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1 Direito Penal II Profa. M.Sc. Lidiane Lopes Prescrição 1. Conceito: a prescrição consiste na perda do direito de punir do Estado em decorrência do seu não exercício no prazo legal (limite temporal para o Estado exercer o jus persecutionis). Temos: a) Prescrição da Pretensão Punitiva (P.P.P) - antes do trânsito em julgado da sentença condenatória. Logo, é possível que já tenha sido proferido um decreto condenatório. Consequência: exclui os efeitos penais e extrapenais da decisão condenatória (não gera reincidência). b) Prescrição da Pretensão Executória (P.P.E): ocorre após o trânsito em julgado da decisão e acarreta o não cumprimento da sanção penal aplicada, mas gera a reincidência. Contagem: art. 109, CP (+ 1/3 se o condenado for reincidente). MARCOS TEMPORAIS: Cometimento Antes do Após o do crime trânsito em julgado trânsito em julgado da sentença penal da sentença condenatória P.P.P P.P.E Observação: trata-se de matéria de ordem pública que pode ser conhecida e declarada em qualquer fase do processo, inclusive, de ofício pelo magistrado. 2. Natureza Jurídica: causa extintiva da punibilidade, nos termos do art. 107, CP: Art. 107 - Extingue-se a punibilidade: IV - pela prescrição, decadência ou perempção; 2 Regra: os crimes prescrevem. CF/88: Art. 5º. LXXVIII - a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação. Exceção: a Constituição Federal de 1988 elenca os crimes imprescritíveis, são eles: Art. 5º. XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei; XLIV - constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático. Pergunta: seria esse rol taxativo, sem possibilidade de ampliação pelo legislador infraconstitucional? O tema é controverso. A despeito do assunto formaram-se algumas posições tanto na doutrina quanto na jurisprudência. Ademais, existe uma discussão acerca do crime de tortura que pelo Estatuto de Roma (art. 29) é imprescritível (crime de lesa-humanidade), porém inexiste previsão nesse sentido na Lei 9.455/97. 3. Espécies de Prescrição Prescrição propriamente dita A PPP possui três espécies: Prescrição retroativa (PPP) Prescrição superveniente/intercorrente ou subsequente Prescrição da Pretensão executória (PPE) Vejamos cada uma: a) Prescrição propriamente dita: trabalha com a tabela construída pela análise do artigo artigo 109, CP: Prazo Prescricional Pena 20 anos + 12 anos 16 anos + 8 anos a 12 anos 12 anos + 4 anos a 8 anos 8 anos + 2 anos a 4 anos 4 anos 1 ano a 2 anos 3 anos menos de 1 ano 3 Observação: o prazo prescricional é contado de acordo com a regra do artigo 10 do CP: Contagem de prazo Art. 10 - O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo. Contam-se os dias, os meses e os anos pelo calendário comum. Consequência prática: o prazo termina à véspera do dia correspondente. Ex: Caio cometeu o crime de furto simples (pena de 1 a 4 anos) no dia 10 de janeiro de 2010. Olhando a tabela do artigo 109, CP concluímos que a PPP ocorrerá no dia 09 de janeiro de 2018. Observação: incidem causas de interrupção e de suspensão, nos termos dos artigos 117 e 116 do CP, respectivamente, conforme veremos oportunamente. Entram no cálculo da PPP propriamente dita: a) Causas de Aumento e Diminuição de pena (3ª fase) b) Tentativa (diminui de 1/3 a 2/3) - neste caso, considera-se o mínimo de diminuição = 1/3. c) Qualificadoras d) Art. 115 do CP - menor de 21 anos na data do fato ou maior de 70 anos na data da sentença: redução pela 1/2 Redução dos prazos de prescrição Art. 115 - São reduzidos de metade os prazos de prescrição quando o criminoso era, ao tempo do crime, menor de 21 (vinte e um) anos, ou, na data da sentença, maior de 70 (setenta) anos. Não entram no cálculo da PPP propriamente dita: a) Concurso de crimes (material/formal/crime continuado): a prescrição deve incidir de forma isolada em relação a cada um: 4 Art. 119 - No caso de concurso de crimes, a extinção da punibilidade incidirá sobre a pena de cada um, isoladamente. STF: Súmula 497. Quando se tratar