Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Anotac¸o˜es sobre produto vetorial. Rodrigo Carlos Silva de Lima ‡ Universidade Federal Fluminense - UFF-RJ rodrigo.uff.math@gmail.com ‡ 1 Suma´rio 1 Produto vetorial 3 1.1 Produto vetorial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 1.2 Anti-comutatividade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 1.3 Produto misto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 1.3.1 < u× v, u >=< u× v, v >= 0. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10 1.3.2 Fo´rmula de Lagrange . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 2 Cap´ıtulo 1 Produto vetorial 1.1 Produto vetorial m Definic¸a˜o 1 (Produto vetorial em R2). Dado um vetor v ∈ R2. Seu produto vetorial e´ um vetor em R2 obtido pela rotac¸a˜o de v de 90 graus no sentido anti-hora´rio. m Definic¸a˜o 2 (Produto vetorial em R3). Dados dois vetores u = (u1, u2, u3) e v = (v1, v2, v3) ∈ R3, definimos seu produto vetorial como um vetor em R3 denotado por u×v ou u ∧ v, que e´ dado por u× v := ∣∣∣∣∣∣∣∣∣ e1 e2 e3 u1 u2 u3 v1 v2 v3 ∣∣∣∣∣∣∣∣∣ = (u2v3 − u3v2)e1 + (u3v1 − u1v3)e2 + (u1v2 − v1u2)e3 b Propriedade 1. Sejam u = (u1, u2, u3), v = (v1, v2, v3), w = (w1, w2, w3), vetores de R3 enta˜o vale que < u× v, w >= ∣∣∣∣∣∣∣∣∣ u1 u2 u3 v1 v2 v3 w1 w2 w3 ∣∣∣∣∣∣∣∣∣ 3 CAPI´TULO 1. PRODUTO VETORIAL 4 que por sua vez e´ igual ao volume do paralelepipedo gerado por u, v, w, com sinal . De outra maneira, existe um u´nico vetor p ∈ R3 tal que < p,w >= ∣∣∣∣∣∣∣∣∣ u1 u2 u3 v1 v2 v3 w1 w2 w3 ∣∣∣∣∣∣∣∣∣ p e´ u× v. ê Demonstrac¸a˜o. b Propriedade 2 (Compatibilidade com multiplicac¸a˜o escalar). Vale que (tu)× v = t(u× v) = u× (tv). Onde t ∈ R, u, v ∈ R3. ê Demonstrac¸a˜o. Sejam u = (x, y, z), v = (A,B,C) (tu)×v = ∣∣∣∣∣∣∣∣ e1 e2 e3 tx ty tz A B C ∣∣∣∣∣∣∣∣ = (tyC−tzB,−txC+tzA, txB−tyA) = t(yC−zB,−xC+zA, xB−yA) = = t ∣∣∣∣∣∣∣∣ e1 e2 e3 x y z A B C ∣∣∣∣∣∣∣∣ = t(u× v) por outro lado tambe´m e´ igual u×(tv) = ∣∣∣∣∣∣∣∣ e1 e2 e3 x y z tA tB tC ∣∣∣∣∣∣∣∣ = (ytC−ztB,−xtC+ztA, xtB−ytA) = t(yC−zB,−xC+zA, xB−yA). Que e´ ideˆntico aos outros valores calculados, enta˜o valem as identidades. b Propriedade 3 (Distributividade). Vale que (u+ v)× w = u× w + v × w. CAPI´TULO 1. PRODUTO VETORIAL 5 ê Demonstrac¸a˜o. b Propriedade 4. Dados vetores v 6= 0 e w de R3, enta˜o existe u tal que u× v = w ⇔< v,w >= 0. ê Demonstrac¸a˜o. Denotamos u = (u1, u2, u3), v = (v1, v2, v3), w = (w1, w2, w3). ⇒) Suponha que u× v = w vamos mostrar que < v,w >= 0. Calculamos w u× v := ∣∣∣∣∣∣∣∣ e1 e2 e3 u1 u2 u3 v1 v2 v3 ∣∣∣∣∣∣∣∣ = (u2v3 − u3v2)e1 + (u3v1 − u1v3)e2 + (u1v2 − v1u2)e3 calculamos