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Apostila da Disciplina MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO II - 2008 Autoria: Prof. Dr. Espedito Felipe Teixeira de Carvalho SUMÁRIO INTRODUÇÃO............................................................................................................................. 1 MATERIAIS CERÂMICOS PARA CONSTRUÇÃO .............................................................. 18 MADEIRAS ................................................................................................................................ 37 VIDROS ...................................................................................................................................... 67 FIBROCIMENTO ...................................................................................................................... 78 CIMENTO AMIANTO............................................................................................................... 81 MATERIAIS BETUMINOSOS ................................................................................................. 86 METAIS .................................................................................................................................... 109 PRODUTOS SIDERÚRGICOS ............................................................................................... 115 NBR 7480................................................................................................................................... 118 O PLÁSTICO NA CONSTRUÇÃO......................................................................................... 125 COMPÓSITOS ......................................................................................................................... 141 TINTAS..................................................................................................................................... 147 A -TINTAS A ÓLEO ................................................................................................................ 152 B – TINTAS PLÁSTICAS EMULSIONÁVEIS: PVA ............................................................ 152 C – TINTAS PARA CAIAÇÃO ............................................................................................... 153 D – TINTAS ESPECIAIS ......................................................................................................... 154 E - VERNIZES, LACAS E ESMALTES ................................................................................. 154 INTRODUÇÃO 1 - A CIÊNCIA E A ENGENHARIA DOS MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO CIVIL Definições: Materiais: Sob o ponto de vista utilitário, materiais são substâncias com propriedades úteis na construção de máquinas, estruturas, dispositivos e produtos, ou seja, são substâncias com as quais se fazem “coisas” (Cohen, 1987). A designação materiais de engenharia é usada, por vezes, em referência específica aos materiais que se utilizam para o fabrico de produtos técnicos. Contudo, não há uma linha de separação clara entre as duas designações, visto que ambas são usadas indistintamente. Ciência e Engenharia dos Materiais (CEM) definida, segundo Cohen (1987), como “a área da atividade humana associada com a geração e aplicação de conhecimento que relaciona composição, estrutura e processamento dos materiais às suas propriedades e usos”. Trata-se do acoplamento, por um lado, da Ciência dos Materiais que engloba disciplinas científicas tradicionais (Física, Química, Matemática) e, de outro lado, com a Engenharia dos Materiais que estuda e desenvolve processos e aplicações dos materiais. 2 Figura 1 - Ciclo global dos materiais 3 Visão histórica dos materiais de construção (Patton, 1988). Estrutura Atômica e Molecular dos Materiais: A estrutura de um material pode ser dividida em quatro níveis: � estrutura atômica; � arranjo atômico; � microestrutura; � macroestrutura. 4 Ligações Atômicas � Ligações primárias (fortes): • Ligação iônica; • Ligação covalente; • Ligação metálica. � Ligações secundárias – forças de van der Waals: • Moléculas polares; • Dipolos induzidos; • Pontes de hidrogênio. Ligação iônica – ex. do NaCl: a) ionização dos elementos e b) atração e ligação iônica (SHACKELFORD, 1996). 5 Exemplos de ligação covalente: a) molécula do oxigênio (O2) e b) molécula do metano (CH4). Modelo explicativo da ligação metálica, em que se têm os elétrons de valência deixando os seus átomos originais para formarem uma “nuvem” eletrônica, que mantém presos (ligados) os íons positivos (oriundos da saída dos elétrons) (ASKELAND, 1998). � Ligações secundárias – forças de van der Waals: 6 Exemplo de molécula polar, o HF (a), em que se tem ligação covalente intramolecular e forças de van der Waals intermoleculares – dadas pela atração entre os dipolos (b) e (c). (adaptada de VAN VLACK, 1970). � Ligações secundárias – forças de van der Waals: � Ligações secundárias – forças de van der Waals: Esquema ilustrativo da atração das moléculas de H2 O, na formação da água, por pontes de hidrogênio. Percebe- se a atração entre os núcleos “expostos” de hidrogênio de uma molécula pelos elétrons não compartilhados do oxigênio das moléculas adjacentes. 7 Espaço interatômico Energia de ligação Faixas de energia em função do tipo de ligação atômica. Ligações atômicas características dos principais materiais 8 Arranjos atômicos – estrutura dos materiais Os arranjos atômicos, que propiciam a formação dos materiais, podem ser de três tipos básicos, gerando, então, três classes estruturais principais: • estruturas moleculares; • estruturas cristalinas; • estruturas amorfas. � Estrutura molecular: • A estrutura molecular pode ser genericamente caracterizada por um agrupamento de átomos; • Existem grupos limitados de átomos fortemente ligados entre si, formando moléculas, e essas moléculas se ligam entre si por meio de ligações secundárias. Exemplos de materiais típicos com estrutura molecular: • Gases: O2 , N2 , CO2 ; • Água: H2O; • Ácido nítrico: (HNO3 ); • Polímeros (em geral); • Materiais betuminosos; • Enorme gama de outros gases e líquidos. Em geral, as ligações fortes que caracterizam as estruturas moleculares são as ligações covalentes, mas ligações iônicas podem existir. 9 Ilustração esquemática de um reticulado cristalino com o destaque para a célula unitária (região em azul) (ASKELAND, 1998). • Tal nível de organização permitiu uma classificação da estrutura cristalina em sete sistemas cristalinos principais, conforme a geometria do cristal: Cúbico, tetragonal, ortorrômbico, romboédrico, hexagonal, monoclínico e triclínico. � Estrutura cristalina 10 � Descrição das direções no cristal: 11 � Formas alotrópicas do ferro: Células unitárias cúbica de corpo centrado – ccc (a) e cúbica de faces centradas – cfc (b), representando duas diferentes formas alotrópicas do ferro. As esferas e suas frações designam, respectivamente, os átomos de ferro e suas partes contidas na célula unitária. � Materiais típicos de estrutura cristalina: Alguns exemplos: • O ferro e os aços de construção: são exemplos clássicos de materiais cristalinos, que se alternam entreas formas alotrópicas estruturais cúbicas de corpo centrado (ccc) – em temperatura ambiente – e de face centrada (cfc); 12 • A areia natural: constituída essencialmente de sílica em sua forma cristalina, que é o quartzo de estrutura trigonal (romboédrica), a areia constitui um exemplo de material natural cristalino; • Os compostos principais do cimento Portland, assim como seus derivados hidratados: em geral, são fases cristalinas - silicatos de cálcio anidros C3S e C2S; as fases aluminato e ferroaluminato C3A e C4AF; compostos hidratados da pasta de cimento - o hidróxido de cálcio, a etringita, o monossulfato, e alguns tipos de C – S – H. � Diferentes arranjos atômicos de materiais: Diferentes arranjos atômicos de materiais. a) gás inerte, sem nenhum ordenamento regular de átomos (estrutura amorfa); b) e c) vapor de água e estrutura do vidro, com ordem em pequenas distâncias (estruturas amorfas); e d) metal, com um ordenamento regular de átomos que se estende por todo o material (estrutura cristalina) (ASKELAND, 1998). Fases dos materiais •Fase : trata-se de uma ou mais partes do material que resguarda homogeneidade do ponto de vista estrutural, ou seja, que mantém um arranjo atômico próprio; •Material unifásico e homogêneo: material que possui como um todo um mesmo arranjo atômico; 13 •Material polifásico: caso coexistam em um mesmo material partes com identidades estruturais próprias, o material será bifásico, trifásico ou, de modo genérico, polifásico (ou multifásico), em função do número de partes estruturalmente homogêneas (fases) existentes nesse material. � Fases impuras – soluções sólidas ou estruturas de cristais mistos Solução sólida substitucional característica do latão, em que se têm os átomos de zinco (soluto) substituindo, de forma aleatória, os átomos de cobre do solvente (modelo de descrição planar, sendo os átomos de zinco os círculos escuros e os átomos de cobre os círculos claros) (VAN VLACK, 1970). Solução sólida intersticial: • o aço de construção: correspondente ao ferro em sua forma alotrópica de ferro � (chamada de austenita). 