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O Mecanismo da Vida Consciente Carlos Bernardo Gonzalez Pecotc

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de oferecer conteúdo para uso parcial em pesquisas e estudos acadêmicos, bem como o simples
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intelectual de forma totalmente gratuita, por acreditar que o conhecimento e a educação devem
ser acessíveis e livres a toda e qualquer pessoa. Você pode encontrar mais obras em nosso site:
LeLivros.us ou em qualquer um dos sites parceiros apresentados neste link.
"Quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento, e não mais lutando por dinheiro e
poder, então nossa sociedade poderá enfim evoluir a um novo nível."
Sumário
 
Prólogo
1
Nervosismo ambiente.
Fracasso das correntes intelectuais que no curso do tempo se moveram em torno da figura
humana.
A Logosofia assinala erros e anuncia o despontar de uma nova aurora para o homem.
2
Busca infrutífera do saber.
A Logosofia abre novas possibilidades para as atividades da inteligência e do espírito
3
Nova rota para a realização da vida e destino do homem.
Importância das defesas mentais na preservação e condução da vida.
4
Causa primeira ou criação do cosmo.
A lei de evolução gravitando no processo de superação consciente.
Referência aos processos da Criação.
5
Noções que preparam a investigação interna.
Vida e destino do homem.
 6
Três zonas acessíveis ao homem: interna, circundante e transcendente.
7
Método logosófico.
Aspectos de sua aplicação ao processo de evolução consciente.
8
Sistema mental.
As duas mentes.
Intervenção do espírito no funcionamento e uso do sistema mental.
Atividade combinada das faculdades da inteligência.
9
Gênese, vida e atividade dos pensamentos.
O pensamento como entidade autônoma.
Função do pensamento-autoridade.
10
O espírito.
Sua manifestação e influência na vida do homem.
Verdadeira função do espírito.
11
Campo experimental.
Experiências internas e externas.
Necessidade de orientações precisas e certas na experiência individual consciente.
12
O humanismo como aspiração recôndita do ser.
Projeções do humanismo logosófico.
13
A mística, atitude sensível da alma.
Aspectos diversos de sua configuração estética.
14
O homem pode ser seu próprio redentor.
Evitar o cometimento de faltas ou erros é um princípio de redenção.
Parte Final
Prólogo
 
 
Quando se focalizam temas de tão vital importância para o conhecimento dos homens, é
necessário respaldar as palavras com uma garantia indiscutível. Em nosso caso, essa garantia
fica estabelecida desde o instante em que declaramos - com as evidências mais formais da
experiência que tem confirmado reiteradamente nossas asseverações - que os conhecimentos
inseridos neste livro têm sido rigorosamente aplicados na vida de centenas de estudiosos, com o
mais auspicioso dos êxitos. Isto servirá para destacar que o que vem expresso em suas páginas
não são belas palavras nem ilusórias conjecturas, semelhantes às contidas naquela literatura a
que os divulgadores da filosofia oriental e ocidental, antiga e moderna, tanto nos haviam
acostumado. Não se trata de uma teoria a mais que se acrescenta ao enorme acervo conhecido,
mas sim de uma realidade que opera sobre os entendimentos, apresentando conclusões precisas,
fatos irrefutáveis e verdades irremovíveis. É a nossa uma nova concepção do homem e do
Universo, a qual, por sua profundidade, lógica e alcance, se converte de fato em Ciência da
Sabedoria. Esta ciência é capaz de transformar, com seu método original, a vida dos homens,
dando-lhe um conteúdo, uma amplitude e possibilidades jamais desfrutadas até hoje no seio da
família humana.
 
A Logosofia inaugurou a era da evolução consciente e, graças ao processo de superação que seus
preceitos estabelecem, cada um poderá alcançar as máximas prerrogativas concedidas ao seu
ser psicológico, mental e espiritual e, ao mesmo tempo, conhecer as potências criadoras de sua
mente, que são os agentes diretos e insubstituíveis do equilíbrio, da harmonia e da potestade
individual.
 
Não veio esta ciência para ensinar o que se sabe, mas sim o que se ignora; tampouco veio indicar
o caminho do aperfeiçoamento a quem já o tenha percorrido, nem proporcionar a felicidade aos
que já a desfrutam. Feita essa ressalva, este livro poderá ser lido sem prevenções, porque cada
qual saberá, diante dos novos conceitos e afirmações, colocar-se no lugar da escala hierárquica
que a seu juízo lhe corresponda por sua evolução, sem se considerar incluído entre os que,
caracterizando estados mentais e psicológicos determinados, tomamos para referência e estudo
nesta obra.
 
A enorme dessemelhança que existe entre uma e outra mente não impede que nosso
ensinamento se manifeste com prodigiosa adaptabilidade a cada entendimento, mas, como é
lógico, as mentes educadas na disciplina e na cultura conseguem assimilá-lo mais rapidamente,
sempre que não estejam anquilosadas por preconceitos ou por crenças inculcadas às vezes desde
a infância, já que, ao não existir flexibilidade mental, o ensinamento sofre graves inconvenientes
em sua função construtiva. Não é tampouco suficiente credencial, para abranger os grandes
conteúdos da sabedoria logosófica, uma mente ilustrada e culta, ou uma mente adestrada no
campo da ciência, da literatura ou da arte, se essa mente, por força de só insistir no trato com as
coisas externas, já se tiver tornado fria e insensível. O conhecimento logosófico não deve ser
apenas compreendido, mas também sentido no fundo da alma; e é compreensível que assim
deva ocorrer, porque ele é dirigido ao interior do ser. Ali, no mundo interno do indivíduo, é onde a
verdade do seu conteúdo se manifesta, captada pela sensibilidade, que sempre se antepõe à
razão. A capacidade receptiva da sensibilidade é mais rápida e eficaz; percebe velozmente a
proximidade de uma verdade, antecipando-se à razão e ao entendimento em seus lentos e
refinados procedimentos analíticos, motivo pelo qual se poderia considerá-la como o radar
psicológico do homem, capaz de captar ou de denunciar verdades próximas ou distantes.
 
Dentre os detalhes que poderiam chamar a atenção do leitor, vamos destacar um que
consideramos de interesse e importância. A verdade logosófica é por natureza indivisível, de
modo que, se falamos de evolução, devemos reportar-nos a cada um dos pontos capitais do
ensinamento; por exemplo: mente, sistema mental, método, pensamento, etc. O mesmo ocorre
quando tentamos tratar isoladamente de qualquer desses temas: não podemos prescindir dos
demais, pois estão todos tão estreitamente ligados que se torna impossível isolá-los. Isso dá ideia
da singularidade e unidade de nossa ciência. Sem esta advertência, talvez não se pudesse
compreender por que, nos estudos de Logosofia, é seguida uma ordem diferente da comum.
Sabemos, e a experiência o tem demonstrado, que quem penetra nos conhecimentos que
expomos encontrará mais bem esclarecida esta ressalva, que rompe com a rotina e mostra essa
singularidade que acabamos de mencionar.
 
As exposições que O MECANISMO DA VIDA CONSCIENTE oferece ao leitor têm por
finalidade estender o movimento logosófico de superação, bem como o esclarecimento dos
pensamentos e ideias que o alentam, a todos os campos da atividade humana, em particular os da
inteligência, a cujo juízo a Logosofia submete as verdades que lhe são consubstanciais.
 
Um quarto de século de fecundas experiências e realizações, documentadas na própria
consciência de cada logósofo que abraçou confiante as excelências de nossa concepção, é o
testemunho mais fidedigno e legítimo que o autor pode oferecer ao mundo, para quea
humanidade se oriente decidida pelo único caminho que pode conduzir os homens à paz de seus
espíritos, ao enobrecimento de suas vidas e à fraternidade universal, que é para as aspirações
humanas um ansiado desiderato.
 
Diante da desorientação ou, melhor ainda, do caos espiritual que assola grande parte do mundo,
produto da efervescência de ideias extremistas que ameaçam a independência mental do
indivíduo e sua liberdade, que é seu direito imanente, e diante do esforço dos que governam a
política mundial, empenhados em encontrar formas de convivência e de paz, temos trabalhado
sem descanso na procura de soluções reais e permanentes, começando pela substituição de
certos conceitos totalmente inapropriados para a vida atual. Nossos esforços estiveram dedicados
a guiar o entendimento humano, levando-o ao encontro dessas soluções dentro do próprio ser, isto
é, dentro da esfera individual primeiro, para que o homem possa contribuir depois, junto com
outros semelhantes igualmente munidos de tão inestimáveis elementos de juízo, para o grande
esforço comum por resolver os complexos e tortuosos problemas que afligem a humanidade. O
tempo e a nossa perseverança em levar avante um movimento de tal transcendência dirão se
haverão de ser as gerações presentes, ou as do futuro, as que melhor respondam ao nosso
chamado, dispondo-se a ver, provar, sentir, experimentar e desfrutar os benefícios de um
descobrimento tão essencial para o homem de nossos dias: O MECANISMO DA VIDA
CONSCIENTE.
 
1
 
Nervosismo ambiente.
Fracasso das correntes intelectuais que no curso do tempo se moveram em torno da figura
humana.
A Logosofia assinala erros e anuncia o despontar de uma nova aurora para o homem.
 
 
Tão logo se observa a voragem da época atual, com seu nervosismo ambiente - calamidade
psicológica resultante da última conflagração bélica -, comprova-se que no imenso cenário do
mundo tudo se move, dança, gira vertiginosamente, às vezes com caracteres ciclônicos.
Contemplado de certo ângulo, assemelha-se a um imponente balé em perpétua mudança, cujas
figuras centrais cumprem maravilhosamente suas funções coreográficas, mas não podem ir
além da simulação alada de seus movimentos.
 
