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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS, AMBIENTAIS E DE TECNOLOGIAS TIAGO ANTONIO AZEVEDO GARLIPP ANÁLISE DE ZONAS COM APTIDÃO PARA DESTINAÇÃO FINAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS UTILIZANDO FERRAMENTAS SIG NO MUNICÍPIO DE SUMARÉ, SP CAMPINAS 2010 II TIAGO ANTONIO AZEVEDO GARLIPP ANÁLISE DE ZONAS COM APTIDÃO PARA DESTINAÇÃO FINAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS UTILIZANDO FERRAMENTAS SIG NO MUNICÍPIO DE SUMARÉ, SP Monografia apresentada como exigência para a obtenção do título de Superior, no curso de Engenharia Ambiental, Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Orientador: Prof. Abimael Cereda Júnior PUC-CAMPINAS 2010 III BANCA EXAMINADORA Presidente e Orientador Prof. Dr.__________________________________________ 1º Examinador (Prof.(a). Dr. (a).___________________________________________ 2º Examinador (Prof.(a). Dr. (a).___________________________________________ Campinas, 11 de Dezembro de 2010 Abimael Cereda Júnior Sueli Betine Agradeço á toda a minha família que sempre me acompanhou por toda essa minha trajetória, e que á eles sou eternamente grato. Ao meu pai, meu grande ídolo, exemplo de cidadão. 2 Agradecimentos Ao Prof. João Humberto Camelini Pelo seu ensinamento e apoio técnico na área de geoprocessamento e topografia, e toda a atenção prestada durante o meu período na TECGRAF – Tecnologia em computação gráfica de Campinas. Ao Prof. Abimael Cereda Junior Pelo acompanhamento e auxílio prestado na estrutura e material para o texto durante todo o trabalho. Ao Sr. Francisco Rosolen Pelo material de apoio cedido por sua pessoa através da Secretaria de Planejamento de Sumaré. Á minha namorada Érica da Silva Pereira Pelo apoio moral durante todo o trabalho. Á Tânia do laboratório de Geoprocessamento do Instituto Agronômico de Campinas Pela atenção e gentileza quando forneceu o mapa pedológico do Estado de São Paulo para o complemento deste trabalho. 3 “ Na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma” Lavoiser 4 LISTA DE TABELAS Tabela 1: Municípios, total e sua respectiva distribuição percentual, população e dados gerais sobre o lixo, segundo estratos populacionais dos municípios – 2000. 37 Tabela 2: Classe de solo, simbologia e descrição de cada solo referente à Sumaré. 48 Tabela 3: Prioridades das condições envolvidas no processo de análise para a instalação de um aterro sanitário. 68 Tabela 4: Prioridade dos fatores e atendimentos nas áreas 69 Tabela 5: Peso dos critérios correlacionados á prioridade dos atendimentos. 70 Tabela 6: Pontuação das áreas. 71 Tabela 7: Escala de valores AHP para comparação pareada 81 Foi então que eu gerei, com essas comparações que eu defini, uma matriz que será utilizada na operação AHP. 84 Tabela 8: Tabela customizada a partir da matriz original AHP. 84 Tabela 9: Pesos finais das variáveis obtidos através da comparação pareada, de 0 a 1. 85 LISTA DE FIGURAS Figura 1: Prisma entre Geoprocessamento, Cartografia e Mapa. 22 Figura 2: Diagrama de Venn ilustrando a diferença de fronteira entre um conjunto Fuzzy (A) e Booleano (B). 76 Página Página 5 LISTA DE MAPAS Mapa 1: Mapa da malha viária no município de Sumaré-SP. 41 Mapa 2: Sumaré e cidades limitantes no Estado de São Paulo. 42 Mapa 3: Mapa da Mancha Urbana do Município de Sumaré-SP. 44 Mapa 4: Mapa de altimetria de Sumaré- SP. 45 Mapa 5: Mapa pedológico Semidetalhado de Sumaré – SP. 47 Mapa 6: Mapa da hidrografia de Sumaré-SP. 49 Mapa 7: Mapa de Áreas de Preservação Permanente do Município de Sumaré-SP 50 Mapa 8: Mapa de Áreas Rurais e Reserva Natural do Município de Sumaré-SP. 51 Mapa 9: Mapa de áreas sujeitas a inundação no município de Sumaré-SP. 52 Mapa10: Mapa de declividade no município de Sumaré-SP 53 Mapa 11: Mapa de densidade populacional no município de Sumaré-SP. 54 Mapa 12: Mapa de aptidão à instalação de aterros sanitários no município de Sumaré- SP. 86 Mapa 13 – Mapa de homogeneização de aptidão à instalação de aterros sanitários no município de Sumaré-SP. 87 Página 6 SUMÁRIO RESUMO................................................................................................................. 9 1.INTRODUÇÃO ................................................................................................... 11 2.OBJETIVOS ....................................................................................................... 13 2.1 Objetivo geral .................................................................................................. 13 2.2 Objetivos específicos ...................................................................................... 13 3. RESÍDUOS SÓLIDOS....................................................................................... 14 3.1. Resíduos Sólidos no Brasil............................................................................. 14 3.2 Classificação dos resíduos sólidos.................................................................. 16 3.3 Por que aterros sanitários e não lixões? ......................................................... 18 4. ANÁLISE ESPACIAL COM FERRAMENTAS DE GEOPROCESSAMENTO.... 19 5. PLANEJAMENTO AMBIENTAL ........................................................................ 26 5.1. Estudos ambientais e a Política Nacional do Meio Ambiente......................... 28 5.2. Estudos ambientais e ferramentas SIG.......................................................... 32 5.3. Estudo preliminar para aterro sanitário .......................................................... 34 5.4. Temas ............................................................................................................ 37 5.5. Critérios de Impacto Ambiental...................................................................... 39 6. ESTUDO DE CASO .......................................................................................... 40 6.1. Urbanização ................................................................................................... 42 6.2. Altimetria ........................................................................................................ 44 6.3. Pedologia ....................................................................................................... 45 6.4. Hidrografia...................................................................................................... 48 Página 7 6.5. Uso do Solo.................................................................................................... 50 6.6. Áreas sujeitas a inundação ............................................................................ 51 6.7. Declividade..................................................................................................... 52 6.8. Densidade Populacional................................................................................. 53 7. CRITÉRIOS PARA SELEÇÃO DE UMA ÁREA PARA ATERRO SANITÁRIO.. 54 7.1. Identificação dos critérios técnicos................................................................. 57 7.2. Identificação dos critérios econômico-financeiros .......................................... 63 7.3. Identificação dos critérios político-sociais....................................................... 65 7.4. Quantificação dos critérios ............................................................................. 66 7.5. Ponderação (qualificação) dos critérios.......................................................... 66 8. ANÁLISE DO OBJETO DE ESTUDO ATRAVÉS DAS FERRAMENTAS SIG... 72 8.1. Materiais e métodos utilizados ....................................................................... 72 8.2. Lógica Fuzzy .................................................................................................. 75 8.3. Combinação das variáveis ............................................................................. 77 8.4. Comparação das variáveis ............................................................................. 78 9. CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................. 87 10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................ 