o produto escalar de tal vetor resultante com v, ficamos com < v,w >= ((u2v3v1)︸ ︷︷ ︸ A − (u3v2v1)︸ ︷︷ ︸ B ) + ((u3v1v2)︸ ︷︷ ︸ B − (u1v3v2)︸ ︷︷ ︸ C ) + ((u1v2v3)︸ ︷︷ ︸ C − (v1u2v3)︸ ︷︷ ︸ A ) = 0 os termos marcados com mesmos s´ımbolos se anulam. ⇐) Supondo < v,w >= 0 = v1w1 + v2w2 + v3w3 enta˜o o vetor u = 1 ||v||v × w satisfaz a propriedade desejada, pois v×w := ∣∣∣∣∣∣∣∣ e1 e2 e3 v1 v2 v3 w1 w2 w3 ∣∣∣∣∣∣∣∣ = (v2w3−v3w2)e1+(v3w1−v1w3)e2+(v1w2−w1v2)e3 = u ′ = u|v|2 calculando o produto vetorial do vetor u′ acima com v (perceba que u′ e´ u vezes a norma de v fazemos desse modo para simplificar as contas, depois usaremos propriedade de produto vetorial), tem-se∣∣∣∣∣∣∣∣ e1 e2 e3 v2w3 − v3w2 v3w1 − v1w3 v1w2 − w1v2 v1 v2 v3 ∣∣∣∣∣∣∣∣ CAPI´TULO 1. PRODUTO VETORIAL 6 faremos as contas coordenada por coordenada, inciando com a primeira coordenada, temos v23w1 − v1v3w3 − v1v2w2 + w1v22 = (v22 + v23)w1 + v1(−v3w3 − v2w2) = agora usando 0 = v1w1+v2w2+v3w3 tem-se−v3w3−v2w2 = v1w1, manipulac¸a˜o semelhante faremos tambe´m nas outras coordenadas, disso segue = (v21 + v 2 2 + v 2 3)w1. Agora na segunda coordenada, tem-se −v2w3v3 + v23w2 + v21w2 − v1w1v2 = (v21 + v23)w2 + v2 (−v1w1 − w3v3)︸ ︷︷ ︸ v2w2 = usando o resultado do produto interno segue = (v21 + v 2 2 + v 2 3)w2. Agora calculamos a terceira coordenada v22w3 − v3v2w2 − v3v1w1 + v21w3 = (v21 + v22)w3 + v3 (−v2w2 − v1w1)︸ ︷︷ ︸ v3w3 = (v21 + v 2 2 + v3w3)w3. Pelas contas que fizemos acima, mostramos que u′ × v = w |v|2, enta˜o basta toma u′ |v|2 = u. Usamos aqui tambe´m que v 6= 0. b Propriedade 5. Sejam u, v aplicac¸o˜es diferencia´veis em um intervalo real I. Se valem as identidades u′(t) = au(t) + bv(t) v′(t) = cu(t)− av(t), a, b, c ∈ R enta˜o u(t)× v(t) e´ constante. ê Demonstrac¸a˜o. Calculamos a derivada [u(t)× v(t)]′ = u′(t)× v(t) + u(t)× v′(t) = CAPI´TULO 1. PRODUTO VETORIAL 7 substituindo os valores dados na propriedade e usando distributividade temos = au(t)× v(t) + b v(t)× v(t)︸ ︷︷ ︸ 0 +c u(t)× u(t)︸ ︷︷ ︸ 0 −au(t)× v(t) = 0 pois os termos no meio se anulam e os dos extremos se cancelam . A propriedade da derivada de uma func¸a˜o f : I → Rn ser nula implicar que f e´ constante, segue da desigualdade do valor me´dio . 1.2 Anti-comutatividade b Propriedade 6 (Anti-comutatividade). Sejam v, w ∈ R3. Vale a anti comutatividade v × w = −w × v. ê Demonstrac¸a˜o. Sejam v = (v1, v2, v3) , w = (w1, w1, w3), temos que v × w = ∣∣∣∣∣∣∣∣ i j k v1 v2 v3 w1 w2 w3 ∣∣∣∣∣∣∣∣ = (v2w3 − v3w2, v3w1 − v1w3, v1w2 − v2w1) w × v = ∣∣∣∣∣∣∣∣ i j k w1 w2 w3 v1 v2 v3 ∣∣∣∣∣∣∣∣ = (v3w2 − v2w3, v1w3 − v3w1, v2w1 − v1w2) perceba agora