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Direito Falimentar Apostila 1 Introducao

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APOSTILA 1
DIREITO FALIMENTAR
A sujeição à Lei 11.101/05 
Nova Lei de Falências e Recuperação de Empresas 
- Lei 11.101 de 09 de fevereiro de 2005-
Esta apostila é elaborada com base na obra “Nova Lei de Falência e Recuperação de Empresas” de Waldo Fazzio Junior (2a edição, revista e ampliada, Editora Atlas), sugerindo-se a aquisição pelos alunos da citada obra
I – INTRODUÇÃO
a) Características gerais da antiga Lei de Falência (Decreto-Lei 7.661 de 1945)
	O sistema jurídico brasileiro regulador das relações emergentes da insolvência empresarial estava em franca incompatibilidade com o moderno perfil da empresa e as características da economia globalizada. Tinha como alvo não a atividade econômica organizada, mas a pessoa do empresário paciente das concordatas e da falência.
	O Decreto-Lei no. 7.661 de 1945 (antiga Lei de Falências), produzido logo após a guerra mundial concluída em 1945, concebia um modelo de empresa próprio da economia nacional defasada que refletia as coordenadas da ordem capitalista instaurada, em 1944, a partir da Conferência de Bretton Woods. Concebia o crédito como, simplesmente, mais uma espécie de relação obrigacional, desconsiderava a repercussão da insolvência no mercado e se concentrava no ajustamento das relações entre os credores e o ativo do devedor.
	Por meio de uma sistemática processual que prestigiava a morosidade e condenava ao relento os créditos não públicos, e enfatizando o componente punitivo do concurso coletivo, a antiga Lei de Falências e Concordatas) já não dava conta dos intricados problemas diuturnamente gerados pelos processos de concordata e de falência, cada vez mais complexos, burocratizados e inócuos.
	A antiga Lei de Falências e Concordatas não oferecia soluções compatíveis com o mercado, com a moderna compreensão do crédito, com a intervenção estatal na economia privada e com o fenômeno da empresa.
	O direito das concordatas e falências era um instrumento do atávico princípio romano, segundo o qual quem deve tem que pagar. Também de outros menos clássicos, especialmente apreciados pelo liberalismo, que nunca hesitaram em implementar o sacrifício de empresas insolventes em homenagem à segurança do mercado. Nessa direção a lei anterior amparava os credores, garantia os haveres públicos, incriminava os empresários malsucedidos, menosprezava o desemprego e aniquilava as empresas em crise.
	No Brasil, ao longo de mais de meio século, os remédios previstos no sistema da Lei de Falências e Concordatas (DL 7.666 de 1945) demonstraram diversos inconvenientes. Mais que isso, tornaram-se comandos incompatíveis em face da evolução dos negócios e das transformações econômicas e sociais. Mercê de seu caráter predominantemente infamante, senão destrutivo, e da inocuidade de suas medidas inibitórias de fraudes, não conseguiu coibir a autêntica indústria de concordatas de ocorreu no país nas últimas décadas.
 Tanto sob o prisma da caracterização jurídica da insolvência como dos mecanismos disciplinadores das relações dela oriundas, o DL 7.661 de 1945 não atendia mais às necessidades de proteção ao crédito, preservação da empresa e satisfação dos credores, contemplados conjuntamente.
b) Características gerais da atual Lei de Falência e Recuperação de Empresas
	A nova Lei de Falência e Recuperação de Empresas (Lei 11.101 de 2005), publicada no Diário Oficial da União de 09 de fevereiro de 2005 e com vacatio legis de 120 dias a contar de sua publicação (art. 201) aumenta os tímidos horizontes da Lei anterior, consagrando a nova lei justificável preferência por outras estratégias legais predispostas a assegurar a vida útil das empresas viáveis em crise econômico-financeiras. 
	Traz como grande inovação a reestruturação empresarial como meio de proporcionar maiores possibilidades de satisfazer aos credores, minimizar o desemprego, fortalecer e facilitar o crédito e, em conseqüência, poupar o mercado dos reflexos perversos da insuficiência dos agentes econômicos.	
	As diretrizes da nova Lei de Falência e Reestruturação de Empresas compelem juristas e outros profissionais da área empresarial a repensar a insolvência como incidente e não apenas como declínio da empresa, bem como a considerar as vantagens da simplificação procedimental nos processos liquidatórios.
	A nova Lei de Falência e Reestruturação de Empresas não é uma simples substituição normativa e seus destinatários imediatos só têm um caminho, o da compreensão de que a empresa não é mais só um instrumento do empresário, mas sim um instrumento social, vistos os empregos que oferece, os tributos que recolhe etc.
	O direito concursal é, hoje, o direito da empresa em crise. Superou a fase primitiva da vingança dos Credores, ultrapassou os estreitos limites da liquidação falimentar e, dia após dia, apresenta-se como solução jurídica mais pragmática, mais sintonizada com o direito econômico e, acima de tudo, deixou de ser um mero complexo regulador de relações estritamente privadas para encampar o interesse público e as repercussões sociais do declínio das empresas.
	Contudo, não é verdade que a satisfação dos credores e a proteção do mercado deixaram de figurar entre as principais preocupações dos novos regimes jurídicos concursais. Mudaram os instrumentos, não as finalidades. Antes, liquidava-se o ativo debilitado do agente econômico devedor para a partilha igualitária entre credores que, de alguma forma, sempre restavam insatisfeitos : recebiam menos do que tinham direito e muito tempo depois do que esperavam. A liquidação, além de eliminar do mercado a empresa, promovia uma realização insatisfatória da situação deficitária do devedor. O atendimento às justas expectativas dos credores e a preservação do crédito público como impulsionador do mercado continuaram sendo os alvos do direito concursal. O que se alterou foi a via de solução. A reestruturação da empresa passou a integrar o elenco de objetivos das modernas legislações concursais. Não se tornou a finalidade mais importante, mas o caminho entendido como o mais eficaz para atender, praticamente, os direitos dos credores e direcionar a atividade empresarial para não comprometer a segurança do mercado e sua periferia social.
	O direito da empresa em crise é, na realidade, um conjunto de medidas de natureza econômico-administrativa, acordadas entre o agente econômico devedor e seus credores, supervisionadas pelo Estado-Juiz, como expediente preventivo da liquidação. Ampara-se na convicção haurida na experiência histórica de que, mediante procedimentos de soerguimento da empresa em crise, os credores têm melhores perspectivas de realização de seus haveres, os fornecedores não perdem o cliente, os empregados mantêm os seus empregos e o mercado sofre menos (impossível não sofrer) os impactos e as repercussões da insolvência empresarial.
