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o pardal tarado

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Prévia do material em texto

DIAGRAMAÇÃO E IMPRESSÃO:
FICHA CATALOGRÁFICA:
FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA POR MARIA CRISTINA MONTEIRO TASCA – CRB 8ª 5803
Carvalho Filho, Jorge Melchiades.
C323p O pardal tarado / Jorge Melchiades Carvalho Filho. -- Itu (SP):
Ottoni Editora, 2007.
84 p. : 21,5 cm.
Inclui pequena biografia do autor.
ISBN 978-85-7464-311-3
Bibliografia p. 84
1. Psicologia I. Título.
CDD 150
A REPRODUÇÃO TOTAL OU PARCIAL SÓ É PERMITIDA MEDIANTE
AUTORIZAÇÃO EXPRESSA DO AUTOR.
CRÉDITOS:
CAPA: FABIANA BARBOSA CANASSA
REVISÃO ORTOGRÁFICA: CARMEN TERESA ALMEIDA
Rua Garcia Moreno, 60 – Centro – CEP 13300-095 – ITU/SP
Fones/Fax: (0xx11) 4022-5309 / 4022-5312 / 4023-0197
www.ottonieditora.com.br – e-mail: ottoni@ottonieditora.com.brEDITORA
â
Prefácio do Autor
O tema deste livro foi extraído de palestra realizada em
07/02/2004, sobre PSICOLOGIA RACIONAL, disciplina que poderá
ser considerada nativa do racionalismo filosófico, mas é ciência,
com teoria e corpo de conhecimentos derivados de fundamentos
experimentais. A teoria básica da PSICOLOGIA RACIONAL foi
gerada e desenvolvida em Sorocaba, mais precisamente, por mim,
no NUPEP (Núcleo de Pesquisas Psíquicas), enquanto produto
intelectivo das observações “de campo”; de pessoas relacionando-
se com outras, com os animais, plantas e o meio ambiente, nas
atividades diárias e durante período de mais de vinte anos. A análise
dos dados obtidos possibilitou-me a formulação de hipóteses,
muita das quais foram confirmadas por observações regulares e
adicionais, por experimentos induzidos, e depois, transformadas
em conhecimentos com alto poder de previsão, verificáveis por
qualquer estudioso sério que se proponha a testá-los.
A Psicologia Racional, neste caso, teve desenvolvimento
particular e possui:
1 - Sistema teórico específico, que resultou de observações
metódicas e experimentos com a realidade psicológica que
pretende explicar. Estes fatos a tornam distinta portanto, da
genérica “psicologia racional”, anunciada por várias filosofias;
2 - Conceitos próprios, embora permita o uso dos de outras
ciências.
Ofereço a Psicologia Racional para ser usada na impulsão
do espírito em direção ao auto-aperfeiçoamento evolutivo.
Certamente, isto não irá impedir outro uso, como o de indivíduos
interessados em aperfeiçoar poder de manipulação e de domínio!
Mas, não foi construída para esse fim. Na verdade, o discernimento
de sua teoria liberta da manipulação alheia e, por conseqüência,
da escravidão imposta pelo próprio desejo de ter poder sobre
outros. É oferecida, pois, a homens e mulheres que buscam libertar
o espírito dos sofrimentos causados pela massificação ideológica,
econômica e cultural. O seu uso também será útil aos que ainda
não buscam a libertação, por não perceber a escravidão, mas que
procuram no conhecimento o alívio para os sofrimentos causados
por REAÇÕES inconscientes às opressões geradoras de sintomas
psicossomáticos.
A Psicologia Racional nasceu da busca de explicações
racionais para as ações e reações de pessoas consideradas
“normais” pelas ciências institucionalizadas, e conduz, por
conseqüência lógica de seus princípios, à TERAPIA DO SABER,
que leva à autotransformação e a uma inevitável libertação dos
piores vícios do caráter. Através dela o indivíduo pode retomar a
harmonia psicossomática, impressa na sua essência pela natureza
que o criou, e que foi perturbada em algum ponto da existência. É
psicologia de profundidade, portanto, e aborda o homem enquanto
produto de desenvolvimento evolutivo, no sentido biológico,
emocional e inteligente, na sua interação com o ambiente e, neste
caso, sujeito a ser condicionado pela ideologia.
Tomar conhecimento de si mesmo permite o resgate de
procedimentos como os do grande filósofo grego, Sócrates, e
ainda, o acesso à VERDADE anunciada por Jesus Cristo, que liberta
o espírito dos sofrimentos causados por fantasias e ilusões,
enquanto passo indispensável para a compreensão de si e da
realidade. Por isso tudo, a Psicologia Racional tem aplicação prática
em todos os campos de atividades humanas, sendo de grande
utilidade para idealistas dedicados ao ensino, a terapias
psicológicas, à medicina etc.
Não digo, contudo, que sua teoria seja fácil de ser
entendida e a terapia de ser aplicada, pois se destina aos que já
estão mais ou menos preparados para entendê-la; aos que podem
VER e OUVIR, na metáfora do maior terapeuta de todos. Afirmo
isso por verificar, nos longos anos de estudo, que raras pessoas
se dispõem a raciocinar com correção, ou a buscar compreender
a realidade e a si mesmas. A grande maioria não se propõe a
estudar nada, se não houver a promessa de que, após breve
período de estudos, ganhará um diploma que a licencie para o
exercício de uma profissão bem remunerada. Ela se propõe, muito
menos, a estudo que conduz a perigosas sendas do
desmascaramento gradual das intenções profundas e
inconscientes. Aliás, a resistência inconsciente e mais evidente,
ao estudo transformador, decorre da perseguição apenas dos
prêmios devidamente condicionados na psique profunda, pela
cultura ideológica que, raramente recompensa o exercício da razão.
Recompensa tão somente o comportamento exemplar na prisão
da procura por ilusões.
Por conseguinte, a Psicologia Racional nos permite prever,
especificamente, que a MAIORIA das pessoas não irá se interessar
em conhecê-la, porque já ACREDITA saber o suficiente sobre si,
geralmente sem nunca ter tentado, sinceramente e de modo
persistente, adquirir esse conhecimento. Pior é que generaliza tal
sabedoria improvisada, para “entender” e julgar parentes, vizinhos,
amigos, desconhecidos e propostas racionais.
De qualquer modo, me esforcei para atingir a MAIORIA,
neste livro, seguindo o caminho da maior simplicidade possível,
tanto no uso das palavras quanto de repetições e recursos
didáticos que disponho, fato que pode levar o leitor a ACREDITAR
que entendeu tudo. Entretanto, advirto que apesar da CRENÇA,
poderá ter entendido muito pouco do que exponho, pois convido
ao desenvolvimento de raciocínios que exigem ATENÇÃO e
dedicação ao encadeamento das idéias, para a associação dos
termos expostos com as conclusões, e estes processos mentais
não me cabe fornecer. Apenas ao leitor cabem os esforços que, a
curto, médio e longo prazo serão recompensados pela sabedoria,
na justa medida e correspondência.
Cabe aqui advertir também, que as ocorrências do NUPEP,
aqui mencionadas, são exemplos extraídos de uma amostra
populacional e, portanto, relatos de experiências oferecidos para
avaliações e para generalizações de caráter científico, ao universo
mais amplo da população.
Estudando pacientemente os conceitos expostos neste
livro e buscando compreendê-los na aplicação prática e
observações cotidianas, o leitor estará permitindo que novos e
salutares conhecimentos dêem um sentido inédito aos fatos que
o rodeiam, como também à sua vida. Depois, é só procurar ler
outros livros e ouvir palestras gravadas em nossa lavra, para
entender a estrutura teórica em sua melhor plenitude.
Jorge Melchiades Carvalho FilhoJorge Melchiades Carvalho FilhoJorge Melchiades Carvalho FilhoJorge Melchiades Carvalho FilhoJorge Melchiades Carvalho Filho
Primavera de 2006.
Índice
O PARDAL TARADO - Uma Lição Sobre MotivaçãoO PARDAL TARADO - Uma Lição Sobre MotivaçãoO PARDAL TARADO - Uma Lição Sobre MotivaçãoO PARDAL TARADO - Uma Lição Sobre MotivaçãoO PARDAL TARADO - Uma Lição Sobre Motivação ......... 11
Capítulo I: BUSCANDO PRAZERCapítulo I: BUSCANDO PRAZERCapítulo I: BUSCANDO PRAZERCapítulo I: BUSCANDO PRAZERCapítulo I: BUSCANDO PRAZER
O princípio do prazer .................................................... 13
Tipos de atividades ....................................................... 14
Atividades inconscientes ..............................................15
Capítulo II: NOS SONHOSCapítulo II: NOS SONHOSCapítulo II: NOS SONHOSCapítulo II: NOS SONHOSCapítulo II: NOS SONHOS
Interpretando sonhos na prisão das ilusões ............... 19
Buscar prazer nas ilusões pode dar desprazer ........... 22
Deslocamento de culpa ................................................ 26
Sentindo e agindo ......................................................... 32
Capítulo III: NO PODERCapítulo III: NO PODERCapítulo III: NO PODERCapítulo III: NO PODERCapítulo III: NO PODER
O exercício do domínio ................................................. 37
Vida de cachorro ........................................................... 41
Dominação e submissão .............................................. 43
O amor tesão e a racionalização .................................. 46
A função do branco ...................................................... 52
Capítulo IV: NOS SOFRIMENTOSCapítulo IV: NOS SOFRIMENTOSCapítulo IV: NOS SOFRIMENTOSCapítulo IV: NOS SOFRIMENTOSCapítulo IV: NOS SOFRIMENTOS
A função da exibição .................................................... 59
A função do amor tesão ............................................... 62
Sinal de alerta ................................................................ 66
Capítulo V: EM NÍVEL SUPERIORCapítulo V: EM NÍVEL SUPERIORCapítulo V: EM NÍVEL SUPERIORCapítulo V: EM NÍVEL SUPERIORCapítulo V: EM NÍVEL SUPERIOR
Amor de verdade .......................................................... 69
Que verdade? ................................................................ 72
A verdade sobre a humildade ....................................... 75
BIBLIOGRAFIABIBLIOGRAFIABIBLIOGRAFIABIBLIOGRAFIABIBLIOGRAFIA ...................................................................... 84
O Pardal Tarado
Palestra de 07/02/2004
INTRODUÇÃO: Uma lição sobre motivaçãoINTRODUÇÃO: Uma lição sobre motivaçãoINTRODUÇÃO: Uma lição sobre motivaçãoINTRODUÇÃO: Uma lição sobre motivaçãoINTRODUÇÃO: Uma lição sobre motivação
JORGE – JORGE – JORGE – JORGE – JORGE – Boa tarde a todos. Hoje faremos um breve
estudo sobre alguns conceitos elementares da Psicologia Racional.
