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0 UNIVERISADE CEUMA CURSO DE DIREITO ALDAYANE RODRIGUES DE CASTRO DOS SANTOS A HISTÓRIA DAS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS São Luís 2015 1 ALDAYANE RODRIGUES DE CASTRO DOS SANTOS A HISTÓRIA DAS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS Trabalho apresentado à disciplina Direito Constitucional I, do 3º Período, do Curso de Direito, da Universidade Ceuma, como requisito parcial para obtenção da segunda nota. Professor: Wemerson Pinheiro Barbosa São Luís 2015 2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................... Erro! Indicador não definido. 2 CONSTITUIÇÃO ............................................................ Erro! Indicador não definido. 3 CONSTITUIÇÃO DO IMPÉRIO - 1824 ........................ Erro! Indicador não definido. 4 CONSTITUIÇÃO REPUBLICANA - 1891 .................... Erro! Indicador não definido. 5 CONSTITUIÇÃO DE 1934 ............................................. Erro! Indicador não definido. 6 CONSTITUIÇÃO DE 1937 ............................................. Erro! Indicador não definido. 7 CONSTITUIÇÃO DE 1946 ............................................. Erro! Indicador não definido. 9 CONSTITUIÇÃO MILITAR - 1967 ............................... Erro! Indicador não definido. 10 CONSTITUIÇÃO DE 1969 ............................................. Erro! Indicador não definido. 11 CONSTITUIÇÃO CIDADÃ - 1988 ................................. Erro! Indicador não definido. 12 CONCLUSÃO .................................................................. Erro! Indicador não definido. __ REFERÊNCIAS ................................................................. Erro! Indicador não definido. 3 1 INTRODUÇÃO A Constituição é o mais importante instrumento do Direito para preservação da ordem e conservação da hierarquia entre as normas de um ordenamento jurídico. A possibilidade de haver um texto legal com essas características surge após as revoluções liberais dos séculos XVIII que ocorreram nas grandes metrópoles da época. A França disseminou pelo mundo que o Estado deveria garantir a todos a liberdade, igualdade e a fraternidade, o pensamento foi adotado por grupos revolucionários de todo mundo, que começaram a abandonar aos poucos os modelos políticos que ainda regiam seus países, a adotar uma postura voltada para o fortalecimento das constituições e minimizar o poder dos governantes. No Brasil, essas experiências chegaram a imensa colônia portuguesa, que meio às avessas, por não haver um movimento popular intenso, ainda assim o país tornou-se independente e outorgou sua primeira Carta Política e, depois dessas, outras a sucederam. Diante do exposto, o presente estudo tem como objetivo principal abordar as Constituições que fizeram parte do ordenamento jurídico brasileiro, desde o império aos dias atuais, relacionando-as aos respectivos momentos históricos. Ademais, apresentar-se-á a forma, sistema e regime de governo, predominante em cada época, bem como a classificação de cada Carta Magna brasileira. A partir dessa ótica vislumbrar-se-á a eficácia da norma de acordo com cada sociedade, a relação entre as leis no espaço-tempo, além de permitir a construção de um conhecimento acerca das formas e origens das Constituições. Para melhor entendimento do trabalho, o estudo inicia-se a partir do conceito de constituição e suas classificações. Cada Carta Política mereceu um capítulo próprio. Tivemos ao todo oito Constituições, uma no Império (1824) e seis na República (1891, 1934, 1937, 1946, 1967 e 1988). A essa lista será acrescentada a Emenda Constitucional de 1969, tendo em vista as várias alterações da Carta de 1967, sendo por isso aqui tratada como uma Constituição própria. Por fim, fazem-se as derradeiras considerações do trabalho e apresentam-se os autores que foram utilizados como base, para que este trabalho pudesse ser desenvolvido. 4 2 A CONSTITUIÇÃO E SUAS CLASSIFICAÇÕES O cerne do direito constitucional é o seu objeto, a Constituição é um elemento vivo segundo defende Bulos (2012), e esse organismo representa a concentração do poder que antes estava contido nas mãos do déspota, mas hoje a humanidade imita a premissa grega dizendo que o governo deixa de ser dos homens e passa ser das leis. Essa vertente só passa a ser possível depois das Revoluções Liberais do Século XVIII, que dissemina a ideia de limitação do poder do governante, a garantia de direito universais e a criação de um Estado Liberal. Os movimentos ganharam força e influenciaram boa parte do mundo, o constitucionalismo deu aos movimentos fundamento lógico para a ruptura com o modelo imposto. Um reflexo positivo foi o surgimento da primeira Constituição escrita e solene nos Estados Unidos. Ao falar em Constituição, uma tarefa difícil para aqueles que se debruçam ao seu estudo é, sem dúvida, conceituá-la. Do ponto de vista material Bonavides (2004, p.80-81) define a Constituição como sendo “o conjunto de normas pertinentes a organização do poder, a distribuição da competência, ao exercício da autoridade, a forma de governo, aos direitos da pessoa humana, tanto individuais como sociais”. O conceito está puramente relacionado ao seu conteúdo, sendo ele: as normas orgânicas, as normas limitadoras, os elementos sócio-idelógicos, as normas de estabilização constitucional e as normas formais de aplicabilidade. Cabe ainda trazer para a discussão o conceito político defendido pelo Ministro Luís Roberto Barroso (2009, p.74, apud COELHO, NETO, 2013, p.61) como “o conjunto de decisões do poder constituinte ao criar ou reconstruir o Estado, instituindo os órgãos de poder e disciplinando as relações que manterão entre si e com a sociedade”. O nobre Ministro esclarece bem como se dá as relações de poder dentro do estado. Vistas as acepções acerca do conceito, parte-se para entender como a doutrina se ocupa ainda de dividir a constituição seguindo vários critérios, seguindo esse entendimento a Constituição pode ser dividida segundo: a forma, a extensão, o conteúdo, modo de alteração, alterabilidade, a sistemática, a dogmática, a correspondência com a realidade, o sistema, a função e a origem de sua decretação. Tais critérios classificatórios permitem o estudo aprofundado do texto normativo. 