, com
ainda mais fervor, as gerações futuras.
Seção I V
Do Relatório de Gestão Fiscal
Art. 54. Ao final de cada quadrimestre será emitido pelos titulares
dos Poderes e órgãos referidos no art. 20 Relatório de Gestão Fiscal,
assinado pelo:
1- Chefe do Poder Executivo;
II - Presidente e demais membros da Mesa Diretora ou órgão
decisório equivalente, conforme regimentos internos dos órgãos do Po-
der Legislativo;
III - Presidente de Tribunal e demais membros de Conselho de
Administração ou órgão decisório equivalente, conforme regimentos
internos dos órgãos do Poder Judiciário;
IV - Chefe do Ministério Público, da União e dos Estados.
Parágrafo único. O relatório também será assinado pelas autori-
dades responsáveis pela administração financeira e pelo controle inter-
no, bem como por outras definidas por ato próprio de cada Poder ou
órgão referido no art. 20.
Iornentanos a Lei ae nesponsaDinaaae Fiscal

35t3
COMENTÁRIO
1. RELATÓRIO DA GESTÃO FISCAL
Lido conjuntamente com o art. 55, este artigo cuida especificamente
do Relatório da Gestão Fiscal. Diferentemente do Relatório Resumido da
Execução Orçamentária, será emitido pelos titulares dos Poderes e demais
órgãos a que se refere o art. 20 da lei quadrimestralmente.
Ao estabelecer a quem caberá assinar o relatório, sabiamente o dispo-
sitivo resguarda a autonomia dos Poderes Legislativo e Judiciário, remeten-
do esse disciplinamento, quando for o caso, aos seus respectivos regimen-
tos internos.
Art. 55.0 relatório conterá:
1- comparativo com os limites de que trata esta Lei Complemen-
tar, dos seguintes montantes:
a) despesa total com pessoal, distinguindo a com inativos e pen-
sionistas;
b) dívidas consolidada e mobiliária;
c) concessão de garantias;
d) operação de crédito, inclusive por antecipação de receita;
e) despesas de que trata o inciso II do art. 4 4 ;
II - indicação das medidas corretivas adotadas ou a adotar, se ul-
trapassado qualquer dos limites;
III - demonstrativos, no último quadrimestre:
a) do montante das disponibilidades de caixa em trinta e um de
dezembro;
b) da inscrição em Restos a Pagar, das despesas:
1) liquidadas;
2) empenhadas e não liquidadas, inscritaspor atenderem a uma
das condições do inciso II do art. 41;
3) empenhadas e não liquidadas, inscritas até o limite do saldo da
disponibilidade de caixa;
4) não inscritas por falta de disponibilidade de caixa e cujos empe-
nhos foram cancelados;
c) do cumprimento do disposto no inciso II e na alínea b do inciso
IV do art. 38.
359 U11[ I IcU 1-cl 1 cll a m'.,i —.,..+
§ 14 O relatório dos titulares dos órgãos mencionados nos incisos
II, lu e IV do art. 54 conterá apenas as informações relativas à alínea a
do inciso 1, e os documentos referidos nos incisos II e III.
§ 24 O relatório será publicado até trinta dias após o encerramen-
to do período a que corresponder, com amplo acesso ao público, inclu-
sive por meio eletrônico.
§ 34 O descumprimento do prazo a que se refere o § 2-
2 sujeita o
ente à sanção prevista no § 2g do art. 51.
§ 4s Os relatórios referidos nos arts. 52 e 54 deverão ser elabora-
dos de forma padronizada, segundo modelos que poderão ser atualizados
pelo conselho de que trata o art. 67.
COMENTÁRIO
1. CONTEÚDO DO RELATÓRIO DA GESTÃO FISCAL
Este dispositivo estabelece o conteúdo do Relatório de Gestão Fiscal.
0 limite fixado para sua publicação é de trinta dias após o período a que ele
corresponde, no caso, quadrimestralmente.
Novamente, como não poderia deixar de ser, a lei reitera que também
a esse relatório deve ser dado amplo acesso ao público, através de meios
eletrônicos, como, por exemplo, a Internet.
As sanções previstas no § 2 2 do art. 51 aqui também são aplicadas. se
o prazo de trinta dias for descumprido.
O § 34 deste artigo determina que tanto o Relatório Resumido da Exe-
cução Orçamentária como o Relatório da Gestão Fiscal deverão seguir mo-
delos padronizados apresentados pelo Conselho de Gestão Fiscal, estabele-
cido pelo art. 67. Aqui também não há que se falar em quebra do pacto
federativo, pois a existência de tais modelos somente visa a racionalização
na elaboração dos relatórios. A confusão e a diferenciação entre modelos de
relatórios somente dificultam o controle e enfraquecem a transparência.