olhando para coordenada dos vetores que v × w = −v × w . $ Corola´rio 1. Como vale u×w = −w× u enta˜o u× u = −u× u⇒ 2u× u = 0v e por isso u× u = 0v. b Propriedade 7. Valem que 1. e1 × e2 = e3 2. e2 × e3 = e1 CAPI´TULO 1. PRODUTO VETORIAL 8 3. e3 × e1 = e2. Onde e1 = (1, 0, 0), e2 = (0, 1, 0), e3 = (0, 0, 1) sa˜o elementos da base canoˆnica de R3. ê Demonstrac¸a˜o. e1 × e2 = ∣∣∣∣∣∣∣∣ i j k 1 0 0 0 1 0 ∣∣∣∣∣∣∣∣ = (0, 0, 1) = e3. e2 × e3 = ∣∣∣∣∣∣∣∣ i j k 0 1 0 0 0 1 ∣∣∣∣∣∣∣∣ = (1, 0, 0) = e3. e3 × e1 = ∣∣∣∣∣∣∣∣ i j k 0 0 1 1 0 0 ∣∣∣∣∣∣∣∣ = (0, 1, 0) = e2. $ Corola´rio 2. Temos que (e1 × e2)× e1 = e3 × e1 = e2, ale´m disso e1 × (e2 × e1) = −e1 × (e1 × e2) = −e1 × e3 = e3 × e1 = e2. Logo a operac¸a˜o entre esses valores e´ associativa. b Propriedade 8. O produto vetorial em geral na˜o e´ associativo, isto e´, dados a, b, c pode valer que (a× b)× c 6= a× (b× c). CAPI´TULO 1. PRODUTO VETORIAL 9 ê Demonstrac¸a˜o. Tomamos por exemplo a = (1, 0, 0), b = (1, 1, 0) e c = (1, 1, 1). Temos que a× b = ∣∣∣∣∣∣∣∣ i j k 1 0 0 1 1 0 ∣∣∣∣∣∣∣∣ = (0, 0, 1), da´ı (a× b)× c = ∣∣∣∣∣∣∣∣ i j k 0 0 1 1 1 1 ∣∣∣∣∣∣∣∣ = (−1, 1, 0), ale´m disso (b× c)× c = ∣∣∣∣∣∣∣∣ i j k 1 1 0 1 1 1 ∣∣∣∣∣∣∣∣ = (1,−1, 0), da´ı a× (b× c) = ∣∣∣∣∣∣∣∣ i j k 1 0 0 1 −1 0 ∣∣∣∣∣∣∣∣ = (0, 0,−1). Portanto a× (b× c) = (0, 0,−1) e (a× b)× c = (−1, 1, 0), que sa˜o distintos, possuem mo´dulos e direc¸o˜es diferentes. b Propriedade 9. Sejam v1, v2, w ∈ R3 , c1, c2 constantes reais , enta˜o vale (c1v1 + c2v2)× w = c1(v1 × w) + c2(v2 × w). ê Demonstrac¸a˜o. b Propriedade 10. u× v = 0⇔ u‖v. ê Demonstrac¸a˜o. 1.3 Produto misto m Definic¸a˜o 3 (Produto misto). Dados u, v, w em R3, definimos o produto misto denotado por [u, v, w] como [u, v, w] =< u× v, w > . CAPI´TULO 1. PRODUTO VETORIAL 10 b Propriedade 11. Vale que [u, v, w] =< u, v × w > . ê Demonstrac¸a˜o. u× v = ∣∣∣∣∣∣∣∣ i j k u1 u2 u3 v1 v2 v3 ∣∣∣∣∣∣∣∣ = (u2v3 − u3v2, u3v1 − u1v3, u1v2 − u2v1) < u× v, w >= = u2v3w1︸ ︷︷ ︸ −b −u3v2w1︸ ︷︷ ︸ c +u3v1w2︸ ︷︷ ︸ d −u1v3w2︸ ︷︷ ︸ −e +u1v2w3︸ ︷︷ ︸ a −u2v1w3︸ ︷︷ ︸ −g . Agora v × w = ∣∣∣∣∣∣∣∣ i j k v1 v2 v3 w1 w2 w3 ∣∣∣∣∣∣∣∣ = (v2w3− v3w2, v3w1 − v1w3, v1w2 − v2w1) < v × w, u >= = u1v2w3︸ ︷︷ ︸ a −u1v3w2︸ ︷︷ ︸ −e +u2v3w1︸ ︷︷ ︸ b −u2v1w3︸ ︷︷ ︸ −g +u3v1w2︸ ︷︷ ︸ d − u3v2w1︸ ︷︷ ︸ −b , comparando os termos, percebemos que sa˜o iguais . b Propriedade 12 (Permutac¸a˜o circular). Vale que [u1, u2, u3] = [u3, u1, u2], isto e´, podemos ’rodar’ os termos . ê Demonstrac¸a˜o. [u1, u2, u3] =< u1, u2×u3 >= − < u1, u3×u2 >= − < u1×u3, u2 >=< u3×u1, u2 >= [u3, u1, u2]. CAPI´TULO 1. PRODUTO VETORIAL 11 1.3.1 < u× v, u >=< u× v, v >= 0. b Propriedade 