90 8 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABNT = Associação Brasileira de Normas Técnicas ONU = Organização das Nações Unidas IBGE = Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística MNT = Modelo Numérico de Terreno PNMA = Política Nacional do Meio Ambiente SISNAMA = Sistema Nacional do meio ambiente SIG = Sistemas de Informações Geográficas APP = Área de Preservação Permanente NBR = Norma Brasileira Regulamentadora CETESB = Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental CONAMA = Conselho Nacional do Meio Ambiente RSU = Resíduos Sólidos Urbanos IAC = Instituto Agronômico de Campinas PNSB = Pesquisa Nacional de Saneamento Básico UC = Unidade de Conservação EMBRAPA = Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária AIA = Avaliação de Impacto Ambiental ZEE = Zoneamento Ecológico Econômico SLAP = Sistema de Licenciamento de Atividades Poluidoras 9 RESUMO GARLIPP, Tiago Antonio a. Análise de zonas com aptidão para destinação final de resíduos sólidos urbanos no município de Sumaré, SP. Campinas, 2010. Dissertação (Trabalho de Conclusão de Curso) – Curso de Engenharia Ambiental, Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Campinas, 2010. O presente trabalho apresenta o diagnóstico ambiental sobre o município de Sumaré-SP. Com a intensa urbanização na cidade, sofrida durante épocas de desenvolvimento na Região Metropolitana de Campinas, houve restrições quanto ao uso do solo para abrigar os resíduos sólidos urbanos, estes produzidos e consumidos de forma desordenada em todos os lugares do país. Estes fatores causaram um comprometimento no que se refere á locais aptos para acomodação do lixo, efeito este estudado dentro do presente trabalho. Com a proposta na utilização das ferramentas SIG (Sistemas de Informação Geográfica) para identificação destas zonas foi possível comprovar que esta tecnologia contribuiu satisfatoriamente, pois além de analisar claramente temas que causam relevância na questão ambiental sob o espaço territorial, ainda observou-se que estas condições contribuem diferentemente para o processo final dentro do escopo do estudo. Estas variáveis foram classificadas de forma distinta, recebendo um peso correspondente à sua contribuição no que diz respeito à solução de critérios, estes exigidos para adequação na localização de aterros, levantando a hipótese para um auxílio na tomada de decisão como melhoria no planejamento ambiental da cidade. Para chegar á este nível de entendimento foram abordados, durante o trabalho, assuntos como a problemática do resíduo sólidos no Brasil e na Região Metropolitana de Campinas. Na pesquisa bibliográfica, para que fosse compreendida a relação das diferentes variáveis para futura ponderação, foi destacado o licenciamento ambiental, além do método de cálculo utilizado dentro de SIG para o mapeamento final. Além disto, são explanados também definições e funções de ferramentas SIG, além também de aplicações reais vivenciadas no 10 tratamento de problemas ambientais. Em metodologia é explicado o motivo sobre a escolha do método utilizado, sendo apresentados também os materiais e o produto final, seguidos da conclusão para a pesquisa. 11 1.INTRODUÇÃO O município de Sumaré, consolidado pela alta concentração populacional em seu limite administrativo, sofre até hoje com a falta de planejamento durante a evolução de processos históricos. Sendo esta exemplificada pela negligência dos gestores ao atendimento à grande urbanização que se formava na Região Metropolitana de Campinas e que se intensificava cada vez mais, este planejamento não fora utilizado como ferramenta para reter a demografia desordenada das cidades brasileiras no século XIX. (ORLANDO, 2005) Esta expansão desenfreada, ocorrida muitas vezes pela densa migração de mão-de-obra humana com a necessidade de se trabalhar nos campos e nas indústrias, desencadeou uma excessiva atividade urbana, traduzida em construções de obras para suprir a mesma. (ORLANDO, 2005) Foi possível notar que a resposta da alteração sobre o meio físico, enfatizada na importância do aspecto econômico da região, foi dada pela inevitável ocupação da infra-estrutura, o que se agravou ainda mais com o consumo das pessoas em todos os setores de atividades. Dentro deste contexto, dois principais aspectos são evidenciados, a alta geração de resíduos e a ocupação e uso do solo para receber tais rejeitos, situação esta que provoca restrições para a implantação de locais apropriados e com capacidade para suportarestes materiais. Do ponto de vista ambiental, é necessário que esses rejeitos, que são potenciais poluidores, sejam descartados e estocados em locais adequados e com métodos corretos de engenharia para transformar este resíduo em um material inerte e biologicamente estável e que não venha interferir nos recursos hídricos, naturais e atmosféricos em geral. (INSTITUTO DE PESQUISA TECNOLÓGICA, 1995) O crescimento deste rejeito, contemplado pela produção em diversas residências, indústrias, escolas e empresas, é fruto do aumento desenfreado da 12 população como já mencionado e posteriormente explanado, o que exige maior cuidado com o gerenciamento dos resíduos sólidos. Além disso, em razão do alto volume de resíduos, existem diversas alternativas de redução desse montante, como a coleta seletiva, a compostagem, a incineração ou mesmo a reciclagem (DALMAS, 2008) caso a matéria prima ainda não atinja o final de seu ciclo. Com a redução do volume original, é empregado o descarte em locais cuja adequação para esse propósito é o tema central do presente trabalho. Alguns aspectos ambientais e sócio-econômicos que dificultam a construção de empreendimentos desse gênero em determinadas áreas podem ser destacados. Fatores como a proximidade de leitos fluviais, subterrâneos, rede viária, distância de residências, assim como solos inapropriados exercem uma forte influência no que diz respeito á viabilização destas ocupações.(DALMAS, 2008) Para avaliar espacialmente essas variáveis ambientais e geográficas de forma a organizar o planejamento ambiental dentro dos municípios em geral, pode-se utilizar a técnica de geoprocessamento. Métodos matemáticos intrínsecos a softwares dessa natureza permitem, a partir de ponderações atribuídas às variáveis, encontrar regiões aptas, ou seja, que não impactem ou se tornem como risco ao meio ambiente na acomodação e tratamento de resíduos in-situ, assegurando uma instalação de empreendimentos próprios para essa finalidade, indicando quais são os aspectos de maior relevância dentro de um estudo ambiental. O mapeamento das áreas pertinentes à recepção dos rejeitos com a finalidade de trazer segurança aos recursos ambientais aparece como um objeto favorável à tomadas de decisão do poder público para a alocação segura de obras potencialmente poluidoras. No que tange a legislação ambiental, pode-se considerar a sustentabilidade como referência principal. Inúmeras condições são instituídas para proibir a inadequada exploração da natureza, a fim de não comprometer a qualidade ambiental e conservar o meio físico, químico e biológico para a satisfação das futuras gerações. 13 2.OBJETIVOS 2.1 Objetivo geral Este trabalho objetiva, através do uso de técnicas de geoprocessamento, a delimitação de áreas propícias ao correto tratamento e destinação final dos resíduos sólidos no município de Sumaré. A disponibilidade de dados cartográficos e geográficos oriundos do objeto de estudo, bem como sua integração e apresentação utilizando ferramentas SIG, tem a finalidade de encontrar possibilidades para instalação de um aterro sanitário para a cidade, considerando o detalhamento deste material. O motivo pelo qual Sumaré foi escolhido para o presente tema se dá pela grande ocupação urbana dentro deste município. Objetivou-se, considerando sua atual realidade, a realização de um estudo de temas ambientais e seus prováveis impactos, aplicado a um melhor diagnóstico ambiental dentro do município. 2.2 Objetivos específicos • Discutir termos conceituais importantes para a compreensão da presente dissertação, como geoprocessamento, periculosidade dos resíduos e tipos de destinação final destes. • Apresentar a problemática da gestão dos resíduos sólidos no Brasil e seus principais tipos de disposição; • Identificar, qualificar e quantificar os critérios usados na seleção de melhor área para acomodação de resíduos sólidos; • Apresentar um mapa final destacando locais com aptidão para destinação dos resíduos; 14 3. RESÍDUOS SÓLIDOS De acordo com a NBR 10004, da Associação Brasileira de Normas Técnicas de 2004, os resíduos sólidos são: Resíduos no estado sólido e semi-sólido, que resultam de atividades da comunidade de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição. Ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes dos sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos de água, ou exijam para isso soluções técnica e economicamente inviáveis em face à melhor tecnologia disponível. (NBR 10004/04) Esta definição pode retratar a abrangente diversidade desses materiais, cujo impacto à saúde e ao meio ambiente é de conhecimento público. 3.1. Resíduos Sólidos no Brasil A questão dos resíduos sólidos no Brasil vem sendo discutida cada vez mais pelo fato de seu gerenciamento ser muitas vezes inadequado. A destinação e disposição final dos resíduos sólidos vêm sendo objeto de muitos estudos que visam solução para esse problema enfrentado pelos conglomerados urbanos, sejam eles pequenos, médios ou grandes, no que se diz respeito à poluição dos solos, do ar e dos recursos hídricos. Esta discussão atrai o desenvolvimento de técnicas mais avançadas para o tratamento da massa do lixo, e seus efluentes líquidos e gasosos, além de promover um melhor aproveitamento das áreas destinadas à disposição final desses resíduos. (ZANTA e FERREIRA, 2003) Estima-se que a população brasileira esteja em 185 milhões de habitantes (com a taxa de crescimento de 1,4% ano – IBGE, 2006) e esteja gerando 241.614 toneladas de lixo por dia (INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLÓGICAS, 1995), sendo que devido à condição geográfica e sócio-econômica a geração de lixo é irregular e o seu gerenciamento também é irregular. 