	Proteger o crédito não implica necessariamente na eliminação da empresa em crise. De outro lado, de nada adianta garantir a sobrevivência de uma empresa inviável ou imprestável. Combinar, de forma eficiente, as infinitas possibilidades que se abrigam entre essas duas verdades é justamente o papel procurado pelas alternativas contidas na nova lei 
c) Comparação entre o regime anterior (Decreto-Lei 7.661 de 1945) e o regime atual (Lei 11.101 de 2005)
	O quadro da doença empresarial, tal como concebido pelos antigos sistemas concursais (como o do DL 7.661 de 1945), de natureza simplesmente falimentar, quase sempre conduzia a um estágio terminal, em que a figura do empresário assemelhava-se muito à do de cujus sem herança. Esse mesmo quadro agora é compreendido de outra forma. Percebeu-se que o meio mais razoável de obviar esse inconveniente é a recuperação da empresa paciente mediante a reversão da doença, para proporcionar algumas possibilidades, ainda que diminutas, de solução do passivo. Evitar a morte do paciente é, no mínimo, mais inteligentedo que eliminar a doença pela morte de seu portador.
	Somente quando organismo da empresa exterioriza sinais tanatológicos, ou seja, quando a crise econômico-financeira atinge o grau de insolvência irreversível, é que se justifica a adoção de condutas liquidatórias. A questão, nesse caso, é prevenir a eventual disseminação dos efeitos do declínio da empresa, no mercado. Se impossível a cura, faz-se mister a liquidação, como medida protetiva do crédito público em face do contágio. 
d) Evolução histórica dos sistemas de direito falimentar
	Uma síntese histórica do direito falimentar (também denominado direito concursal), ainda que não ocorridas sempre nessa mesma ordem cronológica, passa necessariamente pelo reconhecimento de 4(quatro) fases:
Direito concursal como regulador da execução dos bens do devedor;
Judicialização da execução concursal;
Prevenção do estado de liquidação;
Recuperação da empresa
No direito romano
	No direito romano mais antigo, a execução incidia sobre a pessoa do devedor, do que é exemplo significativo a manus injectio, que autorizava ao credor manter o devedor em cárcere privado ou escraviza-lo. Dessa conjuntura reprovável, o regime passou para o sistema da constrição patrimonial com a lei Paetelia Papira, que admitia a execução forçada das condenações em dinheiro por meio do sistema da venditio bonorum (o credor ou os credores, munidos da sentença, procuravam o magistrado que autorizava por decreto, a missio in bona, e em virtude desta, entravam na posse de todos os bens do devedor, procedendo depois à venda mediante determinadas formalidades.
	Na última fase do direito romano, já surgiram a administração da massa, a assembléia de credores, a classificação dos créditos, a revogação dos atos fraudulentos do devedor.
No direito medieval
		
		Nos estatutos corporativos das cidades medievais, em especial italianas, surgiu o instituto da falência, restringindo o caráter privado da execução, embora isso não significasse a emancipação física do devedor. Parece que foi um estatuto da cidade de Verona, no início do século XIII, que se esboçaram as primeiras regras que vieram a constituir o instituto da falência, como típica execução patrimonial.
		Ainda assim, as medidas de caráter pessoal sobrepujavam as de feição real. Por força dos usos e costumes, as sanções aplicáveis ao insolvente eram extremamente cruéis, tanto sob o aspecto físico como moral.
No direito moderno
		
		Na Idade Moderna, surgiu o Estado como entidade política e jurídica, com sensível interferência na disciplina das relações de crédito, inclusive na regência dos casos de insolvência. Os Estados nacionais arrogaram-se a exclusividade da imposição de sanções e judicializaram o deslinde de situações jurídicas criadas pela insatisfação obrigacional. A liquidação do patrimônio do devedor passou a ser assegurada pelos organismos judiciais encarregados de aplicar a lei.
No direito contemporâneo
		A primeira metade do século XX, marcada por duas guerras mundiais, graves crises industriais e conhecidos desastres financeiros, viveu a fase de valorização das concordatas como expedientes preventivos ou suspensivos do estado de liquidação. Com flagrante favorecimento dos credores majoritários, as leis de suspensão de pagamentos consagravam o entendimento segundo o qual o empresário honesto e infeliz nos negócios deveria desfrutar do favor legal, jurisdicionalmente obtido, das concordatas dilatórias e remissórias. Nesse estágio, já se mostrava bem evidente que a primitiva característica liquidatória do regime de insolvência precisava ser contornada.
		A tendência dos sistemas jurídicos atuais que regem a insolvência é a da realização dos direitos dos credores mediante a recuperação da empresa devedora, ficando a falência como antídoto residual, último, de cunho liquidatório, dirigida exclusivamente aos empreendimentos inviáveis.
		Eficiência, sob o ponto de vista dos processos de insolvência, não é noção simples. Não está restrita à simples celeridade procedimental; não se confina nos domínios da satisfação creditícia; não se exaure, singelamente, no atendimento das prioridades e privilégios legais; não se cifra na especial atenção dedicada ao pessoal da empresa insolvente; e não pode ser, apenas, um expediente sancionatório da má administração empresarial. Sem ser nada disso em especial, a síntese de todas essas facetas. Um processo de insolvência eficiente é aquele capaz de atender a todas estas metas.
		
II – PRINCÍPIOS DO NOVO REGIME DE FALÊNCIA E RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS
		Podemos destacar os seguintes princípios que caracterizam o novo sistema jurídico de falência e recuperação de empresas : 
Princípio da viabilidade da empresa;
Princípio do predomínio do interesse imediato dos credores
Princípio da publicidades dos procedimentos
Princípio da par conditio creditorum;
Princípio da conservação e da maximização dos ativos do agente econômico devedor;
Princípio da preservação da atividade empresarial
a) Princípio da viabilidade da empresa
		A nova Lei de falência e recuperação de empresas (Lei 11.101 de 2005) fixa uma dicotomia essencial entre as empresas economicamente viáveis e as inviáveis, de tal sorte que o mecanismo da recuperação é indicado para as primeiras (viáveis), enquanto que o processo de falência apresenta-se como o mais eficiente para a solução judicial da situação econômica das empresas inviáveis.