Com não pouco assombro, temos visto as correntes intelectuais multiplicarem-se através dos
tempos, e mais ainda nos dois últimos séculos, especialmente as que se relacionam com os
domínios do pensamento e da psicologia humana, sem que de sua seleção tenham surgido ideias
de evidente acerto a respeito da condução do homem em suas íntimas aspirações de
aperfeiçoamento. Na realidade, dessa confusão de teorias, dessa deslumbrante erudição posta
em jogo nas especulações filosóficas, metafísicas e psicológicas, nada restou de efetivo, embora
obrigue às gerações que estudam, isso sim, a estar em dia com o exposto pelos filósofos e
pensadores antigos e contemporâneos. Nada se perdeu, entretanto; a classe dileta e estudiosa, que
conhece ao pé da letra tudo o que foi publicado e dito até o presente sobre o assunto, tem uma
oportunidade magnífica: a de estabelecer a diferença substancial que existe entre os valores da
ilustração a que acabamos de nos referir e os do conhecimento transcendente, de efeitos reais e
permanentes, dos quais trataremos ao longo destas páginas.
 
Transportando a imagem para o grosso da comunidade, vamos encontrá-la vivendo no ritmo
agitado já descrito, mas com o acréscimo de um desalinho mental pouco edificante. As folhas de
papel impresso são devoradas por ela com insaciável avidez. Seu intelecto pareceria, inclusive,
ter adquirido um certo sincronismo, e até mesmo semelhança, com as rotativas que fazem girar
os gigantescos cilindros da imprensa. Os livros são lidos ali apressadamente, umas vezes com
frenesi, e outras para “matar o tempo” - segundo a frase habitual -, sem se pensar que, ao fazê-
lo, a vida se vai destruindo aos poucos, porque tempo que se perde é vida que passa sem
perspectivas de recuperação.
 
 A mediocridade atual - referimo-nos aos grupos bastante numerosos que não alcançaram uma
formação cultural respeitável configura uma linha ziguezagueante e curiosa, que vai desde o
ensaio até a audácia. Acaso já não se viu que muitos, animados pelo volumoso acervo de noções
esparzidas nas mais variadas publicações, acreditam ser possível manejar os séculos, as épocas,
as culturas e os conjuntos das mais complicadas abstrações, como se se tratasse de meros
conceitos perfeitamente determinados em seus alcances e conteúdos? Não temos visto também,
por exemplo, o espetáculo risível que seus lustrosos pensamentos, desgastados pelo uso,
apresentam? Com justa razão se pode afirmar que determinadas façanhas não são para qualquer
um ... Por outra parte, entre os que leem muito e escrevem, estão aqueles que costumam
apossar-se ingenuamente de frases e palavras, em troca do mínimo esforço que a leitura requer.
Quanto custa, às vezes, despojar-se dos hábitos instintivos do símio e também dos da raposa, que
engorda à custa do vizinho!
 
É lamentável observar a frondosidade e exuberância de muitas mentes ocupadas quase
continuamente em gerar pensamentos desta ou daquela espécie, ou de ambas ao mesmo tempo,
transfundidos em híbrido elemento intelectual. Todo esse enxame mental se nutre nas flores da
ilusão, de onde extrai sintético mel. As formosas flores da realidade jamais são vistas nos campos
teóricos. No plano das altas possibilidades humanas, a realidade não permite que a ficção, por
mais elevada que seja a sua artificiosa arquitetura mental, transponha os umbrais de seu mundo,
onde as mentes evoluídas tomam direto e íntimo contato com as grandes concepções universais
ou ideias-mãe, que engendram pensamentos luminosos.
 
A confusão reinante em matéria de princípios e conceitos relativos à psicologia humana faz
suspeitar, com alguma razão, que nada ainda se pôde tirar como conclusão de tão trilhado e
debatido tema. Isto não tem constituído obstáculo para que, nesse meio tempo, o quarto poder, e
até o livro, inundem o mundo com torrentes de frases e proposições, que um dia são sustentadas
com veemência e, no seguinte, substituídas por outras, novas, mais ousadas talvez, para que o
barulho que provoquem, tal como um sino em repiques propagandísticos, se torne auspicioso para
os interessados em difundi-las. Mas, quando centenas de livros e inumeráveis artigos já
abordaram um tema, este se converte em algo assim como uma pedra muito gasta, sobre a qual
é difícil talhar novas formas.
 
A Logosofia esculpe suas esculturas sobre pedra virgem; mais propriamente ainda, utiliza a argila
humana, porém dando-lhe consistência eterna. É a única, fora de qualquer dúvida, que descobre
verdades e concretiza realidades até aqui desconhecidas a respeito da conformação psicológica
do homem e do aperfeiçoamento de suas qualidades.
Diante da abundância de pensamentos desconexos, de ideias abstratas, sem apoio possível na
razão que as examina; diante do entrincheiramento das velhas e das novas crenças, que, apesar
disso, não resistem a uma análise sensata e consciente, a Logosofia desfralda a bandeira
revolucionária do pensamento contemporâneo, para dizer ao mundo que na mente humana, só na
mente humana, se há de achar a grande chave que decifre todos os enigmas da existência.
 
Nem sequer no campo das deduções e das analogias puderam os pensadores de outrora e de hoje
aproximar-se dessas verdades. Perdidos no labirinto das suposições e das hipóteses, trataram, não
há dúvida, de buscar todos os substitutos imagináveis do conhecimento de si mesmo, em vez de
dirigir o entendimento para concepções mais amplas da vida própria. É lógico que, quando o
prego é invisível, não existe possibilidade de acertá-lo ... Para vê-lo, é necessário limpar o
entendimento de toda enganosa ilusão de sabedoria; então, sim, ficará visível o que a ignorância
fez crer inexistente.
 
2
 
Busca infrutífera do saber.
A Logosofiaabre novas possibilidades para as atividades da inteligência e do espírito
 
 
O que tem movido o homem, desde que usa a razão, a buscar a verdade? O que mais atrai seu
entendimento e deleita seu espírito? A que tem ele dedicado seus maiores afãs, empenhos e
entusiasmos? O que lhe exige maiores sacrifícios, provas de constância, paciência e esforços? - O
saber.
 
O que mais o tem atormentado, entristecido e desesperado? - A ignorância.
 
Nada tem tido, na verdade, maior significação e importância para o gênero humano, na
consumação de seus altos destinos, do que o saber. Desde remotas épocas, o homem correu atrás
dele, buscando-o ali aonde sua imaginação, sua intuição ou pressentimento o levaram.
Paralelamente a essa busca, nasceram em sua mente as primeiras ideias e se gestaram os
primeiros pensamentos.
 
Os avanços iniciais em busca do saber tiveram lugar quando o ente humano, inquieto por
excelência, deu rédea solta à sua avidez, explorando e conquistando terras. Nessa empresa,
encontrou e descobriu muitas coisas que despertaram nele maiores ânsias de conhecimento.
Desde então, foi constante sua preocupação por alcançar o excelso pináculo da Sabedoria.
Escalou todas as alturas que pôde, tanto em ciência e arte como em filosofia e religião. Chegou,
inclusive, a descobrir os segredos da energia termonuclear, fabricando com ela as armas mais
tremendas e mortíferas; entretanto, para sua desventura, perdeu de vista o caminho que haveria
de levá-lo à presença de seu Criador, representado nos grandes arcanos da imensa realização
universal. Esse caminho é o da evolução consciente, que proporciona em seu percurso informes
diretos sobre tudo o que possa interessar ao espírito humano a respeito de sua origem, existência e
destino, em relação estreita com a Vontade Suprema.
 
Conhecendo-se a si mesmo, isto é, explorando seu mundo interno e descobrindo as maravilhas
que nele existem, o homem conhecerá seu Criador, mas isso será de conformidade com seu
avanço em direção à conquista desse grande e transcendental desiderato.
 
A Logosofia e seu método singular constituem a base inalterável do autoconhecimento. Cabe
assinalar que a essência dos conteúdos logosóficos foi extraída das profundas observações
realizadas, tanto nas recônditas sinuosidades do ente humano como na atividade incessante do
pensamento universal que alenta a Criação. Daí sua extraordinária força energética e dinâmica,
que impulsiona o processo de evolução consciente a partir do instante em que o investigador, por
própria vontade, aceita seguir as disciplinas logosóficas, imprescindíveis para assegurar a
eficácia do método.
 
Muitos ensinamentos aparecem aqui tratados sinteticamente e com palavras simples e
adequadas, a fim de que o esforço no aprofundamento se torne mais fácil e assegure os melhores
resultados, porquanto este livro foi especialmente preparado para dar ao leitor uma impressão
cabal da importância dos referidos ensinamentos e vinculá-lo de fato ao pensamento do autor.
Não obstante, se se deseje penetrar mais nos valores que a Logosofia expõe, poderão ser
encontrados nas demais obras publicadas todos os elementos para a obtenção de uma ideia exata.
Contudo, isso não bastará para a formação logosófica; será também necessário aprender como
se aplica o ensinamento à vida e como se exercitam os conhecimentos, quer na experiência
pessoal, quer na alheia.
 
Não será demais dizer que, embora a Logosofia se valha dos vocábulos correntes para dar a
conhecer este novo gênero de verdades, em sua linguagem eles adquirem singulares e
penetrantes significados, que diferem notadamente dos do léxico de nossa língua. Feita essa
ressalva, deverá entender-se que, quando dizemos “consciência” e dela nos ocupamos, não o
fazemos do ponto de vista corrente, adquirindo a referida palavra outro volume e esplendor. O
leitor perceberá que tal fato se reproduz em relação a cada termo importante: mente,
pensamento, espírito, inteligência, razão, imaginação, intuição, vontade, evolução, e tantos outros
que irão aparecendo no curso de nossa exposição.
 
