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O que é cidade

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS
DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL
DISCIPLINA: CIDADE E PODER LOCAL 
DOCENTE: ARLETE 
DISCENTE: DÉBORA DAIANE, SUELLEN CORREA e TAINARA PAULA.
TEXTO: O QUE É CIDADE?
INTRODUÇÃO 
O livro “O que é cidade” de Raquel Rolnik começa falando de uma estranha sensação que sentimos ao aproximarmos de grandes estruturas construídas nas cidades, como a muralha de Jerusalém e as grandes torres de concretos de São Paulo. E com o passar dos tempos percebe-se a relação das cidades com a natureza, a primeira sobre montanhas, rios e pedras da natureza se implanta a segunda natureza manufaturada. A cidade é uma obra coletiva que desafia a natureza, é uma referência, implantada sob a natureza, natural da imaginação e trabalho do ser humano e é com a existência material da cidade que está a existência da politica. 
A autora faz uma comparação entre as cidades antigas e as metrópole contemporânea, relando sobre suas origens, suas transformações e diz, que a própria cidade se encarrega de contar sua historia. Rolnik apresenta um resumo sobre o que o livro vai mostrar em dois capítulos : o primeiro vai em busca de uma definição de cidade, buscando referencia em cidades bastantes diferentes entre si, procurando mostrar o essencial e comum entre elas. O segundo capitulo trata da cidade capitalista e de suas origens, modificações, conflitos sociais, contrastes; sobretudo sobre a cidade industrial. 
Definindo a cidade 
O que é cidade? Tentando definir o que é cidade a autora pensou de imediato em São Paulo, com inúmeras pessoas e maquinas, milhares de habitantes, mas logo pensou também em outras cidades, de outros tempos e lugares como: Jerusalém, Roma, Babilônia, que eram cidades cercadas de muralhas e portões, que impediam o contato com o mundo exterior. Não esta nunca diante a cidade, mas quase sempre dentro dela. O espaço urbano toma conta dos campos, com periferias, subúrbios, estradas e vias, transformando assim toda a sociedade em urbana. E buscando resposta para definir o que é cidade, ela diz que a única imagem que veio a cabeça foi de um ímã, um campo magnético que atrai, reúne e concentra os homens. 
A cidade como um ímã 
A autora começa dizendo que, a cidade é antes de mais nada um ímã, antes mesmo de se tornar local permanente de trabalho e moradia. Assim foram os primeiros embriões de cidade, como os zigurates (templos gigantescos), que surgiram três milênios antes da era cristã. E através das construções do local cerimonial, tem a transformação do jeito de os homens ocuparem o espaço. Eles começam a plantar seus alimentos, ao invés de caçar, e isso é uma maneira deles mostrarem o seu local permanente. E com a dominação desse espaço está na apropriação material e ritual do território. E assim os homens começam a construir, criar seus primeiros desejos de modificar a natureza. 
Com os tijolos cozidos, material que eram feitos os templos gigantescos, os homens pensavam mais em seus habitat, eles encontravam na natureza e através da arquitetura inventavam varias formas de construções. O tijolo por ser simples e fácil de adquiri-lo, permite aos homens realizar com facilidade as variadas formas imaginadas, transformando o espaço em qualquer coisa que o homem imaginar. O templo era o ímã que reunia o grupo. Sua edificação consolidava a forma de aliança celebrada no cerimonial periódico ali realizado. 
E com toda essa ambição do homem transformar a natureza, a Bíblia relata a história da experiência da Torre de Babel: os descendentes de Noé, que sobreviveram ao dilúvio, decidem construir seus habitat na terra de Sinear, e com tijolos cozidos edificar uma cidade e uma torre “cujo topo chegue até aos céus”, mas são castigados logo após iniciarem o projeto: as línguas se embaralharam, as nações foram divididas. Esse castigo foi o castigo dado para eles por tentarem construir uma natureza artificial, no lugar da natureza primordial e unitária que era a obra divina. Com o desejo de novas construções, sobre a natureza primeira, era necessário uma organização de trabalho, politica e eles lançavam-se em um projeto de dominação da natureza. E com esse castigo houve a separação dos homens, e das nações que fez surgir as cidades, que será a cidadela, em guerra permanente contra os inimigos, na defesa de seu território. 
A cidade como escrita 
As grandes construções feitas de tijolos marcam a constituição do homem/natureza, definindo formas geométricas e formando palavras para representar sons e ideias que os homens tinham, construir cidades significa também uma forma de escrita, a escrita e a cidade ocorrem quase que ao mesmo tempo, estimulados pela necessidade de memorização, medida e gestão de trabalho coletivo. 
Junto à arquitetura urbana, a escrita compõe uma forma de memória da cidade, que pode ser ‘lida’ ora no papel, ora nos desenhos, formas e tipologias que apresenta. A história da cidade pode ser lida em suas construções, simbologias e significados que se renovam com as transformações. A arquitetura da cidade é ao mesmo tempo continente e registro da vida social: quando os cortiçados transformam o palacete em maloca estão, ao mesmo tempo, ocupando e conferindo um novo significado para um território; estão escrevendo um novo texto. 
