Buscar

Capítulo 11 Ativação da Célula B e produção de anticorpos

Prévia do material em texto

Lucas Vieira – MEDICINA T3 UNINORTE ATIVAÇÃO DA CÉLULA B E PRODUÇÃO DE ANTICORPOS 
CARACTERÍSTICAS GERAIS DE RESPOSTAS HUMORAIS 
 Respostas imunes humorais são iniciadas pelo reconhecimento antigênico por linfócitos B específicos;  O antígeno liga-se à IgM e IgD de membrana de células virgens maduras, possibilitando que sejam ativadas;  A ativação leva à proliferação e diferenciação de células específicas;  Algumas células ativadas passam a produzir anticorpos diferentes dos isótipos iniciais, tal processo é chamado mudança de isótipo da cadeia pesada;  Conforme a resposta se desenvolve, as células B produtoras de anticorpos que se ligam com maior afinidade ao antígeno progressivamente dominam a resposta, processo chamado maturação de afinidade (dependente da ativação de células B pelo CD40L em células T);  A maturação de afinidade envolve mutação somática de genes V rearranjados das Ig em células B ativadas e uma posterior seleção delas com elevada afinidade para o antígeno original.  O tipo e a quantidade de anticorpos variam com o tipo de antígeno, envolvimento de células T, histórico prévio de exposição, sítio anatômico onde ocorre a ativação;  Respostas contra antígenos proteicos necessitam reconhecimento e internalização deles por células B, que então os apresentam a células T CD4 auxiliares, as quais ativarão a célula B;  Assim, proteínas são classificadas como antígenos timo dependentes.  Antígenos não proteicos multivalentes (contêm vários epítopos idênticos em uma mesma molécula) são timo independentes (a intensa aglomeração de BCR associada à ativação de receptores de reconhecimento de padrões permite a indução da resposta);  Algumas progênies de células B podem originar plasmócitos secretores de vida longa, que migram dos centros germinativos para a medula óssea e fornecem proteção imediata em contato com o antígeno; ou células de memória, que montam respostas rápidas em encontros posteriores com o antígeno;  O direcionamento do destino da célula B depende da atividade de sinais de receptores, envolvendo antígenos e citocinas chave, que induzem expressão de fatores de transcrição específicos.  A mudança de isótipos resulta principalmente da estimulação de células B por T auxiliares;  Os principais mecanismos envolvidos são a secreção de citocinas e a expressão do CD40L;  Ocorre principalmente nos centros germinativos.  Quantidades maiores de anticorpos são produzidas na resposta secundária, bem como aumentam a mudança de isótipo e a maturação da afinidade;  Subgrupos distintos de células T respondem preferencialmente a diferentes tipos de antígenos:  Células B foliculares montam principalmente respostas contra antígenos proteicos;  Células B da zona marginal reconhecem antígenos multivalentes, montando principalmente respostas contra antígenos independentes de T;  Células B-1 também medeiam principalmente respostas independentes de T, mas em tecidos de mucosa e no peritônio. 
RECONHECIMENTO DE ANTÍGENOS E ATIVAÇÃO DA CÉLULA B 
 Captura e reconhecimento de antígeno:  As células B virgens circulam pelos folículos dos órgãos linfoides periféricos em busca de antígenos específicos;  Sua entrada é guiada pela CXCL13 secretada pelas células dendríticas foliculares e células do estroma do folículo; essa quimiocina liga-se ao CXCR5 em células B virgens recirculantes, atraindo-as para dentro dos folículos; 