Essa variação introduzida na terminologia não implica necessariamente uma desnaturalização de
sua expressão etimológica; muito pelo contrário, acrescentou-se aquilo que a juízo da Logosofia
lhe faltava, com o que seus conteúdos alcançam uma amplitude que dá vida e riqueza de
expressão às palavras. Não podia ser de outra maneira, uma vez que tudo é original nesta ciência
universal e única.
 
Entre as particularidades que distinguem a concepção logosófica, cujo fundo e lógica se baseiam
em sua profunda verdade demonstrável, a originalidade é, sem dúvida alguma, uma das que
mais comoção produz no sentir humano. Cabe destacar aqui o poder convincente dessa verdade,
o qual consiste em que, sendo tão simples, ninguém até hoje a havia descoberto. Contudo, onde
mais força nossa afirmação adquire é ao se experimentar a sensação de amplitude que seus
conhecimentos oferecem à vida, ao que se une a impressão de retidão e solidez de seus valores
éticos. Todo ser racional e consciente, que toma contato com nossa concepção, sente que ela toca
e comove sua própria realidade interna, e que não só satisfaz plenamente, com suas explicações,
os fatos incompreendidos da vida, mas também responde, com segurança, às indagações
pendentes, apresentando à inteligência outras mais profundas, que em seguida ajuda a
transformar em conhecimentos.
 
Se ainda tiver ficado alguma dúvida a respeito de tais asseverações, bastará para eliminá-la o só
enunciado de suas concepções sobre o sistema mental, sobre a gênese, atividade e autonomia dos
pensamentos, e sobre o processo de evolução consciente, ao que ainda faltaria acrescentar os
conhecimentos que dão verdadeira e elevada hierarquia ao espírito e abrem inteiramente para o
homem as portas de sua redenção moral, proporcionando-lhe as mais justas e viáveis
possibilidades de reabilitação, ao permitir-lhe refazer sua vida sobre bases graníticas e enriquecê-
la com fecundas realizações internas de superação individual.
 
A Logosofia traz uma mensagem que se plasma numa nova geração de conhecimentos, os quais,
por sua índole e finalidade, diferem completamente das verdades admitidas. Não tem, pois,
semelhança nem parentesco de nenhuma natureza com os sistemas ou teorias filosóficas ou
psicológicas conhecidas. Seu objetivo principal é fazer o homem experimentar a certeza de um
mundo superior: o metafísico, em cujos vastos e maravilhosos campos naturais pode encontrar
inesgotáveis motivos de regozijo, enquanto nele penetra e enriquece sua consciência com a
abundância dos novos e valiosíssimos elementos que encontra em seus continuados esforços pela
superação integral de si mesmo e pela conquista do bem. Esta realidade que a Logosofia faz o
homem viver é o resultado de um processo de evolução que deve ser realizado com o
imprescindível e insubstituível concurso da consciência individual despertada para esse fim
primordial.
 
Como se terá podido apreciar, a Logosofia não pretende ensinar nada do que o homem já sabe, e
sim do que ignora. Essa simples declaração a libera de mencionar, em seus textos, o que foi dito
ou enunciado por aqueles que, em suas respectivas épocas, se ocuparam em elucidar as questões
que, direta ou indiretamente, interessaram à inteligência em suas pesquisas sobre os mistérios do
espírito e da psicologia humana.
 
Como ciência dos conhecimentos que informam sobre as verdades transcendentes, a Logosofia
tem diante de si uma imensa tarefa a cumprir, ao encarar a mente humana tal como ela aparece
em sua particular concepção. Seu trabalho, a ser realizado nas mentes desde o momento em que
tomam contato com o ensinamento, requer grande consagração e paciência, surgindo daí, com
frequência, surpresas muito agradáveis. Nessas terras mentais semivirgens, que permitem ao
arado logosófico abrir profundos sulcos, costumam produzir-se verdadeiros milagres de
fertilidade.Por certo que os beneficiários estando, como devem estar, diretamente ligados ao
processo desse cultivo saberão administrar bens tão apreciados como os do conhecimento causal
ou transcendente.
 
As mentes, como as terras de lavoura convenientemente trabalhadas, podem proporcionar
excelente rendimento, mas será necessário ter em conta que a semente nelas lançada haverá de
ser oportunamente renovada, para evitar que seu fruto seja exíguo. Isto significa que, depois de
obter os primeiros resultados, não convém confiar demasiadamente neles, devendo-se recorrer
com a necessária frequência à fonte do saber logosófico, a fim de reunir novos conhecimentos,
os quais, ao mesmo tempo que contribuirão para enriquecer a terra mental, também a farão
produzir com maiores vantagens.
 
A Logosofia vem a ser, para a mente humana, o semeador que oferece sua semente com
generosidade e abundância. Ela é fonte de energia e está abastecida por sua própria inspiração.
 
A isso adicionaremos como comentário feito à margem, e especialmente dirigido aos que
seguiram disciplinas universitárias que, embora todo conhecimento, seja da índole que for, abra
caminho para o descobrimento de outros de análoga natureza, os conhecimentos logosóficos
superam notavelmente essa prerrogativa, pela variedade de sugestões que fazem aflorar na
mente, todas elas tendentes a concentrá-la num grande objetivo: o aperfeiçoamento individual e,
consequentemente, o de todos os semelhantes.
 
Existem duas posições ou atitudes bem definidas que podem ser adotadas diante da ciência
logosófica, isto é, duas formas de encarar seu estudo: a teórica (especulativa) e a vital (intensiva).
Enganar-se-ia quem pretendesse fazer confusão entre estas duas condutas, porque em Logosofia
tudo se descobre, até a mais leve intenção, por ser a própria consciência individual a que reage
diante de qualquer atitude equivocada.
 
A primeira apenas vincula externamente ao pensamento logosófico. Nessa posição, a inteligência
analisa por fora o ensinamento e especula com ele; seu conteúdo essencial, exuberante de beleza
e de elementos de sabedoria, permanece ignorado pelo teórico. A especulação é incompatível
com o verdadeiro saber, que não combina com o trato superficial. Ainda que se memorize com
relativa facilidade o ensinamento, isso não se ajusta às compreensões básicas que dele devem ser
obtidas, pois falta o elemento vivo, privativo da experiência no campo logosófico. A atitude
especulativa é a geralmente adotada pelo intelectual que, acostumado às disciplinas
universitárias, tudo analisa com a intervenção de um só polo, a inteligência, mas sem o concurso
do outro, a sensibilidade, que amadurece e fixa internamente o conhecimento. É compreensível,
não obstante, que tal atitude mental esteja de acordo com essas disciplinas, que não se
relacionam diretamente com a vida interna de quem estuda. Tudo ali se resolve sob os cânones
de uma sistematização já estabelecida; nem mesmo os que passam por cima dela, enfrentando
investigações de maior alcance, se afastam dessa linha de conduta, na qual, como dissemos, para
nada conta a própria vida interna, cheia de possibilidades, por ser ela considerada, talvez, campo
proibido para as habilidades do talento. Pelas razões expostas, aceitar-se-á que a especulação não
tenha lugar nas investigações sobre o próprio mundo interno.
 
A segunda atitude, que denominamos vital, assume verdadeira importância e caráter neste
gênero de investigações. As compreensões obtidas por meio de meditados estudos são nela
experimentadas mediante sua aplicação ao processo interno de evolução consciente, pois as
revelações transcendentais da concepção logosófica devem ser assimiladas, e a absorção de sua
essência tem de ser plena, para satisfazer às exigências do espírito. Isto exige dedicação e
esforço, mas não deixa de ser amplamente compensado com os resultados, que representam
vantagens enormes no encaminhamento definitivo das aspirações humanas, em direção às
douradas metas da perfeição e da sabedoria.
 
 
3
 
Nova rota para a realização da vida e destino do homem.
Importância das defesas mentais na preservação e condução da vida.
 
 
Desde tempos remotos, vimos escutando a voz de milhões de consciências clamar pelo
esclarecimento de suas dúvidas. Esquadrinhando com aguda penetração os vaivéns e alternativas
do movimento histórico através das épocas, de um lado encontramos as aspirações humanas num
constante anseio de respostas e, de outro, o esforço às vezes desmedido dos filósofos e pensadores
por satisfazê-las. A era atual, caracterizada desde os seus primórdios pelas chamadas lutas do
espírito, que chegaram aos extremos do encarniçamento e depois derivaram para uma pugna de
idealismos, teorias e crenças, ainda não nos ofereceu - já o dissemos - nada de concreto a
respeito do grande enigma da vida.
 
A Logosofia, como ciência da sabedoria, proclama o achado das chaves que o decifram. Desde
que se deu a conhecer, traçou sua rota e dela não se afastou um ápice ao longo de todo esse
tempo intensa e fecundamente vivido. Ninguém pôde dizer que conhecia essa rota, ainda que
admitamos que se tenha tido dela uma vaga ideia. A verdade é que só agora, e graças ao método
logosófico - que não apenas assinala seu itinerário, mas também ensina a percorrê-lo em toda a
sua extensão -, constitui ela uma completa realidade. Desnecessário seria dizer que, durante seu
simbólico percurso, é facultado ao homem avaliar e admirar as maravilhosas criações éticas e
estéticas da concepção logosófica.
 
Ao fixar sua posição diante das grandes questões que no curso dos séculos foram apresentadas à
inteligência humana Deus, o Universo, as leis universais, os processos da Criação, o homem e seu
destino -, a Logosofia já deixou expressa sua palavra, concretizada em verdades de absoluta
certeza e comprovação.
 
Ela abre as portas do pequeno, porém vasto mundo interno - o paradoxo é aparente -, guiando o
entendimento do homem para que descubra as riquezas nele acumuladas. Sonho de séculos
convertido em realidade por obra destes conhecimentos que colocam a mente humana em frente
de si mesma, para que se estude e se compreenda; para que saiba qual é a causa do drama que
afligiu sua vida; e para que se inteire, de uma vez por todas, de como nascem, de onde vêm,
como vivem, se movem, se multiplicam, reagem e morrem os pensamentos que ela abriga.
 