“Civitas”: a cidade política 
A ideia de cidade implica a ideia de vida coletiva em que todos fazem parte de um conjunto se define esta conjunto como massa. Para a organização desse “todo”, há o fluxo dirigido da movimentação das pessoas regulado no cotidiano (ex.: semáforos, filas, impostos, etc.). Essa forma de organização estabelece ordem por meio da permissão ou do bloqueio dessas passagens proibidas. 
A gestão coletiva é presente nas cidades seja qual for seu tamanho, tal necessidade de organização na cidade é feita por um poder urbano, sob uma autoridade para gerir a vida pública na cidade. Historicamente, a realeza é a primeira forma de gestão, dotada de um poder centralizado e despótico com o escopo de conquista e defesa territorial. A cidadela é protegida por muralhas e ao mesmo tempo seus moradores são compelidos por elas, mas a mantêm em troca dessa proteção. Há uma dinâmica de exploração e privilégio em relação à administração do excedente social. A cidade, portanto, desde seu início remete à forma de organização de relação política. 
O modelo mais nítido do aspecto político da cidade é a polis, cidade-Estado grega, a qual está ligada diretamente como uma prática política da comunidade mais que uma referência física a que remete a sua interpretação. O mesmo ocorre com a civitas dos romanos, em que há o sentido da cidade entendida como participação dos cidadãos na vida pública. Por sua vez, o termo “cidadão” refere-se ao indivíduo detentor de direitos de participação na vida política, e não apenas morador da cidade. No caso das cidades-Estado gregas a cidadania estava relacionada à propriedades de lotes agrícolas no território abarcado pela cidade, assim escravos, estrangeiros e mulheres, apesar de habitantes de cidade, não participavam das decisões a respeito de seu destino. 
A centralidade da cidade está ligada à concentração espacial, que pode ocorrer por exemplos nas praças, e mais atualmente com o advento da internet não está tão presente. 
A cidade como mercado 
Com a concentração e aglomeração das pessoas, fica mais fácil a possibilidade de troca entre os homens, mostrando sua capacidade produtiva, através da divisão do trabalho. Cada individuo produz tudo aquilo que é necessário para sobreviver, e através da troca de produtos entre os homens, configura-se a especialização do trabalho e instaura-se um mercado. Com a criação do mercado, possibilita a divisão de trabalho entre campo e cidade, e também uma especialização do trabalho no interior da cidade, como: a metalúrgica, cerâmica, vidraria, cutelaria e etc. O caráter mercantil da cidade que se expande, com divisão de trabalho entre cidades, quando esta divisão do trabalho se estabelece,a cidade deixa de ser apenas a sede da classe dominante. O trabalho de transformação da natureza é iniciada no campo e terminada na cidade, e o camponês passa a ser consumidor de produtos urbanos e estabelecendo-se a troca entre cidade e campo. 
O Império Romano é um exemplo desse processo, com as cidades ligadas por estradas e portos, a troca entre os produtos acontecia livremente, possibilitando assim que os produtos de uma cidade chegasse a outra, como por exemplo: as caçarolas de bronze feitas em Capua apareceram na Escócia e Suécia; as sedas de Damasco chegaram a Espanha, e etc. Embora a presença do mercado seja marcante nas cidades romanas, ela não chegava a ofuscar sua dimensão politica. Hoje, a imagem de cidade como centro de produção e consumo domina totalmente a cena urbana, a cidade é dominada pelo mercado, e isso é próprio 
A cidade do capital 
“o ar da cidade liberta” 
A partir de certo momento da história que as organização das cidades se voltam para o mercado, que não só atua uma reorganização do espaço interno, mas também atrai grandes populações para as cidades, redefinindo todo o espaço circundante. Mesmo sendo esse processo vivo e atual, buscando a história das cidades europeias seus primeiros sinais encontra-se em algumas regiões da Itália, por volta de 1500, a expressão “o ar da cidade liberta”. Para essas regiões afluíam camponeses de atraídos pelas “artes” da lã e da seda, pelas obras públicas da cidade, pelo serviço nas casas ricas, ou até mesmo para uma vaga de mendigo. 
Isso marca a passagem de uma economia baseada na produção de subsistência, para uma economia mercantil. No caso da Europa feudal, a subsistência do servo era garantida por sua ligação à terra e ao senhor. Ali se produzia para as necessidades básicas da comunidade. O feudo era autônomo tanto do ponto de vista econômico quanto político. A cidade, neste contexto, é também autônoma, vivendo para si mesma e para sua vizinhança. 
A produção artesanal da cidade era controlada pelas corporações de ofício. Sua estrutura era extremamente hierarquizada; para se tornar mestre os aprendizes passavam por um longo processo de formação. O aprendiz vivia com seu mestre que tinha sua oficina como extensão ou parte de sua casa. 