15 De acordo com a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (PNSB), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2000), com relação aos dados referentes á destinação final do lixo coletado no país, mais de 63,6 % dos municípios utilizam lixões em que a maior parte das cidades são de pequeno porte, como no caso de Sumaré, e 32,2 %, aterros adequados (13,8 % sanitários e 18,4 % controlados), sendo que 5 % não informaram para onde vão seus resíduos. Tabela 1: Percentual do volume de lixo coletado, por tipo de destino final, segundo os estratos populacionais dos municípios – 2000. Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Departamento de População e Indicadores Sociais, Pesquisa Nacional de Saneamento Básico 2000. 16 Pode-se então discutir através desses números que mais da metade do lixo gerado no Brasil está tendo um destino inadequado. A disposição dos resíduos está diretamente ligada à falta de disponibilidade de áreas, pois estão sendo lançados em lixões e não em aterros sanitários como deveria ser. Com o aumento da população em todo o país, maior é a produção e demanda de lixo, consequentemente menor é a disponibilidade de área ecologicamente correta para o recebimento dos resíduos. No intuito de encontrar essa pequena percentagem de área, existem ferramentas para este tipo de funcionalidade. 3.2 Classificação dos resíduos sólidos Os RSU´s (Resíduos Sólidos Urbanos), de origem urbana, são compreendidos por aqueles gerados pelas inúmeras atividades desenvolvidas nas áreas com aglomerações humanas do município. Abrangem resíduos de várias origens, como: residencial, comercial, de saúde, industriais, de limpeza pública (varrição, poda de árvores), de construção civil e agrícola. (ZANTAe FERREIRA, 2003) Existem vários tipos de classificações dos resíduos sólidos, que são baseadas de acordo com determinadas características ou propriedades identificadas. A classificação é relevante para a escolha do tipo de tratamento que o resíduo sofrerá, ou seja, o gerenciamento mais viável para determinado tipo. A NBR 10004 de 2004 trata da classificação dos resíduos sólidos, quanto sua periculosidade, característica apresentada pelo resíduo em função das suas propriedades físicas, químicas ou infecto contagiosas, que pode apresentar potencial risco à saúde pública através da mortalidade ou morbidade e ao meio ambiente, provocando efeitos adversos quando manuseados ou dispostos de forma inadequada. A periculosidade do lixo e seus efeitos adversos quando dispostos de forma inadequada pode ser entendida de acordo com a regulamentação da NBR 10004, da ABNT de 2004 que segue: 17 Periculosidade de um resíduo: Característica apresentada por um resíduo que, em função de suas propriedades físicas, químicas ou infecto- contagiosas, pode apresentar: a) risco à saúde pública, provocando mortalidade, incidência de doenças ou acentuando seus índices; b) riscos ao meio ambiente, quando o resíduo for gerenciado de forma inadequada.(NBR 10004/04) De acordo com sua periculosidade, são classificadas em três classes: a) Resíduos Classe I – Perigosos: Aqueles que apresentam periculosidade, como definido no próximo item desse capítulo. Possuem características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade, patogenicidade. b) Resíduos Classe II – Não Perigosos: São exemplos de resíduos não perigosos: resíduos de restaurantes (restos de alimentos), sucatas de metais ferrosos, sucatas de metais não-ferrosos, papel e papelão, plásticos polimerizados, e borrachas. c) Resíduos Classe II A – Não Inertes: Podem ter propriedades como biodegrabilidade, combustibilidade e solubilidade em água. d) Resíduos Classe II B – Inertes: Quaisquer resíduos que, quando amostrados de uma forma representativa, segundo a ABNT NBR 10007, e submetidos a um contato dinâmico e estático com água destilada ou desionizada, à temperatura ambiente, conforme ABNT NBR 10006, não tiverem nenhum de seus constituintes solubilizados a concentrações superiores aos padrões de potabilidade de água, excetuando-se aspecto, cor, turbidez, dureza e sabor. 18 3.3 Por que aterros sanitários e não lixões? Existem três principais tipos de disposição de resíduos sólidos: os aterros sanitários, os aterros controlados e os lixões. (ENSINAS, 2003) Os aterros sanitários, de acordo com as definições da Lei nº12300 de 2006 da Política Estadual dos Resíduos Sólidos, são locais utilizados para disposição final de resíduos urbanos, onde são aplicados critérios de engenharia e normas operacionais especiais para confinar esses resíduos com segurança, do ponto de vista de controle da poluição ambiental e proteção à saúde pública. De acordo com Ensinas (2003), o aterro sanitário, apesar de sua freqüente utilização nos dias atuais por ser simples e de baixo custo, possuem “fatores limitantes” á sua prática. Fatores como a redução de disponibilidade de áreas próximas á centros urbanos pelo fato da área municipal já estar saturada pela população permitem a instalação de aterros sanitários em locais inapropriados. Com isso os riscos ambientais causados pela infiltração de chorume (líquido produzido pela deterioração do lixo com a água pluvial), além da emissão descontrolada do biogás podem acarretar a poluição hídrica através da infiltração de percolados em leitos fluviais, além da contaminação do lençol freático, devido á periculosidade destes rejeitos, uma vez que os mesmos venham a se situar em solos permeáveis e não recomendados para tal atividade, ou mesmo próximos de rios, considerados como locais ecologicamente incorretos e não permitidos pela legislação vigente. Quando este tipo de situação ocorre, podemos denominar as ocupações como lixões. Por tudo isso é possível considerar este tipo de instalação como redutora de possíveis impactos causados pelo lixo. (ENSINAS,2003) Os lixões são locais onde o lixo coletado é lançado diretamente sobre o solo, sem qualquer controle ou cuidados ambientais, poluindo tanto o solo como o ar, as águas subterrâneas e superficiais da vizinhança. Além disso, há uma aproximação de “catadores de lixo” no local, pessoas sem qualquer qualificação profissional que usam isso como uma forma de sobrevivência, determinando assim um grave “problema social”. (INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLÓGICAS, 1995) De acordo com Zanta e Ferreira (2003): 19 “Depósito de lixo á céu aberto ou lixão é uma forma de deposição desordenada sem compactação ou cobertura dos resíduos, o que propicia a poluição do solo, ar e água, bem como a proliferação de vetores de doença.” (ZANTA e FERREIRA, 2003) Outro método de engenharia que significa uma alternativa para a disposição de resíduos são os aterros controlados. Assim como os aterros sanitários, são determinados como uma técnica para descarte de materiais sem causar danos á saúde pública, com o objetivo também de reduzir os impactos ambientais. Com qualidade inferior a de um aterro sanitário, esse tipo de método dispensa sistemas para tratamento de substâncias poluidoras oriundas dos resíduos sólidos. Não há a presença de sistema de percolado (que trata o chorume), bem como a impermeabilização da base (o que prejudica a qualidade do lençol freático) ou biogás gerado. Este complexo possui uma certa concentração de poluição localizada em sua área. (DALMAS, 2008) Analisando as características dos métodos descriminados, podemos concluir que a instalação apropriada para a recepção dos rejeitos seria o aterro sanitário, porém necessita-se considerar também um local apropriado para acomodar este lixo, além das técnicas já utilizadas. 4. ANÁLISE ESPACIAL COM FERRAMENTAS DE GEOPROCESSAMENTO De acordo com Câmara e Davis (1998), geoprocessamento é: “A disciplina do conhecimento que utiliza técnicas matemáticas e computacionais para o tratamento da informação geográfica e que vem influenciando de maneira crescente as áreas de Cartografia, Análise de Recursos Naturais, Transportes, Comunicações, Energia e Planejamento Urbano e Regional.” (CÂMARA e DAVIS 1998) 20 Para entender “técnicas matemáticas e computacionais”, pode-se considerar o geoprocessamento como uma matéria que consiste em operações e métodos específicos para obtenção dos resultados dentro de um mapeamento, estes executados pela principal ferramenta do geoprocessamento chamada de Sistemas de Informações Geográficas (SIG). Estas técnicas são comandadas pelo usuário que tem o domínio sobre esta aplicação, desenvolvida com o objetivo de análises para decisão e interpretação de dados. Timbó (2001) define geoprocessamento como: “Conjunto de atividades que lidam com aquisição tratamento, interpretação e análise de dados sobre a terra.” (TIMBÓ, 2001) Além disso, geoprocessamento significa também uma atualização e informatização para os especialistas. O que antes era estudado em mapas impressos, hoje se tem a compreensão e facilidade destes em ferramentas computacionais. Esta afirmação do presente trabalho é confirmada pela visão de Câmara e Medeiros (1998), pois, segundo os autores: “A coleta de informações sobre a distribuição geográfica de diversos dados eram feitos apenas nos mapas em papel, o que impedia que essas informações fossem combinadas e integradas para análise”. (CÂMARA e MEDEIROS, 1998) Com o desenvolvimento da tecnologia da informática ao longo do tempo essa análise é feita atualmente em um ambiente computacional, o que pode ser confirmado com os dizeres de Câmara e Davis (1998) que segue:“Estas ferramentas computacionais permitem realizar análises através da integração de dados e na criação banco de dados georreferenciados.” (CÂMARA e DAVIS, 1998) Esta integração de dados pode ser vista como um recurso poderoso no que diz respeito á representação de temas ambientais dentro de um contexto municipal, espacialmente falando. Para que as análises e integração entre dados sejam possíveis, é necessário o entendimento da cartografia digital, bem como a utilização da mesma, para a projeção dos dados para o mapeamento. Na cartografia deve haver exatidão. 