de crime continuado, a prescrição regula-se pela pena imposta na sentença, não se computando o acréscimo decorrente da continuação. b) Agravantes e Atenuantes (2ª fase) c) Reincidência: não influi na PPP e sim na PPE. STJ: Súmula 220. A reincidência não influi no prazo da prescrição da pretensão punitiva (PPP). Prescrição depois de transitar em julgado sentença final condenatória Art. 110 - A prescrição depois de transitar em julgado a sentença condenatória (PPE) regula-se pela pena aplicada e verifica-se nos prazos fixados no artigo anterior, os quais se aumentam de um terço, se o condenado é reincidente (+ 1/3 para o reincidente). Termo Inicial da PPP (lembre-se: antes do trânsito em julgado da decisão) Termo inicial da prescrição antes de transitar em julgado a sentença final (PPP) Art. 111 - A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, começa a correr: I - do dia em que o crime se consumou; II - no caso de tentativa, do dia em que cessou a atividade criminosa; III - nos crimes permanentes, do dia em que cessou a permanência; IV - nos de bigamia e nos de falsificação ou alteração de assentamento do registro civil, da data em que o fato se tornou conhecido; V - nos crimes contra a dignidade sexual de crianças e adolescentes, previstos neste Código ou em legislação especial, da data em que a vítima completar 18 (dezoito) anos, salvo se a esse tempo já houver sido proposta a ação penal. (Redação dada pela Lei nº 12.650, de 2012 - de 17 de maio de 2012 - lex gravior - não retroage) 5 Observação: Quanto aos crimes permanentes trazemos à colação importante posicionamento do STF (1ª e 2ª Turmas): EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. CRIME DE ESTELIONATO PREVIDENCIÁRIO. RÉU BENEFICIÁRIO DAS PARCELAS INDEVIDAS. CRIME PERMANENTE. PRESCRIÇÃO. TERMO INICIAL. HIGIDEZ DA PRETENSÃO PUNITIVA. PRECEDENTES. 1. Em tema de estelionato previdenciário, o Supremo Tribunal Federal tem uma jurisprudência firme quanto à natureza binária da infração. Isso porque é de se distinguir aquele que, em interesse próprio, recebe o benefício ilicitamente daquele que comete uma falsidade para permitir que outrem obtenha a vantagem indevida. No primeiro caso, a conduta, a despeito de produzir efeitos permanentes no tocante ao beneficiário da indevida vantagem, materializa, instantaneamente, os elementos do tipo penal. Já naquelas situações em que a conduta é cometida pelo próprio beneficiário e renovada mensalmente, o crime assume a natureza permanente, dado que, para além de o delito se protrair no tempo, o agente tem o poder de, a qualquer tempo, fazer cessar a ação delitiva. Precedentes. 2. Agravo regimental desprovido. (STF, ARE663735 AgR, Rel. Min. Ayres Britto, p. 19/03/12) No mesmo sentido posicionou-se a 3ª Seção do STJ: CRIMINAL. RESP. ESTELIONATO CONTRA O INSS. CRIME PERMANENTE. TERMO INICIAL PARA A CONTAGEM DO LAPSO PRESCRICIONAL. CESSAÇÃO DO RECEBIMENTO DAS PRESTAÇÕES INDEVIDAS. PRESCRIÇÃO INCORRETAMENTE DECRETADA EM PRIMEIRO GRAU. RECURSO DESPROVIDO. Sendo o objetivo do estelionato a obtenção de vantagem ilícita em prejuízo alheio, nos casos de práticacontra a Previdência Social, a ofensa ao bem jurídico tutelado pela norma é reiterada, mês a mês, enquanto não há a descoberta da aplicação do ardil, artifício ou meio fraudulento. Tratando-se, portanto, de crime permanente, inicia-se a contagem para o prazo prescricional com a supressão do recebimento do benefício indevido, e não do recebimento da primeira parcela da prestação previdenciária, como entendeu a decisão que rejeitou a denúncia. Recurso conhecido e desprovido, nos termos do voto do relator. (STJ, Terceira Seção, REsp 1206105/RJ, Rel. Ministro Gilson Dipp, j. 27/06/2012, DJe 22/08/2012). Observação: o mesmo entendimento se aplica aos crimes habituais, cujo prazo prescricional (PPP) inicia-se ao cessar a atividade criminosa (reiteração dos atos). 