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AN02FREV001/REV 4.0 1 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE ÉTICA NO SERVIÇO SOCIAL Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação AN02FREV001/REV 4.0 2 CURSO DE ÉTICA NO SERVIÇO SOCIAL MÓDULO I Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. AN02FREV001/REV 4.0 3 SUMÁRIO MÓDULO I 1 INTRODUÇÃO 2 FUNDAMENTOS E CONTRADIÇÕES DA ÉTICA NO SERVIÇO SOCIAL 2.1 FUNDAMENTOS ONTOLÓGICOS 2.2 A NATUREZA ÉTICA PROFISSIONAL 2.3 SERVIÇO SOCIAL, MORAL E ÉTICA 2.4 SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA 2.5 ÉTICA E POLÍTICA 2.6 FUNDAMENTOS E CONTRADIÇÕES MÓDULO II 3 NORMAS ÉTICAS NACIONAIS E INTERNACIONAIS PARA ASSISTENTES SOCIAIS 3.1 CÓDIGO BRASILEIRO DE ÉTICA DO ASSISTENTE SOCIAL 3.2 NORMAS GERAIS DE CONDUTA ÉTICA PARA ASSISTENTES SOCIAIS 3.2.1 Normas do Serviço Social: relação com os usuários 3.2.2 Normas do Serviço Social: instituições, serviços e organizações 3.2.3 Normas do Serviço Social: relacionamentos entre profissionais 3.2.4 Normas Relativas à Profissão 3.3 DECLARAÇÃO INTERNACIONAL DOS PRINCÍPIOS ÉTICOS NO SERVIÇO SOCIAL 3.3.1 Princípios 3.3.2 Áreas Problemas e Zonas de Conflito 3.3.3 Metodologia para a resolução de situações e problemas AN02FREV001/REV 4.0 4 MÓDULO III 4 ÉTICA, SERVIÇO SOCIAL E ÁREAS DE ATUAÇÃO 4.1 FUNDAMENTAÇÕES SOBRE VULNERABILIDADE E RISCO SOCIAL 4.2 CONSIDERAÇÕES SOBRE A INFÂNCIA E A ADOLESCÊNCIA 4.3 PENSANDO A SITUAÇÃO DO IDOSO 4.4 REFLETINDO SOBRE A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER 4.5 SERVIÇO SOCIAL E INTERDISCIPLINARIDADE 4.6 ESTUDO SOCIAL, LAUDOS, RELATÓRIOS TÉCNICOS: IMPLICAÇÕES ÉTICAS MÓDULO IV 5 ÉTICA NO SERVIÇO SOCIAL E RESPONSABILIDADE SOCIAL 5.1 O QUE É RESPONSABILIDADE SOCIAL? 5.2 SERVIÇO SOCIAL E RESPONSABILIDADE SOCIAL 5.3 PROBLEMÁTICAS DA RESPONSABILIDADE SOCIAL 6 COMISSÃO PERMANENTE DE ÉTICA PROFISSIONAL: ASPECTOS DA DENÚNCIA 6.1 DENÚNCIA ÉTICA 6.2 DESAGRAVO PÚBLICO 6.3 PROCEDIMENTOS PARA DENUNCIAR 6.4 CÓDIGO PROCESSUAL DE ÉTICA 6.5 MODELOS DE FORMULÁRIO DE DENÚNCIA REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANEXOS AN02FREV001/REV 4.0 5 MÓDULO I 1 INTRODUÇÃO Compatibilizar a instância dos direitos individuais de proteção do exercício profissional do assistente social com os deveres suscitados na relação com o usuário, instituição e profissionais com quem trabalham não é tarefa fácil. Isso requer, antes de tudo, uma conduta ética que está respaldada em diversas dimensões: teórica, técnica, política e prática. As atualizações e os estudos constantes sobre as questões éticas são indispensáveis para orientar a prática do assistente social em sua atuação, seja ela na área da saúde, da justiça, da educação, da política e de tantas outras em que sua presença se faz necessária. É muito comum pensarmos ou vermos alguém comentar que o estudo da ética é uma tarefa fácil. E sabe? Em termos teóricos podemos até supor que tal afirmação possa ser verdadeira. Para termos uma noção melhor, vamos responder a nós mesmos a seguinte questão: Antes de entrarmos na faculdade e termos que estudar a disciplina sobre ética, quantas vezes discutimos o tema na nossa família? E com os nossos amigos? E no nosso trabalho? E após sairmos da faculdade? Quantas vezes paramos para discutir a nossa ética profissional? AN02FREV001/REV 4.0 6 Não é muito comum inserirmos esse tema em nossas discussões do dia a dia. Na maioria das vezes, ela passa despercebida. Mantém-se discreta ou até invisível, mas está sempre ao nosso redor. “Ética: valores que definem o que eu quero, posso e devo. Porque nem tudo que eu quero eu posso; nem tudo o que posso eu devo e; nem tudo que eu devo eu quero”. Queiroz (2012, p. 1). 