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Trabalho Ambiente constitucional da Inglaterra


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UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS
Direito
Fernanda Moreira e Cátia Somavilla 
	
	
O AMBIENTE CONSTITUCIONAL DA INGLATERRA
Nascimento simbólico: Carta Magna, 15 de junho de 1215
‘’Carta das liberdades, ou concórdia entre o rei João e os barões para a outorga das liberdades da Igreja e do rei Inglês’’
Para fins de referencial histórico, a maior parte dos autores menciona a Magna Carta de 1215 como o marco inicial de formação da Constituição Inglesa. A Magna Carta não é a primeira Constituição, mas nela podemos encontrar os elementos essenciais do constitucionalismo moderno: limitação do poder do Estado e declaração de direitos da pessoa.
Contexto Histórico
A Magna Charta Libertatum, assinada em 1215 pelo Rei João, é um documento que tornou limitado o poder da monarquia na Inglaterra, impedindo, assim, o exercício do poder absoluto. Esse documento foi resultado de desentendimentos entre João, o Papa e os barões ingleses acerca das prerrogativas do monarca. Segundo os termos dessa Carta, João deveria renunciar a certos direitos e respeitar determinados procedimentos legais, assim como reconhecer que a vontade do rei estaria sujeita à lei. A Magna Charta Libertatum é reconhecida como um dos primeiros instrumentos de limitação do Estado e da preservação dos Direitos Humanos Fundamentais, além de ser o primeiro passo de um longo processo histórico que levaria ao surgimento do Constitucionalismo e da Monarquia Constitucional.
Principais características da Carta Magna de 1215:
Foi Redigida em latim e inicialmente era composta por 63 artigos;
 A Magna Carta entre outras garantias previa principalmente, a liberdade da igreja da Inglaterra, restrições tributárias, proporcionalidade entre delito e sanção, previsão do devido processo legal, livre acesso à justiça, liberdade de locomoção e livre entrada e saída do país.
*Importante ressaltar, que a Carta Magna influenciou diretamente na Constituição norte-americana, e consequentemente, também a nossa;
O artigo 39 da Magna Carta estabelece procedimentos para os julgamentos e é por alguns, considerado o mais importante de todo o texto.
 “Nenhum homem livre será preso, aprisionado ou privado de uma propriedade, ou tornado fora-da-lei, ou exilado, ou de maneira alguma destruído, nem agiremos contra ele ou mandaremos alguém contra ele, a não ser por julgamento legal dos seus pares, ou pela lei da terra”.
Portanto, a vontade do Rei não era mais absoluta, pois os indivíduos deveriam ser julgados nos ditames da lei. O artigo 40 dispõe: “A ninguém venderemos, a ninguém recusaremos ou atrasaremos, direito ou justiça”. Algumas cláusulas mostravam-se como uma trava ao poder do Rei, entre estas as citadas. 
Críticas
Apesar de a referida Carta ter sido o marco inicial das declarações dos direitos do homem, ela não teve caráter universal, em virtude, de que foi elaborada, especialmente, para atender as necessidades locais de um povo, quais sejam, dos bispos, dos barões, da burguesia e do alto clero inglês.
Segundo o historiador Burns (1970), a interpretação popular dada à Magna Carta é, na realidade, errônea. Não pretendia ser uma declaração de Direitos ou uma carta de liberdades do homem comum; pelo contrario, era um documento feudal, um contrato feudal escrito, no qual o rei, como suserano, se comprometia a respeitar os direitos tradicionais dos vassalos. (p.445)
Ressalta-se, apesar das críticas, porém, que a Magna Charta Libertatum, assinada inicialmente pelo Rei João da Inglaterra, foi um importante instrumento para a consolidação das ideias de dignidade, liberdade e igualdade, mesmo contemplando apenas à nobreza inglesa. Graças a ela também houve uma flexibilização do rigor do Estado em benefício do reconhecimento dos Direitos Humanos Fundamentais. 
**A expressão “homens livres”, com o passar do tempo, passou a ter uma amplitude jamais pensada na época. Perdeu o caráter estamental do direito feudal, ampliando-se paulatinamente, com outras edições do documento até que pudesse alcançar, indistintamente, todos os súditos do reino. Dessa forma, os direitos e garantias especificamente asseguradas aos grandes barões, graças à terminologia utilizada, pôde-se ajustar à novos documentos de períodos posteriores, passando a representar todas as liberdades que se desenvolviam e se modificaram ao longo dos séculos. Por isso, o documento marca o início de uma monarquia limitada pelas ordens escritas e surge como uma política de transição.**
Três ou quatro disposições da Magna Carta ainda hoje têm vigência, integrando o rol das leis inglesas:
• o artigo primeiro, que trata dos privilégios da Igreja da Inglaterra; • o artigo 9 ou 13 (versão de 1225), que confirma os privilégios da cidade de Londres, bem como de outras cidades e portos; • o artigo 29 ou 39 e 40(versão de 1225), considerado o mais importante da Carta, pois expressa o direito do indivíduo de ser julgado por seus pares e de acordo com a lei da terra; • o artigo 60, somente na parte relacionada com a limitação dos atos do Governo. 
PETITION OF RIGHT 
Quatro séculos depois, novamente em resposta a uma série de violações da lei cometidas pelo rei da Inglaterra, que desta vez era Carlos I, o Parlamento, em 1628, durante o período que antecedeu a guerra civil inglesa, elaborou a Petition of Right (Petição de Direitos), uma declaração de liberdades civis, que foi um marco registrado no desenvolvimento dos direitos humanos.
