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O Conceito de Cultura na Antropologia

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CULTURA (Elementos do Conceito).
	O QUE SABEMOS SOBRE A CULTURA? A ideia de cultura foi desenvolvida na Grécia (o termo grego era Paidéia) e envolvia originalmente uma concepção de ilustração (conhecimento individual), educação e sabedoria, uma obrigação de todo o filósofo (e de todo cidadão) da época. Dos gregos até hoje a noção de cultura mudou muito e adquiriu novas conotações e ampliações. Atualmente, não existe um acordo entre os pesquisadores que utilizam o conceito sobre a sua definição. Na própria Antropologia que, muitas vezes, é denominada como a ciência da cultura, não existe um consenso conceitual. Ou seja, não existe uma definição única de cultura. Na verdade o problema teórico mais significativo para os antropólogos diz respeito à amplitude que o conceito deveria ter. Em outras palavras: Que grupo (quantidade e tipo) de fenômenos e de fatos deve englobar o conceito de cultura? Apesar desse problema teórico, sabemos algumas coisas relevantes a respeito desse fenômeno tão complexo. Senão vejamos: 
	Em primeiro lugar, sabemos que a cultura de um grupo é aprendida de geração a geração. 
	Sabemos que toda sociedade humana, independente do seu grau de tecnologia e do seu meio-ambiente, produz cultura.
	Que a cultura muda no tempo (história) e que suas mudanças dependem das relações (sociais) dentro do grupo, entre um grupo e outro e do grupo com o seu meio ambiente. 
	Sabemos também que o principal meio de repasse da cultura é a linguagem (os códigos de comunicação desenvolvidos pelos grupos sociais). 
	Sabemos igualmente que existe uma estreita ligação entre a cultura de um grupo e a forma de sua sociedade, ou seja, a organização da sociedade termina permitindo a sobrevivência da cultura do grupo. 
	Que, as culturas, são fundamentais na construção da identidade (quem somos? Quem eu sou?) e da história (de onde viemos? Quem é minha família? Quem tem mais poder aqui?) de um grupo e de um indivíduo. 
	E que, indivíduos, por sua vez, pautam sua vida por valores culturais como a língua, a alimentação, a religião, o tipo de família e de casamento, o sistema de poder, etc. Aprendidos no seu ambiente social.
O QUE SIGNIFICA A CULTURA? Para muitos antropólogos, a cultura do grupo é o passo definitivo que torna um indivíduo em indivíduo social, pois as regras da sua sociedade estão contidas em padrões culturais. Assim, para se viver em sociedade, pelo menos no caso humano, é necessário o aprendizado constante da cultura do grupo. Imagine as dificuldades que você teria se tivesse de viver em outro país e não tivesse o mínimo interesse pelos padrões culturais do povo de lá! Assim, consideramos que a cultura, além de ser a base da organização de uma sociedade é também a base do nosso crescimento individual enquanto membro de uma sociedade. Então, a cultura é quem define o ser humano, é o que nos diferencia dos animais, é o fenômeno, não genético, responsável pela nossa evolução. 
VISÃO ABRANGENTE E A VISÃO RESTRITA. Existem muitas definições e ideias associadas ao conceito de cultura. Muitas foram desenvolvidas por antropólogos outras não. É possível se falar numa conceituação antropológica de cultura e em outras, desenvolvidas por ciências diferentes e até mesmo por pseudociências. Embora existam muitas definições para o conceito de cultura na antropologia o nosso maior problema não é o de termos muitas ideias; o problema é como afirmamos acima, o de definirmos a sua abrangência. Em outras palavras: qual é o tamanho do conceito de cultura para os antropólogos? Para alguns ele é um conceito muito abrangente e engloba todos os fenômenos produzidos pelo homem e que estão fora da biologia e da genética humanas. Para outros, ele deve ser restrito (ou pouco abrangente). Somente alguns elementos sociais, como mitos, lendas, símbolos, linguagens e ideologias religiosas, deveriam ser englobados como elementos "culturais". Embora essa possa parecer ser uma discussão complicada e pouco importante ela é central para se entender os diversos pensamentos antropológicos modernos. Aqui é importante lembrar que a discussão sobre o conceito de cultura e sua abrangência, é praticamente restrita ao campo da antropologia "sociocultural". No da antropologia biológica o problema já foi razoavelmente solucionado.
	A nossa posição sobre o debate tende para a concepção mais ampla. Nela, a antropologia é a ciência da cultura e cultura é tudo que é feito pelo homem. Não somente as coisas e objetos de uma sociedade mais também as ideias, repassadas de uma geração para outra, por métodos variados. O que queremos dizer é que consideramos o conceito de cultura como muito abrangente, englobando todos os produtos sociais humanos que não estão na esfera da evolução por seleção natural. 	