5 3 CONSTITUIÇÃO DO IMPÉRIO - 1824 A primeira Constituição brasileira, também conhecida como Constituição Imperial nasceu no período da história marcado pela transição do Estado absolutista para o Estado liberal. Teve fortes influências da Revolução Francesa, de onde vieram os ideais liberais e, também da experiência de independência norte-americana, que demonstrou a possibilidade de se organizar um Estado de direito e soberano, levando a independência da maioria das colônias nas Américas. Nesse período, o cenário político estava complicado, a colônia (Brasil) tinha suplantado economicamente a metrópole (Portugal), havia uma série de problemas com os interesses brasileiros e, Dom Pedro I, resolveu permanecer no Brasil (Dia do fico- 09/01/1822), recusando-se a atenderà ordem das Cortes de regresso a Portugal. A independência do país ficou ainda mais próxima. Logo após o Dia do Fico, Dom Pedro I tomou uma série de medidas que prepararam o país para o processo de independência, dentre elas, a de convocar uma Assembleia Constituinte. Contudo, não estava claro quais eram as suas atribuições, tendo em vista que, em Portugal estava em processamento a redação de uma Carta Política, no dizer de Carl Schmitt, que serviria para todo o Império, incluindo por óbvio a ainda colônia – Brasil. Com a independência em 07/09/1822, a Assembleia se tornou a fundadora da vida legal brasileira e sua primeira tarefa era a de redigir a Constituição. O Imperador garantiu que a defenderia com a sua espada se fosse digna dele. Dessa afirmação nasceu uma descrença na soberania da Assembleia, alastrando-se entre os Constituintes uma revolta contra a vontade do imperador. A fala de D. Pedro I ecoou assim: “Façam a Constituição à minha moda, para que não a tenha de fazer eu” (RAMOS, 1987, p.79). Deste modo, estabeleceu-se o conflito, os debates tornaram-se violentos e, mais uma vez, falou alto o despotismo. Em 12 de novembro de 1823, D. Pedro I, em ato afrontoso à soberania nacional, dissolveu a Assembleia, criando um Conselho de Estado, composto de 10 membros, para elaborar um projeto de Carta Magna. Em 11 de dezembro de 1823 foi entregue ao Imperador o projeto escrito e codificado, elaborado de acordo com sua vontade, que foi submetido à aprovação das Câmaras Municipais e outorgada, pois foi imposta por Dom Pedro em 25 de março de 1824, sendo marcada por antagonismos, o que levou alguns autores como Paulo Bonavides (1991) a afirmar que essa Constituição era ao mesmo tempo antiga e moderna. Apesar disso, foi o caminho, ou ainda, o primeiro passo, para a implantação do Estado Liberal no país. 6 A orientação liberal manifestava-se claramente, principalmente no título “Das Disposições Gerais e Garantias dos Direitos Civis e Políticos dos Cidadãos Brasileiros” por enumerar os direitos individuais de primeira dimensão, tendo como núcleo o direito de liberdade em sua acepção mais ampla, visando a resguardar, da atuação do Estado, a esfera individual e na adoção da separação de poderes. Outra característica importante trazida por essa carta foi a separação de poderes, instituição primeira de um governo livre. Além dos poderes defendidos por Montesquieu – Legislativo, Executivo e Judiciário – foi acrescentado o Poder Moderador. Montesquieu e Benjamin Constant pregavam a independência harmônica dos Poderes e, por não haver aqui essa independência, havia uma contradição entre a norma e os fatos, principalmente no que se refere ao Poder Judiciário. Acredita-se que esse Poder tenha sido o mais deficiente de todo o texto outorgado pelo Imperador, se examinado à luz da moderna doutrina constitucional de separação dos poderes. Se todos esses precedentes deixam claro que, não dispondo de garantias, a Magistratura que constituía o Judiciário não configurava um poder verdadeiramente independente ante os demais, há na Constituição outra prescrição que, mais claramente ainda, tirava ao Judiciário a sua condição de Poder. Trata-se do art. 15, que cuidava das atribuições do Legislativo, concedendo à Assembleia Geral, constituída da Câmara e do Senado, a faculdade inscrita no item 80 de “fazer leis, interpretá-las, suspendê-las e revogá-las”. A lei que criou o Supremo Tribunal de Justiça – STJ, não lhe forneceu a mesma autonomia e, por conta disto, não houve um Tribunal que unificasse a jurisprudência enquanto vigorou esta Constituição. Como a hermenêutica legal não foi exercida pelo Poder Legislativo, essa tarefa acabou sendo executada pelo Imperador que exercia o Poder Moderador. Isto porque o art. 98 daquela Carta fazia o imperador todo-poderoso, pois considerava o referido Poder “a chave de toda organização política”, delegando-lhe privativamente a função moderadora, cujo fim era velar pela manutenção da independência, equilíbrio e harmonia dos demais Poderes políticos. Marcelo Alexandrino e Vicente Paulo (2009, p.25) dizem que: Embora a Constituição, na época, se pretendesse democrática, o Poder Moderador, "se utilizado por um monarca com inclinações autoritárias, levaria a um poder quase absoluto". Essa característica de nossa Constituição imperial consubstancia um conflito com a noção de soberania popular, com a ideia de titularidade do poder pelo povo, tão cara ao Liberalismo inspirador dos primeiros Estados. 7 Inspirados nos princípios do constitucionalismo inglês, segundo o qual é constitucional apenas aquilo que diz respeito aos poderes do Estado e aos direitos e garantias individuais, os autores do texto constitucional transplantaram para o art. 178 o que seguramente constitui a chave do êxito e da duração da Constituição. Haja vista que, este artigo só exigia um processo especial para modificação da parte do seu texto que tivesse disposições substancialmente constitucionais. A modificação de todas as outras disposições, só formalmente constitucionais, podia se dar mediante processo legislativo simples, igual ao de elaboração das demais leis. Por conta disto, é a única constituição brasileira que se classifica quanto aos procedimentos de modificação como semi-rígida. A Constituição de 1824 deu ainda ao Brasil a forma de Estado unitário, dividido em Províncias, com forte centralização político-administrativa. Em razão dessa característica, evitou