Antonio Candido Curso de Musica pg 000 100

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C U R S O E L E M E N T A R 
D E M U S I C A 
C O M P R E H E N D E N D O T H E O R I A , P H I L O L O G I A E H I S T O R I A 
P O R 
A N T O N I O C A N D I D O 
S . P A U L O , 1 9 1 0 
i . ° V O L U M E i . ° V O L U M E 
S E C Ç Ã O D E O B R A S D ' 
. S . P A U L O 
' O E S T A D O D E S . P A U L O " 
1 9 2 8 
S. Paulo, 1 0 - 1 9 2 1 . 
lllustre amigo e collega Antonio Candido. 
Tendo examinado com toda a attenção o seu magnifico trabalho intitu-
lado "Curso Elementar de Musica" comprehendendo theoria, philologia e histo-
ria, tenho a dizer-lhe o seguinte', estando em tudo e por tudo de accôrdo $pmsi-> 
go, porquanto vemos os dois do mesmo modo a theoria musical, nada tenho d* 
propor. O plano do seu trabalho, fazendo succeder a cada capitulo theorico um 
resumo histórico, c o que os italianos chamam u n a t r o v a t a . 
Esse plano, tão judiciosamente concebido, desperta a curiosidade *ao lei-
tor ; e lendo o resumo histórico, enriquece sua intelligenciai com noções interes-
santes c necessárias á sua cultura musical. 
No correr da obra, encontram-se algumas theorias novas e interessan-
tes, bem fundamentadas, expostas com clareza c methodicamente coordenadas. 
As definições são sempre claras e exprimem nitidamente o seu objecto. 
A theoria das q u i a l t e r a s , a que chama g r u p o s a l t e r a d o s , é esplendida. 
A theoria dos a c c i d e n t e s , aos quacs o distincto collega denomina s i g n a e s 
c o m p l e m e n t a r e s d a entoação, é nova e indiscutivelmente racional. 
A theoria das sue cesso es de quintas e oitavas, intelligente e engenhosa. 
O capitulo sobre o rithmo, claramente desenvolvido, é, por assim dizer, 
magistral, 
Tem ainda duas novidades, que são tratadas com lógica intelligente e 
que, segundo meu modo de ver, são magnificas e muito necessárias: refiro-me 
aos capitulas sobre acústica, c especialmente ao que se refere ao canto-chão: 
O seu livro, que cu considero uma obra notável, é ainda muito util ao 
mestre, que com elle tem um guia seguro e methodico para as suas explicações 
E' o que com o máximo prazer e sinceridade tenho a dizer-lhe. 
Com os meus mais sinceros parabéns, envio-lhe um affectuoso abraço. 
Do amigo e collega 
admirador 
Antonio Carlos Júnior (*) 
( P r o f . C a t h e d r a t i c o d o Conservatório d e S . P a u l o ) 
( * ) F a l l e c i d o e m 2 d e S e t e m b r o d e 1 9 2 4 . 
I I 
R E S U M O H I S T Ó R I C O 
Representação g r a p h i c a d a s n o t a s ; notação h i n d u e notação p e r s a : p a g . 2 4 
— Notação c h i n e z a : p a g . 2 6 — A problemática notação e g y p c i a : p a g . 2 7 — 
Notação g n o s t i c o - m a g i c a : p a g . 2 8 — Notação h e b r a i c a : p a g . 3 0 — Notação 
g r e g a : p a g . 3 1 — I n f l u e n c i a d a m u s i c a : p a g . 3 2 — D i v e r s a s opiniões s o b r e a 
notação l i t t e r a l a t t r i b u i d a a Boécio: p a g . 3 4 — Notação b y s a n t i n a : p a g . 3 7 — 
Notação n e u m a t i c a l a t i n a : p a g . 3 8 — N e u m a s g o t h i c o s : p a g . 4 1 — N e u m a s d e 
p o n t o s s u p e r p o s t o s : p a g . 4 9 — Notação p r e t a : p a g . 5 2 — Notação b r a n c a : p a g . 
5 3 — Notação r e d o n d a : p a g . 5 3 — T a b l a t u r a i t a l i a n a : p a g : 5 4 — T a b l a t u r a 
f r a n c e s a e allemã: p a g . 5 6 — T a b l a t u r a i n g l e z a : p a g . 5 7 — T a b l a t u r a allemã 
p a r a órgão: p a g . 5 7 — P a u t a e c l a v e s : p a g . 5 9 — A ornamentação n a m u s i c a 
v o c a l : p a g . 6 4 — 
é 
C A P I T U L O T E R C E I R O : 
C o m p a s s o s e s u a s divisões b i n a r i a s : p a g . 6 9 — Accentuação métrica: p a g . 
7 3 — P o n t o d e a u g m e n t o t e p o n t o d e diminuição: p a g . 7 7 — Ligação e m o d o 
d e e x e c u t a r o s g r u p o s d e n o t a s l i g a d a s : p a g . 7 8 — S y n c o p a : p a g . 7 9 — C o n -
t r a - t e m p o : p a g . 8 1 — C o m p a s s o s e s u a s divisões ternárias: p a g . 8 2 —- G r u p o s -
a l t e r a d o s : 8 7 — M o v i m e n t o e indicação m e t r o n o m i c a : p a g . 9 6 — F e r m a t a . 
p a u s a f i n a l , s i g n a l d e repetição: p a g . 9 9 — A b r e v i a t u r a s d a e s c r i p t a m u s i c a l e 
s i g n a e s d e c h a m a d a : p a g . 1 0 0 — 
R E S U M O H I S T Ó R I C O 
O r i g e m d o s c o m p a s s o s : p a g . 1 0 1 — M u s i c a mensurável d a E d a d e - M e d i a : 
p a g . 1 0 6 — L i n h a d e divisão e f o r m u l a s d o s c o m p a s s o s : p a g . 1 1 1 — M o d o d e 
m a r c a r o c o m p a s s o : q u a n d o p r i n c i p i a r a m a e m p r e g a r o p o n t o d e a u g m e n t o , o 
p o n t o d e diminuição, o p o n t o s u b l i n h a d o e a ligação: p a g . 1 1 4 — M o d o d e 
e s c r e v e r a s y n c o p a : p a g . 1 1 5 — Modulação r y t h m i c a d o s g r e g o s e o r i g e m d o s 
g r u p o s - a l t e r a d o s : p a g . 1 1 5 — A n d a m e n t o e m e t r o n o m i a : p a g . 1 2 0 — A m e -
t r o n o m i a W a g n e r i a n a : p a g . 1 2 1 — U s o d a f e r m a t a o u suspensão e c a d e n c i a s : 
p a g . 1 2 3 — S i g n a e s d e a b r e v i a t u r a : p a g . 1 2 3 — 
C A P I T U L O Q U A R T O 
I n t e r v a l l o s s i m p l e s : p a g . 1 2 5 — Constituição d o s i n t e r v a l l o s : - p a g . 1 2 6 — 
I n t e r v a l l o s m a i o r e s e m e n o r e s : p a g . 1 2 7 — I n t e r v a l l o s s i m p l e s e c o m p o s t o s : 
p a g . 1 2 8 — S i g n a e s c o m p l e m e n t a r e s d a entoação: p a g . 1 2 9 — I n t e r v a l l o s , d i a -
t o n i c o s e c h r o m a t i c o s : p a g . 1 2 9 — Identificação d o s m e i o s t o n s : E m p r e g o 
d o t r i p l i c e s u s t e n i d o : p a g . 1 3 2 — M o d o d e e m p r e g a r o s s i g n a e s c o m p l e m e n t a - / 
r e s ' d a entoação: p a g . 1 3 3 Successões diatónicas, d i a s t e m a t i c a s e c h r o m a t i c a s . 