6 Causas Interruptivas da PPP: o prazo volta a correr por inteiro (salvo o inciso V) Art. 117 - O curso da prescrição interrompe-se: I - pelo recebimento da denúncia ou da queixa; II - pela pronúncia; III - pela decisão confirmatória da pronúncia; IV - pela publicação da sentença ou acórdão condenatórios recorríveis; V - pelo início ou continuação do cumprimento da pena; são causas interruptivas da VI - pela reincidência. PPE § 1º - Excetuados os casos dos incisos V e VI deste artigo, a interrupção da prescrição produz efeitos relativamente a todos os autores do crime. Nos crimes conexos, que sejam objeto do mesmo processo, estende-se aos demais a interrupção relativa a qualquer deles. § 2º - Interrompida a prescrição, salvo a hipótese do inciso V deste artigo, todo o prazo começa a correr, novamente, do dia da interrupção. Vejamos algumas peculiaridades: I - pelo recebimento da denúncia ou da queixa: 1º Grau: conta-se da data em que o escrivão recebeu os autos do processo com o despacho ou, em sendo o processo eletrônico, da data em que o despacho consta no sistema. 2º Grau: ex: julgamento de RESE contra o não recebimento da denúncia. O prazo é contado da data da sessão de julgamento (e não da publicação do acórdão no D.O). Implicações processuais - momento do recebimento da peça acusatória: CPP: Art. 396. Nos procedimentos ordinário e sumário, oferecida a denúncia ou queixa, o juiz, se não a rejeitar liminarmente, recebê-la-á e ordenará a citação do acusado para responder à acusação, por escrito, no prazo de 10 (dez) dias. (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008). 7 Observação: em regra, o oferecimento de aditamento à denúncia não interrompe a prescrição. Exceção: quando o aditamento acrescenta novo fato (crime) ou novo corréu, a prescrição fica interrompida com relação a este. Neste sentido: ADITAMENTO DA DENÚNCIA. AUSÊNCIA DE MODIFICAÇÃO SUBS TANCIAL DA EXORDIAL ACUSATÓRIA. PRESCRIÇÃO. INTERRUPÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. O aditamento da denúncia somente acarreta a interrupção da prescrição quando importar em modificação substancial do conteúdo da exordial acusatória, como a inclusão de novos fatos criminosos e de novos corréus. No caso dos autos, o aditamento da vestibular acusatória limitou-se a apenas retroagir a data do último ato delituoso e a corrigir o montante desviado, não podendo, pois, ser marco interruptivo do lapso prescricional. (STJ: REsp 1045631/SP, j. 08.11.2011). Mutatio e Emendatio Libelli: nestas situações, o prazo prescricional observará à nova capitulação legal, mas desde que não tenha ocorrida a prescrição com base na capitulação anterior. No Tribunal do Júri: Decisão de Desclassificação: a) pelo juiz (1ª fase): não interrompe a prescrição b) pelo Tribunal ao julgar o recurso interposto contra a decisão de pronúncia: não interrompe a prescrição c) pelo Tribunal do Júri (reconhecimento em Plenário): a decisão de pronúncia anteriormente proferida, continua sendo o marco interruptivo da prescrição. Neste sentido: STJ: Súmula 191. A pronúncia é causa interruptiva da prescrição, ainda que o Tribunal do Júri venha a desclassificar o crime. Inimputável: a sentença é absolutória imprópria. Não interrompe a prescrição. 8 COMUNICABILIDADE DAS CAUSAS INTERRUPTIVAS Art. 117. § 1º - Excetuados os casos dos incisos V e VI deste artigo, a interrupção da prescrição produz efeitos relativamente a todos os autores do crime. Nos crimes conexos, que sejam objeto do mesmo processo, estende-se aos demais a interrupção relativa a qualquer deles. 1ª parte: O dispositivo ao dispor que "(...) a interrupção da prescrição produz efeitos relativamente a todos os autores do crime", visa evitar que o corréu absolvido seja beneficiado com a demora na apreciação de um eventual recurso da acusação, pois do contrário, não haveria interrupção da prescrição. 