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Direitos e Garantias Fundamentais

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UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE - UNIVALE 
Faculdade de Direito 
________________________________________________________ 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS 
 
1. TEORIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS: 
Antes de adentrar no texto constitucional é necessário tecer considerações sobre os 
institutos a serem estudados. 
 
- NATUREZA 
Fundamentalmente tanto os direitos humanos como os direitos fundamentais são 
expressões que resguardam a liberdade e a igualdade dos indivíduos, sendo que a doutrina 
entende residir diferença no âmbito de sua aplicação, os direitos humanos no plano 
internacional (positivados por meio de tratados convenções, pactos, etc.), e os direitos 
fundamentais no interno (no texto constitucional)., assim, sua natureza é norma constitucional 
positiva. 
 
- DIREITOS E GARANTIAS 
Apesar da diferença entre as expressões serem tênues, deve-se observar cada um 
de maneira diferente para não haver um leitura errônea do texto constitucional. 
Direitos fundamentais têm caráter meramente declaratório, enquanto as garantias 
são assecuratórias. Nessa esteira, quando o legislado constitucional mencionou que o direito 
está assegurado ou garantido, ele quis afirmar que aquele texto é uma garantia do indivíduo 
ou da coletividade. 
 
- CLASSIFICAÇÃO 
Havendo diversas classificações doutrinárias, o primeiro enfoque está no aspecto 
do conteúdo e da proteção que exerce: 
 
 
 Quanto ao conteúdo: 
a) Direitos fundamentais protetivos de liberdade, também denominados direitos de 
resistência, são constituídos das chamadas cláusulas limitativas do Estado, voltadas a fixar os 
limites de atuação estatal diante das liberdades do indivíduo. Ex: 
b) Direitos protetivos do individuo diante das necessidades materiais, que são 
aqueles predispostos a medidas compensatórias das desigualdades sociais, objetivando, em 
última análise, propiciar vida digna a todos. Ex: 
c) Direitos protetivos da preservação do ser humano, também denominados 
direitos de solidariedade, voltados à preservação da espécie humana. Ex: direito à paz, direito 
à comunicação social, etc. 
 Classificação Jurídico-Positivista 
Essa classificação é a constante do conteúdo constitucional vigente: 
a) Direitos Individuais: regulam as liberdades, restringindo a atuação do Estado 
em prol do indivíduo, que pode reivindicá-la individualmente. 
b) Direitos Coletivos: são aqueles que não podem ser reivindicados 
individualmente. Esses direitos podem ser difusos (quando as pessoas estão ligadas por 
circunstâncias fáticas); coletivos em sentido estrito (quando o liame é uma situação jurídica), 
ou formalmente coletivo (quando a origem do direito é comum a todos). Também se incluem 
nesse rol os direitos de associação e reunião. 
c) Direitos Sociais: são aqueles dispostos no art. 6º da CF. 
d) Direitos de Nacionalidade: como o nome já expressa são aqueles que versam 
sobre a aquisição e perda da nacionalidade. 
e) Direitos e Partidos Políticos: discorrem sobre as regras de aquisição do poder 
de governar e da aquisição e perda dos direitos políticos, bem como dos entes partidários. 
 
 Classificação Evolucionista 
Essa classificação é calcada na historicidade do Direito Constitucional, divide o 
processo de evolução em três gerações (ou dimensões): 
a) Direitos Fundamentais de Primeira Geração: Com as Revoluções Liberais 
(Francesa e Americana), o homem iniciou o seu processo de libertação do sistema jurídico-
opressor vigente no século XVIII. Também chamados de direitos civis, ou individuais, e 
políticos, são instrumentos de defesa do perante o Estado, que tem sua área de atuação 
limitada para não interferir arbitrariamente na vida do indivíduo, ou seja, um comportamento 
de abstenção (liberdades públicas negativas ou direitos negativos). 
b) Direitos Fundamentais de Segunda Geração: São os direitos sociais, 
econômicos e culturais. Após conseguir se libertar da intervenção estatal, o ser humano queria 
avançar na sua condição de elemento primário da sociedade, garantias de condições materiais 
mínimas para sua sobrevivência e dignidade. Nesse passo, urgia requisitar ao Estado a 
prestação dessas condições, pois o mesmo já se locupletava com taxas e impostos e somente 
agia como polícia das liberdades negativas. 
c) Direitos Fundamentais de Terceira Geração: Pode-se afirmar que a pedra 
fundamental dessa geração foram as atrocidades cometidas pelos regimes nazista e fascista. 
Quando o homem verificou que não basta apenas garantir seu direito à liberdade e 
sobrevivência, havia outras razões para sua existência que deveriam ser preservadas, como a 
paz, o meio-ambiente, a comunicação, etc. 
 
 
 
 
2. DIREITOS INDIVIDUAIS E COLETIVOS (Art. 5º, caput) 
 
Como já estudado, os direitos individuais e coletivos, em nossa Constituição, 
foram organizados como espécies do gênero direitos fundamentais. 
A cabeça do artigo 5º prevê que os destinatários desses direitos são “...os 
brasileiros e aos estrangeiros residentes no país...”, contudo, em razão da evolução do 
Direito Constitucional é fato constatar que o destinatário não são apenas aqueles 
elencados no permissivo constitucional. Isto porque o constitucionalismo passou a 
defender a dignidade da pessoa humana, devendo se “fazer uma interpretação extensiva 
deste dispositivo no sentido de assegurar os direitos e garantias individuais a todas as 
pessoas que estejam em território brasileiro e não apenas aos brasileiros e estrangeiros 
residentes no país.” 
 
2.1 Direito à Vida: o direito à vida prescinde a qualquer direito fundamental. Nossa 
Constituição não observa esse direito apenas pelo fato do nascimento, mas sim de toda uma 
garantia e respeito para que se tenha dignidade em viver. 
Temos uma exceção encartada na Constituição quanto a esse direito, que diz respeito à 
pena de morte em caso de guerra declarada (art. 5º, XLVII, a). Outros valores constitucionais 
ou direito de terceiros podem mitigar a primazia da vida, como é o caso da legítima defesa e o 
estado de necessidade. 
O início da vida é tema conturbado, posto que não exista consenso sobre o momento 
em que ocorre, Marcelo Novelino
1
 destaca quatro concepções sobre o tema: 
2.1.1. Fecundação (ou concepção): 
Ocorre com a fecundação do óvulo pelo espermatozóide, resultando o zigoto. Pacto de 
São José da Costa Rica 
2.1.2 Nidação: 
Vida viável (sete a dez dias após a fecundação, o zigoto se fixa no útero, é o início da 
gravidez.) 
2.1.3 Formação do Sistema Nervoso Central (SNC): 
Quando o ser passa a sentir dor ou prazer (14 dias após a concepção). 
2.1.4 Capacidade do feto de existir sem a mãe: 
França, Reino Unido e Estados Unidos (24 a 26 semanas de gestação). 
 
