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Pesquisa em Serviço Social 1 Apostilas Brasil Caixa de texto Apostilas Brasil Caixa de texto Apostilas Brasil Caixa de texto Apostilas Brasil Caixa de texto nullnullnullnullnullnullnullnullnullnullSUMÁRIOnullnullnullnull- Processo de construção do conhecimento........................................................................................... 3null- O método em Ciências Humanas e a Pesquisa Social....................................................................... 15null- Métodos e técnicas de Pesquisa Social.............................................................................................. 23null- O funcionamento e o estruturalismo no Serviço Social....................................................................... 39null- Métodos qualitativos e O Serviço Social e suas implicações.............................................................. 51null- Abordagem Compreensiva, Interacionista e Fenomenológica............................................................ 63null- Dialética, Complexidade e Reconstrução do objeto no Serviço Social............................................... 75 SUMÁRIO Processo de Construção do conhecimento .......................................... O Método em Ciências Humanas e a Pesquisa Social .......................... Métodos e técnicas de Pesquisa no Serviço Social .............................. O Funcionamento e o Estruturalismo no Serviço Social ......................... Métodos Qualitativos e o Serviço Social e suas Implicações ................. Abordagem Compreensiva, Interacionista e Fenomenológica ................ Dialética, Complexidade e Reconstrução do Objeto no Serviço Social ... 3 15 23 39 51 63 75 2 Apostilas Brasil Caixa de texto Apostilas Brasil Caixa de texto Apostilas Brasil Caixa de texto Apostilas Brasil Caixa de texto nullnullnullnullnullnullnullnullnullnullnullnullnullnullnullnullnullnullnullnullnullnullnullnullA vida é melhor para aqueles que fazem o possível para ter o melhor.null CAPÍTULO 1 • PesqUisA sOCiAL i Introdução Para iniciarmos nossos estudos, você deve rever alguns conteúdos das disci- plinas Metodologia Científi ca e Teorias Sociológicas, estudadas no primeiro período do curso. Nas referidas disciplinas, especialmente as primeiras unidades servirão de base para o que você vai estudar a partir de agora. Por exemplo, em relação à Metodologia Científi ca, você vai precisar das discussões sobre o conhe- cimento, dos métodos e das técnicas de pesquisa. Já em Teorias Sociológicas, será importante a releitura dos temas relacionados ao início das ciências sociais, a abordagem positivista e as metodologias qualitativas. Assim você terá uma maior compreensão de como se dá o processo de observação da realidade a partir das ciências sociais, bem como suas características centrais e reconhe- cerá o processo de investigação no Serviço Social, seus aspectos centrais, como teorias e metodologias, no processo de investigação, como indispensável para a ação do assistente social. Toda nossa experiência de vida resulta em um processo de construção de conhecimentos. Desde os primeiros dias de vida, os estudos na escola, o trabalho, o cotidiano dos lares, a amizade e o carinho na convivência com as demais pessoas e com os diversos grupos sociais contribuem sobremaneira para acumular conhecimentos. Em outros termos, viver é conhecer e produzir conhecimentos. Neste capítulo, você vai estudar sobre como se produz o conhecimento, quais seus tipos, sua relação com a realidade, como se dá o processo de inves- tigação e, concomitantemente, a produção do conhecimento, tendo como foco central o Serviço Social. Começaremos com alguns conceitos. 1.1 Conhecimento e realidade: conceituando Não se conhece algo se não houver uma relação entre o sujeito conhecedor, o objeto a ser conhecido e o contexto que envolve o sujeito e o objeto, a partir de uma realidade. Para começo de conversa, vamos deixar claro quais os signi- fi cados de conhecimento e de realidade e, em seguida, saber como se dá essa relação entre um e outro. A capacidade do ser humano de vivenciar diversas experiências e arquivar na memória tudo o que está a sua frente ou que já passou contribui para o que Processo de construção do conhecimento 1 S.S._5oP.indb 139 06 3 Apostilas Brasil Caixa de texto Apostilas Brasil Caixa de texto Apostilas Brasil Caixa de texto Apostilas Brasil Caixa de texto Apostilas Brasil Caixa de texto Apostilas Brasil Caixa de texto CAPÍTULO 1 • PesqUisA sOCiAL i chamamos de conhecimento. Mas não seria possível conhecer se não tivés- semos os sentidos e o pensamento. A partir desses elementos, a relação do sujeito com o objeto se completa, favorecendo, assim, o conhecimento. Dessa forma, a participação do sujeito é fundamental para que haja conhecimento. A realidade, por sua vez, consiste em um conceito que envolve várias discus- sões. A questão que se coloca é: o que é realidade? Para saber o que é reali- dade, é preciso se voltar ao sentido e ao pensamento, elementos já indicados como indispensáveis para o conhecimento. Reflita Você sabe de fato o que é realidade? Por exemplo, quando você afirma que é real o que viu ou o que defende em algum momento, o que o leva a crer que é algo real? Para que você considere algo como realidade, primeiramente é neces- sária a capacidade de perceber, sentir e relacionar isso com a sua vida ou o contexto em que já viveu ou ainda está vivendo. Quando você afirma que estudou hoje em uma telessala da sua cidade, mais precisamente na sala dois, por exemplo, logo está querendo mostrar uma pequena parte do seu dia e que considera muito importante para sua vida. Todavia o que é real nessa afirmação só será de fato se você vivenciou essa experiência e, por sua vez, tem como provar para determinadas pessoas que queiram ou precisam saber. Você não precisa, é claro, inventar para você mesmo que fez o que disse, mas pode precisar provar para o seu patrão, o seu namorado, enfim para alguma pessoa. Mas é claro que o que existe ou acontece pode não ser conhe- cido por alguém, no entanto não deixa de ser real. Todavia, no que se refere à demonstração do que existe, isso sim precisa dos elementos essenciais para que outras pessoas possam saber de fato que existe ou que existiu o que você afirma. Veja, portanto, que está posta a necessidade de saber o que é real e o que é realidade. Não é por acaso que a realidade é uma categoria ou um objeto de estudo das ciências sociais. Conforme o Minidicionário Houaiss, realidade é “tudo o que existe de ver- dade, o que é real” (2004, p. 625). Já no que tange ao real, o mesmo 4 CAPÍTULO 1 • PesqUisA sOCiAL i dicionário afirma que é “aquilo que tem existência palpável, concreta, que existe de fato, de verdade”(2004, p. 624). Quando alguém se refere à questão da realidade, em geral, o que está implí- cito é a leitura e a compreensão do mundo nos seus diversos aspectos. Assim a realidade social, isto é, o que envolve o ser humano e a sociedade têm sido alvo de diversas discussões e preocupações por parte dos cientistas sociais. Para conhecer a realidade, os sociólogos, os antropólogos, os cientistas os políticos, os historiadores, entre outros cientistas sociais, adotam determinadas metodologias, conforme suas respectivas visões de mundo. Temos, portanto, concepções diferentes acerca da forma de se estudar a sociedade, o que, conse- quentemente, gerou várias abordagens e a adoção de metodologias conforme a necessidade apontada pelos pesquisadores; são formas de buscar aprender as realidades, as abordagens, como: o positivismo, a fenomenologia, o marxismo, a metodologia compreensiva, o estruturalismo e a teoria da complexidade, que você vai estudar ao longo desta disciplina. Saiba mais Para uma compreensão mais ampla acerca do que seja realidade e conhe- cimento, leia o livro A construção social da realidade, dos autores Peter Berger e Thomas Luckmann. A sua primeira edição é de 1966, mas ainda é bastante atual. Há também uma publicação mais recente (2002) feita pela editora Vozes. Veja também As novas Sociologias – construções da realida- de social, de Philippe Corcuff, publicado pela editora Edusc, em 2001. Agora que você refletiu um pouco sobre conhecimento e realidade, vamos tratar dos tipos de conhecimento surgidos ao longo da história da humanidade, conforme você já viu em Metodologia Científica. É claro que não é preciso se alongar nesse tema, mas é importante retomar conceitos para maior aproveita- mento e compreensão da importância do conhecimento na sociedade. 