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Litoral do Paraná: Reflexões e Interações

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Valdir Denardin
Cinthia Maria de Sena Abrahão
Diomar Augusto de Quadros
(Organizadores)
LITORAL DO PARANÁ 
 – REFLEXÕES E 
 INTERAÇÕES
MATINHOS
 UFPR Litoral
2011
VALDIR FRIGO DENARDIN
CINTHIA MARIA DE SENA ABRAHÃO
DIOMAR AUGUSTO DE QUADROS
(Organizadores)
LITORAL DO PARANÁ – REFLEXÕES E INTERAÇÕES
Revisão técnica: Afonso Takao Murata; Arlete Motter; Carlos Alberto Cioce Sampaio; 
Clynton Lourenço Corrêa; Daniel Fleig; Edmilson Paglia; José Lannes; Liliani Tiepollo; 
Luciana Ferreira; Manoel Flores Lesama; Maurício Fagundes
Revisão do texto: dos autores
Revisão final: dos organizadores
Projeto gráfico e Editoração eletrônica: Monica Ardjomand
Capa: Carlos Weiner
Catalogação na fonte
Litoral do Paraná: reflexões e interações / Organizadores: Valdir 
Frigo Denardin; Cinthia M. de Sena Abrahão; Diomar Augusto 
de Quadros. Matinhos: UFPR Litoral, 2011.
268 p. 
ISBN 978-85-63839-08-4 (digitalizada)
ISBN 978-85-63839-09-1 (impressa)
1.Litoral do Paraná. I. Denardin, Valdir Frigo. II. Abrahão, 
Cinthia M. de Sena. III. Quadros, Diomar Augusto de.
CDD 981.62
Fernando Cavalcanti Moreira, CRB 9/1665 
 UFPR LITORAL
Universidade Federal do Paraná
Setor Litoral
R. Jaguariaíva, 512 – Caiobá
CEP 83260-000 - Matinhos, PR - Brasil
© UFPR Litoral, 2011
Sumário
Prefácio 5
Apresentação 8
Parte I - Diálogos de Pesquisa e Extensão 12
Terra inválida, gente invisível: 
o caso das comunidades rurais extrativistas do litoral paranaense 13
Marcia Regina Ferreira | Raquel Rejane Bonato Negrelle| Rafael Augusto Ferreira Zanatta
Violência doméstica contra mulheres no Litoral do Paraná: 
olhares a partir um projeto de ensino/pesquisa/extensão 39
Nadia Terezinha Covolan | Daniel Canavese de Oliveira | Marcos Claudio Signorelli
Agroindústria familiar no Litoral paranaense: 
o caso das casas de farinha 50
Valdir Frigo Denardin | Luiz Fernando de Carli Lautert | Mayra Taiza Sulzbach | Claudinei Pedroso Ribas | 
Humberto Handchuka Piccin | Rosilene Komarchescki | Cecilia Hernandes Cury
Jovens e cultura política em Matinhos 71
Dione Lorena Tinti | Rodrigo Rossi Horochovski | Emerson Joucoski
Um diálogo entre Teoria e Prática, 
Arte e Ciência no ensino contemporâneo da Arte 93
Carlos Weiner M. de Souza
Periferias urbanas – território de complexidades: 
o caso da Vila Santa Maria em Paranaguá 111
Cinthia Maria de Sena Abrahão
Vulnerabilidade social e problemática ambiental 
na gestão dos resíduos sólidos no litoral do Paraná: 
análise do quadro atual das associações de resíduos sólidos e suas relações 140
Cinthia Maria de Sena Abrahão | Lucia Helena Alencastro
Vivência no acampamento José Lutzenberger: 
análise da segurança alimentar e nutricional 163
Diomar Augusto de Quadros | Rafael Pantarolo Vaz | Murilo Carzino de Alcântara | 
Sirlândia Schappo | Eduardo Harder
Ações empreendedoras no meio rural: 
a comunidade pantanal do assentamento Nhundiaquara no litoral paranaense 184
Elsi do Rocio Cardoso Alano
Parte II - Diálogos de Pesquisa e Ensino 198
Educação e desenvolvimento na formação do empreendedor: 
uma experiênia pedagógica na Universidade Federal do Paraná (Setor Litoral) 199
Cristiane Rocha-Silva | Marcia Regina Ferreira
Enfoque fisioterapêutico na saúde da criança matinhense 228
Luize Bueno de Araujo | Vera Lúcia Israel | Magda Maciel Ribeiro Stival
Aspectos biológicos do processo de envelhecimento e atividade fisica 246
Daniela Gallon | Anna Raquel Silveira Gomes
5
Prefácio
Diante dos desafios de conciliar desenvolvimento e conservação 
ambiental, o Litoral Paranaense apresenta uma diversidade de experiên-
cias que nos permite refletir sobre várias teorias, abordagens e realida-
de, entre elas as interações entre sistemas sociais e ecológicos - em que 
a população interage com a natureza -, e na própria relação homem-
homem. 
Fundamentalmente, este livro Litoral do Paraná: Diálogos e Intera-
ções remete às dimensões humanas do desenvolvimento, compreendido 
à escala humana, como diria o ecossocioeconomista Manfred Max-Neef.
O Litoral Paranaense constitui uma das franjas aluviais, senão conti-
nentais, mais contínuas de Floresta Atlântica, resultado também de uma 
política de criação de Unidades de Conservação federais e estaduais. 
O território possui vulnerabilidade socioeconômica devido às au-
sências históricas de políticas públicas, que evidentemente não con-
tribuíram para o fortalecimento da cidadania e do tecido social carac-
teristicamente marcado pela identidade territorial. Tal panorama com-
promete a perspectiva de futuro quanto ao desenvolvimento territorial 
sustentável construído por e para quem vive e, ainda, viverá no local, 
compreendendo as dinâmicas ecossistêmicas.
Dos sete municípios que compõem o litoral paranaense, cinco de-
les – Antonina, Guaraqueçaba, Guaratuba, Morretes e Paranaguá - es-
tão abaixo da média estadual do Índice de Desenvolvimento Huma-
no (IDH) Municipal. Da mesma forma, se encontram os sete municípios 
do Vale do Ribeira Paranaense, território também compreendido pelo 
Projeto Político Pedagógico da UFPR-Litoral – Adrianópolis, Bocaiúva 
do Sul, Cerro Azul, Doutor Ulysses, Itaperuçu, Rio Branco do Sul e Tunas 
do Paraná. Matinhos e Pontal do Paraná, apenas estão um pouco acima 
dessa média. 
Um dos três critérios do IDH que puxa este índice para baixo é a ren-
da per capita, sendo que todos os municípios estão abaixo da média do 
6
Estado. Quanto ao índice de Gini, que mede a concentração de renda, 
retrata que não há um problema de concentração de renda no litoral. 
Até se pode sugerir que há falta de riqueza, no entanto na realidade em-
pírica se verifica falta de acesso inclusivo à políticas públicas. 
No entanto, a conjuntura socioeconômica não é provocada pela 
criação de Unidades de Conservação dos últimos 20 anos, embora tam-
bém haja controversas sobre o quanto que uma restrição ambiental 
pode desfavorecer comunidades tradicionais. 
Sob a visão bio ou ecocêntrica (o mito da natureza intocada) não há 
desenvolvimento que não impacte ambientalmente. Há que se questio-
nar, sob o ponto de vista antropocêntrico, o quanto de desenvolvimento 
pode ser considerado territorialmente sustentável. Isso porque o que se 
convencionou chamar de desenvolvimento, - sobretudo pela perspec-
tiva urbana-industrial-consumista-, mais se assemelha ao “mau” desen-
volvimento, que se alicerça na desigualdade socioeconômica entre pa-
íses com alto, médio e baixo índice de desenvolvimento humano. Além 
da própria contradição de que quanto maior o IDH maior é, geralmente, 
a pegada ecológica. Têm-se, então, dúvidas se a sociedade democrática 
é uma prerrogativa para a sustentabilidade. Baseando-se na política de 
bem-estar social europeu, se diria que não.
Sob tal argumento, os modos de vida de populações tradicionais e 
híbridas do litoral do Paraná se aproximam mais do que se pode esperar 
do conceito de sustentabilidade, embora haja controvérsias quanto ao 
mito do bom selvagem. O que se quer ressaltar são as possibilidades de 
articulação entre os saberes, tanto dos acertos como dos equívocos do 
conhecimento científico e tradicional, no tratamento da relação homem 
e natureza. 
Embora o litoral paranaense represente pequena parcela da super-
fície do Estado, há muitos modos de vida tradicionais ali inseridos. Esses 
modos de vida se confundem com as próprias comunidades tradicio-
nais, que podem ser definidas por critérios geográficos - território iso-
lado -, culturais - compartilhando costumes, usos e tradições, hábitos -, 
ou por funções socioeconômicas – variando por modos de produção. 
7
Comunidades e modos de vida se confundem e se identificam no litoral 
paranaense - e, por extensão, do Vale do Ribeira - como extrativistas, 
ribeirinhos, pescadores artesanais, pequenos agricultoresfamiliares, 
povos originários e quilombolas. Tais comunidades, mesmo que pos-
suam descaracterizações, são ainda identificadas como tradicionais por 
conservarem padrões de subsistência, valores e costumes, o que pos-
sibilita encontrar, no seu âmbito, o principal atrativo: a convivência de 
inspiração solidária, característica exótica atualmente do modo de vida 
urbano-consumista.
