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1 CURSO DE DIREITO Eldrin Vollbrecht A (IM)PENHORABILIDADE DAS COTAS SOCIAIS NA SOCIEDADE LIMITADA Sobradinho 2014 2 Eldrin Vollbrecht A (IM)PENHORABILIDADE DAS COTAS SOCIAIS NA SOCIEDADE LIMITADA Trabalho de Conclusão de Curso, modalidade monografia, apresentado ao Curso de Direito da Universidade de Santa Cruz do Sul, UNISC, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Direito. Prof. Ms. Tatiane Kipper Orientadora Sobradinho 2014 3 TERMO DE ENCAMINHAMENTO DO TRABALHO DE CURSO PARA A BANCA Com o objetivo de atender o disposto nos Artigos 20, 21, 22 e 23 e seus incisos, do Regulamento do Trabalho de Curso do Curso de Direito da Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC – considero o Trabalho de Curso, modalidade monografia, do acadêmico Eldrin Vollbrecht adequado para ser inserido na pauta semestral de apresentações de TCs do Curso de Direito. Sobradinho, novembro de 2014. Prof. Ms. Tatiane Kipper Orientadora 4 AGRADECIMENTOS Agradeço aos meus familiares e próximos pelo incentivo, assim como aos professores e colegas do Curso de Direito pelos ensinamentos e amizade. E, em especial, à professora orientadora, Ms. Tatiane Kipper, pelo encorajamento e sabedoria transmitida na realização deste Trabalho de Conclusão de Curso. 5 RESUMO O presente trabalho tem como tema “a (im)penhorabilidade das cotas sociais na sociedade limitada”. Pretende-se, à luz da doutrina e jurisprudência recentes e relevantes acerca da situação em tela, analisar, discutir e apresentar os principais aspectos teóricos que envolvem essa problemática. Dessa forma, analisa-se a figura da sociedade no âmbito do ordenamento jurídico brasileiro, notadamente seu conceito, as questões envolvendo a aquisição da personalidade jurídica e as consequências advindas dessa aquisição, assim como a classificação das sociedades, até pautar-se única e exclusivamente sobre a sociedade limitada e, só então, sobre a (im)penhorabilidade das suas cotas sociais. Para tanto, utiliza-se como método de abordagem o dedutivo e quanto à técnica de pesquisa, emprega-se a bibliográfica, com a consulta em livros, periódicos e acervos jurisprudenciais. A discussão acerca do tema é de suma importância, pois, por vezes, contraditória, haja vista que, a despeito de sua responsabilidade limitada, a sociedade poderá ver seu sócio ser penalizado com a penhora das respectivas cotas sociais. A problemática gira em torno da possibilidade da penhora da cota social na sociedade limitada e a entrada de novos sócios no quadro societário, considerando-se o fato de a sociedade limitada ser uma sociedade de pessoas, sendo, portanto, imprescindível a qualidade pessoal do sócio para ingresso na sociedade. Como resultado parcial, obteve-se, conforme a doutrina e a jurisprudência dominantes, pela possibilidade da penhorabilidade da cota social na sociedade limitada, mesmo diante de seu caráter intuito personae. Palavras-chave: (im)penhorabilidade; cotas sociais; sociedade limitada. 6 ABSTRACT The present work has as its theme "the (im)penhorabilidade social quotas in limited liability company ". It is intended, in light of recent and relevant doctrine and jurisprudence on the situation display, analyze, discuss and present the main theoretical aspects surrounding this issue. Thus, we analyze the society figure within the Brazilian legal system, especially its concept, issues involving the acquisition of legal personality and the consequences resulting from this acquisition, as well as classification societies, to be guided solely on the limited partnership and, only then, on the social dimensions of their (im)penhorabilidade. For this purpose, it is used as a method of deductive approach and the technical research, employ the literature, consultation with books, journals and case collections. The discussion on the topic is very important because sometimes contradictory, considering that, despite its limited liability, the company may see your partner being penalized with seizure of their social dimensions. The issue revolves around the possibility of social attachment quota in limited entry of new members to the corporate structure society , considering the fact that the limited partnership is a partnership , and is therefore essential personal quality of partner for entry into society. As a partial result was obtained as the doctrine and prevailing jurisprudence , the possibility of penhorabilidade the social dimension in the limited partnership , even before your order character personae. Keyworks: (im)penhorabilidade; social dimensions; limited partnership. 7 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 08 2 DA SOCIEDADE NO DIREITO BRASILEIRO .................................................... 10 2.1 Conceito de sociedade ............................................................................... 10 2.2 Aquisição de personalidade jurídica e suas consequências ................. 15 2.3 Das sociedades que não possuem personalidade jurídica ..................... 21 2.3.1 Da sociedade em comum .................................................................. 23 2.3.2 Da sociedade em conta de participação .......................................... 24 3 CLASSIFICAÇÃO DAS SOCIEDADES E TIPOS SOCIETÁRIOS ..................... 27 3.1 Classificação das sociedades ................................................................... 27 3.1.1 Classificação quanto ao regime de constituição e dissolução ..... 27 3.1.2 Classificação quanto às condições de alienação societária ......... 31 3.1.3 Classificação quanto ao tipo de responsabilidade ......................... 33 3.2Tipos societários ......................................................................................... 34 4 A DISCUSSÃO ACERCA DA PENHORABILIDADE NAS SOCIEDADES LIMITADAS ........................................................................................................ 41 4.1 Da sociedade limitada ................................................................................ 41 4.2 Da (im)penhorabilidade das cotas sociais ................................................ 45 4.3 Posicionamento da Jurisprudência acerca da penhorabilidade das cotas sociais na sociedade limitada ......................................................... 50 5 CONCLUSÃO ..................................................................................................... 56 REFERÊNCIAS .................................................................................................. 58 8 1 INTRODUÇÃO O presente trabalho terá como tema principal, objeto de análise, a possibilidade, ou não, de penhora das cotas sociais na sociedade limitada, haja vista ser classificada como intuito personae, sendo a qualidade pessoal dos sócios figura importantíssima para a entrada dosmesmos no corpo societário. Esse trabalho terá como objetivo investigar a previsão da figura da sociedade como um todo no ordenamento jurídico brasileiro, notadamente seu conceito, as questões envolvendo a aquisição da personalidade jurídica e as consequências advindas dessa aquisição, assim como a classificação das sociedades, até pautar- se única e exclusivamente sobre a sociedade limitada e, só então, sobre a possibilidade de penhora das suas cotas sociais. Importante referir que a problemática gira em torno da possibilidade da penhora da cota social e a entrada de novos sócios no quadro societário, considerando-se o fato de a sociedade limitada ser uma sociedade de pessoas, sendo, portanto, imprescindível a qualidade pessoal do sócio para ingresso na sociedade. Assim, num primeiro plano, analisar-se-á a figura da sociedade, seu conceito e as questões envolvendo a aquisição da personalidade jurídica, bem como as consequências de tal aquisição. Ainda no primeiro capítulo, explanar-se-á sobre as sociedades que não possuem personalidade jurídica, também chamadas de despersonificadas, como a sociedade em comum e a em conta de participação. Já no segundo capítulo, falar-se-á sobre a classificação das sociedades, passando-se pelas divisões quanto ao regime de constituição e dissolução, posteriormente, quanto às condições de alienação societária e, por fim, quanto ao tipo de responsabilidade. Realizar-se-á, outrossim, ao longo do segundo capítulo, um estudo acerca dos tipos societários. Em seguida, no terceiro e último capítulo, será averiguada a discussão acerca da penhorabilidade das cotas sociais nas sociedades limitadas, iniciando-se com abordagem sobre as características da sociedade limitada e, finalmente, com posicionamento da Jurisprudência acerca do tema objeto do presente trabalho. Ademais, para realização do presente trabalho, utilizou-se do método de abordagem dedutivo, partindo do estudo das premissas conceituais e históricas da 9 figura da sociedade, para chegar-se ao da penhorabilidade das cotas sociais na sociedade limitada. E, quanto à técnica de pesquisa, emprega-se a bibliográfica, com consulta em livros, periódicos e acervos jurisprudenciais. Justifica-se o estudo em tela, pois a discussão atinente ao tema é de suma importância, e, por vezes, contraditória, haja vista que, a despeito de sua responsabilidade limitada, a sociedade poderá ver seu sócio ser penalizado com a penhora das respectivas cotas sociais, bem como, porque controversa a entrada do terceiro adjudicante/arrematante com a cota penhorada do devedor/cotista, notadamente por ser a sociedade limitada classificada como de pessoas. Em síntese, a questão da penhorabilidade das cotas sociais é de importante análise, vez que, em que pese a sociedade em comento ser de responsabilidade limitada, poderá o sócio ter sua cota social penhorada, ainda mais quando o débito posto em execução se originou na cessão onerosa das mesmas. 