a fragmentação de nosso território. Quando o poder Legislativo se instalou, em maio de 1826, quatro anos, depois de proclamada a Independência, é que, na verdade, teve início a prática constitucional. A Câmara dos Deputados submetia-se ao regime representativo, eletivo e temporário, na Câmara dos Deputados (art. 35 da CF/1824), mas, no Senado, os integrantes eram membros vitalícios, eleitos pelas Províncias, escolhidos de lista tríplice pelo Imperador (arts. 40 e 43 da CF/1824). A forma de Governo era a monarquia hereditária constitucional representativa (art, 3º da CF/1824). Consignou ainda, em seu art. 5º, que a Religião Católica Apostólica Romana continuaria a ser a religião do Império. Todas as outras religiões seriam permitidas com seu culto doméstico ou particular, em casas para isto destinadas, sem forma alguma exterior de templo. Destaca-se que sob o ponto de vista material, a Constituição de 1824 se completa por uma série de leis ordinárias que são substantivamente constitucionais. Sua única emenda, porém, é o Ato Adicional, a única reforma de seu texto, adotada pela Lei de 12 de Agosto de 1834. Entre essas leis complementares, as mais importantes por sua implicação constitucional, são: a) Lei de 15/10/1827, que definiu os crimes e regulou os processos de responsabilidade dos ministros e conselheiros de Estado; b) a de 18/09/1828, criando o Supremo Tribunal de Justiça e dispondo sobre suas atribuições; c) a de 01/10/182 criando atribuições administrativas e retirando-lhes a jurisdição contenciosa que tiveram durante o período colonial; d) a de 16/12/1830 (Código Criminal); e) a de 20/11/1832 (Código de Processo Criminal); f) a de nº 105, de 12/05/1840 (Lei de interpretação do Ato Adicional); g) a de nº 234, de 23/11/1841 (criação do segundo Conselho de Estado); h) a de no 261, de 3/12/1841 (reforma do Código de Processo Criminal); i) a de no 556, de 25/06/1850 (Código Comercial); j) a de no 601, de 18/09/1850 (Lei de Terras), que pôs fim ao regime dominial, que vinha da Colônia; e, claro que, sob o ponto de vista social e econômico, nenhuma 8 outra lei teve maior importância jurídica, na configuração do regime, do que a LeiÁurea, que coroou a obra de construção do Estado nacional, muito embora, já no fim do Império (RAMOS, 1987, p.80, GRIFO NOSSO). Essa Constituição serviu tanto às monarquias de D. Pedro I e de seu filho e sucessor D. Pedro II quanto à chamada “experiência republicana”, representada pelo período regencial que se estende do Sete de Abril, em 1831, à Maioridade do Imperador, em 1840. Sem que fosse necessário tocar em qualquer de seus artigos, instituiu-se, embora nela não estivesse prevista, a praxe do governo parlamentar, a partir da criação do cargo de Presidente do Conselho de Ministros, em 1847, por simples decreto do Executivo. As eleições eram indiretas e censitárias. Experimentou-se o sistema distrital, alterou-se sensivelmente a legislação eleitoral e, mantendo intocada a Constituição, realizou- se, em suma, virtualmente, todas as mudanças que o País conheceu nesse período, sem que ninguém pensasse ou sentisse necessidade de reformá-la. A maior virtude da Carta Magna de 1824 foi a de permitir que o sistema político nele não previsto fosse sendo paulatina e progressivamente adotado, à medida que se cristalizavam os usos parlamentares, e na proporção em que os costumes políticos se aprimoravam, enquanto o País se civilizava. Por tudo isso foi o texto constitucional de maior longevidade em nossa história. Ao ser revogada pelo Governo Republicano, em 1889, depois de 65 anos, era a segunda Constituição escrita mais antiga do mundo, superada, apenas, pela dos Estados Unidos. Não obstante isso, segundo Nogueira (2012) foi uma Constituição que se poderia classificar de nominativa, porque não conseguiu fazer com que as práticas constitucionais adotadas na realidade correspondessem às previstas em seu texto. 4 CONSTITUIÇÃO REPUBLICANA - 1891 A primeira Constituição Republicana do Brasil foi promulgada em 24 de fevereiro de 1891 depois de aprovada pelos membros da Assembleia Constituinte formada por homens que tinham experiência parlamentar, conforme retrata Aliomar Baleeiro (2012, p.25): Eram eles, em geral, como na Constituinte de 1824, homens de profissões liberais e classes médias: juristas formados em São Paulo e Pernambuco; médicos diplomados na Bahia e no Rio; engenheiros civis e militares; jornalistas e homens de letras, oficiais do Exército e da Marinha. Vários eram funcionários públicos. 9 Após o fim da monarquia, o Brasil passou a viver uma fase de novas expectativas jurídicas e econômicas com a formulação de uma nova constituição. Dois dos maiores responsáveis por esse acontecimento foram Rui Barbosa e Prudente de Morais. Com o objetivo da concentração de poder nas mãos do Imperador, onde somente o mesmo poderia fazer uso do Poder Moderador, este, imposto por meio da força da monarquia era um quarto poder onde o Imperador poderia interver nos outros poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário. Sob forte influência do regime vigente nos Estados Unidos, Rui Barbosa e Prudente de Morais elaboraram uma Constituição com base no Federalismo, onde os estados tinham autonomia para criar leis (desde que não fosse inconstitucional), ter suas próprias forças policiais, fazer empréstimos internacionais sem a necessidade da aprovação do Governo Federal. Dessa forma, a República Velha se caracterizava como um governo descentralizado e com apenas os Três Poderes vigentes: O Legislativo, responsável por elaborar as leis; o Judiciário, responsável por aplicar as leis; O Executivo para administrar, abolindo, assim, o Poder Moderador. A Constituição Republicana, estabeleceu que os governantes seriam eleitos por votação popular direta, por meio de voto aberto, onde era possível saber quem votou em quem. Ficando isento desse direito todos os analfabetos, mendigos, religiosos, mulheres, menores de 21 anos e soldados de baixa patente. Homens maiores de 21 anos tinham que comprovar ser alfabetizado, conforme art. 70, CF vigente naquela época. Diferente da monarquia onde o voto era permitido somente para quem tinha uma renda comprovada. Dessa forma, foi notório o mínimo de brasileiros participando das votações comparado a época da monarquia, visto que, haviam mais analfabetos do que pobres. Vale relembrar ainda a importante relação entre Estado e Igreja. Na época do Império havia uma relação muito íntima entre esses dois membros, relação essa que caracterizava o Brasil um país com uma religião oficial, o catolicismo. Porém, o novo texto constitucional também surpreendeu nessa decisão, rompendo essa relação e declarando-se como um país laico. As escolas e cemitérios que eram de domínio administrativo da igreja católica passaram a ser responsabilidade do Estado. O casamento civil também foi uma das inovações da nova reformulação, uma vez que no Brasil Império o casamento era somente na igreja, visto que isso não tinha muita importância jurídica. A partir de então o casamento civil por si só já era reconhecido oficialmente. 