Supondo que nos reunimos por estarmos ansiosos para estudá-
los, iremos começar, sem mais delongas, falando de MOTIVAÇÃO,
um conceito da Psicologia em geral, que se refere aos MOTIVOS
dos comportamentos. Quando, por exemplo, perguntamos: “Por
que fulano casou-se com aquela fulana?”, queremos saber quais
foram os fatores psicológicos ou fisiológicos que levaram o fulano
a casar-se com fulana.
11
13
Capítulo ICapítulo ICapítulo ICapítulo ICapítulo I
Buscando Prazer
O princípio do prazerO princípio do prazerO princípio do prazerO princípio do prazerO princípio do prazer
O princípio do prazer é nosso segundo conceito e o ponto
de partida para a compreensão dos MOTIVOS conscientes ou
inconscientes das ações e reações.
A exemplo do Dr. Sigmund Freud (1856-1939), o “pai da
psicanálise”, adotamos o PRINCÍPIO do PRAZER, entendendo que
o sistema psíquico funciona fiel a ele, e o adotamos, portanto,
como proposta inicial para a análise dos comportamentos. Por
esse princípio nos reunimos para a palestra de hoje, e o tomamos
como ponto de partida para o desenvolvimento de hipóteses de
trabalho. Adotá-lo, portanto, implica dar como certo, para início
de conversa e em qualquer situação, que todo indivíduo sensível,
quando age ou reage é sempre em busca de prazer; isto é, de
prazer relativo, que não precisa ser de grande gozo. Pode ser
meramente o alívio para uma dor, um sofrimento físico, moral e,
até mesmo, a atenuação de uma insatisfação insignificante e
praticamente imperceptível provocada pelo DESEJO.
Ressaltemos, contudo, não ser apropriado considerar o
princípio do prazer o MOTIVO dos comportamentos. Por princípio,
entenda-se a idéia que define LEI ou regra e dá início a raciocínios,
conduzindo ao vislumbre lógico do MOTIVO empírico, experimental,
14
“concreto”, que é, invariavelmente, a causa básica dos
comportamentos: um SENTIMENTO de desprazer definido, ou
indefinido, agudo ou vago.
Com efeito, observando os animais em geral, podemos
verificar que TENDEM a afastar-se das estimulações perturbadoras
e a aproximar-se das que proporcionam conforto, prazer. Até
mesmo a simples ameba afasta-se das espetadelas de uma agulha
e aproxima-se de partículas alimentares. É o óbvio se impondo à
razão: os animais, em condições normais, se movem para fugir
da situação de DESPRAZER. Como conseqüência da fuga do
desprazer, o movimento se dá em sentido contrário, oposto ao de
desprazer. Logo, invariavelmente se dá em direção ao alívio ou
PRAZER. Em si, o movimento é sempre para atenuar o sentimento
que o MOTIVOU, independente da sua eficácia, levando ou não ao
prazer.
Sendo assim, o MOTIVO dos movimentos, dos
comportamentos ativos e reativos dos animais, inclusive dos
homens, é a sensação de DESPRAZER. É para sair de incômodo
maior ou menor que buscam prazer. Assim, por exemplo, se um
animal está com fome, está em desconforto; por isso, se
movimenta da situação desprazerosa para o prazer de se alimentar.
Aplicando tal regra na compreensão das ATITUDES humanas
podemos obter a primeira resposta rudimentar e genérica para
qualquer questão sobre comportamentos, inclusive a formulada
anteriormente, isto é, responderíamos que fulano casou-se com
fulana para ter prazer, pois se não o fizesse ficaria em desprazer.
Tipos de atividadesTipos de atividadesTipos de atividadesTipos de atividadesTipos de atividades
Atividades se dão no universo interno e externo dos
indivíduos. Ou seja, as atividades do âmbito interno dos animais
em geral são orgânicas, fisiológicas e nervosas, sendo que para a
15
psicologia humana interessa, particularmente, as psíquicas, que
se acredita originárias, por evolução, das nervosas. As atividades
chamadas de “comportamentos” e “condutas” se dão no exterior
físico e são manifestas, visíveis, ao expressar certas atividades
do interior fisiológico e psíquico.
Para a Psicologia Racional, o SENTIMENTO de desprazer
é o fator que, nos humanos, MOTIVA ou dá causa a atividades
psíquicas, tais como, pensamento (imaginação, associação de
idéias, devaneios, sonhos, raciocínios etc.) e físicas, como os
molares (de conduta), sendo estes conhecidos como os de “vida
de relação”, pois estão voltados ao ambiente exterior. Em muitos
casos, o desprazer provoca até comportamentos moleculares
como os de secreção hormonal, de adrenalina, suor e outros
fisiológicos.
Tendo em conta mais estes esclarecimentos, podemos
acrescentar que fulano, antes de casar-se, SENTIA um certo
desconforto, um “não sei o quê”, que o levou a PENSAR na fulana
e a DESEJAR casar-se com ela. Talvez a desejasse, a amasse de
verdade ou apenas quisesse o dinheiro dela, mas em qualquer
dos casos buscou o prazer que acreditava obter, casando-se com
a amada ou com seu dinheiro.
Agora, o que digo aqui não vale nada, se as idéias que
representam minhas palavras não forem apreendidas e colocadas
em confronto com os fatos da realidade íntima e exterior. Isto é,
sem a observação prática, o exposto é um conjunto de palavras
vazias, ou sem o entendimento das idéias que representam.
Atividades inconscientesAtividades inconscientesAtividades inconscientesAtividades inconscientesAtividades inconscientes
Eu digo isso, porque há atividades que ocorrem de modo
inconsciente e impedem, por exemplo, o entendimento das idéias
expostas em uma palestra ou livro. A atenção pode ser desviada
16
para pensamentos alheios aos requisitados, e aí, DISTRAÍDOS
sentimos, ou passamos a acreditar, que as palavras, ouvidas e
lidas não tinham significados importantes ou claros. De ordinário,
costumamos culpar o autor do livro ou o palestrante pela
incompetência de não conseguir nos fazer gozar o prazer que
procuramosno livro ou na palestra! Mas, há boa probabilidade de
que não tenhamos nos esforçado o suficiente para entender o
que nos tentavam passar através das palavras, e a ausência do
esforço para conseguir entendimento, indica que nos
esforçávamos para realizar outro OBJETIVO: o de buscar o prazer
em coisa diferente.
Aplicando agora, os novos conhecimentos para entender
porque não procuramos o gozo no entendimento da palestra ou
do livro, descobriremos que, na verdade, IGNORAMOS o
significado mais amplo das palavras ditas ou escritas, pois nos
distraímos buscando prazer em pensamentos diferentes dos
requisitados por elas. SENTIMOS que as palavras causavam
enfado e, de modo inconsciente, FUGIMOS delas, ao DESLOCAR
a atenção para outras coisas trazidas ao PENSAMENTO...
Estar inconsciente de algo é ignorar esse algo. A pessoa
está inconsciente daquilo que IGNORA; daquilo que não sabe se
existe, acontece ou ocorre. Normalmente estamos inconscientes
de muitas coisas, inclusive das FUGAS que realizamos para não
pensar em coisas tristes, dolorosas ou “chatas”. Aliás, a pessoa
só pode adquirir consciência do muito que ignora sobre si, se
estudar psicologia e praticar a auto-observação usando o que
estudou. O problema, aqui, é que estudar implica em exercitar a
teoria na prática. Sem exercitar as lições recebidas, não se aprende
nada de Psicologia Racional, ainda que se permaneça muitos anos
de boca aberta, aí onde vocês estão agora.
É assim, porque a pessoa só pode agir ou reagir,
CONSCIENTE de seus motivos, quando deixa de IGNORAR as
leis psicológicas determinantes das ações e reações, tais como
17
as que a fazem se distrair, quando está aqui, por exemplo, com o
fim de estudar para deixar de IGNORAR. Estudando sobre si, ela
pode aprender, e saber, quando entra em desprazer e pensa, se
comporta, em busca IRRACIONAL pelo prazer.
Para facilitar ainda mais o entendimento dessa busca
IRRACIONAL, vou contar um sonho que tive. Antes, porém, deixe-
me dizer-lhes que eu sofria bastante, por não compreender, porque
me magoava muito nas relações sociais. Eu SENTIA tanto
desprazer quando me deixava magoar pelas pessoas, que um dia
busquei prazer pedindo sabedoria a Deus. Não queria saber tudo!
Contentar-me-ia em compreender alguma coisa sobre amor e ódio,
entre os humanos. E enquanto aguardava Deus me atender, fui
estudando psicologia. Fui atendido. E com tanta abundância, que
hoje quase me arrependo de ter estudado, depois de pedir. É que
agora SINTO uma certa vergonha, ao entender que me magoava,
porque buscava prazer na mágoa...
19
Capítulo IICapítulo IICapítulo IICapítulo IICapítulo II
Nos Sonhos
Interpretando sonhos na prisão das ilusõesInterpretando sonhos na prisão das ilusõesInterpretando sonhos na prisão das ilusõesInterpretando sonhos na prisão das ilusõesInterpretando sonhos na prisão das ilusões
Com mais estudo, vocês entenderão sobre essa busca
inconsciente. Por ora, quero contar que certa vez, um pouco antes
de acordar, tive um sonho. O que sonhei? Que via uma galinha
triste, doente e machucada, tentando atravessar uma porta. Fui
tentar ajudá-la, e quando a toquei, ela deixou de ser galinha. Virou
uma pardoca, a fêmea do pardal. A pardoca podia voar, mas
estava tão triste, doente e machucada quanto a galinha; eu a
peguei. Não foi nada difícil pegá-la, porque ela estava muito fraca,
abatida e sofrendo. Coloquei-a numa gaiola, junto com um pardal,
notando antes, que a gaiola tinha vãos muito largos e não
impediria ambos de voar bem alto e longe, se quisessem fazê-lo.
Eram livres, mas pelo jeito não queriam a liberdade, pois o pardal,
quando viu a pardoca fraca, ficou tarado. Vocês já viram pardais
namorando?
MÁRCIAMÁRCIAMÁRCIAMÁRCIAMÁRCIA BRIZOLLABRIZOLLABRIZOLLABRIZOLLABRIZOLLA – Namorando ou se acasalando?
JORGEJORGEJORGEJORGEJORGE – Hoje há diferença, entre namorar e trepar (risos)?
Eu perguntei se vocês já viram pardais namorando, porque quem
viu sabe que as preliminares são uma loucura! É um voando atrás
do outro, até caírem ambos num pacote. Embolados, eles fazem
assim: criuscricrisic, ic. Você pensa que é briga, vai apartar e passa
20
vergonha. Então, eis que o pardal montou na pardoca e grrrr, rrr. E
a pardoca, coitadinha, parecia ficar...
