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Universidade estadual de Maringá Centro de ciências humanas letras e artes. Departamento-Filosofia. Aluno: Jackson Moreira. E-mail. Jackson_moreira45@hotmail.com Orientador: Dr. Max Rogério Vicentini. Programa: PIBIC. Curso: Filosofia. Instituição: Universidade Estadual de Maringá. A dança transmitindo conhecimento em uma perspectiva semiótica. Maringá, 2015. O presente projeto tem como propósito questionar a possibilidade de investigação da dança através da semiótica, formulada pelo filósofo Charles Sanders Peirce. Temos como pressuposto que a dança pode ser vista como um processo de criação de linguagem e de transmissão de conhecimento, com isso, a investigação específica é mapear e organizar quais os caminhos para a realização desta tarefa. A semiótica A semiótica é considerada o estudo das diferentes formas de linguagem, é uma ciência que faz leituras de representações, sejam elas humanas físicas ou naturais. Este estudo faz uma análise de como o homem interpreta os fenômenos, utilizando a percepção para caracterizar a reação que esses fenômenos provocam em nossa mente. A semiótica apresentada nesta pesquisa foi formada pelo filósofo Charles Sanders Peirce, entende-se a teoria como “filosofia científica da linguagem” 1, a semiótica trabalha com a representação dos fenômenos, é o modo de entender os significados das coisas. Peirce ao desenvolver sua teoria propôs que a semiótica faz parte de um novo modelo de método para investigação, ele também considerou que o método pode ser o fundamento de várias pesquisas, ou seja, Peirce considera que sua teoria possa ser utilizada em qualquer área do saber. Peirce,segundo a compreensão de Santaella (2005), procurou desenvolver um método que pudesse ser aplicado aos diferentes campos de estudos. Ele não só discutiu as fundações dos métodos, mas deixou um vastíssimo material a respeito de como utilizá-los, material este que pode e deve ser levado em consideração por qualquer investigador, esteja ele onde estiver na física ou na poesia. (SANTAELLA, o método anticartesiano de C. S. Peirce. P. 27, 2005). Peirce afirma que não podemos pensar sem signo. Signo é qualquer coisa que se apresente para nos, fazendo referência a outra coisa, ou seja, a apresentação do fenômeno dará origem a uma idéia. Qualquer signo que se apresente para nós tem três dimensões que são suas categorias ou tricotomia; Primeiridade, Secundidade e Terceiridade. A primeira se refere às qualidades, que são propriedades primárias dos fenômenos como cor, forma, desenhos, cheiro entre muitas outras. Ao observar um arco-íris, a inferência primaria é julgar apenas suas cores, sem derivar o que elas 1 SANTAELLA. O que é semiótica. P. 1 2007. representam ou como elas surgiram, Peirce chamará essas qualidades primárias do signo de quali-signo. A segunda é apreendida na relação do fenômeno com o signo, são representação de existências e indicam algo sobre o fenômeno como uma espécie de referência, ou seja, é a forma como as propriedades se materializam, por exemplo, avisto na areia uma pegada (marca de pés) imediatamente essa marca nos remete à ideia de que alguém passou por aquele local, mas sem saber de imediato se foi um homem ou uma mulher, se era alto ou baixo etc., a secundidade é também denominada de sin-signo. A terceira é a mediação entre duas coisas e é a interpretação do fenômeno na forma de lei, é também o princípio governador que rege nosso pensamento, funciona quando o signo se concretiza agindo no mundo como regra geral e generalizante, essa terceira dimensão é o efeito que o signo provoca na mente interpretadora, esse efeito pode ser emocional, um esforço (energético), e lógico, isto é, a bandeira do Brasil é um símbolo que há muito tempo representa nosso país, esse terceiro tipo de signo é denominado de legi-signo. O signo é, portando, qualquer manifestação ou fenômeno que se apresenta para nós, sendo que nele estão contidas três dimensões que são as categorias que podemos representar segundo Pierce como, qualidade, existência e lei. Essa divisão é fundamentada entre o signo, objeto e interpretante. Peirce também classifica essas três categorias como, quali-signo, sin-signo e legi-signo. Quanto aos efeitos dos signos, Peirce nos revela que quando ele se refere a sua qualidade, o quali-signo, temos um ícone que se apresenta por uma força de semelhança como, por exemplo, uma fotografia que nos apresenta fortes traços do objeto que foi fotografado. O sin-signo se apresenta como um