Quanto ao designe das vilas, não havia, portanto, uma prévia demarcação de lotes ou desenho de uma rua. Sendo ocupada pelos moradores à medida que ali iam se instalando. No trabalho dos construtores de cidades medievais era muito forte a presença da natureza. O imperativo da defesa era fundamental e na construção de castelos, conventos e burgos a própria geografia do lugar era aproveitada para este fim. Dando assim a essas cidadezinhas medievais um desenho próprio, nada de quadrados que se repetem no decorrer das quadras. 
A cidade medieval começa a mudar no centro do desenvolvimento de uma próspera economia mercantil, impulsionada pelo comércio de longa distancia. Com esse crescimento das cidades e o aumento significativo do comércio, o sistema feudal, enfraquecido também pelas pestes e pela inflexibilidade das terras, entra em crise. 
A circulação de mercadorias colocava para o senhor feudal e, juntamente, para o servo a necessidade cada vez maior de dinheiro. E por outro lado, o próprio crescimento multiplicava também as oportunidades de trabalho para servo. Enquanto aumentava as pressões senhoriais, crescia a revolta dos servos. O arrendamento também expulsava os servos do campo, com uma forma de produção que não absorvia nem comportava o trabalho servil. 
Assim com a migração para as cidades, os camponeses não mais se submetia ao vínculo com a terra e com o senhor. Livre das amarras que o prendiam ao seu senhor, o servo perdia também acesso à terra e, portanto, à subsistência. E é com a força deste trabalhador livre e despossuído e com o lucro do mercado criado que a produção manufatureira começa a se multiplicar. A intervenção crescente dos mercadores na produção artesanal desloca o poder de controle (antes dos mestres de ofício) da produção, passando a atividade manufatureira para este novo grupo social. Com o crescimento e diversificação desta atividade mercantil e manufatureira, pouco a pouco algumas cidades passaram a sediar a administração dos empreendimentos. 
Com o poder posto em xeque, os nobres senhores feudais, a princípio, buscam reforços de um poder local urbano – a cidade-Estado. Ao mesmo tempo em que as grandes construções de palácios e catedrais manifestavam a aliança patriciado-Igreja, significava também um aquecimento do mercado interno. No século seguinte as grandes cidades-Estado começam a conquista cidades vizinhas, constituindo Estados territoriais. São monarquias, Estados centralizados dominados por descendências nobres. Por um lado protegendo os privilégios e propriedades da nobreza, porém ao mesmo tempo respondendo aos interesses da classe mercantil ao passo que unifica regiões inteiras com a mesma moeda, facilitando as atividades comerciais e manufatureiras. 
Estes Estados se organizavam em torno de uma cidade-capital. A necessidade de centralização da autoridade contribuía poderosamente para o fortalecimento e unificação do Estado. Rapidamente, algumas cidades-capitais atingiram populações raramente conseguidas no mundo medieval. A ampliação tremenda da renda devida aos poderes centrais era usado para expandir e fortalecer a capacidade do Estado. 
A transformação da vila medieval em cidade-capital de um Estado moderno tem como primeiro elemento a questão da mercantilização da terra urbana, que passa a ser uma mercadoria. Em segundo lugar, a ordem de divisão da sociedade em classes: de um lado os proprietários dos meios de produção, os ricos detentores de dinheiro; de outro, os vendedores de sua força de trabalho, os livres e despossuídos. Entre estes dois estão os artesões independentes donos de seu próprio negocio. Finalmente, um poder centralizado e despótico ali se instala; que interfere diretamente na condução do destino da vida cotidiana dos cidadãos. 
Separar e Reinar: A Questão da Segregação Humana 
É fácil identificar hoje em dia, os territórios diferenciados onde estão distribuídas as diferentes classes sociais. É como se a cidade fosse um imenso quebra-cabeças, feito de peças diferenciadas, onde cada qual conhece seu lugar e se sente estrangeiro nos demais. Este movimento de separação das classes sociais e funções no espaço urbano é chamado de segregação espacial. Como se a cidade fosse demarcada por cercas, fronteiras imaginárias, que definem o lugar de cada coisa e de casa um dos moradores. 
Além de “instrumento” de separação de classe, raça ou faixa etária, a segregação também se expressa através do recorte dos locais de trabalho em relação aos locais de moradia. Os transportes coletivos superlotados ou no trânsito engarrafado, expressa muito bem esta separação. A segregação é perceptível na desigualdade de tratamento por parte das administrações locais. As imensas periferias sem água, luz ou esgoto são evidências claras desta política discriminatória por parte do poder público. Porém, é evidente que estes muros, visíveis ou não, são essenciais na organização do espaço urbano contemporâneo. 
Voltando novamente ao passado, e como já visto, na cidade medieval não há segregação entre os locais de moradia e trabalho. Além de ser local de produção e habitação, é - na oficina do artesão, por exemplo - que se vende o produto de trabalho, tanto que todo o espaço burgo é simultaneamente lugar de residência, produção, mercado e vida social. Neste contexto, então, não há separação entre o mundo do trabalho e o mundo da família. 