2 FUNDAMENTOS E CONTRADIÇÕES DA ÉTICA NO SERVIÇO SOCIAL 2.1 FUNDAMENTOS ONTOLÓGICOS Falar de fundamentos ontológicos significa nos remeter às origens, à natureza das coisas e de conceitos. Neste caso, vamos buscar entender melhor as origens da ética a partir de seus conceitos, de suas classificações e como não poderia deixar de ser, de sua evolução histórica. As discussões sobre ética têm início com grandes filósofos como Sócrates, Platão e Aristóteles. Isso porque, segundo Geisler e Feinberg (1996), o papel primário da filosofia está relacionado à moral, à virtude e à própria ética. Segundo Kant (1992), a filosofia se ocupa, enquanto disciplina, de quatro questões, sendo uma delas a ética: METAFÍSICA RELIGIÃO ÉTICA ANTROPOLOGIA O que podemos conhecer? O que devemos esperar? O que devemos fazer? O que é o ser humano? AN02FREV001/REV 4.0 7 É comum, então, ao estudar a filosofia, encontrar diversos pensadores e pesquisadores que colocam a ética como sendo parte essencial de sua construção teórica. De forma geral, a ética pode ser definida como uma ciência com objetos e métodos próprios. Seu objeto é a moral e por isso, muitas vezes, é entendida como a ciência do comportamento moral dos seres humanos em sociedade (NEGRA, 2011). Conforme Negra (2011), a ética seria uma ciência dos costumes que busca retirar dos fatos morais os princípios gerais que lhe são aplicados. Ele acrescenta: O que designaria a ética não seria apenas uma moral, conjunto de regras próprias de uma cultura, mas uma verdadeira “metamoral”, uma doutrina que vai além da moral. A ética aprimora e desenvolve seu sentido moral e influencia a conduta (NEGRA, 2011, p. 1). As noções sobre ética datam de logos períodos e têm como principais precursores Sócrates, Platão e Aristóteles, apresentados aqui conforme resumo apresentado por Egg (2012). Sócrates, ao estudar a ética, faz uma apresentação a partir de uma associação de outros conceitos. Citado por Egg (2012), Vázquez (1997, p. 231) coloca que: Bondade, conhecimento e felicidade se entrelaçam estreitamente. O homem age corretamente quando conhece o bem e, conhecendo-o, não pode deixar de praticá-lo; por outro lado, aspirando ao bem, sente-se dono de si mesmo e, por conseguinte, é feliz. Nesse sentido, observamos que a conduta ética está ligada, segundo Sócrates, em conhecer o bem e fazer o bem. A ética, no entanto, não significa apenas oferecer o melhor para o outro, mas buscar a própria felicidade. O que temos hoje é bem diferente do que propôs o filósofo. Muitos profissionais, independente de sua área de atuação, andam na contramão. Sendo assim, os comportamentos antiéticos servem para proveito pessoal ou de um número reduzido de pessoas. A ética que deveria servir para um bem-estar coletivo deixa de existir. AN02FREV001/REV 4.0 8 Platão trouxe contribuições particulares apesar de ser o principal discípulo de Sócrates. Na percepção deste filósofo, o mundo era dividido em dois. O primeiro era composto por ideias inalteráveis.As ideias eram, portanto, imutáveis, invisíveis e eternas, o que a diferenciava das coisas concretas. O segundo mundo era formado por cópias imperfeitas das ideias. Consistia, então, em réplicas de coisas sensíveis e mutáveis (EGG, 2012). De uma forma mais simples, o autor coloca que o mundo das ideias pode ser compreendido como o local das coisas verdadeiras. Já o segundo mundo, o mundo real, é o espaço das aparências e das sombras. Em um exemplo simples, podemos nos fazer algumas pesquisas e avaliar nossa reação. Veremos que a forma que nos expressamos para o meio externo, nem sempre é equivalente ao que sentimos verdadeiramente. Vamos ver alguns exemplos: Chega o final do mês e temos, ainda, muitas contas para pagar. Quando vemos o saldo no banco, confirmamos que tem muito mais conta que dinheiro. Ficamos bravos, ansiosos, desesperados, angustiados. Podemos pensar em alternativas para solucionar o problema, mas nem por isso saímos ofendendo as pessoas que encontramos, nem por isso vamos reclamar com o chefe, afirmando que ele está nos pagando pouco. Chegamos ao nosso trabalho e temos