13. < u× v, u >=< u× v, v >= 0. ê Demonstrac¸a˜o. Sejam u = (v1, v2, v3) , v = (w1, w1, w3), temos que u× v = ∣∣∣∣∣∣∣∣ i j k v1 v2 v3 w1 w2 w3 ∣∣∣∣∣∣∣∣ = (v2w3 − v3w2, v3w1 − v1w3, v1w2 − v2w1) tomando produto interno com u = (v1, v2, v3) segue que < u× v, u >= = v2w3v1︸ ︷︷ ︸ a − v1v3w2︸ ︷︷ ︸ b + v2v3w1︸ ︷︷ ︸ c − v2v1w3︸ ︷︷ ︸ a + v3v1w2︸ ︷︷ ︸ b − v3v2w1︸ ︷︷ ︸ c = 0, do mesmo modo < u× v, v >= = v2w3w1︸ ︷︷ ︸ a′ − v3w2w1︸ ︷︷ ︸ b′ + v3w1w2︸ ︷︷ ︸ b′ − v1w3w2︸ ︷︷ ︸ c′ +w3v1w2︸ ︷︷ ︸ c′ −w3v2w1︸ ︷︷ ︸ a′ = 0 b Propriedade 14. |u× v| = |u||v|sen(θ) onde θ ∈ [0, pi] tal que cos(θ) = < v,w >|v||w| e´ o aˆngulo entre os vetores. ê Demonstrac¸a˜o. Basta mostrar que |u× v|2+ < u, v >2= |u|2|v|2. b Propriedade 15. Vale que (u× v)× w =< u,w > v− < v,w > u. ê Demonstrac¸a˜o. Basta notar que (u× v)×w e < u,w > v− < v,w > u sa˜o formas trilineares, logo sa˜o iguais se assumem mesmo valor na base. CAPI´TULO 1. PRODUTO VETORIAL 12 m Definic¸a˜o 4 (Bases de mesma orientac¸a˜o). Duas bases de Rn, f = {f1, · · · , fn}, g = {g1, · · · , gn} definem a mesma orientac¸a˜o quando o determinante da matriz de mudanc¸a de base e´ positivo. Escrevemos g1 = a1 1f1 + · · ·+ a1 nfn ... gn = an 1f1 + · · ·+ an nfn a matriz de mudanc¸a de base e´ a11 · · · a1n ... ... ... an1 · · · ann . A matriz de mudanc¸a de base e´ sempre na˜o nula. Se f e g possuirem a mesma orientac¸a˜o , denotaremos tal fato por f ∼ g. b Propriedade 16. ∼ e´ uma relac¸a˜o de equivaleˆncia. ê Demonstrac¸a˜o. $ Corola´rio 3. Como o determinante da matriz de mudanc¸a de base na˜o e´ nulo, existem apenas duas classes definidas pela relac¸a˜o de equivaleˆncia. $ Corola´rio 4. Existem apenas duas orientac¸o˜es em Rn. m Definic¸a˜o 5 (Orientac¸a˜o positiva). Definimos a orientac¸a˜o positiva de Rn como aquela gerada pelos vetores canoˆnicos. A outra orientac¸a˜o e´ chamada de orientac¸a˜o ne- gativa. b Propriedade 17 (Derivac¸a˜o do produto vetorial). Vale que (v × u)′ = v′ × u+ v × u′. ê Demonstrac¸a˜o. CAPI´TULO 1. PRODUTO VETORIAL 13 $ Corola´rio 5. Vale a regra da derivada do produto, logo vale a fo´rmula de integrac¸a˜o por partes. Z Exemplo 1. A base {(1, 2), (4, 2)} de R2 e´ positiva? Escrevemos (1, 3) = 1(1, 0) + 3(0, 1) (4, 2) = 4(1, 0) + 2(0, 1) a matriz de mudanc¸a de base fica como 1 3 4 2 cujo determinante e´ −10 logo essa base na˜o e´ positiva. Z Exemplo 2. A base {(1, 3, 5), (2, 3, 7), (4, 8, 3)} de R3 e´ positiva? Escrevemos (1, 3, 5) = 1(1, 0, 0) + 3(0, 1, 0) + 5(0, 0, 1) (2, 3, 7) = 2(1, 0, 0) + 3(0, 1, 0) + 7(0, 0, 1) (4, 8, 3) = 4(1, 0, 0) + 8(0, 1, 0) + 3(0, 0, 1) a matriz de mudanc¸a de base fica como 