O não “zoneamento” da cidade de acordo com funções e classes sociais, a casa como unidade de produção e consumo são características identificáveis entre muitas cidades brasileiras até meados do século XIX. O paralelo entre a vila medieval e a cidade colonial brasileira só é igualmente dividida até certo ponto. A começar pela base da economia, no Brasil colonial o trabalho era escravo o quediferencia e muito, em termos de relação social básica, da relação senhor/servo no feudalismo. No escravismo, a senzala, e não a corporação, representava o mundo do trabalho. Do ponto de vista espacial há algumas semelhanças entre os burgos medievais europeus e as cidades coloniais do Brasil. Tendo espaços polivalentes do pontos de vista funcional e misturados do ponto de vista social. Isto não quer dizer que não existiam nestas cidades diferenças de classe ou posição social. 
As distâncias entre senhores e escravos nas cidades brasileiras não eram físicas e sim na forma de vestir, na gestualidade, na atitude arrogante ou submissa e, no caso do Brasil, até da cor da pele. O respeito e hierarquia introduziram a diferença social na vida comunal. Hoje essa forma de habitar e organizar a cidade seria considerada promíscua. Não é apenas o aumento da população que explica a transformação deste modo de organização do espaço urbano. A segregação começa a ficar mais evidente na medida em que avança a mercantilização da sociedade e se organiza o Estado Moderno. O poder desse novo Estado se fazia notar através de sua presença na cidade. A edificação de prédios públicos representava a permanência deste poder no coração da cidade. 
Os locais de residência passavam a se separar do local de trabalho. Com isto, novos bairros exclusivamente residenciais e homogêneos do ponto de vista social começam a surgir. No Brasil, este movimento é aparente no Rio de Janeiro. Este movimento de segregação vai se disseminando tremendamente impulsionado pelo trabalho assalariado. A relação patrão/empregado se diferencia da mestre/aprendiz ou senhor/escravo, pois é definida pelo salário, com o que o trabalhador paga seu sustento. Essa condição rompe um vínculo porque cada qual comprará no mercado imobiliário a localização que for possível com a quantidade de moeda que possuir. 
A segregação se impõe em nível da constituição de territórios separados para cada grupo social, é também sob seu império que se reorganiza o espaço de moradia. Analisando o loteamento de Higienópolis em São Paulo, é possível notar que a casa se afasta da rua e dos vizinhos, ganhando e murando seu lote ao redor. É a vida social burguesa se retirando da rua para se organizar à parte, em um meio homogêneo de famílias iguais a ela. Para a burguesia, o espaço público deixa de ser rua e passa ser sala de visitas, ou o salão. “Casa” e “rua” são termos em oposição: a rua é a terra-de-ninguém, perigosa, que mistura classes, sexos, idades, funções, posições de hierarquia; a casa é território íntimo e exclusivo. Dentro da casa se estruturam locais ainda mais privativos. 
Na micropolítica da família, algumas mudanças ocorrem no território familiar. A mulher acaba virando “a rainha do lar”, uma especialista em domesticidade. E as crianças passam a ser separadas por grupos de idade e mandadas a escola. Sabe-se que o padrão burguês de habitação tornou-se norma para o conjunto da sociedade, mas também sabemos que no território popular a superposição de funções e o uso coletivo do espaço é estratégia de sobrevivência. 
A segregação ganha sob este ponto de vista um conteúdo político, de conflito. A luta pelo espaço urbano. Os membros da sociedade burguesa veem a proximidade do território popular um risco permanente de contaminação e desordem. Contudo, o próprio processo de segregação possibilita a organização de um território popular, base da luta por trabalhadores pela apropriação do espaço da cidade. Esta reorganização espacial introduzida pela necessidade da segregação na cidade tem uma base econômica e uma base politica para sustenta-la. Do ponto de vista político, a segregação é produto e produtora do conflito social, e quanto mais separada é a cidade, mais visível é a diferença, mais acirrado poderá ser o confronto. 
A intervenção do Estado na cidade atravessou a reflexão sem ser desenvolvido totalmente, porem ele está presente em todos os casos até então expostos. Na intervenção e investimento do poder público no espaço; em espaços equipados com o que há de mais moderno em matéria de serviços urbanos e espaços onde o Estado investe pouquíssimo na implantação destes mesmos equipamentos; nas instituições públicas, destinadas a disciplinar, curar, educar ou punir em tantas outros casos. 
Estado, cidade, cidadania
Não se consegue imaginar uma cidade sem os órgãos competentes de organização e que gerem as necessidades e responsabilidades dentro do perímetro urbano, é tão comum a presença do Estado para colocar ordenamento nos setores que viabilizam o funcionamento da cidade que fica natural a presença do aparelho de Estado para que politicamente e administrativamente haja o poder urbano, esse encarregado da coisa publica.
	