O HOMEM É UM SER-VIVO ESPECIAL? Apesar das diferenças entre as duas concepções (muito abrangente e pouco abrangente) ambas terminam levando muitos antropólogos a concepções assemelhadas quando o assunto é o papel da cultura na construção da categoria “homem”. Adeptos da visão abrangente acham, por exemplo, que se a definição estiver correta, isso torna o homem um ser vivo muito especial (obviamente, os que defendem a visão do pouco abrangente mencionada acima já partem dessa visão do homem como um ser vivo especial). O argumento é simples: dependemos tanto da cultura que, ao contrário dos outros seres vivos, a seleção natural não atua em nós ou, pelo menos, não atua mais. Assim a seleção natural não teria maior relevância para a compreensão do fenômeno humano. Mesmo admitindo que a seleção natural fosse importante - para o homem pré-histórico - teríamos nos "libertado" dela, através da cultura. Então somos especiais, pois conseguimos nos livrar dos "instintos" e da "animalidade" dos outros seres vivos do planeta. As evidências que suportam estas ideias são muitas: criamos sociedades complexas, dominamos a natureza e muitas espécies animais, foram criadas e são mantidas por nós. Ocupamos todo o planeta e nos alimentamos de todos os outros seres vivos sem ser alimento preferencial de nenhum deles. Portanto o raciocínio de que somos "especiais" parece correto. O problema é que ele não esclarece como e de que forma passamos a depender tanto da cultura (?). Ou seja, ele não esclarece os motivos e as circunstâncias do desenvolvimento cultural humano e porque passamos a depender tanto da cultura nos últimos 60.000 anos. 
A VISÃO INTERDISCIPLINAR. Outros antropólogos, ecologistas, demógrafos, filósofos, biólogos primatologistas e psicólogos evolucionistas, preferem uma visão mais interdisciplinar que trabalha na interface entre cultura humana e a evolução humana. 
Essa perspectiva interdisciplinar deixa claro que existe uma chave para se entender o desenvolvimento cultural humano. Na verdade, são duas chaves. A primeira é a da adaptação, ou seja, a cultura parece ter mudado na medida em que o homem se defrontava com novos desafios ambientais (ecológicos). Existe uma relação positiva entre as mudanças ecológicas e o crescimento da dependência cultural, segundo a paleontologia. A segunda chave é o cérebro. Na verdade, as evidências parecem mostrar que toda a complexidade da nossa cultura depende direta e exclusivamente do nosso cérebro e das interações entre ele e o meio ambiente. O cérebro não somente cria, mas também guarda as informações culturais que elaboramos e que aprendemos. Se você sofrer um acidente ou doença que afete certas áreas cerebrais, sua capacidade para criar, guardar e repassar cultura pode ser totalmente "apagada". Ora nenhum antropólogo, ou qualquer outro cientista afirmaria que o cérebro, como todos os demais órgãos do nosso corpo, está “livre” da seleção natural. Ou que o seu funcionamento é controlado por algo mais que enzimas e outras substâncias bioquímicas que respondem as instruções dos genes.
	De alguma maneira o aparato cultural é posterior ao aparato biogenético. Quando as primeiras evidências arqueológicas de cultura apareceram (há mais de 1 milhão de anos) o nosso cérebro já era grande e complexo (emboranão tão grande e complexo quanto o atual). O aparato biogenético parece ser um pré-requisito para a dependência cultural, ou seja, não teríamos criado tanta cultura se não tivéssemos certo tipo de cérebro. Podemos conceber que o estudo da seleção natural sobre nossa espécie é significativo como uma chave para se entender, dentre outras coisas, o grau de dependência cultural que exibimos atualmente.
	Conceber a cultura humana como um aparato complexo de adaptação ambiental com aproximadamente 1 milhão de anos, parece ser uma hipótese gradativamente testada e aceita dentro de uma ótica interdisciplinar. Para terminar, antes que você pergunte qual a serventia de uma adaptação ambiental (?); devemos dizer que ela está por trás da capacidade de uma espécie se alimentar, reproduzir e ampliar o seu território. Obviamente, a cultura humana não "serve" só para nos ajudar a comer, fazer sexo e ter segurança. Ela serve também para muitas outras coisas. Porém, não podemos negar que poucas são tão importantes quanto as que nos referimos acima.
RESPONDA: -1) Qual das 3 interpretações explica melhor o texto que você leu: A)O homem é o único ser vivo que produz cultura e ela nos libertou dos instintos e da seleção natural. B) O homem, ao contrário de muitos seres vivos, possui uma alta dependência de produtos culturais, A cultura foi criada por adaptações tornou-se fundamental para o crescimento individual (psicológico) e social. 2) De acordo com o texto foi através da cultura que perdemos nossos instintos e deixamos de ser animais? 3) Sociedades não capitalistas, não cristã e sem moeda podem ser consideradas como tendo cultura?

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