Tranzíção p o r m e i o d e e n h a r m o n i s m o : p a g . 1 3 5 — I n t e r v a l l o s a u g m e n t a d o s e 
d i m i n u t o s : p a g . 2 3 6 —- Q u a d r o g e r a l d o s i n t e r v a l l o s : p a g . 1 3 7 — D o b r a m e n -
t o e inversão d o s i n t e r v a l l o s s i m p l e s e c o m p o s t a s : p a g . 1 3 8 — I n t e r v a l l o s c o n -
s o a n t e s e d i s s o n a n t e s : p a g . 1 4 0 — O i n t e r v a l l o d e 5 . a m a i o r c o n s i d e r a d o e l e -
m e n t o g e r a d o r d o n o s s o s y s t e m a m u s i c a l : p a g . 1 4 1 — E s c a l a p e r f e i t a r e p r o d u -
z i d a e m t o d o s o s s e u s g r a u s : p a g . 1 4 3 — G r a u s c o n j u n c t o s , diatónicos e c h r o -
m a t i c o s . E s c a l a única: p a g . 1 4 5 —- Designação n o m i n a l d a s n o t a s : p a g . 1 4 6 —.-
N o t a s sensíveis: p a g . 1 4 6 — Reproducção d a e s c a l a m a i o r e m e n o r p o r m e i o 
d ' u m a successão d e s c e n d e n t e d e 5 . a s m a i o r e s : p a g . 1 4 7 — A s 4 f o r m a s d a 
e s c a l a m e n o r : p a g . 1 5 1 — A o r d e m n o e m p r e g o d o s s u s t e n i d o s e d o s b e m o e s : 
p a g . 1 5 3 — M e i o mnemonicoí d e f i x a r o n u m e r o d e n o t a s s u s t e n i d a s o u a b e m o -
l a d a s p a r a a construcção d e q u a l q u e r t o m : p a g . 1 5 5 — S i g n a e s c o m p l e m e n t a -
r e s d a entoação c o n s i d e r a d o s c o m o s i g n a e s t o n a e s , e t y m o l o g i c o s e d e o r n a m e n -
tação: p a g . 1 5 5 — A r m a d u r a d a c l a v e : p a g . 1 5 6 — R e l a t i v i d a d e e derivação d a s 
e s c a l a s : p a g . 1 5 6 —• N o t a s e n h a r m o n i c a s e i s o p h o n a s : p a g . 1 5 8 — T o n s e n h a r -
m o n i c o s : p a g . 1 5 9 — T o n a l i d a d e : p a g . 1 6 1 — M o d o d e c o n h e c e r o s t o n s : p a g . 
1 6 4 — Etopêa t o n a l : pa g . 1 6 5 — Transposição: p a g . 1 6 6 — 
R E S U M O H I S T Ó R I C O 
O r i g e m d o s i n t e r v a l l o s d e 8 . \ 4 . n e 5 . a : a n t i p h o n i a , h o m o p h o n i a ; o t e t r a -
cocrde d e Mercúrio: e s c a l a f o r m a d a p o r t r e s t e t r a c o r d e s : p a g . 1 6 9 — A e s c a l a 
d o s g r e g o s n o t e m p o d e D a m o n : p a g . 1 7 0 — S y s t e m a teleion e ametaholon : 
p a g . 1 7 1 — A disposição d o d i a g r a m m a e a s u a extensão — p a g . 1 7 2 — D e -
cadência m u s i c a l : p a g . 1 7 3 — O s p r i m i t i v o s modos g r e g o s : p a g . 1 7 5 — E s c a -
l a h e l l e n i c a e s u a notação. E s c a l a s modaes: p a g . 1 7 6 — Divisão p e n t a t o n a l e 
t e t r a c o r d a l d a s s e t e e s c a l a s m o d a e s : p a g . 1 7 7 — Créação d o s géneros c h r o -
m a t i c o e e n h a r m o n i e o : p a g 1 7 8 — Notação i n s t r u m e n t a l d a e s c a l a c a t a p y c n o -
s a d a : p a g . 1 8 0 •— A extensão n o r m a l d a s v o z e * s . Adaptação d a s e s c a l a s m o d a e s á 
extensão n o r m a l d a s v o z e s : p a g . 1 8 2 — A s p r i m e i r a s e s c a l a s t r a n s p o r t a d a s : 
p a g . 1 8 5 — Rejeição d o s y s t e m a c a t a p y c n o s a d o p o r P y t h a g o r a s : p a g . 1 8 5 — 
S y s t e m a d o s t r e z e t o n s A r i s t o x e n e a n o s : p a g . 1 8 6 — Notação i n s t r u m e n t a l e 
v o c a l d o d i a g r a m m a g e r a l d o s g r e g o s , n o s y s t e m a c a t a p y c n o s a d o , c o m a s a d j m i c -
ções d e A r i s t o x e n o . — Interpretação d o s modos d o r i o , h y p o - d o r i o i e m i x o ^ l y d i o 
n o género diatónico: p a g . 1 8 7 — A s interpretações d o s géneros e n h a r m o n i e o , 
diatónico e c h r o m a t i c o : p a g . 1 8 8 — O r i g e m d a e s c a l a harmónica: p a g . 1 9 1 — 
Canção d e T r a l l e s : p a g . 1 9 2 — S y s t e m a d o s q u i n z e t o n s : p a g . 1 9 4 — O e n -
h a r m o n i e o , o m a i s b e l l o dm géneros. D u v i d a s s o b r e a existência d o e n h a r m o -
n i e o . O r i g e m d o s i n t e r v a l l o s p y e n o s : p a g . 1 9 5 — Reducção d o s q u i n z e t o n s a 
s e t e : p a g . 1 9 6 — A s m e l o d i a s l i t h u r g i c a s d e St.° Ambrósio: p a g . 1 9 7 — S y s -
t e m a d o s o i t o t o n s , u s a d o s p e l a e g r e j a l a t i n a : p a g . 1 9 8 — M o d o s a n t h e n t i c o s e 
I V 
p l a g a e s : p a g . 1 9 8 — Designação d o s m o d o s n a l i t h u r g i a c a t h o l i c a : p a g . 1 9 9 — 
Canção d o Castellão d e C o u c i . G u i d o d ' A r e z z o o r e f o r m a d o r d o s y s t e m a d o s 
g r e g o s . O r i g e m d a p a l a v r a gramma p a r a i n d i c a r a e s c a l a : p a g . 2 0 0 — D e f i n i -
ção d a p a l a v r a tom. Determinação d a entoação. I n t e r v a l l o s s i m p l e s e c o m p o s -
t o s : p a g . 2 0 1 — S i g n a e s Romaniannns: p a g . 2 0 2 — S i g n a e s d e H e r m a n n C o n -
t r a t p a r a i n d i c a r o s i n t e r v a l l o s : p a g . 2 0 3 — T e n t a t i v a d o r e n a s c i m e n t o d a m u -
s i c a g r e g a ; p a g . 2 0 5 — E m p r e g o d o s u s t e n i d o , d o b e m o l e d o i b e q u a d r o : p a g . 