No contexto histórico do século XVII, que ocorre uma reviravolta desse poder politico, econômico e social que o Estado exerce. Diz respeito a transformação das forças politicas que agora visam o acumulo do capital e consequentemente implica na dominação, desta forma influenciando que a detenção do capital permanece na mãos dos dominantes. Como esse seleto grupo capitalista investe seu capital na cidade, se dá uma relação de cobrança do mesmo sobre o Estado, que deve garantir a rentabilidade dos investimentos. Dessa forma, geometricamente o espaço urbano é divido visando atribuir preço a terra, uma logica capitalista que conduz a ocupação da cidade. 
	
A intervenção ou ação do estado acontece de maneira estratégica, é a pratica de planejamento urbano para que tudo possa funcionar, a partir de um modo mecanicista, mas que se trata de ideais urbanos ou até mesmo cidades utópicas como a Ilha de Thomas Morus. Sabemos que nas cidades medievais não existia nada planejado a cidade apenas crescia espontaneamente, isso muda a partir do século XVII, quando o conhecimento racional passa a ser o modo operante das construções, isso é uma proposta burguesa, então surgem os tratados de arquitetura e urbanismo, possibilitando a exclusão dos defeitos e a execução dos planejamentos que produtivamente previam a melhor utilização do espaço. Essa transformação implicou na divisão do trabalho, agora o trabalho intelectual (conhecimento cientifico) se desvinculava com o trabalho manual (ordem de serviço).
	