Devido ao abandono em que tem vivido durante séculos em relação aos conhecimentos que
haveriam de auxiliá-lo, o homem é um indefeso mental, cuja precária lucidez intelectual o
impede de discernir e descobrir o mal justamente ali onde se apresenta revestido de todas as
aparências do bem; e já sabemos em que medida o fácil, o cômodo e as promessas
deslumbrantes enganam até mesmo o mais astuto. O que menos se pensa nesses casos é que não
se pode descobrir em instantes aquilo que deve ser fruto do esforço e da dedicação honrosa da
vontade individual. Por fim, termina-se nos mais terríveis desenganos, no desespero ou na
encruzilhada sem escapatória da delinquência.
 
Quando se contempla o espetáculo da ignorância humana através dos tempos, pode-se com razão
admitir que o homem, no tocante à sua vida mental, tem padecido um rude nomadismo, um
constante vagar de uma ideia a outra, caindo com frequência aprisionado na teia dos
pensamentos de grupos ou ideologias predominantes em cada época. Esta observação não se
aplica, como é lógico, àqueles que souberam manter-se livres em meio às opressões e tiranias
mentais que, às vezes, obscurecem até os espíritos mais bem prevenidos.
 
É inquestionável que as pessoas de saber têm maior número de defesas mentais que as
medíocres e as ignorantes; porém, a preservação de uns poucos contra as argúcias do mundo
implica acaso proteção para os demais? Eis aqui algo em que ninguém tem reparado, se nos
atemos à persistente carência desses elementos de defesa. Não basta que os menos pretendamorientar os mais, afetados pelas diversas formas que assume a confusão reinante, pois isso seria
de todo insuficiente diante do impulso das correntes ideológicas extremadas, as quais adquirem,
em muitos casos, o caráter de verdadeiras epidemias mentais. Tampouco teria eco, no ânimo
atormentado de um dos tantos milhões de seres que habitam o mundo, o raciocínio que os mais
capacitados desejassem fazer-lhe. Não; não é disso que o homem necessita com urgência para
amparar-se contra as tremendas comoções psíquicas, sociais e até morais que, com frequência,
fazem estremecer os próprios alicerces da sociedade humana. Cada homem necessita criar suas
próprias defesas mentais. Como? Adotando a posição inabalável que o faça invulnerável à
influência de qualquer pensamento sugestionador que tente subjugá-lo ou intimidá-lo.
 
Feito o processo de conhecimento do sistema mental - que funciona em cada indivíduo e do qual
nos ocuparemos em outro capítulo - e realizado também o processo seletivo dos pensamentos, tal
como indicamos em nosso ensinamento, o ente humano se haverá capacitado para ser o dono
absoluto de seu campo mental, sem se expor, como antes, à dominação dos pensamentos alheios
que, inevitavelmente, causavam séria perturbação em sua vida. Já não o surpreenderão as
notícias difundidas com o objetivo de alarmar e perturbar, nem será surpreendido tampouco
pelas ideias extraviadas dos ressentidos sociais, nem dos que buscam prosélitos para estender suas
ideologias com pretensões de dominação mundial, pois o homem que controla sua mente
dificilmente poderá ser burlado ou influenciado por essa classe de pensamentos.
Quando o homem compreende que seus pensamentos e ideias não são os veículos por meio dos
quais se manifestam o pensar e o sentir humanos, como efetivamente deveria acontecer, e sim
que os homens mesmos se converteram - salvo exceções - em veículos dos pensamentos e ideias
que povoam os ambientes, sua atitude mais lógica, prudente e razoável deve ser a de pôr-se em
guarda contra os perigos dessa subversão dos valores essenciais do indivíduo. Acaso não temos
visto corroborada essa subversão nas últimas décadas? Não a estamos vendo, ainda hoje, em
países onde governam regimes totalitários, convertendo os homens em dóceis instrumentos de
ideias extremistas e de pensamentos dissolventes, que os incitam a percorrer o mundo para
apregoá-los, como meros autômatos sem alma e sem sentimentos?
 
Queira-se ou não, a falta de conhecimentos que signifiquem a adoção de uma conduta segura e
inflexível nesse particular é a causa do mal-estar reinante, da desorientação e da incerteza
acerca do futuro da sociedade humana.
 
Ao encarar os problemas da vida tem sido preocupação básica da Logosofia esta questão das
defesas mentais, por entender que é vitalíssima e porque o mal assume uma gravidade tal, que é
de todo necessário tratá-lo clinicamente - digamos - em seu próprio foco de perturbação, em sua
raiz e em sua causa. Somos inimigos dos paliativos, que apenas contemplam as circunstâncias, e
com os quais trata-se unicamente de atenuar a dor. Eles não curam o mal, como o exige a saúde
moral e psicológica da humanidade.
 
As defesas mentais surgem iluminando a inteligência quando quem deseja conservar intacta sua
individualidade, como entidade consciente, aprende a diferençar os dois setores em que a família
humana se divide: o dos que são donos de seus pensamentos e governam suas vidas sob os
ditames das próprias inspirações, e o daqueles que são vulgares serviçais dos pensamentos que
arrastam o indivíduo como autômato - repetimos - pelas sinuosas sendas do erro, do desvio e da
infração das leis penais e humanas. Resumindo, ditas defesas surgem espontaneamente como
resultado da vida consciente.
 
Não se deverá esquecer que as debilidades humanas contribuem para tornar mais crítica a
vulnerabilidade mental. Impõe-se, pois, o fortalecimento da vida, alertando os pensamentos que
obedecem a convicções conscientes e profundas, para que constituam uma muralha
intransponível, protegendo-se daqueles outros que atentam contra a paz e a segurança internas. É
necessário adestrar-se no exercício dessas atitudes, que a vontade haverá de reforçar em cada
caso, a fim de poder ampliar, sem limitações, o campo da liberdade individual; dizemos isso
porque a posse do domínio das situações significa uma verdadeira liberação, quando é
conseguida sob os auspícios insubstituíveis da confiança em si mesmo, ou seja, das próprias
defesas mentais.
4
 
Causa primeira ou criação do cosmo.
A lei de evolução gravitando no processo de superação consciente.
Referência aos processos da Criação.
 
 
A o tratar neste capítulo de algumas partes da Cosmogênese - concepção logosófica do Universo
-, devemos esclarecer que o faremos vinculando o criado, seja o que for, à natureza humana em
suas mais elevadas expressões do pensar e sentir. Desse ponto de vista deverá ser medida sua
originalidade.
 
Ao estabelecer que a ideia da Criação universal se plasmou na mente de Deus por um ato
espontâneo de Sua Vontade, a Logosofia quer dar a entender que a Mente Divina, o espaço
mental de onde surgiu o cosmo, é a causa primeira. O Verbo não podia manifestar-se senão
depois da concepção, como principal efeito; e atuou por império da mesma Vontade Suprema. O
Verbo é, pois, o efeito, não a causa, e adquire volume por força da lei que o manifesta.
 
Na proporção que em honra nos cabe como súditos dessa Criação, é-nos dado produzir fatos
semelhantes, dentro das possibilidades de nossa mente e de nosso verbo. A mente humana é um
fragmento da mente universal; uma consequência ou derivação da grande causa original ou
mente cósmica, e causa primeira do homem. Ela possui o poder criador da mente de Deus; e o
possui de conformidade com seu desenvolvimento, o que equivale a dizer que o homem pode
alcançar, por meio da evolução, as altas prerrogativas desse poder em sua função criadora. Esta
concepção traduz a imagem desse poder, ou seja, a sabedoria.
 
Já dissemos, em outras oportunidades, que o homem carente de saber não é nada nem ninguém.
É apenas um zero no espaço e, como tal, não representa valor algum. A mais elevada
prerrogativa do homem é, pois, o saber, e deve ser também a aspiração máxima do seu espírito.
 
As ideias-mãe ou concepções superiores que iluminam o caminho das grandes explicações,
sempre buscadas pela inteligência humana, só acorrem às mentes capazes de assimilá-las.
Associada essa imagem ao que antes foi expressado sobre a causa primeira do homem, temos a
mente humana, fragmento da mente universal, elevada ao máximo na concessão de seus
atributos.
 
No rigor da verdade, a causa primeira da vida do homem, ou melhor ainda, de seu ser consciente
- psicológica e espiritualmente falando -, é sua mente. Ao dizer isso, queremos assinalar que a
mente é o único meio usado pelo espírito para suas manifestações inteligentes.
 
A Criação foi estruturada sobre a base de sistemas e dispositivos cósmicos que respondem
totalmente à suprema inteligência de Deus. Nela está plasmada a vida universal do Criador. A
Vontade Cósmica se articula com absoluto equilíbrio e harmonia, em todos os movimentos que se
realizam em sua incessante atividade. Esses movimentos são um constante convite à inteligência
do homem para que descubra neles os segredos e o porquê da própria evolução rumo a seu
altíssimo reino. Na contemplação, observação, meditação e estudo de cada uma das maravilhas
dessa Criação, podemos assimilar a parte de essência que corresponde à nossa vida psíquica, ou
seja, à vida de nosso espírito.
 
Admitir-se-á que, sendo a concepção de Deus única e inabarcável em virtude de seus ilimitados
contornos cósmicos, cada ser humano deva realizá-la dentro de si na medida em que seus
conhecimentos lhe permitam aproximar-se de sua Grande Imagem, compreendendo, até onde
lhe seja também possível, a grandeza de sua incomensurável Sabedoria.
 