1.2 Os tipos de conhecimento Os tipos de conhecimento fundamentais até os dias de hoje são os seguintes: comum (também conhecido como empírico ou popular), religioso (ou teológico), filo- sófico e científico. São considerados ainda o mitológico e o artístico como formas de conhecimento, embora apresentem diferentes formas de perceber o mundo. S.S._5oP.indb 141 06 5 CAPÍTULO 1 • PesqUisA sOCiAL i Reflita Baptista (1993, p. 2) afirma que “o conhecimento é um instrumental de tra- balho do profissional na sua ação sobre o objeto e é, ao mesmo tempo, pre- liminar e concomitantemente à sua construção”. Você concorda com ele? O conhecimento empírico é o da experiência, do cotidiano de cada um de nós que contribui significativamente para agir no mundo, orientar-se e fazer as atividades necessárias. Se você tomar como exemplo o estudo que ora está realizando, vai perceber que, muito embora esteja envolvido em uma atividade acadêmica do curso de Serviço Social, para conseguir fazer o que precisa com vistas ao conhecimento e à sua formação, logo precisou antes de tudo de uma variedade de conhecimentos a respeito do seu mundo, até mesmo para chegar ao seu local de estudo. Veja então que o conhecimento comum é indispensável para que você possa alcançar novos conhecimentos mais deta- lhados e aprimorados, como é o caso da formação que espera alcançar com o final do curso. Quando a experiência em si já não se mostra suficiente para compreender determinadas coisas ou assuntos, você logo busca uma forma de conhecer, dife- rentemente do que fazia, como procedimento normal, raciocinando rapidamente para resolver algo, como a simples necessidade de ir à faculdade de ônibus ou de carro particular. Em relação ao conhecimento religioso ou teológico, sabemos que, nos primór- dios da humanidade, os primeiros habitantes do planeta já buscavam explicar os fenômenos ao seu redor, como a chuva, o fogo, o trovão, por exemplo, a partir da crença em deuses ou divindades. Dizem que esse tipo de comportamento se deu tendo em vista que, quando alguns homens já não sabiam como explicar concre- tamente por que determinados fenômenos ocorriam à sua volta, alegavam que poderia ser talvez pelo fato de que algum deus estivesse enfurecido com eles por algum motivo, ou como forma de repreensão pelos seus atos. Assim temos o surgi- mento do conhecimento religioso como parte dessa perspectiva de explicação das coisas a partir de crenças no sobrenatural, nas divindades ou na espiritualidade. O conhecimento religioso se caracteriza por sua generalidade, simbologia e aspecto ético acentuado (JOHAN, 1997). 6 CAPÍTULO 1 • PesqUisA sOCiAL i À medida que o homem vai se desenvolvendo, juntamente com a sociedade, ele percebe a capacidade de pensar de forma aguçada, o que o leva a refletir sobre os diversos assuntos. Nasce então o conhecimento filosófico que, por sua vez, possibilitou mais adiante o surgimento do conhecimento científico, que se desenvolveu a partir do surgimento da industrialização. Johan (1997, p. 29) ensina que A atitude primeira do homem diante da realidade não é a de um sujeito analítico que a examina em profundidade, mas a de um ser que atua praticamente nas suas relações com a natureza e com os outros homens. Por isso ele necessita da reflexão filosó- fica, através da qual destrói a pseudoconcreticidade e a pretensa independência dos fenômenos, demonstrando o seu caráter deri- vado da essência. Quando nos referimos à realidade, é indispensável levar em conta a capa- cidade de pensar, de refletir sobre tudo que faz parte do universo humano. O sentimento e o pensamento estão intimamente relacionados à reflexão filosófica, o que permite a ação dos indivíduos, dos grupos e de organizações. Considerando as palavras do autor, sobre a reflexão filosófica, e relacio- nando com o papel do assistente social, podemos inferir que não faria sentido algum o trabalho desse profissional se ele não tivesse a compreensão de que sua ação está intimamente relacionada com a filosofia. Isso porque, ao atuar, o assistente social age a partir do que pensa sobre o mundo, as coisas e toma as decisões conforme sua filosofia adotada como a mais aceitável ou correta por ele. Por outro lado, ao pensarmos no trabalho em uma instituição, por exemplo, devemos levar em conta a filosofia que movimenta ou direciona as ações dos seus dirigentes e empregados. O conhecimento científico, por seu turno, surge com a necessidade da precisão, da comprovação, da organização, tendo em vista o desenvolvimento da industrialização. Como você já estudou em Teorias Sociológicas, a ciência tem suas bases já na Grécia Antiga; em seguida, avança com o Renascimento e o Iluminismo, aprimora-se e segue até os nossos dias com o avanço da tecno- logia presente em todas as esferas da sociedade. Cabe à ciência a garantia do desenvolvimento da sociedade da maneira mais segura, eficiente e eficaz. Isso é o que se espera da ciência. Mas esse tipo de conhecimento não deve ser considerado absoluto ou superior, até mesmo porque é feito pelos homens e permeado de interesses e de ideologias. Se você tem alguma dúvida sobre isso, lembre-se das guerras, da bomba atômica lançada na cidade de Hiroshima, do nazismo e do fascismo, das ditaduras que ocorreram na América Latina, entre outras formas de ação humana baseadas na ciência e a serviço do poder e de interesses escusos. S.S._5oP.indb 143 06 7 CAPÍTULO 1 • PesqUisA sOCiAL i Para o conhecimento científico, a realidade a ser conhecida não se apre- senta como um objeto à mostra, claro, transparente. Há, sim, uma distinção entre as coisas tal como aparecem em um primeiro momento à nossa per- cepção e como são na realidade (JOHAN, 1997). O conhecimento apresenta uma estreita relação com a realidade. Ao longo da história, o homem foi construindo tipos de conhecimento na esperança de alcançar ou de apreender a realidade. Sabemos que o conceito de realidade deve ser compreendido a partir da capacidade humana de pensar e de sentirpara depois agir. Também não se pode imaginar ou ter a ciência como algo absoluto e superior, do contrário, corre-se o risco de adotar uma conduta faná- tica em relação a esse conhecimento. No próximo item, você estudará o processo de observação da realidade e as ciências sociais. Trata-se de buscar compreender como as ciências sociais procuram explicar as diferentes realidades a partir de metodologias, conceitos e teorias. 1.3 O processo de observação da realidade e as ciências sociais Observar a realidade requer acuidade e paciência. A tarefa das ciências sociais é observar a realidade de maneira que permita à sociedade respostas favoráveis às descobertas das causas dos problemas ou dos fenômenos sociais. Mas é evidente que essa não é uma tarefa fácil de realizar, até mesmo porque o objeto de estudo das ciências sociais é por demais complexo, uma vez que se trata do homem e da sociedade nas suas mais diversas formas de atuação. A realidade, como você já viu anteriormente, deve ser compreendida a partir da capacidade humana de sentir, de pensar e de agir. Vejamos, agora, sobre a forma de observação da realidade por parte das ciências sociais, os problemas ou as dificuldades enfrentados pelos cientistas sociais para alcançar o que chamamos de conhecimento da realidade. Os estudos em torno da realidade iniciaram, de forma mais clara, a partir do século XIX, quando a Revolução Industrial já produzira diversas situações que estão entre o que podemos chamar de aspectos positivos e negativos. Mas não devemos esquecer que há muito tempo se buscou compreender os problemas sociais, a cultura, a política, a vida em sociedade. Os filósofos gregos como Sócrates, Platão e Aristóteles abordaram a reali- dade de diferentes maneiras. Antes desses filósofos já tínhamos também outros que apresentaram suas preocupações em torno da vida e da sociedade ou, em outros termos, ocuparam-se da vida dos homens. 06 8 CAPÍTULO 1 • PesqUisA sOCiAL i Ao longo da história, acontecimentos como o Renascimento e o Iluminismo permi- tiram diferentes abordagens, agora com uma preocupação com a racionalidade, o que favoreceu, portanto, o desenvolvimento das ciências sociais mais adiante. A questão que surge, quando se trata de estudar a realidade, é a seguinte: como estudar cientificamente a realidade? A partir de então, os estudiosos se debruçaram para encontrar respostas a essa questão. Ao se tratar de estudo da realidade, logo podemos nos perguntar: mas que realidade? O que chamamos de realidade? Na busca de um caminho para o estudo da sociedade, dos problemas, dos fenômenos que surgem na socie- dade, é que estudiosos como Augusto Comte se basearam nas ciências natu- rais. Por isso ele pensou na objetividade que a ciência da sociedade, no caso a Sociologia, por exemplo, deve ter. Dessa maneira, Comte procura estudar a sociedade com a mesma lógica e metodologia usadas nas ciências como biologia, física, química e na astronomia. O precursor do positivismo teve essa ideia porque não imaginava como alguém poderia demonstrar objetividade, comprovação dos estudos da socie- dade, sem uma metodologia que permitisse encontrar as causas dos fenômenos ou, em outros termos, encontrar o que se denomina nas ciências de Leis Naturais. Nessa perspectiva positivista, só se aceita como ciência o que pode ser mensu- rado, quantificado, demonstrado estatisticamente ou visto concretamente. Então temos, na busca de observação da realidade social, a questão da objetividade, isto é, estudar a sociedade tal qual se faz nas ciências da natureza. Essa questão da objetividade gerou várias discussões e polêmicas nas ciên- cias sociais por parte de importantes estudiosos da área até os dias atuais. A maneira de perceber e de estudar a sociedade nunca foi algo de consenso por parte dos intelectuais. No caso dessa perspectiva positivista, Comte buscava demonstrar que não havia outro caminho ou metodologia diferente dessa ótica da objetividade a partir das Leis Naturais. Esse teórico se colocava contrário a toda percepção idealista a respeito do estudo da sociedade. Essa visão é também conhecida como objetivismo, que “tem como projeto estabelecer regula- ridades objetivas (estruturas, leis, sistemas de relações etc.) independentemente das consciências individuais” (BOURDIEU citado por CORCUFF, 2001, p. 17). O objetivismo dá prioridade ao objetivo na análise dos fenômenos sociais, enquanto que o