Neste contexto, surge o setor litoral da Universidade Federal do 
Paraná, mais conhecida por UFPR Litoral, sob a inspiração da chamada 
educação é nossa praia, na qual ensino, pesquisa e extensão são compre-
endidos como um todo sistêmico, no qual não é possível dissociar suas 
partes. 
Os capítulos aqui organizados refletem diálogos e interações entre 
o corpo docente e discente da UFPR-Litoral, na qual contam seus esfor-
ços de conhecimento, compreensão, proposição e ação no território do 
litoral paranaense.
Não querendo roubar o protagonismo dos organizadores, finalizo 
convidando aos leitores a realizarem esta viagem para conhecer o litoral 
do Paraná, sob a organização dos amigos Valdir Frigo Denardin e Dio-
mar Augusto de Quadros e a amiga Cinthia Maria de Sena Abrahão, que 
foram meus colegas na minha rápida passagem pela UFPR-Litoral, no 
entanto muito intensa de felicidades.
Prof. Dr. Carlos Alberto Cioce Sampaio
Professor Visitante do Programa de Pós-Graduação em 
Desenvolvimento Regional da Universidade Regional de Blumenau
Professor Colaborador do Programa de Pós-Graduação em 
Meio Ambiente e Desenvolvimento da Universidade Federal do Paraná
Pesquisador do CNPq.
8
Apresentação
Este livro é resultante de um conjunto de reflexões produzidas em 
atividades de extensão e pesquisa universitária realizadas pela comu-
nidade acadêmica e colaboradores da Universidade Federal do Paraná, 
Setor Litoral (UFPR Litoral). Sua principal expressão consiste no com-
prometimento dessa universidade com o seu entorno, o que reflete o 
propósito da criação da unidade educacional no litoral, com sede em 
Matinhos/PR.
A temática “Litoral Paranaense” tem sido iluminadora das ações da 
universidade desde sua instalação em 2005. Ao mesmo tempo em que 
há o desafio de propor aos membros da comunidade acadêmica que 
aportem contribuições para a sociedade, existe a necessidade de conhe-
cer de forma mais profunda essa porção do território brasileiro. O litoral 
do Paraná congrega sete municípios e um conjunto denso de questões 
instigadoras para aqueles que se inspiram na idéia de construção de 
uma sociedade mais justa e equilibrada. A diversidade de abordagens 
e de temáticas traduz uma amostra do mosaico de ações e de reflexões 
que derivam dos primeiros cinco anos de existência da UFPR Litoral.
A partir da temática norteadora que se traduz no título “Litoral do 
Paraná: Interações e Reflexões” o livro foi organizado em duas partes. 
A primeira congrega os capítulos que realizam o que chamamos de “Di-
álogos de pesquisa e extensão”, de forma geral são reflexões e relatos 
originados de trabalhos desenvolvidos em um dos municípios, em uma 
comunidade ou em um grupo de municípios. A segunda parte denomi-
namos “Diálogos de pesquisa e ensino”, congrega capítulos nos quais 
os autores dialogam com as práticas sociais imprimidas pela universida-
de no processo de repensar os cursos de graduação.
Na primeira parte do livro denominada Diálogos de pesquisa e 
extensão, o primeiro texto “Terra inválida, gente invisível: o caso das co-
munidades rurais extrativistas do litoral paranaense”, de Márcia Regina 
Ferreira, Raquel Negrelle e Rafael Zanatta, discute o caso das comunida-
9
des extrativistas do litoral paranaense e sua invisibilização no contexto 
contemporâneo. Fruto de uma profunda pesquisa sobre a temática, o 
texto traz substância teórico-prática para repensar a política ambiental 
brasileira à luz da realidade sociocultural sobre a qual ela se aplica. 
O segundo texto intitula-se “Violência doméstica contra mulheres no 
litoral do Paraná: olhares a partir de um projeto de ensino/pesquisa/exten-
são”, de Nádia Covolan, Daniel Canavese e Marcos Signorelle, discute as-
pectos derivados do mapeamento e estabelecimento de redes de cons-
cientização, defesa dos direitos das mulheres e no combate à violência 
doméstica nos municípios do litoral do Paraná. A apuração de dados e as 
reflexões contidas nesse texto resultam de um trabalho que se estendeu 
entre os anos de 2007 e 2009.
O terceiro texto, ‘Agroindústria familiar no litoral paranaense: o caso 
das casas de farinha”, de Valdir Frigo Denardin, Luiz Fernando de Carli 
Lautert, Mayra Sulzbach, Claudinei Ribas, Humberto Piccin, Rosilene Ko-
marchescki e Cecília Cury, apresenta um amplo diagnóstico acerca da 
agroindústria de farinha de mandioca. O propósito central da pesqui-
sa está na geração de subsídios para intervenções nesse segmento que 
congrega funções econômicas, sociais e culturais, definindo parte da 
identidade territorial das comunidades tradicionais do litoral.
O quarto texto trata a temática da política e juventude sob o título 
“Jovens e cultura política em Matinhos”, de Dione Tinti, Rodrigo Horocho-
vski e Emerson Joucoski. A reflexão dos autores é fruto de uma pesqui-
sa de campo realizada em 2008, que possibilitou a análise comparativa 
entre a realidade local, a partir do recorte do município de Matinhos e 
a nacional.
O texto seguinte, de Carlos Weiner M. de Souza, intitulado “Um diá-
logo entre teoria e prática, arte e ciência no ensino contemporâneo de arte 
– análise do projeto Vila Educação e Arte em Paranaguá”, traz um conjunto 
de reflexões sobre a prática docente e seus desafios no campo da arte, a 
partir de resultados do projeto Vila Educação e Arte desenvolvido atra-
vés da Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares (ITCP), entre 
2008 e 2010.
10
Em seguida, Cinthia Maria Sena Abrahão apresenta o texto “Perife-
rias urbanas – território de complexidades: o caso da Vila Santa Maria em 
Paranaguá”, no qual realiza uma abordagem histórico-geográfica das ci-
dades e da periferia urbana na modernidade, tendo em vista destacar o 
caso das periferias no contexto brasileiro. A partir daí busca elementos 
para discutir os resultados da pesquisa sobre a ocupação da Vila Santa 
Maria, porção territorial da periferia de Paranaguá. 
O texto “Vulnerabilidade social e problemática ambiental na gestão 
dos resíduos sólidos no litoral do Paraná”, de Cinthia Maria Sena Abrahão 
e Lucia Alencastro, discute os resultados da pesquisa desenvolvida pela 
Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares (ITCP), que diagnos-
ticou a situação atual dos resíduos sólidos nos municípios do litoral pa-
ranaense. O foco da análise são as associações de coletores/separadores 
de resíduos, que representam os atores para os quais a ITCP tem voltado 
mais fortemente suas ações desde sua implantação na UFPR Litoral.
Na sequência está o texto “Vivência no acampamento José Lutzen-
berger: análise da segurança alimentar e nutricional”, de Diomar Augusto 
de Quadros, Rafael Pantarolo Vaz, Murilo Carzino de Alcântara, Sirlândia 
Schappo e Eduardo Harder. Esse texto entrelaça a discussão da seguran-
ça alimentar e nutricional à questão do acesso a terra, a partir do vivên-
cia realizada no acampamento José Lutzenberger em Antonina.
A primeira parte do livro encerra-se com o texto de Elsi do Rocio 
Cardoso Alano, intitulado “Ações empreendedoras no meio rural: a Comu-
nidade Pantanal do assentamento Nhundiaquara no litoral paranaense”, 
que busca analisar o espaço rural e suas possibilidades empreende-
doras, a partir de pesquisa realizada com as famílias do Assentamento 
Nhundiaquara – Gleba Pantanal, situado no município de Morretes/PR.
A segunda parte do livro intitula-se Diálogos de pesquisa e ensino. 
O primeiro texto, “Educação e desenvolvimento na formação do empre-
endedor: uma experiência pedagógicana Universidade Federal do Paraná 
– Setor Litoral”, de Cristiane Rocha e Márcia Regina Ferreira, traz à tona 
as mudanças paradigmáticas na formação de gestores e seus reflexos na 
estruturação do curso de Gestão e Empreendedorismo.
11
O segundo texto, “Enfoque sistêmico na saúde da criança matinhen-
se”, de Luize Bueno de Araujo, Vera Lúcia Israel e Magda Maciel Ribeiro 
Stival, em que destacam a necessidade da construção de indicadores de 
saúde, com foco na questão do desenvolvimento infantil, contribuindo 
com as políticas e programas de melhoria das condições de desenvolvi-
mento humano da região.
Encerrando essa parte do livro, o texto “Aspectos biológicos do pro-
cesso de envelhecimento e atividade física”, de Daniela Gallon e Anna Ra-
quel Silveira Gomes analisa a questão do envelhecimento a partir dos 
aspectos neuromusculares, cardiorrespiratórios e composição corporal 
no envelhecimento e, a partir de então, sensibilizar para reorientação da 
gestão pública para desenvolver avaliações, métodos, técnicas e instru-
mentos relacionados a melhora da qualidade de vida e do desenvolvi-
mento sustentável da comunidade do Litoral do Paraná.