Deusnão é nem jamais pôde ser o vingador implacável que lança as almas ao inferno para sua
desintegração definitiva, nem tampouco o pretendido Senhor Todo-Poderoso desta ou daquela
religião. Crer em semelhante utopia é negar implicitamente sua Onipresença, Onipotência e
Onisciência.
 
Dentro da grande estrutura cósmica, e como uma expressão cabal e absoluta do Pensamento
Supremo, aparecem configuradas em suas respectivas jurisdições as Leis Universais, regulando
e regendo a vida cósmica tanto quanto a humana. Entre as mais direta e estreitamente vinculadas
ao homem, citaremos as de Evolução, Causa e Efeito, Movimento, Câmbio, Herança, Tempo,
Correspondência, Caridade, Lógica e Adaptação. Fizemos este enunciado apenas com o objetivo
de determinar as leis que a Logosofia se propõe a descrever e aprofundar em tratados de fundo.
Não obstante, dedicaremos alguns parágrafos à Lei de Evolução, cujo grande objetivo é reger
todos os processos da Criação, inclusive o que o homem realiza inconscientemente. Assume esta
lei importância especial, quando é aplicada de forma consciente à própria evolução, isto é,
quando se tem pleno conhecimento de sua virtude transformadora. É muito provável que nossas
palavras suscitem esta indagação: Por acaso não evoluem conscientemente todos os seres que se
preocupam em melhorar sua situação física e espiritual? Isso nada mais é que um mergulho na
superfície, respondemos. A evolução consciente começa, em nosso conceito, com o processo
que conduz o homem ao conhecimento de si mesmo. Estamos falando da evolução ativa,
fecunda e positiva; não da lenta e passiva, que arrasta os seres humanos para um destino comum.
Só conhecendo nossa organização psicológica e mental poderemos dirigir com acerto nosso
processo de evolução. O esforço na intensificação desse conhecimento nos conduzirá ao melhor
aproveitamento das energias e ao aguçamento de nossa percepção interna, uma vez que nenhum
aspecto ou detalhe da vida interior haverá de passar inadvertido à observação perseverante e
consciente. Isto nos ajudará a aperfeiçoar tudo o que exista de aperfeiçoável em nós, o que
implicará, além de um maior acúmulo de conhecimentos, um avanço real na evolução. Numa
palavra, a lei nos permitirá superar ao máximo os meios para realizar, no menor tempo possível,
o grande processo consciente da vida.
 
Para dar maior clareza a nossas palavras, utilizaremos esta imagem: suponhamos que nos vemos
precisados a percorrer uma distância de mil quilômetros. Em tempos remotos essa distância se
fazia a pé ou não se fazia; depois se apelou para o cavalo, o camelo, etc.; mais tarde para a
carroça e a carruagem, e, avançando o tempo, para o trem de ferro e o automóvel; ultimamente
se utiliza o avião. Se pensarmos que essa mesma distância é um dos tantos trechos de nossa
evolução, concluiremos que, aperfeiçoando os meios, chegaremos ao final de seu percurso em
muito menos tempo do que necessitaria aquele que usasse, por qualquer motivo, meios
antiquados ou precários.
 
Os processos da Criação se pronunciam seguindo uma ordem perfeita, tanto em suas
manifestações visíveis como nas invisíveis, de modo que, obedecendo ao Plano Supremo
preexistente, eles se cumprem com maravilhosa exatidão. Desde a nebulosa até o planeta, e
desde os alvores do mundo até os nossos dias, a Terra, com sua atmosfera e seus mares, teve de
cumprir processos de adaptação à vida animada, como teve também o homem de cumpri-los
em sua adaptação às necessidades de uma civilização cada vez mais avançada. Esses processos
da Criação, estudados do ângulo das projeções humanas, e para a própria orientação do
indivíduo, oferecem possibilidades inimagináveis na aplicação do método logosófico ao processo
de evolução consciente. Não escapará a um bom discernimento que este processo há de guardar
uma relação muito estreita com aqueles, e que deverá ser cumprido com o concurso
indispensável de conhecimentos que levem rigorosamente a esse fim.
 
A criação do homem requereu, é indubitável, a reunião de inúmeros detalhes, cada qual mais
importante, para que o ente humano, situado em posição superior à dos demais seres viventes,
dispusesse de todas as facilidades que possam ser dadas a uma criatura dotada de inteligência,
sentimentos e vontade. O desconhecimento da enorme quantidade de elementos que o
completam em sua complexa estruturação mental, psicológica e espiritual, tem sido e é causa
dos maiores dissabores e angústias por ele sofridos. É que a pretensão científica o levou sempre a
estudar em outros o que ele deveria ter procurado descobrir dentro de seu mundo interno. Essa
cômoda posição de filosofar sobre os semelhantes, sem se preocupar em inquirir seriamente a
respeito de quanto ocorre em cada recanto do seu próprio ser pensante e sensível, interpôs uma
espessa cortina de fumaça entre as possibilidades e os anelos humanos de superação. A
veleidade, apossada da vida do homem, tem reprimido todos os seus nobres impulsos de
aperfeiçoamento individual; aperfeiçoamento que inclui, necessariamente, o conhecimento de si
mesmo, apregoado pelo ilustre grego, que agora a sabedoria logosófica ensina a realizar, guiando
o homem pelo verdadeiro caminho experimental exigido para sua obtenção. Fica, pois,
estabelecido que o que até aqui se manteve no plano do abstrato, o que permaneceu inacessível à
aspiração humana, é hoje uma realidade inteiramente alcançável.
 
5
 
Noções que preparam a investigação interna.
Vida e destino do homem.
 
 
O homem, sua vida e seu destino são questões que têm merecido toda a atenção de nossa parte.
A concepção logosófica a respeito é de uma amplitude e clareza que resiste à análise e responde
à objeção com toda a força de sua lógica. Ante seus rochedos invulneráveis e irremovíveis, as
ondas da crítica se tornam mansas, e mais de uma vez temos visto as águas densas do ímpeto se
transformarem em branca espuma, após o choque com a realidade que as detém.
 
Ao falar aqui do homem, vamos nos referir ao protótipo real do indivíduo, ao ser inteligente e
espiritual que busca a gravitação de sua consciência em tudo o que pensa e faz; uma gravitação
que haverá de fazer-se efetiva quando o conhecimento de si mesmo for um fato positivo e
evidente nele. Há aqueles que pensam havê-la obtido por meio das disciplinas seguidas em outros
estudos, ao ampliar, por exemplo, sua visão nos campos da ciência, da filosofia ou da arte.
Entretanto, e sem que isso represente menoscabo algum de seus pontos de vista, vamos propor-
lhes um cotejo a fundo daquelas com as disciplinas e o método de nossa ciência, que expomos
nestas páginas, de forma concisa e clara, mais para dar uma ideia cabal dos fundamentos de sua
concepção do que com o intuito de especificar, linha por linha e ponto por ponto, a diversidade de
seus conteúdos que reservamos para próximas obras.
 
Deus nos deu um ser dotado de todas as condições necessárias para que façamos dele uma obra-
prima, graças ao constante aperfeiçoamento dessas condições; aperfeiçoamento cuja obtenção
requer o auxílio de conhecimentos que conduzam a inteligência ao descobrimento de cada uma
das facetas desse maravilhoso diamante interno que todos possuímos, e que só brilha quando o
polimos com consciência de seu imenso valor. Não discutiremos que isto seja coisa sabida pelos
que atuam nas seletas esferas do pensamento, mas ainda não tivemos notícia de que alguém
tenha instituído um método eficaz e seguro para guiar o semelhante até o ponto onde se encontra
esse diamante e, muito menos, que tenha ensinado como ele deve ser polido. Teria chegado a
tanto o egoísmo humano, ou será que devemos admitir, com sinceridade, que houve algo de
miragem nos que pensaram tê-lo encontrado?
 
Essa joia da natureza humana se acha sepultada nas próprias entranhas do ser, coberta e
recoberta por camadas protetoras, à semelhança do mineral que se transforma em pedra
preciosa; o único que não pode ser lapidado senão com o própriopó; o mais límpido de todos, que
não pode ser riscado por nenhum corpo, e cujas arestas cortam o cristal sem quebrá-lo.
 
Não se trata, pois, de realizar uma simples viagem exploratória dentro de si mesmo, sem outra
preparação que a audácia pessoal, porque se erraria o caminho após pouco andar. É
imprescindível estudar previamente a topografia do campo psicológico individual, e para isso,
com o objetivo de não se equivocar quanto à planimetria e ao nivelamento do terreno, a
Logosofia assinala suas partes mais acidentadas e mostra as passagens difíceis, proporcionando
os respectivos elementos para transpô-las com êxito. Disto nos damos conta quando falamos dos
pensamentos, das deficiências, etc.
 
Embora o uso de tais elementos seja fator determinante nessa realização, também
desempenham nela um papel muito especial as energias internas inteligentemente utilizadas. É
essencial que o homem saiba que é um acumulador de energias por excelência, tal como o prova
sua constituição física, mental e psicológica, e que pode servir-se delas na aplicação de seus
esforços ao próprio aperfeiçoamento, sem gastá-las; melhor ainda, aumentando-as com esse
procedimento. A Logosofia ensina a acumular e concentrar essas energias destinadas a
fortalecer o espírito e a promover o ressurgimento do ser consciente em esferas superiores de
evolução. O contrário do que faz a maioria, que só acumula essa potência dinâmica na medida
necessária para viver e vegetar, e, quando excede essa necessidade, gasta as reservas em
preocupações, especulações, ou em diversões de toda índole, que em nada beneficiam o ente
real, o ser íntimo, que clama por existir e governar seu mundo mental-psicológico, em
consonância com o grande objetivo de sua existência.
 