2ª parte: "Nos crimes conexos, que sejam objeto do mesmo processo, estende-se aos demais a interrupção relativa a qualquer deles" Ex: réu que responde por furto + estelionato e é absolvido pelo primeiro e condenado pelo segundo. Causas Suspensivas da PPP: o prazo prescricional volta a correr de onde parou (pelo tempo restante). Estão previstas no art. 116 do CP, sob a rubrica de "causas impeditivas", vejamos: Causas impeditivas da prescrição Art. 116 - Antes de passar em julgado a sentença final, a prescrição não corre: I - enquanto não resolvida, em outro processo, questão de que dependa o reconhecimento da existência do crime; II - enquanto o agente cumpre pena no estrangeiro. Parágrafo único - Depois de passada em julgado a sentença condenatória, a prescrição (PPE) não corre durante o tempo em que o condenado está preso por outro motivo. 9 Outras causas suspensivas: CF: Deputados e Senadores: Art. 53 § 5º A sustação do processo suspende a prescrição, enquanto durar o mandato. CPP: a) Art. 366. Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir advogado, ficarão suspensos o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar a produção antecipada das provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar prisão preventiva, nos termos do disposto no art. 312. Tempo de suspensão: há divergência entre o STF e o STJ, vejamos: STF: prazo indeterminado (RE 460971/RS, j. 13.02.2007) STJ: Súmula 415. O período de suspensão do prazo prescricional é regulado pelo máximo da pena cominada. b) Art. 368. Estando o acusado no estrangeiro, em lugar sabido, será citado mediante carta rogatória, suspendendo-se o curso do prazo de prescrição até o seu cumprimento. Lei 9.099/95: Art. 89. § 6º Não correrá a prescrição durante o prazo de suspensão do processo. Análise do art. 108, CP - Crime Pressuposto Art. 108 - A extinção da punibilidade de crime que é pressuposto, elemento constitutivo ou circunstância agravante de outro não se estende a este. Nos crimes conexos, a extinção da punibilidade de um deles não impede, quanto aos outros, a agravação da pena resultante da conexão. 10 Prescrição superveniente/intercorrente ou subsequente: ocorre entre a data da publicação da sentença condenatória recorrível e o seu trânsito em julgado (lapso temporal). É umaespécie de PPP. Marco Inicial = data da publicação da sentença condenatória recorrível (mas com trânsito em julgado para a acusação) Marco Final = trânsito em julgado para ambas as partes (acusação e defesa) CP: Prescrição depois de transitar em julgado sentença final condenatória (PPE) Art. 110. § 1º A prescrição, depois da sentença condenatória com trânsito em julgado para a acusação ou depois de improvido seu recurso, regula-se pela pena aplicada, não podendo, em nenhuma hipótese, ter por termo inicial data anterior à da denúncia ou queixa. (Redação dada pela Lei nº 12.234, de 2010). Lembrar: PPP Superveniente - da condenação ao trânsito em julgado. Exemplo: Caio no ano de 2008 praticou o crime de furto simples (pena de 1 a 4 anos). Foi condenado em 2009 à pena de reclusão de 1 anos e 5 meses. A acusação não recorreu. A defesa apelou alegando a atipicidade da conduta em face do Princípio da Insignificância e requerendo a absolvição. Houve o trânsito em julgado para a acusação. Vamos agora à tabela do art. 109, CP: Prazo Prescricional Pena 20 anos + 12 anos 16 anos + 8 anos a 12 anos 12 anos + 4 anos a 8 anos 8 anos + 2 anos a 4 anos 4 anos 1 ano a 2 anos 3 anos menos de 1 ano Caso o recurso não seja julgado após 4 anos da publicação da sentença (marco inicial) haverá o reconhecimento da PPP SUPERVENIENTE no ano de 2013. PPP Retroativa: conta-se da sentença condenatória para trás - não podendo ter marco inicial anterior ao recebimento da denúncia ou queixa: Art. 110. § 1º A prescrição, depois da sentença condenatória com trânsito em julgado para a acusação ou depois de improvido seu recurso, regula-se pela pena aplicada, não 11 podendo, em nenhuma hipótese, ter por termo inicial data anterior à da denúncia ou queixa. (Redação dada pela Lei nº 12.234, de 2010). Pressuposto: trânsito em julgado para a acusação ou que o seu recurso seja improvido. Exemplo: Caio praticou o crime de furto simples em 2006 (pena de 1 a 4 anos). Em abril de 2007 o juiz recebeu a peça acusatória. No dia 20 de maio de 2011 foi publicada