que atender, por exemplo, uma mulher que sofreu violência doméstica por parte do marido. Por mais que nos seja fácil racionalizar que esta mulher deve deixá-lo, jamais a colocaremos na parede e diremos: “O que é que você está fazendo com este homem ainda? Pegue suas coisas e saia de casa porque isso não é uma vida digna”. Nós teremos uma postura acolhedora e não acusatória. Escutamos diversas pessoas, em diferentes contextos, pronunciarem: “Eu queria matar (...)” ou “Eu morreria de amor”. O sentimento interno por mais sincero que este seja não pode ser externalizado de qualquer maneira. Há limites internos, sociais, culturais e legais para modelar muitos dos nossos comportamentos. AN02FREV001/REV 4.0 9 Um médico não pode se recusar a atender um paciente por ter preconceito racial, um profissional não pode deixar de ser contratado por preconceitos dos contrates sobre sua opção sexual. Apesar de o preconceito existir, questões éticas estão acima de uma aceitação pessoal, por exemplo. FIGURA 1 FONTE: acervo pessoal Na figura acima, temos a razão na intersecção entre os dois mundos. Para Platão, a razão serve de intermediário entre o mundo das ideias e o mundo real. Para o filósofo, a verdadeira realidade só pode ser atingida e compreendida de forma verdadeira quando fazemos uso da razão. O bem, neste caso, é “um molde sobre o qual deveria se processar toda a ação humana” (EGG, 2012, p. 7). Por fim, temos Aristóteles que foi aluno da Academia de Platão e ali definiu sua escolha pela Filosofia. Egg (2012) pontua que esse filósofo dedicou-se às reflexões sobre as formas que o homem teria para viver uma boa vida. De acordo com o mesmo autor, Aristóteles afirmou que a felicidade era objetivo fim de todo o ser humano que só era possível a partir do exercício pleno da razão. Para alcançar a felicidade então, a razão só poderia ser obtida por meio da virtude, da sabedoria ou do prazer. Esses então foram os precursores das reflexões éticas. 1 º M U N D O L U G A R D A S C O IS A S V E R D A D E IR A S 2 º M U N D O L U G A R D A S A P A R Ê N C IA S E D A S S O M B R A S RAZÃO AN02FREV001/REV 4.0 10 FIGURA 2 FIGURA 3 FIGURA 4 FONTE: <http:// http://www. reidaverdade.com/filosofo- socrates>. Acesso em: 20 nov. 2012. FONTE: <http://http://www. reidaverdade.com/filosofo- aristoteles>. Acesso em: 20 nov. 2012. FONTE: <http://http://www. reidaverdade.com/filosofo- platao>. Acesso em: 20 nov. 2012. 2.2 A NATUREZA ÉTICA PROFISSIONAL “Julgamentos não são precipitados, quando existe ética. Eles são automáticos no inconsciente humano. Precipitado é o veredito que atropela o julgamento e se manifesta precocemente, absolvendo ou condenando segundo preconceitos e simpatias pessoais mal administrados”. Sena (2012, p. 2). Quando falamos de natureza ética profissional, estamos falando de uma ética específica, de uma ética direcionada ao exercício da profissão de cada pessoa. De acordo com Glock e Goldim (2003), essa reflexão tem início assim que escolhemos nossa profissão, já que o conjunto de deveres profissionais passa a ser obrigatório. Não é por acaso que a disciplina sobre ética é mantida nos cursos de graduação antes dos estágios práticos, pois ele direciona a postura profissional que é sacramentada no juramento após a conclusão do curso. AN02FREV001/REV 4.0 11 FIGURA 5 FONTE: <http://http://tribunademuriae.com.br/site/?p=6302>. Acesso em: 20 nov. 2012. O juramento profissional corresponde à formalização da adesão e do comprometimento do profissional recém-formado com a categoria profissional correspondente ao curso realizado (GLOCK; GOLDIM, 2003). Os autores acrescentam que esta adesão pode ser classificada como voluntária ao conjunto de regras estabelecidas como sendo mais adequadas ao seu exercício. Não se pode, então, por livre-arbítrio, criar novas regras para desenvolver um trabalho quando, na verdade, os códigos de ética utilizados são discutidos