Para o comum dos homens, a vida é o espaço compreendido entre o primeiro e o último dia de
seu ser físico. Pertence-lhes exclusivamente e podem, portanto, fazer dela o que lhes apraz. Isto é
tão sabido como certo; o indivíduo que assim pensa, porém, conhece todos os usos que pode fazer
dessa grande oportunidade humana? Mais de uma vez não o temos visto deplorar, entristecido, o
tempo que sem proveito lhe fugiu com a vida? Não o temos visto insatisfeito e desconforme com
a existência que levou? E não tem ele atribuído à má sorte seus padecimentos e infortúnios? Pois
bem, que solução lhe foi oferecida para desfrutá-la em seus amplos e elevados conteúdos?
Reconheçamos honestamente que os ensaios filosóficos e as tentativas de outras ordens foram
insuficientes; mais ainda: em muitos casos, levaram à confusão e, daí, à decepção.
 
A vida é um espelho onde se reflete o que o ser pensa e faz, ou o que os pensamentos próprios ou
alheios o levam a fazer.
 
As almas que não se cultivam apresentam o triste quadro de uma vida desolada, vazia e obscura;
as que o fazem preenchem, não há dúvida, certas necessidades internas, mas distam ainda muito
de alcançar seus apreciáveis valores. Estamos nos referindo à vida comum.
No mundo da concepção logosófica, a vida adquire um sentido superior em todos os aspectos em
que se configura. Diferentemente da primeira, que se vive fora, pois suas preferências e
preocupações são externas, a vida animada pelo espírito logosófico é vivida internamente e num
volume maior. Daí que os fatos que assinalam as diversas etapas do conhecimento de si mesmo
deem lugar a tão intensas e profundas sensações estéticas, de relevos tais que a arte não ousaria
reproduzir.
 
Não bastam, pois, nem a prática de princípios nobres e piedosos, nem todas as variações do
engenho humano, para viver a vida na plenitude de sua força renovadora e no cumprimento dos
altos objetivos de bem para os quais foi ela instituída. A verdadeira felicidade de viver se
encontra quando vão sendo conhecidos os extraordinários e maravilhosos recursos que ela
contém; ou seja, ao se conhecê-la por dentro, são descobertas suas ignoradas possibilidades e
suas luminosas projeções.
 
Transformado o ser - psicológica e espiritualmente - pelo influxo de conhecimentos tão
essenciais para seu aperfeiçoamento, também seu destino se delineia com outros contornos e
oferece perspectivas de qualidade muito superior às que esperam o indivíduo que permanece
alheio a estas verdades. Esse destino que cada um pode forjar depende muito da realização
interna e do avanço no conhecimento de si próprio. É, por conseguinte, o próprio ser quem
voluntariamente pode mudar seu destino por outro melhor, quando sua inteligência se esclarece e
busca outros horizontes em que possa expandir sua vida, elevando-a por cima de toda limitação.
Esse destino é o patrimônio espiritual do homem; o arcano inviolável que contém impresso o
processo secreto de sua existência.
 
Diremos, por último, que é deficiência comum do temperamento humano a carência de
iniciativa própria. A inércia mental, consequência da inatividade da função de pensar, mantém
adormecida a capacidade criadora da inteligência. Correlativamente, e por natural gravitação,
aparece a falta de estímulos. Aqui é onde se observa o precário estado psicológico de muitos que,
sem saber definir o que lhes sucede, nem a que atribuir o estancamento em que vivem, passam
seus dias e amontoam seus anos numa infecunda velhice. Faltos de condições para abrir seus
entendimentos ao exame das experiências e situações, sem o incentivo das ideias, nada que não
sejam os caprichos da sorte poderá favorecer o movimento feliz de seus pensamentos.
 
O conhecimento logosófico edifica e impulsiona ao mesmo tempo os afãs de capacitação.
Fundamenta-se na realidade da vida humana e de tudo quanto existe, e ensina a conduzir o
pensamento por caminhos seguros. Como ensinamento, desperta o entusiasmo e, ao mesmo
tempo que orienta o entendimento, proporciona sugestões que são captadas pela mente e que a
inteligência traduz em iniciativas. Eis aí a grande virtude comprovada por quantos dedicam parte
de seu tempo à leitura, observação e estudo de nossa ciência.
 
O homem deve ir sempre em busca daquilo que não está na órbita dos conhecimentos comuns, a
fim de dilatar a vida rumo a campos fecundos, os quais, dominados pelo saber e pela
experiência, lhe permitam alcançar progressivamente maior perfeição. Em cada novo dia em
que sua vida penetre, deverá encontrar um incentivo para aproveitá-la melhor, e também algo
que o inspire acerca do que deve fazer para que os dias vindouros superem os atuais e lhe
proporcionem, ao serem vividos, o benefício de sentir-se bem, seguro e feliz.
 
 
 
 6
 
Três zonas acessíveis ao homem: interna, circundante e transcendente.
 
 
O ensinamento logosófico abre à investigação, à meditação e ao conhecimento do homem três
imensas zonas perfeitamente delimitadas. Talvez se entenda melhor se dissermos que essas três
zonas existem e estão abertas a suas possibilidades, mas são pouco menos que inacessíveis para
ele, pela ignorância em que permanece a respeito delas. A primeira pertence por inteiro ao
mundo interno, em sua maior parte inexplorado, do qual só temos as vagas referências ou as
alusões imprecisas dos que acreditaram haver penetrado nele. A experiência logosófica já
demonstrou que se requer muita perícia para conhecê-lo e dominá-lo em todas as suas nuanças e
complexidades. É o mundo dos pensamentos enquanto mantidos sem se manifestar fora da
mente, ainda que atuando ativamente, seja a serviço da inteligência, seja com toda a autonomia;
é também o mundo dos sentimentos, com os quais convivemos em íntimo colóquio, tal como
ocorre com os pensamentos; o mundo das sensações de alegria e prazer, de sofrimento e de dor,
que são experimentadas nas múltiplas variações da vida; o das reações positivas e negativas, que
surgem como consequência das atitudes do semelhante ou de fatos que afetam o ânimo, as
convicções, as ideias, o próprio conceito, etc.; e é, em definitivo, o mundo de todos os
movimentos e atos da vontade conscientemente dirigidos para a finalidade primordialda vida,
expressa na realização máxima de suas possibilidades de perfeição.
 
A segunda zona pertence ao mundo circundante, onde intervém o fator familiar, social e geral, e
nele o ser, adestrado logosoficamente, desenvolve suas atividades comuns e confronta, em árdua
e nobre luta, seus conhecimentos com os daqueles que atuam no meio ao qual está vinculado
acidental ou permanentemente. Para exercício e prática da conduta que se vê necessitado a
desenvolver em função do dito adestramento, se lhe apresentam ali as mais curiosas
circunstâncias, das quais recolhe valiosíssimos elementos para observação e superação
individual. E se tais circunstâncias às vezes põem o logósofo diante do semelhante que,
surpreendido em sua intenção, fica confundido pela serena segurança com que ele lhe expressa
seu pensamento (pensamento próprio), também se promovem as situações em que ambas as
partes, de inteligência cultivada, se equiparam no domínio que têm da cultura, só cabendo nelas o
entendimento que aproxima e vincula os espíritos em relacionamentos de amizade geralmente
duradouros.
 
E chegamos à terceira dessas zonas: o mundo metafísico, transcendente ou causal, onde o
homem, guiado sempre pelo conhecimento, encontra a justificação de tudo o que antes lhe fora
incompreensível e descobre os vastos desenvolvimentos do espírito, em conexão direta com a
evolução consciente de seu próprio ser. É o mundo mental, o mundo imaterial, que preenche
todos os espaços do Universo e interpenetra até a mais ínfima partícula ultrassensivel. Povoado
de imagens maravilhosas que descobrem até os mais raros processos da Criação é, ainda que
invisível para os olhos, a mais perfeita das realidades existentes. Tudo ali se acha intacto em sua
concepção original; nenhum elemento corruptível das outras duas zonas ou mundos pode lesar a
imaculada pureza de suas diáfanas, múltiplas e prodigiosas manifestações.
 
Depreende-se do exposto que o ente humano comum só conhece o mundo circundante, e mesmo
assim o conhece mal, causa inquestionável de suas limitações, carências e infortúnios, ao passo
que o ente evoluído conhece os três mundos e pode viver neles porque sua inteligência atua nos
três com brilhantismo. O homem deve, pois, preparar o espírito depurando sua mente,
iluminando sua inteligência e enriquecendo sua consciência com os conhecimentos que,
vinculando-o a essas três zonas, lhe permitam alternar nelas sem dificuldade, com sabedoria,
honestidade e limpeza moral.
 
O leitor poderá deduzir de nossas palavras a importância que nossos conhecimentos têm para a
vida do ser humano, ao guiá-lo através das escuras estepes da ignorância, até alcançar
finalmente os férteis vales dos conhecimentos causais.
 
Ao iluminar-se a inteligência, por efeito de seu contato direto com este novo gênero de verdades,
a consciência é comovida profundamente; as peças que deveriam manter flexível e elástica a
atividade consciente, e que se acham oxidadas pelo desuso, são substituídas, e outras novas, de
maior resistência, tomam seu lugar; o mundo metafísico deixa de ser uma ficção e se apresenta
como uma realidade tão mais consistente e verdadeira do que a física. Nele, onde se internará já
em perfeito uso da razão e da consciência, se poderá compreender tudo o que era antes
incompreensível ou permanecia em obstinada e impenetrável nebulosa.
 
Cada coisa requer rigorosamente uma preparação. A natureza não dá saltos; a do homem
tampouco deve fazê-lo. Alcançar a conquista do ignoto é matéria de um processo de evolução
conscientemente realizado, que permite obter, à medida que se vá cumprindo, as compreensões
e conhecimentos necessários para levar adiante esse empenho.
 