2 0 6 — S y s t e m a h e x a c o r d a l a t t r i b u i d o a G u i d o d ' A r e z z o . M o d o d e i n d i c a r o s 
m e i o s t o n s : p a g . 2 0 7 — Mutanças, deducções s i m p l e s o u c o m p o s t a s : p a g . 2 0 8 
Fim do 1.° Volume 
Observações: P a g . 9 5 : n a 1 7 . a l i n h a d a nota r e l a t i v a a o s g r u p o s - a l t e r a d o s 
o n d e se lê " c o m a p o j o s (accentos)"; lêa-se " c o m a p o j o s (appoggiaturas)"'. N o 
f i m d e s s a m e s m a nota, e m v e z d e ( p a g . 1 1 6 e 1 1 9 ) , lêa-se: p a g . 1 1 9 . 
P a g . 1 4 5 : N o f i m d a n o t a 5 8 , e m v e z d e " n a p a g . 2 0 0 " , lêa-se " n a p a g . 
2 0 6 " . 
P a g . 1 5 6 : A e s c a l a m e n o r é d a l . a f o r m a e não d a 2 . a , c o m o está escrípto. 
H a a l g u n s e n g a n o s q u e e s c a p a r a m á revisão, fáceis d e c o r r i g i r . Desse t r a -
b a l h o i n s i g n i f i c a n t e s e encarregará o l e i t o r . 
í3o feitor 
D u r a n t e a m i n h a l o n g a p r a t i c a n o p r o f e s s o r a d o m u s i c a l , o b s e r -
v e i q u e , g e r a l m e n t e , o s a l u m n o s se c o n t e n t a m c o m a a p r e n d i z a g e m d a 
s e m i o g r a p h i a m u s i c a l , a m b i c i o n a n d o porém, s o f r e g a m e n t e , á t e c h n i -
c a indispensável á execução d o i n s t r u m e n t o q u e e s c o l h e r a m , p a r a 
m a i s t a r d e r e a l i z a r e m a c r o b a c i a s e s p a v e n t o s a s d e m o d o a p o d e r e m 
d a r , a o s l e i g o s , a impressão d a g r a n d e s e n t i m e n t a l i d a d e o u d o s e u 
e x c e p c i o n a l t e m p e r a m e n t o a r t i s t i c o . 
A d q u i r i d a a t e c h n i c a e o c o n h e c i m e n t o d o do, re, mi, j u l g a m n a -
d a m a i s l h e s s e r p r e c i s o . 
O r a , t r a n s p o r a u t o m a t i c a m e n t e p a r a o t e c l a d o < T u m p i a n o a s 
n o t a s m u s i c a e s i m p r e s s a s n u m p a p e l c o l l o c a d o á n o s s a f r e n t e , não 
é m a i s q u e p r o d u z i r , c o m o d i z i a V i c t o r H u g o . " u m r u i d o s u p p o r t a -
v e l " ; t a l r e s u l t a d o porém, é s e m p r e d e p r i m e n t e p a r a o e x e c u t a n t e . E 
a c a u s a d e s s e r e s u l t a d o ? . .- é o a l u m n o não p o d e r a d v i n h a r q u e u m 
g r u p o d e n o t a s r e p r e s e n t a a exteriorisação d u m a idéa m u s i c a l , i n -
t i m a p s y c h o l o g i c a , d e t e r m i n a n d o u m c e r t o m o d o d e expressão q u e só 
p o d e s e r r e a l i s a d o p e l a d e l i c a d e z a e p e l o aperfeiçoamento e d u c a t i v o 
d o s e n t i m e n t o , a d q u i r i d o p e l o e s t u d o g e r a l d a m u s i c a , p e l a s u g g e s -
tão e p e l o s e n s i n a m e n t o s c o l h i d o s n a l e i t u r a d e o b r a s d e d i c a d a s a e s -
t e f i m e a i n d a p e l a audição d e peças m u s i c a e s e x e c u t a d a s p o r g r a n -
d e s i n t e r p r e t e s . 
D e s e n v o l v e n d o o s e n t i m e n t o a r t i s t i c o n e s t e a m b i e n t e c o m p l e x o 
d e p u r a a r t e , poderá tocar, i s t o é, C O M M O V E R , D E S P E R T A R 
SENSAÇÕES P O R M E I O D A S I D E A S M U S I C A E S T R A -
V i 
D U Z I D A S P E L O S S O N S D O I N S T R U M E N T O Q U E E X E -
C U T A R . 
A m u s i c a é a a r t e q u e , p e l a s u a transcendência, e x i g e a v i b r a -
ção c o n s t a n t e d a s f a c u l d a d e s i n t e l l e c t u a e s p a r a n o s i n t e r n a r m o s c o m 
provável segurança n o dédalo d a s l e i s a b s t r a c t a s q u e r e g e m e s s a a r -
t e d e p s y c h o l o g i a s u b j e c t i v a ; é, p o r t a n t o , u m a u t o p i a , a c r e d i t a r q u e 
a m u s i c a p o d e s e r c o m p r e h e n d i d a e e s t u d a d a só p e l a s notas e s e u s 
valores. 
S a b i d o q u e a c u l t u r a m u s i c a l é, i n f e l i z m e n t e , se não u m m y t h o , 
p e l o m e n o s d e f i c i e n t i s s i m a , t o r n a - s e indispensável e s t i m u l a r e n e r -
g i a s a o e s t u d a n t e d e m u s i c a p e l a apresentação s u a v e e g r a d a t i v a 
d o s princípios g e r a e s d o e s t u d o m u s i c a l , p r e p a r a n d o - l h e a s s i m o e s -
p i r i t o p a r a o i n t e r e s s a r p o r u m a a r t e q u e l h e compensará o s s e u s s a -
crifícios e esforços, c o m o s m o m e n t o s d e c o m p l e t a satisfação i n t i -
m a ( 1 ) , i s o l a n d o - o d a s e x t e r i o r i d a d e s i m p e r t i n e n t e s d a v i d a , p a r a 
o c o n d u z i r a o m u n d os u b l i m e d o i d e a l . A s s i m , o e s t i m u l o será a f o r -
ça n a t u r a l q u e activará a c u r i o s i d a d e d o a l u m n o p e l o e s t u d o d e s t a 
g r a n d e a r t e q u e p o e t i c a m e n t e f o i d e n o m i n a d a Musica. 
% # * 
Q u a n d o se p o s s u e o g o z o esthético ( 2 ) d a s g r a n d e s composições 
m u s i c a e s , f i c a i n d e l e v e l m e n t e g r a v a d a e m n o s s o e s p i r i t o , a convicção 
d e q u e a g r a n d i o s i d a d e i n c o m m e n s u r a v e l d a a r t e m u s i c a l , a t t i n g e o 
c a r a c t e r m y s t i c o d o s u b l i m e , e p o r i s s o , b e m p o d e s e r c o n s i d e r a d a , 
c o m o d i z i a o V i s c o n d e d e C a s t i l h o , u m a d a s múltiplas manifestações 
d a D i v i n d a d e . 
O u v i r a s improperias d e P a l e s t r i n a : o s grandes choraes d e S e b , 
B a c h : a 5 . a e a 9 . a d e B e e t h o v e n : a CreaçãQ, dt H a y d n : D. João, d e 
M o z a r t : Parsifal, d e W a g n e r : a m a r a v i l h o s a suite d e S t r a w i n s k i , 
( 1 ) E s t a satisfação i n t i m a , é e o m m u m , - não só ' e m m e i o s s o e i a e s s e m i - s e l v a g e n s c o m o 
c m indivíduos d u m a p e r v e r s i d a d e r e p u g n a n t e . A s s i m : o príncipe S o n z i n d r o M o h u n T a g o r e , 
d e Cálcut á , c i d a d e r e p l e t a d e b e l l e z a s n a t u r a e s m a s d e c o s t u m e s a t r a z a d i s s i m o s , é a r c r t i -
m i l l i o n a r i o , t e m m i l h a r e s d e s e r v o s , escreve m u s i c a e h i s t o r i a m u s i c a l , e a d o r a o s t i t u l o s 
académicos, q u e o s p o s s u e ás c e n t e n a s ( I n d i a - M a n t e g a z z a ) . T c h e r k e s s e , r e i d o s barbaritàs, 
n o I s l a m , q u e p e l a i n t r i g a e b r a v u r a c o n q u i s t o u o t h r o n o , e n c h e n d o d e s a n g u e a s u a pátria 
c o m a C r u e l d a d e d a t o r t u r a , f o i u m g r a n d e p r o t e c t o r * d a s a r t e s e d a s s c i e n c i a s . ( V i a g e n s a o 
O r i e n t e : E . Schuré) . 