Ademais, o Conselho de Gestão Fiscal possui legitimidade para assim esta-
belecer, uma vez que buscará abarcar as parcelas significativas da sociedade.
Seção V
Das Prestações de Contas
Art. 56. As contas prestadas pelos Chefes do Poder Executivo in-
cluirão, além das suas próprias, as dos Presidentes dos órgãos dos Po-
l,ulnenldnu5 d Lei cie rcesponsaomaaae riscai

360
deres Legislativo e Judiciário e do Chefe do Ministério Público, referi-
dos no art. 20, as quais receberão parecer prévio, separadamente, do
respectivo Tribunal de Contas.
§ 1s As contas do Poder Judiciário serão apresentadas no âmbito:
1- da União, pelos Presidentes do Supremo Tribunal Federal e dos
Tribunais Superiores, consolidando as dos respectivos tribunais;
II - dos Estados, pelos Presidentes dos Tribunais de Justiça, con-
solidando as dos demais tribunais.
§ 2s O parecer sobre as contas dos Tribunais de Contas será profe-
rido no prazo previsto no art. 57 pela comissão mista permanente refe-
rida no § 1Q do art. 166 da Constituição ou equivalente das Casas
Legislativas estaduais e municipais.
§ 3s Será dada ampla divulgação dos resultados da apreciação das
contas, julgadas ou tomadas.
COMENTÁRIO
1. EXTENSÃO DA PRESTAÇÃO DE CONTAS
As contas do Chefe do Executivo, de acordo com este artigo, devem
ser prestadas, sendo incluídas aquelas apresentadas pelos Chefes do Poder
Judiciário e Legislativo, além do Chefe do Ministério Público. A lei impõe
que sejam precedidas de um parecer prévio do Tribunal de Contas.
As contas do Poder Judiciário serão apresentadas, no âmbito da União,
pelos presidentes do STF e demais tribunais superiores, cabendo a eles con-
solidar as dos demais tribunais, dentro de sua própria alçada. Nos Estados,
caberá ao presidente dos Tribunais de Justiça a apresentação das contas,
consolidando as dos demais tribunais, se for o caso.
O dispositivo também prevê a quem caberá o parecer sobre as contas
dos Tribunais de Contas. Dessa forma, refere-se ao art. 166, § 1 2, da Cons-
tituição, competindo, portanto, às comissões mistas de deputados e senado-
res a emissão de parecer sobre as contas do TCU. Por analogia, no caso de
Estados e Municípios, caberá tal papel a comissões de vereadores ou depu-
tados estaduais. E o chamado princípio da imparcialidade, impedindo que
haja um autojulgamento 15
1 5. Carlos Pinto Coelho Motta e outros, Responsabilidade _fiscal, cit., p. 459. Vertambém, no STF, a Representação n. 1.021-RJ, RTJ, 110:476-87, 1 984.
3131 . W lidi reliciia tviciü.ca
O § 3 2 prescreve que aos resultados da apreciação das contas deve ser
dada ampla divulgação. Embora não mencione que tal divulgação deva acon-
tecer através de meios eletrônicos de acesso público, é de se crer que nenhu-
ma divulgação alcança seus últimos fins se não assimilada a idéia de que tais
informações também devem ser disponibilizadas pública e eletronicamente.
Art. 57. Os Tribunais de Contas emitirão parecer prévio conclusi-
vo sobre as contas no prazo de sessenta dias do recebimento, se outro
não estiver estabelecido nas constituições estaduais ou nas leis orgâni-
cas municipais.
§ 1s No caso de Municípios que não sejam capitais e que tenham
menos de duzentos mil habitantes o prazo será de cento e oitenta dias.
§ 22 Os Tribunais de Contas não entrarão em recesso enquanto
existirem contas de Poder, ou órgão referido no art. 20, pendentes de
parecer prévio.
COMENTÁRIO
1. PARECER PRÉVIO DOS TRIBUNAIS DE CONTAS
O prazo de sessenta dias estabelecido pelo artigo somente é aplicado
quando Constituições estaduais ou leis orgânicas dos Municípios não con-
ferirem um diverso. A Lei de Responsabilidade Fiscal, também neste caso,
preserva a autonomia de Estados e Municípios, que, conforme suas necessi-
dades, podem encurtar ou alargar o prazo em que deve ser preparado o
parecer prévio.
Pelo § 1 2 , os Tribunais de Contas possuirão um prazo maior, de cento
e oitenta dias, para apreciar suas contas. Vale ressaltar que, do mesmo modo
que o caput, esse prazo poderá ser encurtado ou alongado conforme assim
disponham as Constituições estaduais.