10 Não há como negar que o novo texto constitucional foi um grande avanço político-econômico para a história do Brasil. A adoção do regime Presidencialista, da democracia, a descentralização do poder, a abolição do Poder Moderador, o rompimento com a igreja católica, a reforma do código penal, com a extinção da pena de morte, o casamento civil, a criação do atestado de óbito, da certidão de nascimento, entre outros benefícios trazidos por essa reforma. Também há que se falar dos pontos negativos: a permanência da exclusão da mulher na vida política, a não reeleição fazendo com que os governantes não se preocupassem muito em atender os anseios populares, já que não poderiam permanecer no cargo além do tempo previsto, a influência dos latifundiários na elaboração do texto constitucional, o voto não ser secreto. Mas, posteriormente essas demandas foram atendidas com a Emenda Constitucional de 1926. Classificada como uma Constituição promulgada, pois foi elaborada por uma assembleia constituinte e eleita pelo povo, porém não foi totalmente democrática, pois a influência das oligarquias era maior que a vontade soberana do povo; escrita, pois as leis foram devidamente sistematizadas e organizadas em um único documento que hoje está guardado no arquivo do Senado, em Brasília; material, visto que todo conteúdo tratava exclusivamente de assuntos constitucionais referentes à composição e o bom funcionamento político; rígida, pois sua alteração teria que passar por um processo solene e dificultoso, obedecendo todos os requisitos do artigo 90 da Constituição; dogmática, visto que foi elaborada por uma assembleia constituinte levando em seu texto as regras fundamentais estabelecidas; sintética, ao passo que esta estava voltada exclusivamente à estrutura do Estado, direitos e garantias fundamentais e limite estatal. 5 CONSTITUIÇÃO DE 1934 Foi a partir da Constituição de 1934 – e nas que a ela se sucederam em 1937, 1946 e 1967 – que um título próprio foi dedicado à Ordem Econômica e Social, inclusive com o enunciado dos princípios básicos do direito do trabalho. A partir da Constituição de 1934 uma nova perspectiva se inaugura: a par da continuidade dos direitos individuais e das liberdades públicas, a tendência de abertura para as questões sociais transporta para o âmbito das Constituições o direito à Educação e à difusão da Cultura, que passa a ser regulado em capítulos especiais 6 CONSTITUIÇÃO POLACA 1937 11 7 QUARTA CONSTITUIÇÃO REPUBLICANA- 1946 Com o fim da Segunda Guerra Mundial, em que a vitória dos aliados pôs fim ao autoritarismo alemão, as demais ditaduras do mundo ficaram ressentidas. Junta-se a isso a insatisfação dos brasileiros,bem como a luta dos políticos por uma nova ordem político- jurídico. Havia, também, no mundo do pós-guerra, extraordinária recomposição dos princípios constitucionais, com reformulação de constituições existentes, ou promulgação de outras (Itália, França, Alemanha, Iugoslávia, Polônia, e tantas outras), que influenciaram a reconstitucionalização do Brasil (SILVA, 2005, p.83). Diante deste cenário, foram organizados movimentos e manifestos, dentre eles destaca-se o “Manifesto dos Mineiros”, que defendia a redemocratização do país, pelas eleições livres, por uma constituição condizente com tradições liberais, reivindicava o fim do Estado Novo liderado por Vargas, que foi destituído do cargo pelas forças armadas em 29 de outubro de 1945. As eleições então propostas foram vencidas por Eurico Gaspar Dutra, por maioria absoluta de votos, que tão logo empossado convocou a Assembleia Constituinte em 2 de fevereiro de 1946, com vistas a promulgar a Constituição dos Estados Unidos do Brasil e o Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. Acerca da composição da Assembleia Constituinte, Vila (2011, p.55) informa: A maior bancada continuou a ser a mineira, com 36 representantes, seguida por São Paulo, com 23, e depois por Pernambuco, Distrito Federal, Rio de Janeiro, com 19 cada uma. Diferentemente de 1891 e 1934, não havia anteprojeto governamental. Também em relação às Constituintes anteriores, dessa vez o número de militares era muito pequeno. Mas durante os trabalhos o clima político da Capital Federal esteve bem pesado. Passeatas foram reprimidas; sedes do Partido Comunista, invadidas e depredadas pela polícia; e militantes de esquerda, presos. Depois período turbulento, e com o fim da Segunda Grande Guerra, finalmente foi publicada em 18 de setembro de 1946 a quinta Constituição brasileira e a quarta republicana. Essa Carta pegou o país numa fase mais madura, buscando subsídios para sua elaboração nas ideologias das constituições de 1891 que possuía influência socialista da Constituição e de Weimar e da Constituição de 1934 que por seu turno foi inspirada no liberalismo das Constituições Francesa e Norte-Americana, daí ser classificada por Ramos (1987) como constituição eclética. Assim sendo, pode-se dizer que esta Carta escrita e codificada não foi nem socialista, nem individualista. Foi um equilíbrio até onde não fosse anti-social dos princípios do Estado Liberal e Estado Social. 