2.2. Princípio da Isonomia (Inciso I): A igualdade é o primeiro direito defendido 
no plano dos direitos fundamentais, isso se deve ao fato de junto com a liberdade ser fator 
inerente à dignidade humana. 
Entretanto, se nos apegarmos literalmente ao vocábulo ter-se-á uma idéia 
inadequada do preceito constitucional. Não é possível tratar a todos com as mesmas práticas, 
o fundamento do princípio “tem por fim impedir distinções, discriminações e privilégios 
arbitrários, preconceitos, odiosos ou injustificáveis”.2 
Assim, temos que a aplicação da máxima de Aristóteles fundamenta o princípio da 
isonomia quando preceitua que deve se proporcionar tratamento igual aos iguais e desigual 
aos desiguais, na medida das suas desigualdades. 
Para se aferir se a desigualdade deve ser feita uma análise da situação a partir da 
discriminação e assim se chegar a uma afinidade com os valores protegidos pela Constituição, 
 
 
 
por exemplo, o fato de se exigir uma alturamínima para o cargo de agente policial. O fato 
discriminatório (estatura) é perfeitamente razoável com as atribuições do cargo que exige uma 
compleição física mínima para sua eficiência, tal exigência deve ter previsão legal no edital 
do concurso. 
Atualmente estão em voga discussão sobre o papel das chamadas ações 
afirmativas, como o sistema de cotas, que está em perfeita consonância com a redução das 
desigualdades sociais. 
 
“Na disciplina do princípio da igualdade, o constituinte tratou de proteger certos grupos que, a seu 
entender, mereciam tratamento diverso. Enfocando-os a partir de uma realidade histórica de marginalização 
social ou de hipossuficiência decorrente de outros fatores, cuidou de estabelecer medidas de compensação, 
buscando concretizar, aos menos em parte, uma igualdade de oportunidades com os demais indivíduos, que não 
sofreram as mesmas espécies de restrições. São as chamadas ações afirmativas.” 
 
2.3. Princípio da Legalidade (Inciso II): O preceito de que o indivíduo é proibido 
(deixar de fazer) ou obrigado (fazer) a ter uma conduta de acordo com a lei, intenta alcançar a 
segurança jurídica e estabilidade nas relações, sejam públicas ou privadas. 
 
“Lei, numa definição trivial. É todo comando genérico e abstrato que, aprovado pelo Poder 
Legislativo, inova o ordenamento jurídico, disciplinando, em nível imediatamente 
infraconstitucional, em relações entre particulares e atividades públicas. Esse comando genérico e 
abstrato pode assumir três formas: obrigação, proibição ou permissão. A norma jurídica, assim, ou 
obriga, ou proíbe, ou permite. Não existe uma outra possibilidade.” 
 
A permissão tanto pode decorrer de uma lei quanto do silêncio da regra. 
2.3.1 Princípio da Estrita Legalidade: O caput do art. 37 determina que o 
administrador público deva obedecer a alguns princípios na sua atuação, dentre eles está 
expresso o da legalidade. Desta forma, a Administração Pública será regida dentro daquilo, e 
somente daquilo que estiver prescrito na lei, sem espaço para qualquer tipo de permissão 
infralegal. É uma limitação decorrente do inciso II, do art. 5º, sendo mais severo e levando à 
concepção de que a vontade da Administração Pública é a que decorre da lei. 
 
2.3.2. Princípio da Reserva Legal (Inciso XXXIX): O princípio da legalidade 
pode ser tomado como gênero do qual a reserva legal é espécie, como podemos aferir do 
artigo de Warlei Belo
3
: 
“O princípio da reserva legal não é sinônimo do princípio da legalidade, senão espécie. “A doutrina 
não raro confunde ou não distingue suficientemente o princípio da legalidade e o da reserva de lei. 
O primeiro significa a submissão e o respeito à lei, ou a atuação dentro da esfera estabelecida pelo 
legislador. O segundo consiste em estatuir que a regulamentação de determinadas matérias há de se 
fazer necessariamente por lei formal” 
“Ao princípio da reserva legal, a Constituição exige conteúdo específico. Ao princípio da 
legalidade, a Constituição outorga poder amplo e geral sobre qualquer espécie de relação. “Tem-se, 
pois, reserva de lei, quando uma norma constitucional atribui determinada matéria exclusivamente 
à lei formal (ou a atos equiparados, na interpretação firmada na praxe), subtraindo-a, com isso, à 
disciplina de outras fontes, àquelas subordinadas” 
 
O artigo 5.
o
, II, CF prevê que: “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer 
alguma coisa senão em virtude de lei”. Trata-se de lei em sentido amplo, ou seja, qualquer ato 
normativo editado pelo Poder Legislativo (Constituição; leis complementares; leis ordinárias; 
resoluções) ou, excepcionalmente, pelo Poder Executivo (medidas provisórias e leis 
delegadas). Aqui temos a salva-guarda do amplo princípio da legalidade. 
 
 
Já o princípio da reserva (lex populi) é mais restrito. Refere-se especificamente à 
emenda, lei complementar, etc. para regular determinado assunto. “Se todos os 
comportamentos humanos estão sujeitos ao princípio da legalidade, somente alguns estão 
submetidos ao da reserva da lei. Este é, portanto, de menor abrangência, mas de maior 
densidade ou conteúdo, visto exigir o tratamento de matéria exclusivamente pelo Legislativo, 
sem participação normativa do Executivo” 
Até bem pouco tempo atrás, a Parte Especial do nosso atual Código Penal e a Lei 
de Contravenções Penais alcançavam vigência como decreto-lei. Seria comparativamente, 
hoje, aceitar a modificação maléfica ou criação de crimes por medida provisória ou lei 
delegada. 
Quando a Carta, em seu artigo 5.
o
, XXXIX estabelece que não haverá crime sem 
lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal, estamos diante de uma 
matéria reservada à lei formal. Somente a União, privativamente, através de seu Poder 
Legislativo, poderá discipliná-la (art. 22, I, CF). “A garantia da lex populi exige que, em 
matéria penal incriminadora, a lei respectiva siga estritamente o procedimento legislativo 
constitucional da lei ordinária.” 4. Fica vedada a interferência dos Estados-Membros ou 
Municípios, assim como a ingerência do Executivo ou Judiciário, na criação de crimes e 
penas . 
 