Lucas Vieira – MEDICINA T3 UNINORTE  A sobrevivência da célula B folicular depende de sinais bioquímicos liberados via BCR, bem como de estímulos recebidos da BAFF (fator de ativação da célula B da família TNF, ou BLyS);  O BAFF e um ligante relacionado, APRIL, podem ativar dois outros receptores, TACI e BCMA, que participam de estágios mais avançados de ativação e diferenciação da célula B.  A maioria dos antígenos são transportados para os gânglios linfáticos via vasos linfáticos aferentes que os drenam para o seio subcapsular;  Antígenos solúveis podem alcançar a zona de células B pelos condutores entre o seio e o folículo, interagindo diretamente com as células B;  Macrófagos do seio capturam micro-organismos inteiros, bem como complexos antígeno-anticorpos, entregando-os aos folículos;  Antígenos grandes que não podem ser capturados pelos macrófagos são capturados na região medular por células dendríticas residentes e transportados para os folículos;  Complexos imunes que ativam o complemento podem se ligar a receptores do complemento (especialmente CR2) nas células B da zona marginal, que transferem os complexos para as B foliculares;  Esses últimos também pode se ligar ao CRS na superfície de células dendríticas foliculares e serem apresentados às B antígeno-específicas;  Patógenos presentes no sangue podem ser capturados por células dendríticas plasmocitoides e transportados para o baço, onde são entregues a células B da zona marginal;  Em todos esses casos, o antígeno apresentado está em sua conformação nativa e não é processado, uma das mais importantes distinções entre o reconhecimento de antígeno por células B e T.  Ativação de células B por antígenos e outros sinais:  O receptor de antígenos de células B tem duas funções fundamentais na ativação: deflagração de sinais bioquímicos para ativação da célula quando da ligação ao antígeno; e o receptor internaliza o antígeno em vesículas endossômicas e, caso seja proteico, é processado e expresso na superfície da célula para reconhecimento por células T auxiliares;  O correceptor CR2 (CD21) liga-se a fragmentos do complemento (C3d) ligados aos micro-organismos, aumentando a força de sinalização do BCR;  Lembrando que a presença de patógenos ativa o sistema complemento pelas vias alternativas (ausência de anticorpos), da lectina e via clássica (presença de anticorpos);  Em todas as situações são gerados fragmentos do complemento que se ligam ao micro-organismo, e um desses é o C3d.  Células B humanas expressam vários TLR, como TLR5 (reconhece flagelina bacteriana), TLR7 endossômicos (reconhecem RNAs), TLR9 (reconhece DNA rico em CpG);  Esses receptores de reconhecimento de padrões ativam diretamente células B;  Além disso, ativação de células mieloides por meio de TLR pode promover ativação indireta de células B de duas maneiras: células dendríticas ativadas contribuem para ativação de T auxiliares; e mieloides ativadas podem secretar APRIL e BAFF, citocinas indutoras de respostas das células B. 
Lucas Vieira – MEDICINA T3 UNINORTE 
 
 Respostas funcionais de células B a antígenos:  A ligação cruzada do receptor com alguns antígenos estimula diversas mudanças nas células B; previamente em repouso, entram no estágio G1, acompanhado por aumento no tamanho, no conteúdo de RNA citoplasmático e no número de organelas biossintéticas;  Então, a sobrevivência é estimulada pelo aumento na expressão de proteínas antiapoptóticas, como Bcl-2;  A ativação aumenta a expressão de coestimuladores e moléculas de MHC de classe II, de modo que células B estimuladas são ativadoras mais eficientes dos linfócitos T auxiliares que as células virgens;  Há ainda aumento da expressão de receptores de citocinas secretadas pelas células T auxiliares, de modo que elas possam responder mais eficientemente à estimulação delas.  A expressão de receptores de quimiocinas pode mudar, o que resulta no movimento para fora dos folículos;  A importância da sinalização pelo BCR para respostas subsequentes pode variar com a natureza do antígeno;  Por exemplo, muitos antígenos proteicos possuem apenas um epítopo por molécula, de modo que não conseguem fazer ligações cruzadas extensas com várias moléculas de Ig, logo capacidade limitada de ativação do BCR.  Após o reconhecimento do antígeno, as etapas subsequentes são diferentes nas respostas dependentes e independentes de células T. 