10 2 DA SOCIEDADE NO DIREITO BRASILEIRO Far-se-á, neste primeiro capítulo, uma análise acerca do conceito de sociedade, da aquisição de personalidade jurídica pelas sociedades e as consequências advindas de tal ato e, ao final do mesmo, uma perquirição sobre as sociedades que não possuem personalidade jurídica, como as sociedades em comum e a em conta de participação. Passa-se, por ora, então à questão da conceituação. 2.1 Conceito de sociedade Inicialmente, cabe frisar que durante o decorrer dos anos, a definição de sociedade sofreu alterações até o conceito apresentado hoje pelo Código Civil de 2002, como se verificará. Antes de tudo, é de ressaltar que as sociedades são previstas no artigo 44, inciso II, do Código Civil como pessoas jurídicas de direito privado, vejamos: CC. Art. 44 – São pessoas jurídicas de direito privado: [...] II – as sociedades; Ao se conceituar sociedade, é de se frisar que há diferença entre a empresa e a sociedade empresária, apesar de ambas compartilham de “conexões muito próximas, aponto de ser difícil conceber uma sociedade sem empresa, entretanto, não se pode deixar de reconhecer que entre as mesmas haja diferenças nítidas”, conforme alerta Bacco ([s.d.], <http://intertemas.unitoledo.br/revista/index.php/ Juridica/article/viewFile/347/341>). Continua a referida autora ([s.d.], <http://intertemas.unitoledo.br/revista/index. php/Juridica/article/viewFile/347/341>) lecionando que a constituição da sociedade serve para o exercício de uma atividade, ao contrário da empresa que é, justamente, o exercício dessa atividade. Ou seja, neste caso, a empresa acaba fazendo parte da sociedade, executando a atividade que deu vida àquela. Em outras palavras, a empresa é a atividade econômica exercida, e não o tipo de constituição societária da empresa. 11 Acrescenta Tomazette (2014, p. 202) que o Novo Código Civil, ao adotar a teoria da empresa, aperfeiçoou o conceito de sociedade, distinguindo-se apenas em empresárias ou simples: com o advento do Código Civil de 2002 e a adoção da teoria da empresa, aperfeiçoa-se o conceito de sociedade, não sendo mais necessária a distinção em comerciais e civis, mas agora se distinguem as sociedades empresarias e as sociedades simples. Diferença importante lembrada por Bacco ([s.d.], <http://intertemas. unitoledo.br/revista/index.php/Juridica/article/viewFile/347/341>) é que a empresa, em si, não possui personalidade jurídica, não havendo se falar em responsabilidade da mesma perante terceiros, diferentemente da sociedade empresária. Nesse ponto Coelho (2011, p. 23, grifado no original) leciona que a: sociedade empresária é a pessoa jurídica que explora uma empresa. Atente-se que o adjetivo “empresária” conota ser a própria sociedade (e não os seus sócios) a titular da atividade econômica. Não se trata, com efeito, de sociedade empresarial, correspondente à sociedade de empresários, mas da identificação da pessoa jurídica como o agente econômico organizador da empresa. Essa sutileza terminológica, na verdade, justifica- se para o direito societário, em razão do princípio da autonomia da pessoa jurídica, o seu mais importante fundamento. Empresário, para todos os efeitos de direito, é a sociedade, e não os seus sócios. Tem-se ainda que a empresa pode ser desenvolvida de forma individual, pelo empresário individual, cujo “exerce em nome próprio uma atividade empresarial. É a pessoa física (natural) titular da empresa.” ([s.d.], <http://www.portaldo empreendedor.gov.br/empresario-individual>, grifado no original). Nesse mesmo ponto, “o patrimônio da pessoa natural e o do empresário individual são os mesmos, logo o titular responderá de forma ilimitada pelas dívidas” ([s.d.], <http://www.portaldoempreendedor.gov.br/empresario-individual>). Nesse sentido é que Coelho (2011, p. 21) adverte que as “atividades econômicas de pequeno porte podem ser exploradas por uma pessoa natural, sem maiores dificuldades”, não havendo justificativa para a formação de uma sociedade organizada. Todavia, consoante ensinamento do referido autor (2011, p. 21, grifado no original), na medida: em que se avolumam e ganham complexidade, exigindo maiores investimentos ou diferentes capacitações, as atividades econômicas não 12 mais podem ser desenvolvidas, com eficiência, por um indivíduo apenas. O seu desenvolvimento pressupõe, então, a aglutinação de esforços de diversos agentes, interessados nos lucros que elas prometem propiciar. Essa articulação pode assumir variadas formasjurídicas, dentre as quais a de uma sociedade. Portanto, pode-se dizer que ao se avultarem e ganharem complexidade, as atividades econômicas de determinado negócio organizado, que possui interesse de crescimento, não podem mais ser desenvolvidas de forma satisfatória por um empresário individual, sendo imprescindível, para tanto, a união de duas ou mais pessoas, de acordo com a necessidade de cada caso concreto. Num viés histórico e, de certa forma, conceitual, Tomazette (2014, p. 201) e Requião (2003, p. 355) lecionam que o antigo Código Civil [de 1850] não definiu a sociedade, apenas mais tarde e de forma estritamente genérica com o Código Civil intermediário [de 1916], até o surgimento do Novo Código Civil [de 2002], cujo, então, definiu a sociedade em seu artigo 981. Tomazette(2014, p. 201, grifado no original) ainda leciona que o Código Civil intermediário [de 1916]: trazia um conceito genérico de sociedade, em seu artigo 1.363, pelo qual “celebram contrato de sociedade as pessoas que mutuamente se obrigam a combinar seus esforços ou recursos para lograr fins comuns”. Acresce Requião (2003, p. 355, grifado no original) que, para termos uma noção satisfatória, bastava particularizar tal definição legal, emprestando-lhe conteúdo mercantil, assim: celebram sociedade comercial as pessoas que mutuamente se obrigam a combinar seus esforços ou recursos, para lograr fins comuns de natureza comercial”. O Código Civil evoluiu durante seus 152 anos de existência, pois antes, no de 1850, como já dito, não definia-se a sociedade comercial, havendo a necessidade de acrescer ao conceito conteúdo mercantil, em sentido contrário, do Código Civil atual, que: propõe, no art. 981, a seguinte definição legal: “Celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício da atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados”, esclarecendo o parágrafo único que a atividade pode restringir-se à realização de um ou mais negócios determinados” (REQUIÃO, 2003, p. 356, grifado no original). 13 Pelo que se depreende, o Código Civil de 2002 acrescentou conteúdo mercantil ao conceito de sociedade quando dispôs sobre o “exercício da atividade econômica” como objetivo da combinação de esforços e recursos dos sócios, vez que anteriormente tal combinação possuía, ao menos conceitualmente, objetivo para lograr fins comuns. Nesse ponto, mister tecer algumas considerações acerca da diferenciação referida. Assim, tem-se que as sociedades comerciais eram avaliadas pela prática de atos de comércio, ao passo que as sociedades civis pela total inexistência desses ([s.d.], <http://www.econtal.com.br/2006/11/03/as-diferencas-entre-sociedades- comerciais-e-civis/>). Sendo assim, o novo Código Civil conceitua a sociedade como um grupo de pessoas que se obrigam reciprocamente, em primeiro, a contribuir para o exercício da atividade econômica, seja com bens ou serviços, e, em segundo, a partilhar os resultados, entre si (2002, <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>). Ramos (2014, p. 218, grifado no original), por sua vez, conceitua as sociedades como: pessoas jurídicas de direito privado, decorrentes da união de pessoas, que possuem fins econômicos, ou seja, são constituídas com a finalidade de exploração de uma atividade econômica e repartição de lucros entre seus membros. Afora as demais conceituações, pelo que se percebe, este autor refere que as sociedades são pessoas jurídicas, partilhando do mesmo conceito com os demais autores. Quem ainda conceitua a sociedade empresária é Martins (2005, p. 169) quando refere que: denomina-se sociedade empresária a organização proveniente de acordo de duas ou mais pessoas, que pactuam a reunião de capitais e trabalho para um fim lucrativo. A sociedade pode advir de contrato ou de ato correspondente; uma vez criada, e adquirindo personalidade jurídica, a sociedade se autonomiza, separando-se das pessoas que a constituíram. Portanto, o patrimônio da sociedade não confundir-se-á com o dos sócios, vez que este constitui patrimônio pessoal, passível de responsabilização apenas em casos de desconstituição da personalidade jurídica (MARTINS, 2005). 