de forma ampla e aprofundados. A Universidade Castelo Branco (2012) dispõe sobre as seguintes considerações da ética profissional: a) As particularidades da ética profissional se inscrevem na relação entre o conjunto complexo de necessidades que legitimam a profissão na divisão sociotécnica do trabalho, conferindo-lhes determinadas demandas, e suas respostas específicas, entendidas em sua dimensão teleológica e em face das implicações ético-políticas do produto concreto de sua ação. b) A ética profissional pode ser defina como sendo o modo de ser constituído na relação complexa entre as necessidades socioeconômicas e ideoculturais e as AN02FREV001/REV 4.0 12 possibilidades de escolha inseridas nas ações ético-morais, o que aponta para sua diversidade, mutabilidade e contraditoriedade. Tais considerações serão esmiuçadas em todo o conteúdo deste curso, principalmente, quando estudarmos os códigos nacional e internacional do serviço social. Avançaremos ainda neste módulo em conceitos base que são fundamentais para uma compreensão teórica da ética profissional. 2.3 SERVIÇO SOCIAL, MORAL E ÉTICA Geralmente, não conseguimos falar de ética sem pensar em sua distinção do conceito de moral. Você sabe qual a diferença entre ética e moral? FIGURA 6 FONTE: Disponível em: <http://http://superrafaapensar.blogspot.com.br/2010/05/o-que-e-etica-o-que- e-moral.html>. Acesso em: 20 de nov. 2012. A charge é uma das muitas encontradas quando pesquisamos sobre ética e moral na internet, mas nem sempre conseguimos definir se este é um comportamento ético/antiético ou moral/amoral. AN02FREV001/REV 4.0 13 De acordo com Martinho (2009), a ética é um conjunto de valores e princípios universais que regem as relações humanas. É, segundo o autor, tradicionalmente definida como o estudo sobre os costumes ou ações humanas e podem ser divididas em dois campos: TABELA 1 CAMPOS DA ÉTICA EXEMPLOS Problemas gerais e fundamentais Liberdade Consciência Valor Leis Problemas específicos e concretos Ética Profissional Ética na Política Ética Sexual Ética Matrimonial Bioética FONTE:acervo pessoal A moral, por sua vez, pode ser conceituada como um conjunto de normas e regras que regulam as relações dos indivíduos de uma comunidade (CARVALHO, 2010). O autor clarifica que a moral está ligada ao conjunto de normas que regulamenta o agir específico ou concreto das pessoas. Carvalho (2010, p. 2) coloca ainda a seguinte afirmação: “Não se pode negar que a moral é uma espécie de freio da conduta das pessoas, que às vezes nem sabem o que é, mas se sentem bem quando notam a sua presença em seus atos”. Porém, mesmo com conceitos bem definidos, não é tão fácil distinguir ética de moral. Para facilitar vamos ver algumas comparações esboçadas nos quadros abaixo. Tais comparações permitem que tenhamos condições de diferenciar esses dois conceitos. TABELA 2 ÉTICA MORAL AN02FREV001/REV 4.0 14 Princípios Universais => Pressão Interna Regras para ações coletivas => Pressão Externa Reflexão e Valores Hábitos e Costumes Morada Humana Normas Sociais A ética pressupõe uma análise e reflexão antes do agir. A moral é o agir. FONTE: Adaptado de Martinho (2009). TABELA 3 ÉTICA MORAL É princípio É conduta específica É permanente É temporal É universal É cultural É regra É conduta da regra É teoria É prática FONTE: Adaptado de Rodrigues (s/d). TABELA 4 ÉTICA MORAL Trata-se da reflexão filosófica sobre a moral; Procura justificar a moral; O seu objeto é o que guia a ação; Seu objetivo é guiar e orientar racionalmente a vida humana. Tem um caráter: - Prático - Imediato - Restrito - Histórico - Relativo FONTE: Adaptado de Silva (s/d). A partir do que foi colocado nas tabelas podemos perceber que a ética é algo maior e universal, enquanto a moral é menor e específica. AN02FREV001/REV 4.0 15 Carvalho (2011) coloca que a ética faz parte do Serviço Social, já que ela sempre esteve associada aos