O planejamento das cidades utópicas não foi realizado, mas foram importantes porque delas originaram a intervenção do Estado nas questões de desenvolvimento urbano como: a circulação, a demanda, a estruturação, etc. É dessa maneira que o Estado possibilita a ele mesmo o poder de controlar os espaços urbanos. 
	Esses planejamentos (teóricos) são encontrados já realizados (pratica) nas cidades barrocas, onde o principio é a circulação. Também é importante para esse modelo, a visibilidade aos monumentos de poder, onde os edifícios públicos são construídos de maneira regulares e de destaque. É o Estado investindo na infra-estrutura dos centros políticos com requintes de limpeza e organização.
	
As cidades se tornam chamativas para os pobres, pois a monarquia reformava a cidade e instalava as instituições disciplinares (asilos, hospitais, prisões), para abrigar esses que agora com o movimento migratório se tornavam demanda de responsabilidade da cidade. É assim que o crescimento ligeiro acontece, como acontece também o alargamento das tensões sociais. São criadas instituições de disciplina para confinar os “marginais” para que esses não sejam ameaça para a fluidez da cidade. Esse aspecto é oriundo do pacto do Estado com a família burguesa, onde a família cumpre seu papel social, estruturando seu lar, e o Estado estrutura a sociedade, confinando os loucos, vagabundos, e doentes, que são considerados membros não integrados socialmente nas famílias burguesas. 
	
Outro ponto que é relevante trata-se da cidade como espaço de circulação de mercadorias. Tudo é considerado mercadoria, a venda da força de trabalho, os produtos das fabricas, os bens, etc., o próprio espaço urbano é uma mercadoria, e seu preço depende dos atributos físicos encontrados nasua localidade, como a valorização ou desvalorização que ocorre com os investimentos regionais, estes são aspectos de mercado imobiliário. Conseguinte através dessa logica, a reforma de um bairro antigo acontece pois ele é considerado para o capital imobiliário um potencial rentável, isso se chama renda fundiária. Outro ponto importante que influencia esse mercado é o investimento do Estado nas infra-estruturas publicas que valorizam ou desvalorizam localidades, seu valor de mercadoria se altera.
	
É uma maneira do Estado ser produtor e conservador de determinadas normas, um modelo empregado por ele, que delineia o modo de cidade e de cidadão. Do mesmo jeito que para instituições hospitalares existe o paciente saudável, é interesse do Estado que na legislação urbana, exista moradias saudáveis, é por isso que os bairros nascem de maneira padronizada, para que o Estado na “tentativa de homogeneizar” a ocupação capitalista. Habitações que fogem a esse modelo são consideradas subnormais, e assim, são descriminadas por parte da policia, da vizinhança e consequentemente desvaloriza o espaço.
	Os moradores que nesses locais residem assumem uma posição de não-cidadãos pois desviam da norma. Se trata das favelas, cortiços, etc., mesmo dando fuga ao padrão de habitação e sendo considerados anormais, esses espaços ocupacionais não param de crescer, devido a divisão de classes, e ao modo de produção capitalista, a questão então se encontra nas condições urbanas dispostas a esses moradores. Quem não ganha um bom salario não mora em uma boa casa. É a partir dessa logica gerada pelo capitalismo que esses territórios populares são mal vistos pelo mercado imobiliário, pois desvaloriza a região. 
	Para os moradores que convivem nessas condições, a intervenção do Estado é exigência, assim como o reconhecimento desses moradores como cidadãos, que necessitam de infra-estrutura para terem uma habitação mais digna. A intervenção do Estado nesses territórios esta acontecendo através dos programas de “racionalização” que adequa esses espaços às normas, que é a reprodução do modelo de normalidade das cidades.
	