( 2 ) Vocábulo d e r i v a d o d e a i s t h a n o m a i — s e n t i r ; p o r e m , a p a l a v r a e s t h e t i c a é e m p r e -
g a d a m a i s c o m m u m m e n t e p a r a d e s i g n a r a m a i s e l e v a d a manifestação d o b e l l o , e a i n d a é 
t o m a d a c o m o s v n o n i m a d e p h i l o s o p h i a d a a r t e . A l g u n s e s c r i p t o r e s , e n t r e e U e s A k z b e . 1 , 
e x p r i m e m a idéa d a p h i l o s o p h i a d a a r t e p e l a p a l a v r a a J t h e i k a , 
V I I 
e x t r a h i d a d o s e u b a i l a d o •*Pássaro d e F o g o " , o n d e se o b s e r v a a f o r -
m a p u r a m e n t e artística e u m a p o l y p h o n i a ( 1 ) admirável, e x u b e r a n -
t e m e n t e c r y s t a l l i n a , b r i l h a n t e , e s p e c i a l m e n t e n a berceuse q u e c o n s -
t i t u e a quarta parte, ( 2 ) é s e n t i r - s e t r a n s p o r t a d o a regiões p a r a d i -
síacas o n d e b b e l l o n o e s p l e n d o r d a s s u a s f o r m a s , n o s a c a r i c i a , n o s 
e n c a n t a , n o s e m p o l g a e, n a m a g i a d a s u b j e c t i v i d a d e d e s p e r t a s e n t i m e n -
t o s e i d e a s tão d e l i c a d a s , tão s u b l i m e s , tão s o b r e - n a t u r a e s c u j a a p r e -
ciação e j u l g a m e n t o vão a l e m d a Razão e d a Consciência. F i c a m o s 
então, d e l i c i o s a m e n t e a b a n d o n a d o s , c o m o d i z i a C l a u d e B e r n a r d , n a s 
sublimidades da ignorância; e, n a expressão d e Séneca, o p h i l o s o p h o , 
não s e r e m o s " creatitras despresiveis" p o r q u e n o s e l e v e m o s a c i m a d o 
m u n d o t e r r e s t r e ! 
P a r a q u e o m u s i c o p r o d u z a u m a o b r a d ' a r t e , é indispensável, 
a l e m d o s s e u s p r e d i c a d o s n a t u r a e s , q u e a s u a i n t e l l i g e n c i a d e s e n v o l -
v i d a n ' u m a c u l t u r a g e r a l , o não d e s a m p a r e , s e j a o s e u g u i a . A c u l t u r a 
g e r a l , i l l u s t r a n d o o m u s i c o , e v i t a - l h e f a l s a s interpretações t h e o r i c a s 
o u t e c h n i c a s , f a c i l i t a - l h e a comprehensão d a s o b r a s p r i m a s , d e s e n -
v o l v e - l h e o b o m - s e n s o e p r o p o r c i o n a - l h e b o a orientação e m t o d a s a s 
s u a s manifestações artísticas. Não i m a g i n e p o r e m , o l e i t o r , q u e p a r a 
o m u s i c o é d e u t i l i d a d e primordial o c o n h e c i m e n t o d a H i s t o r i a , d a 
G e o g r a p h i a , d a A r c h e o l o g i a , d a L i t t e r a t u r a , e t c . P a r a o m u s i c o , a 
M u s i c a ; d e p o i s , c o m o c o m p l e m e n t o , a m a i o r c u l t u r a q u e l h e s e j a p o s -
sível o b t e r , p a r a l h e d e s e n v o l v e r a i n t e l l i g e n c i a , se a t i v e r . E o e s t u d o 
d a m u s i c a a u x i l i a d o p e l a c u l t u r a g e r a l , fará o m u s i c o ? . . . Não. O 
f a c t o d e n e m t o d o s n a s c e r e m p a r a a m u s i c a , o f f e r e c e c a s o s d i g n o s 
d e observação. A s s i m , q u a n d o o e s t u d a n t e se s e n t e a b a n d o n a d o p e l o 
( 1 ) P o l y p h o n i a , n a concepção m o d e r n a , é a combinação harmónica d e vários d e s e n h o s 
melódicos e x e c u t a d o s s i m u l t a n e a m e n t e . O s g r e g o s , p o r e m , e m p r e g a v a m a p a l a v r a p o l y p h o n i a , 
p a r a d e s i g n a r a m u l t i p l i c i d a d e , a v a r i e d a d e d e n o t a s e m p r e g a d a s n ' u m c a n t o . 
( 2 ) A s p r i m e i r a s composições d e S t r a w i n s k i , f o r a m e s c r i p t a s , n a t u r a l m e n t e n u m 
período d e obcecação p e l a n o v i d a d e ; porém a s u i t e a q u e m e r e f i r o , é a ' revelação d a e s p o n -
t a n e i d a d e invejável d o s e n t i m e n t o artístico d o g r a n d e c o m p o s i t o r r u s s o , c o m q u a n t o o s s e u s 
p r i m i t i v o s a d m i r a d o r e s p r o p a l e m q u e e s s a composição, s e n d o P A S S A D I S T A , o b r i g o u S t r a w i n s k i 
a c o n f e s s a r - s e , não s e i s e p u b l i c a o u r e s e r v a d a m e n t e , a r r e n p e n d i d o d e a t e r e s c r i p t o ! . . . P o i s 
s e o s f u t u r o s t r a b a l h o s m u s i c a e s d o c o m p o s i t o r s e g u i r e m a m e s m a orientação artística d a 
s u a s u i t e , p o d e f i c a r c e r t o q u e e l l a s acharão g u a r i d a i n c o n d i c i o n a l n o s e n t i m e n t o u n a n i m e 
d o s músicos e a m a d o r e s q u e s a b e m d i s t i n g u i r o j o i o d o t r i g o . ( V e r o 1 . " R e s u m o Histórico 
d o 2 . ° l i v r o ) , 
V I I I 
e s p i r i t o m u s i c a l , d e d i c a - s e , q u a s i s e m p r e , á l i t t e r a t u r a , a r m a z e -
n a n d o n a s u a m e m o r i a m u i t a s p a g i n a s d a s o b r a s q u e l e u ; d e p o i s , 
c o m e s s a encardenação l i t t e r a r i a , a n i m a - s e a i m p o r p e l a s u a lógica 
a p p a r e n t e o u p e l o d e s l u m b r a m e n t o d a s u a l i n g u a g e m , não só e r r o s 
c r a s s o s p o r v e r d a d e s intangíveis, c o m o a substituição d o b o m - s e n s o 
p e l a s s u a s opiniões d e s o r d e n a d a s . 
R e s u l t a d o lógico: n e m m u s i c o , n e m l i t t e r a t o . 