CARMENCARMENCARMENCARMENCARMEN TERESATERESATERESATERESATERESA – Mais doente ainda?
JORGEJORGEJORGEJORGEJORGE – Muito feliz! Ela pôs no bico um sorriso meio
idiota e piava assim: pirutiupitupitu, tu... Embora doente, parecia
encontrar prazer dentro de uma gaiola sem grades, e DISTRAÍDA
com os REPETIDOS assédios do “namorado”. Todavia, a pardoca
ia ficando cada vez mais abatida, mais doente. E o pardal, mais
uma vez, e de novo, grrrr, rrr, na pardoca. Achei demais e tentei
apartar. O pardal montado: grrrr, rrr, e a pardoca, coitada, piando
cada vez mais fraquinho: pirutiupi, tu. Quando consegui apartar, a
pardoca já havia morrido. Acordei de repente, condoído pela sorte
dos pardais que, DISTRAÍDOS com o “amor”, eram inconscientes
da prisão sem grades.
Tentei interpretar o sonho, sabendo que ele resultava de
uma atividade psíquica, visando encontrar prazer perdido em dia
anterior, ou antes... Que fato teria gerado o desprazer que
MOTIVOU o sonho? O pior é que o sonho fracassou na sua função,
pois acordei sentindo o coração apertado... Bom, devo explicar que
sou uma pessoa BEM INTENCIONADA e boa, como todo mundo.
Amo animais em geral e entendo que devem ser protegidos de
humanos IGNORANTES. Sofro muito, quando vejo um bicho
qualquer sendo maltratado covardemente, e procurava me safar
do sofrimento, mergulhando no sonho em busca de PRAZER.
Ao tentar identificar qual teria sido o fato que forneceu
MOTIVO ao sonho, lembrei de uma situação ocorrida em dias an-
teriores. Um casal de canários havia sido doado para nossa esco-
la e colocado em um viveiro enorme, com outros pássaros. No
meio deles, por certo devia haver indivíduos agressivos, e um pe-
riquito grosseiro bicou a delicada canária machucando-a. Quando
me contaram, procurei retirar os canários da promiscuidade do
viveiro, pois já não podiam ficar lá.
21
Aparentemente, o ferimento na perna da canária era
superficial e insignificante, por isso coloquei o casal numa gaiola
privativa. Ela bebia, se alimentava sem dificuldade e parecia bem
disposta. Levei-os, então, para minha casa, com o fim de cuidar
melhor deles, com bastante carinho.
Após a primeira noite que passaram em minha casa,
percebi, logo de manhã, que o canário BICAVA o ferimento da
canária. Por que faria isso? Eu sabia que os animais em geral
reagem, quase automaticamente de modo comportamental, a
certos “sinais” presentes no meio ambiente... Zoólogos formidáveis
como o alemão Konrad Lorenz e o holandês Nikko Tinbergen, por
exemplo, observaram comportamentos “de recuperar ovos” em
gansos e, em outras aves que fazem ninho no solo, e verificaram
que TENDEM a rolar com o bico, para dentro do ninho, qualquer
objeto arredondado e de certo tamanho que esteja próximo.
Observem que não procuram rolar para o ninho os ovos que
realmente de lá saíram, ou outros ovos, e sim objetos cujas
FORMAS serviam de “sinais” para desencadear atividades “de
recuperar ovos”.
Tendo esse conhecimento, a primeira resposta que me
ocorreu foi a de que o ferimento servia de sinal para causar uma
excitação desconfortável no canário, e ele se aliviava, bicando-o.
Talvez o sinal levasse a ato muito comum entre pássaros, de
limpeza de penas, DESLOCADO para a perna ferida. Nos
macacos, a limpeza de parasitas e sujeiras, que um faz nos pêlos
do outro, é atividade de integração social e conhecida por
“catação”.
Por via das dúvidas, separei a canária do canário. Coloquei-
a isolada em outra gaiola, acreditando que agora melhoraria do
ferimento, pois o outro, ainda que tivesse boa INTENÇÃO, já não
poderia mais agredi-la com bicadas. Mas qual! No dia seguinte a
gaiola estava toda ensangüentada, e a canarinha,que judiação,
quase morta. Ela parecia precisar que outro a bicasse, ou das
22
bicadas, porque apesar de isolada, se bicava na ferida. Sendo o
ferimento, também para ela, sinal disparador de bicadas reflexas,
de “limpeza”, ela mesma, se encarregou de bicar-se. E era muito
tarde. Nada mais pude fazer. Ela morreu de tanto sangrar.
Sonhar é atividade psíquica, através da qual, de modo
reflexo e na inconsciência, buscamos conforto para as
INSATISFAÇÕES. Mas, repito que buscar prazer não é o mesmo
que encontrar. Nem sempre o conseguimos. No sonho, eu buscava
proteger e salvar a pardoca e terminei tão frustrado quanto me
SENTI culpado pela sorte da canária. Então, eu buscava no sonho,
alívio para a culpa que SENTIA.
Buscar prazer nas ilusões pode dar desprazerBuscar prazer nas ilusões pode dar desprazerBuscar prazer nas ilusões pode dar desprazerBuscar prazer nas ilusões pode dar desprazerBuscar prazer nas ilusões pode dar desprazer
Em outras aulas já demonstrei, que todo “ser vivo” se firma
no ambiente tentando exercer algum CONTROLE sobre presas,
território e parceiro sexual, por exemplo, fato que o leva a aprender
e a EVOLUIR. Ninguém deve estranhar isto, pois a natureza está
sempre em movimento e em TRANSFORMAÇÃO, e termina criando
situações NOVAS, ditadas por desequilíbrios e equilíbrios
energéticos. Os chamados “seres vivos” não escapam dessa
regra. Eis a razão pela qual os cientistas constatam que os “seres
vivos” se transformaram, se transformam e EVOLUEM, tanto na
anatomia como na inteligência.
Com a tendência evolutiva dos “seres vivos” em mente,
lembro que no curso, “Sexo, prazer e amor”, discutimos tema muito
conhecido dos veterinários de zoológicos, sobre os animais. Que,
tendo as ATIVIDADES restringidas por jaulas, DESLOCAM as
energias que deveriam gastar na busca por PRAZER EM
LIBERDADE, para atos VICIADOS, dirigidos ao próprio corpo. Os
papagaios, por exemplo, podem passar a se ferir, em gaiolas,
arrancando as próprias penas com os bicos, por terem sido
23
privados de exercitá-los em galhos de árvores; nas jaulas, os leões
andam em círculos o tempo todo como se realizassem longas
caminhadas, livres pelos prados selvagens... Acorrentados e
impedidos de se locomover, elefantes balançam o corpo sem parar
etc. Livres, na natureza, não teriam tanto tempo para os vícios,
pois viveriam atarefados, com ATIVIDADES ADAPTATIVAS
naturalmente EXIGIDAS pelo ambiente, tais como fugir de
predadores, competir com outros do mesmo grupo, caçar,
construir ninhos, resolver problemas de acasalamento, etc. Em
liberdade, por exemplo, lobos e felinos, quando levemente feridos,
lambem o ferimento por tempo suficiente para realizar uma eficaz
assepsia curativa. Aprisionados, recebem alimento e cuidados
físicos dos que os aprisionaram, e passam a ficar muito tempo na
ociosidade. Impedidos de realizar ATIVIDADES ADAPTATIVAS, ou
aprendizagens que os permitiriam se firmar na plenitude de ser,
lambem tanto um superficial arranhão, que terminam por
transformá-lo numa grave chaga. Chegam a provocar terríveis
mutilações em si mesmos.
As exigências ambientais geram constantes problemas,
que são ótimas oportunidades para o animal APRENDER formas
de ação inéditas, NOVAS. A aprendizagem não ocorre, porém, se
ele REPETE, de modo compulsivo e “reflexo”, as formas arcaicas
de ação. E essa REPETIÇÃO pode ocorrer, em razão de uma
inadequada percepção da realidade. Gansos rolam objetos
estranhos para dentro do ninho, por exemplo, porque eles
possuem FORMAS PARECIDAS com as do ovo. Diríamos que
DESLOCAM os atos que deveriam CONTROLAR os objetos
verdadeiros, para objetos falsos, como se “acreditassem” lidar
com os verdadeiros.
Ora, vimos que animais IRRACIONAIS como gansos,
macacos e outros realizam atividades de limpeza em si e nos
parceiros. Aprendemos também que, em razão de inadequadas
percepções, podem CONFUNDIR o ferimento próprio e alheio
24
como “sujeira” ou objeto estranho ao corpo, e para ele DESLOCAR
atos compulsivos de limpeza. Isso nos leva a perguntar: será que
quando estamos DISTRAÍDOS ou esquecidos de RACIOCINAR
não fazemos o mesmo? Será que não deslocamos REPETIDOS,
arcaicos e insatisfatórios atos, a objetos inadequados como o
próprio corpo e alheio, em vez de realizar nossa plenitude de ser e
gozar maior SATISFAÇÃO?
O princípio que rege os atos deslocados pode ser reco-
nhecido no seguinte exemplo humano: um empresário ficou mui-
to irritado com um funcionário relapso e DESEJOU botá-lo na rua
a pontapés. Pensou o quanto seria prazeroso fazê-lo. Mas, TE-
MENDO a represália legal, apenas o despediu dentro das normas.
Certamente, ficou INSATISFEITO por não realizar o que queria e,
mais tarde, ao chegar em casa, o seu cão de estimação foi ao seu
encontro para recebê-lo afetuosamente. Demonstrando alegria,
pulou sobre o empresário, que deu-lhe contundente pontapé. De-
pois, percebendo vagamente que teria cometido um erro, FUGIU
da culpa buscando uma DISTRAÇÃO e racionalizou o ato treslou-
cado alegando que a CULPA pelo pontapé grosseiro foi do cão,
que o irritou ao encher a sua calça nova de pêlos. Como se vê, o
DESEJO de dar um pontapé no funcionário fez a musculatura da
perna e do corpo ficar em TENSÃO. O desejo fixou energias bioelé-
tricas na musculatura e o pontapé foi reprimido determinando uma
INTENSÃO recalcada que foi liberada no ato DESLOCADO, do qual
se arrependeu... Mas já era tarde. O azar foi do cão desprotegido de
LEIS capazes de o livrar de pontapés. Por ser submisso, se colocou
disponível e próximo demais do agressor DOMINANTE. Em suma,
as energias psíquicas e físicas mobilizadas pelo desejo de chutar o
empregado protegido por legislação, forçavam a busca da satisfa-
ção prazerosa para outro ser, e impeliram ao pontapé no momento
exato em que o desprotegido cachorro se aproximou carinhoso.