2.4. Princípio da Não-Retroatividade das Leis (Inciso XXXVI): Este é outro princípio 
fundamental de nosso ordenamento jurídico. Tem sua fundamentação legal na Lei de 
Introdução ao Código Civil, art. 6º e na Constituição Federal, que assim dispõe: 
 
“Art. 5º Omissis 
XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada” 
 
A irretroatividade assegura que direitos e atos consolidados no tempo não sejam 
objeto de modificação pelo ente estatal, mantendo a estabilidade da relações e a segurança 
jurídica necessária ao estado de direito. É composto por três outros institutos: 
2.4.1 Direito Adquirido: o conceito está expresso no art. 6º, § 2º da LICC que 
dispõe ser “os direitos que o seu titular ou alguém por ele, possa exercer, como aqueles cujo 
começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou condição preestabelecida inalterável, a arbítrio 
de outrem”. 
 
“Direito adquirido é espécie de direito subjetivo definitivamente incorporado (pois, adquirido) ao 
patrimônio jurídico do titular (sujeito de direito), já consumado ou não , porém exigível na via 
jurisdicional, se não cumprido voluntariamente pelo obrigado (sujeito de dever). 
“Diz-se que o titular do direito adquirido está, em princípio, protegido de futuras mudanças 
legislativas que regulem o ato pelo qual fez surgir seu direito, precisamente porque tal direito já se 
encontra incorporado ao seu patrimônio jurídico — plano/mundo do dever-ser ou das normas 
jurídicas — ainda que não fora exercitado, gozado — plano/mundo do ser, ontológico.”5 
 
O instituto não é absoluto, assim como seu princípio regente, como ensina Marcelo 
Novelino 
 
“Da mesma forma que todos os demais direitos e garantias fundamentais, o direito adquirido não é 
absoluto. No caso concreto, de acordo com as circunstâncias fáticas e jurídicas envolvidas, esta 
 
 
 
garantia só poderá ser afastada para que outros direitos, de maior peso relativo, possam ser 
aplicados.” 
 
Sendo defesa contra arbitrariedades do Estado, o direito adquirido é garantia da 
estabilidade nas relações jurídicas do particular com o poder público. 
2.4.2. Ato Jurídico Perfeito: Dispõe o § 1º, do art. 6º da LICC que “reputa-se o 
ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que já se efetuou”. 
Repisadamente citada pela doutrina a concepção de Celso Bastos
6
 nos parece a mais 
cristalina: 
 
“É aquele que se aperfeiçoou, que reuniu todos os elementos necessários a sua formação, debaixo 
da lei velha.Isto não quer dizer, por si só, que ele encerre em seu bojo um direito adquirido. Do 
que está o seu beneficiário imunizado é de oscilações de forma aportadas pela lei nova.” 
 
Como observamos, direito adquirido e ato jurídico perfeito não se confundem, 
sendo este um passo para se chegar ao primeiro: 
 
“Ato jurídico perfeito é o que reuniu todos os elementos necessários a sua formação, se encontrado 
apto a produzir seus efeitos. Não precisa estar exaurido, basta estar consumado. Esta espécie de ato 
é protegida contra a exigência que uma nova lei possa fazer quanto à forma, distinguindo-se do 
direito adquirido que está mais ligado à substância do ato.”7 
 
2.4.3. Coisa Julgada: 
 
1. Efeitos da sentença e autoridade da coisa julgada 
 
A coisa julgada é uma especial qualidade que imuniza os efeitos substanciais da sentença, a bem da 
estabilidade da tutela jurisdicional
8
. Embora Chiovenda tenha lançado originariamente esta base 
teórica sobre o assunto, ao considerar que a coisa julgada é obrigatória para os sujeitos da relação 
processual, enquanto a sentença existe e vale com respeito a todos, foi Liebman quem identificou 
com precisão a diferença entre a eficácia da sentença e autoridade da coisa julgada
9
. 
 
Enquanto a coisa julgada corresponde à eficácia que torna imutável e indiscutível a sentença, em 
relação às partes que integram a relação jurídico-processual, sem prejudicar nem beneficiar 
terceiros, os efeitos da sentença (condenatórios, constitutivos ou meramente declaratórios) 
correspondem às alterações que esta decisão judicial produz na realidade jurídica, podendo ocorrer 
antes do trânsito em julgado, sem o manto da imutabilidade, e beneficiar ou prejudicar terceiros 
(daí porque se admite a assistência litisconsorcial, o recurso de terceiro e ação rescisória do terceiro 
prejudicado). 
 
Assim, todos são afetados pelos efeitos da sentença, até porque as relações jurídicas não existem 
isoladamente no plano da realidade, mas a própria ordem constitucional rejeita que aqueles que não 
participaram do processo fiquem vinculados à imutabilidade da coisa julgada lá produzida 
(princípios do devido processo legal, ampla defesa e contraditório). 
 
A coisa julgada pode ser material (quando se projeta para fora do processo) ou formal 
(imutabilidade da sentença em si mesmo – efeito endoprocessual que põe fim à relação processual). 
Representa uma opção política do legislador, que visa a conciliar os princípios da celeridade e 
segurança, certeza e justiça das decisões, buscando um equilíbrio entre estes vetores muitas vezes 
contrapostos. Sua previsão constitucional está no art. 5º, XXXVI e infraconstitucional no art. 467 e 
ss do CPC.” 
 
 
 
 
 
 
2. Eficácia preclusiva da coisa julgada: 
 
Ao prever os efeitos preclusivos da coisa julgada, o art. 474 do CPC determina que 
passada em julgado a sentença de mérito, reputar-se-ão deduzidas e repelidas todas as alegações 
e defesas, que a parte poderia opor assim ao acolhimento como à rejeição do pedido. 
 
Para Rodolfo Mancuso, a técnica da eficácia preclusiva acolhida por este dispositivo legal 
opera como uma válvula de segurança do sistema, de modo a imunizar as questões deduzidas e 
deduzíveis, mas desde que atinentes ao núcleo do thema decidendum, isto é, ao preciso objeto 
litigiosa técnica que lembra o collateral estoppel, das class actions do direito norte-americano, pelo 
qual se consideram incluídos no julgado os necessary steps, ou seja, as premissas necessárias à 
conclusão
10
. 
 