C o m b a r i e u , d o u t o r e m l e t t r a s e m u s i c i s t a d o s m a i s p a r a d o x a e s 
d e s t e s últimos t e m p o s , possuía o e n c a n t o d ' u m a l i n g u a g e m b r i l h a n t e 
e o d o m d a persuasão; p o r i s s o , a l e i t u r a d o s s e u s b o n s l i v r o s s e t o r n o u 
- s e m p r e agradabilíssima. C o m o c r i t i c o , p e r s e g u i u d e s a p i e d a d a m e n -
t e , e n t r e o u t r os , M a t h i s L u s s y e Fétis, a p o n t a n d o g r a v e s e r r o s n a s 
o b r a s d e s s e s d o i s m u s i c o l o g o s , a u r e o l a d o s p e l o s a p p l a u s o s d e L i s z t , 
A m b r o i s e T h o m a z , e d e t o d o s q u a n t o s l e r a m e s s e s t r a b a l h o s , q u e , 
não e s t a n d o c o m p l e t a m e n t e i s e n t o s d e f a l t a s , têm e n t r e t a n t o b o n s e 
e l o q u e n t e s e n s i n a m e n t o s . A " H i s t o r i a d a M u s i c a " d e Fétis, n a o p i -
nião d e C o m b a r i e u , e d e t o d o s q u e f o r a m a r r a s t a d o s p e l a s u a o r i e n -
tação, está eriçada d e e r r o s p h a n t a s t i c o s ; m a s o c r i t i c o não s e l e m -
b r o u q u e o m u s i c o l o g o b e l g a f o i c o l h i d o p e l a m o r t e q u a n d o e s c r e v i a 
o q u a r t o v o l u m e q u e t e r m i n a n o 14.° sec . c o m a s innovações d e D u f a y . 
S e Fétis não t e v e t e m p o p a r a t e r m i n a r o s e u t r a b a l h o , c o m o p o d e r i a 
t e r - l h e f e i t o a revisão e e x p u r g a l - o d o s e r r o s q u e e l l e próprio c o r r i g i -
v i a ? F o i c r i t i c a d e a c i n t e , e b a t e u i n e x o r a v e l m e n t e n u m m o r t o i l l u s -
t r e s e m p i e d a d e d e s i próprio. E n t r e t a n t o , C o m b a r i e u d e s c o b r i u a o r i -
g e m d a m u s i c a n o M A G I S M O : f e z DISTINCÇÃO d a s o b r e - t o n i c a 
e d a s o b - m e d i a n t e : e n a " B u r l e s c a " d a s e g u n d a partita d e S e b . B a c h . 
a p o n t o u , c o m a s s o m b r o . S E T E O I T A V A S S E G U I D A S , n u m a c o n -
juneção m o n o d i c a , o n d e t a e s o i t a v a s MELÓDICAS reforçam a m e -
l o d i a , não m e r e c e n d o p o r t a n t o a s h o n r a s d e u m a citação ( 1 ) . 
T h e o d o r o R e i n a c h , m e m b r o d o I n s t i t u t o d e França, e p r o v a v e l -
m e n t e a d e p t o d a p h i l o s o p h i a d e P r o t h a g o r a s e a n t a g o n i s t a d a s t h e o -
r i a s d e E i n s t e i n , d i z n o p r e f a c i o d o s e u l i v r o " M u s i c a g r e g a " " P o d e 
p a r e c e r e s t r a n h o q u e u m a u t o r q u e p a s s o u m a i s d e q u a r e n t a a n n o s d a 
( 1 ) V e r o s e g u n d o v o l u m e d a " H i s t o r i a d a M u s i c a " d e J . C o m b a r i e u , e e x a m i n a r a 
r e f e r i d a p a s s a g e m n o 2,° c a p i t u l o d o Segundo l i v r o d e s t a o b r * . 
I X 
s u a v i d a a e s t u d a r a métrica e a m u s i c a g r e g a , o u s e c o n f e s s a r q u e não 
s a b e a o c e r t o o q u e é u m m o d o g r e g o , c o m excepção d o D o r i s t i , e q u e 
não s a b e s c a n d i r , o q u e se c h a m a s c a n d i r , u m a o d e d e P i n d a r o o u d e 
Bacchylíde. M a s e m t a l c a s o , v a l e m a i s c o n f e s s a r a s u a ignorância, 
q u e m a s c a r a l - a c o m b o n i t a s p h r a s e s o u c o n j e c t u r a s o u s a d a s . C e d o o u 
t a r d e s o b o esforço d a c r i t i c a , o edifício frágil c a e , e o e s t u d a n t e d e s -
g o s t o s o a b a n d o n a a s investigações q u e j u l g a d e s d e então v o t a d a s á 
e s t e r i l i d a d e . U m d o s m a i o r e s i n c o n v e n i e n t e s d o d o g m a t i s m o i n t e m -
p e s t i v o , é d e s p e r t a r o s c e p t i c i s m o ; p r e f i r o m o s t r a r q u e h a a i n d a p o r -
t a s f e c h a d a s , e s p e r a n d o q u e o u t r o s m a i s hábeis o u m a i s f e l i z e s s a i -
b a m u m d i a a b r i l - a s " . 
E s t a confissão, d e p a s s a r m a i s d e q u a r e n t a a n n o s a e s t u d a r a 
m u s i c a g r e g a e t e r a d i a n t a d o p o u c o , o q u e não p r o v a q u e u m o u t r o e s -
t u d a n d o m e n o s t e m p o não p o s s a a d i a n t a r - s e m a i s , é p a r a d i z e r s e m 
c o n s t r a n g i m e n t o q u e t o d o s o s q u e e s c r e v e r a m s o b r e a m u s i c a g r e g a , 
não f i z e r a m m a i s q u e mascarar a sua ignorância com bonitas phrases 
ou conjecturas ousadas. C o m o se vê, socraticamcnte f a z p e n i t e n c i a 
v a i d o s a e o s t e n s i v a , p a r a d e p o i s f u s t i g a r m e s m o a q u e l l e s q u e e s c r e v e -
r a m o q u e e m g r a n d e p a r t e s e e n c o n t r a n a s u a " M u s i c a g r e g a " . O r a , 
se a incontestável c u l t u r a d e T h . R e i n a c h f o r m a s s e u m b l o c o , e e s t e 
b l o c o p o d e s s e g i r a r á v o l t a d e u m e i x o , c h a m a d o bom=scnso, p o r c e r t o 
q u e a s u a i n t e l l i g e n c i a s e o p p o r i a á exposição tão a n t i - c r i t e r i o s a d e 
u m a presumpção tão i n c e r t a , c o m o v a i d o s a e a b s u r d a . São e s s e s mú-
s i c o s l e t t r a d o s , e não o s i g n o r a n t e s , q u e , e s t r i b a n d o - s e n a s u a c u l t u r a , 
m a s c a r a m a s s u a s falhas c o m bonitas phrases e conjecturas ousadas. 
H a o u t r o s m u s i c i s t a s , a q u e B e r l i o z já se r e f e r i a , q u e se c o m p r a z e m 
e m o u v i r dissonâncias s o b r e dissonâncias, e x t a s i a m - s e d e a n t e d e u m 
complicadíssimo l a b y r i n t h o polyphoníco, s e n t e m - s e t r a n s p o r t a d o s a o 
m u n d o d o Infinito quando o u v e m u m a p h r a s e m u s i c a l c o n c e b i d a p r o -
c a t a l e c t i c a e c a t a l e c t i c a m e n t e , d e i x a n d o e m f i m t r a n s p a r e c e r p e l a s u a 
a u t o l a t r i a , u m a e x c e s s i v a indifferença p e l o s q u e , f e l i z m e n t e , s e n t e m 
d e m o d o d i f f e r e n t e . 