Por fim, o poder urbano funciona como uma instancia que controla e normatiza os conflitos encontrados na cidade e no cidadão. O Estado apesar de ter seus servidores, parece não ser capaz de homogeneizar totalmente o território e acabar com os males encontrados nas cidades. Primeiramente porque o domínio do Estado esta sempre em disputa de grupos/forças sociais, conseguinte, pois o desvio de finalidade e previsões se desviam da própria norma constitucional, a intervenção do Estado torna-se assim contraditória, porque sua ação favorece ou desfavorece segmentos da sociedade que vive nas cidades, gerando deficiência na sua eficiência. 
Cidade e Indústria
	O desenvolvimento urbano se dá através da produção industrial, e esta se encontra na tecnologia, na comunicação, na sociabilidade, na cultura etc. Com a industrialização da produção, conferimos um processo gigantesco de apropriação das cidades e urbanização acelerada, é a indústria que impulsiona a sociedade como um todo, porque envolve o desenvolvimento a transformação social e coletiva. A mercadoria já tem grande importância e seu potencial é elevado quando entra em cena o maquinário da indústria, impulsionando o crescimento. Acontece a substituição da força animal pela força motora, pois não cansa e não sente, ganha espaço e o principal, ganha tempo, aumentando a capacidade produtiva. Com isso a diversidade dos produtos se ampliou, necessitando novamente de aglomeração física que opera-se o maquinário, assim, as grandes cidades são consideradas pois detém grande indústria. 
	
A burguesia muda o modo de produção violando as regras de corporação, visando aumentar a produtividade através do controle da produção e exploração do trabalho, concentrando cada vez mais o poder de produção na mão do empregador, esse instrumento usado pelos donos da produção para proporcionar maiores lucros e menores despesas, isso é a indústria, um fenômeno urbano, que exige grande numero de trabalhadores para que torne rentável seu investimento. Por outro lado, acontecia o barateamento dos produtos pois as fabricas produziam muito, gerando o quase aniquilamento das produções artesanais, comuns anteriormente. 
	
Devido a essas rupturas de território causadas pelas indústrias, as bases econômicas locais antes geridas pelos trabalhos artesanais entram em crise, intensificando o abandono das atividades, e acelerando a migração para a cidade. Com isso as cidades passam a ser cada vez mais heterogêneas, com culturas distintas, fator causado pelas grandes migrações de massas. Gerando a divisão social de classes, a hierarquização e também a divisão étnico-cultural, onde os grupos sociais correspondem a sua posição social. Foi o que aconteceu no Brasil, especificamente em São Paulo, a indústria se estabelecia e a cidade cada vez mais recebia grupos de diferentes culturas. 
	
Ao mesmo tempo em que a cidade se torna capitalista, traz consigo o desenvolvimento, mas também traz a precariedade territorial, de maneira a considerar que a heterogeneidade e segregação da cidade a faz popularmente um território de violência. Principalmente quando o modo de produção capitalista ao invés de repor as energias gastas exaustivamente no trabalho, violentamente ela é roubada, a questão se torna explosiva, assim como a criminalidade que faz da cidade um barril de pólvora. É devido a esses fatores que as industrializações das cidades vem acompanhadas de agitações das multidões, onde as multidões explodem e realizam saques, manifestações, vandalismos, etc,. 
	
O caráter da cidade industrial é uma expressão de contradição, pois ao mesmo tempo que é a criadora e destruidora da produção, gera riqueza a alguns e pobreza a outros, é o espetáculo e o inferno como diz a autora. Assim como os centros industriais tem a capacidade de desenvolver, criar, superar em alguns aspectos, tem também a capacidade de destruir e violentar.
	
Atualmente é crescente a destruição do ambiente-natureza e a artificialização dos territórios. É a industrialização o famoso “desenvolvimento” que altera bruscamente a naturalidade das coisas, não existe mais distancia, a noite se confunde com o dia. As cidades se modernizaram e se globalizaram, mas existe o pagamento de um preço, a alternância do clima por exemplo. Estudos chegam a apontar a criação da era pós-industrial, onde as cidades, o tempo e o espaço são redefinidos, onde os centro aglomerados não seriam mais necessários, se tornaria uma cidade dispersa e perderia o conceito apresentado no inicio, de cidade Imã, quebrando com as características originais, mas isso só o futuro nos dirá, se o mundo esta sendo transformado em cidades, ou as cidades estão se transformando em mundo, ou até mesmo mudando para um mundo sem cidades.

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