subjetivismo prioriza o subjetivo, a interpretação, ou seja, aquilo que não pode ser mensurado e quantificado. O objetivismo procura seguir as regras rígidas traçadas pelo positivismo. Tal procedimento tem sido contestado por diferentes teóricos. Bourdieu cita- do por Corcuff (2001, p. 17) ensina que “o objetivismo constitui o mundo S.S._5oP.indb 145 06 9 CAPÍTULO 1 • PesqUisA sOCiAL i social como um espetáculo oferecido a um observador que assume um ‘ponto de vista’ sobre a ação e que, importando do objeto, age como se ele fosse destinado unicamente ao conhecimento”. Os estudiosos que se colocam contrários ao objetivismo são subjetivistas, até mesmo porque não veem como estudar aquilo que é tão complexo, como a sociedade, de forma totalmente voltada para o objetivo. É por isso que surgiram outras perspectivas teóricas e metodológicas, como a análise compreensiva, de Max Weber, que você já estudou em Teorias Sociológicas, e a fenomenologia, assunto que você vai estudar mais especificadamente adiante. Embora tenha sido de grande relevância a contribuição teórica e metodo- lógica de Augusto Comte no que diz respeito à forma de estudar a sociedade e seus fenômenos, os estudiosos que se seguiram demonstraram as lacunas deixadas pelo positivismo comtiano. Essas lacunas deram margem para a busca de estudos mais voltados para uma visão subjetiva, o que se apresenta como uma metodologia qualitativa, enquanto que a outra é quantitativa. Como o próprio termo já indica, a metodologia quantitativa prioriza o que pode ser medido, enquanto a qualitativa prioriza o não quantificável, como é o caso de estudar os comportamentos e os sentidos dados às ações sociais. Agora, para uma maior compreensão a respeito dessa polêmica entre obje- tivo e subjetivo, vejamos um exemplo de como isso se apresenta no âmbito do Serviço Social: o assistente social que atua em uma determinada instituição, em geral, está a serviço do que lhe é determinado para realizar. No caso de uma intervenção do poder público em uma determinada comunidade, para traçar o perfil socioeconômico de sua população, o assistente social é o agente institu- cional responsável pelo levantamento de dados junto às pessoas para saber as condições de moradia, de renda familiar, dos problemas centrais que as pessoas vivenciam na sua localidade, entre outros. Para tanto, esse profissional lança mão de um questionário, geralmente fechado ou misto, isto é, com perguntas para marcar a alternativa correspondente ou com outras para que o informante dê a sua opinião sobre a realidade na qual vive. Temos, portanto, o uso de uma metodologia quantitativa, tendo em vista que se procura mensurar os dados e, em seguida, apresentar o relatório detalhado para a instituição na qual atua. De posse dos dados quantitativos, é que se discute com a equipe o que deve ser feito para resolver os principais problemas verificados com a pesquisa. No caso da aplicação de uma metodologia qualitativa, o assistente social atua de forma detalhada e comedida, por meio de observações in loco, de entrevistas com pessoas da comunidade para saber sobre os principais problemas e como as pessoas de lá buscam suas soluções possíveis. O relatório final a ser apresentado 06 10 CAPÍTULO 1 • PesqUisA sOCiAL i pelo assistente social deve levar em conta tudo o que observou, procurar perceber o sentido dado aos problemas encontradospor parte das pessoas da comunidade para, em seguida, tirar suas possíveis conclusões. Sobre métodos e técnicas de pesquisa no Serviço Social, você vai estudar de forma mais detalhada adiante. Observar a realidade não é tarefa simples, como se pode imaginar. Cabe aos cientistas sociais encontrarem o caminho mais adequado para estudar a sociedade, de maneira que se encontrem as respostas necessárias. Com isso, é possível agir de forma que proporcione às pessoas uma melhor qualidade de vida e, evidente- mente, respostas para enfrentar os seus problemas e suas especificidades. Existem duas formas de estudar a sociedade: pelo objetivismo ou pelo subjetivismo. Assim vemos que é necessária cautela suficiente para buscar estudar e compreender a sociedade com os seus respectivos problemas e situações diversas. Você viu até aqui como se observa a realidade, a partir das ciências sociais. Viu também que o estudo da realidade social demanda acuidade para evitar precipita- ções e interpretações ou conclusões apressadas que não levam a nada. Assim, no intuito de garantir segurança e precisão nos estudos da sociedade, surgiram duas formas de abordagem da realidade: o objetivismo e o subjetivismo. Aquele prioriza o que é mensurável ou quantificável, enquanto que o segundo dá prioridade ao não quantificável, isto é, aos aspectos subjetivos presentes nos processos e nas relações existentes na sociedade. Cabe ao positivismo a perspectiva objetivista e, por outro lado, a abordagem compreensiva, o subjetivo. Assim temos as correntes de estudos e análises da sociedade como o positivismo, a fenomenologia, o marxismo, que se destacam no que tange aos estudos ou observação da realidade social. A questão da observação da realidade é uma constante preocupação das ciências sociais e, a partir da observação científica, são realizadas as investi- gações e se produzem novos conhecimentos. Vejamos, a seguir, a relação entre investigação, trabalho e produção do conhecimento. 1.4 Investigação, trabalho e produção de conhecimento Pensar a investigação como dimensão constitutiva do trabalho do assis- tente social e como subsídio para a produção do conhecimento sobre processos sociais e reconstrução do objeto da ação profissional consiste em uma impor- tante reflexão sobre o Serviço Social e sua prática. Sabemos que o assistente social tem à sua frente uma infinidade de problemas e de necessidades na atuação junto às questões sociais. Portanto não se pode prescindir da tarefa da produção do conhecimento na empreitada desse profis- sional. Para uma ação efetiva e de qualidade que proporcione às populações respostas concretas no que tange aos seus problemas, como os relacionados à saúde, à habitação, à violência, à prostituição, entre outros, o assistente social deve ter uma conduta séria, um faro de pesquisador que lhe permita alcançar o sucesso desejado no que se refere à solução dos problemas da sociedade. S.S._5oP.indb 147 06 11 CAPÍTULO 1 • PesqUisA sOCiAL i No próximo item, esse tema (investigação, trabalho e produção de conheci- mento) continuará como objeto de nossa discussão. 1.5 A investigação na prática profissional em Serviço Social Baptista (1993, p. 1) assevera que, No Serviço Social, assumido como profissão interventiva, o conhecimento a ser construído pela investigação tem como hori- zonte não apenas a compreensão e a explicação do real, mas a instrumentação de um tipo determinado de ação. Para uma determinada ação, temos uma intenção e, no Serviço Social, não é diferente. As palavras de Baptista nos remetem também à necessidade da instrumentação de um determinado tipo de ação. É importante refletir sobre essa questão, até mesmo para que não se pense em uma concepção de instru- mentação pautada no objetivismo e no tecnicismo, o que pode levar a ações e conclusões equivocadas sobre o trabalho do assistente social. Baptista (1993, p. 2) ainda acrescenta que, No exercício de sua prática, o profissional pode ter diferentes motivos para investigar, os quais muitas vezes estão imbricados em uma mesma pesquisa. É o motivo “dominante”, o motivo “central” que, de certa forma, vai definir a natureza da investi- gação encetada. Considerando essa afirmação, a autora destaca três aspectos fundamentais na investigação como prática do assistente social. Veja quais são a seguir. Subsidiar e instrumentalizar a prática.• Ampliar a capacidade de “comunicação racional”.• Construir conhecimento científico.• A respeito do primeiro, a autora chama atenção para a necessidade de adquirir conhecimentos condizentes para uma atuação na realidade, o que exige o pensamento (lógica), o discurso do conhecimento (aspectos epistemoló- gicos) e também as técnicas. O assistente social pode atuar no sentido de dar subsídios e instrumentali- zação de sua prática, mas sem necessariamente ser um mero técnico indiferente aos problemas e às realidades que vivencia junto às populações. Assim passa a ser um mero reprodutor do sistema, conformado com determinadas realidades que se repetem a cada dia e são alimentadas por meio de práticas que não passam de assistencialistas. Ao contrário dessa postura conservadora, é necessário que o assistente social possa “encaminhar suas reflexões e seus resultados em um sentido histó- rico, social, político e técnico de produção de conhecimentos que tem em vista uma prática mais consequente” (BAPTISTA, 1993, p. 2). 