 Barbosa Moreira entende que há uma relação de instrumentalidade entre os limites objetivos da 
coisa julgada e a sua eficácia preclusiva, pois enquanto os limites objetivos geram a imutabilidade 
do julgado, no que tange à parte dispositiva, a eficácia preclusiva consiste no impedimento que 
surge à discussão e apreciação de questões suscetíveis de influir neste julgado, cobrindo o deduzido 
e dedutível. Assim, pode suceder que, de fato, não tenham sido exaustivamente consideradas, no 
processo, as questões que poderiam influir na decisão, sendo vedado que depois de findo o 
processo se viesse a pôr em dúvida o resultado atingido, acenando-se com tal ou qual questão que 
haja ficado na sombra e que, porventura trazida à luz, teria sido capaz de levar o órgão judicial à 
conclusão diferente da corporificada na sentença (ressalvados os casos restritos de rescindibilidade 
do julgado)
 
 
 
 O expediente técnico a que se recorre é considerar implicitamente decididas pela sentença que 
transitou em julgado todas as questões, ainda que não apreciadas, cuja solução se devesse reputar 
idônea para influir no conteúdo do pronunciamento judicial. Trata-se de uma ficção, que não pode 
estender às questões a autoridade da coisa julgada (não estão imunes à rediscussão em outro 
processo), já que assim não ocorre nem mesmo entre as questões efetivamente apreciadas (a 
motivação da decisão não faz coisa julgada). Portanto, nem às questões deduzidas nem às 
dedutíveis se estende a auctoritas rei iudicatae, mas todas se submetem à eficácia preclusiva da 
coisa julgada, para que não venham ser utilizadas como instrumento de ataque ao julgado
11
. 
 
3. Relativização da coisa julgada - coisa julgada rebus sic stantibus – teoria da imprevisão 
 
Por fim, uma questão interessante se coloca: a coisa julgada gera imutabilidade absoluta 
ou relativa? Há possibilidades excepcionais de reabertura da discussão (relativização da coisa 
julgada), quando estão em jogo outros princípios e garantias constitucionais, dentre elas a garantia 
de acesso à justiça (CF, art. 5º, XXXV). “Não é legítimo eternizar injustiças a pretexto de se evitar 
a eternização de incertezas’’ 
 
Um dos casos mais comuns em que esta questão se coloca é o do advento de coisa julgada 
sobre reconhecimento de filiação antes do surgimento do teste de DNA, sendo posteriormente 
realizado o exame e descoberta a ausência de vínculo genético. Caso tenha transcorrido o prazo da 
rescisória, é possível se anular a relação de paternidade comprovadamente inexistente? 
 
Há quem defenda a propositura de ação declaratória de inexistência de coisa julgada, 
imprescritível, para promover a coincidência entre a verdade formal e a verdade real. Barbosa 
Moreira, por sua vez, acredita que seria interessante uma alteração legislativa neste caso para 
estabelecer como termo inicial do prazo da rescisória o dia em que o interessado obtém o laudo de 
DNA, ao invés do trânsito em julgado da sentença rescidenda. 
 
2.5. Princípio do Devido Processo Legal (Inciso LIV): O estado de direito tem como um de 
seus pilares o justo processamento das causas litigiosas, ou seja, aquele que sofre a 
persecução do Estado em relação aos direitos de liberdade e propriedade é assegurado um 
 
 
 
processo embasado em regras legislativas que definam uma instrução e julgamento justos e 
adequados. Essa garantia é assim definida por Alexandre de Moraes
12
: 
 
“O devido processo legal configura dupla proteção ao indivíduo, atuando tanto no âmbito material 
de proteção ao direito de liberdade, quanto no âmbito formal, ao assegurar-lhe paridade total de 
condições com o Estado-persecutor e plenitude de defesa (direito a defesa técnica, à publicidade do 
processo, à citação, de produção ampla de provas, de ser processado e julgado pelo juiz 
competente, aos recursos, à decisão imutável, à revisão criminal).” 
 
2.6. Princípio do Contraditório e da Ampla Defesa (Inciso LV): Outro princípio processual 
que visa a garantia da igualdade nas relações jurídicas, que para melhor ser entendido seguecolacionado os entendimentos dos constitucionalistas Alexandre de Moraes e Marcelo 
Novelino: 
 
“Por ampla defesa entende-se o asseguramento que é dado ao réu de condições que lhe possibilitem 
trazer para o processo todos os elementos tendentes a esclarecer a verdade ou mesmo de omitir-se 
ou calar-se, se entender necessário, enquanto o contraditório é a própria exteriorização da ampla 
defesa, impondo a condução dialética do processo (por conflito), pois a todo ato produzido pela 
acusação caberá igual direito da defesa de opor-se-lhe ou de dar-lhe a versão que melhor lhe 
apresente, ou ainda, de fornecer uma interpretação jurídica diversa daquela feita pelo autor.”13 
“A Constituição assegura aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em 
geral, o contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes (art. 5º, LV). O 
contraditório entendido como a ciência bilateral dos atos do processo com a possibilidade de 
contrariá-los, é composto por dois elementos: informação e reação, sendo esta meramente 
possibilitada em se tratando de direitos disponíveis. A audiência bilateral é requisito indispensável 
para a garantir justiça das decisões, pois ‘somente pela soma da parcialidade das partes (um 
representando a tese e a outra, a antítese) o juiz pode corporificar a síntese, em um processo 
dialético’. A ampla defesa é uma decorrência do contraditório (‘reação’). Assegura ao indivíduo a 
utilização, para a defesa de seus direitos, de todos os meios legais e moralmente admitidos. Não 
caracteriza uma violação a esta garantia o simples indeferimento de uma diligência probatória 
considerada desnecessária ou irrelevante.” 
 
2.7. Princípio do Juiz Natural (Incisos XXXVII e LIII): Para que exista um processo 
formalmente justo é necessário que o julgador seja escolhido por meios pré-definidos, a fim 
de não incorrer em insegurança às partes. 
 