Lucas Vieira – MEDICINA T3 UNINORTE 
 
RESPOSTAS DE ANTICORPOS DEPENDENTES DE T 
 Sequência de eventos nas respostas de anticorpos dependentes de T:  O antígenoé captado pelas células dendríticas, também ativadas por produtos microbianos, e apresentado a células T auxiliares virgens nas zonas de células T de órgãos linfoides;  Células T auxiliares são inicialmente ativadas pelas células dendríticas, apresentando peptídeos acoplados ao MHC de classe II e também expressando ligantes coestimuladores, como moléculas B7;  Células T ativadas expressam CD40L e receptores de quimiocinas que promovem sua migração para o folículo;  Células B em folículos linfoides são ativadas pelo antígeno, processando e apresentando-o, além de alterarem seu perfil de receptores de quimiocinas, o que as faz migrarem para a zona de células T;  No limite entre zona de células T e folículo, células B e T auxiliares ativadas interagem, sendo as B ativadas pelo CD40L e citocinas das T;  Pequenos focos de células B extrafoliculares se formam na medula do gânglio linfático ou entre a bainha linfoide periarteriolar da polpa vermelha do baço; nesses focos, as células passam por baixos níveis de mudança de classe e geram plasmócitos secretores de curta duração;  Algumas células T auxiliares são induzidas a se diferenciarem em auxiliares foliculares (células TFH) durante a interação;  Células B ativadas e as TFH migram para o folículo, onde as B são ativadas pelas TFH; assim, centros germinativos são formados dentro dos folículos, locais de extensa proliferação de células B, mudança de isótipo, mutação somática, seleção de maturação da afinidade, geração de células de memória e indução de plasmócitos de longa vida.  Ativação inicial e migração de células T auxiliares e células B:  A frequência de células B ou T específicas para um epítopo antigênico é baixa, além de que ambas devem estar ativadas para que possam interagir fisicamente e possibilitar a produção de anticorpos;  Células T ativadas sofrem redução na expressão de CCR7 e aumento na de CXCR5 (ligante de CXCL13), de modo que elas deixem a zona de célula T e migrem para o folículo;  Embora os antígenos proteicos não sejam capazes de induzir proliferação e diferenciação de células B, eles atuam nelas de modo a diminuir a expressão do receptor de CXCR5 e aumentar a do CCR7;  Assim, células B ativadas migram para a zona de células T levadas por um gradiente de CCL19 e CCL21;  A ativação também pode determinar expressão de CD69, que bloqueia expressão de receptores de esfingosina 1 fosfato (S1PR1), o que garante a retenção nos gânglios linfáticos. 
Lucas Vieira – MEDICINA T3 UNINORTE 
 
 Apresentação de antígeno por célula B e o “efeito hapteno carregador”:  Cada peptídeo é apresentado pela célula B à célula T previamente ativada na zona de células T, onde seu TCR reconheceu um peptídeo idêntico;  Uma vez que o BCR reconhece um epítopo da proteína nativa com alta afinidade, as células B específicas se ligam e apresentam o antígeno de maneira mais eficiente que aquelas não específicas;  Um antígeno proteico que induz uma resposta dependente de T necessita de pelo menos dois epítopos ao ativar células B específicas: um reconhecido com alta especificidade e outro que é degradado da proteína e posteriormente acoplado a MHC de classe II;  Os anticorpos secretados posteriormente são geralmente específicos para determinantes conformacionais do antígeno, isto é, uma mesma classe de Ig que o reconheceu, ao ser secretada, poderá reconhecer os mesmos epítopos conformacionais;  Um linfócito B específico para um epítopo natural pode ligar-se e endocitar uma proteína e apresentar vários peptídeos conjugados a MHC de classe II a diferentes células T auxiliares, no entanto, a resposta de anticorpo resultante permanece específica para a proteína natural.  Efeito hapteno carregador:  Haptenos são pequenos compostos químicos que podem ser reconhecidos por anticorpos específicos, mas não são em si imunogênicos; entretanto, se estiverem conjugados a proteínas carreadoras, são capazes de induzir respostas de anticorpos contra eles;  Células B específicas para o hapteno têm BCR que reconhecem seu determinante antigênico, endocitando o conjunto hapteno carreador e apresentando peptídeos derivados do carreador para linfócitos T auxiliares específicos, via MHC de classe II;  Assim, os dois linfócitos que cooperam reconhecem dois epítopos diferentes do mesmo complexo;  As características dessas repostas se aplicam a todos os antígenos proteicos nos quais um epítopo é reconhecido por células B e outro (peptídeo linear associado ao MHC II) é reconhecido por células T auxiliares;  Esse efeito é base para desenvolvimento de vacinas conjugadas.  Função do CD40L – interação ao ligante e ativação de células B dependentes de T:  Na ativação, células T auxiliares expressam CD40L, que se liga ao CD40 (CD154), expresso em células B ativadas, e induz proliferação e diferenciação inicial em focos extrafoliculares e mais tarde em centros germinativos;  A ligação induz a alteração conformacional dos trímeros pré-formados de CD40, o que permite o recrutamento de proteínas citosólicas chamadas TRAF (fatores associados ao receptor de TNF) que se associam ao domínio citoplasmático de CD40; 