14 É de observar-se, outrossim, que a Empresa Individual de Responsabilidade Limitada - EIRELI não é sociedade. Nesse ponto, o único tipo societário que funciona com apenas uma pessoa e, mesmo a despeito disso, possui nomenclatura de sociedade é a subsidiária integral. Nas palavras de Rita de Cássia Nader ([s.d.]) a sociedade subsidiária integral: é a sociedade anônima que conta com um único acionista, o qual deve, obrigatoriamente, ser uma sociedade brasileira, constituída de acordo com a legislação pátria. A subsidiária integral poderá ser criada por constituição original, mediante escritura pública, ou por conversão de sociedade já existente, momento em que a instituidora deverá adquirir todas as ações da sociedade existente ou, então, deverá incorporar suas ações. Apesar da Empresa Individual de Responsabilidade Limitada – EIRELI e da sociedade subsidiária integral, Martins (2005, p. 170, grifado no original) leciona que o ordenamento jurídico brasileiro ignorou a classificação individual de uma sociedade, ao exigir, no mínimo, dois sócios, quando refere que: a legislação nacional não consagrou e portanto deixou de abraçar a tipologia empresária individual, na medida em que exige nas sociedades de forma geral a presença de pelo menos dois (2) sócios, possibilitando que na hipótese de retirada, morte ou transformação em firma individual, se obedeça ao prazo de um ano para regularização do contrato societário. Ou seja, não se verá, no ordenamento jurídico brasileiro, de forma legalizada, uma sociedade empresária individual, a não ser, de fato, durante o período de vacância entre a retirada ou morte de um dos sócios até a transformação em firma individual, vez que a legislação brasileira exige a presença de, no mínimo, duas pessoas para formação de uma sociedade, seja empresária ou não (MARTINS, 2005). No caso sob comento, o sócio persistente ou sobrevivente terá o prazo de um ano para regularizar o contrato societário, avençando com um novo sócio (ou mais) ou então transformando a antiga sociedade em uma firma individual (MARTINS, 2005). Percebe-se que o referido autor vai de encontro à legislação pátria, pois esta define o prazo de 180 (cento e oitenta) dias para regularização da pluralidade de sócios, vejamos: CC. Art. 1.033. Dissolve-se a sociedade quando ocorrer: [...] IV – a falta de pluralidade de sócios, não reconstituída no prazo de cento e oitenta dias; 15 Ainda conforme o parágrafo único do citado dispositivo legal, não se aplicará tal regra caso o sócio remanescente requeira a transformação da sociedade para empresário individual ou empresa individual de responsabilidade limitada, perante o Registro Público de Empresas Mercantis. Além da pluralidade de pessoas, ou seja, de sócios, Tomazette (2014, p. 202) adverte que o conceito de sociedade ainda requer outros elementos, sendo completado da seguinte forma: (a) a existência de duas ou mais pessoas; (b) reunião de capital e trabalho (fatores da produção); (c) atividade econômica (em oposição a atividade de mero gozo, ou filantrópicas); (d) fins comuns (inerentes ao exercício da atividade por várias pessoas em conjunto); (e) partilha dos resultados (decorrência do exercício em comum). Portanto, pelo que se depreende, um dos principais elementos, senão o principal, da formalização da sociedade é a conjugaçãode esforços de, no mínimo, duas pessoas. Dessa forma, pode-se conceituar a sociedade como um dos meios pelo qual as atividades econômicas complexas e/ou volumosas são desenvolvidas através da aglutinação de esforços dos agentes interessados [sócios], em prol de fins comerciais comuns. Verificando-se amplamente o conceito de sociedade, é de se frisar que uma das suas principais consequências, refere-se à aquisição da personalidade jurídica distinta da dos seus sócios. Assim, feitas tais considerações acerca do conceito de sociedade, passa-se, por ora, à análise da aquisição da personalidade jurídica, num primeiro momento, e, posteriormente, das consequências de tal aquisição. 2.2 Aquisição de personalidade jurídica e suas consequências Um dos principais efeitos trazidos pela constituição de uma sociedade, vem traduzido pela aquisição da personalidade jurídica da mesma, o que por si só, traz uma série de consequências, consoante será explanado a seguir. Quanto à aquisição da personificação, conforme ensinamento de Mamede (2012, p. 21, grifado no original), tem-se que: 16 no estágio atual do Direito Brasileiro, a pessoa jurídica está vinculada à ideia de coletividade: a universitates personarum, ou seja, coletividade de pessoas, que podem estar organizadas para fins econômicos (sociedades; artigo 981 do Código Civil) ou não (associações; artigo 53 do Código Civil), além da universitates bonorum, isto é, a coletividade de bens (fundações; artigos 62 a 69). Sobre tais coletividades, o Direito deita o véu da personalidade, fazendo que sejam compreendidas como uma pessoa, como unidade subjetiva. Como dito, as pessoas jurídicas hodiernamente dividem-se em: sociedades (com fim econômico) e associações (sem fim econômico); e em fundações, além dos partidos políticos, das organizações religiosas e das empresas individuais de responsabilidade limitada, que não dizem respeito ao presente trabalho (MAMEDE, 2012). Assim, diferentemente das fundações, que são formadas pela coletividade de bens, as sociedades e associações são formadas pela coletividade de pessoas, cujas se distinguem pela finalidade econômica ou não (MAMEDE, 2012). Aos referidos grupos, a legislação brasileira concede personalidade jurídica, quando passam a ser compreendidas como uma pessoa, como uma unidade subjetiva, alheia ao patrimônio e a personalidade jurídica de seus sócios. Ratificando que a principal característica da sociedade é a aquisição da personalidade jurídica, diferentemente da de seus sócios, pois pessoas físicas, Requião (2003, p. 372/373) leciona que a mesma se forma pelo conluio de vontades individuais que lhe propiciam os bens ou serviços, tendo como consequência mais importante disso: o desabrochar de sua personalidade jurídica. A sociedade transforma-se em novo ser, estranho à individualidade das pessoas que participam de sua constituição, dominando um patrimônio próprio, possuidor de órgãos de deliberação e execução que ditam e fazem cumprir sua vontade. Conforme já referido anteriormente, ao adquirir personalidade jurídica a sociedade transforma-se em nova pessoa, alheio aos bens e a individualidade de seus sócios, respondendo perante a sociedade com seus próprios recursos (REQUIÃO, 2003). Ainda quanto às consequências, dando ideia de complementação, Tomazette(2014, p. 233) explana que: a personalidade jurídica é um instrumento, uma técnica jurídica, que visa a alcançar determinados fins práticos. [...] Para alcançar tal finalidade, o 17 direito reconhece às pessoas jurídicas em geral uma série de atributos, fundamentais para consecução da sua finalidade. Por sua vez, Bacco ([s.d.], <http://intertemas.unitoledo.br/revista/index.php/ Juridica/article/viewFile/347/341>) adverte que os efeitos decorrentes da constituição societária não se condicionam à criação da respectiva empresa, isto é: as obrigações assumidas pelos sócios relativamente a terceiros, em decorrência do contrato social, prevalecem, ainda que a empresa não tenha sido constituída ou jamais venha a sê-lo, em consequência do não início das atividades sociais. Ou seja, ainda que não constituída a empresa que exerceria as atividades que deram azo a criação da sociedade, mesmo assim os sócios responderiam pelas obrigações assumidas perante terceiros, haja vista a existência do contrato social (BACCO, [s.d.], p. 02). Seriam, portanto, consequências da aquisição da personalidade jurídica: (1) nome, (2) nacionalidade, (3) domicílio, (4) capacidades contratual e (5) processual, (6) existência distinta e (7) autonomia patrimonial (TOMAZETTE, 2014). Passando-se, por ora, para a análise de cada uma dessas derivações, tem- se que como todo sujeito de direito, portador de personalidade jurídica, que é, esta também, deve denominar-se. Assim, conforme Tomazette (2014, p. 233/234, grifado no original): as pessoas jurídicas possuem um nome próprio, pelo qual se vinculam no universo jurídico, não sendo necessário usar o nome de algum sócio. O nome empresarial é aquele usado pelo empresário, enquanto sujeito exercente de uma atividade empresarial, vale dizer, é o traço identificador do empresário, tanto o individual, quanto o EIRELI, quanto a sociedade empresária. Para todos os efeitos, equipara-se ao nome empresarial a denominação das sociedades simples, das associações e das fundações (art. 1.155, parágrafo único, do Código Civil de 2002). Quanto ao nome é de se frisar que podem adotar as formas de razão social ou firma, o que, nada mais é, do que o “nome empresarial da pessoa jurídica, no exercício de sua atividade empresarial, e, também, simultaneamente, significa a maneira da sociedade empresária se obrigar ou assinar, em um determinado ato” ([s.d.], <http://www.jurisway.org.br/v2/cursoonline.asp?id_curso=843&id_titulo=10644 &pagina=7>). Junto ao nome, as sociedades levam consigo alguns traços que são capazes de identificar a qual tipo societário pertencem. Em outras palavras, no plano fático 18 teremos sociedades anônimas [S.A.], sociedades limitadas [LTDA.], sociedades em nome