“O princípio do juiz natural encontra em nossa Carta Magna dois dispositivos de tutela, os incisos 
XXXVII e LIII do art. 5º,(...). Os dispositivos transcritos consagram o princípio do juiz natural, 
também denominado princípio do juiz legal. O conteúdo jurídico do princípio pode ser resumido na 
inarredável necessidade de predeterminação do juízo competente, quer para o processo, quer para o 
julgamento, proibindo-se qualquer forma de designação de tribunais ou juízos para casos 
determinados. (...) A garantia constitucional tem dois destinatários: o cidadão, que deve submeter-
se ao juízo aleatório do Estado, sem procurar romper a regra da leve distribuição, e o Estado, que 
não pode definir o juiz para determinado cidadão ou caso. O princípio, contudo, não veda a 
existência de juízos especializados, desde que guardado o caráter generalizador da norma que os 
criar, que só ofenderá o princípio em estudo no caso de, por via transversa, buscar a submissão de 
situações ou pessoas predeterminadas á competência desses novos órgãos.” 
 
2.8. Princípio da Inafastabilidade da Apreciação Jurisdicional (Inciso XXXV): O 
legislador constitucional resguardou a possibilidade de o indivíduo recorrer ao judiciário para 
se precaver de possível ofensa ao seu direito (via preventiva) ou quando já ferido esse direito 
(via repressiva). 
 
 
 
 
“A rigor, a Constituição veda a possibilidade de exclusão da alegação de lesão ou ameaça, uma vez 
que o direito de ação não se vincula à efetiva procedência do pedido. Portanto, não se deve 
confundir “negativa de prestação jurisdicional com decisão jurisdicional contrária à pretensão da 
parte. “ 
 
O princípio sofre mitigações quanto à justiça desportiva (art. 217, § 1º), de 
responsabilidade do Senado (art. 52, I e II) e da Câmara em conjunto com o Senado (art. 55§ 
2º). 
 
2.9. Princípio da Razoável Duração do Processo (Inciso LXXVIII): Este princípio visa 
uma justiça célere, pois não adianta garantir ao indivíduo o acesso ao Judiciário, é necessário 
que ele se manifeste em tempo hábil a garantir um resultado satisfatório. 
 
“A simples garantia formal do dever do Estado de prestar a Justiça não é suficiente, sendo 
necessária uma prestação estatal rápida, efetiva e adequada.” 
 
Além do direito à vida, do qual decorrem todos os outros direitos, e dos princípios 
que regulam nossa ordem constitucional, temos várias outras garantias e direitos que podem 
ser classificados da seguinte forma. 
 
 
2.10 Direitos Ligados à Liberdade: a concepção de liberdade não deve estar ligada a noção 
de que se pode fazer qualquer coisa a qualquer tempo, ou seja, de um pensamento 
extremamente anárquico. 
 
“A noção de liberdade deve ser associado à arbitrariedade, mas sim à idéia de responsabilidade, 
que serve como limite ao seu exercício. (...) A concepção formal considera a liberdade como um 
valor em si, caracterizada como um direito a que o Estado não impeça ação e omissões (...) e uma 
permissão para fazer ou não fazer o que quiser...”14 
 
São direitos ligados à liberdade: 
 
 
2.10.1 Liberdade de manifestação do pensamento (art. 5º, IV), direito de resposta e à 
indenização (art. 5º, V) e liberdade de expressão (art. 5º, IX): Por meio de reflexões internas o 
ser humano formula convicções íntimas que exterioriza em opiniões. No entanto, esse direito 
não pode ser ofensivo ao direito de outrem: 
 
“Em alguns casos a manifestação do pensamento pode atingir direitos de terceiros, sua esfera de 
privacidade ou causar-lhes prejuízos. Por essa razão é imprescindível a identificação do 
responsável pelos juízos emitidos a fim de viabilizar, se for o caso, sua responsabilização civil e/ou 
pena. A vedação do anonimato tem por finalidade desestimular manifestações abusivas do 
pensamento, sendo assegurado o direito de resposta proporcional ao agravo, além da indenização 
por eventuais danos materiais, morais ou à imagem do ofendido (art. 5º, V).’’ 
 
Ainda na esfera da manifestação do pensamento está a garantia de que não haverá 
censura quanto à liberdade de expressão (art. 5º, IX): 
 
“A liberdade de expressão e de manifestação de pensamento não pode sofrer nenhum tipo de 
limitação prévia, no tocante a censura de natureza política, ideológica e artística. Contudo é 
possível à lei ordinária a regulamentação das diversões e espetáculos, classificando-os por faixas 
etárias a que não se recomendem, bem como definir locais e horários das famílias quanto a 
 
 
programas de rádio e televisão que descumpram os princípios determinados no art. 221, I a IV, 
como respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família (arts. 220, § 3º e 221). A 
inviolabilidade prevista no inciso X do art. 5º, porém, traça os limites tanto para a liberdade de 
expressão do pensamento como para o direito à informação, vedando-se o atingi mento à 
intimidade, à vida privada, à honra e à imagem das pessoas.”15 
 
2.10.2 Direito de Informação (art. 5º, XIV): A capacidade de emitir opiniões é mais 
abrangente que a sua capacidade de informar, divulgar o pensamento pode exprimir outras 
formas de exteriorização das convicções individuais, como críticas e dúvidas, por isso não se 
deve confundir o direito de opinião ou manifestação do pensamento com a o direito de 
informação. 
 
“O direito de informação envolve o direito de passar, receber e buscar informações: por isso, 
afirma-se que ele assume três feições: o direito de informar, de se informar e de ser informado. (...) 
O direito de informar, ou de passar informações, tem um sentido constitucional de liberdade para 
informar. Em outras palavras, trata-se de direito fundamental de primeira geração, cuja 
preocupação consiste em impedir que o Poder Público crie embaraços aolivre fluxo das 
informações. Assim o indivíduo possui liberdade para informar.” 
 
2.10.2.1 Direito de Antena (art. 17, § 3º): Em razão do preceito constitucional pelo qual os 
partidos políticos são a expressão plural das ideologias, a eles é assegurada a intervenção 
gratuita no rádio e na televisão. 
 
“Em outras palavras, o direito de antena traduz o direito a espaço gratuito nos meios de 
comunicação para a propagação de idéias, doutrinas etc. (...) De se indagar, nessa linha de 
raciocínio, se a Constitui brasileira empalmou direito similar. Entendemos que sim. Embora de 
maneira muito restrita, o tempo no rádio e na televisão assegurado pelo art. 17, § 3º, da 
Constituição Federal tem nítido colorido de direito de antena, pois o seu objetivo precípuo consiste 
em garantir aos partidos políticos espaços nos meios de comunicação social, como já assinalado.” 
 
2.10.2.2 Direito de Informação Jornalística (art. 220, § 1º): Também decorrente do direito de 
informação, a liberdade de informação jornalística assegura que o indivíduo possa ter acesso, 
sem censura prévia, às questões cotidianas. 
 