Lucas Vieira – MEDICINA T3 UNINORTE  Os TRAF iniciam cascatas de sinalização, que levam à ativação e translocação nuclear de fatores de transcrição, como NF-κB e AP-1, que estimulam a proliferação de células B e aumento da síntese e secreção de Ig;  A ativação desses fatores é crucial para a formação do centro germinativo e síntese da desaminase induzida pela ativação (AID), enzima crítica nos processos de mutação somática e mudança de isótipo.  Além do CD40L nas células T, estas também secretam citocinas que contribuem para a resposta; a principal função, nesse caso, é a mudança de isótipo.  Ativação de células B extrafoliculares:  Focos extrafoliculares de ativação de células B dependentes de T são gerados relativamente cedo em uma resposta; centros germinativos, onde células TFH fazem com que células B se submetam a mudanças, aparecem alguns dias mais tarde;  No baço, os focos se desenvolvem nas porções externas das bainhas de linfócitos periarteriolares ricas em células T (PALS); em gânglios linfáticos, são observados nos cordões medulares;  Hipermutações somáticas de genes de Ig ocorrem em uma magnitude muito inferior à vista nas respostas dos centros germinativos;  Plasmablastos (células circulantes secretoras de anticorpos) e plasmócitos gerados nesses focos são em sua maioria de curta duração, não possuindo capacidade de migração para locais distantes;  A pequena quantidade de anticorpos produzida nesses focos pode contribuir para a formação de complexos imunes, capturados por células dendríticas foliculares nos folículos linfoides.  A reação de células B de centro germinativo e a função de células TFH:  Quatro a sete dias após a exposição, algumas células T auxiliares que migraram ao encontro das B ativadas são induzidas por elas a se diferenciarem em células T auxiliares foliculares (TFH), que expressam altos níveis de CXCR5, cujo ligante (CXCL13) é produzido somente nos folículos;  Tais células são as principais células T CD4 presentes nos folículos;  Ao mesmo tempo, algumas das B ativadas retornam ao folículo e começam a proliferar rapidamente, formando a região central de coloração mais clara – o centro germinativo;  Cada centro contém células derivadas de um ou poucos clones de células B específicas;  Dentro do centro existe uma “zona escura”, densamente povoada por células B em rápida proliferação (centroblastos), cujo tempo de divisão é estimado em 6 a 12 horas;  A progênie dessas células consiste em células menores, os centrócitos, que sofrem processos de diferenciação e seleção na “zona clara”; 
Lucas Vieira – MEDICINA T3 UNINORTE 
 
 Células B no centro germinativo expressam um receptor transcricional denominado Bcl-6 (para o gene 6 do linfoma de células B);  Células TFH podem se desenvolver de células virgens ou daquelas polarizadas, mas que retiveram plasticidadede desenvolvimento;  Sua citocina característica é a IL-21, necessária para o desenvolvimento do centro germinativo e para a geração de plasmócitos nesse centro;  Além dela, essas células secretam IFN-γ e IL-4 (em níveis menores que TH1 e TH2), que também possuem função importante na mudança de isótipo.  O coestimulador ICOS, expresso nas TFH, é essencial para a reação do centro germinativo;  Sua interação com o ligante ICOS em células B promove diferenciação das células T;  Interações entre células B e T auxiliares são mediadas por integrinas e membros da família SLAM de coestimuladores;  A SAP é uma molécula de sinalização que se associa a essas proteínas, ativando reguladores transcricionais, como Bcl-6, necessários para o desenvolvimento de TFH.  A IL-21 pode facilitar eventos de seleção de células B no centro e diferenciação em plasmablastos; 
 