A Petition of Right foi baseada em estatutos e cartas anteriores e previa expressamente, entre outras coisas, que: 
- nenhum imposto poderia ser cobrado sem o consentimento do Parlamento;
- nenhuma pessoa poderia ser presa sem justa causa apresentada;
- a lei marcial (restritiva de direitos) não poderia ser utilizada em tempo de paz;
HABEAS CORPUS ACT
Antes mesmo da Magna Carta, a common Law inglesa conhecia várias formas de “ordem” (writ), dentre elas, o habeas corpus ad subjiciendum, que ordenava ao detentor a apresentação do preso, com o esclarecimento das razões da prisão, a fim de submetê-lo às determinações da Corte. Todavia, na prática, o instrumento processual não se revestia de grande efetividade, tampouco era invocado contra o poder do rei. Da mesma forma, as promessas da Magna Carta foram sendo progressivamente desrespeitadas, esquecidas.
Nesse sentido, Fábio Konder Comparato afirma que:
O sentido inovador do documento consistiu, justamente, no fato de a declaração régia reconhecer que os direitos próprios dos dois estamentos livres – a nobreza e o clero – existiam independentemente do consentimento do monarca, e não podiam, por conseguinte, ser modificados por ele. Aí está a pedra angular para a construção da democracia moderna: o poder dos governantes passa a ser limitado, não apenas por normas superiores, fundadas no costume ou na religião, mas também por direitos subjetivos dos governados
No entanto, sua utilização só foi restrita ao direito de locomoção dos indivíduos em 1679, através do Habeas Corpus Act, fora um importante instrumento contra prisões arbitrárias de pessoas acusadas de cometer crime, criando o chamado “direito ao mandado” (right to the writ). 
O Habeas Corpus Act tem com o escopo de regulamentar de forma processual a proteção ao direito de liberdade frente a um insuficiente sistema processual, tendo como característica marcante o fortalecimento da ordem judicial de concessão do habeas corpus, implicando, inclusive, em imposição de multa reparatória em favor do preso, a ser paga pelo detentor, bem como na perda do cargo, em se tratando de funcionário público desobediente.
Suas imperfeições foram sanadas com o Habeas Corpus Act, de 1816, mormente para estender sua abrangência para proteger pessoas presas por outros motivos diversos da acusação criminal. Outraobservação que deve ser feita a respeito deste segundo Habeas Corpus Act é que ele ampliou a área de atuação do Habeas Corpus Act de 1679, aumentando a possibilidade de defesa, inclusive contra ato de particular.
REVOLUÇÃO PURITANA E GLORIOSA 
A Revolução Puritana (1640) e a Revolução Gloriosa (1688) transformaram a Inglaterra do século XVII.
As Revoluções Inglesas foram as primeiras revoluções burguesas de caráter antiabsolutista na Europa. A Revolução Puritana derrubou a dinastia Stuart e implantou uma República Parlamentar, depois ditatorial, sob o comando de Oliver Cromwell, que reprimiu os movimentos populares e impulsionou o comércio inglês a partir do Ato de Navegação (1651). Sob a ditadura cromwelliana, as estruturas feudais ainda existentes na Inglaterra foram eliminadas. As terras dos partidários do rei e da Igreja anglicana foram confiscadas e vendidas aos produtores rurais. Legalizou-se a propriedade absoluta da terra e o cercamento dos campos para produzir para o mercado. O liberalismo econômico entrava em vigor na prática. Porém, não foram atendidas reivindicações dos niveladores, segmento popular que apoiou Cromwell e assim chamado porque, pretendiam nivelar as condições sociais, exigindo a completa liberdade religiosa e a igualdade de todos perante a lei.
Com a Revolução Gloriosa, a burguesia inglesa se libertava do Estado absolutista definitivamente, que com seu permanente intervencionismo era uma barreira para um mais amplo acúmulo de capital. O novo rei, Guilherme de Orange se subordinou ao Bill of Rights. Dessa forma a burguesia, aliada a aristocracia rural, passou a exercer diretamente o poder político através do Parlamento, caracterizando a formação de um ESTADO LIBERAL, adequado ao desenvolvimento do capitalismo, que junto a outros fatores, permitirá o pioneirismo inglês na Revolução Industrial em meados do século XVIII
A Revolução Gloriosa de 1688 é adjetivada de "gloriosa" porque, além de depor o último rei absolutista da dinastia Stuart (Jaime II), não provocou derramamento de sangue: por outro lado, a monarquia é qualificada de "limitada" porque, ao promulgar o Bill of Rights de 1689, o Parlamento se sobrepôs definitivamente ao poder real, dando origem à máxima inglesa de que "o rei reina mas não governa".
DECLARAÇÃO DE DIREITOD “BILL OF RIGHTS”
No documento de 1689, identifica-se uma particularidade da Inglaterra diante dos demais Estados europeus na Época Moderna. A peculiaridade inglesa e o regime político que predominavam na Europa continental estão indicados, respectivamente na Declaração dos Direitos ou “Bill of Rights” foi um documento produzido com o desfecho da Revolução Gloriosa, que eliminou o absolutismo da Inglaterra e fortaleceu o papel do Parlamento enquanto instituição de governo no país.
Essa declaração eliminava a censura política e reafirmava o direito exclusivo do Parlamento em estabelecer impostos, e o direito de livre apresentação de petições. Além disso, o Tesouro britânico era controlado pelo Parlamento inglês e nenhum gasto poderia ser feito sem a sua autorização, os altos funcionários do governo eram fiscalizados pelos parlamentares e os gastos da família real também eram controlados pelo Parlamento.
Destaca-se ainda a questão militar, onde o recrutamento e manutenção do exército somente seriam admitidos com a aprovação do Parlamento. Determina, ainda, entre outras coisas, a liberdade de imprensa.
Trabalho para disciplina de Teoria da Constituição – Ambiente constitucional da Inglaterra– Professor: Emerson de Lima Pinto