O § 22 é a aplicação de uma sanção aos Tribunais de Contas que não
prepararem o parecer prévio. A eles é defeso entrar em recesso até que a
todas as contas apresentadas seja dado o necessário parecer prévio.
Art. 58. A prestação de contas evidenciará o desempenho da arre-
cadação em relação à previsão, destacando as providências adotadas
— va a LCI uC ncspunsaunluaue riscai
no âmbito da fiscalização das receitas e combate à sonegação, as ações
de recuperação de créditos nas instâncias administrativa e judicial, bem
como as demais medidas para incremento das receitas tributárias e de
contribuições.
COMENTÁRIO
1. INCREMENTO DAS RECEITAS PÚBLICAS
O regime de responsabilidade fiscal não somente prevê o controle de
gastos em maior medida. Busca, também, fornecer subsídios para que haja
acréscimos significativos nas receitas. Daí o art. 58 enfatizar que a presta-
ção de contas dará especial relevo à situação da arrecadação em relação ao
que foi previsto.
Já ressaltamos anteriormente que um dos grandes méritos da lei é im-
por com rigor ao administrador uma visão do gasto público no seu conjun-
to, devendo, necessariamente, preocupar-se com o que pretende gastar. As
previsões de arrecadação inserem-se na mesma necessidade. A minimização
dos gastos públicos está em relação direta com a maximização da receita
pública. Seria pouco ou totalmente ineficaz dar especial relevância ao con-
trole dos gastos públicos sem buscar meios de aumentar a receita.
2. ÉTICA DO GASTO PÚBLICO
Não se pode pensar que o regime de responsabilidade fiscal é um fim
em si mesmo. Os seus críticos comumente tendem a fazer tal afirmação,
crendo ser o regime mera transplantação de modelosestrangeiros, visando
a cumprir metas estabelecidas por organismos financeiros internacionais. O
regime de responsabilidade fiscal é simples e absolutamente um meio. O
que se busca com um Estado mais financeiramente equilibrado é o fim do
Estado populista, que desvia os pleitos setoriais de outras esferas, sendo a
economia a mais marcante delas, para a política.
É inconcebível pensar em um Estado que, em razão de reivindicações
de corporações que nada representam senão seus próprios interesses, pena-
liza a sociedade no seu conjunto. Por longo tempo, essa cultura populista
somente beneficiou um pequeno grupo de interessados, enquanto o Estado
e todo o corpo social pagaram por tal descalabro. A Lei de Responsabilida-
de Fiscal visa a minimizar esses efeitos perniciosos agindo há décadas ou
mesmo séculos sobre o País. Obviamente, ela pode possuir algumas impre-
3b2 .3b.S U11111ai I G.I G.. 4 —
cisões, o que, de forma alguma, afeta o seu caráter inovador e mesmo cora-
joso: criar uma ética do gasto público no Brasil.
Seção VI
Da Fiscalização da Gestão Fiscal
Art. 59. O Poder Legislativo, diretamente ou com o auxílio dos
Tribunais de Contas, e o sistema de controle interno de cada Poder e do
Ministério Público, fiscalizarão o cumprimento das normas desta Lei
Complementar, com ênfase no que se refere a:
1 - atingimento das metas estabelecidas na lei de diretrizes orça-
mentárias;
II - limites e condições para realização de operações de crédito e
inscrição em Restos a Pagar;
III - medidas adotadas para o retorno da despesa total com pes-
soal ao respectivo limite, nos termos dos arts. 22 e 23;
IV - providências tomadas, conforme o disposto no art. 31, para
recondução dos montantes das dívidas consolidada e mobiliária aos res-
pectivos limites;
V - destinação de recursos obtidos com a alienação de ativos, ten-
do em vista as restrições constitucionais e as desta Lei Complementar;
VI - cumprimento do limite de gastos totais dos legislativos muni-
cipais, quando houver.
§ 1 2 Os Tribunais de Contas alertarão os Poderes ou órgãos referi-
dos no art. 20 quando constatarem:
1 - a possibilidade de ocorrência das situações previstas no inciso
II do art. 4° e no art. 9 11 ;
11- que o montante da despesa total com pessoal ultrapassou 90
(noventa por cento) do limite;
III - que os montantes das dívidas consolidada e mobiliária, das
operações de crédito e da concessão de garantia se encontram acima de
90% (noventa por cento) dos respectivos limites;
IV - que os gastos com inativos e pensionistas se encontram acima
do limite definido em lei;
V - fatos que comprometam os custos ou os resultados dos progra-
mas ou indícios de irregularidades na gestão orçamentária.