12 CAPÍTULO 1 • PesqUisA sOCiAL i Observe que a prática desse profissional não significa focalizar apenas o cumprimento de determinadas tarefas, como, por exemplo, a aplicação de um questionário em um determinado bairro ou setor da cidade. O que move a ação do assistente social, pelo menos o que deve movimentar, é a intenção que se concretiza em uma determinada ação. Assim, se esse profissional é limitado no que tange aos conceitos e às teorias e a uma visão crítica da sociedade, não fará praticamente nada que permita uma mudança significativa da realidade na qual está inserido e atuando. A teoria permite a orientação para a incursão no mundo social e apoiado na teoria é que se faz a escolha certa dos métodos e das técnicas a serem utilizados na prática do assistente social. Somente assim, esse profissional terá condições para atuar junto às populações e no trato com as questões sociais. Sobre a capacidade de ampliação de comunicação racional, conforme as ideias de Baptista (1993), deve-se levar em conta que a prática do assistente social requer uma reflexão contínua sobre a sua ação e a forma com que vai atuar na sociedade. Mas é importante saber que o termo comunicação racional já conduz a uma prática consciente, intencional em torno do objeto da ação profissional. Quanto à construção do conhecimento científico e o Serviço Social, o que está em questão é a prática do assistente social, que não deve ser utilitarista e muito menos descompromissada com a necessidade de transformação da sociedade. Essa perspectiva de transformação necessária, com vistas à solução de problemas sociais, requer uma atitude científica. Isso não significa neces- sariamente uma prática objetivista, mas a elaboração de “conhecimentos que permitam aos assistentes sociais responder às exigências pragmáticas de sua ação profissional”, como afirma Baptista (1993, p. 8). A investigação consiste em uma tarefa importante na prática do Serviço Social. Sem a consciência de que são necessários conhecimentos teóricos e metodológicos para a ação diante das questões sociais, o assistente social não logrará êxito no que tange à mudança social e, consequentemente, a solução de determinados problemas sociais. A partir do exposto, podemos inferir que há uma forte relação entre conhecimento e realidade; daí que, ao longo do tempo, os seres humanos foram buscando compreender o mundo e seus desafiospara viver. Nesse sentido, surgiram os tipos de conhecimentos: empírico, religioso, filosófico e científico. Tais conhecimentos são fundamentais para o mundo ainda hoje e, em função da racionalidade industrial, o conhecimento científico passou a ser cada vez mais utilizado. No Serviço Social, temos o uso constante do conhe- cimento científico, como também uma produção de conhecimento que se dá no processo de trabalho do assistente social, tendo em vista as diferentes reali- dades nas quais trabalha. Com isso, torna-se indispensável a investigação, isto é, a pesquisa científica. S.S._5oP.indb 149 06 13 CAPÍTULO 1 • PesqUisA sOCiAL i No capítulo seguinte, você estudará o método em ciências humanas e a pesquisa social. Esse é um tema indispensável para os cientistas sociais e para todos aqueles que trabalham com pesquisa social, como é o caso do assistente social. Com isso, você poderá aprofundar alguns pontos que foram sinalizados até então. Por exemplo, serão destacados os principais métodos em ciências sociais, o conceito de metodologia e as abordagens qualitativas e quantitativas. Anotações 14 CAPÍTULO 2 • PesqUisA sOCiAL i O método em ciências humanas e a pesquisa social 2 Introdução Na disciplina de Metodologia Científi ca, você teve oportunidade de estudar os conceitos e os aspectos metodológicos básicos para o estudo cientí- fi co. No capítulo anterior, aprendeu sobre realidade e investigação no Serviço Social. Esses assuntos servirão para você fundamentar a questão dos métodos nas ciências sociais e, agora, conceituar metodologia de pesquisa e conhecer os métodos e os aspectos centrais da pesquisa social em ciências humanas e suas particularidades. Você viu, no capítulo anterior, que, para se conhecer o que chamamos de realidade, a partir da capacidade de pensar e de sentir, é preciso pesquisar. Para tanto, é necessário sabermos o que queremos com a pesquisa e de que forma será realizada. Para isso, precisamos de metodologias. Nas ciências sociais, é indispensável que o pesquisador esteja munido de uma metodologia que favoreça o caminho mais seguro para atingir os seus objetivos. A fi m de assentarmos no tema proposto, um ótimo passo é, primeiramente, saber o que signifi ca pesquisar. Como devemos pesquisar? Para que se pesquisa? Questões como essas são fundamentais para ajudar a compreender o conceito de meto- dologia da pesquisa, objeto de estudo deste capítulo. Aqui você terá a oportu- nidade de saber o que é metodologia da pesquisa e conhecer a metodologia qualitativa e a quantitativa, utilizadas no Serviço Social. 2.1 O que é metodologia de pesquisa Quando nos referimos à metodologia da pesquisa, estamos tratando da metodologia científi ca. Pensar em pesquisa nos remete a pensar no que é e como se deve pesquisar. Nesse caso, temos necessidade de uma prática cons- ciente, científi ca, para que sejam alcançados os resultados concretos no que diz respeito às questões sociais, objeto de ação do assistente social. O conceito de pesquisa diz respeito a algo que se busca para atender a determinados objetivos, como, por exemplo, saber qual o perfi l socioeconômico de um determinado município. Pesquisar é se debruçar sobre uma variedade de coisas, situações e problemas que possibilitem atender aos objetivos defi nidos pelo pesquisador. Pesquisar é ainda ser criterioso na forma de buscar informa- ções sufi cientes para responder a determinadas questões. S.S._5oP.indb 151 06 15 Apostilas Brasil Caixa de texto Apostilas Brasil Caixa de texto Apostilas Brasil Caixa de texto Apostilas Brasil Caixa de texto CAPÍTULO 2 • PesqUisA sOCiAL i Pesquisar é buscar sistematicamente dados para saber sobre as causas e os efeitos de um determinado fenômeno. No caso da pesquisa social, pesquisar é buscar saber quais os fatores que podem explicar determinados fenômenos sociais, como o desemprego, a pobreza, a violência etc. Minayo e outros (2000, p. 17) ensinam que a pesquisa é “a atividade básica da ciência na construção da realidade”. Minayo e outros (2000, p. 25) acrescentam que A pesquisa é um labor artesanal, que se não prescinde da criativi- dade, se realiza fundamentalmente por uma linguagem fundada em conceitos, proposições, métodos e técnicas, linguagem esta que se constrói com um ritmo particular. Muito pertinente a afirmação dos autores quando relaciona pesquisa com o labor artesanal, isso porque a atividade da pesquisa não é algo pronto e acabado que deve ser visto como um único padrão. A pesquisa requer trabalho e arte, o que se apresenta no cotidiano do pesquisador e nas inúmeras situações com as quais se defronta no seu cotidiano, para chegar à resposta de um determinado problema. Os autores também lembram que a pesquisa implica uso de linguagens, conceitos, métodos e técnicas; portanto não se pesquisa sem uma compreensão sobre um determinado assunto, ou objeto de estudo. Da mesma forma, é preciso saber que caminho o pesquisador deve seguir para chegar a reunir os elementos necessários à resolução de determinadas questões. A metodologia da pesquisa diz respeito à forma como se faz a pesquisa, é o caminho a ser percorrido pelo pesquisador para alcançar seus objetivos. É ainda, conforme Minayo e outros (2000, p. 16) “o caminho do pensamento e a prática exercida na abordagem da realidade”. Os autores afirmam que A metodologia inclui as concepções teóricas de abordagem, a teoria e a metodologia caminham juntas e intrincavelmente inse- paráveis. Enquanto conjunto de técnicas, a metodologia deve dispor de um instrumental claro, coerente, elaborado, capaz de encaminhar os impasses teóricos para o desafio da prática (MINAYO e outros, 2000, p. 16). A metodologia implica o uso de métodos e de técnicas para se chegar a um fim. Mas, não é somente isso, como nos alerta os autores. A metodologia implica ainda uso de instrumentos e requer do profissional uma visão crítica a respeito da realidade na qual vive e estuda. No Serviço Social, a metodologia da pesquisa é indispensável, contanto que o assistente social não conceba a pesquisa como uma mera tarefa de coletar dados sem nenhum propósito claro. As principais metodologias utilizadas no Serviço Social, conforme o objeto e os objetivos, podem ser de caráter quantitativo e ou qualitativo. Assim temos 06 16 CAPÍTULO 2 • PesqUisA sOCiAL i uma variedade de métodos e de técnicas a serem utilizados pelo pesquisador e assistente social. A metodologia quantitativa dá prioridade a tudo o que pode ser mensurado, como o uso de questionários, escalas, amostragens. O profissional, ao adotar essa metodologia, tem uma percepção generalizada, quando confia piamente nos dados coletados e transformados em gráficos, tabelas e ou escalas. Na prática, geralmente o assistente social é impelido a assumir essa conduta objetivista. Um exemplo do uso dessa postura se dá na adoção demasiada de aplicação de formulários e de questionários junto à população, sem que o profis- sional tenha a noção de fato da realidade em que foi inserido para trabalhar, muitas vezes, pela instituição a que está ligado. Almeida (2001, p. 1) assevera que A pesquisa enquanto forma de investigar a realidade social já era utilizada pelo Serviço social desde 1917, através da metodologia do diagnóstico social criada por Mary Richmond. A autora refere “a investigação ou coleta dos dados reais” como primeiro passo para a realização do diagnóstico, seguindo-se “o exame crítico e a comparação das realidades averiguadas” para ser possível a interpretação e esclarecimento da dificuldade social. A base teórica que orientou por muito tempo a pesquisa no Serviço Social era de caráter positivista, portanto mais voltado para o objetivismo, com o uso acentuadode técnicas e instrumentos de mensuração da realidade social. A partir da década de 80, com o Movimento de Reconceituação, a pesquisa