21 Essa exatidão é comprovada quando extraímos a informação do documento cartográfico. Para que haja essa precisão, é importante adotar uma escala adequada para que esta seja compatível com o que quer representar. Caso haja a ausência desta, nota-se o erro na posição geográfica, comprimento ou área nos mapas. Segundo TIMBÓ (2001): “O mapa é o principal meio de apresentação dos resultados, sendo a forma de visualização mais natural e de interpretação mais intuitiva onde a cartografia tem um papel de relevância fundamental dentro de geoprocessamento.” (TIMBÓ 2001) Ainda com relação á importância da cartografia para o mapeamento, Câmara e Queiroz (1998) nos conta que o georreferenciamento vai além da “localização de dados na superfície terrestre”, necessita-se também a representação destes em projeções cartográficas. Com relação á esse conceito D’ALGE (2004) menciona que: “Para haver adequação dos mapas deve ser elaborado um método que estabeleça uma relação entre os pontos da superfície da Terra (formato esferoidal) e seus correspondentes em um plano de projeção do mapa.” (D’ALGE 2004) Esta adequação pode funcionar como apoio permitindo que essas informações, saídas de formato esférico para o plano, sofram o mínimo de deformação possível, com o objetivo de haver o mínimo de distorção com relação aos atributos geográficos originais no mapa. Com isso, se esses dados estiverem correlacionados por uma projeção correta, então o analisador do mapa terá plena condição de extrair distâncias praticamente reais de uma cota à outra do terreno. De acordo com Santos (2004): “Os mapeamentos são representações, em superfície plana, das porções heterogêneas de um terreno, identificadas e delimitadas. Um mapa permite observar as localizações, as extensões, os padrões de distribuição e as relações entre os componentes distribuídos no espaço, além de representar generalizações e extrapolações” (SANTOS, 2004). 22 Através do entendimento sobre o que está mencionado acima, é possível dizer que as integrações de dados, estes executados pela técnica de geoprocessamento, são informações indispensáveis para se gerar um mapa e que e as projeções cartográficas estão interligadas á eles, consolidando uma forte relação entre estes elementos. No interior deste prisma de três princípios, pode-se incluir a principal técnica para geração de mapas, o SIG: Figura 1: Prisma entre Geoprocessamento, Cartografia e Mapa Fonte: Elaboração própria De acordo com Zanta e Ferreira (2003), o SIG tem a função de manipular dados georreferenciados em diferentes técnicas, instrumentos, hardware e software, com o objetivo de coletar, armazenar e processar dados. Santos (2004) especifica SIG como: “Ferramentas constituídas de inúmeras funções que permitem o armazenamento, medição, recuperação, classificação, atualização, manipulação, simulação e gerenciamento dos dados e informações interpretados da imagem de 23 satélite (sensoriamento remoto) ou de qualquer outro dado geográfico.“(SANTOS, 2004) Com inúmeras funções que o sistema oferece, é possível atingir um objetivo para cada pesquisa, sendo que este pode se estender desde a interpretação inicial até a avaliação final. Essas ferramentas são poderosas e ao mesmo tempo abrangentes do ponto de vista de sua funcionalidade, podendo o homem com o conhecimento da interface desses sistemas operar de forma a simular resultados embasados em dados geográficos coletados em campo ou em antigos mapas impressos e transferidos para a máquina, no caso, o computador. Na visão abrangente de Câmara (2004), o SIG tem a seguinte estrutura: • Interface com o usuário; • Entrada e integração de dados; • Funções de consulta e análise espacial; • Visualização e plotagem; • Armazenamento e recuperação de dados (banco de dados geográficos) Conhecendo essa estrutura, o usuário que possui o domínio sobre a ferramenta em questão conseguirá trabalhar com a integração de dados, que significa uma base para um resultado final de um tipo de mapa. Para se trabalhar com o conceito de forma satisfatória é necessário dominar os níveis da ferramenta. Sobre eles Câmara (2004) cita que: “O nível próximo ao usuário, a interface homem-máquina define como o sistema é operado e controlado. No nível intermediário, um SIG deve ter mecanismos de processamento de dados espaciais (entrada, edição, análise, visualização e saída). No nível mais interno do sistema, um sistema de gerência de bancos de dados geográficos oferece armazenamento e recuperação dos dados espaciais e seus atributos.” 24 Dentro desses níveis, para se chegar em um mapa final é preciso conhecer os componentes dentro do espaço territorial analisado, em que estes forneçam o conhecimento necessário sobre o local planejado. Essas informações podem ser provenientes de uma análise do banco de dados compostos destas, podendo ser caracterizadas como atributos, sendo esses utilizados para a geração e futura composição de mapas-temas. Estes componentes, quando integrados, podem determinar funções e comportamentos como Santos (2004) exemplifica a seguir: “Interagindo o mapa tema uso e ocupação da terra com população, podemos obter um resultado referente á limitação de uso de um território.” (SANTOS, 2004) A interação entre os dados faz parte do método que Santos (2004) se refere como base estrutural de integração de temas. Segundo Santos (2004), esta base tem a “capacidade de ordenar, classificar, dividir ou integrar” os temas estudados em uma determinada análise espacial, o que permite elas serem eficientes, além de muito utilizada em planejamentos ambientais, que serão descritos adiante. Tratando esses dados, é possível ter apurações claras e valiosas do local estudado, auxiliando assim no planejamento ambiental daquela região, sendo primordial tê-los em mãos, pois a partir deles é possível cruza-los para encontrar o resultado final para uma avaliação. Para executar a interação entre esses dados, de acordo com Santos (2004), existem diversas análises como a operação booleana. Um exemplo dessa aplicação é observada quando queremos cruzar três temas, como mapa geomorfológico, mapa de uso da terra e mapa de capacidade de uso, em que através de lógicas booleanas (AND OR e NOT) é possível resultar em um mapa derivado contendo definições de áreas potenciais para expansão urbana. Existem também outros métodos encontrados em SIG como os associados à abordagem qualitativa. Esta técnica trabalha com sobreposições de mapas dois a dois, envolvendo a identificação dos temas a serem incluídos no planejamento e a preparação de um mapa para cada tema, gerando o mapa-síntese (final) usando cruzamentos binários. (SANTOS, 2004) A abordagem numérica, outro método de SIG, pode ser apresentada, por exemplo, por modelos determinísticos (para relações determinísticas, nas quais é 25 possível somente um resultado) ou por métodos de análise multivariada ou multidimensional (para relações aleatórias, na qual há possibilidade de vários resultados). (SANTOS, 2004) Esta última opção se trata da condição mais próxima da que iremos utilizar neste trabalho. Utiliza-se neste, variáveisbinárias (0,1) como valores de coincidência e discordância na homogeneização de objetos do estudo, ou seja, numa agregação de mapas temas. Neste caso, também usa-se o conceito da álgebra booleana (SANTOS, 2004) De acordo com WEBER e HASENECK 2000, lógicas booleanas são: “Aquelas que utilizam critérios que cerceiam ou limitam a análise em foco a regiões geográficas específicas, constituindo-se normalmente mapas com classes do tipo apto/ não apto.” (WEBER e HASENECK, 2000) Iremos abordar neste trabalho a técnica fuzzy, que será descrita cautelosamente em metodologias. Esse método de classificação é baseado no conceito da lógica booleana, porém os valores são escalonados de 0 a 255 (intervalo de um byte) através de padronizações (uniformização) e hierarquização (ponderação de importância) dos mapas-temas. (WEBER e HASENECK, 2000) De uma forma geral, os modelos de metodologia para ferramentas SIG são baseados em duas classes: • Métodos baseados em localizações pontuais: utilizam a combinação dos atributos descritivos das variáveis geográficas, onde cada localização é dependente das demais. É baseada no conceito ponto-a-ponto, ou seja, cada classe é analisada isoladamente.