Finalizando esta apresentação, registramos nossos agradecimentos 
à equipe de revisores, ao artista visual Carlos Weiner pela produção da 
capa, a Monica Ardjomand pela diagramação do livro. À UFPR Litoral 
nosso muito obrigada pelo abrigo às atividades de pesquisa e extensão 
na real perspectiva da indissociabilidade.
Matinhos, novembro de 2011.
Valdir Denardin
Cinthia Maria de Sena Abrahão
Diomar Augusto de Quadros
Organizadores 
12
Parte I
 
Diálogos de 
Pesquisa e 
Extensão
13
Terra inválida, gente invisível: 
o caso das comunidades rurais 
extrativistas do litoral paranaense1
Marcia Regina Ferreira2
Raquel Rejane Bonato Negrelle3
Rafael Augusto Ferreira Zanatta4
“A justiça, a lei não veio para ajudar, para nós ela veio para acabar. Só chega 
aos pequenos, pois os grandes não sofrem com a força ambiental. A gente 
agora tá assim, gosta e quer produzir porque a gente é igual à terra, mas a 
nossa terra tá inválida e a gente também”
Sebastião Almeida, membro da Comunidade São Joãozinho
Introdução - O Embate entre as Perspectivas Preservacionistas 
e Socioambientais no Tocante as Áreas de Proteção Ambiental e 
os Reflexos para as Comunidades Rurais
A questão da conservação ambiental tem tomado a agenda dos 
atores governamentais nos últimos anos, principalmente pela política 
mundial contemporânea de fomento à criação de unidades de conserva-
ção, no âmbito das diferentes categorias de manejo. O Sistema Nacional 
de Unidades de Conservação (SNUC), instituído no Brasil através da Lei 
9.985/2000, estabelece critérios definidos e normas para a implantação e 
gestão das unidades de conservação. Os objetivos do SNUC, explicitados 
em seu art. 4°, praticamente coincidem com aqueles estabelecidos pela 
União Internacional para Conservação da Natureza (UICN). Neste viés 
1 Esta é uma versão ampliada do artigo Levando os Caiçaras a Sério: O caso da invisibilidade das Comunidades 
Extrativistas do Litoral Paranaense publicado no Encontro de Administração Pública e Governança da 
ANPAD realizado em Vitória/ES – 28 a 30 de novembro de 2010.
2 Administradora, Doutora em Agronomia e Professora da UFPR Litoral. E-mail: marciaregina@ufpr.br.
3 Biológa, Pós Doutora em Gestão Sustentável de Recursos Florestais Não- Madeiráveis e Professora do 
Departamento de Botânica da Universidade Federal do Paraná. E-mail: negrelle@ufpr.br.
4 Bacharel em Direito e Mestrando em Direito na Universidade de São Paulo – E-mail: rafaelzanatta@usp.br.
14
LITORAL DO PARANá - REFLExõES E INTERAçõES
Santilli (2005), assevera que este sistema de proposta de conservação é 
pautado em uma perspectiva socioambiental, que privilegia a interface 
entre biodiversidade e sociobiodiversidade, permeada pelo multicultu-
ralismo e pela plurietnicidade; diferente da orientação preservacionista, 
que não atenta para as exigências e necessidades humanas concretas, 
preocupando-se apenas com o valor de espécies e ecossistemas.
O conceito de bens socioambientais está presente e consolidado 
por todo o SNUC do Brasil, apoiando a tese do jurista José Afonso da Sil-
va (2004) de que a defesa do meio ambiente não se reduz à proteção da 
fauna, flora e do meio físico, mas inclui também a proteção do próprio 
ser humano, através de suas atividades culturais e materiais. Ampliando 
o debate acerca das Unidades de Conservação, Vianna (2008) corrobo-
ra Santilli (2005) ao sustentar que a aplicação do SNUC poderá propi-
ciar que as populações rurais tradicionais, que vivem em unidades de 
conservação, saiam da posição de invisíveis e tornem-se protagonistas. 
Isso, por meio da valorização da sociodiversidade e o fortalecimento da 
organização das populações tradicionais, conferindo-lhes visibilidade 
e inclusão social, gerando também exercício da cidadania e promoção 
da justiça social. Nesse estudo, entende-se que as unidades de conser-
vação de uso sustentável como as APAs - Área de Proteção Ambiental 
– podem ter um papel importante na busca por um desenvolvimento 
socialmente justo e equitativo, o que ainda não ocorre no Paraná, em 
razão de diversos fatores que serão apontados adiante.
Arruda (1999) argumenta que não é só possível, mas é necessário, o 
caminho da inclusão das populações rurais no conceito de conservação 
e o investimento no reconhecimento de sua identidade. Tal inclusão se 
daria por meio de políticas que valorizem o seu saber e contribuam para 
a melhoria de suas condições de vida, bem como na garantia de sua 
participação na construção de uma política de conservação que tenha 
também como beneficiários as próprias comunidades rurais com ativi-
dades extrativistas.
Ming (1997), ao estudar as florestas e sua conservação, reconhece 
que as comunidades tradicionais conservam em seu próprio e específico 
15
TERRA INVáLIDA, GENTE INVISíVEL
processo de manejo as mais diferentes espécies úteis. O uso de tecno-
logias agrícolas menos agressivas por essas comunidades - no caso dos 
caiçaras, apenas a enxada -, permitiu a conservação das florestas nativas. 
Algumas regiões de Mata Atlântica no Paraná (as porções mais bem con-
servadas desse ameaçado bioma) são exemplos dessa interação entre 
comunidades tradicionais/conservação do ambiente. O conhecimento e 
a valorização dessas tecnologias são fundamentais para que sejam es-
tabelecidas propostas de políticas públicas visando o desenvolvimento 
sustentável dessas regiões e suas populações.
No entanto, um grande problema no campo da gestão do território 
brasileiro (como a floresta atlântica) decorre da crescente internaciona-
lização dos circuitos econômicos, financeiros e tecnológicos do capital 
mundializado, os quais, de um modo geral, debilitam os centros nacio-
nais de decisão e dificultam o comando sobre os destinos de qualquer 
espaço brasileiro. Villa Verde (2004) argumenta que o território está su-
jeito ao aparato público e jurídico em que estão estabelecidas relações 
de domínio distintas. Como é sabido, a divisão política e administrativa 
do Estado Brasileiro está organizada em três níveis: federal, estadual e 
municipal. Esses níveis, legitimados pela esfera pública, impõem-se 
como o primeiro recorte territorial. Esse recorte ignora a questão das et-
nias e culturas e acaba por não reconhecer a condição do outro, daquilo 
que é distinto, genuíno. Junto a isso, soma-se à gestão do território, sua 
regulação, as quais são cada vez mais, segundo Santos (2000), domina-
das pelas instâncias econômicas.
O caso do litoral paranaense não é diferente. No desenvolvimento 
da pesquisa-ação por meio do Projeto de Extensão da Universidade Fe-
deral do Paraná – Setor Litoral intitulado “Cultura e identidade: elemen-
tos necessários naprática pedagógica e fortalecimento do local”, coor-
denado pela Professora Marcia Regina Ferreira, foi possível identificar 
o sentimento de opressão que essas comunidades caiçaras rurais vêm 
sofrendo nas últimas décadas na Área de Proteção Ambiental de Guara-
tuba. A declaração do caiçara Sebastião de Almeida, da Comunidade de 
São Joãozinho, é emblemática: “Antes a gente preparava o material para 
a pesca e fazia a roça que a gente queria. Aqui todo mundo trabalhava li-
16
LITORAL DO PARANá - REFLExõES E INTERAçõES
berto, as famílias em 1940 até 1960, era muito livre. A pessoa trabalhava 
à vontade. Plantava seu arroz, plantava seu aipim, tinha cana de açúcar, 
farinha e pescava para comer. Agora é tudo diferente, nem farinha para 
a gente por no prato tem”.
Quando se resgata a história política de nosso país, verifica-se que 
os governantes militares da década de setenta não levaram em conside-
ração a grande perda da sociobiodiversidade brasileira provocada pelo 
interesse por um desenvolvimento econômico meramente industrial. 
Esse período foi marcado por incentivos fiscais mantidos para que gran-
des grupos ocupassem áreas nativas – a Mata Atlântica do Paraná é um 
exemplo – com plantação de pinus. Tais programas de incentivos fiscais 
(Lei 5.106/1966) alteraram o espaço vivido das famílias rurais que preci-
saram mudar sua forma de vida5.
Perante esse legado pautado na exploração territorial com fins eco-
nômicos, Villa Verde (2004) contra-argumenta que o território precisa ser 
visto com a possibilidade de ser o lugar de todos, sem excluir quem quer 
que seja. Nesse sentido, a responsabilidade pública deve prevalecer para 
que as desigualdades não sejam agravadas. E, por outro lado, cabe ao 
Estado o papel de gestor, planejador, regulamentador que defende os 
interesses da sociedade como um todo, e não de segmentos.