ganha um novo enfoque, agora com uma preocupação com o homem e sua totalidade. O que reclamava o Movimento de Reconceituação era uma maior articu- lação da teoria com a prática. Almeida (2001, p. 1) ensina que “a pesquisa é resgatada como condição básica para a construção teórico-metodológica do projeto profissional de ruptura”. Nesse sentido, buscava-se a superação do prag- matismo tradicional na profissão, conforme acentua o autor. A partir de então, a pesquisa no Serviço Social passou a utilizar uma metodologia do tipo qualitativa, com o uso de técnicas e instrumentos voltados para os aspectos subjetivos e comportamentais, antes ignorados na metodo- logia tradicional. A pesquisa qualitativa originalmente foi desenvolvida pelos antropólogos e, após, pelos sociólogos. Mais tarde foi descoberta por educadores e outras áreas do conhecimento (ALMEIDA, 2001, p. 2). S.S._5oP.indb 153 06 S.S – 5° PERÍODO – 4ª PROVA – 02/12/09 – 153 of 460 17 CAPÍTULO 2 • PesqUisA sOCiAL i As principais orientações teóricas que permeiam a abordagem qualitativa são: a fenomenologia, o interacionismo simbólico e a análise compreensiva, cuja ênfase está no indivíduo e não na sociedade como um todo. Tais aborda- gens serão estudadas nos capítulos 4 e 5. As principais técnicas de pesquisa qualitativa são: estudo de caso, observação participante, história de vida, entre- vista, entre outras. A seguir, você estudará o método em ciências humanas e a pesquisa social. Perceba como, ao longo do tempo, os cientistas sociais buscaram novos cami- nhos que os fizessem aproximar de uma explicação mais concreta das reali- dades sociais, tarefa que não é tão simples. 2.2 O método em ciências humanas e a pesquisa social As ciências humanas apresentam características peculiares que as diferen- ciam das chamadas naturais ou exatas. A diferença fundamental está na natu- reza do seu objeto de estudo: o ser humano e a sociedade. Sem dúvida, trata-se de um objeto que exige bastante atenção e paciência da parte do pesquisador. A partir de agora, serão desenvolvidos os conteúdos sobre os métodos em ciências humanas, com destaque para suas particularidades e seus principais aspectos. Você vai estudar sobre os principais métodos e técnicas das ciências humanas e saber sua importância na investigação da realidade. Como o nome indica, as ciências humanas se ocupam em estudar o ser humano e a sociedade. Você deve estar se perguntando: como é isso? Como se estuda o homem e a sociedade? Pois bem, essa é a pergunta que os cien- tistas sociais fizeram ao longo do tempo e, ainda hoje, continuam a fazer, espe- cialmente quando precisam realizar alguma pesquisa social. É na busca de responder a questões como essa que surgiram as metodologias a serem adotadas nas pesquisas que tratam da sociedade. Estamos nos referindo ao método nas ciências humanas. A tentativa de estudar cientificamente a sociedade por parte de estudiosos como Augusto Comte, como você já estudou em Teorias Sociológicas e também no capítulo anterior deste caderno, baseou-se nos métodos utilizados nas ciên- cias naturais. Comte pensava na objetividade das ciências sociais tal qual se pode encontrar nas ciências seguintes: química, física, biologia, matemática e astrologia. Mas por que será que o precursor do positivismo resolveu fazer isso? Podemos dizer que, na visão desse estudioso, como as ciências exatas traba- lham com métodos e técnicas que permitam mensurar, quantificar, experimentar para se chegar a um resultado comprovável no que diz respeito à identificação das causas dos fenômenos, assim ele imaginou que isso poderia ser feito para estudar os fenômenos sociais. Em outras palavras, Comte percebia que existem leis naturais na sociedade que a regem, portanto pode ser estudada, assim como se faz nas ciências da natureza. 18 CAPÍTULO 2 • PesqUisA sOCiAL i Com essa ideia, Augusto Comte funda o positivismo que, mais tarde, influen- ciaria significativamente os estudos da sociedade. As ciências sociais fundam-se sob égide positivista. A sociologia, a antropologia, a economia, o direito, a psicologia social, a história passam a adotar, a partir de seus pesquisadores, toda uma metodologia que auxiliasse nas pesquisas e nos estudos da sociedade de modo claro, objetivo, mensurável e sem rodeios. A partir de então, os pesquisadores buscam compreender as diferentes culturas, a política e as diversas realidades sociais por meio do paradigma positi- vista, cuja metodologia se coloca a serviço da sociedade industrial e capitalista. O modelo positivista é adotado como o único considerado científico pelo fato de trabalhar com a mesma lógica e metodologia das ciências naturais. Para se saber as causas de determinados fenômenos sociais, acreditava-se que, de posse de instrumentos e de técnicas de mensuração, tudo seria esclarecido. A ideia central do modelo positivista de pesquisa e análise da sociedade defende a neutralidade científica, de modo que buscou nas ciências naturais a metodologia da mensuração e da experimentação. Observe que essa forma de abordagem você viu também em Teorias Socio- lógicas, especialmente sobre o positivismo e o funcionalismo em Comte e Durkheim, respectivamente. Em uma sociedade que se industrializava de forma acelerada, esse modelo seria suficiente e único para encontrar respostas concretas aos fenômenos sociais; pelo menos é o que se esperava. Mais tarde, à medida que as pesquisas e os estudos eram difundidos, começou a se formar um ambiente de discussões. De um lado, pesquisadores e cientistas sociais pareciam maravilhados com os resul- tados alcançados. De outro lado, surgiam várias críticas ao modelo quantitati- vista que também foi acusado de cientificista, devido à “frieza” com que tratava as questões sociais. No positivismo, “a realidade é exterior ao indivíduo e a apreensão dos fenômenos é feita de forma fragmentada” (BAPTISTA, 1994, p. 19). Esse é um dos problemas centrais da abordagem objetivista. A partir dessa perspectiva, o indivíduo é tratado como mero objeto de pesquisa, sem que possa intervir na realidade e alterá-la. Baptista (1994, p. 20) afirma que As pesquisas orientadas sob esse paradigma utilizam a experi- mentação, que é uma criação artificial cuja operacionalização 06 S.S – 5° PERÍODO – 4ª PROVA – 02/12/09 – 155 of 460 19 CAPÍTULO 2 • PesqUisA sOCiAL i faz uso de uma lógica hipotético-dedutiva. A metodologia da experimentação busca a veracidade ou falsidade de hipóteses, validadas por processos dedutivos matemáticos, tipo causa e efeito. Os resultados são expressos em número, intensidade e ordenação; a realidade é exterior ao sujeito, com interdepen- dência entre sujeito e objeto; as relações são lineares, ou seja, o processo é unilateral entre pesquisa e pesquisador: buscam-se o consenso, conhecimentos operacionais, índices quantitativos. O modelo positivista nas ciências sociais aos poucos dá lugar à abordagem qualitativa. Baptista (1994, p. 21) acrescenta que A abordagem quantitativa, quando não exclusiva, serve de fundamento ao conhecimento produzido pela pesquisa qualita- tiva. Para muitos autores a pesquisa quantitativa não deve ser oposta à pesquisa qualitativa, mas ambas devem sinergica- mente convergir na complementaridade mútua, sem confinar os processos e questões metodológicas a limites que atribuam, sem confinar os processos e questões metodológicas a limites que atri- buam os métodos quantitativos exclusivamente ao positivismo ou aos métodos qualitativos ao pensamento interpretativo, ou seja, a fenomenologia, a dialética, a hermenêutica. Observe que a autora não ignora o uso da metodologia quantitativa quando se refere à qualitativa, mas lembraque uma pode muito bem ser usada com a outra. Não se esqueça de que estamos tratando de ciência e, portanto, trabalhar com a abordagem qualitativa é mais uma opção do pesquisador, no sentido de vislumbrar os aspectos internos, isto é, interpretar, buscar uma explicação do fenômeno social a partir de dentro. Isso significa considerar os valores, inten- ções, ideologias, crenças, comportamentos, por exemplo. Na metodologia qualitativa, em vez da objetividade, damos lugar à subje- tividade, à interpretação. Essa perspectiva ajuda a uma maior compreensão do fenômeno, uma vez que o pesquisador passa a dar maior atenção ao informante e à sua realidade. Reflita De que forma devemos utilizar as abordagens quantitativas e qualitativas? Quando e como podemos trabalhar com essas perspectivas metodológi- cas? Será que devemos nos ater apenas a uma metodologia para pesquisar e atuar no Serviço Social? É importante saber que o fato de ter surgido outra proposta metodológica, em contraposição ao objetivismo, como é o caso da análise interpretativa, não 20 CAPÍTULO 2 • PesqUisA sOCiAL i significa que agora o pesquisador deve se apoiar apenas nessa nova metodo- logia para atender a todas as necessidades de análise social. É para isso que Baptista (1994) chama a atenção. Para atuar com base no objetivismo, o assistente social se utiliza de instru- mentos e técnicas de mensuração dos dados. Assim faz uso de questionários, esta- tísticas, escalas de experimentação. Em vários casos, é evidente que é necessário esse tipo de abordagem da realidade. Mas, por outro lado, não se deve ter o objetivismo como único e perfeito para a análise e a compreensão dos fenômenos sociais: pobreza, violência, prostituição, corrupção, desemprego, entre outros. No caso da adesão à análise interpretativa, o assistente social prioriza as formas de