(CÂMARA e MEDEIROS, 1998) • Métodos baseados na definição de áreas homogêneas: utilizam conceitos derivados da idéia de área-unidade. O conceito usado é a “Unidade Territorial Básica”, no qual pode ser exemplificado o projeto de Zoneamento Ecológico Econômico, coordenado pela EMBRAPA, em que é usado imagens de satélite como base para identificação da distinção sócio- econômico de zonas vizinhas, integrando um conjunto de atributos ambientais e utilizando diversas informações coletadas por censitários como 26 aspectos sociais, econômicos e políticos.(CÂMARA e MEDEIROS, 1998). Neste caso do ZEE, a ponderação é feita associando pesos para cada uma das classes (clima, geologia, geomorfologia, pedologia, cobertura vegetal e uso da terra) produzindo como resultado um geo-campo numérico que indicam a contribuição relativa de cada tema. Podemos perceber, através da conceituação dos autores que a gama de opções é extensa e variada para se trabalhar com métodos intrínsecos ao SIG. Essas possuem vantagens de serem práticas e eficientes na composição final dos mapas- temas. 5. PLANEJAMENTO AMBIENTAL Santos (2004) define planejamento como “um meio sistemático de determinar o estágio em que você está, onde deseja chegar e qual é o melhor caminho para chegar lá”. Segundo a autora, o planejamento é um processo contínuo que envolve a coleta, organização e análises sistematizadas das informações, por meio de procedimentos e métodos, para atingir decisões ou a escolhas acerca das melhores alternativas para o aproveitamento dos recursos disponíveis. Sua finalidade é atingir metas específicas no futuro, levando à melhoria de uma determinada situação e ao desenvolvimento das sociedades. Por tudo isto, é necessário que se tenha como objetivo as tomadas de decisões dentro de um planejamento ambiental, a partir da compreensão de componentes dentro de um espaço territorial estudado para um mapeamento bem sucedido. (SANTOS, 2004) De acordo com Santos (2004), a função de um planejamento está no ordenamento territorial bem estruturado e na orientação de uma “gestão para o desenvolvimento das atividades num determinado espaço e tempo”. Estas atividades humanas geram discussão neste ordenamento, pois, quando o projeto a ser estudado para uma possível viabilização envolve o planejamento territorial e administrativo de um município, simultaneamente são levantados elementos sociais, econômicos e 27 ambientais. Portanto, segundo a autora, deve ser de domínio “o dinamismo dos sistemas que compõe o meio por parte dos gestores” Contudo, para um eficaz planejamento espacial, é necessário que tenha sido feita uma avaliação criteriosa dos elementos, inclusive dos componentes ambientais, sendo que destes deriva-se uma ferramenta de política pública muito importante para o desenvolvimento do trabalho, o planejamento ambiental. De acordo com Santos (2004), com a necessidade de se avaliar os impactos ambientais provocados pela brusca evolução econômica no mundo no século XVIII, foi criada a idéia do planejamento ambiental. Esse planejamento tinha como objetivo adequar o “ordenamento territorial” e se encarregava também de “diagnosticar o meio ambiente, prever ações e integrar informações, visando cultivar o desenvolvimento sustentável“. O crescimento exagerado tanto da infra-estrutura como da população nos países nesta época, causou desorganização, ocupação e impacto ambiental, resultado dos interesses sócio-econômicos oriundos do forte desenvolvimento econômico. Buscando defender os interesses ambientais das futuras gerações, ou seja, conservando os recursos naturais de hoje para que não se tornem a escassez de amanhã, de acordo com as afirmações de Santos (2004), este tipo de planejamento fora criado também com a idéia de alertar que o planejamento econômico, assim como o crescimento do mesmo, é totalmente independente e nada tem a ver com o melhoramento na qualidade e padrão de vida às sociedades. Ao longo do tempo, com a preocupação efetiva na preservação de recursos hídricos, biomas e ecossistemas em geral, foram propostos modelos de gestões e constituições de leis dentro deste planejamento. Mesmo em meio ao descaso com relação à preocupação do meio ambiente na época da industrialização quando combater a pobreza era o principal tema em pauta, com o avanço do tempo houve a promulgação da lei da Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), que segundo Santos (2004), serviu como uma “carta de intenções” para a conservação do meio, além do surgimento da secretaria do meio ambiente. Além dessa, foram criadas 28 também o Sistema Nacional do meio ambiente (SISNAMA) e o Conselho nacional do meio ambiente (CONAMA), que tinham como finalidades “formular diretrizes para avaliação de impactos, planejamentos, gerenciamento e zoneamentos ambientais.” (SANTOS, 2004) 5.1. Estudos ambientais e a Política Nacional do Meio Ambiente A participação política tem destaque no desenvolvimento sustentável uma vez que esta possui a função de intermediar o uso de recursos naturais em vista ao crescimento demográfico, de forma à respeitar as “variáveis ambientais”. A preocupação do poder político para com a exploração em massa da população sobre o meio ambiente se faz presente na frase de DIEGUES (1992): “Se faz uso do capital do governo para a viabilização de projetos ambientais, estes acompanhados da aquisição de equipamentos e sistemas engenhosos para o manejo dos recursos naturais de forma correta, mitigando-se, através deste caráter político, a exploração dos ecossistemas e dos recursos naturais, que são condições básicas para o desenvolvimento sustentado.” (DIEGUES, 1992) Ainda nessa linha de análise, com relação à proposta dos relatórios internacionais objetivando o movimento da sustentabilidade Diegues (1992) diz que: “A democratização ao acesso e manejo dos recursos naturais pelos vários setores da população deveria ser controlado pelo regime autoritário.” (DIEGUES, 1992) Para tanto, a Política Nacional do Meio Ambiente que Santos (2004) define como “carta de intenções”, foi uma lei instituída pelo congresso nacional que teve como objetivo preservar recursos hídricos, biomas, ecossistemas e recursos naturais em geral. (SANCHEZ, 2006) Nos instrumentos de ações instituídas pela PNMA podemos destacar: III - Avaliação de Impactos Ambientais; 29 IV- Licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras. (Art. 9º da Lei 6.938/81) Caracteriza-se assim, com estas e as demais ações, a criação de um licenciamento ambiental. Para tratardestas, foram criados órgãos governamentais nas três esferas (federal, estadual e municipal) dentro da PNMA como o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) e o Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA). (SANCHEZ, 2006) Entre as atribuições do CONAMA à proteção ambiental, podemos destacar as que cuidam exatamente dos instrumentos de ações pertencentes à PNMA descriminados anteriormente: I – Estabelecer normas e critérios para o licenciamento de atividade efetiva ou potencialmente poluidora, a ser concedido pelos Estados e supervisionado pelo Ibama; II– Determinar a realização de estudos de alternativas e das possíveis conseqüências ambientais de projetos públicos ou privados especialmente nas áreas consideras patrimônio nacional. (Art 8º da Lei 6.938/81) Dentro destas exigências, de acordo com Sanchez (2006), a Constituição Federal estabeleceu diversos princípios de defesa da qualidade ambiental, como pode ser citado em seu artigo 225 que diz: “Para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade.” (Art 225) Como exigências do licenciamento ambiental, os estudos ambientais foram impostos com a finalidade de se obter uma autorização governamental (licença ambiental) para realizar atividades que utilizem recursos ambientais ou que tenham o potencial de causar degradação ambiental. Dentro disto, de acordo com Sanchez (2006): 30 “Se um cidadão pretende construir um edifício em local permitido pela legislação municipal de uso do solo e se o projeto do edifício atender aos requisitos do Código de Obras, a prefeitura não pode negar-lhe a licença para construir.” (SANCHEZ, 2006) Para que uma obra seja instalada de forma aceitável, é necessário que esta atenda a requisitos exigidos por órgãos governamentais como o CONAMA, com a finalidade de obedecer a Política Nacional do Meio Ambiente, instituída justamente para proteção ambiental. De acordo com Sanchez (2006), a PNMA, em seu decreto-lei nº 1633/77 instituiu o Sistema de Licenciamento de Atividades Poluidoras, para estipular que o Estado deve emitir Licença Prévia (LP), Licença de Instalação (LI) e licença de operação (LO). Com relação á estas, no detalhamento destas encontradas na lei nº 88.351/83, revogado em 1990 e substituído pelo decreto nº 99.274/9 da PNMA, podemos destacar: I – Licença Prévia (LP), na fase preliminar do planejamento da atividade, contendo requisitos básicos a serem atendidos nas fases de localização, instalação e operação, observados os planos estaduais ou federais de uso do solo. De acordo com Sanchez (2006): “A licença prévia é solicitada quando o projeto técnico está em preparação, a localização ainda pode ser alterada e alternativas tecnológicas podem ser estudadas.”