sentença penal condenatória recorrível, condenando-o à pena de 1 ano e 5 meses de reclusão. A acusação não recorreu. Levando em consideração a pena aplicada e o trânsito em julgado para a acusação, concluímos que: a prescrição retroativa ocorreu em abril de 2011 (4 anos - entre a data do recebimento da denúncia - abril de 2007 e a data da sentença penal condenatória - 20 de maio de 2011). Prescrição da Pretensão Executória - PPE Art. 110 - A prescrição depois de transitar em julgado a sentença condenatória regula-se pela pena aplicada e verifica-se nos prazos fixados no artigo anterior, os quais se aumentam de um terço, se o condenado é reincidente. Pressuposto: trânsito em julgado para a acusação e para a defesa (STF/STJ) ≠ redação do art. 112, CP (fala em trânsito em julgado para a acusação). Consequência do reconhecimento da PPE: exclui o cumprimento da sanção penal, mas subsistem os efeitos secundários, entre eles a reincidência. Termo inicial da PPE: Termo inicial da prescrição após a sentença condenatória irrecorrível Art. 112 - No caso do art. 110 deste Código, a prescrição começa a correr: I - do dia em que transita em julgado a sentença condenatória, para a acusação, ou a que revoga a suspensão condicional da pena ou o livramento condicional; II - do dia em que se interrompe a execução, salvo quando o tempo da interrupção deva computar-se na pena. Prescrição no caso de evasão do condenado ou de revogação do livramento condicional 12 Art. 113 - No caso de evadir-se o condenado ou de revogar-se o livramento condicional, a prescrição é regulada pelo tempo que resta da pena. Tema Polêmico: Polêmico Polêmico Polêmico Não há previsão legal. Leva em consideração uma análise pro futuro, projetando de acordo com o caso concreto qual seria a possível pena a ser aplicada em caso de condenação. Caso a pena a ser aplicada leva-se ao reconhecimento da prescrição, ensejaria a conclusão pela inutilidade da persecução penal. Exemplo: Em 21 de dezembro de 2000 Caio, primário e portador de bons atencedentes, praticou o crime de lesão corporal de natureza leve (art. 129, caput, CP - pena de 3 meses a 1 ano). Em janeiro de 2001, o juiz recebeu a peça acusatória (causa interruptiva da prescrição). Em julho de 2004 (ou seja, transcorridos 3 anos e 6 meses) a instrução ainda não havia sido encerrada. Diante da situação acima esboçada, percebe-se que na aplicação da pena, concorrendo apenas circunstâncias judiciais favoráveis e inexistindo causas de aumento, a pena a ser ao final fixada ficaria aquém do máximo e em concreto prescreveria em 3 anos, dando ensejo ao reconhecimento da PPP Retroativa (ocorrida entre a data da publicação da sentença condenatória e o recebimento da denúncia). Diante disso, defende-se que o juiz deveria reconhecer a extinção da punibilidade em face da prescrição em perspectiva. STF e STJ - são contrários a Prescrição Virtual/Antecipada. STJ. Súmula 438. É inadmissível a extinção da punibilidade pela prescrição da pretensão punitiva com fundamento em pena hipotética, independentemente da existência ou sorte do processo penal. Prescrição Virtual / Projetada / em Perspectiva / Hipotética 13 Jurisprudência recente STJ: Informativo 532. DIREITO PENAL. TERMO INICIAL DA PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO EXECUTÓRIA. O termo inicial da prescrição da pretensão executória é a data do trânsito em julgado da sentença condenatória para a acusação, ainda que pendente de apreciação recurso interposto pela defesa que, em face do princípio da presunção de inocência, impeça a execução da pena. Isso porque o art. 112, I, do CP (redação dada pela Lei 7.209/1984) dispõe que a prescrição, após a sentença condenatória irrecorrível, começa a correr do dia em que transita em julgado a sentença condenatória, para a acusação [...]” . Cabe registrar que a redação original do dispositivo não possuía a expressão para a acusação, o que gerava grande discussão doutrinária e jurisprudencial, prevalecendo o entendimento de que a contagem do lapso para a prescrição