Sendo assim, para não DESLOCAR agressões a pessoas
e seres da mais íntima convivência, aos quais dizemos amar, não
25
seria errado reprimir pontapés? Deveríamos todos liberar o ódio e
começar a dar pontapés nas pessoas que nos irritam? Há
psicólogos que defendem tal postura catártica DESLOCADA para
sacos de areia e almofadas, mantendo os clientes aprisionados
nas ATIVIDADES motivadas por impulsos sentimentais, irracionais
e pouco civilizadas, que DISTRAEM como REPETIÇÕES VICIADAS
e tornam impossível a APRENDIZAGEM de respostas RACIONAIS,
em que a raiva do animal não venha a ser despertada, nem
alimentada.
Dissemos antes que, quando as energias psíquicas e
orgânicas do indivíduo são impedidas de expressão nos atos
SATISFATÓRIOS à realização plena do ser, surgem ATOS
DESLOCADOS que as “gastam”, em alvos substitutos dos
originais. O homem já evoluiu anatômica e fisiologicamente do uso
das patas para o da INTELIGÊNCIA RACIONAL, e se for impedido,
cerceado ou reprimido de realizar ATIVIDADES desta categoria
mental, REPETIRÁ especializadas atividades arcaicas, em VÍCIOS
que prejudicam justamente a aprendizagem e o desenvolvimento
da INTELIGÊNCIA.
Tendo uma noção sobre deslocamentos, ao saber que
fulano, depois de declarar amor por fulana e casar-se com ela,
dilapidou todo o dinheiro dela e a abandonou, poderemos arriscar
uma hipótese: a de que foi impedido, pela cultura, de se firmar no
nível mental e psicológico do ser humano ADULTO e civilizado.
Podemos supor que ele declarou amor imaturo, e casou-se para
REPETIR atos DESLOCADOS do leviano relacionamento infantil
com a mãe, para a fulana. A paixão por ela, ou pelo dinheiro dela,
pode ter sido motivada por SENTIMENTO de busca infantil por
prazerosa DEPENDÊNCIA da mãe provedora!
Ora, biologicamente ainda somos animais! Vivemos em
sociedade, cujas leis e regras de organização social reprimem
algumas atividades grosseiras e brutas, e quase todas de
SUBLIMAÇÃO, que levariam o homem a avançar no plano mental.
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O homem bruto, por exemplo, reprimido na grosseria, pode
APRENDER a sublimar.Se sente ódio por pessoas e é impedido
por lei, de matá-las a dentadas, poderá buscar SATISFAÇÃO
deslocando as atividades dos maxilares para compulsivos atos
de fofocas. São atividades igualmente imaturas e atrasadas, que
preservam a eficácia dos MOTIVOS sentimentais e animais, mas
não tão lesivas.
Por outro lado, é bem provável que nós todos, apesar da
elevação espiritual, civilidade e BOAS INTENÇÕES, de que nos
jactamos investidos, busquemos SATISFAÇÃO em ATIVIDADES
DESLOCADAS, arcaicas, e já VICIADAS, porque a prisão social e
cultural reprime a maioria das atividades de crescimento mental...
Aliás, quem quiser se analisar com seriedade APRENDE-
RÁ, neste estudo, a reconhecer alguns dos VÍCIOS gerados pelo
deslocamento de energias, que no passado eram gastas na COM-
PETIÇÃO territorial, instintiva, irracional e animal, para atos da
mesma qualidade, mas DISFARÇADOS de “civilizados”. Os disfar-
ces mantêm o COMANDO dos impulsos irracionais, impedindo
que estes sejam reconhecidos e, porque são IGNORADOS, per-
manecem na inconsciência.
Deslocamento de culpaDeslocamento de culpaDeslocamento de culpaDeslocamento de culpaDeslocamento de culpa
Fofoqueiro, normalmente, é o sujeito que CULPA outras
pessoas pela sua frustração, desprazer ou INSATISFAÇÃO. Se ele
sofre por não ter sido promovido no emprego, por exemplo, culpa
o chefe. Sente ódio do “culpado” e sofre mais ainda. Pode buscar
recuperar o prazer, então, na vingança, e “matar o culpado”
simbolicamente, nos sonhos, devaneios ou falando mal dele e
sabotando sua chefia. E não é por buscar o prazer que consegue,
já vimos. Na verdade, o ódio o consome cada vez mais, na medida
em que realimenta o sofrimento, ao lembrar da não promoção, do
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“culpado” e do insucesso de suas anteriores atividades vingativas.
Em TENSÃO constante vive DESLOCANDO atos gerados pelo ódio
contra pessoas do seu convívio. Conseqüentemente, a
IGNORÂNCIA de que certas atividades não são as mais adequadas
para fornecer prazer, pode gerar desprazer e dores contínuas.
Eu sabia, por exemplo, que me sentir culpado pela morte
da canária não era o modo correto de buscar prazer. Mas, esta
sabedoria ainda era apenas teórica, e só se tornou prática, depois
de aplicar meus conhecimentos na análise do que eu SENTI após
o sonho. Nele, a pardoca não se recuperou da doença porque eu
fui imprudente e a aproximei do macho, permitindo que fossem
envolvidos pelo “amor-tesão”. Depois, NÃO SABIA como deter as
investidas de “amor” do pardal tarado. O SENTIMENTO indicava
que eu me odiava por essa IGNORÂNCIA! Ora, havia uma ligação
do sonho com o fato ocorrido com os canários, e, obviamente, eu
sentia culpa por tentar cuidar deles com ATOS inadequados. Sentia
culpa por ter sido IGNORANTE e, enquanto não APRENDESSE a
deixar de ser, continuaria buscando alívio para minha dor
DESLOCANDO o ódio contra o “culpado”, com agressões. O
“culpado” era eu, e então, “bicava ou lambia” o ferimento aberto
pela culpa em meu coração, como se buscasse o prazer de me
SENTIR “limpo” com a auto-agressão.
SANDOVAL QUARESMA –SANDOVAL QUARESMA –SANDOVAL QUARESMA –SANDOVAL QUARESMA –SANDOVAL QUARESMA – Mas você fez o que pôde! E
assim como não culpou outras pessoas não devia culpar a si
mesmo por não saber cuidar melhor de canários!
JORGE –JORGE –JORGE –JORGE –JORGE – Meu caro amigo, a Psicologia Racional oferece
uma teoria testada para o indivíduo USAR na análise dos seus
problemas. Logo, obedecemos ao seguinte princípio: não mate
minha fome oferecendo-me peixes para comer; ensine-me a pescar
e deixe que o sentimento famélico me leve a fazê-lo. Não é que
não seja bom ter você por perto, aconselhando-me! É que em
nossa cultura há muitos dizendo como devemos fazer para viver
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felizes sem resolver os problemas que nos afligem. E se eu me
livrasse de culpas sem APRENDER com elas, apenas FUGIRIA de
encarar o SENTIMENTO que me motiva a detectar e resolver
problemas! Manteria minha inteligência na prisão da especialização
e sem realizar ATIVIDADES RACIONAIS. Apenas “justificaria” minha
IGNORÂNCIA, atendendo ao desejo de não ser ignorante, e a
manteria fora de foco da ATENÇÃO crítica. Seria o mesmo que
atribuir a morte dos animais à IGNORÂNCIA dos canários, da
galinha, dos pardais e até de quem me deu os pássaros! Aí,
DISTRAÍDO com a culpa dos outros, preservaria a minha como
algo aceitável. Assim, FUGIRIA do desprazer que a culpa gera e
das ATIVIDADES naturais e adequadas para torná-la consciente.
E, em vez de APRENDER, realizando minha vocação de ser
inteligente, continuaria VICIADO nas infantis, irracionais e
IRRESPONSÁVEIS RELAÇÕES com outras criaturas.
Por outro lado, eu também poderia ficar VICIADO, em sentir
culpa. Neste caso, a culpa não serviria de MOTIVADORA para a
aprendizagem, e sim de atividade patológica, masoquista, de
autoflagelação. Para diferenciar a atividade produtiva da não
inteligente, suponham que eu tivesse derrubado uma leiteira por
falta de ATENÇÃO, e derramado todo o seu conteúdo. De modo
sadio, procuraria entender que devo prestar mais ATENÇÃO no
que faço; de modo doentio, não procuraria aprender nada, ou
mesmo aprendendo, continuaria a “sofrer pelo leite derramado”.
A canária morreu e nada que eu fizesse poderia ressuscitá-
la! Daí ser estupidez chorar pelo leite derramado ou pela morte da
ave. O que havia para lamentar era a minha IGNORÂNCIA e
irresponsabilidade. E neste caso, a culpa indicava haver algo que
eu podia fazer: APRENDER a deixar de ser ignorante e
irresponsável.
Quem aceita cuidar de canários deve ser coerente com a
racionalidade e aprender a fazê-lo. É como age quem é consciente
de sua responsabilidade na convivência com outras criaturas.
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Lembram quando o “Pequeno Príncipe”, de Saint Exuperry,
declarou que nos tornamos responsáveis pelas criaturas que
cativamos? Então, a inteligência não me permite esconder a culpa
de meus olhos críticos, nem que a preserve com orgulho. Eu não
poderia exibir a IGNORÂNCIA, dizendo: “Que pena! Eu não sabia
que isso podia acontecer!”. Isto seria usar a ignorância como
desculpa pelas desastrosas conseqüências da minha ação
ignorante. Ao contrário, a ignorância provoca vergonha em quem
dela se torna CONSCIENTE. E justificá-la, em vez de corrigi-la, me
envergonharia, pois só quem é viciado na IGNORÂNCIA a justifica
através de REPETIÇÕES inconscientes, e a ostenta como se fosse
um valioso troféu.
Eu fui culpado sim, de imprudência, imperícia e negligên-
cia, ao aceitar levianamente e de modo irresponsável, cuidar de
dois seres viventes. IGNORAVA que não devia colocá-los com
periquitos e que precisava proteger o ferimento da canária contra
as bicadas do outro e dela própria. Ora, sem aceitar a CULPA,
ninguém pode observá-la e estudá-la, para se ARREPENDER dos
erros que ela acusa, e em seguida APRENDER a não cometê-los
mais. Afinal, o preço da ignorância não é pago apenas por quem
erra, mas também por canários e todos os outros seres que so-
frem, por terem de conviver com ignorantes.
Quando DIGO que amo pessoas e entes da natureza, e
não me responsabilizo pelo bem estar deles, mostro leviandade e
que o que DIGO não merece crédito. Mostro ainda, o que devem
esperar de mim as pessoas e seres que digo amar.
Só quem admite erros pode APRENDER a corrigi-los e
obter o prazer negado aos que fogem da compreensão, usando
desculpas esfarrapadas. Pior, fugindo da admissão do erro, eu
não seria diferente das criaturas de cérebro acanhado, que nos
meus sonhos tento ajudar a ultrapassar a porta da transformação!