Ao contextualizar a importância do Estado e o papel do ator go-
vernamental acerca da conservação na perspectiva socioambiental, o 
objetivo do presente artigo firma-se em analisar, primeiro, as visões e 
percepções dos atores governamentais sobre as comunidades rurais 
extrativistas - de produtos florestais não madeiráveis (PFNM) - estabe-
lecidas em unidades de conservação e, segundo, examinar como as ins-
tituições governamentais enxergam as políticas públicas do Estado do 
Paraná. Conhecendo a visão destes atores sobre a conservação e sobre 
as comunidades tradicionais caiçaras, visou-se contribuir para a amplia-
ção do diagnóstico sobre o meio de vida sustentável para as famílias 
extrativistas no contexto do desenvolvimento rural.
5 De 1966 até o inicio do século XXI o Brasil incentivou os monocultivos florestais (pinus e eucalipto) em 
grandes aéreas por meio de grandes empreendimentos e grandes proprietários. A extração da madeira 
que leva de 12 a 15 anos para o corte vem sendo apresentado aos pequenos agricultores como uma fonte 
segura: a poupança verde.
17
TERRA INVáLIDA, GENTE INVISíVEL
Metodologia de Pesquisa - Como Organizar os Dados?
Este estudo de caso (YIN, 2001) do litoral paranaense teve como 
base o método da teoria substantiva ou grounded theory (STRAUS; 
COURBIN, 2008). A partir dele delinearam-se estratégias para coleta de 
dados, com pesquisa documental e entrevistas semi-estruturadas com 
distintos atores da esfera governamental relacionados às questões am-
bientais e agrárias (Quadro 1).
Quadro 1. Instituições e atores governamentais entrevistados.
Municipal Estadual Federal
Departamento de 
Agricultura
Secretaria da Agricultura e 
do Abastecimento Estado do 
Paraná (SEAB).
DFDA-PR - Delegacia Federal 
do Paraná do Ministério do 
Desenvolvimento Agrário
Departamento de 
Meio Ambiente
Secretaria do Meio Ambiente 
e recursos hídricos (SEMA) 
Dep. Sociobiodiversidade
MPA - Ministério da Pesca 
e Aqüicultura - Superinten-
dência Federal no Paraná.
Secretaria do 
Bem Estar Social
Secretaria de Estado do Pla-
nejamento e coordenação 
geral (SEPL) do Paraná. Paraná 
Biodiversidade
IBAMA Responsável da Uni-
dade
Secretaria da 
Educação
Instituto Ambiental Paraná 
(IAP) – litoral/Regional
ICMBIO- Instituto Chico 
Mendes da biodiversidade
Atores Estaduais 
com atuação no 
município.
EMATER - Instituto Paranaense 
de assistência técnica e exten-
são rural.
EMBRAPA FlorestaEMATER – Instituto 
Paranaense de 
assistência técnica e 
extensão rural
IAP- Instituto Ambiental do 
Paraná/Departamento socio-
ambiental
IAP- atua no Mun. de 
Guaratuba-PR.
IAPAR – Instituto Agronômico 
do Paraná EMBRAPA FlorestaBPflo – Batalhão da 
Policia Ambiental 
-Força Verde
Fonte: Ferreira (2010).
A coleta de dados pela análise documental deu-se por meio de pes-
quisa em projetos, decretos, leis e outras fontes secundarias de dados, 
ocorrendo em vários momentos. No primeiro, para identificar possíveis 
entrevistados e os projetos desenvolvidos no Estado do Paraná, depois, 
para verificar os programas existentes. As entrevistas semi-estruturadas 
foram aplicadas (outubro a novembro de 2009) a atores governamentais 
18
LITORAL DO PARANá - REFLExõES E INTERAçõES
(n=19) das distintas esferas (municipal, estadual e federal), previamente 
identificados na pesquisa documental como representantes de institui-
ções que idealizam, formulam e executam ações aplicadas no litoral do 
Paraná.
As entrevistas foram precedidas pela apresentação do pesquisador 
e proposta de trabalho. Os atores governamentais assinaram termo de 
consentimento livre e esclarecido, garantindo a proteção e sigilo das in-
formações fornecidas, bem como a interrupção de sua participação a 
qualquer tempo da pesquisa. A entrevista seguiu roteiro semi-estrutu-
rado e também contou com comentários registrados por meio de gra-
vação consentida.
Como resultados das transcrições das dezenove entrevistas, obtive-
ram-se oitenta e cinco laudas. Esse material foi submetido às análises 
de conteúdo (BARDIN, 1988) e substantiva (STRAUS; COURBIN, 2008), na 
qual os dados são analisados até a saturação para elucidar as categorias. 
O tratamento dos dados respeitou o processo de categorização com a 
identificação da visão dos atores governamentais em relação às ativida-
des extrativistas, políticas públicas e comunidades que vivem na Mata 
Atlântica, a partir da agricultura de subsistência. Essas análises foram 
consubstanciadas nas abordagens de Scoones (1998) sobre nova ecolo-
gia e Bebbington (2005) pelo meio de vida rural sustentável em relação 
à importância das instituições.
As Percepções dos Atores Governamentais em Relação às 
Comunidades Caiçaras Rurais
Há mais de dez anos, Arruda (1999) apontou que as comunidades 
tradicionais, embora corporificassem um modo de vida tradicionalmente 
mais harmonioso com o ambiente, eram persistentemente desprezadas 
e afastadas de qualquer contribuição que poderiam oferecer à elabora-
ção de políticas públicas regionais. Até hoje, de fato, pouca coisa mudou. 
As comunidades extrativistas ainda permanecem “invisíveis” para o Poder 
Público, em razão de seu fraco poder econômico e ausência de organiza-
19
TERRA INVáLIDA, GENTE INVISíVEL
ção e representatividade política. No contexto deste trabalho, entende-se 
por comunidades caiçaras populações litorâneas que apresentam ligações 
com a terra por meio da lavoura de subsistência, pesca e extrativismo, 
através da relação de parentesco e ajuda mútua (DIEGUES, 1983).
Bebbington (2005), discutindo os processos de desenvolvimento 
rural sustentável, aponta que as instituições e estruturas sociais tanto 
fortalecem como fragilizam o ambiente destas famílias. Outros autores 
indicam que a situação de pobreza no meio rural está diretamente alia-
da à negação de direitos, capacidades e oportunidades (ADAMS, 2002; 
DRUMMOND, 2002; SCOONES, 1998, 1999; BEBBINGTON, 1999, 2005). 
Nesteâmbito, o Estado e sua infra-estrutura devem viabilizar, fomentar 
e reforçar mecanismos de sobrevivência digna in loco, através da pos-
sibilidade de alterar regras e relações dominantes estabelecidas para o 
controle e distribuição dos recursos (DRUMMOND, 1996; BEBBINGTON, 
1999; 2005; PINHEIRO, 2002). Além de se considerar o papel público e 
jurídico do Estado, é importante analisar as forças da economia de mer-
cado capitalista com relações distintas de domínio público e privado em 
suas diversas escalas (SCOONES, 1999).
Long; Ploeg (1994) inserem o conceito de agência e estrutura, com 
papel central no estudo da origem e manipulação de informações no en-
tendimento do desenvolvimento rural, tendo como princípio o modo que 
as pessoas categorizam, codificam, processam e imputam significado às 
suas experiências. Assim, Guivant (1997) pondera sobre a gestão do ter-
ritório e a importância da heterogeneidade de conhecimentos nesses es-
paços, com a aceitação de que o conhecimento é relativo às situações de 
interface com os atores. Essa interface com os atores governamentais não 
é encontrada quando se analisa as comunidades caiçaras (BEGOSSI, 1999), 
embora se compreenda a importância delas para as análises microssociais 
a fim de abandonar noções causais simplificadoras do território.
Em relação ao território, especial cuidado deve ser dedicado às com-
plexas áreas de Unidades de Conservação (UC), em razão da riqueza em 
sociodiversidade e biodiversidade, bem como pelos diversos conflitos 
ambientais e sociais relativos ao uso da terra (ADAMS, 2000a; SANTILLI, 
20
LITORAL DO PARANá - REFLExõES E INTERAçõES
2005). Com a criação das UCs, percebe-se a valorização em relação à con-
servação da biodiversidade e o esquecimento sobre a riqueza cultural das 
pessoas locais (DUMORA, 2006). Embora Organizações Não Governamen-
tais (ONGs) atuem nessas áreas interagindo com as populações rurais, o 
quadro de desigualdade não se altera devido à ênfase aos trabalhos de 
conservação (DIEGUES, 2008; ADAMS; 2000, 2000b, 2002).
Exemplo desta dinâmica intrincada é encontrado na Área de Prote-
ção Ambiental de Guaratuba no Paraná, com 92% da área deste município 
estabelecida desde 1992 como APA. Uma região com rica biodiversidade, 
com número significativo de famílias e heterogeneidade agrícola, onde 
coexistem a agricultura tradicional e comercial, em meio a complexida-
des sociais agravadas pela pobreza das populações caiçaras (IAP, 2006). 
Na agricultura tradicional ocorre o cultivo de milho e mandioca para o 
consumo próprio, em áreas de um hectare, vindo o extrativismo comple-
mentar a renda da unidade doméstica, existindo diferenças entre os que 
dependem do extrativismo dos PFNMs para sobrevivência e aqueles que 
o utilizam para reforçar o ganho mensal familiar (SONDA, 2002; BALZON, 
2006; NOGUEIRA et al., 2006; FERREIRA, 2010).