executória deveria ser a partir do trânsito em julgado para a acusação, tendo em vista que a pena não poderia mais ser aumentada. Posteriormente, com a reforma do CP, por meio da Lei 7.209/1984, o legislador, em conformidade com a orientação jurisprudencial predominante, acrescentou a expressão "para a acusação", não havendo mais, a partir de então, dúvida quanto ao marco inicial da contagem do prazo prescricional. É necessário ressaltar que a interpretação do referido dispositivo em conformidade com o art. 5º, LVII, da CF no sentido de que deve prevalecer, para efeito de contagem do prazo da prescrição da pretensão executória, o trânsito em julgado para ambas as partes, ante a impossibilidade de o Estado dar início à execução da pena antes da sentença condenatória definitiva não se mostra razoável, pois estaria utilizando dispositivo da CF para respaldar interpretação” totalmente desfavorável ao réu e contra expressa disposição legal. Na verdade, caso prevaleça o aludido entendimento, haveria ofensa à própria norma constitucional, máxime ao princípio da legalidade. Ademais, exigir o trânsito em julgado para ambas as partes como termo inicial da contagem do lapso da prescrição da pretensão executória, ao contrário do texto expresso da lei, seria inaugurar novo marco interruptivo da prescrição não previsto no rol taxativo do art. 117 do CP, situação que também afrontaria o princípio da reservalegal. Assim, somente com a devida alteração legislativa é que seria possível modificar o termo inicial da prescrição da pretensão executória, e não por meio de "adequação hermenêutica". Vale ressaltar que o art. 112, I, do CP é compatível com a norma constitucional, não sendo o caso, portanto, de sua não recepção. Precedentes citados: AgRg no AREsp 214.170-DF, 14 Sexta Turma, DJe 19/9/2012; e HC 239.554-SP, Quinta Turma, DJe 1/8/2012. HC 254.080-SC, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 15/10/2013. SITUAÇÃO DIFERENTE: DIREITO PENAL. PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO EXECUTÓRIA. A possibilidade de ocorrência da prescrição da pretensão executória surge somente com o trânsito em julgado da condenação para ambas as partes. Isso porque o título penal executório surge a partir da sentença condenatória definitiva, isto é, com o trânsito em julgado para acusação e defesa, quando também surgirá a possibilidade de ocorrência da prescrição executória. Antes do trânsito em julgado para ambas as partes, eventual prescrição será da pretensão punitiva. Todavia, esse entendimento não altera o termo inicial da contagem do lapso prescricional, o qual começa da data em que a condenação transitou em julgado para a acusação, conforme dispõe expressamente o art. 112, I, do CP. HC 254.080-SC, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 15/10/2013. NO MESMO SENTIDO: DIREITO PENAL. RECONHECIMENTO DA PRESCRIÇÃO ENQUANTO NÃO HOUVER TRÂNSITO EM JULGADO PARA AMBAS AS PARTES. Deve ser reconhecida a extinção da punibilidade com fundamento na prescrição da pretensão punitiva, e não com base na prescrição da pretensão executória, na hipótese em que os prazos correspondentes a ambas as espécies de prescrição tiverem decorrido quando ainda pendente de julgamento agravo interposto tempestivamente em face de decisão que tenha negado, na origem, seguimento a recurso especial ou extraordinário. De início, cumpre esclarecer que se mostra mais interessante para o réu obter o reconhecimento da extinção da punibilidade com fundamento na prescrição da pretensão punitiva, pois, ainda que ambas possam ter se implementado, tem-se que os efeitos da primeira são mais abrangentes, elidindo a reincidência e impedindo o reconhecimento de maus antecedentes. A prescrição da pretensão executória só pode ser reconhecida após o trânsito em julgado para ambas as partes, ainda que o seu lapso tenha início com o trânsito em julgado para a acusação, nos termos do que dispõe o art. 112, I, do CP. Nesse contexto, havendo interposição tempestiva de agravo contra decisão de