12 De acordo com Silva (2007, apud PAULO, ALEXANDRINO, 2009, p.28): “embora essa ‘volta ao passado’ tenha sido um erro, e a Constituição de 1946 não tenha conseguido realizar-se plenamente, ela cumpriu sua tarefa de redemocratização e proporcionou condições para o desenvolvimento do país, durante sua vigência”. Esta Constituição adotou a república como forma de governo, a federação como forma de estado, dando autonomia política para os estados e o presidencialismo como sistema de governo, e a forma de Estado foi reforçada como federativa, uma vez que vinha enfraquecida pelo Estado Novo e o sistema de governo presidencialista foi mantido. Houve ainda a inserção das eleições diretas, com voto secreto, para presidente, governador e assembleia legislativa, consolidando a democracia como regime de governo após 8 anos de ditadura do Estado Novo. Contou com 218 artigos e dentre as principais características trazidas por ela cita se as seguintes: O Mandato presidencial é reduzido para cinco anos (art. 82); Estabelece a competência do Tribunal Federal de Recursos, criado anteriormente, porém sem funções delimitadas (art. 104); Aperfeiçoa a Justiça Eleitoral (art. 109 a 121); Considera o trabalho uma obrigação social, assegurando a todos um trabalho que possibilite existência digna (parágrafo único, art. 145); 5- institui no país a crença no uso social da propriedade (art. 147); Proíbe o abuso do poder econômico, seja qual for o pretexto (art. 148); Reconhece o direito de greve (art. 158); Aperfeiçoa o mandado de segurança (art. 141, §24); Proíbe expressamente a retroatividade da lei (art. 141, §3º) (RAMOS, 1987, p. 90-91) Essa Constituição ampliou também o rol de direitos fundamentais que existia na Carta de 1934, dentre eles vale mencionar o princípio da inafastabilidade de jurisdição, exclusão da pena de morte, do banimento e do confisco, acrescentou o direito de greve, instituiu o princípio da liberdade e criação e organização partidária. Com o objetivo maior de restaurar a democracia no país, observa-se que a Constituição de 1946, retomou o desenvolvimento do controle judicial de constitucionalidade, devido a necessidade de se analisar de maneira mais eficaz e célere dos dispositivos infraconstitucionais, tal controle foi anteriormente interrompido pelo regime ditatorial. Nesse sentido, a Emenda Constitucional nº 16, de 26 de novembro de 1965, conferiu ao Supremo Tribunal Federal cada vez mais relevância como guardião da Constituição, exercendo seu papel de instancia final. Sua vigência correspondeu ao período de 1946 até 1964, sua interrupção deu-se com o Golpe Militar, que derrubou do poder João Goulart, que era o então presidente. 13 8 CONSTITUIÇÃO – GOLPE MILITAR 1964 9 CONSTITUIÇÃO MILITAR - 1967 Apenas três anos após o golpe de 1964, o regime militar enterrou as previsões democráticas da Carta de 1946 em vigor, outorgando uma Nova Constituição em 24 de janeiro de 1967. A Carta Magna de 67 concentrava o poder no âmbito do Executivo, restringindo incisivamente a organização dos partidos políticos e impondo a eleição indireta (art.76) do Presidente da República. Os 13 atos institucionais, hoje inadmissíveis, que sustentavam nosso ordenamento jurídico, juntamente com os 67 atos complementares e 27 emendas ajudaram a manter o regime ditatorial no Brasil enquanto vigorou, pelos dez anos seguintes. A premissa maior do discurso militarista se baseava no apelo à Segurança Nacional, e sob essa linha argumentativa a Constituição de 67 conferia amplos poderes ao Chefe do Executivo Federal (arts. 74 a 83), absorvendo competências antes delegadas aos Estados e Municípios, enfraquecendo-os, à medida que o poderio da União e a possibilidade de manipular as decisões sob qualquer pretexto, se expandiam. Segundo Cavalcanti, et al., (2012, p.68) fortalecimento do Executivo se deu da seguinte forma: [...] proveio da ampliação de seu poder de iniciativa das leis, da limitação de tempo para aprovação, pelo Congresso, dos projetos do Governo, na delegação legislativa, na restrição a emendas aos projetos governamentais, e na faculdade, dada ao Presidente, de expedir decretos-leis. O totalitarismo imposto no país pelo regime militar não aderiu muitos simpatizantes, logo o clima de instabilidade se instalou pelo país, fomentando manifestações de vários setores da sociedade, principalmente entidades estudantis. A resposta do governo militar à insatisfação civil não tardou, em 13 de dezembro de 1968, o Ato Institucional Nº 05 determinou um autoritarismo nunca visto no Brasil. O tosco AI-5 possibilitava ao Presidente da República fechar as Casas Legislativas em qualquer nível da Federação. Qualquer parlamentar que se opusesse ao regime militar poderia ter seu mandato cassado, nem mesmo o Poder Judiciário esteve isento das perseguições, visto que o Ato previa a suspensão das garantias de seus membros. Não havia espaço para os ensinamentos, hoje incontestáveis, do Professor Celso Ribeiro Bastos (2005, p.401) que afirma: 14 (...) qualquer ato normativo, federal ou estadual, é suscetível de contraste constitucional. O julgamento da norma em tese, istoé, desprendida de um caso concreto, e, o que é muito importante, sem outra finalidade senão a de preservar o ordenamento jurídico da intromissão de leis com ele inconiventes torna-se então possível. A proteção dos direitos individuais já era, e continua sendo, assegurada pela via de defesa. Uma ação cujo único objeto é a perquirição do ajustamento da lei às disposições constitucionais repousa sobre fundamentos outros daqueles justificadores do controle constitucional pela via de exceção. Na verdade, é a preocupação da defesa do sistema jurídico, do direito objetivo, enfim, que se concentra na base de tal instituto. A arbitrariedade imposta pelo regime militar era tão intensa, que a existência de uma Constituição era meramente figurativa, servindo apenas para emprestar aos Atos do Poder Executivo, uma legitimidade aparente. A Constituição “Militar”, como ficou conhecida, era fortemente influenciada pelo texto da Constituição de 1937 só começou a produzir seus efeitos em março, depois de ter tomado posse no poder o então Presidente, Marechal Arthur da Costa e Silva. Houve mudanças também, na nomenclatura do País que deixou de chamar-se “Estados Unidos do Brasil” e passou a se chamar apenas, Brasil, não afetando, porém a forma federativa de Estado e a forma Republicana de Governo. Apesar de ter vigorado durante esse período o Sistema de Governo presidencialista, as eleições, porém, não eram diretas e