		Viáveis são aquelas empresas que reúnem condições de observar os planos de reorganização estipulados nos artigos 47 (recuperação judicial) e 161 (recuperação extrajudicial), cujos textos são abaixo transcritos. A aferição da viabilidade está ligada a fatores internos da empresa (ativo e passivo, faturamento anual, nível de endividamento, tempo de constituição e outras características da empresa) e a fatores externos (relevância socioeconômica da atividade).
DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL
Seção I
Disposições Gerais
Art. 47. A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica.
Art. 48. Poderá requerer recuperação judicial o devedor que, no momento do pedido, exerça regularmente suas atividades há mais de 2 (dois) anos e que atenda aos seguintes requisitos, cumulativamente:
        I – não ser falido e, se o foi, estejam declaradas extintas, por sentença transitada em julgado, as responsabilidades daí decorrentes;
        II – não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação judicial;
        III – não ter, há menos de 8 (oito) anos, obtido concessão de recuperação judicial com base no plano especial de que trata a Seção V deste Capítulo;
        IV – não ter sido condenado ou não ter, como administrador ou sócio controlador, pessoa condenada por qualquer dos crimes previstos nesta Lei.
        Parágrafo único. A recuperação judicial também poderá ser requerida pelo cônjuge sobrevivente, herdeiros do devedor, inventariante ou sócio remanescente.
DA RECUPERAÇÃO EXTRAJUDICIAL
        Art. 161. O devedor que preencher os requisitos do art. 48 desta Lei poderá propor e negociar com credores plano de recuperação extrajudicial.
        § 1o Não se aplica o disposto neste Capítulo a titulares de créditos de natureza tributária, derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de acidente de trabalho, assim como àqueles previstos nos arts. 49, § 3o, e 86, inciso II do caput, desta Lei.
        § 2o O plano não poderá contemplar o pagamento antecipado de dívidas nem tratamento desfavorável aos credores que a ele não estejam sujeitos.
        § 3o O devedor não poderá requerer a homologação de plano extrajudicial, se estiver pendente pedido de recuperaçãojudicial ou se houver obtido recuperação judicial ou homologação de outro plano de recuperação extrajudicial há menos de 2 (dois) anos.
        § 4o O pedido de homologação do plano de recuperação extrajudicial não acarretará suspensão de direitos, ações ou execuções, nem a impossibilidade do pedido de decretação de falência pelos credores não sujeitos ao plano de recuperação extrajudicial.
        § 5o Após a distribuição do pedido de homologação, os credores não poderão desistir da adesão ao plano, salvo com a anuência expressa dos demais signatários.
        § 6o A sentença de homologação do plano de recuperação extrajudicial constituirá título executivo judicial, nos termos do art. 584, inciso III do caput, da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de Processo Civil.
		Em poucas palavras, algumas perguntas devem ser respondidas, como pressupostos da formulação de um diagnóstico de viabilidade:
existe um plano de recuperação ?
que critérios devem ser eleitos para sua avaliação ?
essa avaliação autoriza a expectativa de êxito do plano ?
como custodiar sua concretização ?
 
Qualquer plano de recuperação passa pela adoção de um dos meios estabelecidos no artigo 50 da Lei 11.105, abaixo transcrito, e, como tal, deve ser oferecido à consideração judicial e dos credores.
        Art. 50. Constituem meios de recuperação judicial, observada a legislação pertinente a cada caso, dentre outros:
        I – concessão de prazos e condições especiais para pagamento das obrigações vencidas ou vincendas;
        II – cisão, incorporação, fusão ou transformação de sociedade, constituição de subsidiária integral, ou cessão de cotas ou ações, respeitados os direitos dos sócios, nos termos da legislação vigente;
        III – alteração do controle societário;
        IV – substituição total ou parcial dos administradores do devedor ou modificação de seus órgãos administrativos;
        V – concessão aos credores de direito de eleição em separado de administradores e de poder de veto em relação às matérias que o plano especificar;
        VI – aumento de capital social;
        VII – trespasse ou arrendamento de estabelecimento, inclusive à sociedade constituída pelos próprios empregados;
        VIII – redução salarial, compensação de horários e redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva;
        IX – dação em pagamento ou novação de dívidas do passivo, com ou sem constituição de garantia própria ou de terceiro;
        X – constituição de sociedade de credores;
        XI – venda parcial dos bens;
        XII – equalização de encargos financeiros relativos a débitos de qualquer natureza, tendo como termo inicial a data da distribuição do pedido de recuperação judicial, aplicando-se inclusive aos contratos de crédito rural, sem prejuízo do disposto em legislação específica;
        XIII – usufruto da empresa;
        XIV – administração compartilhada;
        XV – emissão de valores mobiliários;
        XVI – constituição de sociedade de propósito específico para adjudicar, em pagamento dos créditos, os ativos do devedor.
        § 1o Na alienação de bem objeto de garantia real, a supressão da garantia ou sua substituição somente serão admitidas mediante aprovação expressa do credor titular da respectiva garantia.
        § 2o Nos créditos em moeda estrangeira, a variação cambial será conservada como parâmetro de indexação da correspondente obrigação e só poderá ser afastada se o credor titular do respectivo crédito aprovar expressamente previsão diversa no plano de recuperação judicial. 
		É certo que, se verificada, desde logo a impossibilidade de cumprimento do plano proposto, o indeferimento da pretensão recuperatória é de rigor. A constatação posterior (no curso da recuperação) da inviabilidade implica a conversão do processo de recuperação em solução liquidatória (falência), a teor do artigo 73 da Lei 11.105, in verbis: 
CAPÍTULO IV
DA CONVOLAÇÃO DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL EM FALÊNCIA
        Art. 73. O juiz decretará a falência durante o processo de recuperação judicial:
        I – por deliberação da assembléia-geral de credores, na forma do art. 42 desta Lei;
        II – pela não apresentação, pelo devedor, do plano de recuperação no prazo do art. 53 desta Lei;
        III – quando houver sido rejeitado o plano de recuperação, nos termos do § 4o do art. 56 desta Lei;
        IV – por descumprimento de qualquer obrigação assumida no plano de recuperação, na forma do § 1o do art. 61 desta Lei.