1 3 5 2 3 7 4 8 3 cujo determinante e´ 39, logo a base e´ positiva. b Propriedade 18. Considere um plano P em R3 dado pela equac¸a˜o ax+ by + cz = d enta˜o o vetor (a, b, c) e´ normal ao plano. CAPI´TULO 1. PRODUTO VETORIAL 14 ê Demonstrac¸a˜o. Seja (x1, y1, z1) um ponto qualquer do plano, enta˜o a reta (x1, y1, z1)+ t(a, b, c) corta o plano em apenas um ponto, pois substituindo na equac¸a˜o do plano, tem-se ax1 + by1 + cz1︸ ︷︷ ︸ =d +t(a2 + b2 + c2) = d⇒ t(a2 + b2 + c2) = 0⇒ t = 0 logo o u´nico ponto de tal reta no plano e´ (x1, y1, z1). Agora tomamos um ponto (x2, y2, z2) distinto do primeiro tomado, e o vetor no plano (x2 − x1, y2 − y1, z2 − z1) vamos mostrar que tal vetor forma aˆngulo reto com (a, b, c) por meio do produto escalar < (a, b, c), (x2 − x1, y2 − y1, z2 − z1) >= ax2 + bx2 + cx2︸ ︷︷ ︸ =d − (ax1 + bx1 + cx1)︸ ︷︷ ︸ d = 0 portanto (a, b, c) e´ normal ao plano. b Propriedade 19. A distaˆncia do plano ax+ by + cz = d ate´ a origem e´ dada por |d|√ a2 + b2 + c2 . ê Demonstrac¸a˜o. Tomamos a reta que passa pela origem e tem vetor diretor (a, b, c) r(t) = (0, 0, 0) + t(a, b, c) = t(a, b, c) encontraremos o valor de t em que a reta intersecta o plano, substituindo na equac¸a˜o do plano t(a2 + b2 + c2) = d⇒ t = d a2 + b2 + c2 enta˜o o ponto de intersecc¸a˜o e´ A = (da, db, dc) a2 + b2 + c2 calculando a distaˆncia desse ponto ate´ a origem d(A,O) = √ d2a2 (a2 + b2 + c2)2 + d2b2 (a2 + b2 + c2)2 + d2c2 (a2 + b2 + c2)2 = |d|√ a2 + b2 + c2 . Essa deve ser a menor distaˆncia, pois se a reta partindo da origem fizesse um aˆngulo dife- rente do aˆngulo reto, intersectando o plano num ponto P1, podemos tomar um triaˆngulo retaˆngulo onde d(P,O) seria um cateto, Op1 seria a hipotenusa do triaˆngulo, da´ı seu comprimento seria maior que d(A,O), justificado pelo teorema de Pita´goras d(P1, O) 2 = d(A, 0)2 + d(A,P1) 2. CAPI´TULO 1. PRODUTO VETORIAL 15 b Propriedade 20. O aˆngulo θ entre dois planos pi1 e pi2 que possuem vetores normais v1 e v2 respectivamente e´ dado por cos(θ) = < v1, v2 > |v1||v2| . ê Demonstrac¸a˜o. Seja α o aˆngulo entre os vetores normais e β o aˆngulo entre os planos, formamos um quadrila´tero ABCD, onde A e´ ponto de encontro das retas que passam por pontos B ∈ pi1 C ∈ pi2 dos planos e tem direc¸a˜o do vetor normal a cada plano , D um ponto da intersecc¸a˜o entre os planos. O aˆngulo em D̂ = θ e´ o aˆngulo entre os planos, os aˆngulos B̂ e Ĉ sa˜o retos, o aˆngulo em  e´ α. Como a soma dos aˆngulos internos de um quadrila´tero deve ser 360◦ enta˜o θ+α = 180◦, α = 180◦− θ da´ı segue que cos(θ) = cos(α) por trigonometria. $ Corola´rio 6. Dados