índice, indicado uma relação, por exemplo, a terra molhada é o indício que choveu. O legi-signo é o símbolo que é caracterizado por convenções social tomado como uma regra lógica, como a imagemda suástica que é o símbolo do nazismo. Assim, entendemos, a partir das divisões dos signos, que essas propriedades atuam conjuntamente, pois em quaisquer manifestações encontram-se essas definições. De acordo com Peirce, os signos se diferenciam dependendo da relação entre os elementos que compõem um signo e de sua ação específica (ou semiose). Quando um signo diz respeito ao signo em si mesmo (primeiro elemento da tríade), pode ser classificados em quali-signo, sin-signo ou legisigno. Quanto à relação de um signo com o seu objeto dinâmico, o signo pode ser classificado como ícone, índice e símbolo. Quanto à relação do signo com o(s) interpretante(s), o signo pode ser classificado como rema, dicente e argumento. 2 A dança Existem várias teorias que explicam o que é a dança, umas buscam seu fundamento histórico estudando os movimentos comuns junto à antropologia como relação do corpo junto a sua cultura, a fim de entender como cada corpo expressa a sua cultura. Outras apresentam a dança como uma mera atividade artística que tem como fundamento estético ou a reprodução de espetáculos, sendo seu foco principal apenas o entretenimento e a diversão das pessoas. Acreditamos que toda teoria que possa explicar o fenômeno da dança é muito importante para nossa compreensão do fenômeno, pois, cada uma releva um modo diferente de se explicar, pensar e questionar essa manifestação cultural. Em nosso estudo, contudo, discute-se a possibilidade da semiótica tratar a dança como uma linguagem não verbal, um veículo para a produção e transmissão de ideias. Foi a partir da década de 50 3 que os estudiosos começaram a questionar a dança como um processo de linguagem, esses estudos deixam de lado as teorias tradicionais sobre a dança, para realizar estudos específicos sobre o que os movimentos junto ao corpo representam. Para não fugirmos do nosso objetivo, citaremos três estudiosos dessa época que questionaram o corpo e a dança como François Delsart 4 , Emile-Jacques 5 Dalcroze e Rudolf Laban 6 . O último, RodolfLaban, foi um grande teórico da dança que nasceu no ano 1879 em Bratislava Hungria, e Morreu em 1958, segundo as autoras Rangel e Mommensohn 7 , para Lanban o homem se movimenta para se expressar, diferente do que ocorre com os animais, pois é facilmente notável que um homem imite os movimentos de animais, porém é difícil encontrar animais imitando gestos dos seres humanos, além disso, para Laban o nosso corpo é a nossa primeira forma de expressão de transmissão da linguagem, visto que existem situações em nossas vidas que ficamos sem palavras para dizer o que estamos sentindo, mas, nossa postura corporal pode dizer 2 http://www.pucsp.br/pos-graduacao/mestrado-e-doutorado/comunicacao-e-semiotica#113 SOUZA. GESTOS, MOVIMENTOS E LINGUAGEM: Uma análise semiótica da dança do Golfo Pérsico. P 22. 4 http://www.elianacaminada.net/delsart.htm 5 http://www.cdof.com.br/danca1.htm 6 http://www.cdof.com.br/danca1.htm 7 RENGEL.e MOMMENSOHN. O corpo e conhecimento: dança educativa. P 102. 2010 algo que seria inexplicável, assim, essas pesquisas abriram possibilidades diferentes para o estudo do movimento. A Semiótica Aplicada à Dança Considerando que Peirce elabora um método de investigação que pode ser utilizado em qualquer campo do saber, afirmamos inicialmente que temos a possibilidade de empregar sua semiótica para efetuar uma análise das práticas corporal presentes na dança. Para se fazer uma análise semiótica é muito importante lembrar que a interpretação está inteiramente ligada ao repertório cultural e social em que o intérprete está inserido, ou seja, devem-se levar em conta todas as suas experiências e vivências, pois cada indivíduo pode interpretar da sua própria maneira. Além disso, todas as manifestações que estão envolvidas em um espetáculo de dança podem também ser investigadas, como por exemplo, os figurinos, a maquiagem, o cenário entre outros. Os gestos, contudo, receberão atenção especial em nosso estudo e serão enfocados primordialmente em nossa análise. Procuraremos observar se os movimentos podem nos relevar alguma ideia relacionada à semiótica, para isso apresentaremostrês fotos em que as pessoas estão dançando, com o intuito de extrair os conceitos de índice, Ícone e símbolo que pertence ao signo. Extraímos então, da primeira foto,um Índice (quale-signo), da