G r a n d e s e notáveis m e s t r e s , f o r a m h u m i l h a d o s . H a e n d e l l , p e r s o -
n a g e m n o t a b i l i s s i m o n o s c e n a n o m u s i c a l d o 1 7 s e c , d i s s e q u e o c o m -
p o s i t o r Gluçk, p o u c o m a i s s a b i a q u e o s e u c o s i n h e i r o ( 1 ) : S p p i t a , 
p r o c u r o u c o n v e n c e r o s s e u s l e i t o r e s , q u e S e b . B a c h , o m a i o r s c i e n t i s t a 
m u s i c a l d o s t e m p o s a n t i g o s e m o d e r n o s , não e r a m a i s q u e u m i n f e l i z 
a m a d o r d e m u s i c a ( 2 ) : R e i n a c h e l o g i a n d o c a l o r o s a m e n t e a " H i s t o r i a 
d a M u s i c a A n t i g a " d o notável h i s t o r i a d o r G e v a e r t , t e r m i n a d i z e n d o 
q u e o s e r r o s q u e se e n c o n t r a m n a r e f e r i d a o b r a , são, em parte, d e v i -
d o s ás transcripçoes f e i t a s a W e s t p h a l , e t c , e t c . ( 3 ) . 
P a r a t e r m i n a r a s r e f e r e n c i a s a e s t e s m e n t o r e s q u e s e n o t a b i l i s a m 
p e l o s e u dogmatismo intempestivo, d e s p e r t a n d o a s s i m o s c e p t i c i s m o e 
e s t a b e l e c e n d o p o r t a n t o a d u v i d a n o s q u e se s e n t e m a t t r a h i d o s p e l o e s -
t u d o d a m u s i c a , d e v o d i z e r q u e a H i s t o r i a d a M u s i c a , é, c o m o t o d a s 
a s H i s t o r i a s , b a s e a d a e m d o c u m e n t o s , p o s t o q u e a l g u m a s v e z e s c o n -
testáveis : e m r e f e r e n c i a s d e a u t o r e s a n t i g o s e d e notáveis h i s t o r i a d o -
r e s m o d e r n o s ; e m l e g e n d a s , a l g u m a s v e z e s , c o m o d i z i a Aristóteles, 
m a i s p h i l o s o p h i c a s q u e a própria H i s t o r i a , p o i s n o s f a z e m c o n h e c e r 
s e n t i m e n t o s p r o f u n d o s e duráveis q u e d o m i n a m o s f a c t o s e c o n t r i b u e m 
p a r a o s d e s e n v o l v e r p o r m e i o d e p o n d e r a d a s deducçoes. O r a t o d o s e s -
t e s m a t e r i a e s s c i e n t i f i c o s e sociológicos, e s t e j a c e r t o o l e i t o r , não s e -
rão v o t a d o s á e s t e r i l i d a d e ; e o esforço e a perseverança d o e s t u d io s o 
terão a r e c o m p e n s a inefável d o saber. V i r g i l i o , o g r a n d e p o e t a l a t i n o , 
d i s s e : " t u d o cança, e x c e p t o c o m p r e h e n d e r " , p o i s b e m ; e s t u d e m , q u e 
terão s e m p r e q u e e s t u d a r . Sócrates, o m e s t r e d e Platão, d i z i a : " t u d o 
o q u e s e i , é q u e não s e i n a d a " . B e e t h o v e n , o m a i o r génio m u s i c a l d e 
1 9 s e c , q u a n d o s e n t i u q u e e s t a v a n o s últimos m o m e n t o s d a s u a v i d a , 
b a l b u c i o u : " q u e p e n a ! . . . a g o r a q u e e u p r i n c i p i a v a a c o m p r e h e n d e r u m 
p o u c o a m i n h a d i v i n a a r t e , é q u e v o u m o r r e r ! " 
E n t r e t a n t o , N e r o , o m a i s d e s p r e s i v e l d o s I m p e r a d o r e s R o m a n o s , 
( 4 ) e m q u a n t o e s p e r a v a c o r a g e m p a r a se s u i c i d a r , p o r determinação 
d o areópago q u e o j u l g o u , e x c l a m a v a n e r v o s a m e n t e : " q u e g r a n d e a r -
t i s t a o m u n d o v a e p e r d e r " ! . . . 
( 1 ) H i s t . d a M u s i c a d e C o m b a r i e u . 
( 2 ) H i s t . d a notação m u s i c a l — E r n . D a v i d e t M a t h i s L u s s y . 
( 3 ) M u s i q u e G r e c q u e d e R e i n a c h . 
( 4 ) R a c i n e , d i s s e q u e a m a i o r i n j u r i a q u e s e p o d i a f a z e r a u m b a n d i d o , e r a c h a m a r - l h e 
N e r o . 1 
X I 
>fc 5{C * 
A p r e s e n t e o b r a , não é u m a ar tinha q u e e n s i n e a c o n h e c e r a s n o -
t a s e o s s e u s v a l o r e s n a s u a p h a s e m a i s s i m p l e s ; é u m Curso elementar 
de musica q u e se d e s e n v o l v e d e s d e o s princípios m a i s r u d i m e n t a r e s 
até ás d i v e r s a s h u m a n i d a d e s q u e f o r m a m a s artérias d o todo m u s i c a l . 
P o r t a n t o , o l e i t o r não d e v e a s s u s t a r - s e a o v e r d o i s v o l u m e s d e d u -
z e n t a s e t a n t a s p a g i n a s c a d a u m , s o m e n t e p a r a o p r e p a r a r v a n t a j o s a -
m e n t e a c o m p r e h e n d e r , c o m c e r t a f a c i l i d a d e , o s g r a n d e s e s t u d o s m u -
s i c a e s q u e l h e franquearão o pórtico l u m i n o s o d e s t a g r a n d e A r t e . 
A t h e o r i a e x p o s t a n o p r i m e i r o l i v r o , r e f e r e - s e p r o p r i a m e n t e a o s 
rudimentos. A l g u m a s definições q u e a h i se e n c o n t r a m , são n o v a s e 
o u t r a s f o r a m t r a n s c r i p t a s d e d i v e r s o s a u t o r e s antiquíssimos e m o d e r -
n o s , p a r a a s s i m d e t e r m i n a r c o m m a i s p r o p r i e d a d e o q u e s e r e a l i s a n a 
p r a t i c a . E ' provável q u e a s m i n h a s t h e o r i a s , r e s u l t a n t e s d a lógica e 
d e l o n g a s meditações, não s e j a m g e r a l m e n t e a c c e i t e s , p o i s é s a b i d o 
q u e a momentânea e irreflectida censura, c o n s t i t u e a aristocrática r e -
cepção a t u d o q u e o u s a d e m o v e r - n o s d o s hábitos a d q u i r i d o s . C o m p r e -
henée-se. . . 
N o s e g u n d o v o l u m e , a p r e s e n t o u m a série d e e s t u d o s e l e m e n t a -
r e s s o b r e h a r m o n i a , ornamentação, r y t h m o , expressão e e s t h e t i c a , 
cantochão e acústica m u s i c a l . 
A p a r t e e s p e c u l a t i v a , é d i v i d i d a e m c a p i t u l o s a c a d a u m d o s 
q u a e s s e g u e u m Resumo histórico; e c a d a Resumo histórico t e m p o r 
f i m d a r - n o s a c o n h e c e r a formação o r i g i n a r i a d a s t h e o r i a s e d a s n o -
tações, a p r e s e n t a d a s e d e s e n v o l v i d a s n o c a p i t u l o q u e o p r e c e d e . A s -
s i m , p o i s , n a p a r t e histórica r e l a t o o q u e d e m a i s p e r t o se r e l a c i o n a 
c o m o e s p i r i t o d a o b r a . 