“A liberdade de informação jornalística é por assim dizer a herdeira primogênita da antiga 
liberdade de imprensa. (...) Nesse sentido, a informação jornalística é composta pela notícia e pela 
crítica. Aquela traduz a divulgação de um fato cujo conhecimento tenha importância para o 
indivíduo na sociedade em que vive. A crítica designa a opinião, o juízo de valor, que recai sobre a 
notícia.”16 
 
Importa ressaltar que para se configurar notícia, a informação veiculada deve ser 
verídica, bem como importar em relevância pública. 
 
2.10.2.3 Direito de Informação Pública (art. 5º, XXXIII): Esse direito deriva do princípio da 
moralidade administrativa (art. 37, caput), que dentre seus fundamentos consagra a 
publicidade dos atos administrativos. Desta forma, o ente público prima pela transparência de 
seu comportamento. 
 
“Esse dever fica restrito aos organismos públicos, pois, conforme o disposto no art. 5º, XXXIII, da 
Constituição da República, os indivíduos têm o direito de ‘receber dos órgãos públicos informações 
de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral...”, donde se conclui que o Poder 
 
 
 
Público tem a obrigação de manter o cidadão constante e integralmente informado, municiando-lhe 
com todas as informações acerca das atividades públicas.” 
 
 
2.10.3 Liberdade de Consciência e Crença (art. 5º, VI): Esta é uma garantia de que o 
indivíduo não sofrerá qualquer tipo de coação do Estado com relação as suas convicções, sem 
elas políticas, filosóficas ou religiosas. 
 
“A liberdade de consciência consiste na adesão a certos valores morais e espirituais, independentes 
de qualquer aspecto religioso. ” 
 
2.10.3.1 Escusa de Consciência (art. 5º, VIII): Assim como protege o direito do indivíduo de 
professar suas convicções, a Constituição da República reprime a intervenção baseada em 
preconceitos contra religião, convicções políticas e filosóficas. O direito é limitado para que 
não seja invocado para se eximir de obrigação imposta a todos ou cumprir prestação 
alternativa, como é o caso, p. ex. , do serviço militar obrigatório (art. 143, § 1º). 
 
 
2.10.4 Liberdade de Locomoção (art. 5º XV): A segurança em se locomover em território 
brasileiro é o tema desse direito. 
 
“A locomoção é um dos aspectos fundamentais da liberdade física do homem e engloba não apenas 
o direito de ir e vir, mas também o de permanecer (art. 5º, XV). Além das limitações inerentes a sua 
própria natureza, este direito pode encontrar restrições concernentes a sua manifestação (como é o 
caso da utilização de vias e logradouros públicos). Portanto, a liberdade de circulação não impede 
seja disciplinada a forma pela qual há de se dar a esta circulação. Visando à proteção de tal 
liberdade, a Constituição veda a prisão civil por dívida, que só poderá ocorrer nos casos de 
inadimplemento voluntário e inescusável de pensão alimentícia ou de depositário infiel (art. 5º, 
LXVII).” 
 
2.10.5 Liberdade de Reunião e Associação (art. 5º, XVII a XXII): A doutrina é consentânea 
que para se caracterizar reunião devem estar presentes alguns requisitos próprios, como a 
plurissubjetividade (duas ou mais pessoas), consciência e vontade dos participantes e duração 
limitada. Quanto à associação, é didático o seguinte conceito: 
 
“Direito de associação é o direito de exercício coletivo que, dotado de caráter permanente, envolve 
a coligação voluntária de duas ou mais pessoas com vistas à realização de objetivo comum, sob 
direção unificante.” 
 
Assim, pode-se extrair que a principal diferença entre os institutos é a 
temporalidade, enquanto a reunião é episódica a associação tem caráter permanente. As 
reuniões devem ter propósito pacífico e no caso de realização em local público, que a 
autoridade competente seja previamente avisada. 
 
Quanto as associações (ou sindicatos), em caso de impetração de Mandado de 
Segurança coletivo é desnecessária a autorização individual, conforme entendimento adotado 
pelo STF (vide RE 
 
2.11 Direitos Relativos à Privacidade: ao indivíduo a Constituição resguardou a liberdade 
para manifestar-se, com limitações é verdade. Uma das limitações é o direito à privacidade 
dos outros, para que assim todos possam se proteger contra a interferência em sua esfera 
íntima da atuação do Estado e de outrem. 
 
“Como decorrência da autonomia da vontade e do respeito ao livre-arbítrio, o direito à privacidade 
confere ao indivíduo a possibilidade de conduzir sua própria vida da maneira que julgar mais 
conveniente sem intromissão da curiosidade alheia, desde que não viole a ordem pública, os bons 
costumes e o direito de terceiros.” 17 
 
Contudo, dentro da esfera privada há um aspecto ainda mais restrito das relações 
pessoais, a intimidade: 
 
“Com efeito, a vida social do indivíduo divide-se em duas esferas: a pública e a privada. Por 
privacidade, de conseguinte, devem-se entender os níveis de relacionamento social que o indivíduo 
habitualmente mantém oculto ao público em geral, dentre eles: a vida familiar, as aventuras 
amorosas, o lazer e os segredos de negócio.” 18 
“Podemos vislumbrar, assim, dois diferentes conceitos. Um, de privacidade, onde se fixa a noção 
das relações interindividuais, que, como as nucleadas na família, devem permanecer ocultas ao 
público. Outro, de intimidade, onde se fixam uma divisão entre o ‘eu’ e os ‘outros’, de forma a 
criar um espaço que o titular deseja manter impenetrável mesmo aos mais próximos.” 19 
 
Marcelo Novelino destaca que o direito de informação pode significar uma 
exceção à privacidade do indivíduo20: 
 
“A divulgação de uma informação invasiva da privacidade deve ser admitida quando concorrerem 
os seguintes fatores: i) licitude da informação; ii) forma adequada de transmissão; e, iii) 
contribuição para o debate de interesse geral ou relevância para a formação da opinião pública, eixo 
em torno do qual gira o direito à informação. A divulgação de uma deve ser de interesse público, 
não apenas de ‘interesse do público’. (...) Por fim, são restrições legítimas à privacidade a 
divulgação de fatos que envolvam atividades criminosas (‘função de prevenção geral’) ou de fatos 
noticiáveis, como enchentes, terremotos, acidentes e catástrofes de grandes proporções.” 
 