14 Solução de carbono na austenita cfc. O maior interstício no ferro � tem quase o tamanho de um átomo de carbono, favorecendo o estabelecimento de uma solução sólida intersticial (VAN VLACK, 1984). 2 - CLASSIFICAÇÃO DOS MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO PELOS TRÊS GRUPOS FUNDAMENTAIS: Materiais cerâmicos Rochas: Rocha ornamental Agregados para concreto: Areia e Brita. Minerais argilosos: Tijolo e Telha; Placa de revestimento; Louça sanitária Compostos (compósitos): Argamassa e Concreto Vidro Vantagens: - Relativamente baratos quando comparados com os metais ou com materiais orgânicos; - Duráveis; - Resistentes - Rígidos Desvantagens: - Frágeis e - Elevado peso Materiais metálicos Extraídos de minérios naturais (óxidos ou sulfetos de metais): - Ferro (Hematita) - Alumínio (Bauxita), - etc Utilizados para resistir a esforços de tração; Susceptíveis à corrosão. 15 Materiais orgânicos São quimicamente baseados no Carbono: - Madeira, betuminosos, papel, borrachas, plásticos, tintas e vernizes. - Mais deformáveis e têm, em geral, menor resistência; - São muito dúcteis (borrachas) - Sofrem muito o efeito de altas temperaturas; - São muito leves; -Tem baixa condutibilidade térmica. Materiais metálicos: Os metais são compostos da combinação de elementos metálicos que possuem grande quantidade de elétrons livres, não ligados a qualquer átomo em particular, constituindo-se na denominada ligação metálica, que se configura numa “nuvem” eletrônica com o compartilhamento dos elétrons entre átomos vizinhos. As propriedades dos metais derivam dessa sua constituição: bons condutores de eletricidade e de calor, muito resistentes e deformáveis. A título de exemplo, citam-se o ferro, o aço, o alumínio, o cobre, etc. O estudo da estrutura dos metais se baseia no diagrama de fases, no contorno de grãos e nas curvas de resfriamento. Tempo SOLIDIFICAÇÃO DOS METAIS CURVAS DE RESFRIAMENTO Representação esquemática para uma liga ferro-carbono 16 Materiais metálicos ferrosos: materiais metálicos que contem uma porcentagem elevada de ferro, tais como os aços e os ferros fundidos. Materiais metálicos não-ferrosos: materiais metálicos que não contém ferro ou em que o ferro surge apenas em pequena quantidade. O alumínio, o cobre, o zinco, o titânio e o níquel, bem como as respectivas ligas, são exemplos de materiais não ferrosos. Materiais cerâmicos: Os materiais cerâmicos podem ser definidos como sendo materiais formados por compostos de elementos metálicos (Al, Na, K, Mg, Ca, Si, etc.) e um dos cinco seguintes elementos não-metálicos: O, S, N, C e P. Esses elementos são unidos por ligações fortes iônicas e/ou covalentes, com elétrons ligados em posições definidas e fixas, o que lhes confere propriedades características como resistência mecânica, até maior que a dos metais, visto que os átomos não podem se deslocar de suas posições originais. Por isso, apresenta baixa deformação na ruptura, o que lhes confere fragilidade, propriedade oposta à tenacidade dos metais. Outras propriedades derivadas de suas ligações químicas fortes são estabilidade a altas temperaturas, resistência ao ataque químico e isolamento elétrico. Os materiais feitos de argila, o vidro e o óxido de alumínio compactado e densificado a partir de pós, constituem exemplos de materiais cerâmicos. � Exemplo típico de composto cerâmico: MgO: • com relação 1:1 entre átomos metálicos (Mg) e não-metálicos (O); • é amplamente presente como constituinte de materiais refratários, pois pode suportar altas temperaturas sem se dissociar ou fundir. • Outros exemplos: • SiO2 (sílica); • Al2 O3 (alumina); • Argilas: também são materiais cerâmicos comuns, só que bem mais complexos do que o MgO; Uma das argilas mais simples é a caulinita, ou Al4Si4O10(OH)8, que forma sua estrutura cristalina com quatro diferentes unidades: Al, Si, O e o radical (OH). • Mecanismos de escorregamento Comparação dos mecanismos de escorregamento entre metais monoatômicos e materiais cerâmicos biatômicos: 17 Materiais poliméricos: Os polímeros se constituem em moléculas de cadeia longa com grupos repetitivos que apresentam ligações covalentes, geralmente muito fortes. Os principais elementos desta cadeia são C, H, O, N, F e outros elementos não metálicos. As cadeias se unem entre si por ligações secundárias (forças de van der Waals) relativamente fracas, resultando em deslizamento entre si quando são aplicadas forças externas, conferindo-lhes resistências mecânicas baixas. Os polímeros apresentam como vantagens baixo custo, baixa densidade, facilidade de conformação em formas complexas. Em contrapartida, a sua resistência mecânica é relativamente baixa, são de difícil reparação e, em geral, possuem baixa resistência aos raios UV. A maioria dos materiais poliméricos tem uma condutividade elétrica baixa. O polietileno e o cloreto de polivinila (PVC) são exemplos de materiais poliméricos. Materiais eletrônicos: materiais usados em eletrônica, e especialmente em micro eletrônica. Citam-se como exemplo o silício e o arsenieto de gálio. Materiais compósitos: também denominados de materiais conjugados ou compostos, são a união de dois ou mais materiais com o objetivo de obterem-se propriedades especiais não apresentadas isoladamente pelos seus componentes por meio da utilização de métodos convencionais. • Existem compósitos naturaistradicionais, como a madeira em que a matriz e o reforço são poliméricos, assim como a madeira compensada. No concreto estrutural, tanto a matriz à base de pasta de cimento como os agregados (partículas granulares) são materiais cerâmicos, podendo ainda ser utilizadas barras ou fibras de aço para aumentar a resistência à tração. Tem-se ainda como compósitos: • Materiais compósitos de aglomerantes minerais: solo-cimento, pastas, argamassas, fibrocimento, concreto, produtos de concreto, materiais à base de cal e gesso. • Materiais compósitos poliméricos: materiais para impermeabilização e isolamento, concreto asfáltico, materiais aglutinados por polímeros. Materiais Semicondutores: Os semicondutores são materiais de composição como o silício e o germânio, além do gálio, arsênio, cádmio e telúrio, que formam ligações covalentes semelhantes às dos materiais cerâmicos, podendo ser considerados como uma subclasse de cerâmica, porque suas propriedades mecânicas são muito próximas. 18 Possuem características diferentes das cerâmicas quanto à tecnologia empregada e ao nível de miniaturização e de higiene e limpeza para a sua produção. Além das características elétricas e isolantes, são muito sensíveis a impurezas, que são rigidamente controladas para que não seja ultrapassada a proporção de poucos átomos estranhos por um bilhão de átomos do material (Schaffer et al., 2000). Os elementos semicondutores podem ser tratados quimicamente para transmitir e controlar uma corrente elétrica. Seu emprego é importante na fabricação de componentes eletrônicos tais como diodos, transístores e outros de diversos graus de complexidade tecnológica, microprocessadores, e nanocircuitos usados em nanotecnologia. Portanto atualmente o elemento semicondutor é primordial na indústria eletrônica e confecção de seus componentes. Biomateriais: Os biomateriais são empregados em implantes no corpo humano para substituição de partes danificadas, principalmente ossos. Não podem produzir substâncias tóxicas e devem ser compatíveis com os tecidos do corpo, ou seja, não causar rejeição. Os materiais empregados são metais, cerâmicas, polímeros, compósitos e semicondutores que servem para fabricar próteses, que são dispositivos implantados no corpo para suprir a falta de um órgão ausente ou para restaurar uma função comprometida, como articulações de bacias fraturadas (Callister Jr, 2002). Materiais não convencionais: por questões de sustentabilidade do planeta, alguns setores da construção têm desenvolvido projetos e utilizado materiais ecologicamente mais corretos, além de utilizar maior quantidade de resíduos e de materiais e produtos reciclados. Alguns materiais ou técnicas utilizadas pelo homem há milênios foram reintroduzidas na execução de construções para economizar recursos e contribuir para a sustentabilidade dos ecossistemas. Técnica milenar reintroduzida em algumas obras atuais é a terra crua, seja sob a técnica de taipa de pilão, taipa de mão ou pau-a-pique, ou ainda pela utilização de tijolos de barro crus (adobe). Terra crua, bambu, fibras vegetais, materiais reciclados, resíduos industriais e agrícolas. Materiais Avançados: Geralmente se utiliza o nome de materiais avançados àqueles que possuem aplicações em alta tecnologia (high-tech), isto é, dispositivos ou produtos que operam ou funcionam utilizando princípios relativamente sofisticados, como equipamentos eletrônicos, sistemas de fibra ótica, espaçonaves, aeronaves, foguetes, etc. Esses materiais muitas vezes são tipicamente tradicionais cujas propriedades foram aprimoradas ou, ainda, materiais novos de alto desempenho. Podem ser de várias classes, como metais, cerâmicos ou polímeros