inserção da realidade que permitam compreender os fatores subje- tivos, os motivos das ações sociais, os comportamentos, entre outros. As pesquisas qualitativas fazem uso de instrumentos e técnicas como a observação participante, a história de vida, o estudo de caso, a história oral, a análise de conteúdo, as entrevistas, a pesquisa-ação e os estudos etnográ- ficos, como aponta Baptista (1994). Esses métodos e técnicas de pesquisas serão trabalhados no capítulo subsequente. Saiba mais Existe uma gama de obras sobre as metodologias qualitativas, entre elas, você pode encontrar o livro Metodologias qualitativas na sociologia (Pe- trópolis: Vozes, 1987) da autora Tereza Maria Frota Haguette. Trata-se de uma importante obra referente ao assunto e nele você pode encontrar as principais abordagens qualitativas, tais como: a fenomenologia, o intera- cionismo simbólico, além dos métodos e das técnicas, como: entrevista, observação, história de vida, história oral, as quais são, também, utiliza- das no Serviço Social. Veja também A arte de pesquisar, de Mirian Gol- denberg (Rio de Janeiro: Record, 1999), que trata de como fazer pesqui- sa qualitativa em ciências sociais. A autora trabalha com questões como métodos e técnicas qualitativas e destaca as implicações e a importância dessa forma de pesquisar. Os métodos nas ciências humanas requerem uma postura da parte do pesquisador ou do cientista social de muita atenção, paciência e, acima de tudo, atitude crítica. O objeto de estudo das ciências humanas é de natureza diferente das ciências naturais ou exatas. Por isso necessita de flexibilidade para a pesquisa e a análise da realidade. Na busca da objetividade, predominou por muito tempo o paradigma positivista, o que levou a uma conduta indiferente da parte do pesquisador com os sujeitos/indivíduos, verdadeiros responsáveis pela S.S._5oP.indb 157 06 21 CAPÍTULO 2 • PesqUisA sOCiAL i realidade social. As lacunas deixadas pela prática objetivista levou à formu- lação de novos métodos e técnicas de análise social: a metodologia qualitativa, com prioridade para a interpretação da realidade. A partir do que foi visto neste capítulo, é importante que você tenha perce- bido que a pesquisa é indispensável para se chegar à compreensão de um determinado fenômeno. Para tanto, é necessário o uso de uma metodologia adequada, de modo a proporcionar ao pesquisador e ao profissional das ciên- cias sociais elementos suficientes para a compreensão das realidades. Ao relacionar com o Serviço Social, você deve ter percebido nas metodolo- gias qualitativas e quantitativas formas de busca de compreensão e de explicação da sociedade. Em outros termos, significa a utilização de uma conduta científica, seja a partir de um olhar da objetividade ou da subjetividade. O uso do modelo subjetivo não significa adotar uma prática alheia à ciência, nem descartar total- mente a objetividade, mas sim optar por uma conduta flexível e introspectiva. No próximo capítulo, você estudará sobre métodos e técnicas de ação e de pesquisa no Serviço Social. Serão destacados os principais métodos e as técnicas de pesquisa e de ação no Serviço Social e sua importância para a análise das realidades e das questões sociais. Anotações S.S._5oP.indb 158 12/2/aaaa 14:41:35 06 S.S – 5° PERÍODO – 4ª PROVA – 02/12/09 – 158 of 460 22 CAPÍTULO 3 • PesqUisA sOCiAL i Métodos e técnicas de pesquisa no Serviço Social 3 Introdução No primeiro capítulo, tratamos do conhecimento e da realidade e, no segundo, dos métodos em ciências humanas e da pesquisa social. A releitura dos temas abordados até então servirão de suporte para você articular a questão da prática do Serviço Social com seus métodos e suas técnicas, como também, as implicações das metodologias utilizadas nessa área. O Serviço Social, assim como qualquer outra área, necessita de métodos e técnicas para a pesquisa e a ação. O assistente social tem diante de si o desafi o de trabalhar com o que é por demais complexo, ou seja, o ser humano e a sociedade. Isso envolve valores, interesses, poder, ideologia, entre outras necessidades na relação do indivíduo com a sociedade. Nesse sentido, para a prática do Serviço Social, o assistente social necessita saber quais as principais formas de ação profi ssional junto às diferentes realidades que se apresentam no seu cotidiano. Isso signifi ca pensar em questões como as seguintes: o que fazer, como, por quê, para quê, com quem e quais os possíveis resultados que serão alcançados. Essas são algumas perguntas que se fazem presentes toda vez que se precisa trabalhar com as questões sociais. Com isso, o assistente social precisa de uma metodologia que lhe dê suporte para atingir os objetivos do seu trabalho. Neste capítulo, você vai estudar sobre os métodos e as técnicas de pesquisa e de ação utilizadas no Serviço Social. Serão trabalhados os principais aspectos da pesquisa quantitativa e qualitativa e suas implicações quanto ao Serviço Social. 3.1 Os métodos e as técnicas no Serviço Social O trabalho do assistente social demanda uma gama de recursos teóricos e metodológicos necessários para atender à sociedade e ao próprio profi ssional da área. O Serviço Social se detinha em um tipo de trabalho voltado para o atendimento social, mais especifi camente de uma maneira sutil, sem uma preo- cupação maior com a mudança social. Na verdade, como você já estudou em disciplinas anteriores (como em Introdução ao Serviço Social e Fundamentos Históricos, Teóricos e Metodológicos do Serviço Social), o trabalho do assistente social se resumia a ações isoladas, no auxílio aos menos favorecidos, mas como se fosse uma ação de caridade, de modo que via no assistido um problema isolado, alheio aos mecanismos que S.S._5oP.indb 159 06 23 Apostilas Brasil Caixa de texto Apostilas Brasil Caixa de texto CAPÍTULO 3 • PesqUisA sOCiAL i mantêm a estrutura injusta da sociedade e ao modeloeconômico e social respon- sável pela desigualdade social. A forma de pesquisa e de prática do Serviço Social nasceu com base em uma perspectiva teórica e metodológica positivista; o que significa ter uma postura dos problemas sociais conforme a lógica e os interesses da sociedade industrial capitalista. Na prática, o assistente social atuava de forma pontual, munido de instrumentos e técnicas objetivistas: formulários, questionários, experimentos. Como aponta Quadrado (s/d, p. 1), a pesquisa enquanto forma de investigar a realidade social já era utilizada pelo Serviço Social desde 1917, por meio da metodologia do diagnóstico social criado por Mary Richmond. Essa autora refere “a investigação ou coleta dos dados como reais”, como primeiro passo para a realização do diagnóstico, seguindo-se “o exame crítico e a comparação das realidades averiguadas” (RICHMOND citado por QUADRADO, s/d, p. 1) para ser possível a interpretação e o esclarecimento da realidade social. No Brasil, a metodologia quantitativa foi também por muito tempo a prin- cipal forma de prática do Serviço Social, seja no que diz respeito à ação ou à pesquisa social. Somente com o Movimento de Reconceituação, nos anos 80, é que a pesquisa é resgatada como condição básica para a construção teórico-me- todológica do projeto profissional de ruptura. Você já viu sobre a metodologia quantitativa, suas características gerais e principais aspectos. Agora, vejamos sobre essa metodologia no Serviço social. 3.2 Métodos quantitativos no Serviço Social Já sabemos que a metodologia quantitativa prioriza os aspectos que possi- bilitam a mensuração dos dados: questionários, estatísticas, experimentação, amostras. No Serviço Social, essa metodologia, embora tenha sua importância, tem contribuído muito mais para uma prática conservadora. Não se pode negar a relevância dos métodos quantitativos para verificar algo da realidade social; o que não deve haver é uma supervalorização do uso de métodos e técnicas quantitativas, o que leva a falhas na percepção da realidade, uma vez que há uma forte tendência a considerar realidade apenas o que pode ser medido por meio de estatísticas, gráficos, tabelas ou demonstrado com experimentações. Reflita Considerando o uso da metodologia quantitativa, por meio de questioná- rios, estatísticas, amostras, escalas, por exemplo, em que medida essa for- ma de abordagem pode ser utilizada, de modo que não favoreça uma con- duta extremamente técnica por parte do profissional assistente social? 