coletivo e sociedades em comandita simples. Por outro lado, quanto à nacionalidade, Tomazette (2014, p. 234) adverte que “por meio de uma certa analogia, pode ser reconhecida uma nacionalidade para as pessoas jurídicas, como atributo da sua personificação, não sendo reconhecida para as sociedades de fato”. O referido autor (2014, p. 234) ainda leciona, aliás, com muita propriedade, que “brasileira é a sociedade organizada conforme as leis brasileiras e que mantém sua sede no país. Assim, para se configurar uma sociedade como nacional ou estrangeira, de nada vale a qualificação de seus membros”. Ou seja, pode muito bem haver uma sociedade brasileira, com sócios única e exclusivamente estrangeiros, pois o que determina a nacionalidade da sociedade é a legislação que a rege, assim como a localização de sua sede (TOMAZETTE, 2014). Com relação ao domicílio, Tomazette (2014, p. 234) enfatiza que é de suma importância, mormente quanto à órbita tributária e a definição do foro competente para demandas em face da sociedade. Sobre o domicílio, esclarece ainda o referido autor (2014, p. 234, grifado no original) que: é o local do funcionamento dos órgãos da administração ou onde o estatuto fixar (art. 75, IV, do Código Civil de 2002). Possuindo diversos estabelecimentos, cada um será considerado domicílio para os atos nele praticados (eleição tácita de domicílio pela lei). Em se tratando de pessoa jurídica, cujos órgãos da administração sejam situados no exterior, considera-se como domicílio o local de cada estabelecimentoem relação aos atos praticados por cada um. Assim, o domicílio da sociedade poderá ser tanto direcionado para onde o estatuto fixar quanto para onde os órgãos da administração funcionarem. Existe ainda a possibilidade de existir mais de um domicílio, isso quando a sociedade possuir diversos estabelecimentos, considerando-se, assim, domicílio cada um onde os respectivos atos neles forem praticados (TOMAZETTE, 2014). Ademais, quanto à capacidade contratual, também conhecida por autonomia negocial, tem-se, conforme ensinamento de Tomazette (2014, p. 235), que nada mais é do que “sua aptidão para ser parte em contratos de per si, não necessitando de firmar contratos no nome de seus membros, porquanto a sociedade possui capacidade de fato e de direito para firmar seus negócios jurídicos”. 19 Ou seja, ao adquirir personalidade jurídica a sociedade adquire consequentemente autonomia não só negocial, podendo figurar como parte nos contratos, mas também processual, estando apta a figurar como tal em demandas (judiciais ou administrativas). Dessa forma, no que se refere à citada capacidade processual e/ou autonomia processual, Tomazette (2014, p. 235) esclarece que a mesma decorre da possibilidade de a sociedade figurar como parte em negócios jurídicos e, consequentemente, como parte ativa ou passiva perante o Poder Judiciário. Simplificando, Coelho (2011, p. 33) diz “quanto à titularidade processual, a personalização da sociedade empresária importa a definição da sua legitimidade para demandar e ser demandada em juízo”. Assim, a capacidade processual nada mais é do que a possibilidade de a sociedade figurar legitimamente no polo ativo ou passivo de demandas judiciais, por óbvio que sempre representada, no ato, pelo representante legal. A existência distinta, consoante ensinamento de Tomazette (2014, p. 235) “é o reconhecimento da sociedade como um centro autônomo de imputação de direitos e obrigações”. Ainda, segundo o referido autor (2014, p. 235) “os atos praticados pela sociedade são atos dela e não de seus membros, produzindo efeitos na sua órbita jurídica e apenas excepcionalmente afetando os sócios, por problemas de aparência”. Tal regra acarreta a consequência de que quem responderá pelos atos levados a efeito pela sociedade é ela mesma, não havendo se falar em responsabilização dos sócios. Todavia, como toda regra há uma exceção, no presente caso não é diferente, vez que haverá responsabilização dos sócios da respectiva sociedade quando esta sofrer a desconstituição de sua personalidade jurídica, em casos e hipóteses isoladas, como no abuso caracterizado pelo desvio de finalidade ou na confusão patrimonial (TOMAZETTE, 2014). Nesse ponto, importante trazer à tona a redação do artigo 50 do Código Civil, cujo diz que: CC. Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica. 20 Portanto, nesse caso, evidenciada alguma das hipóteses previstas no artigo 50 do Código Civil, quem responderá pelas obrigações, mesmo que contraídas em nome da sociedade, será o patrimônio dos administradores ou sócios, conforme cada caso concreto. Assim, no que tange à autonomia patrimonial, Requião (2003, p. 373) leciona que: seu patrimônio, no terreno obrigacional, assegura sua responsabilidade direta em relação a terceiros. Os bens sociais, como objetos de sua propriedade, constituem a garantia dos credores, como ocorre com os de qualquer pessoa natural. Com efeito, a autonomia patrimonial trata-se de um dos principais elementos e efeitos da personificação, cuja exaure qualquer responsabilidade sobre os bens dos sócios. Mister ressaltar que os bens da sociedade e dos sócios são incomunicáveis, via de regra, respondendo estes por obrigações particulares respectivas de cada sócio e aqueles por obrigações da sociedade em geral. Nesse mesmo sentido, Tomazette (2014, p. 235/236) adverte que: a princípio, é o patrimônio da pessoa jurídica a garantia única dos seus credores e, por conseguinte, os credores, a princípio, não possuem pretensão sobre os bens dos sócios. Do mesmo modo, o patrimônio social é imune às dívidas particulares dos sócios. Acrescenta ainda o mesmo (2014, p. 236) quea autonomia significa que as obrigações [créditos e débitos] da pessoa jurídica não se confundem com as obrigações [créditos e débitos] dos sócios, não havendo se falar em compensação. Ou seja, via de regra [salvo desconstituição da personalidade jurídica], a única garantia que os credores da sociedade possuem é o patrimônio da pessoa jurídica, não havendo se cogitar, outrossim, a ideia de compensação entre obrigações da pessoa jurídica e dos sócios. Feitas tais considerações acerca da aquisição da personalidade jurídica e das suas consequências, inclusive explanando, ainda que sucintamente, sobre cada uma delas, é de se ter em mente que nem todas as sociedades adquirem tal prerrogativa, assim, passa-se, por ora, à análise das sociedades que não possuem personalidade jurídica. 21 2.3 Das sociedades que não possuem personalidade jurídica Assim como referido, passa-se à analise do grupo das sociedades não personificadas, cujo tema revela polêmica. Conforme Ramos (2014, p. 232, grifado no original) “neste, estão asociedade em comum e a sociedade em conta de participação”. Todavia, consoante ensinamento do referido autor (2014, p. 232): se a sociedade é uma categoria de pessoa jurídica, não se pode admitir que uma sociedade não tenha personalidade jurídica. Ou se trata de uma sociedade, consequentemente dotada de personalidade jurídica, ou não se trata de uma sociedade (RAMOS, 2014, p. 232). Como dito, no que se refere à existência de sociedades sem personalidade jurídica, o tema revela-se controverso. Em outras palavras, há autores que defendem que quando estar-se-ia falando em sociedade, como consequência lógica, haveria se falar em aquisição da personalidade jurídica. E, pelo que se depreende do ensinamentoacima citado,oautornão admite a existência da sociedade despersonificada. Em outras palavras, se é considerada sociedade é por que detém personalidade jurídica. Acrescenta Ramos (2014, p. 232-233) que: essas sociedades não personificadas, embora estejam disciplinadas na parte do Código Civil referente às sociedades empresárias, podem eventualmente desenvolver atividades civis, não empresariais. Trata-se, pois, de sociedades cujo objeto social pode ser de natureza civil ou empresarial, ou seja, podem ser sociedades simples ou empresárias. Nesse sentido, dispõe o Enunciado 208 do CJF que “as normas do Código Civil para as sociedades em comum e em conta de participação são aplicáveis independentemente de a atividade dos sócios, ou do sócio ostensivo, ser ou não própria de empresário sujeito a registro (distinção feita pelo art. 982 do Código Civil entre sociedade simples e empresária)”. A fim de normatizar tal situação, sobreveio o Enunciado 208 do Conselho da Justiça Federal que dispôs que seriam aplicáveis as normas do Código Civil, no tocante às sociedades comuns e às em conta de participação, mesmo que a atividade dos sócios seria própria de empresário sujeito a registro. Ou seja, ainda que a sociedade comum e a em conta de participação não possuam personalidade, ser-lhe-ão aplicáveis as normas do Código Civil próprias da sociedadeempresária, portadora de personalidade jurídica (RAMOS, 2014). Nesse sentido é o referido Enunciado 208 do Conselho da Justiça Federal: 22 208 – Arts. 983, 986 e 991: As normas do Código Civil para as sociedade sem comum e em conta de participação são aplicáveis independentemente de a atividade dos sócios, ou do sócio ostensivo, ser ou não própria de empresário sujeito a registro (distinção feita pelo art. 982 do Código Civil entre sociedade simples e