Eu não poderia ensinar ninguém a usar a RAZÃO, fugindo da
atividade racional! Se o fizesse, continuaria desesperado como
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no sonho, em que, apesar de fornecer as condições para a galinha
se transformar em pardal com fortes asas, não poderia privá-la da
complicada convivência “amorosa” com outros seres. Eu a QUERIA
uma ave forte para escapar das grades da gaiola em vôo livre,mas NÃO VERIA, que só iria se fortalecer, pescar ou voar em
liberdade se ela QUISESSE.
Então, culpa indica ação a ser revista, analisada, sendo,
portanto, um estimulante para a APRENDIZAGEM. Neutralizando-a
deixo de me importar com as conseqüências de meus atos e de
APRENDER. Ora, sem aprender, na tarefa de tentar ajudar pessoas
a atravessar um portal de luz (o logotipo do NUPEP é uma porta
aberta atravessada por forte luz, que envolve estudante prestes a
cruzá-la), eu continuaria a agir tão INCONSCIENTE como o pardal
tarado, que “ferra” a criatura que deveria ajudar.
Muitos dizem amar pessoas, animais e a natureza, tendo
na cara o mesmo sorriso idiota da pardoca do meu sonho. Com o
mesmo ar patético dizem também: “O amor é lindo! Só o amor
constrói! É preciso preservar a natureza...” Mas, na prática, fogem
das desagradáveis culpas e se REPETEM na ação destruidora de
tudo o que tocam, com atos INCONSCIENTES, que não corrigem
“nem a pau”, pois não se propõem a tomar consciência deles.
Contudo, procurando aprender mais, perguntamos: se o
canário macho havia de realizar atos deslocados, por que tinha de
ser especificamente, justamente os de bicar o ferimento da canária?
VITORVITORVITORVITORVITOR SCHIEZAROSCHIEZAROSCHIEZAROSCHIEZAROSCHIEZARO – Você já respondeu! O ferimento
era um estímulo para ele bicar! O incomodava de certa forma e ele
o bicava buscando reduzir o incômodo; para ter prazer. Só que
buscar não significa conseguir!
JORGE –JORGE –JORGE –JORGE –JORGE – Muito bem, Vítor! Mas agora devemos avançar
para encontrar resposta mais precisa, que explique, senão os atos
dos canários, os nossos. É claro! Afinal, em Psicologia Racional
procuramos entender comportamentos de homens, mesmo
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quando falamos dos outros animais. Até agora, por exemplo, os
animais nos mostraram que as energias impulsionadoras da
adaptação evolutiva exigem ATOS INTELIGENTES ou de
APRENDIZAGEM, diante dos problemas. E para dar vazão natural
à inteligência, os problemas expressos nas PERGUNTAS são
sempre melhores do que as certezas das respostas, que o vício
da IGNORÂNCIA preserva.
Por que o canário tinha de bicar justo a perna da canária?
DAVID CANASSA –DAVID CANASSA –DAVID CANASSA –DAVID CANASSA –DAVID CANASSA – Porque o ferimento era um estímulo
e o canário não chuta. Canário bica. Sendo ave, opera no seu
ambiente, predominantemente, com o bico.
JORGE –JORGE –JORGE –JORGE –JORGE – Bom, David, é verdade que cada criatura se
expressa no ambiente através das atividades específicas do seu
NÍVEL EVOLUTIVO. Se fosse um gato arranharia, um cão morderia,
e um burro, o que faria? Escoicearia e morderia. É evidente que o
ferimento da canária não estimulou no canário a atividade de
pensar, de produzir idéias, raciocínios! Que besteira, não é? Se o
canário raciocinasse antes de bicar, não bicaria a perna ferida da
companheira. Sendo uma ave, o estímulo despertava nele a reação
operante de bicar. Todavia, havia outros estímulos na gaiola! Por
que não bicou a vasilha de comida, de água, o pau do poleiro, as
grades da prisão, entre outras coisas? Por que o ferimento da
canária foi o SINAL eficaz entre todos os outros?
Observem que essa pergunta deve servir de SINAL eficaz
para estimular uma ATIVIDADE natural do animal humano: a de
raciocinar. Cada SINAL exige resposta específica e correspondente
ao melhor nível do sujeito. Se não tem resposta eficaz para minhas
perguntas, é porque não aprendeu o suficiente sobre o assunto,
ou eu não forneço sinais claros o suficiente para levar a ATENÇÃO
dele para o que quero saber. Seja lá pelo que for, é bom aprender
agora que o canário bicou o ferimento da canária, porque era o
SINAL que solicitava a ATENÇÃO dele. Além disso, exigia ou PEDIA
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atividade reflexa, habitual e SOCIAL. A vasilha de comida não era
sinal que prendia sua ATENÇÃO, por estar vazia ou por ele estar
sem fome. Em outras palavras, a canária estava disponível e
parecia PEDIR a ATENÇÃO e as bicadas do canário, assim como
a fulana pediu o que teve, ao casar-se com o fulano...
Sentindo e agindoSentindo e agindoSentindo e agindoSentindo e agindoSentindo e agindo
Se eu tivesse evoluído mais, e exercitasse um NÍVEL pleno
da razão, raciocinaria antes de agir e teria encontrado uma solução
para proteger a canária dos outros e de si mesma. O
acontecimento mostrou, portanto, que o raciocínio não é atividade
tão constante nos meus pensamentos e atos, como eu gostaria
que fosse. E não se apresentou nos meus cuidados aos canários,
talvez porque me DISTRAÍ da realidade presente, com temas que
não eram pertinentes a pássaros. No mínimo, eu deveria ter me
informado sobre canários, antes de tentar cuidar deles! A verdade
é dura, mas o fato é que o ferimento da canária não foi SINAL capaz
de desencadear raciocínio nela, no seu macho ou em mim. Podemos
dizer, apenas, que tanto os canários como eu fomos só capazes de
SENTIR que o ferimento existia e que estava ali requisitando uma
atividade nossa. Enquanto seres meramente sentimentais, como
respondemos ao ferimento da canária, eu e o canário?
PATRÍCIA RAMOSPATRÍCIA RAMOSPATRÍCIA RAMOSPATRÍCIA RAMOSPATRÍCIA RAMOS – – – – – Só sentindo e agindo de modo
irracional...
JORGE –JORGE –JORGE –JORGE –JORGE – É claro! Por princípio, sabemos que o MOTIVO
das ações é o sentimento de desprazer. Uma excitação indefinida,
de ansiedade talvez, fez o canário dar bicadas, instintivamente, no
ferimento para se aliviar... Poderíamos entender esse assunto da
bicada como a coceira que PEDE ou exige a resposta específica
da coçada. A coçada não elimina a coceira, mas dá certo alívio,
33
conforto... De qualquer ângulo que estudemos, verificamos ter sido
um sentimento que fez o canário SENTIR DESEJO de bicar o
ferimento. E bicou. O canário tinha consciência para saber que
fazia mal à canária, ao realizar seu DESEJO?
ALGUNS DA PLATÉIAALGUNS DA PLATÉIAALGUNS DA PLATÉIAALGUNS DA PLATÉIAALGUNS DA PLATÉIA – – – – – Não.
JORGE –JORGE –JORGE –JORGE –JORGE – E mais tarde? Ele procurou avaliar o resultado
de seus atos?
ALGUNS DA PLATÉIAALGUNS DA PLATÉIAALGUNS DA PLATÉIAALGUNS DA PLATÉIAALGUNS DA PLATÉIA – – – – – (Risos) Não.
JORGE –JORGE –JORGE –JORGE –JORGE – O canário sequer sentiu a culpa, porque este
sentimento só surge por evolução, entre humanos com ordem
superior de consciência para, ao menos, desconfiar que errou de
algum modo. A culpa é modo superior de SENTIR que há
problemas a resolver. E fugir deles, através de DISTRAÇÕES é
atividade psicológica atávica que pode ser mantida como VÍCIO.
Em 1846, o médico Robert Liston (1794-1847), era chama-
do “dedos de relâmpago” por ser grande cirurgião. Ele realizou a
primeira cirurgia com anestesia da Europa, em Londres, amputan-
do a perna de um homem. Pena que tenha amputado a perna erra-
da... Talvez tivesse sentido culpa, mas se DISTRAÍDO dela porque
sua bicada foi enaltecida socialmente como “sucesso inédito” na
arte de anestesiar...
Houve também, a prática indiscriminada da sangria
médica, tempos atrás. Por qualquer coisa, os médicos
sangravam... Segundo Richard Gordon, autor do livro, “A
assustadora história da medicina”, o grande médico, John Coakley
Lettsom (1744-1815), caridoso e benemérito da humanidade, foi o
fundador da atual Sociedade de Medicina de Londres e, como
todos os médicos antigos, repetia os princípios destinados a
rejeitar culpas com antecipação: “Quando os pacientes vêm a
mim eu os purgo, sangro e faço suar. Então, se resolvem morrer,
o que é da minha conta?”
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Os médicos antigos, muitas vezes não sabiam o que fazer
para curar ou diminuir as dores do paciente, mas nem por isto
deixavam de realizar as ATIVIDADES enaltecidas socialmente, que
deles eram esperadas e exigidas. E, com exceção do charlatão,
que é contumaz, todos os médicos já feriram, ocasionalmente, ao
“bicar” como o canário ou como o pardal tarado, porque os
pacientes querequisitam a ATENÇÃO deles fornecem um SINAL
que PEDE resposta SOCIAL inconsciente e sentimental. Diante
desse sinal há os que sangram demais os bolsos do cliente,
receitam anestésicos, estimulantes, cirurgias e todos os tipos de
remédios, muitas vezes SEM RACIOCINAR se farão bem ou mal.
Afinal de contas, para a resposta SOCIAL basta que os médicos
tenham a autorização institucional para o exercício da função
profissional de curar e de aliviar as pessoas de seus sofrimentos.
As dores e o medo de mutilações e de morte provocam
uma regressão nas pessoas, a estágios reflexos, “automáticos” e
infantis de frágil dependência, levando-as a se comportar como
crianças que, esperam do médico, também, a segurança paternal.
Por isso, muitos médicos se tornam especialistas em apresentar
poses e atos de dominância, respostas tão inconscientes, muitas
vezes, quanto às bicadas do canário.
O canário sabia que estava provocando a morte de sua
parceira? Não. Ele estava inconsciente daquilo que sua atividade
podia produzir. Então, ele bicava dormindo? Estar inconsciente é
não saber nada do que se faz? Claro que não! Certamente sabia
que bicava. Há médicos buscando realmente curar, aliviar
sofrimentos e realizar avanços na Medicina. Mas, também, há os
DISTRAÍDOS desses objetivos nobres, e com a atenção
diretamente voltada a outros objetivos dados pelo sentimento de
dominância, de poder, de vaidade e prepotência arrogante. E
IGNORAM quando seus atos não são os mais adequados para
curar ou aliviar.