Dentre os estudos disponíveis sobre o extrativismo dos PFNMs na APA 
de Guaratuba, destacam-se os que enfatizam a cadeia produtiva (BALZON, 
2006; NOGUEIRA et al., 2006), o enfoque etnobotânico (NEGRELLI; FORNA-
ZZI, 2007, VALENTE, 2009) e ecológico de regeneração dos recursos utili-
zados (VALENTE, 2009). Porém, pouco, ou quase nada, foi estudado sobre 
o impacto sócio-cultural-econômico e sua real sustentabilidade em rela-
ção às famílias caiçaras. No entanto, esta informação não é nova. Adams 
(2000b), ao realizar um levantamento sobre os estudos acadêmicos, tam-
bém identificou que os trabalhos publicados sobre conservação poucos 
tratavam o tema relativo às comunidades caiçaras.
No litoral do Paraná, em especial na APA de Guaratuba, constata-se, 
ainda, que em relação à escala de interações das comunidades caiçaras 
em relação ao âmbito municipal e estadual, encontra-se uma verdadeira 
afronta aos princípios de participação e informação, que são o arcabou-
ço valorativo e jurídico que sustentam as formas de participação da so-
21
TERRA INVáLIDA, GENTE INVISíVEL
ciedade nos processos de tomada de decisão coletiva (FERREIRA, 2010). 
Ademais, o próprio Poder Público, em suas diversas esferas, reconhece 
sua dificuldade em lidar com os problemas das comunidades tradicio-
nais e fomentar a participação de tais comunidades na formulação de 
políticas públicas.
Em razão de tal realidade, a pesquisa identificou a percepção dos 
atores governamentais acerca das comunidades tradicionais extrativis-
tas na Área de Proteção Ambiental no Paraná e constatou um quadro 
grave com relação ao desenvolvimento de políticas públicas que sejam 
efetivas na garantia dos direitos constitucionais.
Nesse estudo, as visões foram distribuídas em quatro classes – de-
terminista indiferente, propositivo, favorável, desfavorável -, variando de 
acordo com a esfera de atuação política dos atores governamentais no 
âmbito Estadual e Municipal, conforme Figura 1.
Para a melhor compreensão do posicionamento apresentado grafi-
camente, deve-se analisar pontualmente o que cada uma dessas classes 
comportamentais, ou percepções acerca da realidade das comunidades 
extrativistas, por parte dos atores governamentais representa em sua 
dimensão político-social.
Determinista indiferente: reconhece as limitações do Estado e estag-
nação das comunidades rurais extrativistas. Alguns manifestam apatia 
sobre a situação de comunidades empobrecidas, quanto à dificuldade de 
operacionalização e desenvolvimento de ações no Estado. Eles reconhe-
cem uma abordagem de planejamentos desenvolvida com alternativas 
elaboradas por técnicos, cabendo a atores estaduais e federais do Estado 
fazer cumprir essas determinações. Muitas decisões sobre conservação 
da Mata Atlântica são ideais, principalmente pela visão dos que são ex-
ternos aos trabalhos no Paraná. A experiência demonstra o pouco inte-
resse por caminhos, frente à realidade encontrada pelos atores governa-
mentais que decidam diariamente sobre comunidades rurais tradicionais 
e conservação da natureza. Os funcionários afirmaram que não são con-
sultados quando do planejamento de ações políticas e inclusão social.
22
LITORAL DO PARANá - REFLExõES E INTERAçõES
Figura 1. Distribuição percentual do posicionamento dos atores governamentais em 
relação às comunidades rurais extrativistas.
Estadual Municipal
Determinista indiferente
17%
29%
17%
0%
25% 28%
41%
43%
Determinista indiferentePropositivo Propositivo
Favorável FavorávelDesfavorável Desfavorável
Fonte: Ferreira (2010).
Propositivo: favorável à manutenção das famílias no campo, reco-
nhece as limitações do Estado, apresenta propostas para mudança pela 
perspectiva socioambientalista e revela constrangimento durante os 
diálogos e reflexões. O conhecimento, mesmo que histórico, sobre a 
realidade das comunidades caiçaras empobrecidas e o entendimento 
sobre o funcionalismo do Estado nos planejamentos de políticas terri-
toriais geram desconforto profissional. Eles concordam e reconhecem 
que existem diversas dimensões: ambiental, cultural, espacial, demo-
gráfica e econômica, e mesmo assim o Estado acaba sendo regulado 
pela dimensão econômica. Essas informações não são estáticas e rígi-
das. Uma ação diferenciada poderá mudar o cenário de indiferença pre-
senciado e manifestado.
Favorável: considera importante a existência das comunidades 
na floresta para sua manutenção e do território com perspectiva so-
cioambientalista. Destacam que as políticas públicas poderiam ser de-
senvolvidas na retomada da presença do Estado, evitando que o poder 
paralelo constituído e atuante das ONGs e igrejas continuem a crescer 
nesses espaços empobrecidos. No entanto, não apresentam propostas 
nos diálogos ocorridos.
Desfavorável: é contra a permanência de comunidades na floresta. 
Possui visão preservacionista e conservacionista, com atenção maior 
à preservação da floresta sem interação humana. O mito da Floresta 
comointocada.
23
TERRA INVáLIDA, GENTE INVISíVEL
As visões e percepções demonstradas pelos atores governamen-
tais do Paraná sobre as comunidades rurais extrativistas estabelecidas 
em unidades de conservação apresentaram um posicionamento (Figu-
ra 1) que, embora num primeiro momento pareça favorável em rela-
ção às comunidades caiçaras, é pessimista, tendente à concepção de 
aniquilamento das comunidades tradicionais em razão da organização 
e estrutura do Estado. Isto pois, no litoral do Paraná existem diversas 
instituições e estruturas sociais que fragilizam e impactam as comuni-
dades caiçaras, tais como as ONGs; o Estado pela sua falta de atenção a 
essas populações; o sistema capitalista, por meio dos interesses de terra 
e preocupação ambiental; e a cultura, por sua história de subordinação 
e ênfase na abordagem preservacionista que prega a dicotomia confli-
tante entre homem e natureza.
Os atores governamentais envolvidos em pesquisa, extensão, fis-
calização e desenvolvimento de programas de governo, apontam fra-
gilidades e necessidades dos caiçaras paranaenses que vivem na Mata 
Atlântica, em relação ao seu modo de vida atual e futuro. Os elementos 
apontados emergem de uma posição dos atores governamentais, tanto 
do âmbito municipal, estadual quanto no federal (Quadro 2).
Entre os atores governamentais, o Município mostrou-se favorável 
aos investimentos em relação à valorização da cultura caiçara e sua per-
manência na Mata Atlântica. O Município foi, ao mesmo tempo, quem 
pontuou o quanto é difícil para o local desenvolver políticas de apoio 
e acesso a essas comunidades, pois o poder municipal atua atendendo 
demandas mais urgentes, e estas estão alocadas em grupos urbanos da 
cidade e grupos organizados do rural. Dentro desse cenário, os atores 
municipais, embora cientes da importância dessas comunidades, não 
conseguem ver alternativas para uma ação a partir do local.
Além disso, os atores apresentaram que as políticas desenvolvidas 
nos últimos dez anos foram de intensificação da fiscalização e cuidado 
do meio ambiente por meio de leis ambientais, as quais não favorece-
ram a agricultura familiar ou campesina dos caiçaras em regiões trans-
formadas em área de proteção ambiental. Destacam ainda que essas 
24
LITORAL DO PARANá - REFLExõES E INTERAçõES
leis, por meio da intensificação da fiscalização, acabaram por excluir as 
comunidades tradicionais. As ações são de controle e coerção; e não de 
inclusão ou em educação para o desenvolvimento comunitário.
Quadro 2. Percepções dos atores nos âmbitos local, estadual e federal sobre o presente 
e o futuro das populações caiçara.
Instituições Fragilidades das comunidades caiçaras do litoral paranaense
Federal Não há interesse do Estado em dispensar atenção a essas populações 
caiçaras. Pois, existem instrumentos, na sociedade civil e internacional 
que protegem direitos humanos e deveriam ser aplicados na biodi-
versidade.
ONG A falta do Estado cria um Estado paralelo e surgem outros princípios 
em nome do meio ambiente. As populações caiçaras tradicionais em 
áreas transformadas em APA podem ser expulsas para a criação de 
RPPN.
Município Não tem recursos para isso, nem estrutura, não tem pessoal técnico 
capacitado para operacionalizar essas ações. A gestão municipal é 
mais voltada para o urbano e o espaço rural organizado.
Política
Ação preser-
vacionista
A fragilidade deles está na ênfase na questão ambiental aliada à infra-
estrutura precária unificada a omissão do Estado, o qual não tem in-
vestimento e nem fundo cultural para essas comunidades. Os caiçaras 
rurais encontram-se em uma situação preocupante, porque o olham 
para eles como separados da natureza.
Capitalismo O capitalismo faz com que elas percam a identidade, e os meios de 
trabalho.
Fonte: Ferreira (2010).
Os atores responsáveis pela fiscalização que atuam no âmbito do 
Município de Guaratuba acreditam que a criação da APA amplia a visibi-
lidade dessas famílias e promove uma melhoria na sua condição de vida, 
embora exija também maior fiscalização. No entanto, identificou-se um 
desconhecimento dos próprios atores municipais em relação à APA, pois 
uma Secretaria indicou que a criação da APA melhorou muito a vida das 
famílias rurais extrativistas, o que demonstra uma falta de conhecimen-
to da realidade.