princípios e valores que organizam a sociedade e que definem o que se deve fazer ou ao que é preciso ser feito. A ética, conforme apresenta a autora, não tem como função determinar a criação de normas, mas sim questionar o que acontece. É, então, uma análise da atitude do ser humano diante dos fatos que ocorrem no cotidiano: “a ética descreve, propõe, reflete a prática de condições determinadas, o melhor caminho a seguir” (CARVALHO, 2011, p. 240). Além disso, a ética pressupõe uma reflexão sobre a moral, ou seja, o que justifica as normas, regras, princípios e direitos de uma determinada realidade social (CARVALHO, 2011). 2.4 SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA Sabiamente, Strieder (2010) afirma, em um de seus textos sobre ética, que a mesma não pode mudar a constituição ontológica do homem, mas podemos pensar o homem e a sociedade em sua evolução no tempo. Isso significa que a ética, como era pensada nos tempos de Sócrates, Aristóteles e Platão, mudou para acompanhar as novas demandas emergidas na sociedade. O autor afirma que “na medida em que este processo avança a ética assume forma e se solidifica. A ética é como que o cimento que une projetos, ideais, costumes, valores, símbolos de uma sociedade” (STRIEDER, 2010, p.1). No contexto contemporâneo, coloca Strieder (2010), os problemas éticos e o campo da ética foram ampliados em decorrência de questões trazidas pelas diversas ciências. Esse fato fez com que a ética se tornasse geral e mais necessária nos dias de hoje. Um exemplo dessa mudança é a criação de códigos de ética por várias áreas do saber, dentre elas o próprio Serviço Social, a criação de Comitês de Ética em Pesquisa, principalmente nos casos em que envolvem seres humanos. AN02FREV001/REV 4.0 16 Esses avanços nos fazem pensar que o próprio Serviço Social, enquanto precursor da ética social sofreu alterações e está muito mais definida, como veremos nos demais módulos. 2.5 ÉTICA E POLÍTICA Você deve estar se questionando: por que temos que falar de política nesse momento? Não vamos nos alongar, mas a política tem sido um desencadeador importante nos dias de hoje para que a população de forma geral, e mesmo sem ter um respaldo teórico, reflita sobre a ética na nossa sociedade. A corrupção, em especial, tem sido alvo constante em diversos veículos de informação quando falamos em política. É fácil avaliarmos políticos, eleitos por nós, que desviam dinheiro público, que não cumprem sua tarefa. O que não pensamos é que ser político não é uma profissão, mas uma função que pode durar muito ou pouco tempo. Você já pensou que dentre os diversos políticos que criticamos existem psicólogos, advogados, assistentes sociais, advogados, médicos e outros? Será que se estivéssemos em uma função política conseguiríamos manter nossa ética profissional? A partir da análise da obra de Hannah Arent, Pinto (2006) ressalta que é na ação da política que podemos distinguir cada homem, já que suas ações definem quem ele é e como estabelece sua relação com a sociedade. Shuwartzman (1981, p. 6) afirma que o funcionamento da sociedade, portanto o papel político aí se inclui, depende de comportamentos éticos desenvolvidos a partir de instituições estáveis e permanentes e com relacionamentos confiáveis de longo prazo. Tais instituições são divididas em três: Profissões: inicialmente na área do Direito (leis), mas que se expandem com o tempo para outras áreas, como o Serviço Social (códigos éticos). Você já imaginou como seria o mundo de hoje sem os códigos de ética? AN02FREV001/REV 4.0 17 Escolas e universidades: associadas às profissões, mas com uma função maior que é a de transmitir valores, competências, conhecimentos e, por fim, proporcionar caminhos legítimos e aceitos de mobilidade social. Mercados permanentes: baseados em relações comerciais e empresariais estáveis, que substituem as formas predatórias de exploração econômica e usurpação militar que eram à base de sustentação de tantas economias do passado. Estas instituições, mesmo com especificidades, têm em comum o fato de que são instituições de longo prazo, estruturadas ao redor de valores e códigos de ética comuns, que servem de base tanto para o relacionamento entre seus participantes como para o relacionamento entre elas e a sociedade mais ampla (SHUWARTZMAN, 1981). 