* * * 
C o m e s t a orientação, o r g a n i s e i o m e u C u r s o E l e m e n t a r d e M u -
s i c a , a u x i l i a d o p e l o s e n s i n a m e n t o s d o s g r a n d e s m e s t r e s e p e l a s o b -
servações p e s s o a e s d u r a n t e a m i n h a l o n g a p r a t i c a n o p r o f e s s o r a d o 
m u s i c a l . R e s u m i n d o a u m l i m i t a d o n u m e r o , não só a s citações q u e j u s -
t i f i q u e m o q u e e s c r e v i c o m o a s n o t a s e x p l i c a t i v a s , f i c a a s s i m a l h e i o 
a ostentações e r u d i c t a s , o q u e n e m p o r s o m b r a a s p i r a , e m a i s próximo 
d a s i m p l i c i d a d e q u e d e s e j a a t t i n g i r . 
X I I 
A c r e d i t a n d o q u e o m e u t r a b a l h o s e j a d e u t i l i d a d e a o s q u e s e d e -
d i c a m a o e s t u d o d e s t a a r t e , v i s t o p r o p o r c i o n a r - l h e s u m a c e r t a c u l t u -
r a e c o l l o c a l - o s e m condições fáceis d e p r o s e g u i r e m n o s s e u s e s t u d o s 
s u p e r i o r e s , não d e i x o a o p p o r t u n i d a d e d e r e c o m m e n d a r a l e i t u r a d o s 
b o n s e s c r i p t o r e s m u s i c a e s e a audição d a s o b r a s p r i m a s d o s m a i s n o -
táveis c o m p o s i t o r e s , p a r a d e s t e m o d o c o m p l e t a r e m a c u l t u r a o s q u e 
a m b i c i o n a m a p o s s i v e l clarividência n a a r t e m a i s s u b t i l d a i d e a l i s a -
ção h u m a n a . A s o b r a s raríssimas d e c r i t i c a h o n e s t a , têm u m f u n d o 
d e g r a n d e u t i l i d a d e ; ( 1 ) são inúteis porém, q u a n d o o a u t o r m o d i f i c a 
a v e r d a d e a o v i s i o n a l - a através d o s s e u s p r e c o n c e i t o s críticos, s e n d o 
p a r a n o t a r q u e t a n t o m a i s d e s v i a d a é e s s a modificação, q u a n t o m a i o r 
f o r o s e u esforço d e e n c o n t r a r interpretações n o v a s , abalançando-se 
a s y n t h e s e s c o n c l u d e n t e s . M e s m o f o r a d a systematisação e x t r e m a e 
h a b i t u a l , e s t e d e s v i o é inevitável, b a s t a n d o p a r a i s s o a s i m p l e s l e i t u -
r a p r e c o n c e b i d a d e u m a o b r a , p a r a i m m e d i a t a m e n t e e n t r a r a p a r t e 
s u b j e c t i v a d o c r i t i c o —- o s e u s e n t i d o p e s s o a l — q u e t u d o t r a n s f o r -
m a , d a n d o á c r i t i c a o a s p e c t o d e r e c l a m e . F e l i z m e n t e e s s a s c r i t i c a s 
são o f f u s c a d a s p e l a s o b r a s q u e , d e m o d o g e r a l , c o l l a b o r a m n o a p e r -
feiçoamento d a a r t e m u s i c a l , p e l a observação p a c i e n t e e h o n e s t a d a s 
g r a n d e s m e n t a l i d a d e s artísticas. 
São P a u l o , 1 9 2 8 . 
A X T O N I O C A N D I D O 
( 1 ) O t e m p o , q u e r e c o l h e e f e c u n d a o s m e n o r e s g e r m e n s d a v e r d a d e q u e a p p a r e c e n a s 
m a i s h u m i l d e s a n a l y s e s , d e s t r o e s e m p i e d a d e a s h y p o t h e s e s , m e s m o q u e s e j a m d e u m génio. 
V. Comin 
C U R S O E L E M E N T A R D E M U S I C A 
I N T R O D U C Ç Â O 
Musica, é o r e s u l t a d o d e u m a combinação d e s o n s s u c c e s s i v o s e simultâ-
n e o s , d e m a i o r o u m e n o r duração e x p r i m i n d o , a i n d a q u e d e u m m o d o v a g o , 
t o d o s o s n o s s o s s e n t i m e n t o s . 
D i f f e r e n t e s s o n s d a d o s s u c c e s s i v a m e n t e , f o r m a m a melodia, i s t o é, o c a n t o ; 
a u m a reunião d e vários s o n s e x e c u t a d o s a o m e s m o t e m p o e e m d e t e r m i n a d a s 
condições, dá-se o n o m e d e accorde o u harmonia. A s s i m , q u a n d o i c a n t a u m a p e s -
s o a , o u v i m o s m e l o d i a s o m e n t e ; porém, s e d u a s o u m a i s p e s s o a s c a n t a r e m a o 
m e s m o t e m p o s o n s d i f f e r e n t e s , o u v i m o s h a r m o n i a e m e l o d i a ( n o t a A ) . 
A m u si c a , compõe-se d e três e l e m e n t o s e s s e n c i a e s : som, rythmo e movi-
mento. 
Som m u s i c a l é o q u e t o d a a g e n t e , q u e não s e j a s u r d a , o u v e q u a n d o c a n t a 
u m h o m e m o u u m a m u l h e r , q u a n d o s e p a s s a u m a r c o s o b r e a s c o r d a s d ' u m 
v i o l i n o o u se t r i l h a m a s c o r d a s d e u m a h a r p a , e t c . e t c . 
N o som, d i s t i n g u e m - s e s o b o p o n t o d e v i s t a m u s i c a l q u a t r o q u a l i d a d e s : tim-
bre, intensidade, altura o u entoação e duração. 
Q u a n d o o u v i m o s f a l a r u m a p e s s o a a m i g a , s e m a v e r m o s , é p e l o m e t a l d a 
s u a v o z q u e a c o n h e c e m o s ; n o s s o o u v i d o d i s t i n g u e o s o m d ' u m p i a n o , d J u m a 
f l a u t a , e t c . e t c . A e s s a difíerença p a r t i c u l a r q u e d i s t i n g u e o s s o n s d a s v o z e s d o s 
i n s t r u m e n t o s , é q u e se dá o n o m e d e timbre. (*) 
Intensidade é a força m a i o r o u m e n o r d o s o m , i s t o é, é a differença q u e 
e x i s t e d e s d e a v o z m u i t o f r a c a d ' u m i n d i v i d u o até á v o z f o r t e d e u m o u t r o . 
Altura o u entoação, c o n h e c e - s e f a c i l m e n t e c o m p a r a n d o a v o z d ' u m h o m e m 
á d e u m a creança; a s s i m a v o z g r o s s a d e u m h o m e m 1 p r o d u z s o n s g r a v e s o u 
(1) Dá-se também o nome de timbre á melodia 
não tenha relação quer na letra quer' no sentimento, 
na "Esthetica", a palavra timbre para determinar a 
duzem o bel lo numa obra d'arte. 
duma canção adaptada a outras canções, embora 
V . de d'Indy " Compositáon". Guyau emprega, 
sensação das combinações estheticas que pro-
b a i x o s e a v o z f i n a d u m a creança p r o d u z s o n s a g u d o s o u a l t o s . A ' differeruça 
e n t r e o s s o n s m a i s o u m e n o s g r a v e s e m a i s o u m e n o s a g u d o s , é q u e s e dá o 
n o m e d e entoação ( a l t u r a ) . 