Lucas Vieira – MEDICINA T3 UNINORTE  A formação de centros também é dependente de interações CD40L-CD40, críticas para proliferação, expansão nos centros, mudança de isótipo e maturação de afinidade;  A arquitetura dos folículos e a reação dos centros germinativos dependem da presença de células dendríticas foliculares (FDC);  São encontradas apenas nos folículos e expressam receptores de complemento (CR1, 2 e 3) e receptores de Fc;  Estão envolvidas na captura e retenção de antígenos para seleção de células B dos centros germinativos;  Não expressam MHC II nem são derivados de células progenitoras da medula óssea;  Seus longos processos citoplasmáticos formam uma rede ao redor da qual os centros germinativos são formados;  Após proliferação, as células B tornam-se menores e migram para a zona clara, onde entram em íntimo contato com os prolongamentos citoplasmáticos das FDC, que também formam contatos com as células TFH;  Nesse microambiente ocorrem os eventos de seleção subsequentes.  A área do folículo que contém apenas células B virgens circunda o centro e é chamada zona do manto.  Mudança de isótipo da cadeia pesada:  A capacidade de mudança de isótipo dos anticorpos produzidos pelas células B representa plasticidade marcante, de modo que eles possam desempenhar funções efetoras diferentes, contra diferentes tipos de patógenos;  No caso de bactérias com cápsulas ricas em polissacarídeos, a principal resposta imune humoram envolve anticorpos IgM, que se ligam a elas e ativam o sistema complemento, o que induz fagocitose das bactérias opsonizadas;  Antígenos polissacarídicos, que não desencadeiam auxílio de células T, estimulam principalmente essa classe de anticorpos, com pouca ou nenhuma mudança de isótipo.  Por outro lado, resposta a muitos vírus e bactérias (ativam TH1, secretora de IFN-γ, indutora de mudança de classe para IgG) envolve produção de IgG, que bloqueia a entrada dos patógenos em células do hospedeiro e promovem a fagocitose por macrófagos;  A resposta de anticorpos para muitos helmintos (ativam TH2, secretora de IL-4, indutora de mudança de classe para IgE) é principalmente IgE, que participa da eliminação, mediada por eosinófilos e mastócitos;  Nas reações de centro germinativo, essas citocinas podem tanto ser produzidas pelos subtipos clássicos como pelas TFH, que retém a capacidade de produzir citocinas desses subtipos;  Células B em tecidos de mucosa mudam para IgA (mudança estimulada por TGF-β, além de TNF, BAFF e APRIL), classe de anticorpos transportada com mais eficiência pelos epitélios nas secreções mucosas, defendendo contra organismos que tentem ultrapassá-los;  A ligação do CD40 induz a AID, crucial tanto para a mudança de isótipo quanto para a mutação somática;  Os eventos moleculares da mudança de isótipo envolve sequências nucleotídicas chamadas regiões de troca, localizadas nos íntrons entre os segmentos J e C nas extremidades 5’ de todos os lócus CH;  Tais regiões contêm diversas repetições de sequências de DNA ricas em GC;  A 5’ de cada região de troca há um pequeno éxon denominado éxon I (iniciador da transcrição), precedido por um promotor chamado de região I;  Os sinais de citocinas de CD40 induzem a transcrição de uma região I particular de leitura pelo éxon I, região de troca e éxons CH adjacentes;  Tais transcrições são definidas como transcrições de linhagem germinal e não codificam proteínas, mas são necessárias para a mudança do isótipo; 
Lucas Vieira – MEDICINA T3 UNINORTE  A transcrição do RNA na configuração germinativa facilita as quebras de DNA dupla fita;  A quebra de DNA na região de troca do isótipo anterior (IgM) é unida à quebra feita na região de troca do isótipo selecionado;  Assim, o éxon VDJ rearranjado imediatamente antes da região de troca µ na célula B produtora de IgM se recombina com a nova região C a qual se pretende trocar com atividade de transcrição;  As citocinas determinam qual região CH irá sofrer transcrição de linhagem germinal; ex: IL-4 induz transcrição mantendo configuração germinal do lócus Iε-Sε-Cε; então, há produção de transcrições germinativas em uma célula expressando IgM e, em seguida, recombinação da região de troca Sµ com a Sε; o DNA intercalante é perdido e o éxon VDJ é trazido para perto do novo lócus de cadeia pesada; resultado: produção de IgE com a mesma região V que a da IgM original. 
 
 A desaminase induzida por ativação (AID) deamina a citocina na fita simples de DNA, convertendo resíduos de citocina em resíduos de uracil;  Regiões de troca são ricas em G e C, e seus transcritos tendem a formar híbridos estáveis de DNA-RNA envolvendo a parte da fita do DNA codificante, liberando o filamento não molde, que forma um loop de DNA de fita simples aberto denominado loop R;  O loop R é o local onde um grande número de resíduos de C são convertidos a resíduos de U pela AID;  A uracil-N-glicosilase remove os resíduos de U, deixando sítios abásicos;  Endonucleases, como a ApeI, clivam esses sítios abásicos; alguns cortes são gerados no filamento superior (molde);  Cortes em ambos os filamentos contribuem para quebras bifilamentares tanto na região Sµ quanto no lócus de mudança posterior que está envolvido na mudança de isótipo;  Quebras em duas regiões de trocas resulta na deleção do DNA localizado entre elas e na união das duas regiões quebradas, pela junção de extremidades não homólogas. 