Como a consciência, a inconsciência é um estado relativo.
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Sou consciente de algumas coisas e inconsciente de outras. Eu
estava inconsciente de que os canários bicariam o ferimento e
eles estavam conscientes de que havia algo na frente, exigindo
ser bicado. Podemos dizer que esse algo era o sangue, a perna
ferida ou machucada, mas devemos entender que o pássaro não
pensa com nossas palavras, se é que pensa. O mais correto é
dizer que dado sinal estimula-o a sentir e a reagir de modo reflexo,
de acordo com o sentimento. Mas, o canário não sabe nada de
sinais porque não estuda conosco.
Por outro lado, não sei o que um sinal produz na cabeça
do canário, porque não sou canário. Mas, experimentos
mostraram, também, que os filhotes de pássaros abrem o bico
diante dos pais e isto seria um sinal de pedido para depositarem
alimento lá dentro... Observando comportamentos concretos,
relacionados com certas formas perceptivas, digo apenas que o
canário vê no ferimento algo e tem consciência do que vê; do que
sente, pois é o sentimento que o orienta no ato de bicar. Por isso
podemos dizer, que ele tem consciência da presença do ferimento,
enquanto um sinal, e da necessidade de bicar. E sabe que bica.
Logo, o canário tem muita consciência. Não tem? Tem. Só falta-lhe
deixar de IGNORAR que, ao bicar pode fazer mal a si e a outros.
Muito bem. Médicos em abundância cometeram muitos
erros por este mundo afora. Sentiram que deviam fazer o que
fizeram e tinham consciência do que faziam. Nos casos em que
os seus atos foram inadequados, pode ter lhes faltado a
consciência disso. Mas, em todos os casos, sem dúvida, fizeram
o que os pacientes esperavam deles. E o que esperavam?
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Capítulo IIICapítulo IIICapítulo IIICapítulo IIICapítulo III
No Poder
O exercício do domínioO exercício do domínioO exercício do domínioO exercício do domínioO exercício do domínio
Para responder, devo discutir com vocês outra
observação. Na minha infância tive um cachorro que parecia capão.
Era gordinho e pretinho. Tinha um toco de cauda e, por isso, o
chamávamos de Pitoco. Foi criado por nossa família desde que
era pequenino, embora eu sempre me lembre dele como cão
adulto. Ele foi meu fiel companheiro desde que nasci, até meus
dezoito anos.
Quando eu tinha aproximadamente oito ou nove anos,
outro cachorro entrou em minha vida. Era amarelo e tinha seguido
minha mãe na volta das compras, no mercado. Adotamo-lo e lhe
demos o nome de Bob. Ele era muito parecido com o Biju, cachorro
da atualidade que alguns de vocês conhecem. Tinha a mesma
carinha alegre do Biju, muito simpática, sempre sorrindo para a
gente. Pois bem, eu ensinei o Bob a sentar-se para pedir comida, a
andar apenas sobre as patas traseiras, a buscar chinelos... Em
muitas ocasiões desfilei pelas ruas de Sorocaba orgulhoso, com
ele equilibrado na garupa da bicicleta.
Eu achava o Bob muito inteligente e brincava mais com
ele, porque o Pitoco era meio rabugento. Quase não brincava. Era
um cachorro sério, invocado. Chegavam pessoas para ver minha
mãe, que benzia crianças, aconselhava e dava amparo espiritual,
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e ele se aproximava delas, como quem não queria nada. Sorrateiro,
com jeitão maneiro, sossegado, ninguém prestava atenção nele.
Parecia apenas um cão preguiçoso, muito folgado... Mas quando
chegava perto das pessoas, nhac; ele mordia a perna delas. Vivia
criando problemas para minha adorada mãe, por causa disso.
O Pitoco era encrenqueiro e bom de briga, apesar de ser
baixinho. Sua constituição física baixa e atarracada era semelhante
a de um buldogue e, devido a essa estrutura, os outros cães, ao
atacá-lo afoitamente, terminavam rolando por cima dele, e caindo
numa espécie de “cama de gato”, como se levassem um golpe de
judô. Virou e mexeu, alguém de casa tinha de desgrudar os dentes
do Pitoco, do pescoço de outro cachorro.
Já o Bob, coitado, a gente via logo que era neurótico; que
tinha problemas de afirmação sexual. Por isso, de vez em quando
a gente passava vergonha com ele, pois não reagia com firmeza
convincente, quando outro cão abusava de sua bondade e queria
usá-lo como cadela.
Pois bem, quase todo mundo sabe que os animais sociais
defendem ferozmente um espaço vital que nós chamamos de terri-
tório. Então, o território do Pitoco e do Bob era, religiosamente,
demarcado todo dia, com urina, e abrangia alguns metros em volta
da casa, ali na Artur Gomes, uma rua central da cidade, mas que na
época era sem pavimentação, cheia de buracos e de mato. O por-
tão de nossa casa, assim como as portas, vivia aberto. Os cachor-
ros, assim como as cabras e galinhas que minha mãe criava, saiam
para a rua e entravam quando queriam. Isso era delicioso! Vocês
não podem imaginar como é viver entre animais domésticos e com
a casa toda aberta, sem medo, nem paranóia. Nunca mais teremos
isso.
Mas, como eu dizia, o cachorro que se atrevesse a passar
na frente da casa estava invadindo o território. Quando acontecia,
o Bob era o primeiro a dar o alarme e começava a encher a
paciência do Pitoco, latindo em suas orelhas, como se o
conclamasse a irem expulsar o outro dali.
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O Bob tinha alguns dentes estragados e vivia apanhando
do Pitoco que, ao contrário, tinha dentadura formidável. Mas, no
fundo eram amigos... Deviam ser, porque afinal, moravam na
mesma casa e demarcavam o mesmo território. O que digo é que
essa relação social não evitava que, por ciúme, por algum pé de
frango ou bala de doce, o Pitoco abandonasse a preguiça e irritado,
batesse no Bob. Ai dele quando tentava se alimentar antes do
Pitoco. Afrontava a “autoridade” do DOMINANTE da relação social
e apanhava. Por isso vivia machucado, e talvez, REPRIMINDO muita
raiva. Todavia, quem os visse juntos, latindo atrás da carroça do
leiteiro, que passava em frente da casa, dormindo um com a cabeça
repousada no corpo do outro, diria que na maior parte do tempo
eles tinham uma amizade linda, exatamente do tipo que as pessoas,
não muito racionais, são capazes de ter.
Sempre que nos referimos à amizade entre irracionais,
também lembramos interessante estudo que os cientistas realizam
sobre a formação HIERÁRQUICA dos animais sociais! Entre
inúmeras espécies, há COMPETIÇÃO dos indivíduos no grupo,
para “ver” quem domina, de modo que as escaramuçasentre eles
permitem que cada um se posicione em degrau hierárquico muito
bem definido. Na primeira vez que os cientistas observaram essa
COMPETIÇÃO por dominância, entre irracionais, foi entre galinhas,
e por isso chamaram o fenômeno de “ORDEM DAS BICADAS”.
Eles constataram que a galinha dominante era, invariavelmente, a
que BICAVA o submisso mais próximo...
Curiosamente, esse estudo mostrou que as lutas violen-
tas entre membros da mesma espécie eram raras. Depois de fir-
mado o status de cada um no grupo, os animais SUBLIMAM o
embate mais duro, e mais feroz, capaz de gerar ferimentos sérios
e até a morte, SUBSTITUINDO-O por RITUAIS nos quais um EXI-
BE ao outro suas melhores armas. Ursos, lobos e felinos em ge-
ral, por exemplo, eriçam pêlos e adotam posturas agressivas, que
dão a APARÊNCIA de serem maiores do que realmente são, es-
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cancaram as afiadas presas e rosnam grosso e alto. Tal EXIBI-
ÇÃO geralmente é suficiente para provocar MEDO e levar o outro
a assumir postura SUBMISSA e apaziguadora. As aves EXIBEM
esporas, bicos, penas, gritos, etc.
Mas, voltando à minha saudosa recordação, quando outro
cachorro invadia o território, o Bob “convocava” o Pitoco para irem
expulsá-lo. Era uma coisa impressionante o que eu observava na
época, e mesmo sem ter o entendimento de hoje, me intrigava
com o que o Bob fazia. Ele latia, latia, na cabeça do sossegado
Pitoco, corria até o portão e voltava a latir novamente nas orelhas
dele, continuadamente, infernizando a paciência do outro. Indicava
claramente que havia cachorro estranho no território, e que estava
incomodado, mas parecia “não acreditar” que tinha competência
para expulsá-lo sozinho. E chamava o Pitoco. Insistia, até que o
Pitoco, muito irritado, talvez nem tanto com o invasor do território,
mas com o Bob, ia. E, na hora que a briga ficava mais feia,
inexplicavelmente, o Bob passava a morder o Pitoco.
Eu não me conformava com aquilo. Muitas vezes tive de
intervir, jogando água fria nos três ou quatro briguentos e ralhando
com o Bob. Que cachorro mais ordinário, traidor e ardiloso!
Convocava o parceiro para defender o território, a casa de ambos,
e ao invés de brigar ao lado dele, ajudava os de fora! Às vezes, era
mais de um ou o outro era grande, e o Pitoco passava mal e
precisava de ajuda! Antes da traição, o Bob parecia gritar nas
orelhas do Pitoco para animá-lo: “Vamos lá. Está vendo o cara?
Ele é grande, mas não é dois! Não é de nada. Vamos lá, vamos!”.
O Pitoco ia, e logo se via com o Bob mordendo seu pescoço.
Tinha de brigar contra dois ou mais... Coitado do Pitoco! Tinha um
amigo “cachorro”, como muitos de nós já tivemos.
Isso foi uma coisa que observei na minha infância e
adolescência, sobre a função social de DOMINÂNCIA e amizade
entre cães com personalidades diferentes...
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Vida de cachorroVida de cachorroVida de cachorroVida de cachorroVida de cachorro
Outro dia, no começo deste ano, eu caminhava com um
amigo e ali, na rua Visconde do Rio Branco, vimos um cara brigando
com um cachorro. O cachorro rosnava e latia de modo natural.
Aparentemente defendia o seu território, e o sujeito o encarava,
“rosnava e latia” como se fosse outro cão. O homem também
xingava o cão de tudo quanto era nome feio. Falei para o amigo:
“Veja, esse homem se comporta como um cachorro. Não é
absurdo?” Cada um procurava EXIBIR ao outro suas melhores
armas para provocar SUBMISSÃO e estabelecer DOMINÂNCIA.
Em outra ocasião, quase no mesmo local, vimos um
cachorro ser atropelado por um carro e ficar girando em círculos
no meio da rua, ganindo, dolorosamente. Outro cão, que estava
na calçada, do outro lado da rua, partiu como um raio para cima
do sofredor, para agredi-lo. Interessante, não? O que pode ter
acontecido nesse caso?