ou composições de dois ou mais tipos e, geralmente, são de alto custo unitário (Callister Jr., 2002). Exemplo: revestimento de ônibus espacial. Materiais de construção no futuro: materiais nanoestruturados. MATERIAIS CERÂMICOS PARA CONSTRUÇÃO 1 – CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE CERÂMICAS A cerâmica compreende todos os materiais inorgânicos, não-metálicos, obtidos geralmente após tratamento térmico em temperaturas elevadas. Os materiais cerâmicos são fabricados a partir de matérias-primas classificadas em naturais e sintéticas. As naturais mais utilizadas industrialmente são: argila, caulim, quartzo, feldspato, filito, talco, calcita, dolomita, magnesita, cromita, bauxita, grafita e zirconita. As sintéticas incluem, entre 19 outras, alumina (óxido de alumínio) sob diferentes formas (calcinada, eletrofundida e tabular); carbeto de silício e produtos químicos inorgânicos os mais diversos. Dependendo do produto a ser obtido e das propriedades desejadas, as matérias-primas são selecionadas e submetidas a uma série de operações, sendo que, pelo menos em uma delas, ocorre tratamento térmico em temperaturas elevadas. Nesta operação, uma série de alterações podem ocorrer nas características das matérias-primas, principalmente nas naturais, como: perda de massa, composição química, estrutura cristalina com surgimento de novas fases cristalinas ou formação de fase vítrea. Portanto, em função do tratamento térmico e das características das diferentes matérias- primas são obtidos produtos para as mais diversas aplicações. As principais etapas do processamento dos materiais cerâmicos incluem de uma forma geral a preparação das matérias-primas e da massa, a conformação, o processamento térmico e o acabamento. O setor cerâmico é amplo e heterogêneo o que induz a dividi-lo em subsetores ou segmentos em função de diversos fatores, como matérias-primas, propriedades e áreas de utilização. Dessa forma, a seguinte classificação, em geral, é adotada: CERÂMICA VERMELHA - compreende aqueles materiais com coloração avermelhada empregados na construção civil (tijolos, blocos, telhas e tubos cerâmicos / manilhas) e também argila expandida (agregado leve), utensílios domésticos e adorno. As lajotas muitas vezes são enquadradas neste grupo e outras, em Cerâmicas ou Materiais de Revestimento. CERÂMICA OU MATERIAIS DE REVESTIMENTO - compreende aqueles materiais usados na construção civil para revestimento de paredes, pisos e bancadas, tais como azulejos, placas ou ladrilhos para piso e pastilhas. CERÂMICA BRANCA - este grupo é bastante diversificado, compreendendo materiais constituídos por um corpo branco e em geral recobertos por uma camada vítrea transparente e que eram assim agrupados pela cor branca de massa, necessária por razões estéticas e/ou técnicas. Com o advento dos vidrados opacificados, muitos dos produtos enquadrados nesse grupo passaram a ser fabricados, sem prejuízo das características para uma das aplicações, com matérias-primas com certo grau de impurezas, responsáveis pela coloração. Muitas vezes prefere-se subdividir este grupo em função da utilização dos produtos em: Louça sanitária, louça de mesa, isoladores elétricos para linhas de transmissão e de distribuição, utensílios domésticos, cerâmica técnica para fins diversos, tais como: químico, elétrico, térmico e mecânico. MATERIAIS REFRATÁRIOS - este grupo compreende uma gama grande de produtos, que têm como finalidade suportar temperaturas elevadas nas condições específicas de processo e de operação dos equipamentos industriais, que em geral envolvendo esforços mecânicos, ataques químicos, variações bruscas de temperatura e outras solicitações. Para suportar estas solicitações e em função da natureza das mesmas, foram desenvolvidos inúmeros tipos de produtos, a partir de diferentes matérias-primas ou mistura destas. Dessa forma podemos classificar os produtos refratários, quanto à matéria-prima ou componente químico principal em: sílica, sílico-aluminoso, aluminoso, mulita, magnesiano-cromítico, cromítico-magnesiano, carbeto de silício, grafita,carbono, zircônia, zirconita, espinélio e outros. ISOLANTES TÉRMICOS - os produtos deste segmento podem ser classificados em: a) refratários isolantes que se enquadram no segmento de refratários, 20 b) isolantes térmicos não refratários, compreendendo produtos, tais como vermiculita expandida, sílica diatomácea, diatomito, silicato de cálcio, lã de vidro, lã de escória e lã cerâmica, que são obtidos por processos distintos ao do item a) e que podem ser utilizados, dependendo do tipo de produto até 1100oC; c) fibras ou lãs cerâmicas que apresentam características físicas semelhantes às citadas no item b), porém apresentam composições tais como sílica, sílica-alumina, alumina e zircônia, que dependendo do tipo, podem chegar a temperaturas de utilização de 2000oC ou mais. FRITAS E CORANTES - Estes dois tipos de produtos são importantes matérias-primas para diversos segmentos cerâmicos cujos produtos requerem determinados acabamentos. Frita (ou vidrado fritado) é um vidro moído, fabricado por indústrias especializadas a partir da fusão da mistura de diferentes matérias-primas. Este pó é aplicado na superfície do corpo cerâmico, que após a queima, adquire aspecto vítreo. Este acabamento tem por finalidade aprimorar a estética (embelezamento), tornar a peça impermeável, aumentar a resistência mecânica e melhorar ou proporcionar outras características. Corantes constituem-se de óxidos puros ou pigmentos inorgânicos sintéticos obtidos a partir da mistura de óxidos ou de seus compostos. Os pigmentos são fabricados por empresas especializadas, inclusive por muitas das que produzem fritas, cuja obtenção envolve a mistura das matérias-primas, calcinação e moagem. Os corantes são adicionados aos vidrados (cru, frita ou híbrido) ou aos corpos cerâmicos para conferir-lhes colorações das mais diversas tonalidades e efeitos especiais. ABRASIVOS - Parte da indústria de abrasivos, por utilizarem matérias-primas e processos semelhantes ao da cerâmica, constituem-se num segmento cerâmico. Entre os produtos mais conhecidos podemos citar o óxido de alumínio eletrofundido e o carbeto de silício. VIDRO, CIMENTO E CAL - São três importantes segmentos cerâmicos e que, por suas particularidades, são muitas vezes considerados à parte da cerâmica. CERÂMICA DE ALTA TECNOLOGIA / CERÂMICA AVANÇADA - O aprofundamento dos conhecimentos da ciência dos materiais proporcionaram ao homem o desenvolvimento de novas tecnologias e aprimoramento das existentes nas mais diferentes áreas, como aeroespacial, eletrônica, nuclear e muitas outras e que passaram a surgir materiais com qualidade excepcionalmente elevada. Tais materiais passaram a ser desenvolvidos a partir de matérias-primas sintéticas de altíssima pureza e por meio de processos rigorosamente controlados. Estes produtos, que podem apresentar os mais diferentes formatos, são fabricados pelo chamado segmento cerâmico de alta tecnologia ou cerâmica avançada. Eles são classificados de acordo com suas funções em: eletroeletrônicas, magnética, ópticas, químicas, térmicas, mecânicas, biológicas e nucleares. Os produtos deste segmento são de uso intenso e a cada dia tende a se ampliar. Como alguns exemplos, podemos citar: naves espaciais, satélites, usina nuclear, implantes em seres humanos, aparelhos de som e de vídeo, suporte de catalisadores para automóveis, sensores (umidade, gases e outros), ferramentas de corte, brinquedos, acendedor de fogões, etc. Dividindo-se os materiais de construção em três grupos fundamentais, quais sejam, cerâmicos, metais e materiais orgânicos, podem ser tomados como exemplos dos cerâmicos: tijolos, telhas, azulejos, aparelhos sanitários, refratários, vidros, argamassas, concretos, solo cimento, etc. 21 Por serem extraídos da terra e usados quase diretamente, isto é, com posteriores processamentos industriais pouco elaborados, são relativamente baratos, se comparados com os metais e os materiais orgânicos. Por isso são usados em construções desde os tempos imemoriais e suas qualidades garantem seu emprego no futuro: são duráveis, resistentes e rígidos. Suas principais desvantagens são a fragilidade e o peso próprio considerável. Definição: chama-se cerâmica à pedra artificial obtida pela moldagem, secagem e cozedura de argilas ou de misturas contendo argilas. Nos materiais cerâmicos, a argila fica aglutinada por uma pequena quantidade de vidro que surge pela ação do calor de cocção sobre seus próprios constituintes. Usam-se também desengordurantes, ou seja, materiais granulares inertes como a areia silicosa, que diminuem a plasticidade. 