7
 
Método logosófico.
Aspectos de sua aplicação ao processo de evolução consciente.
 
 
O método logosófico se configura com caracteres próprios, tanto em sua força construtiva como
em sua aplicação. Seu ensaio começa a portas fechadas, isto é, no interior do ser humano, onde a
reserva é absoluta. Não nos referimos à forma de usar o método, que haverá de requerer
imprescindivelmente o auxílio do preceptor, mas sim aos episódios íntimos que comovem a
sensibilidade, ao mesmo tempo que se produzem as mudanças saudáveis do pensar e do sentir,
sinal inconfundível da eficiência com que foi empregado.
 
No processo de evolução integral consciente, o método é uma instituição que prescreve as
normas a seguir, desde que não se violem seus claros e imodificáveis preceitos. Adotá-lo é
dispor-se a mudar conceitos já gastos e extirpar raízes nocivas, de há muito consentidas, abrindo
caminho na vida interna à corrente renovadora do pensamento logosófico.
 
A Logosofia poderá ser explicada de mil maneiras diferentes e entendida de outras mil, também
diferentes, mas, se não for experimentada e confirmada pelo próprio indivíduo, de acordo com
seu método, não haverá consciência do saber que se obtém, e se permanecerá tão alheio como
antes à realidade que é revelada à inteligência por esta incomparável concepção do homem, de
sua organização psíquica e mental aperfeiçoável, e da vida humana em suas mais amplas
possibilidades e dimensões.
 
Nosso método é tão extraordinário que opera em cada indivíduo segundo seu grau de evolução e
sua configuração psicológica, e é, além disso, tão construtivo que, quanto mais a fundo é usado,
com mais precisos caracteres aparecem à observação as modificações que ele promove nas
posições internas, tudo o que acontece enquanto atua também como incentivo, favorecendo em
sumo grau a superação dos estados de consciência.
 
Indubitavelmente a Logosofia não resolve com fórmulas mágicas os problemas criados pelas
diferentes situações da vida, nem destrói por esse meio os escolhos morais e psicológicos da
imperfeição, já que, se isso fosse possível, se invalidaria o esforço consciente que o homem deve
realizar para esclarecimento e eliminação deles; ela proporciona, porém - e isto é o que vale -, os
elementos que propiciam aquilo que cada um deve fazer para conseguir esse fim. Dessa
construtiva experiência, a inteligência e a vontade do ser saem fortalecidas. Na medida em que
se exercita em tão importantíssima função do juízo, sente ele dentro de si o influxo de uma força
edificante, que se traduz numa capacidade maior de resolver e de atuar, concorde com as justas
solicitações do entendimento superado. Daí que tenhamos dito, há alguns instantes, que a
adaptação aos imperativos do processo a que o homem é conduzido pelo método logosófico atua
como incentivo, auspiciando permanentemente a superação da consciência.
 
Os ensinamentos são ministrados aos cultores deste novo saber em abundância e sem aparente
ordem. O próprio método leva a achar neles os elementos que os unem e articulam em
poderosos conhecimentos. Isto é possível porque eles se entrelaçam em sua totalidade, de modo
que a verdade em que se fundamentam assoma e se manifesta em cada um dos pontos tratados.
 
É fato comprovado a adaptação do ensinamento logosófico a todos os estados psicológicos e
temperamentais, assim como aos diferentes graus de cultura que cada um mostra possuir. A
ninguém está vedado seu estudo e experimentação, desde que se tenha presente que, pela
primeira vez, se encara uma realidade de tão vigorosa contextura, capaz de cumprir, de forma
elevada e com força incomparável, a tarefa de reconstruir a vida sobre a inabalável base do
autoconhecimento.
 
Os conhecimentos logosóficos são forças centrípetas que atuam no mundo interno do ser
atendendo a solicitações do processo de evolução consciente, que começa desde que o postulante
decide, com firme resolução, constituir-se no próprio campo experimental como meio eficaz e
seguro de comprovar, passo a passo e experiência após experiência, as sucessivas
transformações que se vão operando em seu ser, numa surpreendente superação moral e
psicológica; isso equivale a dizer que, desde o início desse processo, ocorrem os reajustamentosque fazem a inteligência mais consciente e poderosa no governo de suas faculdades e na
consequente fiscalização dos pensamentos.
 
Como é natural, essa reativação das energias internas encontra a mais ampla correspondência
por parte do logósofo, que se adapta de bom grado às necessidades reclamadas pela nova
reordenação de sua vida e pela missão a que deve destiná-la. Sua progressiva formação
demandará - é lógico - uma esmerada, profunda e prática preparação do espírito. É este o mais
sério e valioso dos trabalhos que se possam imaginar a respeito do conhecimento de si mesmo.
 
Prevendo as contingências do esforço que deve ser realizado, a Logosofia dispôs, ao longo de
todo o caminho a percorrer, uma cadeia de formosíssimos estímulos, que alentam a vida
extraordinariamente, a qual ampara o ser - propenso ainda às sugestões da novidade - contra as
ficções, as miragens e as seduções do meio exterior.
 
Ao aprofundar sua investigação no mundo da concepção logosófica, o homem percebe o
contraste que os pensamentos mostram ali ao seu entendimento. Enquanto os pensamentos
comuns alojados em sua mente permanecem agrupados em conjuntos heterogêneos e discordes,
sem acatar diretiva alguma da consciência, os que respondem à nova concepção se articulam
em colaboração recíproca, obedecendo ao plano que tem por objetivo a evolução do espírito. Isto
costuma dar lugar a duras contendas mentais que, ao se resolverem de forma favorável, levam
no final aos emocionantes momentos em que todos os atos, pensamentos e palavras,
estreitamente vinculados na mesma atividade, aparecem convergindo em recônditas aspirações
de aperfeiçoamento. A saudável limpeza realizada evitará cair, daí em diante, em estados
críticos de desorientação, desesperança, etc.
 
Os pensamentos são, para a Logosofia, os agentes essenciais da existência humana. Superados,
convertem-se em verdadeiras potências do espírito. Havendo consciência disso, não perigarão
jamais o equilíbrio nem a estabilidade psicológica do indivíduo que, defendido dos desagradáveis
enredos próprios dos estados mentais inferiores, saberá também esgrimir melhor suas defesas
contra o complicado jogo dos pensamentos que povoam os ambientes que frequente, sem temer
os perigosos enlaces com as ideias enganosas e os pensamentos vulgares.
 
Focalizemos agora o complexo psicológico do ser humano, ainda alheio às reformas que o
processo de evolução consciente pode promover nele. Esse complexo se caracteriza por uma
série de conflitos internos que ninguém tem sabido explicar. A luta do homem em tais condições
se reflete nas profundas preocupações que com frequência o embargam. Desde os dias da
infância até os de sua velhice, debate-se num mar de contradições, sem saber com certeza onde
está o verdadeiro e onde o falso. A vida é para ele uma perpétua interrogação; e, se interrompe a
busca de conhecimentos, submerge-se na penumbra, ligando-se à vida vegetal pela imobilidade
de suas faculdades ou, melhor dizendo, de seu entendimento superior, quando não à vida animal,
pela semelhança que alcança com essa espécie quanto à indolência, à indiferença ou ao
parasitismo de suas funções mentais. Uma grande porção destes seres, mesmo quando não
sabem com certeza para onde dirigir seus passos, sentem dentro de si uma inquietude que os
impele a prosperar nas ordens conhecidas da vida. Encaminham em princípio seus objetivos para
a conquista de situações folgadas no aspecto econômico e social, sendo escassíssimo o número
dos que, vislumbrando ou intuindo possibilidades maiores para seu entendimento, elevam com tal
critério suas aspirações em busca de outros destinos.
 
Observando-os, vemos também que seu mecanismo mental está regulado para o
desenvolvimento de um número determinado de atividades; precisamente as que atendem a suas
necessidades habituais. É inegável que existe neles uma limitação, uma rotina, dentro da qual
costumam organizar a vida. Entendimento, razão, inteligência e tudo quanto forma a engrenagem
mental está ali condicionado a um gênero de reflexões das quais pareceria não poder afastar-se
sem perigo de sucumbir. A razão intervém nesses casos, atuando na medida em que o
entendimento o permite, pois não tendo sido cultivada a inteligência, o produto do raciocínio nem
sempre ultrapassa a compreensão incipiente, própria da mediocridade.
 
A evolução consciente que o método logosófico propugna - a cuja lei nos referimos nesta obra e
em múltiplas publicações, estendendo-nos sobre sua transcendência -, contempla essa situação
particular de limitação no alcance mental e intelectual que caracteriza a psicologia humana em
sua expressão comum, e dirige suas luzes para o desenvolvimento das faculdades que se
resumem na inteligência, a fim de que o ente humano enfrente seu primeiro encontro com essa
realidade e, convencido de sua impotência, resolva iniciar, com decisão e firmeza e com toda a
urgência reclamada pelo tempo das horas, um amplo processo de superação. Quando isto ocorre,
quando obedecendo aos ditames do método logosófico, penetra no campo da experimentação
própria e toma contato com os conhecimentos que lhe abrirão as portas desse novo e complexo
mundo interno a partir do qual lhe será permitido alcançar os planos do mundo transcendente -, é
lógico que experimente sucessivas transições, que exigem ser superadas com toda a
regularidade. Queremos dizer que, ao mesmo tempo que o campo mental se amplia e a
inteligência se ilumina, ilustrada pelo potente fulgor de verdades que se ignoravam, tudo deve
mudar para o homem, e muito especialmente sua própria vida. Mudarão os conceitos das coisas,
mudarão as sensações ao se manifestarem em correspondência com os novos conceitos que o
entendimento tenha conseguido abarcar, mudarão as atitudes e mudará também a conduta, em
resposta à exigência de compreensões cuja natureza obedece à influência das qualidades que se
vão cultivando.
 