Ocorreu um forte investimento na APA em relação ao aparato do 
equipamento público para a fiscalização da área protegida (instalações 
novas, carros, equipamentos e uniformes). Alguns entrevistados revela-
ram que, em nome do meio ambiente, o modo de vida dessas comuni-
dades tem sido destruído, pois não há investimento na melhoria da qua-
25
TERRA INVáLIDA, GENTE INVISíVEL
lidade de vida, apenas na fiscalização para a conservação da natureza, 
voltada para a repreensão dessas comunidades. Afirmam que deveriam 
existir investimentos privados e públicos a fim de melhorar as condições 
de vida das comunidades residentes na APA.
Os investimentos que ocorreram no Paraná no período de 1997 a 
2007, por meio de um programa chamado Pró-Atlântica, financiado pelo 
banco alemão KFW, tiveram como objetivo a preservação e conservação 
da Floresta Atlântica. Foi escolhido o litoral do Paraná justamente por ser 
um dos locais maiores e mais bem conservados da Floresta Atlântica no 
Brasil, e por ser uma das unidades de conservação com rica biodiversi-
dade. Foi um investimento de mais de cinqüenta milhões de euros, em 
dez anos. A política estabelecida por meio desse investimento privado 
teve como finalidade o controle e regulação sobre as famílias caiçaras, 
principalmente em relação ao seu modo de vida.
A melhoria no modo de vida das famílias caiçaras, no entanto, so-
mente será possível se as instituições públicas desenvolverem uma visão 
socioambiental em relação aos territórios ocupados por elas (SANTILLI, 
2005). As relações estabelecidas atualmente ocorrem por meio de um 
distanciamento das realidades dessas comunidades, sendo que o Esta-
do apenas aparece como instituição de regulação (como por exemplo, 
por meio do IAP) ou de controle e multa (por meio da Polícia Ambiental 
Força Verde). Essas ações culminam também em limite para ação extra-
tivista sustentável pela falta de diálogo, entre as comunidades e Estado, 
para o estabelecimento de regras claras, e também pela necessidade 
que as famílias possuem de acessos a outros recursos, além dos naturais 
disponíveis na Mata Atlântica. Esse cenário oportuniza para que as famí-
lias tornem-se ainda mais marginalizadas e exploradas pelos intermedi-
ários, permanecendo em um ciclo perverso de pobreza (BELCHER, 2005, 
BALZON, 2006, VALENTE, 2009, FERREIRA, 2010).
A partir dos estudos do projeto de extensão “Cultura e Identidade”, 
identificaram-se os mesmos elementos que Cristina Adams encontrou 
no litoral paulista. Adams (2002) relatou que as populações locais da Flo-
resta Atlântica sempre ocuparam uma posição político-econômica peri-
26
LITORAL DO PARANá - REFLExõES E INTERAçõES
férica e, nas últimas décadas, sofrem com a perda do seu modo de vida 
(agricultura, pesca e artesanato) devido aos processos de criação das 
Unidades de Conservação. As mudanças na paisagem rural promovem 
o fortalecimento da exclusão histórica e sócio-ambiental das comunida-
des rurais litorâneas.
No tocante à forma que estão estruturados os acessos para os di-
álogos das comunidades com as instituições governamentais e como 
eles enxergam as políticas públicas do Estado do Paraná, observa-se que 
os atores governamentais consideram que essas políticas impactaram 
mais negativamente que positivamente nessas comunidades.
A questão das políticas públicas voltadas para o litoral paranaense 
na análise dos próprios autores foi mais danosa que benéfica, quando 
ocorreram. O principal problema apontado está na falta de entendimen-to do Estado em relação à lógica do caiçara. A realidade do modo de 
vida e dos laços sociais que a permeiam, assim como as características 
específicas que os caiçaras possuem, precisa ser considerada na elabora-
ção das políticas públicas. No entanto, os atores institucionais não con-
seguem desenvolver esse diálogo necessário. Evidenciou-se que apenas 
dois programas do governo estadual apresentaram impactos positivos 
(Quadro 3).
Quadro 3. Evidências do papel das políticas e seus impactos nas comunidades.
Ações Frases das entrevistas Impacto 
Interferência do Estado
Projeto 
Universidade 
Sem Fronteiras
Este projeto trabalha na área social e produtiva na ideia 
do Mutirão, estudar como funciona e propor para eles a 
partir da prática e não da lógica de mercado. Promove o 
diálogo e reforça nas pessoas do meio rural a capacidade 
de acessar recursos.
Positivo
Falta de 
Integração
Paraná 12 meses. Política de cima para baixo, sem integra-
ção. Seria necessário analisar a realidade para entrar com 
projetos com aceitação da comunidade. Porém é muito 
difícil de trabalhar desse modo, não temos funcionários.
Negativo
Ausência do 
Estado
O Estado está ausente e despreparado para atuar nas co-
munidades tradicionais. E quando intervém como política 
pública geralmente ele é mais danoso do que benéfico.
Negativo
Fonte: Ferreira (2010), continua
27
TERRA INVáLIDA, GENTE INVISíVEL
Ações Frases das entrevistas Impacto 
Interferência do Estado
Diálogo por 
meio de 
associação
Falta gente para dialogar com esse pessoal mais distan-
te, é preciso uma correlação de formas de organização 
para formar conselhos e associações. E o que é ruim, é 
que quanto maior a condição de pobreza menor é o po-
tencial de reivindicação.
Negativo
Fiscalização
Falta de 
diálogo
As restrições para o atendimento de demanda ambiental 
e privado sem diálogo com as comunidades tradicionais 
acarretam punição aos caiçaras a fim de prevenções in-
fundadas para a proteção do meio ambiente.
Negativo
Tarefa de 
repressão
A cada 40 profissionais na fiscalização (federais e estadu-
ais), temos no Estado 3 profissionais (entre agrônomo do 
Município e técnico da EMATER) para práticas agrícolas. 
Muitos para fiscalizar e poucos para fomento. É preciso 
mudar isso.
Negativo
A tarefa tem sido de repressão do que integração, menos 
de conscientização sobre a preservação de uso sustentável.
Negativo
Política social
Políticas 
organizadas
Ação do Estado positiva em Serro Azul (PR). Existe um 
conjunto de agricultores organizados que se beneficiam 
das políticas específicas. Quando se organiza, consegue 
acessar o Estado.
Positivo
Precariedade no 
atendimento ás 
comuni dades 
do campo
Há precariedades no acesso às estradas; comunicação, 
saúde, escolas e assistência técnica não chegam a essas 
comunidades, mas a fiscalização se faz presente.
Negativo
Unidade de conservação e Legislação ambiental
Facilitador 
do acesso as 
políticas
Os acessos às políticas promovem desenvolvimento nas 
comunidades, mas ficam apenas limitadas ao que já tem. 
Porém, essas políticas não têm a abrangência necessária.
Negativo
Dicotomia ho-
mem e nature-
za dificultam 
a sustentabili-
dade cultural e 
ambiental
O método de subsistência tradicional serve para ali-
mentar a família. No entanto, isso é visto como forma de 
degradação ambiental pela legislação. É preciso que o 
Estado mude o jeito de conceber o rural.
Negativo
Sociedade civil e perfil da comunidade caiçara
Projetos in-
coe rentes com 
a realidade e 
falta de infor-
mação
O técnico costuma aplicar projetos que não se adequam 
à lógica de sobrevivência caiçara.
Negativo
Representati-
vidade
Clientelismo e personalismo nas ações políticas. As pes-
soas empobrecidas têm dificuldades na escolha de seus 
representantes; o voto virou moeda de troca. Outra forte 
influência é a igreja, gerando movimento de organização.
Negativo
Fonte: Ferreira (2010).
28
LITORAL DO PARANá - REFLExõES E INTERAçõES
Os impactos negativos foram relacionados à falta de integração, di-
álogo, falta de associação e conscientização política das comunidades 
caiçaras, ou seja, uma invisibilidade sobre a realidade dessas famílias e 
também por uma falta de acesso para o desenvolvimento de suas capa-
cidades (BEBBINGTON, 1999).
No entanto, para esses atores municipais, o Município é pequeno 
demais para o planejamento e a organização do desenvolvimento rural, 
porém o Estado também não tem condições de conhecer todas as ne-
cessidades e as heterogeneidades existentes no litoral do Paraná. Dessa 
forma, salienta-se a falta de diálogo entre esses atores, o que leva a de-
senvolver políticas públicas de gabinetes por planejadores que desco-
nhecem as especificidades locais.
Quanto a esse cenário, os atores municipais expressaram que os 
problemas relacionados à eficiência das políticas públicas encontram-se 
principalmente em relação ao acesso e conhecimento das famílias no li-
toral (Figura 2) e à falta de funcionários para estabelecer esses processos, 
tanto de comunicação com as famílias, como com os órgãos do Estado.
Figura 2. Fatores que contribuem para a ineficiência das políticas públicas nas comuni-
dades rurais litorâneas e posicionamento dos atores governamentais.
Estudo distante das comunidades
Fraqueza institucional
Política Vertical
Determinista Propositivo
30%
30%
40% 67%
33%
Fonte: Ferreira (2010).