        Parágrafo único. O disposto neste artigo não impede a decretação da falência por inadimplemento de obrigação não sujeita à recuperação judicial, nos termos dos incisos I ou II do caput do art. 94 desta Lei, ou por prática de ato previsto no inciso III do caput do art. 94 desta Lei.
		Nem poderia ser de outra forma, assente que recuperar significa reorganizar administrativa e financeiramente a empresa, o que pressupõe a existência de um conjunto mínimo de condições e a presença dos pressupostos legais. A recuperação empresarial não pode almejar a plena recriação da empresa.
b) Princípio da relevância do interesse dos credores
		Qualquer regime de insolvência visa satisfazer, eqüitativamente, pretensões creditícias legítimas. Mesmo ante a necessidade de se considerar o interesse social na manutenção ou não do empreendimento insolvente, o fato é que a solução proporcional do passivo sempre será o norte do procedimento adotado. A reestruturação da empresa em dificuldades é instrumental da satisfação dos credores, desde que observados níveis mínimos de paridade.
		O interesse dos credores também não pode ser identificado como a realização de pronto de seus haveres. Certo que o processo de insolvência não pode se protrair indefinitivamente, mais importante é que a satisfação célere dos créditos deve observar os parâmetros da preferência adequada e de pagamentos satisfatórios. Pagamentos satisfatórios são aqueles que se aproximam do ideal de integral satisfação dos mesmos créditos.
c) Princípio da publicidade dos procedimentos
		Transparência é a palavra que abre as portas de um processo de insolvência eficiente e de acordo com a lei. Os procedimentos para a solução da insolvência devem ser transparentes, o que significa não somente a publicidade stricto sensu dos atos processual, mas também a clareza e objetividade na definição dos diversos atos que os integram. O conceito de transparência envolve boa dose de previsibilidade.
		A clara estipulação de requisitos, fundamentos e prazos, se não impede a adoção de manobras procedimentais e expediente protelatórios, dificulta bastante essa prática negativa.
d) Princípio da par conditio creditorum
		A eqüidade é um princípio geral de direito que aqui se manifesta em toda a sua intensidade. O tratamento eqüitativo dos créditos é a máxima regente de todos os processos concursais, considerado o mérito das pretensões antes que a celeridade na sua dedução.
		Cada crédito deve observar o lugar que lhe reserva na classificação geral, assegurando-se, de modo decisivo, que a índole preferencial de alguns seja efetivamente observada.
		Na Lei 11.101 de 2005 tem-se a classificação dos créditos no artigo 83 : 
Da Classificação dos Créditos
        Art. 83. A classificação dos créditos na falência obedece à seguinte ordem:
        I – os créditos derivados da legislação do trabalho, limitados a 150 (cento e cinqüenta) salários-mínimos por credor, e os decorrentes de acidentes de trabalho;
        II - créditos com garantia real até o limite do valor do bem gravado;
        III – créditos tributários, independentemente da sua natureza e tempo de constituição, excetuadas as multas tributárias;
        IV – créditos com privilégio especial, a saber:
        a) os previstos no art. 964 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002;
        b) os assim definidos em outras leis civis e comerciais, salvo disposição contráriadesta Lei;
        c) aqueles a cujos titulares a lei confira o direito de retenção sobre a coisa dada em garantia;
        V – créditos com privilégio geral, a saber:
        a) os previstos no art. 965 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002;
        b) os previstos no parágrafo único do art. 67 desta Lei;
        c) os assim definidos em outras leis civis e comerciais, salvo disposição contrária desta Lei;
        VI – créditos quirografários, a saber:
        a) aqueles não previstos nos demais incisos deste artigo;
        b) os saldos dos créditos não cobertos pelo produto da alienação dos bens vinculados ao seu pagamento;
        c) os saldos dos créditos derivados da legislação do trabalho que excederem o limite estabelecido no inciso I do caput deste artigo;
        VII – as multas contratuais e as penas pecuniárias por infração das leis penais ou administrativas, inclusive as multas tributárias;
        VIII – créditos subordinados, a saber:
        a) os assim previstos em lei ou em contrato;
        b) os créditos dos sócios e dos administradores sem vínculo empregatício.
        § 1o Para os fins do inciso II do caput deste artigo, será considerado como valor do bem objeto de garantia real a importância efetivamente arrecadada com sua venda, ou, no caso de alienação em bloco, o valor de avaliação do bem individualmente considerado.
        § 2o Não são oponíveis à massa os valores decorrentes de direito de sócio ao recebimento de sua parcela do capital social na liquidação da sociedade.
        § 3o As cláusulas penais dos contratos unilaterais não serão atendidas se as obrigações neles estipuladas se vencerem em virtude da falência.
        § 4o Os créditos trabalhistas cedidos a terceiros serão considerados quirografários.
e) Princípio da maximização dos ativos
		Para que se cumpram as finalidades do processo de insolvência, os ativos da empresa devedora precisam ser preservados e, se possível, maximizados. No mínimo, conservados.
		Há que se deixar bem colocada a questão da preservação dos ativos na recuperação judicial da empresa. Ela deve ser meta alcançada com o intuito de satisfazer à solução dos débitos e dos encargos sociais. Não se trata de tutelar os ativos capazes de resgatar a empresa, para fruição do empresário. O que deve ser recuperado é a empresa.
f) Princípio da preservação da empresa
		
		Insolvente ou não, a empresa é uma unidade econômica que interage no mercado, compondo uma teia de relações jurídicas com extraordinária repercussão social. É uma unidade de distribuição de bens e ou serviços. É um ponto de alocação de trabalho, oferecendo empregos. É um elo na imensa corrente do mercado que, por isso, não pode desaparecer, simplesmente, sem causar seqüelas.
		A atividade empresarial desborda dos limites estritamente singulares para alcançar dimensão socioeconômica bem mais ampla. Afeta o mercado e a sociedade, mais que a singela conotação pessoal. Daí por que basta a presunção de insolvência para justificar a busca de uma solução jurisdicional. O interesse de agir nos processos regidos pela nova Lei de Falência e de Recuperação de Empresas habita na necessidade de um provimento judiciário apto a dirimir não só a crise econômico-financeira de um empresário, mas também toda sorte de relações daí decorrentes, de modo a preservar, se possível, a unidade econômica produtiva.
		A conservação da atividade negocial é o ponto mais delicado do regime jurídico de insolvência. Ao contrário da concepção cirúrgica adotada na extinta Lei de Falências e Concordatas (DL 7.661 de 1945), pretende-se com a nova Lei de Falências e Recuperação de empresas (Lei 11.101 de 2005), na medida do possível, priorizar a recuperação da empresa sobre a sua liquidação.