sim, indiretas, realizadas por um Colégio Eleitoral especialmente constituído para esse fim. Não havia previsão constitucional de Plebiscito ou de Referendo, nem tão pouco de proposta de criação de lei por iniciativa popular. As professoras Alessandra Maria Sabatine Zambone e Maria Cristina Teixeira (2012, p.53) ao abordarem o tema “Os Direitos Fundamentais nas Constituições brasileiras” nos ensinam que: Em relação à sua previsão no Texto Constitucional, podemos identificar esses direitos como direitos fundamentais formais, quando indicados expressamente na Constituição e direitos fundamentais materiais, como aqueles sem os quais o homem não vive, ou vive sem dignidade. O que caracteriza o direito sob o aspecto material é a sua vinculação com a realização do princípio da dignidade da pessoa humana, previsto na Constituição, no art. 1º., inciso III. Podem estar positivados ou não no Texto Constitucional. De acordo com José Afonso da Silva2 (2005:184), a Constituição classificou esses direitos “com base no critério de seu conteúdo, que, ao mesmo tempo, se refere à natureza do bem protegido e objeto que tutela”. Nessa medida pode-se classificá-los em cinco grupos: • direitos individuais • direitos coletivos • direitos sociais • direitos à nacionalidade • direitos políticos. 15 Não restam dúvidas de que não havia espaço na Constituição de 67 para Direitos e Garantias Fundamentais. Em comparação com sua antecessora, a “Constituição Militar” retrocedeu no quesito de direitos expressamente garantidos como, o direito à vida, à liberdade, à propriedade, à igualdade. Foram vários e absurdos cerceamentos, à liberdade de manifestação e expressão do pensamento, censura ao exercício de atividades artísticas e culturais, abuso de poder político, subversão do regime democrático, limitação do direito à propriedade, estendeu o foro militar aos civis, nos casos de crimes contra a segurança interna ou as instituições militares, com recurso ordinário para o STF (art.122, §1º) Em relação aos direitos sociais inovou, mas não de uma forma que pudesse ser contabilizada como ganho, em relação aos direitos dos trabalhadores por exemplo, houve supressão da estabilidade e da proibição de diferenciação salarial por motivo de idade ou nacionalidade, restrição do direito de greve, redução para 12 anos da idade mínima permitida para o trabalho. Apesar de tantos retrocessos, pequenas vantagens reais foram introduzidas na tentativa, talvez, de amenizar os desfavores oferecidos. Houve a previsibilidade de aposentadoria da mulher que contasse com 30 anos de serviço com integralidade de salário, a instituição do salário-família em favor dos dependentes do trabalhador e eventual participação do trabalhador na gestão da empresa. Diante de tudo quanto foi exposto, vale lembrar as palavras de Ramos (1987) que a cada passo que se dava um casuísmo transformava uma revolução – redenção numa revolução – arbítrio, que em nada engrandecia a ordem jurídica nacional. Como só acontecer História pátria, a revolução engolia seus verdadeiros valores e líderes, ocasionando um hiato nas nossas lides políticas, impedindo o surgimento de lideranças raras, de que tanto o país estava a necessitar. 10 “CONSTITUIÇÃO” DE 1969 – EC n.1, de 17.10.1969 Em 1969, com as perspectivas democráticas sucumbidas, o povo brasileiro continuava vivendo em meio ao medo e a pressão imposta pelo o autoritarismo do Regime Militar, e a Constituição de 1967 havia sofrido grande modificações em virtude dos atos Institucionais impostos pelos presidentes militares. Com o afastamento do Presidente Costa e Silva, o poder ficou com a junta militar composta de representantes das forças armadas, o Ato Institucional – AI 12 concedeu aos 16 ministros da Marinha, Exército e Aeronáutica os poderes exercidos pelo Presidente da República. No fim do governo provisório exercido pela junta militar fora outorgada a Emenda Constitucional nº 1 que fez modificações radicais no texto da Constituição de 1967, em virtude disso criou-se uma grande discussão quanto à existência de uma Constituição Nova (1969). Para alguns autores expõe que se trata de nova Constituição, em virtude das várias modificações e, inclusive, pelo Brasil passar a se chamar: “República Federativa do Brasil”. O professor Marco Antônio Villa (2011 p.65) ensina que “paradoxalmente, era um momento de enorme centralização política e o que menos havia era “federalismo”, que pressupõe relativa autonomia dos entes federados”. Partindo do ponto de vista que o texto constitucional tem origens diversas, verifica-se que a Emenda nº 1 serviu como instrumento de outorga, haja vista que não houve promulgação. A nova Constituição Instituiu o Brasil como federação, mesmo que camuflada, essa noção expressa que os estados-membros devem ter autonomia, o que não acontecia com o Brasil da época. Não se pode deixar de destacar que com a outorga do novo texto houve um reforço ao AI-5, uma vez que o Legislativo era totalmente passivo em face do Executivo. O poder se concentrava com os militares e quem discordasse sofreria consequências sem direito à ampla defesa e o contraditório, hoje existentes no ordenamento jurídico. Por outro lado, Alexandrino e Paulo (2009 p. 29) expõem as mudanças positivas fornecidas pela Constituição de 1969: A EC nº 1/1969 aperfeiçoou, porém, algumas instituições, como o processo de elaboração da lei orçamentária, a fiscalização financeira e orçamentária dos municípios, modificou o sistema tributário, previu a criação do contencioso administrativo tributário, vedou a reeleição para o Poder Executivo, etc. No que tange a sua classificação a Constituição de foi outorgada, por não haver uma participação popular, de conteúdo formal e escrito com características analíticas, pois inovou ao abordar vários temas. O art. 47 da referida constituição mostra os ritos para a modificação do texto constitucional, diante disso conclui-se que quanto a alterabilidade a Constituição de 1969 é rígida. 17 Por fim, a Constituição de 1969 teve várias emendas até que na data de 27 de novembro de 1985 foi convocada a Assembleia Nacional Constituinte, cujos frutos desencadearam navigente Constituição de 1988. 