os planos a1x + b1y + c1z = d1 e a2x + b2y + c2z = d2, enta˜o o aˆngulo e´ dado por cos(θ) = a1a2 + b1b2 + c1c2√ a21 + b 2 1 + c 2 1 √ a22 + b 2 2 + c 2 2 . Z Exemplo 3. Calcular o aˆngulo de intersecc¸a˜o entre os planos 5x+ 3y + 2z = 4, 3x+ 4y − 7z = 0. cos(θ) = 13√ 38 √ 74 . b Propriedade 21. Dados os planos a1x+ b1y + c1z = d1 e a2x+ b2y + c2z = d2 enta˜o uma condic¸a˜o necessa´ria e suficiente para que eles sejam paralelos e´ que a1 a2 = b1 b2 = c1 c2 . ê Demonstrac¸a˜o. Os planos sa˜o paralelos⇔ os vetores normais ao plano possuem a mesma direc¸a˜o, isto e´, sa˜o mu´ltiplos, da´ı existe k, tal que (a1, b1, c1) = k(a2, b2, c2). b Propriedade 22. Se P = (x, y, z) satisfaz < (P − P1)× (P − P2), P − P3 >= 0 CAPI´TULO 1. PRODUTO VETORIAL 16 onde P1, P2 e P3 sa˜o pontos distintos na˜o colineares, enta˜o x pertence ao plano determinado por esses pontos. ê Demonstrac¸a˜o. Se P pertence a reta que passa por P1 e P2 enta˜o os vetores (P − P1) e (P − P2) sa˜o colineares e o produto vetorial e´ nulo, resultando num produto escalar nulo, caso contra´rio sa˜o vetores linearmente independentes no plano e seu produto vetorial gera um vetor normal ao plano, cujo produto escalar com um vetor do plano P − P3 e´ nulo. b Propriedade 23. Dados dois planos paralelos a1x+b1y+c1z = d1 e a2x+b2y+c2z = d2 ê Demonstrac¸a˜o. 1.3.2 Fo´rmula de Lagrange b Propriedade 24 (Fo´rmula de Lagrange). Vale que a× (b× c) = b < a, c > −c < b, a > . ê Demonstrac¸a˜o. m Definic¸a˜o 6 (Vetores rec´ıprocos). Dados treˆs vetores na˜o-coplanares a1, a2 e a3, os vetores ak = ak+1 × ak+2 < a1, a2 × a3 > sa˜o chamados de vetores rec´ıprocos . Estamos denotando aqui a4 = a1, a5 = a2, a6 = a3, etc . b Propriedade25. Vale que < ak, aj >= δ(k, j), onde δ(k, k) = 1 e δ(k, j) = 0, k 6= j e´ o delta de kronecker. CAPI´TULO 1. PRODUTO VETORIAL 17 ê Demonstrac¸a˜o. Suponha primeiro que j 6= k, enta˜o < ak, aj >=< ak+1 × ak+2 < a1, a2 × a3 >, aj >, sendo que, como k 6= j enta˜o aj = ak+1 ou ak+2, segue que < ak+1× ak+2, aj >= 0 por propriedade que ja´ mostramos do produto misto . Agora se k = j, tem-se < ak, ak >=< ak+1 × ak+2 < a1, a2 × a3 >, ak >= 1 [a1, a2, a3] [ak, ak+1, ak+2] permutamos os elementos em [ak, ak+1, ak+2] ate´ que coincidam com [a1, a2, a3], o que e´ poss´ıvel pois k ∈ {3, 2, 1}. b Propriedade 26. Dado um vetor V , sendo a1, a2, a3 ∈ R3 na˜o coplanares, enta˜o V = 3∑ k=1 < V, ak > ak, V = 3∑ k=1 < V, ak > a k. ê Demonstrac¸a˜o. Como a1, a2, a3 sa˜o na˜o coplanares, formam uma base de R3, enta˜o qualquer vetor V pode ser escrito como V = c1a2 + c2a2 + c3a3 = 3∑ k=1 ckak, aplicamos o