empresária) (2014, <http://daleth.cjf.jus.br/revista/enunciados/IIIJornada.pdf>). Ainda na mesma trilha, dispõe o artigo 986 do Código Civil: CC. Art. 986. Enquanto não inscritos os atos constitutivos, reger-se-á a sociedade, exceto por ações em organização, pelo disposto neste Capítulo, observadas, subsidiariamente e no que com ele forem compatíveis, as normas da sociedade simples. Sobre o tema, Coelho (2011, p. 506) adverte que se aplicam as normas referentes às sociedades simples, de forma supletiva, às sociedades empresárias e às em conta de participação. A título de complementação, Coelho (2011, p. 507, grifado no original) destaca algumas das normas gerais aplicáveis aos tipos societários referidos: a) a alteração de qualquer cláusula essencial do contrato social (assim as elencadas no art. 997 do CC) depende de aprovação unânime dos sócios; b) a cessão de quota social depende do consentimento dos demais sócios; c) o sócio designado administrador no contrato social só pode ser destituído por ordem do juiz, havendo justa causa; o designado em ato separado ou o administrador não sócio podem ser destituídos a qualquer tempo por decisão da maioria; d) das sociedades sem prazo, pode-se retirar o sócio a qualquer tempo; das com prazo, apenas se provada em juízo a justa causa; e) falecendo sócio, e não se dissolvendo a sociedade, liquida-se a quota do falecido, a menos que o contrato social contemple cláusula em sentido diverso ou se, por acordo com os herdeiros, os sobreviventes admitirem o ingresso de substituto; f) em caso de falta grave no cumprimento de suas obrigações, o sócio pode ser expulso por decisão do juiz pedido da maioria dos demais; g) o reembolso, na resolução da sociedade em relação a um sócio, é calculado pelo valor patrimonial das quotas. No ensinamento de Mamede (2012, p. 07, grifado no original) “a sociedade sem personalidade jurídica, portanto, é uma sociedade de fato e de direito. A ausência do registro tem por efeito apenas a ausência de atribuição de personalidade, não tornando ilícito o contrato de sociedade, se tem objeto lícito”. Ou seja, as sociedades despersonificadas nada mais são do que sociedades de fato, que ainda não tiveram seus atos constitutivos levados a registro competente. Nesse ponto, conveniente a ressalva de diferenciação entre as sociedades irregulares, todavia, conforme Faria, Oliveira e Cegala, “não há interesse 23 prático em diferenciar as sociedades de fato (sem contrato social) das sociedades irregulares (com contrato não registrado), uma vez que o divisor de águas, entre a existência fática e a jurídica, é o registro”. ([s.d.] <http://www.ambito- juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=11726 >, grifado no original) Segundo os mesmos ([s.d.] <http://www.ambito- juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=11726 >) a irregularidade não interfere na possibilidade de figurarem em relações jurídicas, implicando “apenas na não aplicação do princípio do universitas distata singulis” , ou seja, os sócios devem responder pelas obrigações societárias com seus próprios patrimônios, não havendo, outrossim, invocar eventual benefício de ordem. Como forma de melhor didática, passa-se à análise de cada uma das sociedades não personificadas, a saber: da sociedade em comum e da sociedade em conta de participação. 2.3.1 Da sociedade em comum Disciplinada no Código Civil, em seus artigos 986 a 990, como já dito, a sociedade em comum é despersonificada, sendo assim, traz algumas peculiaridades consigo. Quanto à normatização da mesma, é de se observar que deverão, de forma subsidiária e quando compatíveis, serem observadas as normas aplicáveis à sociedade simples. Ou seja, ainda que sem possuir personalidade jurídica, utilizar- se-á, por vezes, de normas intrínsecas à uma das sociedades personificadas, conforme artigo 986 do Código Civil. Por outro lado, quanto à prova de constituição da sociedade, existem duas situações, onde a primeira diz respeito aos sócios e a segunda diz respeito ao terceiro. Sendo assim, os sócios apenas poderão provar a constituição e existência da sociedade por meio documentalmente escrito. E, por sua vez, o terceiro interessado poderá prová-la através de qualquer forma em direito admitida (2014, <http://pt.wikipedia.org/wiki/Sociedade_em_comum>). Quanto à autonomia patrimonial, Coelho (2011, p. 509-510) leciona que todos os sócios são “responsáveis solidários pelas obrigações sociais”, acrescendo que 24 a exploração de atividade econômica por esse tipo de associação de esforços, portanto, não preserva nenhum dos sócios dos riscos inerentes ao investimento empresarial. Se a empresa não resultar frutífera - eventualidade que nenhum empreendedor ou investidor afasta seriamente -, isso poderá significar a ruína total dos sócios e de sua família, uma vez que os patrimônios daqueles podem ser integralmente comprometidos no pagamento dos credores da sociedade. Ou seja, quando se diz que não há preservação de nenhum dos sócios nesse tipo de sociedade, quando ocorrer a falência da sociedade acarretará, consequentemente, a falência dos sócios, pois estes respondem com seus patrimônios próprios pelas obrigações da associação de esforços (COELHO, 2011). Ainda em relação à autonomia patrimonial, tem-se que tanto os bens quanto as dívidas constituem patrimônio especial, respondendo solidaria e ilimitadamente todos os sócios pelas obrigações sociais e pelos atos de gestão praticados por qualquer dos sócios, pois titulares em comum. É de se ressaltar, que há a possibilidade de limitar os poderes conferidos a cada sócio, através de pacto expresso, como forma indireta de resguardar o patrimônio da sociedade em comum (2014, <http://pt.wikipedia.org/wiki/Sociedade_em_comum>). Vistos alguns dos elementos caracterizadores da sociedade em comum, e, como referido, outra que se caracteriza por não possuir personalidade jurídica é a sociedade conta de participação, a qual será objeto de estudo no próximo item. 2.3.2 Da sociedade em conta de participação Da mesma forma, a sociedade em conta de participação também é sociedade despersonificada, cuja vincula, internamente, dois ou mais sócios. Um deles necessariamente deverá ser empresário ou sociedade empresária, cujo(a) fará vezes de sócio ostensivo, já o outro será o participativo (ou oculto) (2014, <http://pt.wikipedia.org/wiki/Sociedade_em_conta_de_participação>). Coelho (2011, p. 510, grifado no original) leciona que as marcas características “que a afastam da sociedade empresária típica, são a despersonalização (ela não é pessoa jurídica) e a natureza secreta (seu ato constitutivo não precisa ser levado a registro na Junta Comercial)”. Acresce o referido autor (2011) que “também justificam não considerá-la uma sociedade: a conta de participação não tem necessariamente capital social, liquida- se pela medida judicial de prestação de contas e não por ação de dissolução”. 25 Ou seja, Coelho (2011) traz inúmeros sinais característicos que deixam claro ser a sociedade em conta de participação figura despersonificada, o que, por si só, gera algumasparticularidades. Disciplinada no Código Civil, em seus artigos 991 a 996, traz, como dito, alguns traços: a responsabilização patrimonial apenas do sócio ostensivo e a prova constitutiva através de qualquer meio admitido em direito. Quanto à responsabilidade, tem-se que esta será única e exclusiva do sócio ostensivo, inclusive perante terceiros, cujo exercerá a atividade constitutiva do objeto social de forma solitária, em seu nome individual. Os sócios participantes (ou ocultos) apenas participaram dos resultados correspondentes (2014, <http://pt.wikipedia.org/wiki/Sociedade_em_conta_de_participação>). Diferentemente da sociedade em comum, esta poderá ser constituída sem qualquer formalidade, podendo, inclusive, ser provada sua constituição através de qualquer meio de prova admitida em direito (2014, <http://pt.wikipedia.org/wiki/Sociedade_em_conta_de_participação>). Importante referir que o contrato social produz efeitos única e tão somente entre os sócios, podendo os sócios participantes exercerem seus direitos de fiscalização. Todavia, tal prerrogativa não permite que os participativos tomem parte nas relações do sócio ostensivo com terceiros, sob pena de ser responsabilizado solidariamente pelas obrigações em que intervier (2014, <http://pt.wikipedia.org/wiki/Sociedade_em _conta_de_participação>). Como a contribuição do sócio participativo constitui patrimônio especial, juntamente com a do sócio ostensivo, quando este vier supostamente a falir, haverá inevitavelmente a dissolução da sociedade e a liquidação da respectiva conta, cujo saldo constituirá crédito quirografário, em favor do sócio participativo (2014, <http://pt.wikipedia.org/wiki/Sociedade_em_conta_de_participação>). Outra peculiaridade importante diz respeito a admissão de novos sócios a pedido do sócio ostensivo, cujos somente serão admitidos, após consentimento expresso dos demais sócios (2014, <http://pt.wikipedia.org/wiki/Sociedade_em_ conta_de_participação>). Por fim, da mesma forma como ocorre nas sociedades em comum, quanto à normatização da mesma, é de se observar que deverão, de forma subsidiária e quando compatíveis, serem observadas as normas aplicáveis à sociedade simples. Ou seja, ainda que sem possuir personalidade jurídica, utilizar-se-á, por vezes, de 26 normas intrínsecas à uma das sociedades personificadas (2014, <http://pt.wikipedia.org/wiki/Sociedade_em_conta_de_participação>). Feitas tais distinções, acerca das sociedades desprovidas de personalidade jurídica, passa-se à classificação das sociedades e dos tipos societários. Num primeiro momento, explanar-se-á sobre a classificação das sociedades quanto ao regime de constituição e dissolução, posteriormente, quanto às condições de alienação societária e, por fim, quanto ao tipo de responsabilidade, concluindo-se com uma análise sobre os vários tipos societários. 