Ainda na esfera da intimidade temos a concepção do direito à honra e à imagem. 
Conceitua-se como honra um valor dentro do que o indivíduo internaliza como 
moral. Esse valor moral pode ser do próprio indivíduo em relação a sua pessoa (honra 
subjetiva), como a que os outros têm como conceito social (honraobjetiva). 
 
Com relação à imagem, David Araújo e Vidal Serrano distinguem dois tipos de 
concepção: 
 
“O direito à imagem possui duas variações. De um lado, deve ser entendido como o direito relativo 
à reprodução gráfica (retrato, desenho, fotografia, filmagem, etc.) da figura humana. De outro, 
porém, a imagem assume a característica do conjunto de atributos cultivados pelo indivíduo e 
reconhecidos pelo conjunto social. Chamemos a primeira imagem de imagem-retrato e a segunda 
de imagem-atributo.” 
 
Para proteger a intimidade, a honra e a imagem do indivíduo, devemos analisar 
alguns conceitos: 
 
 
2.11.1 Gravação Clandestina: “A gravação clandestina é aquela feita por um dos 
interlocutores sem o conhecimento dos demais, podendo ser telefônica, pessoal (realizada 
com um mini-gravador) ou ambiental (imagens captadas por uma câmera escondida). A 
 
 
 
 
 
utilização desta espécie de gravação, em princípio, é vedada por caracterizar uma 
intromissão indevida na privacidade alheia (art. 5º, X).” 
 
Dessa forma, tais gravações não podem ser utilizadas como provas em processos 
(art. 5º, LVI), entretanto, há exceções quando tais provas estiverem inseridas no âmbito de 
outros direitos fundamentais. É o caso de gravação que serve de defesa em processo penal, 
torna-se uma garantia da ampla defesa objetivando a manutenção do direito de liberdade. 
 
Outra excepcionalidade ocorre quando uma das partes intenta cooptar a outra em 
ato criminoso, nesse caso termos um excludente de antijuridicidade, a parte que está sendo 
assediada pode utilizar a gravação como forma de proteção, sem o conhecimento da outra. 
 
Por fim, temos a gravação de atos ilícitos praticados por agentes públicos, “em 
razão do princípio da publicidade, o qual retira os atos administrativos da privacidade do 
indivíduo.” 
 
2.11.2 Interceptação da comunicação: “... consiste na interrupção ou intromissão por um 
terceiro, sem o conhecimento de um (ou de ambos) dos interlocutores. A interceptação pode 
ocorrer em uma comunicação epistolar, telegráfica, de dados ou telefônicos, sendo vedada, 
por violar a liberdade de comunicação pessoal (art. 5º, XII) 
 
 
2.11.3 Quebra de Sigilo: consiste na possibilidade de acesso ao conteúdo de informações 
contidas em banco de dados e arquivos pessoais. Pode ser bancário, fiscal, telefônico ou de 
informática. 
 
“Esse talvez seja o mais complexo, em termos de enquadramento constitucional. Isso porque, 
apesar do art. 5º, XII, fazer expressa referência à inviolabilidade do sigilo de dados, uma análise 
cuidadosa dos dispositivo conduz ao entendimento de que a proteção nele assegurada é apenas em 
referência à liberdade e privacidade das comunicações pessoais.. Por essa razão, entendemos ser 
necessário um duplo enquadramento: a inviolabilidade do sigilo de dados transmitidos e/ou 
recebidos está assegurada pela liberdade de comunicação pessoal (art. 5º, XII); a inviolabilidade de 
dados constantes de arquivos pessoais ou privados (‘não transmitidos’) deverá ser assegurada 
apenas quando estiver em jogos uma invasão indevida da privacidade (art. 5º, X).” 21 
 
2.11.4 Inviolabilidade do Domicílio (art. 5º, XI): “A entrada em uma casa sem o 
consentimento do morador somente poderá ocorrer no caso de flagrante delito, desastre, 
para prestar socorro ou por determinação judicial. Em virtude do caráter emergencial, nas 
hipóteses de flagrante delito, desastre ou para prestar socorro, a casa poderá ser invadida a 
qualquer hora do dia ou da noite. Para cumprimento de determinação judicial, se não houver 
consentimento do morador, somente durante o dia.” 
 
- A Lei Complementar nº 105/2001, estabelece as hipóteses em que podem ser 
utilizados os dados constantes de instituições financeiras; 
 
- O MP não possui legitimidade para quebrar sigilo, devendo solicitar à autoridade 
judicial a determinação; 
 
- A inviolabilidade de correspondência pode sofrer restrições, é o caso do estado 
de defesa (art. 136, § 1º, I, b), ou estado de sítio (art. 139, III); 
 
 
 
- A interceptação telefônica só é admitida se requisitada judicialmente para 
investigação criminal ou instrução processual penal, sem esse requisito é considerada ilícita 
(fruits of a poisonous tree). Para ser utilizada como prova deve obedecer ao regulamento da 
Lei nº 9296/96. 
 
 
2.12 Direito de Propriedade: direito de usar, gozar, usufruir e dispor de um 
determinado bem, e de reavê-lo, daquele que esteja indevidamente em sua posse. 
 
“Genericamente podemos definir propriedade como o direito subjetivo que assegura ao indivíduo o 
monopólio da exploração de um bem e de fazer valer esta faculdade contra todos que 
eventualmente queiram a ela se opor.” 22 
 
Toda propriedade deve ter uma função definida na sociedade, trata-se da função 
social que ela deve exercer: 
 
- Propriedade Urbana: A função social da propriedade urbana ocorre “quando 
obedece às diretrizes fundamentais de ordenação da cidade fixadas no plano diretor” (art. 
182, §2º da CF)”. Nessa esteira, é o plano diretor das cidades que define as condições de cada 
propriedade urbana: residência, comércio, indústria, etc. 
 
- Propriedade Rural: O art. 186 da CR elenca os requisitos que a propriedade rural 
deve observar para atender sua função social, com regulamentação específica contida nas leis. 
 
Como qualquer outro direito individual e coletivo, o direito de propriedade é 
limitado, pautado no interesse público e no bem estar o Estado pode intervir na propriedade 
privada e nas atividades econômicas. 
 
2.12.1 Requisição: Fundamentado no art. 5º, XXV da CR, o Estado pode retirar 
temporariamente a posse em razão de iminente perigo público. Também pode ser requisitada 
a propriedade em tempo de guerra (art. 139, VII). Esse tipo de intervenção só é indenizado se 
for comprovado dano à propriedade. 
 