produto interno < aj, > < V, aj >= 3∑ k=1 ck < ak, a j >= cj 1︷ ︸︸ ︷ < aj, a j > = cj, enta˜o cj =< V, a j > em V = 3∑ k=1 ckak, onde usamos que < ak, a j >= 0, j 6= k e < aj, a j >= 1 o que cancela todos os termos do somato´rio menos com j = k. Vamos mostrar que {a1, a2, a3} e´ um conjunto LI . Suponha enta˜o c1a 1 + c2a 2 + c3a 3 = 0, CAPI´TULO 1. PRODUTO VETORIAL 18 aplicando < a1, > tem-se c1 < a 1, a1 >= 0 = c1, aplicando < a2, > segue c2 < a2, a 2 >= 0 = c2, finalmente c3 deve ser nulo tambe´m, enta˜o {a1, a2, a3} e´ um conjunto LI e da´ı base de R3, por isso qualquer vetor V de R3 pode ser escrito como V = c1a 1 + c2a 2 + c3a 3, aplicando < a1, >,< a2, >, < a3, > tem-se respectivamente, < V, a1 >= c1, < V, a2 >= c2, < V, a3 >= c3, de onde segue que V = 3∑ k=1 < V, ak > a k. m Definic¸a˜o 7 (Componentes covariantes e contravariantes de um vetor). Definimos a componente covariante de um vetor V como Vj =< V, aj >, e sua componente contravariante como V j =< V, aj > . Definimos tambe´m gij =< ai, aj > gij =< ai, aj > . b Propriedade 27. Valem que 1. V j = 3∑ k=1 Vkg ij CAPI´TULO 1. PRODUTO VETORIAL 19 2. Vj = 3∑ k=1 V kgij. ê Demonstrac¸a˜o. 1. Da identidade que provamos V = 3∑ k=1 < V, ak > ak, usando as notac¸a˜o que definimos, tem-se V = 3∑ k=1 V kak, aplicando < aj, > segue < V, aj >= V j, usamos agora V = 3∑ k=1 Vk︷ ︸︸ ︷ < V, ak >a k, no lugar de V na identidade anterior temos 3∑ k=1 Vk gkj︷ ︸︸ ︷ < ak, aj > = V j portanto 3∑ k=1 Vkg kj = V j. 2. Da identidade que provamos V = 3∑ k=1 < V, ak > a k, mudando para a notac¸a˜o definida segue V = 3∑ k=1 Vka k, aplicando < aj, > temos < V, aj >= Vj, CAPI´TULO 1. PRODUTO VETORIAL 20 usando agora V = 3∑ k=1 V k︷ ︸︸ ︷ < V, ak >ak, no lugar de V na identidade anterior tem-se 3∑ k=1 V k gjk︷ ︸︸ ︷ < aj, ak > = Vj, portanto 3∑ k=1 V kgjk = Vj. b Propriedade 28. Vale que < V, V >= 3∑ j=1 V jVj = 3∑ j=1 3∑ t=1 VjVtg tj = 3∑ j=1 3∑ k=1 V jV kgjk. ê Demonstrac¸a˜o. Ja´ mostramos que V j = 3∑ t=1 Vtg tj, usamos tal identidade em 3∑ j=1 V jVj = 3∑ j=1 Vj 3∑ t=1 Vtg tj = 3∑ j=1 3∑ t=1 VjVtg tj, agora usamos na mesma equac¸a˜o outra identidade que ja´ mostramos Vj = 3∑ k=1 V kgjk 3∑ j=1 V jVj = 3∑ j=1 V j 3∑ k=1 V kgjk = 3∑ j=1 3∑ k=1 V jV kgjk, falta enta˜o mostrar que < V, V >= 3∑ j=1 V jVj isso segue das identidades V = 3∑ k=1 V kak = 3∑ j=1 Vja j, CAPI´TULO 1. PRODUTO VETORIAL 21 substituindo no produto interno, segue < V, V >= 3∑ k=1 3∑ j=1 V kVj < ak, a j >= 3∑ j=1 V jVj, onde usamos a propriedade de < aj, a j >= 1 e < ak, a j >= 0 caso contra´rio . Com tais identidades temos o que quer´ıamos mostrar .
Compartilhar