11 CONSTITUIÇÃO CIDADÃ - 1988 Após a transição do período de ditadura militar, que percorreu em meados de 1964 a 1985, houve a necessidade de um novo panorama na sociedade brasileira, o país buscava um processo de redemocratização, onde o povo brasileiro pudesse sair do estado de opressão, da falta de democracia, da censura, da supressão de direitos constitucionais e perseguição política. Corroborando Paulo e Alexandrino (2009, p. 30) dispõem que: “com o fim dos governos militares e a redemocratização do país, mostrou-se evidente a necessidade de dotar o país de uma nova Constituição”. Assim, através da ampliação do pluripartidarismo durante o governo Sarney, das legalizações dos partidos como o PCB e o PC do B, começaram a surgir outros novos partidos como o PSDB e o PL. Dessa forma, geraram-se assim novos ideais neoliberais, destaca-se também, o combate a erradicação da censura à imprensa, que aterrorizou o País durante o governo militar e a consolidação dos sindicatos e das grandes centrais (CUT e CGT). Desde 1960 o presidente não era eleito de forma direta, e, para mudar tal contexto, uma emenda constitucional havia sido proposta pelo deputado Dante de Oliveira (PMDB). Nesse sentido, ocorre um dos maiores movimentos de participação popular da história brasileira: as Diretas Já. Tal movimento ganhou proporções de caráter em massa através de apoio de partidos como PMDB e PDS, assim como o da sociedade. Contudo, apesar de todas as manifestações públicas, a emenda não chegou nem a ser aprovada pela Câmara, faltando 22 dos 320 votos necessários. Assim, restou a eleição indireta, onde Tancredo Neves (PMDB) se elegeu em 15 de janeiro de 1985. No entanto, às vésperas de tomar posse Tancredo veio a falecer e José Sarney assumiu a presidência. José Sarney, o primeiro presidente da fase iniciada com o ocaso do ciclo militar, denominada “Nova República”, encaminhou ao Congresso Nacional a proposta de emenda à Constituição que resultou na EC nº 26, de 27 de novembro de 1985. Essa emenda convocava uma Assembleia Nacional Constituinte, composta, na verdade, pelos próprios deputados federais e senadores de então (ALEXANDRINO; PAULO, 2009, p.30) 18 Dessa forma, no dia 05 de outubro de 1988, marco teórico que definiu o Brasil como um país democrático, foi promulgada uma Constituição Federal dogmática, por expressar os valores sociais desejados pelos brasileiros, escrita e codificada através da Assembléia Constituinte eleita pelo povo. Estabelece que o poder emana do povo e que este exerce a sua soberania de forma direta, através do plebiscito, referendo, ação popular, iniciativa popular (art. 14) e, indiretamente por meio dos seus representantes, feita por meio do voto direto, secreto e com o mesmo valor para todos. A Carta Constitucional, lei fundamental e suprema do Brasil, situada no topo do ordenamento jurídico serve de parâmetro de validade a todas as demais normas. Nesse sentido Villa destaca (2011, p. 76) que: O texto final da Constituição foi aprovado na sessão de 22 de setembro de 1988. Recebeu 474 votos favoráveis e apenas 15 contrários. [...] Duas semanas depois, em 5 de outubro, após longos 20 meses de trabalho – período em que foram apreciados 65.809 emendas, 21 mil discursos e nove projetos -, foi promulgada a Constituição, com cerimônia transmitida por rádio e por televisão. A constituição de 1988 é conhecida como a constituição cidadã, trazendo em seu texto possibilidades para a construção de uma esfera pública e democrática no país. Como Tácito (2010, p. 47) leciona: “é marcante, na nova Constituição, a presença do povo e a valorização da cidadania e da soberania popular”. E tem como objetivos garantir os direitos sociais, econômicos, políticos e culturais. Vale destacar que essa é a Carta Política é prolixa e analítica, por ser a mais longa da história das constituições brasileiras – 250 artigos, pois exagera no regramento detalhado de determinadas matérias e é também formal, pois o seu conteúdo não é são substancialmente constitucional, exemplo disso é o art. 242, § 2º que informa que o colégio Dom Pedro será mantido na órbita federal. Isto faz com que a Constituição receba uma série de emendas, que atualmente mais de 88. Ressalta-se ainda que num país marcado pelo autoritarismo, a constituição de 1988 garante amplas liberdades. Além disso, traz em seu texto o fundamento da ordem jurídica, o princípio da legalidade, a fonte de direitos e deveres e limite ao poder do Estado democrático e à autonomia da vontade. Assim, para Uadi Lammêngo Bulos (2014, p.114): As constituições democráticas, também chamadas de populares, promulgadas ou votadas, são aquelas que se originam da participação popular. O povo, galgando o status de eleitor, escolhe livremente, por meio do voto, os representantes que irão integrar a Assembleia Constituinte, destinada a elaborar e estabelecer as normas constitucionais. 19 Portanto, através da nova constituição o direito do cidadão, que integra a democracia representativa, foi conquistado, determinando-se as eleições diretas para os cargos de presidente da república, governador do Estado e do Distrito federal, prefeito, deputado estadual, federal e distrital, senador e vereador. Essa Carta reconhece que as alterações do texto constitucional são necessárias, para que acompanhem a evolução da sociedade e, deste modo trazem os princípios que são analisados a partir da hermenêutica e também as chamadas cláusulas pétreas que compõe o núcleo inalterado da Constituição, assim pode se dizer que se caracteriza como rígida, pois apesar de permitir a alterações exige um processo mais dificultoso e solene conforme se observa no seu artigo 60. No que se refere a forma de Estado o art. 1º estabeleceu in verbis: “a República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito”. Tanto a forma como também o sistema de governo foram instituídos a partir do plebiscito do art. 2º do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT): “no dia 7 de setembro de 1993 o eleitorado definirá, através de plebiscito, a forma (república ou monarquia constitucional) e o sistema de governo (parlamentarismo ou presidencialismo) que devem vigorar no País”. (Vide EC 2/1992). Apesar de marcada para o dia 7 de setembro de 1993, o plebiscito foi adiantado para o dia 21 de abril de 1993 através de Emenda Constitucional