Os animais irracionais competem entre si por acesso a
parceiros de acasalamento, por comida, território etc., obedecendo
a um esquema reflexo ou instintivo, ou vinculando uma reação
motora ao que SENTEM. Isto é, diante de certos sinais do ambiente
eles SENTEM e AGEM de modo compulsivo e quase mecânico.
Certos sinais do ambiente estimulam os indivíduos a reagir,
instintivamente. Um cão, passando em frente de minha casa era,
ao Pitoco e ao Bob, um sinal de invasão de território. Afinal, a
memória arcaica avisava que o invasor de território representava
uma ameaça, pois poderia se tornar mais um rival a dividir e roubar
a comida, a toca, os filhotes, as fêmeas no cio, etc.
Por outro lado, nas relações sociais, entre irracionais do
mesmo grupo, vigoram a dominação e a submissão. E cada um
espera do outro ATIVIDADES compatíveis ao status hierárquico
ocupado. Podemos dizer que o Pitoco esperava do Bob a posição
de submisso, pois quando sua EXIBIÇÃO de pêlos eriçados,
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presas em evidência e rosnados agressivos, não bastava, batia
nele sempre que se atrevia a disputar com ele qualquer alimento
ou carinho dos donos. Pitoco era o cão dominante e dar-lhe um
revide franco e aberto não era nada salutar ao Bob, que certamente
se submetia, reprimindo muitas ATIVIDADES de ataque e de raiva.
Talvez disto resultasse a sua neurose... Mas, não podemos afirmar
que ele revidava, planejando traiçoeiras emboscadas contra o
Pitoco ou que, quando vinha um invasor, ele incitava-o à briga para
aproveitar e descarregar o seu ódio reprimido com ajuda externa.
Não podemos dizer isto. O fato, porém, é que quando o Pitoco
ficava em apuros, ao brigar com outro, o Bob se atrevia a bater no
Pitoco.
Bem mais tarde, só depois de formular o conceito “Beto-
Biju” é que fui compreender que o apuro do Pitoco, na hora da
briga, servia de sinal para o Bob SENTIR o impulso irresistível de
atacá-lo. A situação do Pitoco, PRECISANDO DE AJUDA, sinalizava
fragilidade que fortalecia Bob. E naquele momento ele SENTIA-SE
forte, diante de outro mais fraco e, instintivamente,
“automaticamente”, aproveitava para enfiar os dentes cariados no
Pitoco. Se Bob fosse racional, poderíamos dizer que tentava matar
o Pitoco infeccionando-o com os dentes podres. Mas, não. Nada
era pensado. A APARÊNCIA de fragilidade, de necessidade de
ajuda é incompatível com a dominância, pois é forte SINAL de
submissão que gera nos IRRACIONAIS sociais o SENTIMENTO
de confiança que os fazem agir, no sentido de DOMINAR.
Basta ver uma situação que sirva de sinal ao ímpeto de
COMPETIR, para dominar, e o animal irracional age buscando o
prazer da dominância. Lembremos do cachorro atropelado e
gritando de dor. Ele mostrava estar ferido, enfermo e fraco... De
alguma maneira, ver o outro enfraquecido, frágil e precisando de
ajuda, desperta nos irracionais o SENTIMENTO que leva a ATOS
reflexos de dominância.
43
Dominação e submissãoDominação e submissãoDominação e submissãoDominação e submissãoDominação e submissão
Alguém poderia interpelar-me, agora, para perguntar: “E
daí? O que eu tenho com cães, gatos, pardais e canários? Não
sou nenhum deles!” E eu informaria que a Psicologia Racional
tem se servido de estudos comparativos, que definem
SEMELHANTES ATIVIDADES entre indivíduos de espécies animais
diferentes, ao longo do processo evolutivo. E, oras bolas, todos
os homens continuam animais mamíferos, e não devem ter
conservado somente as tetas da animalidade inferior...
Quem se der ao trabalho, irá observar, por exemplo,
garotas proporcionando cenas deprimentes, às vezes em plena
sala de aula, com a ATENÇÃO imersa nos devaneios típicos do
cio e da sedução para o acasalamento. Bem amparadas por
racionalizações culturais que justificam os rituais do cio, sob a
afirmação da “tradicional vaidade feminina”, em vez de prestar
ATENÇÃO nas aulas que visam civilizar, alisam os cabelos, lixam
as unhas e esfregam creme hidratante nos braços como se
fossem gatas se lambendo ou animais exagerando na assepsia,
em suas jaulas psicológicas. Os rapazes também não deixam por
menos. Preocupados que estão em adquirir massa muscular para
parecer elefantes,rinocerontes e ursos, tatuam-se para se EXIBIR
como pavões, nos rituais competitivos. Tais ATIVIDADES são
típicas repetições atávicas e VÍCIOS, que prendem mentalmente
os homens no nível da animalidade inferior. Contudo, se o atavismo
é “sucesso” enaltecido pela cultura, deve ser porque interessa aos
dominantes conservar a burrice dos dominados, para que não
VEJAM a escravidão em que estão e não comecem a VOAR para
fora dela. Assim é que a maioria dos homens anda DISTRAÍDA
pela crença de que está “abafando” e exibindo orgulhosa, a
IGNORÂNCIA do tipo irracional.
Muitos VÍCIOS inconscientes, dos homens, têm sua
origem na manutenção das ATIVIDADES típicas de animais
44
inferiores, e um deles é o de estar freqüentemente em
COMPETIÇÃO por dominância, por status mais elevado na escala
social. Os motivos SENTIMENTAIS dessa busca são inconscientes
e geram ATIVIDADES que conduzem a fins também inconscientes,
mas mascarados por racionalizações culturais. O sujeito não toma
consciência do motivo, nem do objetivo que realmente atinge com
tais atos, porque só mantém a ATENÇÃO voltada ao prazer que
obtém, acreditando que seu motivo é o “amor”, a “bondade”, a
“forte personalidade”, ou a “agressividade invejável que demonstra
ao lutar para VENCER na vida”.
Um cachorro não tem consciência do mal que faz para si
e para outro, com suas atividades, porque também IGNORA o
que o motiva e os resultados mais amplos de sua conduta. Aliás,
ele não tem consciência do que significa bem e mal, e não está
interessado em reavaliar seus atos para tê-la. Qual é a consciência
que o cachorro tem? Para estudiosos dos comportamentos,
apenas a que mostra ter, com seus atos... Não podemos supor,
portanto, que ele, assim como o pardal e os canários, avaliem os
motivos reais de seus atos e os objetivos finais realizados. Tudo
indica, contudo, que eles têm consciência dos estímulos presentes
em seu ambiente, pois reagem a eles.
Poderíamos atribuir consciência da maldade e da covardia,
ao cachorro que atravessou a rua para atacar o que foi atropelado
e que ferido gritava de dor? Não. Mas o fato é que ele viu o outro,
ouviu seus ganidos típicos de dor e partiu para cima. Portanto,
mostrou que tinha consciência do que acontecia e agiu. Só não
sabia se agia fazendo o bem ou o mal. Não sabia que agia como
um covarde destituído de piedade. A consciência de tais valores é
ESPERADA somente de humanos INTELIGENTES e civilizados,
capazes de avaliar os próprios atos e suas conseqüências, em
autocrítica típica dos mais evoluídos. Esta categoria, infelizmente
não inclui todos os homens...
Por que um animal irracional, sem fome, atacaria outro de
45
sua espécie e grupo social, que está ferido ou em condição de
fragilidade? Se não quer se alimentar do outro, tudo indica que busca
o prazer da dominação, através da agressão. O outro está ferido,
dando a clara impressão de que não pode revidar com eficácia e que
pode ser vencido, derrotado e dominado. Não digo que PENSA sobre
essa possibilidade e sim, que a fragilidade do outro o faz SENTIR,
de modo reflexo, que é mais forte e que o DOMÍNIO é seu...
LÍVIA OSHIRO –LÍVIA OSHIRO –LÍVIA OSHIRO –LÍVIA OSHIRO –LÍVIA OSHIRO – Então, é por isso que os predadores se
atrevem a atacar presas maiores que normalmente evitam? E
intensificam os ataques aos líderes do próprio bando, quando eles
estão feridos, envelhecem ou ficam doentes?
JORGE –JORGE –JORGE –JORGE –JORGE – É o fenômeno encontrado, tanto na literatura
científica quanto na observação da realidade. Um leão geralmente
não ataca o búfalo adulto e forte, mas se este estiver velho ou
ferido o faz. O leão saudável que lidera um grupo, pode sofrer
ataques, porém, na maior parte do tempo os rivais se mantêm à
distância, pelo medo da força e ferocidade que EXIBE. Quando
ele se fere, é atacado mais facilmente. A fragilidade ditada pelo
ferimento anima os ataques. E como no envelhecimento também
há sinais de fraqueza, acontece a mesma coisa.
Entre nós foi criado um estatuto para a proteção do idoso.
Por que é preciso proteger o idoso? Não somos humanos? Não
somos civilizados? Não somos racionais? Entre os homens há
alguns, mas assim como a criança e a mulher, o idoso é visado
por todo tipo de covarde procurando alvo fácil. Dados levantados
recentemente, pelo Centro Latino-Americano de Estudos de
Violência e Saúde (Claves), da Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz), a
partir do Banco de Dados do Sistema Único de Saúde (DataSUS),
revelaram que no ano 2000, 13.436 idosos morreram por acidentes
ou violência no país, com média de quase 37 por dia. Constatou-
se também, que mais da metade (54%) dos agressores eram filhos
ou enteados dos agredidos. Certamente, muitos agressores diziam
46
“amar” os velhos agredidos. Logo, não devem definir “amor” como
os humanos civilizados, não é?
O amor tesão e a racionalizaçãoO amor tesão e a racionalizaçãoO amor tesão e a racionalizaçãoO amor tesão e a racionalizaçãoO amor tesão e a racionalização
Então! O estudo das relações de dominação e submissão,
feito por nós da Psicologia Racional, indica que a fragilidade de
uns estimula a herança instintiva e animal, de outros, levando estes
a se SENTIREM fortes e poderosos em relação aos primeiros e a
realizarem, se não de modo consciente, ATIVIDADES inconscientes
de EXIBIÇÃO de dominação e de exercício efetivo de PODER. Os
graus em que essa presunção se manifesta variam das insinuações
e posturas discretas à violência brutal, conforme o nível de
humanidade e de civilidade daquele que se relaciona com o
indivíduo frágil. A herança instintiva se apresenta nos
SENTIMENTOS que, sem serem questionados, MOTIVAM
atividades desrespeitosas, preconceituosas, de menosprezo e até
violentas contra os mais frágeis e indefesos, que se deveria
proteger. A destruição de plantas e animais no planeta, apesar de
bem racionalizada pela verborrágica apologia do “progresso”,
prova isso.