Como resultado, observa-se no Município falta de estrutura e capaci-
tação técnica dos atores governamentais locais e atenção a essas comuni-
dades desassistidas. No Estado do Paraná, a falta de funcionários técnicos 
para estabelecer essas alianças, assim como as mudanças de governo, 
inibe a continuidade de programas em escala regional e nacional. No go-
29
TERRA INVáLIDA, GENTE INVISíVEL
verno Federal, as elaborações de políticas púbicas padronizadas não con-
sideram a heterogeneidade das comunidades litorâneas do Paraná.
Na perspectiva socioambiental, para a formulação de políticas públi-
cas mais próximas da realidade caiçara, é necessário o reconhecimento da 
floresta cultural. Este conceito parte do pressuposto que as famílias caiça-
ras secularmente vivem na floresta com diversas práticas sociais, as quais 
merecem ser reconhecidas e valorizadas pelos poderes públicos ao pla-
nejar políticas para o território. Dentro deste conceito de floresta cultural, 
Furlan (2006) apresenta que as florestas culturais ou sociais, aquelas mane-
jadas pelas populações locais, compreendem-se como espaço onde essas 
populações vivem a sua territorialidade e usam seus recursos por meio de 
práticas passadas entre gerações. No entanto, observa-se que ainda nos 
dias de hoje essa territorialidade não é reconhecida nos instrumentos le-
gais de proteção e conservação de florestas, embora se saiba que as flo-
restas nunca foram espaços vazios. O reconhecimento da floresta cultural 
e a identidade das comunidades caiçaras direcionam-se para a construção 
de uma gestão da floresta como um todo e implica reconhecer também a 
importância da multifuncionalidade no ecossistema florestal.
É preciso que os agentes envolvidos nessas políticas consigam en-
xergar a multifuncionalidade também das famílias na Mata Atlântica, pois 
seu reconhecimento envolve dimensões que contribuem para o futuro 
do território, como a dimensão econômica, sociocultural, institucional e 
ambiental. Os agentes governamentais não podem considerar apenas a 
dimensão econômica, mas sim aquela que melhor representa o modo de 
vida dessas comunidades.
Para a ação extrativista de forma sustentável pelas comunidades 
rurais, torna-se necessário que ela ocorra como complementaridade no 
orçamento da Unidade familiar desenvolvida dentro de diversas outrasatividades. Por isso, o conceito de pluriatividade torna-se tão importante, 
assim como de multifuncionalidade das famílias no meio rural, como cui-
dadores da floresta e portadores de uma herança cultural de um modo de 
vida. Infelizmente, hoje os interesses dos atores governamentais se vol-
tam apenas para agricultores organizados dentro de uma perspectiva de 
produção agrícola empresarial, com pouca manifestação comunicacional 
30
LITORAL DO PARANá - REFLExõES E INTERAçõES
no local para se conhecer e estudar as possibilidades de melhoria de vida 
dessas famílias extrativistas.
Embora exista a questão ambiental e agrícola nessas regiões con-
sideradas como Unidades de Conservação de uso sustentável, as aten-
ções e as políticas estão centradas no quesito conservação da natureza 
e exclui o ser humano, já que a UCs como APA têm sua atenção na biodi-
versidade e não na sociodiversidade.
Nesse sentido, considera-se que a conservação da natureza foi tam-
bém alterada por essa política de incentivo à formação de florestas de 
Pinus e eucaliptos, ocasionando uma mudança no território (em sua bio-
diversidade e sociodiversidade) das famílias caiçaras. Essa ênfase dada às 
empresas de reflorestamento, com o enfoque no crescimento econômico 
do país na década de setenta, desconsiderou as comunidades rurais que 
ocupavam há tempos essas áreas. Tais políticas tiraram das famílias o aces-
so ao recurso natural – as terras - para o cultivo de diversas culturas. Isso 
também gerou uma relativa instabilidade psicossocial nas famílias, no to-
cante ao significado de seu trabalho e sua vida (FERREIRA, 2010).
Há uma clara distância entre o ideal e o real na percepção dos ato-
res governamentais, manifestada sobre as políticas públicas necessárias 
e possíveis às comunidades rurais com atividades extrativistas a fim de 
que as mesmas possam permanecer na Mata Atlântica (Figura 3). Isso de-
monstra que o caminho para uma possível visibilidade das comunidades 
caiçaras depende, em grande parte, de uma nova postura do Estado.
Figura 3. Sugestões dos atores governamentais sobre políticas públicas necessárias às 
comunidades com atividades extrativistas.
60,34%
12,08%
10,34%17,24%
Nova postura do Estado Geração de emprego e renda
Educação diferenciada Acesso a direito e a cidadania
Fonte: Ferreira (2010).
31
TERRA INVáLIDA, GENTE INVISíVEL
Os atores governamentais acreditam que, em primeiro lugar, é pre-
ciso realizar uma mudança na postura do Estado em relação às comu-
nidades rurais extrativistas, como: revisões na legislação ambiental, re-
gularização fundiária, divulgação do conhecimento tradicional, políticas 
públicas que incentivem e financiem pesquisas voltadas para a concilia-
ção da permanência de agricultores familiares com as UCs, trabalhos de 
parceria entre Universidade e Estado e decisão em relação à erradicação 
da pobreza no meio rural.
Com relação às sugestões dos atores governamentais sobre políticas 
públicas necessárias às comunidades com atividades extrativistas, consta-
ta-se uma postura acomodada por parte dos agentes estatais, eis que, em 
última instância, eles são agentes do Estado e “sabem muito bem o que 
fazem”, conforme expressão do filósofo contemporâneo Zizek (1992).
No tocante à abordagem proposta por Bebbington (2005) sobre os 
programas, leis e políticas de desenvolvimento criados pelos dirigentes 
das instituições estaduais - e como elas afetam o meio de vida dessas co-
munidades rurais -, observou-se que, no caso em análise do Paraná, o Go-
verno Federal gerou impacto nas famílias caiçaras por conta de ações es-
tabelecidas na década de setenta. Nesse período foram criadas políticas 
de desenvolvimento via programas de incentivos fiscais (Lei 5.106/1966), 
voltadas para a valorização de florestas plantadas como a de pinus. Essas 
políticas fomentaram mudanças de paisagem na Mata Atlântica em rela-
ção ao uso da terra pelas famílias caiçaras, que hoje estão encurraladas 
pelas empresas de reflorestamento na APA de Guaratuba.
Em suma, no Paraná, a conservação da natureza foi primeiramente 
alterada em razão da política de incentivo à formação de florestas de 
pinus, ocasionando severas mudanças no nível local (território da famí-
lia). Em outros termos: não foram as populações locais que alteraram a 
paisagem da Mata Atlântica, mas o próprio Estado, ao atender aos inte-
resses econômicos de grupos internacionais.
Corona (2006), ao estudar a vida comunitária rural da região me-
tropolitana de Curitiba-PR, encontra transformações semelhantes no 
território ocasionadas pela interferência de grupos econômicos com 
32
LITORAL DO PARANá - REFLExõES E INTERAçõES
investimento em derrubada de mata nativa para o reflorestamento 
(Comfloresta – Grupo Brascam do Brasil), somado à presença opressora 
da fiscalização nas áreas protegidas. Independente da região, as ações 
das instituições sempre impactam na vida das famílias no meio rural, 
seja positiva ou negativamente.
No litoral paranaense, segundo Gruntowski (2005), a parceria finan-
ceira entre o Governo da Alemanha, por meio de seu agente financiador 
– o Banco KFW – e o do Paraná até o ano de 2004, gerou um investimento 
no valor de R$ 40 milhões para o programa de preservação, conservação 
e recuperação da Floresta Atlântica paranaense. A área de abrangência 
do Programa corresponde a uma área de 12 mil quilômetros quadrados, 
incluindo no programa quinze Municípios do Paraná. Todos na perspec-
tiva de fiscalização e controle, pois o programa não previa investimentos 
para processos sócio-educativos com as comunidades em uma perspec-
tiva de troca de saberes acerca da floresta e sua conservação.
Segundo Santos (1997), um Estado-regulador precário na organiza-
ção e conhecimento da administração pública no estabelecimento de 
suas ações desenvolve uma assimetria em relação aos serviços prestados 
e à informação para o uso do dessas ações. Os recursos provenientes da 
criação da APA, como o repasse do ICMS-Ecológico, não são acessados 
ou utilizados pelas comunidades da floresta, embora o exercício efetivo 
da cidadania exija o fomento da capacidade de publicizar as instituições 
governamentais e estabelecer práticas democráticas cotidianas (LOU-
REIRO et al., 2004). A falta de um programa específico e transparência no 
uso dos repasses financeiros para as UCs possibilitam que tais recursos 
sejam utilizados nas despesas gerais do Município. A ênfase dos recursos 
está na fiscalização, diminuindo os investimentos em infra-estrutura ou 
processos de organização das comunidades. Os investimentos públicos, 
nesse setor, são direcionados à fiscalização, à formação de conselhos e a 
discussões sobre os planos de conservação.