2.6 FUNDAMENTOS E CONTRADIÇÕES Sarmento (2011, p. 211) ao refletir e problematizar os fundamentos éticos e políticos do serviço social considera três eixos como sendo fundamentais: a) a sociedade contemporânea está marcada pelo individualismo e apatia em que os valores parecem esgarçados e as causas que nos mobilizam, dispersas, gerando incertezas, diversidades e diferenças; b) a ética e a política estão diretamente relacionadas à história e à sociabilidade humana, mas expressas por meio de diferentes concepções, condicionando as diferentes visões de mundo, nosso modo de pensar e agir, nosso modo de ser; c) a coexistência de projetos distintos em permanente confronto faz reconhecer as diversidades, limites e contradições, que também se manifestam no Serviço Social. Considerando esses eixos de análise, Sarmento (2011) destaca pontos importantes para finalizarmos o estudo deste primeiro módulo. Devemos reconhecer que existe e constitui marco histórico de referência à sua organização profissional. AN02FREV001/REV 4.0 18 Reconhecendo o projeto ético-político profissional do Serviço Social estamos também reconhecendo que um movimento de ações, que apontam uma direçãosocial e que, por isso, precisa ser plural e democrática para reproduzir-se. O projeto ético-político profissional do Serviço Social não garante a sua realização, mas delimita um trajeto a ser percorrido. A compreensão do projeto ético-político profissional do Serviço Social pressupõe a percepção do processo e da história da própria profissão, bem como suas respostas às necessidades e às demandas da sociedade e seus vínculos teórico-práticos, éticos e políticos com os projetos sociais. Devemos considerar que vivemos em uma sociedade capitalista que complexificam a ética e a política, sem que as mesmas sejam reduzidas ou ignoradas. A complexidade mencionada anteriormente significa considerar as incertezas, as diversidades e as diferenças existentes na sociedade contemporânea que afetam e são afetadas por nossas concepções de ética e política. A fragmentação que marca a sociedade contemporânea implica em reconhecer que essas condições também incidem sobre o sujeito profissional. Para isso, o autor lança a seguinte pergunta: “qual sua penetração nas diferentes concepções existentes, suas nuances e perspectivas no cotidiano?” (SARMENTO, 2011, p. 219). A diversidade e as diferenças encontradas na sociedade contemporânea apresentam o reconhecimento positivo pelo fim das desigualdades e pela luta por justiça, igualdade e liberdade. AN02FREV001/REV 4.0 19 O risco de uma idealização política é não contemplar a complexidade contemporânea, recaindo em formas tão tradicionais quanto qualquer autoritarismo, inclusive na própria profissão. A diversidade de concepções das vertentes éticas e políticas, sinteticamente apresentadas em seus fundamentos, não podem ser simplificadas, como se fossem todas semelhantes, sem qualidades, e, muito menos, ignoradas. FIGURA 7 FONTE: <http://jaquebalbys.blogspot.com.br/2011/07/retificando-os- caminhos-tortuosos.html>. Acesso em: 20 nov. 2012 FIM DO MÓDULO I Conhecer e reconhecer os fundamentos ontológicos da ética mostra o caminho que trilhamos para chegarmos às discussões a construção de um sólido projeto ético-político do Serviço Social. É olhar para trás e constatar que um longo caminho foi percorrido, mas também é olhar para frente e saber que muito ainda temos muitos outros a serem trilhados.
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