2.12.2 Desapropriação: A Constituição define a possibilidade do Estado em transferir para 
sua posse a propriedade privada. Essa transferência é compulsória e ocorre nos casos de 
necessidade ou utilidade pública, ou ainda, por interesse social (art. 5º, XXIV). 
 
“O procedimento para desapropriação deverá estar previsto em lei federal (art. 22, II), podendo a 
União, através de lei complementar, autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas (art. 
22, parágrafo único). A indenização deve ser sempre justa e, em regra, prévia e em dinheiro, com 
exceção das duas hipóteses constitucionalmente previstas (arts. 182, § 4º, III e 184). Celso Antônio 
Bandeira de Mello aponta as seguintes diferenças entre requisição e a desapropriação: 1. A 
desapropriação refere-se apenas a bens. A requisição, a bens ou serviços. 2. A desapropriação é 
volvida à aquisição da propriedade. A requisição preordena-se ao uso dela. 3. A desapropriação é 
suscitada por necessidades permanentes da coletividade. A requisição decorre de necessidades 
transitórias. 4. A desapropriação, para efetivar, depende de acordo ou, na falta deste, de 
procedimento judicial. A requisição é auto-executória. 5. A desapropriação supõe necessidade 
corrente, usual. A requisição supõe, em geral. Necessidade pública premente, compulsiva. 6. A 
desapropriação é sempre indenizável e exige indenização prévia (salvo nas hipóteses dos arts. 183, 
§ 4º, III e 184). A requisição pode ser indenizada a posteriori e nem sempre é obrigatória.” 
 
 
 
O interesse social também serve de fundamento para a desapropriação de imóveis 
rurais, nesse caso a indenização deve ser feita em títulos da dívida agrária. 
 
“As operações detransferência de imóveis desapropriados para fins de reforma agrária são isentas 
de impostos federais, estaduais e municipais. Essa imunidade se refere apenas aos impostos, não se 
estendendo aos outros tributos (art. 184, § 5º). A Constituição veda a desapropriação, para fins de 
reforma agrária de propriedades produtivas e de pequenas e médias propriedades rurais, desde que 
o proprietário não possua outra (art. 185). No tocante às invasões de terras por particulares ou por 
movimentos sociais organizados, ainda que sob o pretexto de promover ações expropriatórias para 
fins de reforma agrária, o Supremo Tribunal Federal decidiu, em sede de Medida Cautelar, que 
estas invasões são ilícitas, não podendo ser admitidas (vide STF – ADIN (MC) nº 2.213/DF, 
Relator Ministro Celso de Mello).” 
 
2.12.3 Confisco: O Estado pode, ainda, se utilizar outro meio ainda mais rígido para a 
transferência da propriedade privada, é o confisco: 
 
“O confisco consiste na expropriação de um bem particular pelo Estado, sem a contraprestação 
pecuniária. Esta modalidade se diferencia da desapropriação por não haver qualquer tipo de 
indenização decorrente da perda da propriedade, em razão de caráter sancionatório. A Constituição 
prevê esta hipótese de sanção no caso de glebas utilizadas para culturas ilegais de plantas 
psicotrópicas, as quais deverão ser expropriadas e destinadas ao assentamento de colonos para o 
cultivo de produtos alimentícios e medicamentos (art. 243). Outrossim, poderá haver o confisco de 
qualquer bem apreendido em decorrência do tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o qual 
deverá ser revertido em proveito do controle a este tipo de crime (art. 243, parágrafo único).”23 
 
2.12.4 Usucapião: o Dicionário Aurélio define como “modo de adquirir propriedade móvel 
ou imóvel pela posse pacífica e ininterrupta da coisa durante certo tempo”. David Araújo e 
Nunes Júnior identificam três tipos de usucapião: 
 
“A Constituição Federal, atenta à dificuldade de regularização de propriedades, tratou da 
usucapião. Assim, criou duas hipóteses de usucapião. Como a instituição do direito surgiu em 5 de 
outubro de 1988, é a partir dessa desta que o prazo pode ser contado para o exercício do direito. A 
primeira hipótese é de imóvel urbano, prevista no art. 183 (...). A segunda hipótese é de imóvel 
rural, nos termos do art. 191 (...).” 
 
A outra forma de usucapião é a coletiva; 
 
“Questão que há muito atormentava a sociedade e os aplicadores da Lei era a de como viabilizar o 
reconhecimento dos efeitos jurídicos da possuem em áreas ocupadas pela população de baixa 
renda, em que não fosse possível a especificação do terreno ocupado por cada possuidor (favelas, 
por exemplo). Dando curso às previsões constitucionais acima citadas, a Lei n. 10.257/2001, o 
chamado Estatuto das Cidades, disciplinou a usucapião coletiva, (...). Importante salientar que o art. 
11 da indigitada lei prescreve que, na pendência da usucapião especial urbana, ‘ficarão sobrestadas 
quaisquer outras ações, petitórias ou possessórias, que venham a ser propostas relativamente ao 
imóvel usucapiendo’. Como se vê, o escopo da legislação foi o de priorizar o direito de moradia, 
em atenção, aliás, a um dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil, a saber 
‘erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais.” 
 
 
Por fim, a propriedade pode versar sobre a concepção de invenções, obras, etc., é a 
chamada propriedade intelectual: 
 
 
 
“O inciso XXVII do art. 5º da Constituição Federal consagra que ‘aos autores pertence o direito 
exclusivo de utilização, publicação ou reprodução de suas obras, transmissível aos herdeiros pelo 
tempo que a lei fixar’. O inciso XXVIII do mesmo dispositivo assegura a proteção às participações 
individuais nas obras coletivas, bem como o direito dos autores, por si ou por meio das respectivas 
representações sindicais ou associativas, de fiscalizar as obras que criarem ou de que participarem. 
O que se verifica é que, por intermédio desses dois dispositivos, a Carta Federal abrigou aos 
chamados direitos do autor, que conferem ao respectivo titular direitos morais e patrimoniais sobre 
a obra produzida. (...). Os direitos patrimoniais do autor manifestam-se pela prerrogativa de 
utilizar, fruir e dispor, com exclusão de todos os demais, da obra intelectual. A propriedade 
industrial envolve o chamado privilégio de invenção, as marcas de indústria ou de comércio e de 
nome de empresas. Cuidando do tema, o art., XXIX, da Constituição Federal prescreve que ‘a lei 
assegurará aos autores de inventos industriais privilégio temporário para sua utilização, bem como 
proteção às criações industriais, à propriedade das marcas, aos nomes de empresas e a outros signos 
distintos, tendo em vista o interesse social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do País.”

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