( SANCHEZ, 2006) É nesse momento que se enquadra a questão do estudo ambiental exigido por lei, sendo que este pode ser altamente eficiente e mais rápido se seu desenvolvimento for realizado através de ferramentas SIG, com um grande atributo, o de analisar e simular localizações da instalação de um aterro, considerando componentes de um meio estudado. De acordo com o Art. 4 da Resolução nº 404, de 11 de Novembro de 2008, do Conselho Nacional do Meio Ambiente, com o objetivo de atender as exigências 31 colocadas pela legislação ambiental vigente em instância federal, para este trabalho será estudado o seguinte licenciamento. Art. 4o No licenciamento ambiental dos aterros sanitários de pequeno porte contemplados nesta Resolução deverão ser exigidas, no mínimo, as seguintes condições, critérios e diretrizes: I - vias de acesso ao local com boas condições de tráfego ao longo de todo o ano, mesmo no período de chuvas intensas; II - respeito às distâncias mínimas estabelecidas na legislação ambiental e normas técnicas; III - respeito às distâncias mínimas estabelecidas na legislação ambiental relativas a áreas de preservação permanente, Unidades de Conservação, ecossistemas frágeis e recursos hídricos subterrâneos e superficiais; IV - uso de áreas com características hidrogeológicas, geográficas e geotécnicas adequadas ao uso pretendido, comprovadas por meio de estudos específicos; V - uso de áreas que atendam a legislação municipal de Uso e Ocupação do Solo, desde que atendido o disposto no art. 5o e 10 da Resolução CONAMA no 237, de 19 de dezembro de 1997, com preferência daquelas antropizadas e com potencial mínimo de incorporação à zona urbana da sede, distritos ou povoados e de baixa valorização imobiliária; VI - uso de áreas que garantam a implantação de empreendimentos com vida útil superior a 15 anos; VII - impossibilidade de utilização de áreas consideradas de risco, como as suscetíveis a erosões, salvo após a realização de intervenções técnicas capazes de garantir a estabilidade do terreno; VIII - impossibilidade de uso de áreas ambientalmente sensíveis e de vulnerabilidade ambiental, como as sujeitas a inundações; XI - caracterização do local; XII - métodos para a prevenção e minimização dos impactos ambientais. 32 5.2. Estudos ambientais e ferramentas SIG Quando se gera um mapa de composição final, ao término de um projeto no qual utilizamos métodos referentes às ferramentas SIG, é possível construir estratégias para sanar os problemas ambientais. Para que seja possível a solução destes problemas é necessário que se recorra á um estudo ambiental como um processo de diagnóstico da situação dentro do planejamento ambiental. (SANTOS, 2004) “Estudos ambientais”, de acordo com a resolução do CONAMA nº 237 de 1997: “São todos e quaisquer estudos relativos aos aspectos ambientais relacionados à localização inlação, operação e ampliação de uma atividade ou empreendimento, apresentado como subsídio para a análise da licença requerida.” (CONAMA, 1997) Na óptica abrangente de Sanchez (2006): “Estudos ambientais são estudos técnicos de impactos ambientais necessários ao licenciamento de um empreendimento que tenha o potencial causador para tal.” (SANCHEZ, 2006) Os estudos ambientais englobam quatro grandes dimensões de problemas nos quais é possível fazer uso da tecnologia de sistemas de informação geográfica. São eles: Mapeamento Temático, Diagnóstico Ambiental, Avaliação de Impacto Ambiental e Ordenamento Territorial. (CÂMARA e MEDEIROS, 1998) Para o projeto, iremos trabalhar com mapeamento temático, que tem a função de organizar e compreender a distribuição espacial com relação ás informações de um ambiente, agrupando levantamentos temáticos como geologia, geomorfologia, solos, cobertura vegetal para ações e estudos futuros. Câmara e Medeiros (1998) definem mapa temático como: “Uma representação simplificada do conhecimento de um especialista sobre a região estudada.” (CÂMARA e MEDEIROS, 1998) 33 Com relação á avaliação do impacto ambiental (AIA), segundo Câmara e Medeiros (1998), esta questão corresponde á um pós-estudo, ou seja, ao monitoramento de um meio antropizado (alterada por atividades humanas). Porém convém dizer que o estudo ambiental do presente trabalho poderá se basear em uma avaliação de impacto ambiental, já que esta tem como objetivo, de acordo com Sanchez (2006): “Considerar os impactos ambientais antes de qualquer tomada de decisão que possa acarretar significativamente a degradação da qualidade do meio ambiente.” (SANCHEZ, 2006) Além disso, a AIA tem como propósitos a retirada de projetos inviáveis, a legitimação de projetos viáveis e a seleção de melhores alternativas locacionais, o que será importantíssimo para o diagnóstico ambiental do presente trabalho. (SANCHEZ, 2006) Com tudo isso é possível concluirque esses tipos de estudos ambientais visam compreender, de forma sistematizada através das ferramentas SIG, a ocupação do espaço, buscando racionalizar a gestão do território, com vistas á um processo de desenvolvimento sustentável. Esta racionalização é presente nas palavras de Diegues (1992), quando o mesmo diz que: “A sustentabilidade visa prever a manutenção dos processos ecológicos fundamentais dos quais depende a sobrevivência humana, tais como fotossíntese, os ciclos hidrológicos e a reciclagem dos nutrientes. A perturbação em alto grau desses processos colocaria em risco a saúde humana.” (DIEGUES, 1992) Além disso, Diegues 1992 afirma que é importante o combate á degradação ambiental, a poluição, e ao desmatamento, bem como promover o estabelecimento de áreas protegidas como parques e reservas ecológicas, diversidade biológica e a diversidade cultural. 34 5.3. Estudo preliminar para aterro sanitário O caput do Artigo 17 do Decreto 99.274/90 da PNMA especifica em seu primeiro parágrafo os itens que podem ser destacados para o presente trabalho: § 1º - Caberá ao CONAMA fixar os critérios básicos, segundo os quais serão exigidos estudos de impacto ambiental para fins de licenciamento, contendo, entre outros, os seguintes itens: • Diagnóstico ambiental da área; • Identificação, análise e previsão dos impactos significativos, positivos e negativos. A pauta deste capítulo será com relação ao “diagnóstico ambiental da área“ sendo descrito adiante o item “identificação, análise e previsão dos impactos significativos, positivos e negativos.” De acordo com o Instituto de pesquisa tecnológica (1995), dois fatores são importantes e criam resistência no sentido da implantação de aterros próximos ao local de geração de resíduos. São eles: • o alto grau de urbanização; • a ocupação intensiva do solo. (INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLÓGICAS, 1995) Pode-se dizer que de certa forma eles têm interligação, pois quanto maior a presença de habitantes, maior é a utilização de áreas dentro do município para fins comerciais, industriais e rurais. De acordo com o Instituto de pesquisa tecnológica (1995), para escolher preliminarmente as áreas disponíveis deve haver uma estimativa inicial da área total do aterro. Para se estimar isso, basta multiplicar o total de lixo coletado diariamente em toneladas pelo fator 560 (que se baseia em parâmetros como vida útil igual á 20 anos, 35 altura do aterro equivalente á 20 metros, alturas de talude com proporção 1:3 e ocupação de 80% do terreno com área operacional) obtendo assim um resultado final em metros quadrados. Considerando que Sumaré possui um contingente populacional de 228.481 (EMPLASA, 2007), que se enquadra no intervalo constatado dentro do Programa Nacional de Saneamento Básico realizado pelo IBGE em que municípios que possuem entre 200 mil e 499 999 habitantes produzem 21.177,30 toneladas de resíduos por dia (IBGE, 2000), a área disponível para tratar os resíduos estaria em aproximadamente 1185 ha. Porém, quando é levantada esta mesma questão dentro da Região Metropolitana de Campinas, podemos perceber que este critério de seleção não é obedecido. De acordo com Ensinas (2003) o aterro Delta A que está sendo desativado por estar próximo ao término da sua vida útil, ocupa uma área de 395 mil metros quadrados que correspondem á 39,5 ha, recebendo uma quantidade de 23 mil toneladas mensais de lixo, insignificante com relação ao montante total de lixo produzido em Campinas por dia. Isto porque, segundo IBGE, em cidades com mais de 1 milhão de habitantes, é gerado um montante de 51.635,2 ha/dia.