2 – ARGILAS 2.1 – Constituição: As argilas são constituídas de minerais compostos principalmente de silicatos de alumínio hidratados, que possuem a propriedade de formar com a água uma pasta plástica suscetível de conservar a forma moldada, secar e endurecer sob a ação do calor. As argilas têm sua origem mais comum na desintegração dos feldspatos - minerais existentes nos granitos e pórfiros - mas, a argila pode formar-se também a partir dos gnaisses e micaxistos. Por misturas durante sua formação (transporte e sedimentação) e alterações de temperatura e pressão durante sua consolidação, resulta uma grande variedade de argilas com toda uma gama de coloração, plasticidade, composição química, etc. Os materiais argilosos são unidades estruturais simples e se diferenciam uns dos outros pela diferente relação entre sílica e alumina, pela quantidade de água de sua constituição e pela sua estrutura. São muitos os materiais argilosos, mas somente três têm importância para a fabricação de produtos cerâmicos: a caulinita, a montmorilonita e a ilita, esta micácea, porém, todas com estrutura laminar ou foliácea. Em geral não se encontram argilas puras, com apenas um tipo de material argiloso, mas, misturadas, ainda que predomine um mineral determinado. De acordo com a ABNT, as argilas são compostas de partículas coloidais de diâmetro inferior a 0,005mm (5µm), com alta plasticidade quando úmidas e que, quando secas, formam torrões dificilmente desagregáveis pela pressão dos dedos (TB-3 da ABNT). A análise química das argilas revela a existência de: Sílica (SiO2)......................................................40 a 80% Alumina (Al2O3).............................................10 a 40% Óxido Férrico (Fe2O3)..................................... < 7% (coloração das argilas) Cal (CaO).........................................................< 10% Magnésia (MgO)...............................................< 1% Álcalis (Na2O e K2O) .....................................aprox. 10% Anidro carbônico (CO2) ................................. - Anidro sulfúrico (SO3).................................... - 2.2 – Classificação das argilas: De acordo com sua estrutura, as argilas podem ser: a) Estrutura laminar ou foliácea - caulinitas; montmorilonitas e ilitas; 22 b) Estrutura fibrosa Obs.: somente as de estrutura laminar são usadas na indústria cerâmica. As caulinitas são mais puras e usadas na fabricação de refratários, porcelanas, cerâmicas sanitárias. - As montmorilonitas são pouco usadas por serem muito absorventes e de grande poder de inchamento; são misturadas com as caulinitas para corrigir a plasticidade. - As micáceas mais abundantes e mais empregadas na fabricação de tijolos. De acordo com seu emprego, podem ser classificadas em: a) infusívies – praticamente constituídas de caulim puro. Cor branca translúcida. Infusíveis mesmo em temperaturas elevadas; boas para porcelanas. b) refratárias – também muito puras, não se deformam à temperatura de 15000C. Têm, em geral, baixocoeficiente de condutibilidade térmica. São largamente usadas para revestimento de fornos. c) fusíveis – são as mais importantes. Deformam-se e vitrificam-se em temperaturas inferiores a 12000C. d) figulinas - cor cinza azulado- ótimas para tijolos e telhas e) grés – cor cinza esverdeada (contendo mica � material sanitário ordinário) f) margas – argilas calcárias usadas na produção de cimento. g) barro – argila ferruginosa amarelo-avermelhada (� tijolos e telhas) Quanto à plasticidade, as argilas podem ser: Gordas – ricas em material argiloso e pobres em desengordurantes. Grande plasticidade untuosas ao tato. Devido à alumina deformam-se mais no cozimento. Magras - pobres em material argiloso e ricas em desengordurantes (baixa plasticidade). Devido à sílica, são mais porosas e frágeis. 2.3 – Propriedades das Argilas 2.3.1 - Plasticidade 2.3.2 - Resistência da Argila Seca 2.3.3 - Ações Térmicas: Perda de peso Variações dimensionais (retração) Absorção e liberação de calor Porosidade 2.3.4 - Impurezas: purificação da argila 2.3.1 - Plasticidade: A plasticidade é devida à água retida entre as partículas lamelares dos argilominerais + forças de atração entre as partículas (Van der Walls e eletrostáticas). A plasticidade nas argilas varia com a quantidade de água. A argila seca tem plasticidade nula: molhando-a, ela vai ganhando plasticidade até um máximo – com mais água, as lâminas se separam, a argila perde plasticidade e se torna um líquido viscoso. As argilas puras dão em geral pastas plásticas. As de qualidade inferior devem ter adições que melhorem a sua plasticidade. Como por exemplo: carbonato e hidróxido de sódio, silicatos, oxalatos e tartaratos sódicos, tanino, húmus, etc. Pode-se diminuir a plasticidade pela adição de desengordurantes. Inclusões de ar também diminuem a plasticidade. Do ponto de vista da consistência, a TB-3, já citada, divide as argilas em: muito moles, moles, médias, rijas e duras. 23 Quantitativamente, cada tipo pode ser identificado por um índice de consistência, definido como a relação da diferença entre o limite de liquidez e a umidade natural, para o índice de plasticidade, ou seja, LPLLIPObs IP hLLIC −=−= :% Define-se assim: Argilas Valores de IC Identificação experimental muito moles IC = 0 quando escorre com facilidade entre os dedos ao ser apertada na mão moles 0 < IC < 0,5 a que é facilmente moldada pelos dedos médias 0,5 < IC < 0,75 requer esforço médio para moldagem pelos dedos rijas 0,75 < IC < 1,00 quando requer grande esforço para ser moldada duras IC > 1,00 a que não pode ser moldada pelos dedos, e ao ser submetida a grande esforço, se desagrega ou perde sua estrutura original Obs.: o índice de plasticidade (IP) é uma característica intrínseca de cada material, enquanto que o índice de consistência (IC) varia em função da umidade que o material apresenta durante o ensaio ou operação. 2.3.2 - Resistência da Argila Seca: As características principais da argila são: a plasticidade quando úmida e a resistência quando seca. A composição granulométrica da argila tem íntima relação com sua resistência no estado seco ao ar. A composição mais adequada é a que tem substâncias argilosas ao redor de 60%, estando o restante do material dividido entre silte, areia fina e média. A argila é essencial à mistura porque suas partículas coloidais aglutinam eficientemente o restante do material. Quando a sua granulação original não é recomendável, as argilas devem ser dosadas a fim de apresentar: - plasticidade máxima quando úmidas - resistência à tração máxima quando secas - retração mínima durante a secagem (deformação da peça). Porém, todos os fatores que aumentam a plasticidade, o que é bom, também aumentam a retração, o que é ruim. 2.3.3 - Ações Térmicas: Perda de Peso A água é um elemento integrante das argilas sob três formas: - água de constituição ou reticular: aquela que faz parte da estrutura da molécula (rede cristalina do material) - água de absorção ou plasticidade: aquela que adere à superfície das partículas coloidais. - água de capilaridade : também chamada água livre ou de poros (que preenche os poros e vazios). Obs.: algumas argilas têm água zeolítica, com suas moléculas intercaladas nos vazios da rede cristalina do material. A água de capilaridade é fácil de eliminar, desde a temperatura ambiente até 1100C. A água zeolítica é eliminada na faixa de 300 a 4000C. Não ultrapassando essa temperatura, os minerais podem se hidratar quantas vezes se queira. O fenômeno é reversível porque a argila mantém a sua estrutura. 24 A água de constituição é constante para cada tipo de argila; elimina-se a uma temperatura fixa para cada mineral, mas sempre maior que 400oC. O processo de desidratação térmica pode ser levado a um gráfico: em abcissas, as temperaturas; em ordenadas, as perdas de peso. Ações Térmicas: Variações Dimensionais O comportamento das argilas, em termos de sua contração e dilatação sob a ação da temperatura, pode ser levado a um gráfico e é característico para cada grupo de argilas. Ações Térmicas: Absorção e Liberação de Calor Durante o aquecimento de uma argila, dão-se transformações ora exotérmicas, ora endotérmicas. 25 A amplitude dos picos de absorção ou liberação de calor registrados durante uma análise térmico-diferencial, bem como a determinação das temperaturas em que eles ocorrem, servem para a identificação de uma argila. Outros ensaios de caracterização da argila: fluorescência de raios-x; difração de raios-x; microscopia ótica e eletrônica, espectroscopia no infravermelho, análise química e distribuição granulométrica. A plasticidade é devida à água retida entre as partículas lamelares dos argilominerais + forças de atração entre as partículas (Van der Walls e eletrostáticas) Ações Térmicas: Porosidade Porosidade (absoluta) é a relação entre o volume de poros e o volume total aparente do material. As argilas de grão grosso dão menor número de poros que as de grãos finos, sendo que as dimensões dos poros são maiores nas primeiras, o que dá permeabilidade maior. Com as argilas de grãos de vários tamanhos, reduzem-se a porosidade e a permeabilidade. A pressão maior diminui a porosidade por incrementar a acomodação das partículas. Pode-se aumentar a porosidade por vários modos: a) pela adição de materiais que desaparecem com a queima como carvão em pó b) pela adição de materiais porosos como a vermiculita (mica expandida) c) pela criação de fase gasosa que seja estável durante a secagem e queima. ex.: reação entre o alumínio ou zinco, ambos em pó, com hidróxidos alcalinos; decomposição de CaCO3 finamente moído, por ácido; hidrólise de CaC2. A porosidade influi nas propriedades (principalmente físicas) da argila. - a densidade aparente diminui com o aumento da porosidade; - a condutibilidade térmica e elétrica diminuem com a porosidade; a porosidade favorece a corrosão. As argilas são resistentes quando os poros 26 são muito pequenos . - A resistência à abrasão e à erosão diminuem com a porosidade, acontecendo o contrário com a resistência mecânica. São mais refratárias as argilas mais porosas. 