Lucas Vieira – MEDICINA T3 UNINORTE 
 
 Maturação de afinidade – mutação somática em genes Ig e seleção de células de alta afinidade:  Esse processo gera anticorpos com capacidade aumentada de se ligar ao antígeno, de modo que neutralizam e eliminam micro-organismos com mais eficiência;  Células T auxiliares e interações CD40-CD40L são necessárias para sua iniciação, de modo que esse processo só é visualizado em respostas dependentes de T;  As mutações se acumulam nas regiões V expressas a uma taxa média de quase uma por divisão celular, e continuam a ocorrer na progênie de células B individuais, isto é, qualquer clone de células B pode acumular mais e mais mutações durante sua vida no centro germinativo;  As mutações são concentradas em sua maioria nas regiões de determinação da complementaridade ao antígeno;  Existem muito mais mutações em IgM que em IgG;  A presença de mutações se correlaciona com o aumento da afinidade dos anticorpos para o antígeno que induziu a resposta;  A enzima AID desempenha papel fundamental na maturação de afinidade, convertendo resíduos C em resíduos U em pontos suscetíveis de mutação;  As U podem ser trocadas por T quando há replicação do DNA, gerando um tipo comum de mutação; ou ainda retiradas pela uracil-N-glicosilase, sendo o sítio abásico gerado reparado 
Lucas Vieira – MEDICINA T3 UNINORTE por um processo de reparo propenso a erro, gerando todos os tipos de substituições em cada sítio de desaminação induzido pela AID.  A estimulação repetida leva a números crescentes de mutações nos genes de Ig de células B do centro germinativo específicas, gerando anticorpos de alta afinidade;  Entretanto, muitas das mutaçõespodem resultar em declínio ou perda de ligação ao antígeno; assim, o próximo passo no processo é a seleção de células com maior afinidade.  FDC expressam receptores para as porções Fc dos anticorpos e para produtos da ativação do complemento (C3b, C3d), de modo que permitam a ligação e exibição de antígenos a eles complexados;  O antígeno pode ser também exibido na forma livre.  Células B que sofreram mutação somática migram para a zona clara, rica em FDC;  A IL-21 secretada por células TFH induz expressão de proteínas indutoras da apoptose e reduz expressão de proteínas que impedem apoptose em células B, de modo que sua sobrevivência dependa do “resgate pelo reconhecimento do antígeno”;  Então, células B com receptores de alta afinidade para o antígeno são mais capazes de se ligar a ele quando em baixas concentrações;  O reconhecimento do antígeno na zona clara induz expressão de proteínas antiapoptóticas e endocitose e apresentação do antígeno para interação com células TFH no centro germinal, as quais promovem a sobrevivência das células B por meio do CD40L;  Algumas TFH expressam ligantes Fas, que podem reconhecer o receptor de morte Faz em células B e deflagrar apoptose; por sua vez, células B de alta afinidade podem ativar inibidores endógenos de Faz quando seus BCR reconhecem o antígeno, estando protegidas da morte;  À medida que mais anticorpos são produzidos, mais antígenos são eliminados (menor disponibilidade nos centros germinativos), de modo que as células B precisem expressar receptores de afinidade cada vez maior pelo antígeno, resultando na maturação da afinidade da resposta.  A mutação somática ocorre na zona basal escura dos centros em células chamadas de centroblastos, que contêm AID nuclear;  As células que sofreram mutação podem circular entre a zona basal escura e a apical clara, se diferenciando em células morfologicamente distintas chamadas centrócitos;  Por fim, os centrócitos de alta afinidade são selecionados na zona clara e, em caso de seleção positiva, se diferenciam em células B de memória ou em plasmócitos secretores de Ig de alta afinidade que saem dos centros germinativos.  Diferenciação da célula B em plasmócitos secretores de anticorpos:  Plasmócitos de vida curta são gerados durante respostas independentes de T ou no início de uma dependente, em focos de células B extrafoliculares; são encontrados geralmente em órgãos linfoides secundários e tecidos não linfoides periféricos;  Plasmócitos de vida longa são gerados em centros germinativos; são encontrados na medula óssea, onde, mantidos por citocinas da família BAFF que se ligam ao receptor BCMA nos plasmócitos, sobrevivem por longos períodos, muitas vezes, durante toda a vida do hospedeiro;  Duas a três semanas após imunização com antígeno T dependente a medula óssea torna-se local importante de produção de anticorpos, os quais são secretados mesmo sem a presença do antígeno, proporcionando uma resposta imediata, caso ele retorne;  Quando se diferencia em plasmablasto, a célula aumenta notavelmente e a relação citoplasma/núcleo também passa por tal aumento;  O retículo endoplasmático torna-se proeminente e a célula passa a ter pouca ou nenhuma semelhança com uma célula B. 