		Deve só ser liquidada a empresa inviável, ou seja, aquela que não comporta uma reorganização eficiente ou não justifica o desejável resgate.
III – TRANSIÇÃO DO DL 7.661 PARA A LEI 11.101
		A geração da Lei 11.101 não acarreta a plena e imediata revogação do DL 7.661. A passagem de um sistema legal para outro envolve algumas situações que merecem tratamento peculiar, no sentido de se obter um perfeito enquadramento das conjunturas e parâmetros normativos.
		Em razão das profundas diferenças existentes entre o regime de insolvência do DL 7.661 para o da Lei 11.101, torna-se inafastável a imposição de critérios objetivos de distinção entre os dois, na medida em que a eventual confusão sobre as normas aplicáveis pode acarretar tumulto processual nos casos em curso.
		As normas do DL continuam em vigor para a aplicação aos processos de concordata preventiva, concordata suspensiva e falência, em curso no dia anterior ao do início da vigência da nova lei, conforme artigo 192 da nova lei: 
Art. 192. Esta Lei não se aplica aos processos de falência ou de concordata ajuizados anteriormente ao início de sua vigência, que serão concluídos nos termos do Decreto-Lei no 7.661, de 21 de junho de 1945.
        § 1o Fica vedada a concessão de concordata suspensiva nos processos de falência em curso, podendo ser promovida a alienação dos bens da massa falida assim que concluída sua arrecadação, independentemente da formação do quadro-geral de credores e da conclusão do inquérito judicial.
        § 2o A existência de pedido de concordata anterior à vigência desta Lei não obsta o pedido de recuperação judicial pelo devedor que não houver descumprido obrigação no âmbito da concordata, vedado, contudo, o pedido baseado no plano especial de recuperação judicial para microempresas e empresas de pequeno porte a que se refere a Seção V do Capítulo III desta Lei.
        § 3o No caso do § 2o deste artigo, se deferido o processamento da recuperação judicial, o processo de concordata será extinto e os créditos submetidos à concordata serão inscritos por seu valor original na recuperação judicial, deduzidas as parcelas pagas pelo concordatário.
        § 4o Esta Lei aplica-se às falências decretadas em sua vigência resultantes de convolação de concordatas ou de pedidos de falência anteriores, às quais se aplica, até a decretação, o Decreto-Lei no 7.661, de 21 de junho de 1945, observado, na decisão que decretar a falência, o disposto no art. 99 desta Lei. 
		O parágrafo 2o do artigo 192 da nova lei declara que a existência de pedido de concordata anterior ao início da vigência do novo regime não obsta o pedido de recuperação judicial pelo devedor, desde que este não tenha deixado de cumprir obrigações da concordata. Os créditos submetidos à concordata devem ser inscritos, por seu valor original, na recuperação judicial, abatidas as parcelas pagas pelo concordatário.
- Art. 192, parágrafo 2o. A existência de pedido de concordata anterior à vigência desta Lei não obsta o pedido de recuperação judicial pelo devedor que não houver descumprido obrigação no âmbito da concordata, vedado, contudo, o pedido baseado no plano especial de recuperação judicial para microempresas e empresas de pequeno porte a que se refere a Seção V do Capítulo III desta Lei.
 
		A nova lei se aplica também às falências decretadas em sua vigência com base no artigo 162 da antiga lei (convolação de concordata preventiva em falência) da antiga Lei de Falências. Explique-se. Se o juiz decretar a falência do devedor que postulou a concordata, em face da ocorrência de impedimentos, da falta de condições para a concordata ou de inexatidão documental, a falência será regida pela nova lei.
		Da mesma forma, na concordata preventiva em curso com base na lei anterior, a convolação em falência por falta de pagamento de parcela da concordata (art. 175, parágrafo 8o, da antiga lei) determina a incidência da nova lei.
		O CPC e o CPP são fontes subsidiárias da nova lei, o primeiro por força do artigo 189 e o segundo com base no art. 188, naquilo que forem compatíveis.
        Art. 189. Aplica-se a Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de ProcessoCivil, no que couber, aos procedimentos previstos nesta Lei.
Art. 188. Aplicam-se subsidiariamente as disposições do Código de Processo Penal, no que não forem incompatíveis com esta Lei.
IV – CARÁTER MULTIDISCIPLINAR DA NOVA LEI
		Precisamente por enfocar um fenômeno plural, como é a insolvência, a nova lei (Lei 11.101) apresenta-se no mundo jurídico como um diploma multidisciplinar. Além de envolver ciências contábeis, administração de empresas e economia, no plano estritamente jurídico compreende direito material e direito processual.
		No âmbito do direito material, inclui normas de direito empresarial, direito civil, direito financeiro, direito tributário, direito trabalhista, direito penal e direito administrativo.
V – A SUJEIÇÃO AO REGIME JURÍDICO DA LEI 11.101/05
	Em nossas notas introdutórias a respeito da nova lei de falência e de recuperação de empresas (Lei 11.101/05), destacamos 2(duas) inovações principais, quais sejam: a inserção do instituto jurídico da recuperação (recuperação judicial e recuperação extrajudicial) e a adequação do regime falimentar à teoria da empresa, teoria esta que norteia o “direito de empresa” no código civil brasileiro.
 O nosso foco de estudo no presente momento é a “sujeição” ao regime jurídico da Lei 11.101/05, isto é, sabermos quais são as “pessoas” que se sujeitam a tal regime, isto é, aquelas que podem se beneficiar do instituto da recuperação e sofrer “falência”(ter decretada a sua falência). Somente aqueles expressamente previstos na lei podem sofrer a incidência das normas jurídicas nelas constantes.
1) REGRA – sujeição dos empresários e sociedades empresárias
 O Decreto-Lei 7.661/45 (lei que normatizava o antigo regime falimentar – que vigeu até 08/06/2006) sujeitava somente os “comerciantes” e as “sociedades mercantis” à falência e ao instituto jurídico da concordata (seja a preventiva, seja a suspensiva). 