de número 2, de 25 de agosto de 1993, onde foram escolhidos a forma de governo republicana e o sistema de governo sob regime presidencialista. No que tange aos direitos fundamentais, estes foram abordados em título separado composto por capítulos que versam sobre os direitos e deveres individuais e coletivos, aos direitos sociais e direitos políticos. As principais mudanças que ocorreram a partir da Constituição de 1988 em relação às anteriores estão discriminadas, no Quadro 01, e divididas nas áreas: indivíduos e família; economia; política; judiciário e ministério público; direitos sociais e por fim seguridade, saúde e ecologia. Quadro 01 – Inovações trazidas pela nova Carta de 1988. ÁREA INOVAÇÃO -Igualou direito e deveres de homens e mulheres; -Reconheceu as uniões estáveis e os filhos 20 INDIVIDUOS E FAMÍLIA ilegítimos; -Transformou a casa em asilo inviolável do indivíduo; -Tornou o racismo crime inafiançável e imprescritível; - Eliminou a censura; ECONOMIA -Determinou que a propriedade tivesse função social;-Reformulou o Sistema Tributário Nacional; -Instituiu a política agrícola e fundiária; -Estabeleceu as diretrizes da política urbana; -Definiu regras para o sistema financeiro; POLÍTICA -Deu direito de voto a analfabetos e jovens de 16 e 17 anos; -Criou as eleições majoritárias em dois turnos; -Reconheceu o município como ente federativo; -Ampliou os instrumentos de democracia direta; -Concedeu autonomia aos partidos; JUDICIÁRIO E MINISTÉRIO PÚBLICO -Criação do STJ; -Concedeu independência ao Ministério Público; -Criou a Medida Provisória; -Criou o mandado de segurança coletivo; -Criou a ADI; DIREITOS SOCIAIS - Reduziu a jornada de trabalho de 48 para 44 horas; -Criou o seguro desemprego; -Ampliou a licença-maternidade e criou a licença paternidade; -Férias remuneradas acrescidas de 1/3 do salário; -Concedeu direitos trabalhistas aos empregados domésticos; SEGURIDADE, SAÚDE E ECOLOGIA -Criou o Sistema Único de Saúde –SUS; -Ampliou os benefícios da Previdência Social; -Definiu os direitos das crianças e adolescentes; -Definiu o meio ambiente como um bem público; -Reconheceu o direito dos índios e suas terras; Adaptado de: Kanno e Puls, 2013. 21 Diante de tudo quanto foi exposto diz-se que a Constituição de 1988 é considerada a mais completa entre as existentes no país, uma vez que inovou e buscou uma maior abrangência do exercício das instituições estatais. Assim como, ampliou e elucidou os direitos e garantias fundamentais de forma a proteger o cidadão do Poder Estatal e assegurá-lo nas principais áreas para uma vida digna e segura. 12 CONCLUSÃO Na História pátria, podemos registrar que cada constituição “vestiu a roupa” de sua época, tanto mais democrática quanto democráticos e liberais eram os movimentos que as antecederam. Assim, a Constituição de 1824, de cunho monárquico, pela sua própria natureza, foi outorgada com vícios e desacertos, expressando a mentalidade da elite imperial, além de totalmente divorciada dos costumes nacionais. A Constituição de 1891, sintetizando os ideais acalentados pelos republicanos, cuidou de apagar a lembrança do regime findo. Aqui, os ideais democráticos, tão apregoados a partir da Constituição norte-americana, foram absorvidos. Combateram-se os desníveis sociais, a dependência econômica, a politicagem, a miséria do povo e o personalismo. 1934, início de uma nova Constituição, cujo conteúdo era ainda mais liberal, resultante de uma época da “grande depressão americana”, prolongando-se até a Revolução de 1930. Pena não ter sido duradoura, pois introduziu grandes avanços como: Justiça Eleitoral, Justiça do Trabalho, regulamentação dos direitos dos trabalhadores, o mandado de segurança contra os abusivos e ilegítimos dos agentes do Poder. A Constituição de 1937, inspirada na Constituição polonesa, enveredou-se pelo autoritarismo, onde a centralização do poder imperou, constituindo-se o Chefe de Governo no juiz de direitos individuais. Em 1946, sem inspiração de um texto dominador, conjugaram-se ideias liberais e sociais. Na elaboração de 1967, se houve inovações, prevaleceu a tendência do poder discricionário. Em todas as Constituições foi presente a realidade nacional, em dimensão variável. Diante de todo o arcabouço intelectual exposto neste trabalho, parte-se para o exame das contribuições que os conhecimentos aferidos com o estudo detalhado das constituições brasileiras pode oferecer ao leitor que se debruçou lendo este trabalho. 22 Em resumo, afirma-se as mutações sociais são as mais importantes forças propulsoras da legislação constitucional, na introdução desse trabalho falou-se sobre a expansão de um pensamento contagiou o mundo em processo demorado e eficiente. Ainda na contemporaneidade é perceptível que alguns regimes autoritários ainda jazem no mundo moderno, porém outros movimentos com ideais similares buscam a ruptura desse paradigma, a Primavera Árabe é o mais recente movimento em prol do estabelecimento de um governo voltado para os interesses sociais coexistindo com uma Constituição que dê ao povo a titularidade do poder absoluto. No entanto algumas constituições não representa a vontade do povo, a exemplo a Constituição Imperial que foi outorgada por D. Pedro I e as constituições do período do Regime Militar. Todas estão rompem com ideal de legalista e assume uma característica personalíssima em virtude de atribuir mais poder ao governante que ao povo. Os fatos históricos narrados no presente trabalho expressam que o modelo jurídico-político atual é fruto das revoltas populares dos séculos passados que começaram desde a coluna preste no fim do coronelismo até o movimento das diretas já, todos estes antes da promulgação da constituição de 1988 que trouxe no seu bojo o princípio da dignidade da pessoal humana como a luz suprema no texto normativo. Portanto as informações escritas traduzem uma narrativa de acontecimentos pertinentes as transformações ocorridas no cenário jurídico nacional, trazendo o perfil das constituições, os anseios sociais e as mudanças ocasionadas em virtude da promulgação ou outorga das mesmas, sendo crucial para o valor intelectual proporcionado a partir da leitura do presente trabalho. 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