Lucas Vieira – MEDICINA T3 UNINORTE  A mudança na produção de Ig da forma de membrana para a forma secretada é resultado de mudanças no terminal carboxila da cadeia pesada de Ig;  Por exemplo, a forma de membrana de IgM contém após a cadeia pesada resíduos transmembrana hidrofóbicos e uma cauda citoplasmática, já a forma secretada contém uma peça da cauda contendo aminoácidos polares;  Essa transição é realizada pelo processamento do RNA mensageiro da cadeia pesada;  O transcrito primário do RNA em todas as células produtoras de IgM contém o bloco VDJ rearranjado, quatro éxons C e dois éxons que codificam os domínios transmembrana e citoplasmático;  O processamento alternativo desse transcrito é regulado pela clivagem do DNA e escolha dos sítios de poliadenilação, que determinam a inclusão ou não dos éxons transmembrana e citoplasmático no RNA maduro;  Caso estejam, a cadeia conterá os aminoácidos necessários para sua produção, de modo a determinar ancoragem na bicamada lipídica;  Caso o segmento transmembrana tenha sido excluído, a extremidade carboxi não possuirá aminoácidos hidrofóbicos nem uma cauda carregada positivamente, de modo que a proteína fique inicialmente no espaço luminal da via secretora, sendo então secretada;  A maior parte do RNAm da cadeia pesada em um plasmócito é clivada no local de poliadenilação posterior, de modo que a maior parte transcreva a forma secretora;  Todas as cadeias pesadas podem ser expressas na forma ligada ou secretada, contudo, a forma secretada de IgD raramente é sintetizada. 
 
 Geração de células B de memória e respostas imunes humorais secundárias:  São vistas nas respostas dependentes de células T, surgindo em paralelo com as células T auxiliares de memória;  Expressam altos níveis da proteína antiapoptótica Bcl-2, que contribui para sua longa vida útil;  É a elas atribuída a produção de grandes quantidades de anticorpos de alta afinidade com isótipos mudados após a segunda exposição ao antígeno;  Vacinas eficazes contra patógenos devem induzir a maturação de afinidade e a formação de células B de memória, capazes de ocorrer somente se houver ativação de células T auxiliares; 
Lucas Vieira – MEDICINA T3 UNINORTE  Esse é o caso de vacinas para infecções bacterianas em que o antígeno alvo é um polissacarídeo, incapaz de estimular células T; então, ele é ligado a uma proteína estranha (equivalente ao conjugado hapteno-carreador), o que induz ativação de células T auxiliares.  Função dos reguladores transcricionais na determinação do destino de células B ativadas:  Sinais deflagrados por CD40 e pelo receptor para IL-21 induzem a expressão do repressor transcricional chamado Bcl-6, que antagoniza outro repressor, o Blimp-1, necessário para o desenvolvimento de plasmócitos;  Células extrafoliculares expressam baixos níveis de Bcl-6 e tornam-se facilmente plasmóticos de vida curta;  O Bcl-6, associado a outros reguladores, tornam as células B do centro germinativo sensíveis à apoptose, aumentando os níveis de fatores pró-apoptóticos;  Para que a célula se diferencie em plasmócito, é necessário a perda da expressão de Pax-5 (necessário para desenvolvimento e manutenção de uma célula B madura) e repressão de Bcl-6;  Durante a diferenciação dos plasmócitos, um ativador transcricional chamado IRF4 e um repressor chamado Blimp-1 são induzidos;  Juntos, induzem expressão e recombinação de XBP-1, um fator de transcrição que protege os plasmócitos em desenvolvimento das consequências prejudiciais das proteínas desnaturadas (efeito colateral do aumento maciço da síntese proteica), ou pode contribuir para a maturação dos plasmócitos e amplificar a síntese de Ig.  Como essa decisão é tomada para definir o destino da célula B do centro germinativo não é totalmente clara. 