06 S.S – 5° PERÍODO – 4ª PROVA – 02/12/09 – 160 of 460 24 CAPÍTULO 3 • PesqUisA sOCiAL i O Serviço Social, quando se preocupava apenas com o diagnóstico quan- titativo de uma dada realidade social, deixava de lado determinados aspectos da realidade que não apareciam nos dados quantitativos. Isso levava a inter- pretações muitas vezes precipitadas e atitudes de indiferença no que se refere à relação pesquisador e pesquisado – no caso, assistente social e assistidos. A metodologia quantitativa surgiu a partir da necessidade de se ter algo concreto que possibilitasse uma compreensão acerca de determinados fe- nômenos sociais. O termo quantitativo diz respeito à quantidade, isto é, aquilo que pode ser mensurado. Minayo e outros (2000, p. 30) nos ensinam que A questão do quantitativo traz a reboque o tema da objetivi- dade. Isto é, os dados relativos à realidade social seriam obje- tivos se produzidos por instrumentos padronizados, visando a eliminar fontes de propensões de todos os tipos e apresentar uma linguagem observacional neutra. Como destacam os autores, a questão da objetividade constitui uma preocu- pação central à necessidade de objetividade, isto é, daquilo que pode ser demons- trado com propriedade e segurança, a ponto de não deixar nenhuma dúvida. Com isso, surge o quantitativismo na pesquisa social, o que significa o uso indiscrimi- nado de instrumentos e técnicas como questionários, formulários, tabelas, amostras, escalas, experimentos, entre outros recursos que possibilitem a mensuração. Para os adeptos da metodologia quantitativa, a realidade social poderia ser mensurada de tal forma que seria possível o controle total de determinados fenômenos sociais. Mas o uso de métodos e técnicas quantitativas, embora tenha sua importância, pode iludir o pesquisador na busca da objetividade. Por exemplo, não é pelo fato de se ter aplicado um questionário, utilizando estatísticas, que se deve ter como verdade absoluta uma determinada pes- quisa. Foi por isso que surgiram os métodos e as técnicas qualitativos, os quais percorrem um caminho diferente da perspectiva quantitativa. Optar pela metodologia qualitativa é adotar um caminho oposto ao da quan- titativa. Esse tipo de pesquisa se preocupa “nas ciências sociais, com um nível S.S._5oP.indb 161 06 25 CAPÍTULO 3 • PesqUisA sOCiAL i de realidade que não pode ser quantificado [...] trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes”, afirmam Minayo e outros (2000, p. 22). Esse tipo de metodologia se opõe à objetividade e à rigidez adotada na quantitativa. Qualitativo significa se preocupar com a qualidade e não com a quantidade. Aspectos comportamentais, significados, valores, costumes, entre outros aspectos, são estudados a partir da abordagem qualitativa. Você vai estudar mais detalhadamente esse assunto nos capítulos 5, 6 e 7. Para alguns autores, como é o caso de Minayo e outros (2000, p. 15), o “objeto das ciências sociais é essencialmente qualitativo. A realidade social é o próprio dinamismo da vida individual e coletiva com toda riqueza de signifi- cados dela transbordante”. Veja, portanto, como as ciências sociais apresentam fortes discussões, como esta que você pode perceber: será que devemos utilizar somente uma dessas metodologias e ignorar a outra? Evidentemente que não, pois ambas têm sua importância no estudo dos fenômenos sociais. Para atender à necessidade de compreensão dos fenômenos sociais, as ciências sociais, entre elas a Sociologia, nasceram com base positivista, de modo a priorizar uma metodologia quantitativa para o estudo da sociedade. Foi com o processo de industrialização que a pesquisa social se desenvolveu. A dinâmica social protagonizada pelo surgimento das indústrias, pela urbani- zação e pelo mercado demandou estudos diversos com vistas à formação de uma sociedade organizada. Reflita Você já pensou sobre as diversas necessidades que uma cidade tem para atender à sua população? Se você parar para pensar sobre a estrutura de uma cidade, como residências, comércio, indústrias, áreas de lazer, entre outros espaços, perceberá que tudo demanda um mínimo de organização e, consequentemente, conhecimento. Os estudos realizados acerca das populações e de suas demandas têm contribuído significativamente para que os gestores das cidades saibam que ações devem ser realizadas a curto, médio e longo prazo. É de posse dos indicadores sociais que é possível adotar medidas necessá- rias para as áreas como: saúde, educação, moradia, segurança, entre outras necessidades sociais. Você já estudou na disciplina de Indicadores Sociais como os dados quantitativos são fundamentais para a compreensão de determinados aspectos da realidade social. S.S._5oP.indb 162 12/2/aaaa 14:41:36 06 S.S – 5° PERÍODO – 4ª PROVA – 02/12/09 – 162 of 460 26 CAPÍTULO 3 • PesqUisA sOCiAL i Baptista (1994, p. 25) nos ensina que, Ao invés de serem excludentes ou opostas, as técnicas qualita- tivas e quantitativas, se devidamente utilizadas em uma pesquisa, poderão ser igualmente eficazes no aproveitamento e conheci- mento do tema em estudo. O importante é ressaltar que o pesqui- sador deve não só estar seguro das referências teórico-metodo- lógicas em que se está apoiando para que possa transitar e semovimentar sem se sentir em uma camisa de força de uma ou outra linha metodológica. A pesquisa social pode ser feita com base em métodos quantitativos ou qualitativos. Estes últimos têm sido bastante priorizados para o estudo de ques- tões sociais. Não se pode radicalizar quanto à importância desta ou daquela metodologia, mas é importante saber até que ponto uma complementa a outra. O surgimento de estudos com bases qualitativas trouxe importantes descobertas e contribuiu para se ter uma visão mais ampla sobre determinadas realidades. No Serviço Social, o uso das duas metodologias (quantitativa e qualitativa) pode ser encontrado em diversas situações. Conforme você já estudou até aqui, nota-se a predominância de técnicas quantitativas, especialmente quando se usam questionários, formulários, dados estatísticos, amostras, escalas e outras formas de mensuração de dados da realidade social. As duas metodologias têm sido fundamentais para estudar aspectos da reali- dade social. Quando se precisa saber sobre índices da saúde, da segurança, sobre moradia, epidemias, entre outros, os dados quantitativos são indispensá- veis. As diversas organizações da sociedade, como empresas, escolas, hospitais, prefeituras e demais órgãos (públicos ou privados), em geral, para fazer algum tipo de acompanhamento de qualquer segmento da sociedade, necessitam levar em conta os dados quantitativos. É importante também saber que dados quantitativos podem ser utilizados para fazer uma leitura qualitativa de determinada realidade social. Portanto não se deve pensar em utilizar apenas uma metodologia em qualquer pesquisa social. De acordo com objetivos e objeto a ser estudado, é possível escolher instrumentos e técnicas qualitativas e ou quantitativas. Saiba mais Entre os vários livros de métodos e técnicas temos, também, na área de Serviço Social uma excelente produção. Indicamos, para você aprofundar o assunto desenvolvido neste capítulo, a obra A pesquisa em Serviço Social e nas áreas humano-sociais, organizada por Heloísa de Carvalho Barrili e outros autores, publicada pela editora Edipucrs, em 1998. Aproveite! S.S._5oP.indb 163 12/2/aaaa 14:41:36 06 S.S – 5° PERÍODO – 4ª PROVA – 02/12/09 – 163 of 460 27 CAPÍTULO 3 • PesqUisA sOCiAL i 3.3 Instrumentos de coleta de dados em pesquisa quantitativa Toda pesquisa necessita ser feita com instrumentos e técnicas que favoreçam ao pesquisador uma percepção mais ampla possível sobre o problema estudado. Assim, ao longo do tempo, os cientistas sociais foram criando pouco a pouco um leque de instrumentos e de técnicas, conforme as necessidades e os contextos nos quais se encontravam. Veja alguns aspectos desse tipo de abordagem. 3 .3 .1 Amostragem Lakatos e Marconi (1991, p. 30) ensinam que “a amostra é uma parcela conve- nientemente selecionada do universo (população); é um subconjunto do universo”. As amostras podem ser: a) simples, b) sistemáticas, c) aleatórias de múltiplo estágio, d) estratificada proporcional e estratificada não proporcional, e) por conglomerado, f) por tipicidade, g) por quotas. As autoras descrevem cada tipo de amostra e apresentam as suas vantagens e desvantagens. Observe o quadro a seguir. Quadro 1 Tipos de amostras – um comparativo. TIPO DESCRIÇÃO VANTAGENS DESVANTAGENS 1. Aleatória simples Atribuir a cada • elemento da população um número único. Selecionar a • amostra utili- zando números aleatórios. Requer o mínimo • de conhecimento antecipado da população. Livra de possí-• veis erros de classificação. Facilita a análise • de dados e o cálculo de erros. O conhecimento • da população, que o pesqui- sador possa ter, é desprezado. Para a mesma • extensão da amostra, os erros são mais amplos do que na amostragem. 2 . Sistemática Usar ordem • natural ou ordenar a população. Selecionar ponto de partida aleatório entre 1 e 10. Selecionar • a amostra segundo intervalos correspondentes ao número escolhido. Dá como efeito a • estratificação e, portanto, reduz a variabilidade em compa- ração com A, se a população é ordenada com respeito à propriedade relevante. Simplifica a • colheita de amostra; permite verificação fácil. Se o intervalo • de amostragem se relaciona a uma ordenação perió dica da população, pode ser intro- duzida variabili- dade crescente. Se há efeito de • estratificação, as estimativas de erro tendem a ser altas. S.S._5oP.indb 164 12/2/aaaa 14:41:36 06 S.S – 5° PERÍODO – 4ª PROVA – 02/12/09 – 164 of 460 28 CAPÍTULO 3 • PesqUisA sOCiAL i TIPO DESCRIÇÃO VANTAGENS DESVANTAGENS 3. Aleatória de múltiplo estágio Usar uma forma • de amostragem aleatória em cada um dos estágios, quando há pelo menos dois estágios. Oferece listas • de amostragem, identificação e numeração apenas para elementos das unidades de amostragem selecionadas. Diminui os custos • de viagem se as unidades de amostragem são definidas geograficamente. Os erros • tendem a ser maiores do que em A ou B, para a mesma extensão da amostra. Os erros • crescem com o decréscimo do número de unidades de amostragem escolhidas. 