inadmissibilidade do recurso especial ou extraordinário (art. 544 do CPC e art. 28 da Lei 8.038/1990), não se operaria a coisa julgada, pois a decisão do Tribunal de origem é reversível. Ademais, mostra-se temerário considerar que o controle inicial, realizado pela instância recorrida, prevalece para fins de trânsito em julgado sobre o exame proferido pela própria Corte 15 competente. Posto isso, enquanto não houver o trânsito em julgado para ambas as partes da decisão condenatória, não há que se falar em prescrição da pretensão executória, eis que ainda em curso o prazo da prescrição da pretensão punitiva, de forma intercorrente. Entretanto, se o agravo for manejado intempestivamente, sua interposição não impedirá o implemento do trânsito em julgado, o qual pode ser de pronto identificado, haja vista se tratar de evento objetivamente aferível, sem necessidade de adentrar o próprio mérito do recurso. Nesse caso, ainda que submetido ao duplo juízo de admissibilidade, inevitável o reconhecimento da intempestividade. REsp 1.255.240-DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 19/9/2013. ESTELIONATO. CONTINUIDADE DELITIVA. PRESCRIÇÃO. Trata-se de REsp contra o acórdão que manteve a pena-base do paciente em três anos de reclusão, pelo crime de estelionato em continuidade delitiva (art. 171, caput, c/c o art. 71, ambos do CP). Alega-se, em síntese, violação dos arts. 45, § 1º, 59, 107, IV, e 109, IV, todos do mesmo codex. Pretende-se o reconhecimento da prescrição punitiva estatal, pois ultrapassados oito anos desde a data do recebimento da denúncia e a do trânsito em julgado para o MP, bem como a revisão da dosimetria da pena, ao argumento de que o recorrente, embora seja primário e de bons antecedentes, teve sua pena fixada muito acima do mínimo legal. Diante disso, a Turma conheceu parcialmente do recurso, mas lhe negou provimento pelos fundamentos, entre outros, de que a interrupção do prazo prescricional ocorre na data do registro da sentença condenatória em cartório, e não na data de sua publicação ou do trânsito em julgado para o MP. Dessa forma, considerando que os fatos remontam a 1991, a denúncia foi recebida em 23/11/1995 e a sentença publicada em cartório em 18/11/2003, não se ultrapassou o lapso de oito anos previsto em lei (art. 109, IV, do CP). Observou-se que o fato de o recorrente ser primário não conduz, invariavelmente, à fixação da pena-base no mínimo ou muito próxima do mínimo legal, como alega, se as demais circunstâncias judiciais foram consideradas desfavoráveis, como no caso, em que o grau de culpabilidade, as circunstâncias e consequências do delito justificam, por si só, a reprimenda fixada. O que não se admite, conforme entendimento reiterado tanto no STJ quanto no STF, é que a pena-base seja fixada acima do mínimo legal sem a devida fundamentação, o que não ocorreu na hipótese. Ressalte-se que o recorrente, pertencente a uma comunidade evangélica, junto com os demais corréus, teria criado cooperativa habitacional de fachada, já que não comprovada qualquer autorização oficial para seu funcionamento, com o intuito de comercializar casas populares em âmbito nacional. Mas, depois de receber o dinheiro 16 dos incautos, sob a alegação de impossibilidade de entregar as moradias prometidas, simulava a devolução das quantias, utilizando, no entanto, cheques sem provisão de fundos. Assim, o fato de o acusado valer-se de sua posição dentro da referida comunidade, a preparação meticulosa do ardil, o grande prejuízo causado e a quantidade de vítimas lesadas demonstram estar escorreita a sentença quando fixou a pena-base acima do mínimo legal. Precedentes citados do STF: HC 69.960-SP, DJ 6/8/1993; do STJ: HC 44.230-SP, DJ 3/4/2006; HC 81.669-SC, DJ 22/10/2007; RHC 21.743-SC, DJe 10/5/2010; HC 65.899-RS, DJ 5/2/2007, e HC 44.679-RS, DJe 6/10/2008. REsp 1.154.383-MG, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 21/9/2010. Informativo STJ n. 0448 - Período: 20 a 24 de setembro de 2010
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