RESPOSTAS DE ANTICORPOS A ANTÍGENOS INDEPENDENTES DE T 
 
 Natureza das células B que respondem a antígenos independentes de T:  Outros subtipos de células B, que não as foliculares, podem ser os respondedores primários a esses antígenos;  Células B da zona marginal respondem principalmente aos polissacarídeos e, após ativação, diferenciam-se em plasmócitos de vida curta que produzem principalmente IgM;  Células B-1 respondem a esses antígenos principalmente no peritônio e nas mucosas;  As respostas timo independentes podem ser iniciadas no baço, na medula óssea, na cavidade peritoneal e nos sítios mucosos.  Mecanismos de respostas de anticorpos independentes de T:  Os antígenos timo independentes mais importantes são polissacarídeos, glicolipídeos e ácidos nucleicos;  Como são, na maioria das vezes, multivalentes, podem induzir o máximo de ligações cruzadas do complexo BCR em células B específicas, levando à ativação sem necessidade de célulasT;  Alguns antígenos TI induzem isótipos de Ig além da IgM, como IgG;  Na ausência de células T, BAFF e APRIL produzido pelas células de origem mieloide, como células dendríticas e macrófagos, podem induzir a síntese de AID em células B ativadas por antígeno pelo receptor TACI.  Funções mediadas pelos anticorpos TI: 
Lucas Vieira – MEDICINA T3 UNINORTE  Muitos polissacarídeos da parede celular das bactérias pertencem à categoria dos antígenos TI e a imunidade humoral é o principal mecanismo de defesa contra eles;  Assim, indivíduos com deficiências congênitas ou adquiridas da imunidade humoral são especialmente suscetíveis a infecções potencialmente letais com bactérias encapsuladas, como pneumococos, meningococos e Haemophilus;  Os antígenos TI contribuem ainda para a geração de anticorpos naturais, produzidos sem exposição a patógenos;  Os anticorpos contra os glicolipídeos A e B, antígenos do grupo sanguíneo, são exemplos deles;  Postula-se que sejam produzidos por células B peritoneais do tipo B1, estimuladas por bactérias que colonizaram o TGI.  Respostas secundárias rápidas e amplas, mas sem mudança de isótipo ou maturação de afinidade, ocorrem na segunda exposição a esses antígenos. 
AUTORREGULAÇÃO DOS ANTICORPOS: REGULAÇÃO DAS RESPOSTAS HUMORAIS POR RECEPTORES FC 
 Anticorpos IgG secretados freiam a ativação de células B ao formar complexos de antígenos anticorpos que simultaneamente se ligam a receptores de antígenos e receptores Fcγ (FcγRIIB ou CD32) inibidores em células B específicas;  Os receptores FcγRIIB contêm motivos de inibição com base no imunorreceptor contendo tirosina (ITIM);  Quando este receptor é ocupado, o ITIM é fosforilado, formando um sítio de ancoragem para uma enzima chamada inositol 5-fosfatase (SHIP – inositol fosfatase contendo domínio SH2);  O SHIP recrutado hidrolisa um fosfato do fosfatidilinositol trifosfato (PIP3), inativando essa molécula sinalizadora;  Assim, uma ocupação do FcγRIIB induz uma parada na resposta da célula B ao antígeno.  Os complexos antígeno anticorpo interagem simultaneamente com o receptor antigênico (antígeno) e o FcγRIIB (anticorpo), trazendo as fosfatases às proximidades dos receptores de antígeno, bloqueando a sinalização;  A autoinibição bloqueia a produção adicional de anticorpos;  Células B expressam outro receptor inibidor, denominado CD22, cuja ativação está ligada à ativação da tirosina fosfatase SHP-1, que remove fosfato dos resíduos de tirosina de várias enzimas e proteínas adaptadoras envolvidas na sinalização via BCR, anulando a ativação de células B. 
Lucas Vieira – MEDICINA T3 UNINORTE

Continue navegando