27 3 CLASSIFICAÇÃO DAS SOCIEDADES E TIPOS SOCIETÁRIOS Far-se-á, neste segundo capítulo, uma análise sobre a classificação das sociedades e dos tipos societários. Num primeiro momento, explanar-se-á sobre a classificação das sociedades quanto ao regime de constituição e dissolução, posteriormente, quanto às condições de alienação societária e, por fim, quanto ao tipo de responsabilidade, concluindo-se com uma análise sobre os vários tipos societários. Pois bem, passa-se, por ora, à questão da classificação das sociedades. 3.1 Classificação das sociedades As sociedades podem ser classificadas, quanto ao regime de constituição e dissolução, como estatutárias ou institucionais e contratuais, cuja maior diferença está no instrumento pelo qual são formadas. Naquelas [estatutárias/institucionais] será o estatuto social quem delimitará as regras gerais a serem seguidas, já nessas [contratuais] será o contrato social que fará este papel. Outrossim, quanto às condições de alienação societária, as sociedade subdividem-se em sociedades de pessoas e de capital. Por fim, com relação ao tipo de responsabilidade, ter-se-á a subsidiária e solidária, conforme se verá a seguir. 3.1.1 Classificação quanto ao regime de constituição e dissolução As sociedades classificam-se em estatutárias/institucionais e em contratuais, no que se refere ao regime de constituição e dissolução, que, por sua vez, subdividem-se em sociedade anônima e sociedade em comandita por ações (estatutárias/institucionais) e sociedade em nome coletivo, sociedade em comandita simples, sociedade limitada e sociedade simples (contratuais). Nesse sentido, mister colacionar quadro sinótico elaborado por Mamede (2012, p. 39): 28 Fundações (coletividade de bens) Associações Estatuto social - Sociedades anônimas Sociedades Sociedades por ações - Sociedades em comandita Ato Constitutivo Sociedades cooperativas Sociedade simples comum Sociedade em nome coletivo Contrato social só sociedades Sociedade em comandita simples Sociedade limitada * Fonte: MAMEDE, Gladston. Direito Societário: sociedades simples e empresárias. São Paulo: Atlas, 2012, p. 39. De forma simples, como forma de diferenciação entre as duas classificações societárias, tem-se que a sociedade estatutária (ou institucional) é constituída e regulamentada pelo estatuto social, já a sociedade contratual é constituída e regulamentada pelo contrato social (2014, <http://pt.wikipedia.org/wiki/Sociedade_ empresária>). Outrossim, quanto à dissolução de cada uma, tem-se que na estatutária [ou institucional] pode se dar através da vontade da maioria societária, sem maiores embaraços. Todavia, na contratual, para dissolução não basta a mera vontade dos sócios, podendo os mesmos, ainda que minoritários, manterem a sociedade, mesmo que contra a vontade da maioria. Neste caso seria necessário um procedimento de exclusão/expulsão dos sócios desistentes (2014, <http://pt.wikipedia.org/wiki/Sociedade_empresária>). Com efeito, passa-se, por ora, à explanação sobre cada uma delas, iniciando- se pelas estatutárias/institucionais e, posteriormente, passando pelas contratuais. Cumpre de plano trazer as características que estão presentes nas sociedades estatutárias/institucionais. E, como já dito anteriormente, as sociedades estatutárias são constituídas e regulamentadas por norma própria: o estatuto social. Todavia, como em qualquer caso, há uma legislação infraconstitucional que lhes ditam as regras a serem seguidas, e essa é a Lei n° 6.404/76, Lei das Sociedades por Ações (2014, <http://pt.wikipedia.org/wiki/Sociedade_empresária>). Consoante importante ensinamento de Mamede (2012, p. 254) “a disciplina jurídica da sociedade por ações [...] deverá ser disciplinada no estatuto social, 29 aprovado quando da assembleia de fundação da sociedade e levado a registro, dando surgimento à respectiva pessoa jurídica”. Por sua vez, Martins (2005, p. 179) leciona que são chamadas de sociedades institucionais ou normativas e não-contratuais, vez que nenhum contrato liga os sócios entre si. O §1° do artigo 2° da Lei n° 6.404/76 diz que o estatuto social definirá o objeto social de modo preciso e completo, que poderá ser qualquer empresa de fim lucrativo, não contrário à lei, à ordem pública e aos bons costumes (caput do artigo 2°). Nesse ponto, consoante Martins (2005, p. 179) a única exceção á regra é que a companhia (comandita por ações) poderá ter por objeto social a participação deoutras sociedades, ainda que não permitida, essa participação, no estatuto, a fim de realizar o objeto social ou para aproveitar-se a sociedade de incentivos fiscais. O artigo 1° da referida Lei dispõe que “a companhia ou sociedade anônima terá o capital dividido em ações, e a responsabilidade dos sócios ou acionistas será limitada ao preço de emissão das ações subscritas ou adquiridas”. Isto é, nas sociedades por ações (institucionais) o capital social é integralizado única e exclusivamente por ações, sendo que será, a responsabilidade dos sócios ou acionistas, limitada ao preço de emissão das ações respectivamente integralizadas. Conforme o artigo 5° da referida lei, o estatuto é que fixará o valor do capital social, expressando tal montante em moeda nacional. O estatuto fixará também o número de ações em que se dividirá o capital social, estabelecendo se as ações terão valor nominal ou não, conforme artigo 11. O estatuto social determinará, ainda, a forma das ações e a eventual possibilidade de conversibilidade de uma em outra forma, consoante artigo 22 da Lei n° 6.404/76. Importante ressaltar, quanto à conversibilidade das ações, que as “ordinárias da companhia aberta e ao menos uma das classes de ações ordinárias da companhia fechada, quando tiverem forma ao portador, serão obrigatoriamente conversíveis, à vontade do acionista, em nominativas ou endossáveis”, conforme parágrafo único do art. 22 da referida lei (2014, <http://pt.wikipedia.org/wiki/Sociedade_empresária>). Com efeito, conforme o artigo 80 da Lei em comento, “a constituição da companhia depende do cumprimento dos seguintes requisitos preliminares”: 30 I – Subscrição, pelo menos por duas pessoas, de todas as ações em que se divide o capital social fixado no estatuto; II – Realização, como entrada, de 10% (dez por cento), no mínimo, do preço de emissão das ações subscritas em dinheiro; III – depósito, no Banco do Brasil S.A., ou em outro estabelecimento bancário autorizado pela Comissão de Valores Mobiliários, da parte do capital realizado em dinheiro. I.e., verificado o valor que fora fixado no estatuto como o total do capital social, deverão subscrever, ao menos dois sócios, todas as ações em que se dividem o referido capital. Ademais, deverão ser subscritas, em moeda corrente, ao menos 10% (dez por cento) das ações, como forma de entrada. E, finalmente, deverá ser depositada a parte do capital subscrito em moeda corrente no Banco do Brasil S.A., ou qualquer outro estabelecimento bancário autorizado pela Comissão de Valores Mobiliários. Dito isso, passa-se à analise das sociedades contratuais e, de plano, cumpre trazer as características que estão presentes nestas sociedades. Assim, conforme Mamede (2012, p. 39-40) “as sociedades contratuais (sociedades por quotas) são instituídas por meio do registro de um contrato social que deve atender cláusulas mínimas (artigo 997 do Código Civil)”. No que diz respeito ao contrato social, Mamede (2012, p. 41) leciona que é um negócio plurilateral, assim como que ao celebrá-lo, “duas ou mais pessoas, naturais ou jurídicas, ajustam entre si a constituição de uma sociedade simples ou empresária”. Acresce que do referido instrumento devem constar cláusulas obrigatórias (artigos 997, 1.040, 1.046, 1.053, 1.089 e 1.096 do Código Civil). O referido autor (2012, p. 40) continua lecionando que, nestas sociedades, o capital é dividido em quotas, as chamadas quotas/cotas sociais, podendo apresentar tanto natureza simples quanto empresária, assim: em ambos os casos, a ideia de contrato é marcante: a sociedade é negociada e contratada pelos sócios, que são nomeados e qualificados no instrumento de constituição, no qual assumem obrigações mútuas. Quanto ao registro, tem-se que o contrato deverá ser formalizado pela forma escrita, sendo o mesmo assinado por todos os sócios e levado a Registro Público (instrumento público ou particular). Só assim, após seu arquivamento é que 31 produzirá efeitos em relação a terceiros, vez que dá conhecimento ao público dessa forma (MAMEDE, 2012, p. 54-55). Com relação aos requisitos do contrato social tem-se que o mesmo deve observar duas ordens, os primeiros vêm