(IBGE, 2000) Fica claro então que do total de lixo há uma distribuição em diversos terrenos, pois nem sempre é possível encontrar tamanha área em condições propícias para o acolhimento de todos os resíduos gerados. Portanto, considerando a unidade territorial de Sumaré, 153 km quadrados (IBGE, 2009), será analisada a demanda de área aceitável para se ocupar empreendimentos dessa magnitude, descartando grandes dimensões. Para analisar estas áreas, nesta fase preliminar, deve-se levar em conta a delimitação dos perímetros das regiões rurais e industriais, bem como das unidades de conservação existentes além também da prioridade de áreas que pertencem ao município, e finalmente o levantamento de proprietários destas e a verificação de documentação referente á estas áreas. (INSTITUTO DE PESQUISAS 36 TECNOLÓGICAS, 1995) Além disso, deve-se lembrar também que para pequenas áreas como é o caso do presente estudo a vida útil mínima a ser considerada é de 5 anos segundo o Instituto De Pesquisa Tecnológica (1995), o que facilitará o processo de identificação. Para se entender sobre “vida útil”, de acordo com Ensinas (2003): “A vida útil está relacionada ao crescimento populacional e à geração de resíduos.” (ENSINAS, 2003) Isto significa que se a taxa de crescimento no município é alta devido ao favorecimento em sua condição econômica, a geração “per capita” do lixo é maior, diminuindo a vida útil do aterro em anos. Porém esse fator não será considerado nesse trabalho já que não serão avaliados a compactação do lixo nem a coleta seletiva, o que somados reduziriam o volume total do lixo, reduzindo assim a vida útil do aterro. (FIPAI, 2008) Não será pesquisada também a taxa de crescimento da população no município de Sumaré. 37 Tabela 1: Municípios, total e sua respectiva distribuição percentual, população e dados gerais sobre o lixo, segundo estratos populacionais dos municípios – 2000. Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Departamento de População e Indicadores Sociais, Pesquisa Nacional de Saneamento Básico 2000.. Através dos dados coletados referentes à região estudada é possível ter informações essenciais, sendo essas estudadas na seqüência do presente estudo, analisando-as como temas e se baseando em critérios pertinentes à seleção da melhor área para instalação de um aterro sanitário. 5.4. Temas De acordo com a definição rápida de Santos (2004), é possível resumir temas como informações de um meio estudado. Exemplos como declividade, clima, geologia e vegetação são denominados temas. O levantamento de temas é realizado na primeira etapa de um diagnóstico ambiental. Partindo do pressuposto que para se realizar um diagnóstico ambiental é Lixo Produção per capita Estratos Populacionais Urbano (t/dia) Lixo domiciliar (kg/dia) Lixo público (kg/dia) Lixo urbano (kg/dia) Total 161827,1 0,74 0,22 0,95 Até 9.999 habitantes 9.184,80 0,46 0,2 0,66 De 10.000 a 19.999 habitantes 11.473,10 0,42 0,16 0,58 De 20.000 a 49.999 habitantes 18.281,60 0,48 0,16 0,64 De 50.000 a 99.999 habitantes 14.708,10 0,56 0,15 0,71 De 100.000 a 199.999 habitantes 13.721,70 0,69 0,15 0,84 De 200.000 a 499.999 habitantes 21.177,30 0,78 0,14 0,91 De 500.000 a 999.999 habitantes 21.645,30 1,29 0,43 1,72 Mais de 1.000.000 habitantes 51.635,20 1,16 0,35 1,5 38 necessária a interpretação do ambiente estudado. Para isto é preciso também que se tenha objetos de estudos. Santos (2004) caracteriza estes como: “Dados, informações ou parâmetros de entrada de um diagnóstico ambiental.” (SANTOS, 2004) Para conhecer a “composição, estrutura, processo e função” assim como a dinâmica das atividades do homem na natureza, esses objetos de estudo servem como base para o “mapeamento temático” que segundo Santos (2004) se origina: “De um conjunto de temas que, quando associados, permitem uma análise, e essa é representada em identificações e delimitações de terrenos que se quer alcançar”. (SANTOS, 2004) Pode ser um exemplo, a identificação de zonasaptas à instalação de aterros sanitários, tema do presente trabalho. É importante dizer, segundo Santos (2004), que no planejamento ambiental não existe um padrão de conjunto de temas, porém os mais utilizados são os relacionados aos aspectos físicos (climatologia, geologia, geomorfologia, pedologia, hidrologia), e biológicos (vegetação e fauna). Outros temas comumente utilizados são os que se referem aos aspectos econômico-sociais como uso da terra, infra-estrutura de serviço, condições de vida da população e demografia. E por fim, os aspectos jurídicos, institucionais e de organização política devido às pressões da sociedade pela atividade humana. (SANTOS, 2004) De acordo com Santos (2004), estes temas: “Expressam as causas dos problemas ambientais (pressão), a qualidade do ambiente frente às ações humanas (estado) e as providências tomadas pela sociedade frente às pressões sobre o meio (resposta)”. (SANTOS, 2004) Fazendo um paralelo usando o exemplo de Sanchez (2006), uma determinada espécie aquática só sobrevive se as condições ambientais são de ótima qualidade da água (pressão), a espécie que normalmente ocuparia aquele local estará ausente (estado) se tais exigências ambientais não forem bem definidas (resposta). 39 É possível concluir que os temas, através desse conceito, fornecem uma “interpretação de dados ambientais” para um processo que Sanchez (2006) define como “estudo de impacto”, que engloba as etapas de diagnóstico, desde a previsão de impactos e de monitoramento até as respostas á serem alcançadas a fim de uma solução para a análise ambiental discutida. 5.5. Critérios de Impacto Ambiental O impacto ambiental, de acordo com Santos (2004): “É compreendido como toda alteração perceptível no meio, que comprometa o equilíbrio dos sistemas naturais ou antropizados, podendo decorrer tanto das ações humanas como de fenômenos naturais.” (SANTOS, 2004) Para o planejamento da previsão de impactos, é necessário, de acordo com Santos (2004), saber quem são os indicadores, quantos são e como serão qualificados para avaliar as transformações resultantes do impacto ambiental. Esta previsão pode ser classificada como um impacto provável. Segundo Santos (2004), este tipo de diagnóstico de impacto ambiental se refere á: “Aquele que pode vir a ocorrer, previsto em virtude das atividades e indícios diagnosticados, pela observação in situ ou por meio da análise de temas e indicadores definidos para o planejamento”. (SANTOS, 2004) Após o processo de identificação, qualificação e quantificação dos indicadores de impactos, os impactos prováveis podem continuar a ser caracterizados de acordo com um conjunto de outros critérios que estabelecem uma ordem de grandeza ao seu valor, que podemos considerar como ponderação. Santos (2004) esclarece que os critérios são oriundos de trabalhos voltados a estudos de impacto ambiental, cuja construção tem como objeto um empreendimento a ser instalado, visando classificar futuros e potenciais impactos. 40 Entre as classificações de fatores para os impactos temos o critério “importância”, que é caracterizado como “grau de significância de um impacto em relação ao fator ambiental afetado”. Nesse aspecto, “um impacto pode ter magnitude alta, mas não ser tão importante quando comparado a outro, num contexto de uma dada avaliação.” (SANTOS, 2004) Para utilizar esse tipo de critério, é possível analisar os impactos dentro de um limite espaço-municipal, se baseando num atributo que Sanchez (2006) classifica como “escala espacial”. Segundo ele, a escala deverá ser definida para cada caso, sendo que neste trabalho, “a abrangência municipal é usada para os impactos cuja área de influência esteja relacionada aos limites administrativos municipais”. Portanto, pode-se concluir que com relação à situação que estamos avaliando, é possível utilizar a condição do critério de “importância” dentro de uma escala espaço-municipal definida, para identificar prováveis impactos ambientais no processo de diagnóstico ambiental dentro do planejamento do mesmo. 6. ESTUDO DE CASO O objeto de estudo em que se pretende realizar o estudo ambiental a fim de identificar zonas aptas á instalação de um aterro sanitário é o Município de Sumaré, localizado a centro-leste do Estado de São Paulo, incluso na Região Metropolitana de Campinas, geograficamente inserido na Depressão Periférica Paulista. Sua localização está entre as coordenadas: latitude 22°30' Sul e longitude 47°00' Oeste (IPOLLITI, 1998). Localizado próximo á Rodovia Dom Pedro, o município de Sumaré é servido por duas rodovias (Anhanguera e Bandeirantes), conforme exibe o mapa 1. A delimitação da área de estudo consiste no limite municipal, este escolhido devido o enfoque do trabalho ser na unidade administrativa municipal de Sumaré. 41 Mapa 1 - Mapa da malha viária no município de Sumaré-SP. Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Secretaria de Planejamento de Sumaré. Sumaré limita-se com Hortolândia, Campinas, Santa Bárbara, Nova Odessa, Monte-Mor e Paulínia como exibido no mapa 2. Sua unidade territorial é de 153 km quadrados (IBGE 2009) 42 Mapa 2: Sumaré e cidades limitantes no Estado de São Paulo. Fonte: IBGE. Elaboração própria. 6.1. Urbanização Compondo em 4,47 % a área da Região Metropolitana de Campinas, o município de Sumaré possui uma população de 228.481 habitantes, o que significa 8,57 % da RMC.(EMPLASA, 2007) Dona de uma grande infra-estrutura, montada para atender a cafeicultura considerada como impulsora do desenvolvimento econômico do país no século XIX, a Região Metropolitana de Campinas sofreu intensa ampliação causada pela expansão urbana, decorrida da migração de muitos estrangeiros para 43 trabalhar como mão de obra na atividade cafeeira e posteriormente para ocupar esses cargos em indústrias quando houve a substituição da agricultura pela industrialização na época da crise. Essa característica pode ser notada no mapa 3. Este mapa mostra a urbanização juntamente com uma área de mil metros especificados na lei para instalação de aterros sanitários, sendo este material utilizado posteriormente para análise do trabalho. Mapa 3 - Mapa da Mancha Urbana do Município de Sumaré-SP na escala 1:10.000. Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Secretaria de Planejamento de Sumaré. Nessa linha de análise, Orlando 2005 diz que: “Os grandes projetos do setor agropecuário e da atividade industrial foram vistos como propulsores do desenvolvimento econômico e não tiveram a preocupação com as conseqüências sociais, econômicas e ecológicas”. (ORLANDO 2005) Esta teoria se torna sólida quando Orlando 2005 nos conta que: 44 “A qualidade dos serviços oferecidos e a organização do crescimento das cidades da região foi amplificada pela ausência de ações públicas planejadas”. (ORLANDO 2005) Com a falta de um planejamento ambiental, provocado pelo descuido com as questões sociais e ambientais que se mostraram incompatíveis com os preceitos de desenvolvimento sustentável, gerou-se tamanha concentração urbana na Região Metropolitana de Campinas, traduzida em mais de 2 milhões de pessoas. (EMPLASA, 2007) Sobre essa realidade, segundo Barbosa (2005), houve problemas metropolitanos de grandes dimensões e complexidade, entre eles a questão da disposição dos resíduos. Segundo a Cetesb (2005), são produzidos em Sumaré 135,3 t de resíduo por dia sendo a média per capita de aproximadamente 0,6 kg, em que a maior parte do lixo produzido é conduzido até Paulínia para tratamento, gerando altos custos para o setor de transporte. É dentro destecontexto que se faz necessário o levantamento, no presente trabalho, de áreas aptas para a disposição de resíduos sólidos no município, com o apoio de geoprocessamento. 6.2. Altimetria A altitude do município varia entre 550 e 625 metros acima do nível do mar. O município é suavemente ondulado. De acordo com o Instituto de pesquisas tecnológicas (1995), é importante que a área para instalação de um aterro sanitário tenha um declive plano sem muitas oscilações de altitude, sendo o segundo caso mais próximo da realidade de Sumaré como observado no mapa a seguir, para que possa reduzir os custos no sistema de drenagem e riscos de erosão, sendo que este último fator também dependerá do tipo de solo. Há um consenso entre os autores com relação á essa pauta, pois, de acordo com Zanta e Ferreira (2003), eles também consideram a classe plana a mais adequada para o uso pretendido, em função das facilidades de implantação dos aterros sustentáveis de resíduos. 45 Mapa 4: Mapa de altimetria de Sumaré- SP. Fonte: Elaboração própria a partir de conjunto de folhas topográficas em escala 1:10.000 da Secretaria de Planejamento de Sumaré. 6.3. Pedologia O município possui ainda poucas áreas de várzea, tendo a atividade agrícola como predominante.(IPOLLITI, 1998) É possível observar no aspecto econômico- financeiro que esta característica é importante para o custo de aquisição do terreno, sendo este menor em comparação a uma zona industrial, caso esta área não pertença à prefeitura.(INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLÓGICAS, 1995) Em teoria, este custo sempre será inversamente proporcional à distância do centro de adensamento da urbanização. 46 Uma condição ambiental favorável do município está nas poucas áreas de várzea, já que estas estão sujeitas á inundações quando há grande pluviosidade. (ZANTA e FERREIRA, 2003) Como o clima é temperado e as chuvas regulares (PREFEITURA MUNICIPAL DE SUMARÉ, 2010), estes fatores amenizam a situação das áreas potenciais à contaminação, pois com menor volume de chuva, estas estarão menos vulneráveis às erosões e à contaminação dos recursos hídricos pelos líquidos gerados nos sistemas de aterramento de resíduos sólidos. Em termos de solos, Sumaré possui boa condição pedológica, podendo esta ser notada no mapa a seguir. As classes “Podzólico Vermelho Amarelo” ou “Argissolos” se apresentam com boa frequência durante todo o terreno, além de “Latossolo Vermelho Escuro”. Estes tipos de solos são essenciais para o tratamento de resíduos sólidos pelo fato de possuírem maior compactação, ocorridas por suas características argilosas. A alta taxa de percentagem presente por kilograma de solo faz com que este elemento seja determinante para menor permeabilidade dos solos. Os Podzólicos Vermelhos Amarelos são solos bem desenvolvidos, bem drenados e profundos. As diferenças destes para os Latossolos são que os últimos são acentuadamente drenados, situação esta que compromete este tipo de atividade, por contribuir para a percolação dos lixiviados dentro do solo até o lençol freático. As duas classes pesam positivamente para um fator muito importante do ponto de vista econômico-financeiro, ambos possuem camadas espessas e profundas, permitindo assim uma disponibilidade de volume de terra suficiente para a execução de obras iniciais, como correções de planoaltimetria do terreno e cortes para trincheiras a fim de abrigar o lixo e evitar a alta drenagem de poluentes. (OLIVEIRA 2005) Há também no município a presença de solos hidromórficos como os Gleissolos. Estes são caracterizados por serem úmidos e por localizarem em áreas com riscos de inundação (várzeas), pois são frágeis e ocorrem em declives mais acentuados, o que desfavorece a condição proposta no trabalho. Os Cambissolos, também presenciados na região, também se tratam de uma tipologia negativa para o efeito do trabalho, isto porque estes são poucos profundos por serem incipientes 47 (recentes) nos horizontes B, estando em estado inicial de desenvolvimento, apesar de constituídos por argila. (OLIVEIRA, 2005) Mapa 5: Mapa pedológico Semidetalhado de Sumaré – SP. Fonte: IAC 1977. Elaboração própria 48 Tabela 2: Classe de solo, simbologia e descrição de cada solo referente à Sumaré. Classe do Solo Simbologia Descrição Cambissolo Cb A moderado, distrófico, textura média Complexo Indiscriminado de solos hidromórficos Hi Glei pouco húmico ou glei húmico LE -1 Álico A moderado, textura argilosa Latossolo Vermelho Escuro LE -4 Álico A moderado, textura média Latossolo Vermelho Amarelo Húmico LH Álico, húmico, textura média ou argilosa LRd Distrófico A moderado Latossolo Roxo LRd+LE1 Distrófico A moderado + Álico A moderado, textura argilosa LV-1+LV-3 Álico A moderado, textura argilosa + Álico A moderado, textura média LV-3 Álico A moderado, textura média (textura média no horizonte B com ou sem hor. A arenoso) LV-4 Álico A moderado, textura média (textura média no horizonte B com ou sem hor. A arenoso) Latossolo Vermelho Amarelo LV-4+LE-4 Álico A moderado, textura média + Álico A moderado, textura média PV-1 Abruptico, A moderado espesso, textura arenosa/média PV-2 A moderado ou proeminente, textura arenosa/media Podzólico Vermelho Amarelo PV-2 +LV-4 A moderado ou proeminente, textura arenosa/media + Álico A moderado, textura média Fonte: IAC 1977 6.4. Hidrografia Do ponto de vista hidrográfico de Sumaré é possível notar, através do mapa 6, que este município é alimentado por diversos ribeirões, em que suas nascentes localizam-se dentro dos limites do município. Esta condição ambiental desfavorece a 49 implantação de uma obra da magnitude de um aterro sanitário pois, de acordo com as especificações nas leis, não é permitido a instalação destes em áreas próximas à rios, especialmente em nascentes. Mapa 6: Mapa da hidrografia de Sumaré-SP. Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Secretaria de Planejamento de Sumaré. Conforme o mapa 6, o território está inserido nas bacias de três principais rios, são eles: Ribeirão dos Toledos (1), Jacuba (2) e Quilombo (3). (PREFEITURA MUNICIPAL DE SUMARÉ, 2010) De acordo com o Sistema de Licenciamento de Atividades Poluidoras que será descriminado à seguir, não é permitido a instalação de aterros sanitários dentro de um limite de 200 metros de qualquer coleção hídrica ou curso d’ água. Esta faixa de 50 preservação está exibida no mapa 7, este que será analisado com os demais mapas para a geração do produto final. Mapa 7 - Mapa de Áreas de Preservação Permanente do Município de Sumaré-SP. Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Secretaria de Planejamento de Sumaré. 6.5. Uso do Solo Com relação ao uso do solo no município de Sumaré, note-se uma grande devastação da área a partir do mapa 8, situação esta causada em ações antrópicas pela urbanização que se formou na região. A área rural representada no mesmo mapa é um importante atributo no custo de aquisição e uso correto do solo na cidade para instalação de um aterro sanitário. 51 Mapa 8 - Mapa de Áreas Rurais e Reserva Natural do Município de Sumaré-SP. Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Secretaria de Planejamento de Sumaré. 6.6. Áreas sujeitas a inundação No mapa 9 são mostradas as áreas sujeitas a inundação. Segundo o Sistema de Licenciamento de Atividades Poluidoras, estas áreas não podem receber uma instalação de aterro sanitário, já que com inundações estes locais sofrerão erosões, o que comprometerá a atividade em questão.
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