Por fim, a pesquisa desenvolvida nos últimos três anos com as co-
munidades locais e no ano de 2009 com os atores governamentais, 
apresentou um cenário de invisibilidade das famílias caiçaras que, em 
33
TERRA INVáLIDA, GENTE INVISíVEL
grande parte, também está relacionada com a situação de opressão des-
tas famílias nas últimas décadas. O fato dos membros da Comunidade 
serem posseiros e iletrados - valendo-se apenas da oralidade, dos cos-
tumes e da boa-fé - acaba por limitar as possibilidades de organização 
social para a formulação de políticas públicas que objetivem maiores 
mudanças à longo prazo. Isso implica que, no complexo sistema político 
de formulação e execução de políticas públicas por parte do Estado (que 
inclui os diversos interesses de grupos privados organizados), os caiça-
ras não possuem força suficiente para terem suas demandas atendidas. 
Por outro lado, os atores governamentais mostram-se (até certo ponto) 
sensíveis às condições de vida dos caiçaras, reconhecendo os conflitos 
atuais, porém, atuam conforme uma agenda que objetiva apenas a fis-
calização e respostas às demandas urgentes, formuladaspor grupos de 
interesses organizados frente ao Estado.
Diante deste quadro, é preciso perseverar o estudo sobre a mútua 
relação entre a distribuição econômica, a distribuição ecológica e a dis-
tribuição do poder político. Enfim, avançar nos estudos da ecologia polí-
tica (MARTÍNEZ ALIER, 1998), com o escopo de reverter tal cenário social 
através do empoderamento dos caiçaras, mediante a aproximação entre 
a universidade e as comunidades tradicionais, e conseqüente conscien-
tização dos agentes governamentais acerca de tal realidade através da 
publicização dos problemas e assimetrias aqui discutidos.
Considerações Finais: Identificado o Problema, Como Mudar o 
Cenário Atual?
O propósito central deste artigo foi o de analisar as percepções e 
visões dos atores governamentais do âmbito local, Estadual e Federal 
sobre as comunidades rurais com atividades extrativistas, estabelecidas 
em Unidades de Conservação, assim como o seu entendimento sobre as 
políticas públicas existentes e seus impactos nessas famílias caiçaras.
Ao privilegiar o prisma destes agentes pouco investigados pela lite-
ratura, o presente estudo procurou inverter o enfoque tradicionalmente 
34
LITORAL DO PARANá - REFLExõES E INTERAçõES
utilizado para a investigação acerca do meio de vida rural sustentável. 
Com esta inversão investigativa foi possível problematizar diversos as-
pectos ressaltados pela literatura em relação ao comportamento gover-
namental diante da questão ambiental e das comunidades tradicionais 
caiçaras. Neste sentido, o primeiro aspecto apresentado neste estudo de 
campo, pautado pela abordagem da Teoria Fundamentada, foi a consta-
tação que a aplicação do SNUC como instrumento poderá propiciar às 
populações rurais tradicionais, que vivem em unidades de conservação, 
uma possível noção de protagonismo, ou seja, que saiam da situação de 
invisíveis que hoje se encontram. No entanto, a pesquisa apresenta que 
este é um longo caminho, já que esses grupos pertencentes a comuni-
dades rurais com atividades extrativistas, não conseguem participar da 
formação da Agenda, ou seja, ainda não possuem mobilização política 
necessária para manifestar suas demandas.
Com efeito, foi possível identificar que a valorização da sociodiversi-
dade e o fortalecimento da organização das populações tradicionais, 
conferindo-lhes visibilidade, inclusão social, exercício da cidadania e a 
promoção da justiça social, ainda não estão contemplados por meio de 
programas do Estado do Paraná ou por meio de políticas locais de valo-
rização da cultura caiçara. Essa situação reflete o paradigma da moderni-
dade abordado por Santos (1997), onde o Estado manifesta uma tensão 
dialética entre a regulação social e a emancipação social dividindo-se 
ora como Estado-regulador, ora Estado-providência.
Embora as unidades de conservação de uso sustentável tenham 
sido consideradas como institutos importantes para a interação ho-
mem-ambiente em determinados territórios, como apresentado nas 
narrativas dos atores governamentais, a busca de seu fortalecimento e 
a construção de espaços que desenvolvam processos que envolvam as 
comunidades, a fim de se alcançar um meio de vida socialmente justo e 
equitativo, ainda não foram contemplados.
Por fim, urge a elaboração de políticas públicas de longo prazo pau-
tadas na educação e participação política dessas comunidades caiçaras, 
caso o Paraná deseje, de fato, promover justiça social e ambiental. Esta 
35
TERRA INVáLIDA, GENTE INVISíVEL
pode ser pautada no envolvimento sustentável apresentado por Viana 
(1999), no qual se destaca a importância do dialogo legitimo para a con-
servação das florestas pelo reconhecimento e valorização das comu-
nidades caiçaras. A inércia dos agentes governamentais pode resultar 
em graves danos a essas comunidades rurais, já desestruturadas pelas 
limitações produtivas e pela perda de identidade, em especial com seus 
tradicionais vínculos com a terra.
É preciso levar os caiçaras a sério e agir.
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Violência doméstica contra 
mulheres no Litoral do Paraná:
olhares a partir um projeto de 
ensino/pesquisa/extensão
Nadia Terezinha Covolan1
Daniel Canavese de Oliveira2
Marcos Claudio Signorelli3
Introdução
O presente artigo discute aspectos de um projeto de ensino/pes-
quisa/extensão intitulado “Mapeamento e estabelecimento de redes de 
conscientização e defesa dos direitos das mulheres no combate à vio-
lência doméstica nos municípios do Litoral do Paraná”, implantado no 
biênio 2007-2009 por docentes e discentes da UFPR Litoral e profissio-
nais recém graduados.
A violência está hoje entre as maiores causas de morbidade e mor-
talidade de muitos países do mundo, incluído nesse grupo o Brasil 
(WAISELFISZ, 2008). Em meio a diversas formas de violência, discutimos 
neste texto, uma das manifestações da violência de gênero: a violência 
doméstica contra mulheres.
Oliveira (2005) relata que a violência se apresenta de forma diferen-
te para homens e mulheres. Argumenta que o homem sofre a violência 
majoritariamente nas ruas, nos espaços públicos, em geral, praticada 
por outros homens que lhe são estranhos. Enquanto isso, as mulheres 
sofrem predominantemente a violência masculina, ou seja, perpetra-
da por homens, dentro de casa, no espaço privado. Seus agressores 
são com frequência o namorado, marido, companheiro ou ex-cônjuge. 
1 Enfermeira, Filósofa, Doutora em Ciências Humanas e Professora da UFPR Litoral. E-mail: nadiathe@gmail.com.
2 Odontólogo, Mestre em Saúde Coletiva e Professor da UFPR Litoral. E-mail: daniel.canavese@ufpr.br.
3 Fisioterapeuta, Mestre em Fisiologia e Professor da UFPR Litoral. E-mail: sarcosina@yahoo.com.br.
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LITORAL DO PARANá - REFLExõES E INTERAçõES
Nesse caso é chamada “violência por parceiro íntimo”, pois é praticada 
no interior de uma relação conjugal. Alguns autores, como Schraiber et 
al. (2005), consideram o termo “violência doméstica”, pois comumente 
ocorre no espaço doméstico, no seio das relações familiares. Importante 
ressaltar que mulheres com orientação sexual homossexual ou bissexu-
al também podem ser vítimas de violência doméstica ou violência por 
parceira íntima (DONOVAN et al., 2006), embora os relacionamentos he-
terossexuais parecem refletir uma maior assimetria de poder entre ho-
mens e mulheres, resultando em sérios agravos à essas mulheres.
A violência doméstica contra as mulheres é tema antigo, grave e 
persistente. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que uma en-
tre três mulheres no mundo é, já foi ou será um dia vítima de violência 
doméstica (KRUG et al., 2002). A invisibilidade do problema e os desca-
sos com as graves conseqüências, que atentam a elementares direitos 
humanos, são frutos da naturalização da submissão feminina que per-
passa a sociedade sexista, heteronormativa e homofóbica. Questões de 
poder, de poderes, permeiam as relações e as representações dos gêne-
ros, influenciando fortemente a violência contra mulheres nos âmbitos 
doméstico, urbano, no trabalho, dentre outros.
Essa violência física e moral, naturalizada por muitos séculos, tem 
sido denunciada e visibilizada nos últimos anos, decorrente especial-
mente das lutas feministas e de direitos humanos. Diversos grupos, liga-
dos ou não a instituições de defesa de direitos, por exemplo, Academia, 
Organizações Não-Governamentais (ONGs), ou mulheres e homens in-
dividualmente, têm contribuído para a exposição desse drama humano 
que necessita ser extinto. Refere-se que, ao lado da visibilização, o que 
está ocorrendo é um aumento de registros de casos de violência contra 
mulheres, o que torna essa reflexão e abordagem o fulcro de qualquer 
proposta de desenvolvimento ou de projeto de melhoria de qualida-
de de vida com justiça de gênero. Assim, iniciamos contextualizando o 
tema de nosso trabalho.
O cenário de desenvolvimento desse projeto é o Litoral do Paraná. 
A região abrange sete municípios, a saber: Antonina, Guaraqueçaba, 
Guaratuba, Matinhos, Morretes, Paranaguá e Pontal do Paraná e uma 
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VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA MULHERES NO LITORAL DO PARANá
população

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