estampados no artigo 104 do Código Civil, chamados de genéricos ou de validade, o segundo vêm nos princípios da affectio societatis, da pluralidade de sócios [artigo 1.033 do Código Civil], da contribuição dos sócios para formação do capital social [artigo 981 do Código Civil], da participação nos resultados e do consentimento, chamados de específicos ou de existência, conforme ensinamento de Biermann (2012, <http://dirempresa.blogspot.com.br/2012/10/constituicao-das-sociedades-contratuais. html>). Feita tal distinção entre as sociedades estatutárias/institucionais e contratuais, no que se refere ao regime de constituição e dissolução, importante trazer diferenciações entre as sociedades de pessoas e de capital, ou seja, quanto às condições de alienação societária, conforme segue: 3.1.2 Classificação quanto às condições de alienação societária A princípio, importante trazer à tona a diferenciação entre a sociedade de pessoas e a sociedade de capital. E, nesse ponto, Mamede (2012, p. 40, grifado no original) leciona que: a constituição de uma sociedade pode ter como principal referência o mútuo reconhecimento entre seus sócios. São sócios porque se identificam e se aceitam reciprocamente. São sociedades intuitu personae, isto é, sociedades contratadas em função das pessoas. Em oposição, há sociedades nas quais a identidade do sócio não tem relevância; importa o aporte de capital; justamente por isso, a transferência da participação é livre. São sociedades intuitupecuniae, ou seja, sociedades focadas no aporte do capital e não na pessoa dos sócios. Portanto, a principal diferenciação entre as referidas sociedades é que na sociedade intuitu personae, importam as pessoas, e na sociedade intuitupecuniae, importa tão somente o patrimônio. Razão pela qual há imensa discussão acerca da possibilidade de entrada de pessoas estranhas ao corpo societário, pois, a sociedade limitada faz parte das sociedades de pessoas, sendo, portanto, 32 imprescindível o mútuo reconhecimento e aceitação entre os sócios (MAMEDE, 2012, p. 40). Por sua vez, Tomazette (2014, p. 293), aliás, com muita propriedade, leciona que “o que caracteriza uma sociedade como de pessoas ou de capitais é o papel exercido pela pessoa do sócio na vida da sociedade, é a influência das suas qualidades pessoais na constituição e no funcionamento da sociedade”. Continua o referido autor (2014, p. 294), num viés diferenciador: se a figura, a influência, a responsabilidade e a atuação dos sócios constitui fator preponderante na vida empresarial da sociedade, estamos diante de uma sociedade de pessoas. [...] Todavia, se o que possui papel preponderante é tão somente a contribuição dos sócios, trata-se de uma sociedade de capitais. Veja-se que na sociedade de pessoas a contribuição dos respectivos sócios não é levada tão a sério, ao menos não é o que determinará sua entrada na mesma, o mesmo ocorre na sociedade de capitais, onde as qualidades morais, técnicas ou intelectuais dos sócios são desconsideradas (TOMAZETTE, 2014, p. 294). Nas palavras de Ramos (2014, p. 230, grifado no original) em algumas sociedades, a figura pessoal do sócio tem uma importância muito grande – a affectiosocietatis, ou seja, o “vínculo psicológico” que une os sócios é muito intenso – exercendo papel de relevo no próprio sucesso do empreendimento. Nessas sociedades, portanto, a entrada de uma pessoa estranha ao quadrosocial pode afetar seriamente o destino da empresa. Já em outras sociedades, em contrapartida, a figura pessoal dos sócios não tem importância quase nenhuma, importando, na verdade, apenas a contribuição que o sócio dá ao capital social. Daí se extrai a preocupação dos doutrinadores e dos julgadores acerca da penhora das cotas sociais na sociedade limitada, que é sociedade de pessoas por excelência, cuja questão será objeto de análise posteriormente. Ao conceituar a sociedade de pessoas, Coelho (2011, p. 43, grifado no original) diz que “são aquelas em que a realização do objeto social depende mais dos atributos individuais dos sócios que da contribuição material que eles dão”. Da mesma forma, todavia quanto à sociedade de capital, Coelho (2011, p. 43, grifado no original) conceitua-a como “as sociedades em que essa contribuição material é mais importante que as características subjetivas dos sócios”. 33 Nas palavras de Tomazette (2014, p. 295, grifado no original), devido a importância da pessoa do sócio, é vedado o livre ingresso de pessoas estranhas ao corpo societário, “vale dizer, o sócio não pode sem o consentimento dos demais alienar sua participação (arts. 1.002 e 1.003 do Código Civil de 2002)”. Ainda segundo ensinamento do mesmo (2014, p. 295, grifado no original): nas sociedades de pessoas, o bom relacionamento entre os sócios é fundamental, aflorando a affectio societatis como elemento preponderante para o bom desempenho da sociedade. Em função disso, em tais sociedades admite-se a exclusão do sócio que rompe a affectio societatis, o que não ocorre nas sociedades de capitais, porquanto nestas é indiferente a intenção do sócio, importando apenas a sua contribuição. Vê-se que, nas sociedades de capital, pouco importa a índole do sócio, mas sim e tão somente sua contribuição material para o capital social da sociedade, razão pela qual indiferente a questão da entrada de pessoa estranha ao corpo societário. Por fim, a bem da didática, Mamede (2012, p. 40-41, grifado no original) leciona algumas características da sociedade de pessoas: o sócio não pode ser substituído no exercício das suas funções sem o consentimento dos demais sócios (artigo 1.002), bem como limitando a cessão total ou parcial da quota à modificação do contrato social, o demanda aprovação unanime dos sócios (artigos 997, 999 e 1.003). Essa limitação terá efeitos sobre a penhora de quotas (artigo 1.026) e mesmo sobre a sucessão causa mortis. Assim, na sociedade de pessoas, o sócio não poderá ser substituído sem o prévio consentimento dos demais sócios, bem como, que a cessão da cota social é limitada a aprovação unânime dos demais sócios, o que revela maior segurança e controle pela sociedade de seus interesses. Dito isso, passa-se à breve análise acerca da classificação no que se refere ao tipo de responsabilidade, seja ele solidário ou subsidiário. 3.1.3 Classificação quanto ao tipo de responsabilidade Desde já Tomazette (2014, p. 289) leciona que existem três tipos de classificação pela responsabilidade dos sócios, a saber: as sociedades ilimitadas, as sociedades limitadas e as sociedades mistas. 34 Conforme o mesmo (2014, p. 289) são sociedades de responsabilidade ilimitadas aquelas nas quais todos os sócios respondem subsidiária e ilimitadamente pelas obrigações da sociedade, vale dizer, se o patrimônio social não for suficiente, o patrimônio de todos os sócios responde pelas obrigações da sociedade. Assim, nestas independe o valor utilizado para integralizar o capital social pelo sócio, pois, responderá o mesmo subsidiária e ilimitadamente sobre todas as obrigações da sociedade, quando esta não vier a suportar. Diferentemente da sociedade de responsabilidade limitada, que, nas palavras do referido autor (2014, p. 289) são [...] aquelas nas quais todos os sócios têm responsabilidade limitada, vale dizer, obrigam-se apenas até determinado montante, que pode ser o valor de sua contribuição ou o valor do capital social. Portanto, nestas a responsabilidade dos sócios esta limitada ao valor do capital social ou do valor de sua contribuição integralizada. Por fim, ainda segundo Tomazette (2014, p. 289), nas sociedades mistas “alguns dos sócios possuem responsabilidade limitada e outros possuem responsabilidade ilimitada, há dois tipos de sócio com responsabilidade distinta”. Trazidas tais peculiaridades e particularidades acerca das classificações quanto ao regime de constituição e dissolução, quanto às condições de alienação societária e quanto ao tipo de responsabilidade, passa-se por ora à análise dos tipos societários. 