2.3.4 - Impurezas: Algumas impurezas aumentam a resistência, aumentam a plasticidade e a refratariedade.Às vezes ocasionam defeitos sobre a argila crua ou sobre o produto cozido. Argila para porcelana fina e branca não pode conter óxido férrico. Para refratário, não pode conter fundentes. O efeito, no entanto, depende da natureza, porcentagem, tamanho e forma dos grãos, da temperatura da queima, duração da secagem e atmosfera do forno. A utilização da peneira 200 é uma das formas mais fáceis para a determinação de impurezas sólidas grosseiras. Purificação da Argila: A purificação tem por objetivo eliminar, no todo ou em parte, as impurezas, ou anular seus efeitos. A purificação pode ser feita por : 1 – Processos mecânicos (lavagem, peneiramento ou trituração) 2 – Processos químicos (não eliminam, mas anulam os efeitos prejudiciais) 3 – Processos físico-químicos (um exemplo é a flotação. Em cerâmica fina, a separação dos óxidos se faz por meio de filtros eletromagnéticos) Ensaios de caracterização da matéria-prima realizados em corpos-de-prova: 1) Umidade de conformação da argila situa-se entre LP e LL é obtida experimentalmente 2) Contração linear variação volumétrica decorrente da secagem e queima da argila 3) Massa específica argila não cozida após a secagem após a queima 4) Porosidade 5) Absorção de água após a queima 6) Tensão de ruptura à flexão 3 - FABRICAÇÃO DE PRODUTOS CERÂMICOS A fabricação de produtos cerâmicos compreende as fases de: - exploração das jazidas - tratamento da matéria prima - moldagem - secagem - queima Exploração das jazidas : Inicialmente se faz necessário um estudo completo das características do material que se vai explorar e do volume (cubagem) do que se poderá dispor. No estudo qualitativo verifica-se a composição (teor em material argiloso, pureza e características físicas), faz-se uma apreciação do material até seu comportamento na secagem e cozimento. Desse estudo inicial, conclui-se: - Quais produtos que se poderão obter com a matéria prima - quais as eventuais correções que deverão ser feitas - qual o equipamento a ser empregado. Aspectos gerais como conformação, localização, acesso, facilidade de transporte, existência de água, etc. são também importantes para a valorização da jazida. No plano de lavras, levantam-se os 27 meios auxiliares de que se poderá dispor para extração das argilas e o equipamento a ser empregado, desde pás e carrinhos manuais até tratores e escavadoras de grande produção. Na extração de uma jazida deve-se cuidar fundamentalmente do escoamento das águas e da deposição dos escombros, com impacto ambiental aceitável. Tratamento da matéria prima O tratamento compreende: - depuração (eliminação das impurezas) - divisão (trituração de torrões e moagem prévia para os desengordurantes) - homogeneização (mistura íntima com água) - obtenção da umidade ótima da matéria prima (plasticidade, com um mínimo de umidade; envolve custo) Estas operações, de uma maneira geral, antecedem a fabricação propriamente dita dos produtos cerâmicos. Podem ser usados processos naturais de tratamento e processos mecânicos. No primeiro caso, usam-se: mistura (dosagem), meteorização, amadurecimento apodrecimento e, por vezes, levigação (peças especiais). Os processos mecânicos são usados em fábricas de maior porte, com maior produção e economia de espaço (imobilização de grandes capitais). As operações descritas anteriormente podem ser realizadas por via mecânica, fazendo-se passar a pasta por um trem de preparação que compreende normalmente: - trituradores ( moinhos de rolos e martelos) - peneiradores com lavagens - misturadores (pás helicoidais em dupla fila) - amassadores (amassamento e mistura podem ser simultâneos) - laminadores (dão maior homogeneidade à massa) Moldagem Esta operação está estritamente relacionada com o teor de água da pasta de argila. O aumento de água traz economia de energia na moldagem (aumenta a plasticidade) em contrapartida, será inevitável a contração na secagem e deformações no cozimento, bem como o aumento no consumo de combustível. O adiantamento da técnica exige pastas cada vez mais secas, sem prejuízo da plasticidade. Do ponto de vista da plasticidade e do teor de água, podem as pastas serem classificadas em: - pastas brandas – com 25% de umidade - pastas duras - com 15% de umidade - pastas secas – com 5 a 6% de umidade. Métodos de moldagem: a) Método de moldagem a seco ou semi-seco (4 a 10%) → prensagem (ladrilhos, azulejos e tijolos e telhas de qualidade superior) b) Moldagem com pasta plástica consistente (15 a 25% )→ extrusão (marombas com câmaras a vácuo para retirar o ar da massa) tijolos, telhas, tubos cerâmicos, refratários, etc c) Moldagem em pasta plástica mole (25 a 40%)→ artesanal (vasos, pratos, etc e produção rudimentar de tijolos) d) Moldagem com pasta fluida (30 a 50% de água)→ barbotina (peças de formato complexo como aparelhos sanitários, porcelanas, etc) Conformação da argila por extrusão 28 Secagem Grande parte da umidade é retirada na secagem, o restante durante o processo de cozimento. A perda de água é acompanhada da contração do produto e será tanto maior quanto for o grau de umidade da pasta. A velocidade de secagem deve ser controlada para evitar retração excessiva desuniforme, o que geraria fendas e deformações nos produtos. A contração linear da argila comum não tratada é da ordem de 1 a 6%. Queima: Durante a queima, dão-se as transformações estruturais da argila, havendo necessidade de uma marcha típica de aquecimento e resfriamento de cada produto. A vitrificação ocorre em torno dos 12000C (formação de vidro que ocupa os poros do material aumentando sua resistência e reduzindo sua permeabilidade). - Queima lenta → menor perigo, mas maior custo - Queima rápida → economicamente interessante, mas a qualidade pode se ressentir. A queima de produtos cerâmicos em fornos túneis, que são contínuos, é feita em aproximadamente 24h. 29 4 - PRODUTOS CERÂMICOS PARA CONSTRUÇÃO 4.1 - Materiais de argila (cerâmica vermelha) 1) porosos (tijolos, telhas, ladrilhos, etc) 2) vidrados (ladrilhos, manilhas, drenos). 4.2 – Materiais de louça 1) pó de pedra: azulejos, material sanitário 2) grés : materiais sanitários, pastilhas e ladrilhos 3) porcelana : pastilhas, azulejos, porcelana elétrica 4.3 – Materiais refratários 1) silicosos 4) magnesita 2) sílico-aluminosos 5) cromomagnesita 3) aluminosos 6) cromita Materiais de argila Assim denominado porque o principal e freqüentemente único constituinte é a argila. Cerâmica vermelha é uma denominação convencional derivada de sua coloração vermelha, mais comum, devida ao óxido de ferro. O vidrado se refere ao corpo do material e não apenas à sua superfície. Tijolos comuns maciços Esse tijolo muito usado na construção civil devem apresentar algumas características próprias que lhe darão qualidade. Trata-se de um tijolo de barro cozido que deve apresentar o que segue: 1) regularidade de forma e igualdade de dimensões 2) arestas vivas e cantos resistentes 3) homogeneidade de massa, com ausência de fendas, trincas, cavidades e corpos estranhos. 4) cozimento parelho, produzindo som metálico quando percutido com martelo. 5) facilidade de corte, apresentando fratura de grão fino, homogênea e de cor uniforme. 6) resistência à compressão suficiente para o fim proposto 7) absorção de água compreendida entre 10 e 18%. Valores superiores traduzem porosidade e permeabilidade. Valores muito baixos indicam dificuldade de aderência.O tijolo maciço é especificado pela NBR7170/83 com o formato paralelepipédico nas seguintes dimensões nominais: Tabela 1 – Dimensões nominais (mm) comprimento largura altura 190 190 90 90 57 90 A tolerância máxima é de ± 5mm nas três dimensões. A mesma especificação NBR7170/83, tendo em vista a resistência à compressão, para cada tipo de tijolo, considera três categorias, cujos valores mínimos estão indicados na tabela 2: 30 Tabela 2 – tijolos maciços Categoria Resistência à compressão mínima em MPa A B C 1,5 2,5 4,0 A resistência à compressão é determinada através da NBR 6460/83. Obs.: 1) A massa específica aparente fica em torno de 1,8 kg/dm3 2) Ver amostragem, aceitação e rejeição na NBR 7170/83 Blocos cerâmicos A especificação NBR15270-1 da ABNT recomenda para blocos cerâmicos de vedação as dimensões da Tabela1 abaixo: Tabela 1 - Dimensões de fabricação de blocos cerâmicos de vedação Dimensões de fabricação (cm) Comprimento (C) Dimensões L x H x C Módulo dimensional M = 10 cm Largura (L) Altura (H) Bloco principal 1/2 Bloco (1)M x (1)M x (2)M) 19 9 (1)M x (1)M x (5/2)M) 9 24 11,5 (1)M x (3/2)M x (2)M) 19 9 (1)M x (3/2)M x (5/2)M) 24 11,5 (1)M x (3/2)M x (3)M) 14 29 14 (1)M x (2)M x (2)M) 19 9 (1)M x (2)M x (5/2)M) 24 11,5 (1)M x (2)M x (3)M) 29 14 (1)M x (2)M x (4)M) 9 19 39 19 (5/4)M x (5/4)M x (5/2)M) 11,5 24 11,5 (5/4)M x (3/2)M x (5/2)M) 14 24 11,5 (5/4)M x (2)M x (2)M) 19 9 (5/4)M x (2)M x (5/2)M) 24 11,5 (5/4)M x (2)M x (3)M) 29 14 (5/4)M x (2)M x (3)M) 11,5 19 39 19 (3/2)M x (2)M x (2)M) 19 9 (3/2)M x (2)M x (5/2)M) 24 11,5 (3/2)M x (2)M x (3)M) 29 14 (3/2)M x (2)M x (4)M) 14 19 39 19 (2)M x (2)M x (2)M) 19 9 (2)M x (2)M x (5/2)M) 24 11,5 (2)M x (2)M x (3)M) 29 14 (2)M x (2)M x (4)M) 19 19 39 19 (5/2)M x (5/2)M x (5/2)M) 24 11,5 (5/2)M x (5/2)M x (3)M) 29 14 (5/2)M x (5/2)M x (4)M) 24 24 39 19 Resistência à compressão (fb) A resistência à compressão mínima dos blocos na área bruta deve atender aos valores mínimos indicados na tabela 4: Tabela 4 – Resistência à compressão (fb) Posição dos furos fb MPa Para blocos usados com furos na horizontal (figura 1) ≥ 1,5 Para blocos usados com furos na horizontal (figura 2) ≥ 3,0 NOTA Ver anexo C da ABNT NBR15270-3:2005 31 (*) Dados do Sindicato da Indústria da Cerâmica para Construção de São Paulo A tolerância máxima de fabricação é de ± 5 mm em qualquer dimensão Possíveis Vantagens dos blocos sobre os tijolos (maciços): a) São normalmente fabricados em marombas à vácuo apresentando aspecto uniforme, faces mais planas e melhor esquadrejados. b) Tem menos peso por unidade de volume aparente; (1,1 a l,2 kg/dm3) c) Dificultam a propagação do som e são melhores do ponto de vista do isolamento térmico. d) Apesar da redução da seção carregada, pelas melhores qualidades intrínsecas provenientes do apuro na produção, podem ter tensões de utilização, referidas à seção plena (sem desconto dos furos), da mesma ordem de grandeza dos tijolos maciços. Telhas (NBR15310/2005) As telhas podem ser : Curvas – (coloniais, paulistas, portuguesas) Planas – (ou de escamas) De encaixe – (francesas ou de Marselha) Devem apresentar as seguintes características de qualidade -retilinidade e planaridade -tolerância dimensional (estabilidade volumétrica) -massa -absorção de água (permeabilidade) -características visuais e sonoridade A NBR15310 refere-se às telhas tipo Marselha. A especificação fixa: o sistema de encaixe, o peso, as dimensões e a resistência à flexão. Liberando a forma da peça à conveniência do fabricante. Tubos cerâmicos (NBR 5645/90) Exigências: -resistência à compressão diametral -permeabilidade -aspecto visual -absorção de água -resistência química 32 São produtos cerâmicos vidrados ou gresificados. Podem ser vidrados externa e internamente. O cozimento é levado até fusão incipiente, e são vidrados posteriormente para proteção contra águas agressivas em banho especial de silicatos metálicos com recozimento. Os tubos de grés são moldados por extrusão em máquinas verticais. Depois da secagem, numa fase adiantada do cozimento, é lançado cloreto de sódio no interior do forno, o qual produz sobre a superfície das peças uma camada mais avançada de material vitrificado. A NBR 5645 fixa as dimensões do comprimento útil da espessura da parede do tubo e da bolsa, bem como as características de qualidade que devem ser atendidas. O ensaio de resistência à compressão diametral é feito pela NBR 6582 e deve variar entre 1400 kgf/m e 3500kgf/m dependendo do diâmetro do mesmo (valores mínimos). Os tubos devem ser impermeáveis, sem aparecimento de gotas e manchas para uma pressão interna de 0,7 kgf/cm2 mantida por dois minutos (NBR 6549). Devem suportar uma pressão interna instantânea de 2 kgf/cm2 . A absorção, por imersão em água em ebulição durante 1 hora, deve ser menor que 10% e 8% respectivamente, segundo apresentar vidrado só interno ou interno/externo. (NBR 7529/91). Placas cerâmicas para revestimento: A norma NBR13816 define termos relativos às placas cerâmicas para revestimento, esmaltadas e não esmaltadas – Terminologia. Ladrilhos (NBR 13818 / 97) Moldados pelo método de prensagem a seco. As temperaturas de cozimento são altas, de 1250 a 13000C, até alcançar um elevado grau de vitrificação, tornando o material compacto e impermeável. Geralmente de cor vermelha, podendo apresentar-se coloridos com uso de pigmentos adequados. O ensaio de desgaste dá a resistência à abrasão que deve possuir um ladrilho de boa qualidade. ABSORÇÃO DE ÁGUA ABSORÇÃO DE ÁGUA & RESISTÊNCIA À FLEXÃO A NBR 13818 associa os valores mínimos para a absorção e carga de ruptura para placas com espessuras definidas. O módulo de resistência à flexão mede a qualidade da queima. 33 •Quadro 2 - A nomenclatura abaixo se refere aos produtos prensados e com espessura mínima de 7,5 mm. Materiais de Louça Distinguem-se dos anteriores pela matéria prima, que são argilas quase isentas de óxido de ferro, contendo ainda quartzo e fundentes tipo feldspato, finamente moídos. As louças de pó de pedra são porosas com absorção da ordem de 15 a 20%. Para serem usadas em condições higiênicas, devem receber uma camada de esmalte ou vidrado. Como exemplo das louças de pós de pedra temos os azulejos e as louças sanitárias. As louças de grés tem matéria-prima semelhante às anteriores, porém com vitrificação mais avançada, sendo a absorção de água da ordem de 1 a 2%. A porcelana é fundamentalmente um grés branco, levado a uma fusão mais perfeita, chegando à translucidez devido à vitrificação completa. A absorção é praticamente nula. Azulejos (NBR13818/97) São normalmente constituídos de duas camadas: uma de argila selecionada de espessura grande, e outra fina, de um esmalte que recobre uma das faces e que lhe proporciona impermeabilidade e alta durabilidade. O azulejo tem por função revestir outros materiais dando proteção e bom acabamento. A parte de fundo é queimada a cerca de 9500C. A face visível é uma camada geralmente composta de chumbo, estanho e óxidos com pigmentos adequados. Depois da aplicação do esmalte, o material é recozido, espalhando-se o esmalte, ao fundir, uniformemente por sobre o azulejo. É 34 possível com certas técnicas modernas efetuar uma únicacocção, com grandes vantagens econômicas. As faces devem ser planas, sem empenos e com arestas vivas. Importante é que apresentem dimensões uniformes, para permitir boa colocação. As dimensões variam de acordo com modelos de época. Fabricação dos Ajulejos (ver fluxograma a seguir) 1 - As matérias-primas (argila, caulim, feldspato, quartzo, calcário, talco e outras) são estocadas em separado e controladas para garantir a constância da qualidade do produto. 2 – Pesagem, com precisão, de acordo com dosagem pré-estabelecida. 3 - Moagem com água e pedras sílex, resultando na massa líquida chamada barbotina. 4 - A barbotina é purificada de eventuais partículas de ferro por meio de um imã e peneirada 5 - A barbotina filtrada é mantida em suspensão por meio de agitadores. 6 - Em seguida é bombeada para a torre de secagem chamada “spray-dryer”ou atomizador. 7 - No “spray-dryer”a barbotina é lançada contra o ar aquecido a 400/500oC. Este processo cria um granulado que se precipita no fundo cônico da torre, e é transportado para silos 8 - Dos silos a massa granulada vai para as prensas onde será moldado o azulejo cru em dois impactos : primeiro, retira o ar da massa (cerca de 100kg/cm2) e o segundo é responsável pela moldagem propriamente dita numa pressão de 300kg/cm2. 9 - Os azulejos crus assim obtidos são empilhados em vagonetes de material refratário. 10 - Toda a umidade residual é eliminada em secador (30 a 150oC) por ≅ 20h. 11 - O 1o cozimento (1100 oC), feito em forno túnel, transforma o azulejo cru em “biscoito”. O processo de queima englobando pré-aquecimento, queima e resfriamento, leva 72h. 12 - O biscoito já classificado é esmaltado em máquinas especiais, podendo receber uma impressão por “silk-screen” antes ou depois da esmaltação; situação em que a decoração é chamada de “baixo esmalte”ou “sobre esmalte”, respectivamente. 