I,uinCIRanus d Lei ue rcespor saomuaoe riscai 3 b4
COMENTÁRIO
1. FISCALIZAÇÃO DO CUMPRIMENTO DA LRF
Este dispositivo trata especificamente da fiscalização da lei em relaçãoa seu cumprimento. Prevê um mecanismo conjunto, a ser realizado tantopelo Poder Legislativo e pelo Tribunal de Contas como pelos mecanismosinternos de cada Poder e do Ministério Público.
A relevância atribuída pela lei à fiscalização interna por parte de cadaPoder tem ligação direta com as obrigações impostas pelo art. 20 da Lei deResponsabilidade Fiscal.
Recentemente, em sede de Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIn2.238, Ilmar Galvão), argüiu-se a inconstitucionalidade do art. 20 por su-postamente ofender o princípio constitucional da separação de Poderes. OSupremo Tribunal Federal, por maioria de 6 a 5, decidiu não conceder liminarpara suspender o referido artigo e, portanto, não acolher a alegação de in-constitucionalidade.
O debate travado no Plenário desenvolveu-se através de duas tesescontrapostas. A primeira delas, tendo sido vencida, via no art. 20 a violaçãodo princípio da separação de Poderes. A tese vencedora, por outro lado,considerou que, sem a divisão para os Poderes, a Lei de ResponsabilidadeFiscal poderia vir a se tornar uma nova Lei Camata, que impunha o ônus daadequação aos limites de despesas somente ao Poder Executivo.
A verdade é que, pelo contrário, a não-imposição de limites por Pode-res configura uma quebra do princípio da separação destes, uma vez quenão reparte nem pretende repartir os riscos fiscais. Cria-se a ilusão de que asdespesas encontram-se em limites razoáveis, quando, na verdade, a maiorparte dos ônus está sendo suportada por apenas um dos Poderes. Comoexecutor do orçamento, ao Poder Executivo, visando a evitar déficits fis-cais, caberá naturalmente suportar os desvios de despesas cometidos poroutros Poderes.
A própria idéia de responsabilidade fiscal exige a incorporação de to-das as receitas e despesas praticadas por poderes e órgãos públicos. Isso
§ 22 Compete ainda aos Tribunais de Contas verificar os cálculosdos limites da despesa total com pessoal de cada Poder e órgão referidono art. 20.
§ 34 O Tribunal de Contas da União acompanhará o cumprimentodo disposto nos §§ 2s, 32 e 4-2 do art. 39.
JVJ
acarreta, uma vez que compartilham recursos financeiros comuns, a impo-sição de limites a todos e a cada um deles. Do contrário, um regime ilusóriode regramento fiscal terá seguimento, já que somente parte da Administra-
ção Pública tentará adequar-se aos limites impostos pelo orçamento, quenada mais buscam senão a racionalização da máquina estatal, a fim de cana-lizar recursos para atividades visando a diminuir as desigualdades econô-
micas, ou seja, redistribuir os riscos entre toda a população, sem qualquer
distinção.
Nesse sentido, a busca da diminuição das discrepâncias econômicasentre os cidadãos encontra-se ligada à idéia da distribuição dos riscos eco-nômicos de modo equânime. E distribuir os riscos econômicos entre osPoderes, sem a aplicação de qualquer distinção, é peça chave para a perfeitaaplicação de um necessário regime de responsabilidade fiscal. racionalizador
da Administração Pública, trazendo impactos para a área de investimentos,e da garantia da proteção de direitos constitucionalmente protegidos.
A fiscalização interna, portanto, é indispensável tanto para recrudes-
cer a eficiência do controle como para se adequar à idéia de repartição
equânime dos riscos fiscais entre os Poderes.
O artigo dispõe sobre uma série de atos em que se enfatizará a fiscali-zação. A disposição não é taxativa, apenas enumerando tais atos para não
restar dúvidas sobre a importância que eles mesmos possuem para o desen-volvimento e fortalecimento da idéia de responsabilidade fiscal.
2. LIMITES DE ENDIVIDAMENTO
Os § § 1 2 , 22 e 32 enfatizam o papel dos Tribunais de Contas - e espe-cialmente do Tribunal de Contas da União, no § 34 - na fiscalização da
aplicação da lei.
Uma vez que a lei - como não poderia deixar de ser - fixa limitesrígidos de endividamento, aos Tribunais de Contas caberá o importante pa-pel de alertar os Poderes e os órgãos do art. 20 quando tais limites estiverem
prestes a ser ultrapassados ou sobre fatos já consumados, a fim de que se-
jam revertidos de acordo com o estabelecido na lei.
Novamente, o alerta feito especificamente aos Poderes e aos órgãos do
art. 20 coaduna-se com a idéia de repartição dos riscos fiscais entre todos osPoderes, uma vez que estes devem respeitar os limites impostos pelo art. 20
da Lei de Responsabilidade Fiscal.
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