3.2 Tipos societários Como dito, passar-se-á, agora, ao exame dos tipos societários que, até o presente momento, ainda não foram abarcados, quais sejam, a sociedade em nome coletivo, a sociedade em comandita simples, a sociedade simples comum, a sociedade anônima e a sociedade em comandita por ações. Inicia-se pelo ensinamento de Ramos (2014, p. 220, grifado no original), num viés totalmente explicativo e didático, veja-se: uma sociedade empresária pode organizar-se das seguintes formas: a) sociedade em nome coletivo (arts. 1.039 a 1.044); b) sociedade em comandita simples (arts. 1.045 a 1.051); c) sociedade limitada (arts. 1.052 a 35 1.087); d) sociedade anônima (arts. 1.088 a 1.089 c/c a Lei 6.404/1976); e) sociedade em comandita por ações (arts. 1.090 a 1.092). Portanto, a sociedade em nome coletivo, a em comandita simples, a limitada, a anônima e a em comandita por ações, disciplinadas entre os artigos 1.039 a 1.092 do Código Civil, são todas sociedades empresárias, cujas detêm responsabilidade de cunho mercantil. Ainda segundo Ramos (2014, p. 221, grifado no original), todavia quanto às sociedades simples, tem-se que: pode organizar-se das seguintes formas: a) sociedade simples pura ou simples simples(arts. 997 a 1.038); b) sociedade em nome coletivo (arts. 1.039 a 1.044); c) sociedade em comandita simples (arts. 1.045 a 1.051); d) sociedade limitada (arts. 1.052 a 1.087). Continua o mesmo (2014, p. 221, grifado no original) destacando que “a sociedade cooperativa, [...] é considerada sempre uma sociedade simples, independentemente do seu objeto social (art. 982, parágrafo único, do Código Civil)”. Como forma de simplificar a questão da sociedade simples, tem-se, conforme o art. 982 do Código Civil, que o conceito desta é o totalmente oposto ao da sociedade empresária, portanto: CC. Art. 982. Salvo as exceções expressas, considera-se empresária a sociedade que tem por objeto o exercício de atividade própria de empresário sujeito a registro (art. 967); e, simples, as demais. Assim, sociedade simples é toda aquela que não tem por objeto o exercício de atividade empresária, diga-se, atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços. Ainda com relação à conceituação da sociedade simples, para Mamede (2012, p. 05, grifado no original) sua “nota distintiva [...] seria a inexistência de uma organização de bens materiais e imateriais (intelectuais), bem como de recursos humanos, voltada para a produção sistemática de riqueza”. Para melhor entendimento, passar-se-á à explanação de todos os tipos societários, todavia, de forma não muito aprofundada, vez que tal aprofundamento será visado quando do item relativo à sociedade limitada, cuja é objeto deste trabalho, conjuntamente com a hipótese de (im)penhorabilidade de suas cotas sociais. 36 Inicia-se, portanto, pela sociedade em nome coletivo, cuja “é formada por duas ou mais pessoas, que respondemsolidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais” (MARTINS, 2005, p. 227). Mamede (2012, p. 194, grifado no original) leciona que: só as pessoas físicas podem ser sócias de uma sociedade em nome coletivo (artigo 1.039) e o nome societário será obrigatoriamente uma firma social (artigo 1.041), isto é, uma razão social, composta pelo nome civil de um, algum ou todos os sócios, no todo ou em parte. Ou seja, pelo regramento civilista, não haverá sociedade em nome coletivo formada por qualquer pessoa jurídica, o que, por si só, já a diferencia das demais [sociedade simples comum, p.ex.]. A título de curiosidade, a sociedade de advogados encaixa-se nesse conceito, de sociedade simples em nome coletivo, por força dos artigos 15 e 17 da Lei n° 8.906/94. Entretanto, possui regra diferente quanto ao registro, cujo se dará especificamente a cargo da Ordem dos Advogados do Brasil (MAMEDE, 2012, p. 195). A responsabilidade solidária e ilimitada de todos os sócios quanto às obrigações sociais é uma das características marcantes na sociedade em nome coletivo (MARTINS, 2005, p. 230). Continua o referido autor, ainda quanto às características encontradas nessa espécie de sociedade: trata-se de uma sociedade de pessoas ou contratual, na qual se considera a pessoa do sócio pela responsabilidade assumida. Visível a necessidade de capacidade do sócio para contratar, nos termos da lei civil. A morte ou a incapacidade dos sócio poderá ensejar sua dissolução, ou levar à modificação. A entrada de qualquer sócio exige o consentimento de todos, eis que a sociedade tem origem num acordo de vontades. Portanto, no caso de morte ou incapacidade de um dos sócios, haverá a indiscutível necessidade de modificação, ou então, num caso mais estrito, a de dissolução da mesma. Havendo prazo para regularização, como já explanado. Quanto à constituição da sociedade em nome coletivo tem-se que “são constituídas por meio de acordo de vontades, mediante escrito particular ou público” (MARTINS, 2005, p. 230). E, no que diz respeito ao objeto da sociedade, este poderá ser de livre escolha, todavia “lícito, exequível e não contrario à moral e aos bons costumes” (MARTINS, 2005, p. 230). 37 Em segundo plano tem-se a sociedade em comandita simples cuja caracteriza-se como “a entidade constituída por sócios que têm responsabilidade ilimitada e solidária e aqueles que limitam essa responsabilidade à importância com que entram para o capital” (MARTINS, 2005, p. 235). Num viés explicativo, Mamede (2012, p. 200, grifado no original) leciona que “comanditar é fornecer fundos para uma atividade negocial, simples ou empresária, que será gerida por terceiros”. Segundo Martins (2005, p. 238), quanto a natureza jurídica da sociedade em comandita simples, a mesma revela natureza contratual ou de pessoas, haja vista formar-se em razão das pessoas dos sócios através da responsabilidade ilimitada que alguns assumem. Reflexo disso é que “apresenta natureza mista, eis que nela coexistem sócios de responsabilidade limitada, aqueles que respondem conforme o capital e outros de característica ilimitada”. Para Tomazzete (2014, p. 345) “o traço característico da sociedade em comandita simples é a existência de dois tipos de sócios, o comanditado e o comanditário, com papeis bem diferentes para a vida em sociedade”. Os comanditados se comprometem subsidiária, solidária e ilimitadamente pelas obrigações da sociedade, enquanto que os comanditários possuem responsabilidade limitada pelas obrigações sociais assumidas (TOMAZZETE, 2014, p. 345-346). Como as sociedades em nome coletivo, estas também são constituídas por meio de contrato, havendo, portanto, intrínseca necessidade de pessoas juridicamente capazes para se obrigarem perante ele (MARTINS, 2005, p. 238). Segundo Requião (2003, p. 418), ainda no que diz respeito a constituição da figura, “a firma ou razão social é constituída pelo nome dos sócios comanditados ou de um deles, seguindo a expressão “& Companhia” ou, abreviadamente, “& Cia.”. É vedado ao sócio comanditário dar o nome à razão social”. Prosseguindo-se, tem-se como outra espécie de sociedade a simples comum. Esta é, nas palavras de Martins (2005, p. 245) aquela: constituída por duas ou mais pessoas, mediante escrito particular, ou público, de finalidade não-empresarial, caracteristicamente de pessoas, podendo destinar-se à determinada atividade profissional, ou ser supletivamente adotada por outro modelo societário 38 Portanto, a sociedade simples comum é formada comumente por pessoas, cuja destina-se à prática de determinada atividade profissional, como do meio rural, artesanal, ou ainda do meio da medicina, engenharia, direito, etc. Ainda conforme Martins (2005, p. 245) a personalidade jurídica desta sociedade brota com o respectivo registro junto ao Registro Civil das Pessoas Jurídicas. Uma de suas características peculiares, nas palavras de Martins (2005, p. 246) está no fato de que possui finalidade não-empresária, mas sim estritamente prestadora de serviços. Conforme importante ensinamento do referido autor: a sociedade simples abarca a finalidade do serviço como pano de fundo e a concretização dita a participação de cada sócio nos lucros e perdas, podendo estabelecer a quota de contribuição individual para o capital social. Por fim, a dissolução poderá ocorrer pelo vencimento do prazo entabulado no instrumento social, mediante liquidação. Outrossim, mister ressaltar que não se lhe aplica o regime falimentar (MARTINS, 2005, p. 249). Passar-se-á à análise das sociedades por ações, assim, inicia-se pela sociedade anônima, cuja é, nas palavras de Martins (2005, p. 279) a sociedade na qual o capital é dividido em ações, limitando-se a responsabilidade do sócio ao preço de emissão das ações subscritas ou adquiridas. Quem também define a sociedade anônima é Coelho (2011, p. 85, grifado no original): “é a sociedade empresária com capital social dividido em ações, espécie de valor mobiliário, na qual os sócios, chamados acionistas, respondem pelas obrigações sociais até o limite do preço de emissão das ações que possuem”. Possuem modo de constituição próprio e o funcionamento está condicionado às normas estabelecidas na lei ou no estatuto, conforme Martins (2005, p. 279). Ainda conforme o referido autor (2005, p. 283, grifado no original), todavia no que diz respeito às características por ela apresentas, tem-se que estão presentes: a) a divisão do capital social em partes, em regra, de igual valor nominal. Essas partes do capital são denominadas ações; b) responsabilidade dos sócios limitada apenas ao preço de emissão das ações subscritas ou adquiridas, não respondendo assim, os mesmos, perante terceiros, pelas obrigações assumidas pela sociedade; 39 c) livre cessibilidade das ações por parte dos sócios, não afetando à estrutura da sociedade a entrada ou retirada de qualquer sócio; d) possibilidade da subscrição do capital social mediante apelo ao público; e) uso de uma denominação ou nome fantasia para nome comercial, devendo, contudo, a essa denominação serem sempre acrescidas as palavras sociedade anônima, por extenso ou abreviadamente. A palavra companhia, antecedendo a denominação social é sinônima da locução sociedade anônima, sendo essa, assim, dispensável, quando aquela for empregada; f) possibilidade de pertencerem a sociedade menores e incapazes, sem que esse fato acarrete nulidade para a mesma. Ademais, quanto ao objeto social tem-se que a sociedade em comento pode possuir qualquer objeto, contudo, deverá possuir finalidade lucrativa, não ser contrário à lei,
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