Repetindo: animais irracionais, mesmo sendo homens,
não fazem AUTOCRÍTICA! Eles não procuram conhecer quais são
os motivos e os resultados mais amplos de sua ação, porque já
sabem! Mas sabem as racionalizações e as justificativas culturais,
e com a ATENÇÃO presa nelas não avaliam o bem ou o mal que
causam. Sendo fixa a ATENÇÃO na crença de que não são
COVARDES, nem impiedosos, não podem observar tais atributos
em si. Por buscar prazer individual, animal e egoísta, FOGEM da
autocrítica racional.
Observem que no meu sonho o pardal era tarado ou
“amoroso”. A galinha doente virou uma pardoca, assim que foi
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ajudada por mim, mas passou a ser assediada pelo “amoroso”
pardal tarado e não conseguiu VOAR. Na realidade, a perna ferida
da canária virou estimulante para o macho bicar... Não foi isso?
Foi. ASSOCIANDO o simbolismo onírico com eventos reais,
podemos dizer que, enquanto o canário SENTIA desejos de bicar
o ferimento, o pardal SENTIA desejos de “amar”, não podemos?
Amor, contudo, para quem RACIOCINA um pouco, não pode
significar o mesmo que copular. A verdade é que o pardal teve um
ataque de tesão, SENTIMENTO que entre homens motiva a
ATIVIDADE puramente animal de copular, mas que para não
PARECER assim, é racionalizada como sendo expressão de “amor”
ou de amizade entre pessoas. Mas, pessoas nada têm com
isso, porque os SINAIS que estimulam o sentimento animal são
traços corporais, da face, da bunda, dos seios, da voz, do sorriso
etc...
Pessoa é uma entidade psíquica e afetiva que, sendo
INTELIGENTE exige ATOS coerentes de amor e amizade para
SENTIR que é amada. Não lhe basta apenas o conjunto de sinais
corpóreos, APARENTES e superficiais para SENTIR isso. E se
aceitarmos que DESEJO sexual significa amor ou amizade pelas
pessoas, devemos nos responsabilizar pelas conseqüências
lógicas dessa aceitação! Eu não vou querer amigos me amando e
entre as amigas vou ser obrigado a ser rigorosamente SELETIVO.
O amordesse tipo reduz a pessoa a uma pequenez inaceitável ao
humano civilizado... Vejamos que a porca não sente amor por gato,
nem cão por minhoca, porque os sinais que despertam o desejo
para a cópula são os próprios da espécie animal a que pertencem.
Em razão dos SINAIS o homem também não ama zebras, a
natureza, os amigos e parentes, certo? Se assim é, quando falamos
desse amor despertado por SINAIS, não distinguimos homens de
minhocas, besouros, jacarés e burros, não é?
O animal, que se diz racional, evoluiu mergulhado na cultura
que construiu segundo seus desejos, ao longo dos tempos, e se
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não raciocina antes ou depois de agir, sempre tenta dar a
impressão que sim. Assim sendo, sempre APARENTA realizar
ATIVIDADES racionais, quando racionaliza a animalidade de suas
atividades nos moldes culturais e bem ao gosto e desejo de outros
irracionais.
É racionalização, a tentativa de fazer PARECER racional
uma ATIVIDADE que não é. E uma atividade só é racional, se o
MOTIVO que lhe deu origem ou a desencadeou não foi um
sentimento, e sim uma IDÉIA a que se chegou, após elaboração
de apurada coerência lógica e com consciência do OBJETIVO a
alcançar. Ao contrário, a atividade é racionalizada quando é
motivada pelo sentimento e se faz acompanhar de pseudo-
raciocínio, que lhe atribui falsos motivos e fins “nobres”.
Não há nada de errado com os atos animais! Defecamos,
urinamos, cuspimos, nos alimentamos e copulamos, entre outras
coisas que fazemos em comum com os animais. Tentamos realizar
essas ATIVIDADES de modo civilizado, mas sempre será ridículo
racionalizar para DISFARÇÁ-LAS e atribuir-lhes motivos e fins
nobres. Racionalizando, o fulano “explicou” seu casamento e
sentimento de desejo, alegando que as pessoas decentes, quando
amam, devem casar. Acreditando ser decente, então, disse que
casou por amor. Depois de dilapidar a fortuna da esposa, a
abandonou dizendo não a amar mais, e diz agora que o fez porque
“ela merece uma vida melhor, ao lado de alguém que a ame”.
Ora, seus atos contraditórios e prejudiciais à “amada” demonstram
que ele mentiu, de modo consciente ou inconsciente. Acreditando
que amava a pessoa, mentia inconscientemente, motivado por
SENTIMENTO menos duradouro e nobre, de tesão ou de ambição.
E, ao dizer que o amor acabou, fugiu de VER um mentiroso
contumaz em ação, achando-se decente, tanto quando casou,
quanto quando separou do ser que prometeu amar. Perdeu de
VER, portanto, um canalha maior, se abandonou a esposa sem
dinheiro e com quatro filhos para criar. Para continuar fugindo de
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responsabilidades, talvez ele insista em racionalizar, dizendo que
o que fez foi para o bem dos filhos, como se tivesse raciocinado
antes, em busca de meios para fazer o bem a outras pessoas.
Vejamos, enfim, que seus atos, de casar e de abandonar a fulana,
são coerentes apenas com o que sentiu e incoerentes com o bem
que diz dedicar a outros.
Conheci um moço que dizia praticar o amor de Jesus. Ele
tinha a fama de aliviar sofrimentos, com a imposição das mãos,
orações e doações energéticas... Um dia, a mulher dele telefonou
para o NUPEP, querendo saber sobre curso que eu daria, de
Psicologia Racional. E falou para a jovem que a atendeu: “Olha, o
Cicrano das Quantas quer fazer o curso e me pediu para
telefonar”. Após a jovem dar as informações de praxe, a mulher
perguntou: “Você não sabe quem é o Cicrano das Quantas?” A
atendente respondeu: “Não!” Talvez a mulher esperasse ouvir:
“Puxa, que emoção! Vamos pôr banda de música na frente do
prédio e avisar a todos os jornais da cidade que o Cicrano das
Quantas vai fazer nosso curso...” Como isto não aconteceu, ela
não inscreveu o marido. Na verdade, não posso garantir que
inscreveria, se fosse diferente. Mas, só fui informado desse fato,
bem mais tarde...
Por aqueles dias, eu havia recebido um recado de que o
Cicrano das Quantas queria falar comigo a respeito do lançamento
do meu primeiro livro, “Seja feliz já”, e pedia que eu fosse à sua
clínica de terapias alternativas. Fiquei contente, pois imaginei que
ele quisesse trocar experiências, conhecimentos e estreitar laços
de amizade. Fui... Quando lá cheguei, sua esposa avisou-o e ele
mandou-me entrar em seu consultório. Estranhei, porque sabia
que ele estava atendendo alguém lá. Mas, mandou-me entrar. Entrei.
Quando passei pelo umbral da porta levei um impacto: ele estava
em pé no centro da sala, todo vestido de branco, e tinha a seus
pés uma senhora estendida. Ela estava doente e recorreu a ele,
aceitando prostrar-se no chão, para receber, sei lá que tipo de
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tratamento. Meu Deus! Vi ali, claramente, que ele me EXIBIA seu
poder de “expulsar demônios”, ou coisa que o valha. Aquela pobre
senhora indefesa, ferida, buscando ajuda, socorro, certamente
fazia aflorar nele, a vaidade, a prepotência, o sentimento de ser o
máximo. E ele a usava para revidar a “ofensa” que acreditava ter
recebido, numa ATIVIDADE irracional. Em sua mente VICIADA deve
ter acreditado que me aplicou um “golpe de mestre”, e que, ao
exibir poder, submeteu-me.
Que MOTIVO levava aquele homem a envidar esforços
no sentido de dar ajuda espiritual e terapêutica às pessoas? Era
desejo por status social? Por dinheiro? Cobrava caro? Barato? Nada
cobrava? Não sei dizer. Talvez fosse BEM INTENCIONADO e
levasse uma terapia de amor, de bondade, às pessoas. Também
nada tenho a dizer sobre isso. O que sei é que, naquele instante,
sua ATIVIDADE foi motivada pelo DESEJO de me mostrar poder.
E ele estava consciente disso? Provavelmente só da justificativa
que criou; isto é, de que “queria conversar sobre o lançamento
do meu primeiro livro”. Ou seja, devia IGNORAR, que queria me
mostrar, em modesta nobreza, que Deus lhe deu um dom
ESPECIAL, um PODER mediúnico, paranormal, de curar
pessoas.
Certamente se SENTIU diminuído na importância, quando
a esposa lhe contou que não era conhecido pela atendente... E
me deu o seguinte recado: “Nem ligo por vocês terem me
IGNORADO! Mas veja que não tenho tempo de fazer seu curso,
porque ando ocupado fazendo caridade, o bem e até milagres”.
Viram como ele se SENTIU vencedor e dominante?
Eu IGNORAVA sua tentativa de obter informações e na
ocasião ainda acreditava que, apesar da exibição, ele buscava
apenas a aproximação amistosa comigo. Mas isto jamais
aconteceu. Sua atitude só foi até a exibição.
Nunca esqueço de que as pessoas vivem medindo a altura
daqueles que encontram, e comparando com a sua, “para ver
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quem é mais alto ou mais baixo”. Comparam roupas, dentes,
aparência geral, casa, carro, profissão, entre tantas outras coisas
mais. Também observo o prazer que certos “curadores” religiosos
parecem ter quando as pessoas pedem ajuda para seus
sofrimentos e são levadas a se ajoelhar ou a se prostrar deitadas
no solo da igreja... Eles, em pé à frente delas, levam os braços
para o alto com imponência, como se entrassem em contato direto
e privilegiado com o PODER maior de Deus. O espetáculo
impressiona, ao realçar a fraqueza da submissão estimulando a
postura de DOMINANTE. E como a contradição sempre se
apresenta na racionalização, tais “representantes divinos” sempre
ousam falar em humildade.
Para que alguém reconheça algo a que se proponha ob-
servar é necessário que o tenha conhecido antes. Digo que, por
ser animais, ainda, sempre COMPETIMOS para ter poder... E indi-
co, para observação, as inumeráveis competições racionalizadas
culturalmente como “esportes”, “jogos”, “eleições”, “concursos”
etc, nas quais os vencedores “sobem aos píncaros” da vaidade.
Pois bem, o moço mencionado queria exibir PODER que
alguns médicos exibem. E por que uns e outros fariam isso? Por
se SENTIREM fortes diante de pacientes precisando de ajuda? O
que sentem, precisamente? Que são melhores do que os
pacientes, no mínimo!

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