13 – O biscoito é agora disposto em engradados refratários e passam pelo forno-túnel de queima do esmalte ou queima de alisamento. Temperatura de 1.050oC, em 12h. 35 14 – Finalmente, o azulejo é classificado e embalado, seguindo para a comercialização. Obs.: O esmalte é obtido pela moagem de “fritas”, espécie de vidro próprio para este fim, acrescidas de outras matérias minerais e corantes. A moagem do esmalte se processa em tambores revestidos com porcelana, contendo em seu interior bolas também de porcelana, para evitar a aparição de impurezas resultantes do desgaste. EXPANSÃO POR UMIDADE ABRASÃO SUPERFICIAL - PEI Observação: o volume retirado (em mm3) permite a classificação da resistência à abrasão profunda para peças não esmaltadas. Resistência à abrasão A resistência à abrasão representa a oposição ao desgaste superficial do esmalte das placas cerâmicas, causado pelo movimento de pessoas e objetos. Existem dois métodos de avaliação da resistência à abrasão : - Superficial : para produtos esmaltados - Profunda : para produtos não esmaltados Para produtos esmaltados, o método PEI (Instituto de Esmaltes para Porcelana) prevê a utilização de um aparelho que provoca a abrasão superficial por meio de esferas de aço e material abrasivo. O resultado é usado como base para uma orientação de uso, da seguinte forma: 36 PEI Tráfego Prováveis locais de uso PEI 0 - Paredes (desaconselhável para pisos) PEI 1 baixo Banheiros residenciais, quartos de dormir, etc. PEI 2 médio Cômodos sem portas para o exterior e banheiros PEI 3 médio alto cozinhas, corredores, halls, sacadas residenciais e quintais PEI 4 alto residências, garagens, lojas, bares, bancos, restaurantes, hospitais, hotéis e escritórios PEI 5 altíssimo residências, áreas públicas, shoppings, aeroportos, padarias e fast-foods Para não-esmaltados, é medido o volume de material removido em profundidade da placa quando submetida à ação de um disco rotativo e um material abrasivo específico. RESISTÊNCIA AO ESCORREGAMENTO Preocupação com o escorregamento: áreas residenciais, áreas públicas e locais industriais - contato com água, barro, óleos e gorduras Resistência ao ataque químico, resistência ao choque térmico, à gretagem e ao chumbo e cádmio, estes em locais de manipulação de alimentos, são também exigências de qualidade para os revestimentos cerâmicos. ANÁLISE VISUAL: São defeitos visuais de superfície nas peças cerâmicas: rachaduras - crateras – depressões - base descoberta por falha no vidrado - bolhas - furos - pintas – manchas - defeitos na decoração - cantos e lados lascados, despontados – saliências - incrustações de corpos estranhos - riscados ou arranhaduras e diferenças de tonalidades nas caixas Obs.: ainda na análise visual, os produtos de 1a qualidade devem apresentar 95% ou mais de peças sem defeitos visíveis, em exposição simultânea de 30 peças ou mais, em local com ângulo e iluminação adequados. Características geométricas, verificam-se: a ortogonalidade das peças, o paralelismo dos lados, a planaridade, distorções de forma e variações de espessura. Triagem feita por sensores eletrônicos. PATOLOGIAS NO REVESTIMENTO CERÂMICO: Destacamento - pode ocorrer devido a: falhas no assentamento, ausência de garras de fixação (tardoz liso), expansão por umidade, ausência de juntas de expansão; Escurecimento: ocorre devido à absorção de água nas cerâmicas não esmaltadas que apresentam alta porosidade; Eflorescência: ocorre devido à penetração de água da chuva pelo rejuntamento, à ascensão de água pelo piso ou mesmo vazamento em tubulações. Solubiliza sais solúveis ou cal do emboço ou assentamento de piso ocasionando o depósito na superfície da placa. 37 Aparelhos Sanitários Os aparelhos sanitários podem ser divididos em dois grupos: Aparelhos de pó de pedra ou de faiança com corpo branco ou colorido artificialmente, vitrificado, com textura fina e porosa, e aparelhos de grés branco, também chamados de porcelana sanitária, porcelana branca ou de grés cerâmico, com corpo branco ou colorido artificialmente, vitrificado, porém de textura fina e pouco porosa. A NBR 15097/2004 fixa as condições a serem atendidas por esses materiais. Demais normas sobre aparelhos sanitários: NBR15097 = EB e MB Aparelho sanitário de material cerâmico - Requisitos e métodos de ensaio 2004 NBR15098 = NB Aparelhos sanitários de material cerâmico - Procedimento para instalação 2004 NBR15099 = PB Aparelhos sanitários de material cerâmico - Dimensões padronizadas 2004 NBR 9817 = NB 1069 Execução de piso com revestimento cerâmico 1987 NBR 8409 = EB 960 Conexão cerâmica para canalizações 1996 NBR 8949 = MB 2162 Paredes de alvenaria estrutural - Ensaio à compressão simples 1985 NBR 13818 = EB e MB Placas cerâmicas para revestimento- Especificação e métodos de ensaio. 78p 1997 NBR 13755 = NB Revestimento de paredes externas com placas cerâmicas e argamassa colante 1996 NBR 13754 = NB Revestimento de paredes internas c/ placas cerâmicas e com argamassa colante 1996 NBR 13753 = NB Revestimento de piso com placas cerâmicas e argamassa colante 1996 NBR 5645 = EB-5 Tubo cerâmico p/ canalizações 1990 NBR 6549 NBR 6582 NBR 7530 NBR 7529 NBR 7689 – MB´s Tubos cerâmico p/ canalizações – Métodos de Ensaio 1991 MADEIRAS celulose 60% lignina 28% Composição química (em média) resinas e taninos restante madeira seca: 49 % de carbono + 44 % de oxigênio + 6 % de hidrogênio + 1 % de cinzas Na condição de material de construção, as madeiras incorporam todo um conjunto de características técnicas, econômicas e estéticas que dificilmente se encontram em outro material existente.38 I – VANTAGENS DA MADEIRA COMO MATERIAL DE CONSTRUÇÃO: a) Pode ser obtida em grandes quantidades a um preço relativamente baixo. Havendo critérios racionais de exploração, as reservas têm alta capacidade de renovação, tornando o material permanentemente disponível; b) Pode ser produzida em peças com dimensões estruturais que podem ser desdobradas facilmente em peças pequenas, de delicadeza excepcional; c) Pode ser trabalhada com ferramentas simples e ser reempregada várias vezes; d) Foi o primeiro material empregado capaz de resistir tanto a esforços de tração como de compressão, em colunas, vigas e vergas; e) Tem resistência mecânica elevada, com a vantagem do peso próprio reduzido (na flexão, ≅ 45 MPa contra 4,5 MPa do concreto convencional e, no cisalhamento, aproximadamente 15 MPa contra 3,5 MPa); f) Permite fáceis ligações e emendas; g) Não estilhaça quando golpeada, sua resiliência permite absorver choques que romperiam ou fendilhariam outro material; h) Apresenta boas condições naturais de isolamento térmico e absorção acústica. Seca, é satisfatoriamente dielétrica; i) No seu aspecto natural, apresenta grande variedade de padrões estéticos e decorativos; j) Quando convenientemente preservada, perdura em vida útil prolongada à custa de insignificante manutenção. No entanto, a madeira somente adquiriu reconhecimento como competitivo e moderno material de construção, em condições de atender às exigências de técnicas construtivas recentemente desenvolvidas, quando outros tantos processos de beneficiamento permitiram anular as características negativas que apresenta em estado natural, como: - A degradação de suas propriedades e o surgimento de tensões internas decorrentes de alterações em sua umidade, anuladas pelos processos de secagem artificial controlada. - A deterioração, quando em ambientes que favoreçam o desenvolvimento de seus principais predadores, contornada com os tratamentos de preservação. - A marcante heterogeneidade e anisotropia próprias de sua constituição fibrosa orientada, assim como a limitação de suas dimensões, resolvidas pelos processos de transformação nos laminados, contraplacados e aglomerados de madeira. II – UTILIZAÇÃO DA MADEIRA Dados dos EUA, década de 70: Como combustível - 53% Na construção em geral - 37% Em outros usos industriais - 10% 1) Como Combustível – fraco poder calorífico (4.500 cal/kg) só 3.500 cal/kg são aproveitados pelos fogões, lareiras, etc. Carvão – poder calorífico maior (8.000 cal/kg), o aproveitamento do gás de madeira transformaria a madeira em combustível valorizado. 2) Como material de construção É um material de construção tecnicamente adequado e economicamente competitivo para todas as obras de engenharia, desde lastro de vias férreas até galerias, torres, pontes e estrutura de coberturas em grandes vãos. 39 Consumo médio na construção na forma de madeira natural e derivados: 5 t por habitação na Europa 10 t por habitação nos EUA 3) Como matéria prima para outros usos industriais- Pode ser considerada como material bruto que permite o aproveitamento dos sucessivos fragmentos a que pode ser reduzida. Seus subprodutos aproveitáveis atualmente chegam até seus constituintes básicos, suas moléculas e compostos químicos: Fluxograma de seu Rendimento Industrial Madeira roliça � Madeira serrada: peças estruturais � Lâminas: chapas de madeira compensada � Aparas: chapas de madeira aglomerada � Fibras: Chapas de madeira reconstituída CELULOSE (fibras) LIGNINA (aglomerante) Polpa: papéis (é a substância que dá rigidez), Moléculas: raiom (seda artificial) resinas, taninos. Compostos químicos: açucares, álcoois, resinas, lubrificantes, borracha sintética, cosméticos, tintas, vernizes, filmes fotográficos, celofane (plástico da celulose), etc. 500 kg de polpa + 40 l de álcool, ou. 1000 kg de madeira seca: � 500 kg de forragem + 80 l de álcool, ou. 240 a 320 l de álcool. Materiais estruturais – dados comparativos Os pesquisadores Carlito Calil Junior e Francisco A. Rocco Lahr da EESC USP colocam como restrições para o emprego da madeira: 40 • Material inflamável (tratamento retardante resolve) • Material biodegradável (tratamento preservativo resolve) • Insuficiente divulgação das informações tecnológicas já disponíveis acerca de seu comportamento sob as diferentes condições de serviço e • Número reduzido de projetos específicos desenvolvidos por profissionais habilitados. III – CLASSIFICAÇÃO DAS MADEIRAS PELO USO Madeiras finas: empregadas em marcenaria e em construção corrente na execução de esquadrias, marcos, etc. Ex: loiro, cedro, açoita-cavalos, etc. Madeiras duras ou de lei: empregadas em construção como suportes e vigas. Ex: peroba, paraju, grápia, angico, etc. Madeiras resinosas: empregadas quase que exclusivamente em construções temporárias ou protegidas do intemperismo. Ex: pinho (formas) Madeiras brandas: de pequena durabilidade, porém, de grande facilidade de trabalho. Não são usadas em construção.Ex: timbaúva. IV – CRESCIMENTO DAS ÁRVORES A secção transversal do tronco de uma árvore permite distinguir as seguintes partes bem caracterizadas de fora para dentro: (macroestrutura) 1) Casca: Protege contra agentes externos. É eliminada no aproveitamento do lenho. Na casca encontramos uma camada externa - camada cortical - formada por tecidos mortos (dá proteção) e uma camada interna, constituída de tecido vivo, mole e úmido, que é o veículo da seiva elaborada. 