	Já a novíssima Lei 11.101/05, que normativa o atual regime falimentar, adota a teoria da empresa, destinando-se aos EMPRESÁRIOS e às SOCIEDADES EMPRESÁRIAS, compatibilizando-se, dessa forma, com as características do direito de empresa previsto no atual código civil. A sujeição à Lei 11.101/05 é prevista nos artigos 1o e 2o da Lei, abaixo transcritos: 
Lei 11.101/05. Art. 1o. “Esta Lei disciplina a recuperação judicial, a recuperação extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade empresária, doravante referidos simplesmente como devedor.” (sublinhado e grifo nosso)
	Vale, nesse ponto, relembrarmos os conceitos de “empresário” e de “sociedade empresária”.
 
a) Conceito de empresário
 O conceito de “empresário” está inserido no artigo 966 do Código Civil : 
“ Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens e de serviços.
Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa.”
 Assim, é empresário todo aquele que exerce atividade de empresa, isto é, atividade profissional (habitual) de produção ou circulação de bens ou de serviços. O conceito de empresário envolve também o conceito de comerciante (aquele que faz a intermediação de bens entre o produtor e os consumidores), mas não se limita a ele, englobando, inclusive, as atividades de prestação de serviços (que antes não eram normatizadas pelo direito comercial).
REGRA : 
- Requisitos para enquadramento no conceito de empresário : 
 Profissionalismo : habitualidade de exercício, de atuação
atividade econômica : visando lucro, acumulação de capital, retorno de investimento
organização : dar a várias partes a disposição necessária para as funções a que ele se destina 
produção ou circulação:-produção como ato que cria determinado bem(coisa)
 -circulação como atividade transferência a titularidade de determinado bem de uma pessoa para outra
bens : tudo aquilo que é capaz de suprir uma necessidade humana
serviços : ato de servir, exercício de uma profissão, tarefa, obra, tarefa
 Assumindo as características do sistema italiano, o parágrafo único do artigo 966 excluiu da caracterização de atividade empresária as profissões intelectuais, de natureza científica, literária ou artística, desde que o exercício dessa profissão não constitua elemento de empresa. Ex. o contador que exerce profissionalmente a atividade econômica de prestação de serviços de contabilidade, mesmo com o concurso de auxiliares e colaboradores, não é empresário.
- Exceção : quem exerce atividade profissional intelectual, de natureza científica, literária ou artística, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa
- Requisitos à exceção: 
- profissão : Atividade ou ocupação especializada, e que supõe determinado preparo
intelectual : de predomínio do uso da inteligência em contraposição ao uso da força bruta
natureza científica, literária ou artísitica : de origem científica, literária ou artística
- salvo se constituir elemento de empresa : desde que a profissão não seja parte de uma estrutura de organização mais ampla
( Elementos da empresa : capital, serviço, estabelecimento e o objetivo)
- Elementos da empresa: elementos são as partes necessárias para compor determinado todo. A empresa é uma unidade econômica organizada, portanto, um todo. Para exercer atividade econômica com objetivo de lucro, ela reúne os seguintes elementos: 
o capital : representado por aporte em dinheiro, ou bens tangíveis (mercadorias, máquinas, equipamentos etc)
o estabelecimento : local onde se realizam as operações relativas à prática de sua atividade econômica de produção e circulação de bens e serviços;
o trabalho : força de trabalho, com ou sem vínculo empregatício
objetivo: tipo de atividade econômica que terá de ser exercida para atingir o lucro, que é o fim para o qual organiza-se uma empresa
 Portanto, se a profissão intelectual for um elemento da empresa (isto é, ser parte constituinte de uma organização mais ampla, isto é, de uma organização empresarial), então será uma atividade empresária
- Ex. : se o mesmo contador citado linhas atrás, para melhor atingir o seu objetivo de lucro, organiza uma empresa tendo como objetivo prestar serviços de forma mais ampla, abrangendo atividades a ela interligadas, tais como escrituração fiscal, assistência na área trabalhista, elaboração de folhas de pagamento, serviços junto às repartições públicas para abertura de empresas, alterações contratuais etc, então será um empresário, e o seu escritório uma empresa.
 A interpretação do parágrafo único do artigo 966 do Código Civil ainda não se encontra assentada na doutrina e na jurisprudência, tendo nítido caráter polêmico, ante a dificuldade de se saber a partir de que momento uma determinada profissão intelectual (de natureza científica, artística ou literária) se torna elemento de uma empresa.
 
b) O empresário rural
 A atividade rural é a de agricultura, pecuária, extração e exploração vegetal e animal, as culturas animais como a apicultura, avicultura, suinocultura, sericultura, psicultura etc -> conceito dado pelo artigo 57 do Regulamento do Imposto de Renda
 O artigo 970 do CC determina que a lei assegurará tratamento favorecido, diferenciado e simplificado ao empresário rural e ao pequeno empresário, quanto à inscrição e aos efeitos daí decorrentes
 O empresário rural enquadra-se perfeitamente no conceito de empresário contido no caput do artigo 966 do Código Civil, sendo que todos os empresários devem ser inscritos no Registro Público das Empresas Mercantis (Junta Comercial) do local onde seencontra a sua sede -> artigo 967 do Código Civil
 Ocorre que o artigo 971 do CC faculta ao empresário rural (entendido, para fins de enquadramento no artigo 971 do CC, como aquele que exerce atividade rural como sua principal profissão) a inscrição no Registro Público das Atividades Mercantis (Junta Comercial), sendo certo que, se optar pela sua inscrição na Junta Comercial, ficará equiparado, para todos os efeitos, ao empresário sujeito a registro. Isto é, o empresário rural somente estará sujeito às normas incidentes sobre os empresários se proceder a sua inscrição na Junta Comercial
c) O pequeno empresário
 Os artigos 170, IX, e 179, ambos da Constituição Federal determinam tratamento privilegiado às microempresas e às empresas de pequeno porte, com a simplificação de suas obrigações administrativas, tributárias, previdenciárias e creditícias, ou até mesmo a eliminação ou redução dessas obrigações através de lei.