É de todo lógico que, ao penetrar no mundo transcendente, deva o homem atuar em
concordância com os deveres que tal mundo lhe impõe, e que sua vida toda deva transformar-se,
espiritualizando-se na essência do pensamento, para refletir-se na clareza da inteligência; do
contrário, seria uma aparência ou uma ficção que a realidade, à qual pretendesse surpreender,
descobriria e fulminaria. O indígena ou o inculto - tomemos este exemplo - que quisesse
participar de nosso meio social, seria repelido pela força compacta do ambiente que nos é
comum e familiar, do mesmo modo que o medíocre, indisciplinado e carente de estudo se veria
impossibilitado de participar do ambiente científico, onde não encontraria mais que o vazio ou o
rechaço dos que estivessem ali tratando de temas de sua especialidade.
 
Não se deve em absoluto confundir a evolução consciente, que implica, como deixamos
expressado, uma autêntica renovação da vida, com os sucessivos vaivéns a que, em matéria de
mudanças, o ser se vê obrigado pelas circunstâncias. Não é essa evolução a que força o
intelectual, por exemplo, a mudar de posição ante a derrocada incessante das suposições e teorias
que, a seu juízo, assumiram hierarquia. Esta nos recorda certos movimentos que se repetem
indefinidamente na música. Dentro desse quadro psicológico e mental, cabe incluir igualmente os
que se têm deixado cortejar por um seleto núcleo de pensamentos. Acreditam haver satisfeito
assim a suas aspirações de elevação espiritual e procuram, da forma mais engenhosa, manejá-
los de modo a infundir no semelhante a certeza de achar-se diante de uma sumidade intelectual.
Com eles, que fecharam as portas de suas douradas mansões, a força criadora e renovadora da
concepção logosófica não poderá se comunicar.
 
Sentimo-nos, apesar de tudo, imensamente compensados pelos que se aproximam sem receios
de nenhuma espécie à fonte logosófica, em busca dos sábios ensinamentos que dela fluem. Não é
em vão que esta nova concepção da vida e do Universo vai conquistando, dia após dia,a simpatia
e a adesão de grandes e pequenos; da juventude, que tanto necessita destes conhecimentos; das
crianças e dos homens maduros; dos que cumprem as mais variadas atividades na ordem física e
comum; do profissional e do operário.
 
A evolução consciente é de extraordinária importância para a vida do homem e requer, para ser
realizada sem maiores entorpecimentos, uma constante vigilância de si mesmo e uma
consagração - quase diríamos plena - a tudo o que diz respeito ao desenvolvimento das
faculdades da inteligência e à capacitação gradual das potências internas. Nesse processo - que
deve abranger por inteiro a existência, caso se aspire a culminar em progressivas etapas de
realização consciente -, acontecem determinados fatos que devem ser conhecidos e tidos muito
em conta, para não malograr esforços estimáveis, afãs nobres e anelos da mais alta valia e
consideração.
 
Quem penetra no campo da realização interna, ou seja, da evolução consciente ou superação
integral, há de encontrar-se em mais de uma ocasião no seguinte caso: enquanto experimenta e
confirma, mediante essa experimentação, o valor inestimável de certos conhecimentos ou
ensinamentos que o beneficiam e estimulam em alto grau; enquanto capta ou percebe pela
sensibilidade verdades de extraordinário alcance para suas possibilidades, a razão costuma não
explicar isso, e às vezes até se obstina em negá-lo, seja por não ter sido ela o conduto por onde
passaram essas percepções para o mundo interno, seja por não atinar com a compreensão do
porquê de tais fatos se produzirem desse modo, enquanto ela - que se supõe reitora dos atos, da
vontade e do juízo - permanecia quase alheia ao acontecido na intimidade da vida do ser.
Quantos existem que, depois de experimentar a realidade de uma felicidade percebida, captada,
e neles incorporada pela sensibilidade, se viram culpados e até censurados por sua própria razão,
ao manifestarse esta de forma irredutível, intransigente e tenaz, chegando até ao rigor? O fim
perseguido não podia ser outro que o de anular os atos admitidos pela vontade e desfrutados pela
sensibilidade, a mesma que captou o conteúdo ou a essência do fato que a consciência aceitara
sem objeção. Por que esta contradição nas funções essenciais do mecanismo psicológico
humano? Por que esta persistente insistência da razão em deter o tempo, os fatos e as coisas, até
que ela consiga discernir, como garantia de veracidade, aquilo que já ficou determinado pela
própria natureza como função primordial da vida, a qual, assim como absorve o oxigênio que a
vivifica em seu físico, absorve também, em virtude da lei de conservação e de equilíbrio, tudo
quanto lhe é grato ou a beneficia em sua implícita condição de humana, seja no aspecto
intelectual, no sentimental ou no espiritual? Por que acontece isso?... Porque quem pretende
discernir e julgar, nesses casos, é a razão do homem medíocre. É a razão do homem inferior, a
razão comum, que pretende, não apenas julgar e discernir, mas dominar a natureza e o
pensamento superior.
 
A sensibilidade, em sua acepção mais pura, avantaja-se sempre à razão; ela assume os ditados
da natureza, que é a que oferece à consciência do homem todo o elixir de pureza que ele seja
capaz de extrair. Podem-se experimentar, perceber e captar muitas coisas pela sensibilidade, e é
comum que a razão compreenda muito pouco disso, não obstante a exata confirmação do que foi
experimentado, percebido ou captado; não obstante a confirmação de fatos e verdades postos em
evidência dentro do próprio ser pela força de uma realidade que impede a mais ínfima
desnaturalização de sua origem e manifestação.
 
A razão não pode, todavia, permanecer retrógrada diante dos adiantamentos da consciência e das
manifestações do espírito que se combinam na inteligência. A razão do homem inferior é estreita
e revela todos os defeitos da incapacidade; a do homem superior responde aos ditames da
consciência, examina com a maior amplitude de critério tudo quanto julga, sincroniza sua função
discernidora com as palpitações da alma e do coração, e ausculta e compreende a linguagem
íntima da sensibilidade, que se manifesta sempre com a eloquência da pulsação emocional e a
candura da inocência. Esta é a razão que o homem deve chegar a possuir: a razão que
estabelecerá o equilíbrio em elevados, quase sublimes, estados de evolução e aperfeiçoamento.
 
Pelo que ficou dito, já se terá podido apreciar a linha de conduta traçada pelo método logosófico,
que, sem rigidez alguma, contempla as complexidades que a vida do homem apresenta.
 
Aquele que, depois de haver buscado por todas as partes a solução para o grande problema da
evolução psicológica, se ponha a ensaiá-lo com boa vontade, não incorrerá em engano e poderá
confirmar, por conta própria, a verdade exposta. É o nosso um método vivo, seguido sem
necessidade de forçar o entendimento; melhor ainda, permite o livre jogo de todas as peças da
psicologia humana, sem deixar por isso de adaptá-las a outros movimentos mais inteligentes e
rápidos. Quando já se conseguiu compreender seu ativo mecanismo, passa-se a adotá-lo ao longo
da vida, tal é a sua virtude construtiva e o benéfico auxílio de seus altos ditames.
 
8
Sistema mental.
As duas mentes.
Intervenção do espírito no funcionamento e uso do sistema mental.
Atividade combinada das faculdades da inteligência.
 
 
Trataremos neste capítulo do sistema mental, essa maravilha da criação humana, que,
admiravelmente disposto e configurado, serve ao homem desde os confins abismais da
ignorância até as alturas culminantes da Sabedoria. Esse sistema é composto de duas mentes
perfeitamente equipadas e combinadas em seu funcionamento, destinadas a satisfazer a todas as
necessidades e exigências do ente físico ou alma, bem como às do espírito, quando este assume o
controle da vida; isso quer dizer que, para o governo de sua vida comum, o homem dispõe de
uma mente inferior ou comum e, para o da vida superior, de uma mente também superior.
Ambas são absolutamente iguais em sua constituição, mas não assim em seu funcionamento e
prerrogativas. São duas esferas de qualidade, volume e atividade diferentes.
 
Quando o sistema mental é usado pelo ente físico ou alma para assuntos físicos, e estes, por
elevados que sejam, não obedecem a precisas demandas da vida superior, a ação desse sistema
fica limitada à mente inferior ou comum; quando é o espírito quem o usa, valendo-se dele para
encarar os problemas da vida superior em estreita vinculação com o mundo metafísico, é a
esfera superior a que intervém. Ao mencionar aqui o espírito, referimo-nos à sua existência
como verdadeira entidade que rege o destino do ser humano consciente, ao ente superior, que na
maioria das pessoas permanece estático, esperando o instante de assumir sua verdadeira função
reitora.
 
Enquanto a mente inferior ou comum - da qual se valeu até aqui o indivíduo - se detém
automaticamente nas fronteiras da superior, pois suas possibilidades não vão mais longe, a
superior tem poder sobre os dois grandes mundos, o físico e o metafísico, sendo precisamente
neste último onde ela realiza os prodígios com que a inteligência superada promove a atônita
atitude dos céticos, dos rotineiros e da incontável legião de leigos, para os quais toda verdade é
um mito.
 
Os grandes pensadores usaram e usam a mente superior, mas, ao não se terem aperfeiçoado na
consciência dessa realidade, para eles não existe mais que uma única mente, e é total sua
despreocupação quanto a este gênero de investigações que teria podido levá-los à comprovação
de um descobrimento tão intimamente ligado ao conhecimento de suas vidas. Não obstante, eles
acreditam haver desempenhado igualmente sua função, e nós respeitamos e apreciamos, em
todo o seu volume, suas valiosas contribuições. Temos, porém, a esperança de que, num dia não
distante, eles voltem os olhos para nossas concepções; saberão, então, dos enormes valores

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