2) Câmbio: Camada invisível a olho nu, situada entre a casca e o lenho, formada de tecido meristemático (divisão de células). O crescimento da árvore dá-se diametralmente pela adição de novas camadas proveniente da diferenciação do câmbio. Anel de crescimento: camada de tecido lenhoso formada anualmente. Os anéis de crescimento permitem caracterizar as três direções diferenciais da anisotropia do material: Axial - segundo eixo da árvore, Tangencial - tangente aos anéis, e. Radial - normal aos mesmos. 3) Lenho: (Alburno e Cerne). É a parte resistente das árvores. Alburno - células vivas - resiste aos esforços externos e transporta a seiva das raízes às folhas; Cerne – células mortas – resiste aos esforços externos. A alteração do alburno amplia o cerne. As paredes das células se impregnam de taninos, resinas e materiais corantes que obstruem os vasos e conferem ao cerne uma cor mais forte. Alburno: (branco da madeira) – a seiva que contém atrai insetos e agentes de deterioração, mas melhor se deixa impregnar pelos preservativos, não devendo ser eliminado como imprestável. Cerne: tem mais peso,compacidade, dureza e durabilidade; é menos sujeito ao ataque de insetos e fungos. 4) Medula: Miolo central, mole, de tecido esponjoso e cor escura. Não tem resistência mecânica nem durabilidade. Sua presença na peça desdobrada constitui defeito. 5) Raios medulares: 41 Transportam e armazenam a seiva. Pelo seu efeito de amarração transversal, inibem em parte a retratibilidade devida a variações de umidade. Aparecem nas secções radiais ou tangenciais de determinadas espécies como um “espelhado” de bonito efeito estético e decorativo. V - IDENTIFICAÇÃO As madeiras são identificadas pelas maneiras seguintes: a) Identificação Vulgar Maneira prática de se fazer a identificação. Prende-se às características notáveis da espécie: configuração da casca, folhas, frutos, coloração e aspectos visuais, etc. Não tem valor científico, pois um mesmo nome identifica espécies diferentes, ou vice-versa, dependendo da região. b) Identificação Botânica Necessita da formação de um herbário para cada espécie: exemplares dos frutos casca, flores e sementes para comparação. Com a coleta desses elementos, o botânico especializado determina a família, o gênero e a espécie na classificação botânica. Ex: Araucária brasileira � pinho do Paraná Piptadenia rígida � jatobá Paracotema peroba � peroba do campo c) Identificação Micrográfica Retira-se do lenho um prisma de 1 x 1 x 4 cm. Deste prisma são retiradas três lâminas em direções ortogonais. As lâminas são desidratadas, coloridas e examinadas em um microscópio (≥ 50x) e comparadas com lâminas padrão ou com um Atlas de microfotografias. No Atlas constam dois aspectos micrográficos distintos: - constituição anatômica do lenho - número, forma e disposição dos elementos celulares que o compõem. VI – PRODUÇÃO DAS MADEIRAS Seqüência obrigatória para a produção das peças de madeira natural serradas: - corte das árvores - toragem - falquejamento - desdobro - aparelhamento das peças. Na exploração bem conduzida de reservas florestais, o corte deve ser precedido por um levantamento dendrométrico que esclarece sobre o aproveitamento econômico adequado, avaliação e cubagem dos exemplares a serem abatidos. Corte de árvores: deve ser realizado em épocas apropriadas, geralmente durante o inverno. No Brasil é boa prática realizá-los nos meses sem “r”. A época do corte não influi sobre a resistência da madeira, mas tem importância sobre sua durabilidade: madeiras de árvores abatidas durante o inverno secam lentamente sem rachar ou fendilhar e, por não conterem seiva elaborada nos tecidos, tornam-se menos atrativas a fungos e insetos. Na toragem a árvore é desgalhada e traçada em toras de 5 a 6m para facilitar o transporte. Também é freqüente serem “falquejadas”, ou seja, lavradas a machado ou a serra ficando a seção grosseiramente retangular. No desdobro ou desdobramento – operação final na produção de peças estruturais de madeira bruta. No desdobro são obtidos os pranchões, pranchas ou “conçoeiras”, com espessura maior que 7cm e largura maior que 20cm. São dois os tipos de desdobro: Desdobro normal: quando as pranchas são tangentes aos anéis de crescimento. Desdobro radial: quando as pranchas são retiradas normalmente aos anéis de crescimento. 42 O desdobro radial produz prancha de melhor qualidade: - na secagem, menor contração, menos empenos e rachaduras; - maior homogeneidade de superfície; resistência uniforme ao longo da peça. Em contrapartida, maiores são as perdas e maior é o custo. O desdobro radial é indicado para aplicações especiais: construção aeronáutica, fabricação de instrumentos musicais, móveis de estilo, etc. Concluindo, uma tora pode ser usada como peça estrutural sem estar completamente desdobrada. Duas alternativas podem então ocorrer: ou se pretende uma seção com a maior área possível, ou uma peça com o maior momento resistente. No primeiro caso, interessará o maior quadrado inscrito na seção da tora. No segundo, será um retângulo com a menor dimensão igual a 0,50 do diâmetro da tora e a altura igual a 0,82 do mesmo. Aparelhamento das peças: Serragem e resserragem das pranchas, executadas com serra circular ou em serra de fita, com um, dois ou três fios de serra. O documento normativo brasileiro NBR7203: Madeira serrada e beneficiada especifica os termos utilizados para cada produto e as respectivas dimensões comerciais. VII – PROPRIEDADES FÍSICAS DAS MADEIRAS No Brasil, a ABNT adota no anexo B da NBR 7190/97 a determinação das propriedades das madeiras para projeto de estruturas, tendo como objetivos: a) Indicar como devem ser feitas as seguintes determinações de características físicas e mecânicas das madeiras: umidade, densidade, estabilidade dimensional, compressão paralela às fibras, tração paralela às fibras, compressão normal às fibras, tração normal às fibras, cisalhamento, fendilhamento, flexão, dureza, resistência ao impacto na flexão, embutimento, cisalhamento na lâmina de cola, tração normal à lâmina de cola e resistência das emendas dentadas e biseladas. b) Obter dados comparativos, referentes a toras de madeiras, visando caracterizar as espécies. Para um conhecimento bastante exato, devem ser ensaiadas pelo menos três toras. Obs: para o cálculo e execução de estruturas de madeira a ABNT adota a NB-11. 43 CARACTERÍSTICAS FÍSICAS: 1) Umidade Total: estufaemamadeiradapesoP úmidamadeiradapesoP umidadedeteorhondex P PPh s h s sh sec (%):100% = = = − = 2) Variação dimensional da madeira São as alterações de volume sofridas pelas madeiras quando o seu teor de umidade varia do ponto de saturação ao ar à condição de seca em estufa. Também denominada Retração, Inchamento ou “Trabalho”. • Principais causas • Ortotropia: decorrência da constituição anatômica • Direções principais: axial, radial e tangencial Retração na madeira Aspectos anatômicos provocam diferentes retrações nas três direções principais: Quadro de porcentagens de retração de algumas espécies de madeira A contração volumétrica total traduz percentualmente a variação de volume, quando a madeira passa do estado verde ao estado seca em estufa. verdemadeiradaVolumeVx V VV C v v t → − = 100 0 0 44 A contração volumétrica de seca ao ar para seca em estufa é chamada contração volumétrica parcial e traduz a variação percentual de volume entre esses dois estágios de umidade. Determinação das porcentagens de retração e de inchamento - Porcentagens de retração total ou deformações específicas de retração (�r,j), com j = 1 para a direção longitudinal; j = 2 para a direção radial e j = 3 para a direção tangencial, calculadas pela expressão a seguir. - Idem para determinar as porcentagens de inchamento total ou deformações específicas de inchamento (�i,j) Li,sat • dimensão linear, para U igual ou superior ao PS; Li,seca • dimensão linear, para U igual a 0%. Curvas de Retratilidade volumétrica e linear (pinho-do-Paraná – IPT) O conhecimento da retratibilidade volumétrica das espécies lenhosas permite classificá-las conforme essa característica e orientar a escolha de madeiras para empregos adequados. 45 O coeficiente de retratilidade volumétrica significa a variação percentual para uma variação de 1% na umidade. É calculado dividindo-se a contração volumétrica parcial (Ch) pelo teor de umidade seco ao ar (h%) no qual foi determinado: h Ch =ν Quanto ao coeficiente de retratilidade, considerando madeiras já desdobradas em peças como tábuas, vigas, etc, podem ser usadas em construção: Coeficiente
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