 Já o artigo 970 do CC determina que a lei assegurará tratamento favorecido, diferenciado e simplificado ao empresário rural e ao pequeno empresário, quanto à inscrição e aos efeitos daí decorrentes. No entanto, o código civil não conceitua o que vem a ser “pequeno empresário”, sendo essa conceituação é feita por 2(duas) leis extravagentes, as leis 9.841/99 e 9.317/96 
Lei 9.841/99 : denominada “Estatuto da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte”, definindo-as como microempresa a pessoa jurídica e a firma mercantil individual que tiver receita bruta igual ou inferior a R$ 433.755,14 e como empresa de pequeno porte a pessoa jurídica e a firma mercantil individual que, não enquadrada como microempresa, tiver receita bruta anual superior a R$ 433.755,14 e igual ou inferior a R$ 2.133.122,00 (conforme Decreto 5.028/04, que regulamentou a lei 9.841/99); e
Lei 9.317/96 : instituiu o SIMPLES (regime de tributação simplificado, permitindo o recolhimento de impostos e contribuições federal através de um único documento (Darf-simples), mediante a aplicação de uma alíquota, progressiva, sobre o faturamento do mês. Essa lei fixou como sendo microempresas aquelas que não tem receita bruta anual superior a R$ 240.000,00 e como empresas de pequeno porte aquelas que tem receita bruta anual não inferior a R$ 240.000,00 e não superior a R$ 2.400.000,00 (conforme Lei 11.196/05).
 Lei Complementar 123 de 14/12/2006 (Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte), que revogou expressamente as Leis 9.317/96 e 9.841/99, conceituando como microempresas o empresário, a pessoa jurídica, ou a ela equiparada, que aufira, em cada ano-calendário, receita bruta igual ou inferior a R$ 240.000,00 (duzentos e quarenta mil reais) e como empresas de pequeno porte o empresário, a pessoa jurídica ou a ela equiparada, que aufira, em cada ano-calendário, receita bruta superior a R$ 240.000,00 (duzentos e quarenta mil reais) e inferior a R$ 2.400.000,00 (dois milhões e quatrocentos mil reais);
- Antes da Lei Complementar 123, havia discussão sobre a aplicação do conceito da Lei 9.317/96 ou o da Lei 9.841/99. Agora, em razão da revogação dessas duas leis, há de se aplicar o critério da Lei Complementar no. 123/06.
d) As sociedades empresárias
 A atividade econômica empresarial pode ser exercida pelo empresário solitariamente (que é denominado “empresário individual” ou “empresário em firma individual”) ou através de sociedades empresárias 
d.1) O conceito de sociedade em contraposição ao conceito de associação
 Rubens Requião aponta que o código comercial de 1850 não definiu sociedade comercial. Já o antigo código civil (de 1916) conceituava genericamente, no seu artigo 1.363, que “celebram contrato de sociedade as pessoas que mutuamente se obrigam a combinar seus esforços ou recursos, para lograr fins comuns”.
 Importante é que se destaque que o código civil de 1916 não fazia distinção entre sociedade e associação, mesmo porque, a Seção III do Capítulo II de seu livro I é intitulada como “Das Sociedades ou Associações civis”, utilizando esses dois vocábulos como sinônimos.
 Se de um lado o termo genérico “sociedade” nos remete invariavelmente para a existência de união de esforços de um grupo de pessoas para a realização e um fim comum, de outro lado temos que o termo “sociedade” é utilizado pelo atual código civil com um significado específico, significado esse que deve ser compreendido frente à diferenciação com o instituto da “associação”. 
 Fazer a comparação entre “sociedade” e “associação” no código civil de 2002 é proceder à análise conjunta do constante dos seus artigos 53 e 981, que abaixo transcrevemos : 
“Art. 53. Constituem-se as associações pela união de pessoas que se organizem para fins não econômicos.”
“Art. 981. Celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados”
 Da leitura dos artigos acima transcritos, resta claro que a formação e funcionamento da sociedade e da associação estão baseadas na união de esforços entre pessoas para a realização de um fim comum. No entanto, enquanto na associação esse fim é “não econômico” (isto é, não objetiva lucro, não objetiva ganhar dinheiro mas, sim, fins filantrópicos, culturais, sociais, políticos ou de qualquer outro gênero), na sociedade o fim da união de esforços entre as pessoas é “econômico” (isto é, a aquisição de lucro para ser repartido entre todos os sócios). 
- Sociedade é, assim, para o atual código civil, a agregação de pessoas que possuem um objetivo em comum e se reúnem (contribuindo com bens ou serviços) para consegui-lo com menor dificuldade, objetivando um conteúdo econômico. 
d.2) Espécies de sociedade
 As sociedades previstas no código civil podem ser qualificadas de acordo com a atividade econômica que desenvolvem, surgindo, a partir daí, 2(duas) categorias de sociedade : as sociedades simples e as sociedades empresárias
 Como “sociedades” ambas as categorias se enquadram na descrição abstrata do artigo 981 do Código Civil, isto é, ambas são reuniões de pessoas com o objetivo de, contribuindo com bens ou serviços, realizarem uma atividade econômica, isto é, obter lucro através da realização de uma atividade econômica.
 O que diferencia esses duas categorias é a atividade econômica que exercem. Faremos a diferenciação entre sociedades simples e sociedades empresárias conceituando esta última
 Sociedade empresária é a espécie de sociedade que explora uma atividade de empresa, isto é, que tem como objeto o exercício de atividade própria de empresário.
 Lembremos que o artigo 966 considera empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens ou de serviços, excluindo, em seu parágrafo único, da condição de empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica ou artística, com ou sem auxiliares ou colaboradores (salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa).
 Incluem-se como sociedade empresária, independentemente de exercerem ou não atividade empresarial, as sociedades anônimas, por expressa disposição do parágrafo único do artigo 982 do Código Civil (“Independentemente de seu objeto, considera-se empresária a sociedade por ações; e, simples, a cooperativa”)
- Dessa forma, sociedade empresária é aquela que exerce atividade econômica de produção ou circulação de bens ou de serviços, atividade essa que não seja o exercício de profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística que não seja elemento de empresa. Por disposição legal (artigo 982 do CC), toda sociedade anônima, independentemente de seu objeto, são sociedades empresárias.
 Como exemplo de sociedade empresária, podemos citar 2(duas) pessoas que se unem (com bens ou serviços)para a atividade econômica de produção ou comercialização de roupas.
 Outro exemplo que podemos citar é a união de um advogado e um contador para a prestação de serviços de assessoria empresarial (nesse caso, apesar de serem a advocacia e a contabilidade profissões intelectuais de natureza científica, estão sendo exercidas como elemento de uma empresa, que é, no caso, a atividade organizada de assessoria jurídico-contábil a empresas
 
 Já na categoria de sociedade simples se enquadram todas as sociedades que não exercem atividade econômica típica de empresário. Isto é, todas as sociedades que não forem empresárias são, por exclusão, sociedades simples. Incluem-se na categoria de sociedade simples, por disposição expressa do parágrafo único do artigo 982 do CC, as cooperativas, independentemente de seu objeto.