4. Estratificada a) Proporcional b) Não Proporcional Escolher, de • cada unidade de amos- tragem, amostra aleatória proporcional à extensão da unidade de amostragem. É a mesma • que a anterior, exceto que a extensão da amostra não é proporcional à extensão da unidade de amostragem, mas ditada por considerações analíticas ou de conveniência. Assegura repre-• sentatividade com respeito à propriedade que dá base para classificar as unidades; garante, pois, menor variabili- dade que A ou C. Decresce a • possibilidade de deixar de incluir elementos da população por causa do processo classificatório. Podem ser • avaliadas as características de cada estrato, pois são feitas comparações. É mais eficiente • que a anterior para compara- ções de estratos. Sob pena de • aumentar o erro, requer informação acurada acerca da proporção de população em cada estrato. Se não há listas • estratificadas disponíveis, prepará-las pode ser dispendioso; possibilidade de classificação errônea e de aumento da variabilidade. Menos eficaz • do que a 1 para determinar características da população, isto é, maior variabilidade para a mesma extensão da amostra. S.S._5oP.indb 165 12/2/aaaa 14:41:36 06 S.S – 5° PERÍODO – 4ª PROVA – 02/12/09 – 165 of 460 29 CAPÍTULO 3 • PesqUisA sOCiAL i TIPO DESCRIÇÃO VANTAGENS DESVANTAGENS 5. Por conglomerado Selecionar • unidades por alguma forma de amostragem aleatória; as unidades últimas são grupos; selecio- ná-los alea- toriamente e fazer contagem completa de cada uma. Possibilita • baixos custos de campo se os conglomerados são definidos geograficamente. Requer relaciona-• mento de indiví- duos apenas nos conglomerados escolhidos. Podem ser • avaliadas as características dos conglome- rados, bem como da população. É suscetível de • utilização em amostras subse- quentes, já que os selecionados são os conglo- merados e não os indivíduos e a substituição de indivíduos pode ser permitida. Erros maiores • para extensões semelhantes, do que os que ocorrem em outras amostras probabilistas. Capacidade • para colocar elemento da população em um só conglomerado é exigida; a incapacidade de assim agir pode resultar em duplicação ou omissão de indivíduos. 6 . Por tipicidade Selecionar um • subgrupo de população que, à luz das infor- mações dispo- níveis, possa ser consideradocomo represen- tativo de toda a população; Fazer contagem completa ou subamostragem desse grupo. Reduz custo • de preparação da amostra e do trabalho de campo, pois unidades últimas podem ser escolhidas de modo que fiquem próximas umas das outras. Variabilidade • e desvios das estimativas não podem ser controlados ou medidos. Generalizações • arriscadas ou considerável conhecimento da população e do subgrupo selecionado é requerido. 7 . Por quotas Igual a 6• Introduzir • algum efeito de estratificação. Desvios devido à • classificação que o observador faz dos sujeitos e à seleção não aleatória em cada classe são introduzidos. Fonte: Lakatos e Marconi (1991, p. 57-58). S.S._5oP.indb 166 12/2/aaaa 14:41:36 06 S.S – 5° PERÍODO – 4ª PROVA – 02/12/09 – 166 of 460 30 CAPÍTULO 3 • PesqUisA sOCiAL i As considerações das autoras são importantes para perceber como uma pesquisa social pode ser feita de várias formas. Contudo é necessário saber que técnica pode ser mais útil para o estudo de determinada questão social. Você pode perceber também como cada uma das formas apresentadas apresenta suas vantagens e desvantagens no que diz respeito à confiabilidade que oferece. Conforme Lakatos e Marconi (1991), a escolha do instrumental metodológi- co está diretamente relacionada com o problema a ser estudado; a escolha dependerá dos vários fatores relacionados com a pesquisa, ou seja, a natu- reza dos fenômenos, o objeto da pesquisa, os recursos financeiros, a equipe humana e outros elementos que possam surgir no campo da investigação. Lembre-se de que uma amostra tem sua relevância quando de fato ela repre- senta algo, isto é, se oferece condições para que se tenha um perfil ou noção do universo (população) estudado. Laville e Dione (1999, p. 169) afirmam que O caráter representativo de uma amostra depende evidentemente da maneira pela qual ela é estabelecida. Diversas técnicas foram elaboradas para assegurar tanto quanto possível tal representati- vidade; mas apesar de seu requinte, que permite diminuir muitas vezes os erros de amostragem, isto é, as diferenças entre as características da amostra e as da população de que foi tirada, tais erros continuam sempre possíveis, incitando os pesquisadores a exercer vigilância e seu senso crítico. A representatividade significa que a pesquisa feita aponta aquilo que a maioria ou a totalidade pensa ou sabe sobre algo, muito embora seja por amostra, uma vez que é praticamente impossível saber tudo sobre algo ouvindo toda a população. 3.3.2 Questionários e formulários Consiste em uma das formas mais comuns de pesquisa quantitativa e apre- senta-se de três formas: a) aberto, b) fechado e c) misto. No aberto, temos uma pergunta que permite ao respondente apresentar livremente sua opinião sobre o assunto. Veja a seguir um exemplo. O que significa o curso de Serviço Social para você? S.S._5oP.indb 167 06 S.S – 5° PERÍODO – 4ª PROVA – 02/12/09 – 167 of 460 31 CAPÍTULO 3 • PesqUisA sOCiAL i No questionário fechado, temos uma pergunta e, em seguida, um conjunto de opções para que o pesquisado responda. Observe o exemplo. Como você analisa o curso de Serviço Social? a) ruim b) regular c) bom d) ótimo Observe que esse tipo de questão obriga o respondente a escolher uma das opções apontadas, isto é, trata-se de um tipo de questionário que não apresenta liberdade para o indivíduo pesquisado. Assim é possível uma maior manipu- lação. Em outros termos, significa que as respostas poderão não revelar de fato aquilo que se apresenta. Quanto ao misto, inclui os dois tipos de questões, abertas e fechadas. Veja o exemplo seguir. Como você analisa o curso de Serviço Social? a) ruim b) regular c) bom d) ótimo Por quê? Conforme Costa (1987), os questionários são necessários sempre que um cientista não dispõe de dados previamente coletados por instituições públicas sobre determinados dados. 3.3.3 Formulário O formulário é um tipo de questionário que, em geral, apresenta um nível de questões que exige a presença do pesquisador para preencher. Em geral, o assistente social que trabalha em algum órgão público ou privado lança mão desses instrumentos de pesquisa. No caso dos órgãos públicos, tem sido muito comum a sua utilização. S.S._5oP.indb 168 12/2/aaaa 14:41:36 06 S.S – 5° PERÍODO – 4ª PROVA – 02/12/09 – 168 of 460 32 CAPÍTULO 3 • PesqUisA sOCiAL i Veja no quadro a seguir as vantagens e desvantagens dos questionários e formulários, conforme aponta Lakatos e Marconi (1991). Quadro 2 Questionário e formulários – um comparativo. INSTRUMENTO VANTAGENS DESVANTAGENS Questionário Economiza tempo, viagens • e obtém grande número de dados. Atinge maior número de • pessoas simultaneamente. Abrange área geográfica • mais ampla. Economiza pessoal, tanto • em adestramento quanto em trabalho de campo. Obtém respostas mais rápidas • e precisas. Há maior liberdade nas • respostas, em razão do anonimato. Há mais segurança, pelo fato • de as respostas não serem identificadas. Há menos risco de distorção, • pela não influência do pesquisador. Há mais tempo para • responder e em hora mais favorável. Há mais uniformidade na • avaliação, em virtude da natureza impessoal do instrumento. Obtém respostas que • materialmente seriam inacessíveis. Percentagem pequena • dos questionários que voltam. Grande número de • perguntas sem respostas. Não pode ser aplicado a • analfabetos. Impossibilidade de • ajudar o informante em questões mal compreendidas. A dificuldade de • compreensão, por parte dos informantes, leva a uma uniformidade aparente. Na leitura de todas as • perguntas, antes de respondê-las, pode uma questão influenciar a outra. A devolução tardia preju-• dica o calendário ou sua utilização. O desconhecimento das • circunstâncias em que foram preenchidos torna difícil o controle e a verificação. Nem sempre é o esco-• lhido quem responde ao questionário. Exige um universo mais • homogêneo. S.S._5oP.indb 169 06 33 CAPÍTULO 3 • PesqUisA sOCiAL i INSTRUMENTO VANTAGENS DESVANTAGENS Formulário Utilizado em quase todo • segmento da população: analfabetos, alfabetizados, populações heterogêneas etc., porque seu preen- chimento é feito pelo entrevistador. Oportunidade de estabelecer • rapport, devido ao contato pessoal. Presença do pesquisador, • que pode explicar os obje- tivos da pesquisa, orientar o preenchimento do formulário e elucidar significados de perguntas que não estejam muito claras. Flexibilidade, para adap-• tar-se às necessidades de cada situação, podendo o entrevistador reformular itens ou ajustar o formulário à compreensão de cada informante. Obtenção de dados mais • complexos e úteis. Facilidade na aquisição de • um número representativo de informantes, em determinado grupo. Menos liberdade nas • respostas, em virtude da presença do entrevistador. Risco de distorções, • pela influência do aplicador. Menos prazo para • responder às perguntas; não havendo tempo para pensar, elas podem ser invalidadas. Mais demorado, por ser • aplicado a uma pessoa de cada vez. Insegurança das • respostas, por falta do anonimato. Pessoas possuidoras • de informações neces- sárias podem estar em lugares muito distantes, tornando a resposta difícil, demorada e dispendiosa. Fonte: Lakatos e Marconi (1991, p. 98-112). Tanto o questionário quanto o formulário requerem bastante cuidado e respon- sabilidade na sua formulação. As perguntas devem ser pensadas conforme o objetivo que se pretende alcançar com a pesquisa. É importante
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