segunda um ícone (sin-signo) e apresentaremos um possível símbolo (legi-signo) que se representa na terceira. Lembramos que não estamos fazendo uma análise da foto em questão, mas tentando interpretar a partir dos movimentos e figurinos se realmente eles podem transmitir algum signo, isto é, algo que se apresenta à percepção e à consciência e transmite ideias para o pensamento. Tendo então a base semiótica, começaremos a desenvolver nossa análise. A primeira foto remete-nos ao conceito de índice, observamos que bailarina está sentada em cima de sua perna esquerda e a direita está alongada para frente, seu tronco está levemente inclinado para frente e seus braços estão estendidos para traz. De acordo com nosso conhecimento cultural, o que extraímos, com o conceito de índice, é que a bailarina indica que está representado um cisne, isso porque a forma com que o movimento se apresenta para nos é um indicativo do cisne, já que ela pertence ao espetáculo “o lago do cisne”. Por sua vez, no índice não encontramos similaridade, ele apenas indica algo, isso se justifica ao afirmar que a bailarina não tem aspectos “reais” ou similares de um cisne. O índice, por sua vez, é um tipo de signo que se refere ao objeto designado em virtude de ser realmente afetado por ele. E é isto que o caracteriza como índice, não os traços de similaridade, já que, tendo em comum com o objeto alguma qualidade, envolve também uma espécie de ícone. (VALENTE E BROSSO. Elementos da semiótica. P 111, 1999). Acessado em: http://lariduarte.com/o-lago-dos-cisnes-in-rio/sem-categoria Quando existe similaridade entre o objeto e signo, podemos empregar o conceito de ícone, pois o ícone é capaz de substituir o objeto, ele copia o fenômeno representado em diferentes formas. A foto a seguir mostra que a bailarina está inclinada com os seus pés para cima, dando sua mão para o seu parceiro em um movimento que é recebe o nome de penché ( inclinado), e o bailarino também está inclinado, transparecendo um sentido de agradecimento. Esse gesto é comumente encontrado no Japão, onde o indivíduo ao agradecer alguém abaixa a sua cabeça e o seu tronco, assim, a gestualidade de referência na foto vincula-a à gratidão,logo, associamos o movimento do bailarino como o nosso “muito obrigado”. Acessado em: http://www.kirov.com/ Um símbolo é uma associação entre o fenômeno e a palavra que ele designa, é a ideia associada à palavra, ao observar a foto a seguir, o movimento que a bailarina está executando, alongando os braços para cima fazendo uma moldura para o seu rosto é propriamente encontrado no balé clássico, desta forma, a bailarina em questão representa um passo do balé, em qualquer coreografia que esse movimento se apresente inferimos que ele pertence ao balé clássico, e assim, este movimento que a bailarina executa é um símbolo, pois esse movimento nos remete imediatamente ao balé clássico Acessado em: http://www.ballet.co.uk/images/kirov/svetlana_zakharova_nikiya.jpg Conclusão. Ao analisarmos, a partir da semiótica, os movimentos de dança presentes nas fotografias, é possível observar que o sentido da dança se revela por meio da categoria de signos descrita por Peirce, pois para este autor, pensamos através de signos que são extraídos de quaisquer fenômenos, inclusive da dança. Desta maneira, a semiótica permite o reconhecimento da dança como um veículo de comunicação e produção do conhecimento, o movimento torna-se fonte de conhecimento quando ele é capaz de transmitir algo para alguém. Assim, a semiótica abre as portas para quem deseja estudar a dança como forma de transmissão de conhecimento estruturado em uma de linguagem não-verbal. Bibliografia BITTENCOURT, A. O papel das imagens nos processos de comunicação: ações do corpo, ações no corpo. Programa de Estudos Pós-graduandos em comunicação e semiótica – PUC-SP. Tese de Doutorado. São Paulo, 2007. DINIZ, T. SANTOS, G. Historia da dança-sempre. Paraná, GEPEF-LAPEF UEL, 2008. NELSON. E BROSSO. Elementos de Semiótica. Editora: panorama comunicações. 1ed. São Paulo, 1999. RENGEL, M. O corpo e conhecimento: dança educativa. 2010. SANTAELLA, o método anticartesiano de C. S. Peirce. São Paulo: Editora UNESP, 2004. SANTAELLA, Lucia. O que é semiotica. São Paulo: Brasi SOUZA. GESTOS, MOVIMENTOS E LINGUAGEM: Uma análise semiótica da dança do Golfo Pérsico. Monografia apresentada à FTESM como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel (Licenciatura) em Letras Português/Inglês. Rio de Janeiro, 2009.
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