 Como ensina Rubens Requião, o perfil jurídico da sociedade simples se faz por exclusão ou por determinação legal no ritmo do artigo 982 do Código Civil 
 Como exemplo de sociedade simples, podemos citar 2(dois) advogados que unem seus esforços para a prestação de serviço de advocacia. Como a advocacia é uma profissão intelectual de natureza científica, e não está servindo como elemento de empresa (enquadrando-se no parágrafo único do artigo 966 do CC), a sociedade não é empresária e, portanto, é simples.
 Essa diferenciação entre sociedade empresária e sociedade simples consta do artigo 982 do Código Civil : 
“ Art. 982. Salvo as exceções expressas, considera-se empresária a sociedade que tem por objeto o exercício de atividade própria de empresário sujeito a registro (art. 967); e, simples, as demais.”
 A forma como o código civil trata as sociedades simples e empresárias é totalmente compatível com a adoção do sistema italiano de direito comercial que, numa tentativa de unificação do direito obrigacional, não faz diferenciação entre atividades comerciais e civis, mas adota a teoria da empresa como forma de reagrupar as sociedades, destinando tratamento diferenciado a algumas atividades de importância econômica marginal (não empresárias), que são aquelas que constituem as sociedades simples.
2 – AS EXCEÇÕES PREVISTAS NO ARTIGO 2o DA LEI 11.101/05
	O artigo 2o da Lei 11.101/05 especifica pessoas jurídicas que se encontram expressamente previstas como não subordinadas ao regime falimentar e de recuperação de empresas, no rol do referido artigo há sociedades que se enquadram perfeitamente no conceito de “sociedades empresárias”, mas que são excluídas, por exceção, das pessoas sujeitas à Lei 11.101/05.
 	São excluídas do regime jurídico da Lei 11.101/05: 
a) as empresas públicas
b) as sociedades de economia mista 
c) as instituições financeiras públicas ou privadas (que são regidas pela Lei 6.024, de 17 de março de 1974 e que prevê a sujeição dessas instituições à intervenção e eventual liquidação extrajudicial);
d) As cooperativas de crédito�
e) As sociedades anônimas de seguros (que são regidas pelo Decreto-Lei 73/66 e pela Lei 10.190/02, que prevêem liquidação compulsória, sendo que, quando configurada a insolvência econômico-financeira, é cassada sua autorização para funcionar e ingressam no regime liquidatório extrajudicial, processado pela Superintendência de Seguros Privados);
f) Sociedades de capitalização� (regidas pelo Decreto 22.456/33)
g) Entidades de previdência complementar;
h) Sociedades operadoras de plano de saúde (quando se tornam insolventes, são liquidadas pela Agência Nacional de Saúde Suplementar, na forma da Lei 9.656/98);
i) outras entidades que são equiparadas por lei às anteriormente citadas;
VI- A competência para apreciação de recuperação e de falência
 O art. 3o da Lei 11.101/05 determina que o Juízo competente para apreciar os processos de recuperação e de falência será: 
se for empresário ou sociedade empresária nacional : Juízo do local do principal estabelecimento (matriz, centro administrativo) do devedor
se for empresário ou sociedade empresária estrangeira : Juízo da filial da empresa 
A questão que se põe é: qual o conceito de “principal estabelecimento”?
Fábio Ulhoa Coelho afirma que principal estabelecimento, para fins de definição da competência para o direito falimentar, é aquele em que se encontra o maior volume de negócios da empresa, é o mais importante do ponto de vista econômico. O juiz do local onde encontra tal estabelecimento é compete para o processo falimentar em especial porque estará provavelmente mais próximo aos bens, à contabilidade e aos credores do falido�.
Waldo Fazzio Junior, por sua vez, ensina que, em regra, a noção de principal estabelecimento se confunde com a de “maior estabelecimento”. E a questão se apresenta muito simplificada quando se trata de estabelecimento rotulado com as denominações “matriz”, “sucursal” ou “filial”. No entanto, no quotidiano judiciário, a questão não se mostra tão simples quando diversos estabelecimentos da mesma empresa são unidades autônomas, com contabilidade própria, sem os distintivos de matriz ou filial, estoque volumoso e grande movimento, o que torna difícil, à primeira vista, definir qual é o principal�.
E, após a apresentação de toda a problemática que envolve o tema, o mesmo Autor afirma, à guisa de conclusão, que estabelecimento principal, para os efeitos do art. 3º da Lei 11.101/05, não é aquele a que os estatutos da sociedade conferem o título de principal, mas o que forma concretamente o centro vital das principais atividades profissionais do agente econômico, o núcleo de seus negócios, onde se densifica a empresa. Assim, o principal estabelecimento é o centro de operações negociais, sem que, por isso, seja o centro de seus principais interesses�.
� Cooperativas de crédito são instituições financeiras que atuam especialmente no setor primário da economia (agricultura) apoiando seus sócios cooperados na comercialização dos produtos agrícolas, no escoamento das safras e na proteção contra os atravessadores. As cooperativas de crédito podem funcionar também em escala normal, dentro de empresas, entre seus funcionários, proporcionando empréstimos a baixo custo e sendo uma alternativa contra os bancos comerciais e agiotas. In SANDRONI, Paulo. Dicionário de economia do século XXI. Rio de Janeiro: Record, 2005, pp. 190-191
� Sociedades de capitalização - são entidades, constituídas sob a forma de sociedades anônimas, que negociam contratos (títulos de capitalização) que têm por objeto o depósito periódico de prestações pecuniárias pelo contratante, o qual terá, depois de cumprido o prazo contratado, o direito de resgatar parte dos valores depositados corrigidos por uma taxa de juros estabelecida contratualmente; conferindo, ainda, quando previsto, o direito de concorrer a sorteios de prêmios em dinheiro. In � HYPERLINK "http://www.bacen.gov.br" ��www.bacen.gov.br�. <acesso em 14 de agosto de 2006>
� COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de direito comercial. 5ª edição. São Paulo: Saraiva, 2005, pp. 260/261
� FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Nova lei de falência e recuperação de empresas. 2ª edição. São Paulo: Atlas, 2005, pp. 68/69
� Ibidem, p. 71

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