Duração, é o m a i o r o u m e n o r t e m p o d i s p e n d i d o n a producção d o s s o n s . 
Rythmo, é a s y m e t r i a m a i s o u m e n o s e x a c t a q u e p r e s i d e á distribuição d a s 
múltiplas (durações d a d a s a o s s o n s . E ' a i n d a o e l e m e n t o c r e a d o r , espontâneo, 
não só d a s d i v e r s a s f o r m u l a s m u s i c a e s q u e , d i s p o s t a s s u c c e s s i v a m e n t e p r o d u -
z e m a m e l o d i a , c o m o d e t o d o s o s d e s e n h o s melódicos q u e , m e s m o i s o l a d o s , d e s -
p e r t e m u m a i d e i a . 
Mommento, q u e n a t e c h n o l o g i a m u s i c a l é e x p r e s s o p e l o vocábulo andamento, 
é o m o d o m a i s o u m e n o s a p r e s s a d o o u v a g a r o s o d e t o c a r u m a peça m u s i c a l . ( 2 ) 
N o t a A : Melodia, é u m a successão d e f o r m u l a s r y t h m i c a s m a i s o u m e n o s 
s y m e t r i c a s , s u b o r d i n a d a s á p r o p o r c i o n a l i d a d e d u p l a o u t r i p l i c e d a s durações, e 
o b t i d a p e l a progressão r a c i o n a l e e s t h e t i c a m e n t e s a t i s f a c t o r i a d ' u m a v o z c a n -
t a n d o s o n s d e a l t u r a d i f f e r e n t e . 
Harmonia, é a applicação d a s l e i s q u e r e g e m o e n c a d e a m e n t o lógico e t e c h -
n i c a m e n t e c o r r e c t o d o s a c c o r d e s . 
A musica, q u e t e m p o r b a s e a s c i e n c i a acústica, é u m a a r t e q u e p r o c u r a p e l a s 
múltiplas combinações d o s s o n s s u c c e s s i v o s e simultâneos, e a i n d a p e l a v a r i e d a d e 
r y t h m i c a , p r o d u z i r o b r a s q u e p o s s u a m o s e l e m e n t o s necessários a d e s p e r t a r e m o -
ção e m t o d o s o s espíritos; é p o r t a n t o u m a a r t e e s s e n c i a l m e n t e d e p s y c h o l o g i a 
s u b j e c t i v a . 
(2) O movimento, é inherente ao rythmo, pois não ha rythmo aue não esteja sujeito ao mo-
vimento; e, quem diz rytihmo, diz movimento. Entretanto, o rythmo é o espirito musical, e o 
movimento é a razão da sua existência. Assim, os elementos essenciaes que formam a musica, são 
eternos por que existirão sempre em todos os systemas que a evolução possa crear. 
L I V R O P R I M E I R O 
C A P I T U L O P R I M E I R O 
Notas — escala — graus canjunctos e disjunctos — definição de intervallo 
— unisono — diapazão — tessitura 
A p a l a v r a nota, r e p r e s e n t a u m s o m q u a l q u e r . 
O n u m e r o d e s o n s q u e s e e m p r e g a n a m u s i c a é considerável; porém, c o m o 
e l l e s s e r e p r o d u z e m p e r i o d i c a m e n t e n a m e s m a o r d e m p a r a o g r a v e e p a r a o 
a g u d o p o r séries d e s e t e , b a s t a m a p e n a s sete nomes p a r a o s d i s t i n g u i r . 
E s s e s n o m e s q u e d e s i g n a m a s n o t a s d e c a d a série, são o s s e g u i n t e s : 
D O — R E — M I — F A — S O L — L A — S I 
J u n t a n d o a e s t a série u m a o i t a v a n o t a , q u e é a reproducção d a p r i m e i r a , 
o b t e m - . s e u m a successão melódica a q u e s e dá o n o m e d e escala; e s t a d e n o m i n a -
ção i n d i c a não só a disposição m a i s o u m e n o s s y m e t r i e a d a s n o t a s , c o m o a s u a 
entoação p r o g r e s s i v a d e s d e o g r a v e a o a g u d o . ( 3 ) 
A e s c a l a m u s i c a l é d i v i d i d a e m o i t o p a r t e s r e c e b e n d o c a d a u m a d e s s a s p a r -
t e s a denominação d e grau. A ' successão o r d i n a l d e s s e s g r a u s c o r r e s p o n d e a s u c -
cessão o r d i n a l d a s n o t a s ; l o g o , a n o t a do, i s t o é, a p r i m e i r a , c o r r e s p o n d e a o p r i -
m e i r o g r a u : a n o t a re, a o s e g u n d o : a n o t a ml, a o t e r c e i r o e a s s i m s u c c e s s i v a m e n t e 
até á o i t a v a , q u e occupará o o i t a v o g r a u . C a s o porém a e s t a série d e o i t o n o t a s 
q u e a c a b a m o s d e a p r e s e n t a r s u c c e d a u m a o u t r a , a n o t a q u e n a p r i m e i r a série 
o c c u p a o o i t a v o g r a u passará a s e r c o n s l i d e r a d a c o m o p r i m e i r a d a s e g u n d a série 
(3) A escala é um systema que se deduz da analyse duma composição; é portanto uma obra 
de elaboração. 
— 6 — 
e b e m a s s i m occupará i g u a l m e n t e o p r i m e i r o g r a u d e s s a n o v a successão. C o n -
c l u e - s e p o r t a n t o q u e o s g r a u s d e t e r m i n a m a divisão d a e s c a l a e a o m e s m o t e m p o 
o l u g a r o c c u p a d o p e l a s n o t a s . 
C s graus d i v i d e m - s e e m conjunctos e disjunctos; são conjunctos q u a n d o a s 
n o t a s s e s u c c e d e m d e u m g r a u a o u t r o i m m e d i a t a m e n t e s u p e r i o r o u i n f e r i o r , e 
disjunctos q u a n d o a s u a successão f o r d e u m g r a u a o u t r o não i m m e d i a t o . 
C h a m a - s e intervallo a differença d e entoação e n t r e d u a s n o t a s ; ( 4 ) e s e -
g u n d o o n u m e r o d e g r a u s c o n j u n c t o s a b r a n g i d o s p o r e s s a s d u a s n o t a s , é q u e o s 
i n t e r v a l l o s r e c e b e m a denominação d e segunda, terceira, quarta, quinta, sexta, se-
twna e oitava. 
A s n o t a s c o r r e s p o n d e n t e s e m s o m e e m n o m e , f o r m a m s e m p r e o i n t e r v a l l o 
d e oitava. 
C h a m a - s e unisono a d o i s s o n s q u e t e n h a m a m e s m a entoação. 
C h a m a - s e diapazão o u tessitura a u m a série p a r t i c u l a r d e s o n s q u e c o n s t i -
t u e m a extensão d ' u m a v o z o u d e u m i n s t r u m e n t o . 
Diapazão, é também u m p e q u e n o i n s t r u m e n t o e m f o r m a d e g a r f o , q u e p r o -
d u z u m s o m d e t e r m i n a d o o q u a l é c o n s i d e r a d o c o m o n o t a r e g u l a d o r a p a r aa a f i -
nação d o s i n s t r u m e n t o s . ( 5 ) 
R E S U M O H I S T Ó R I C O 
M u i t o s h i s t o r i a d o r e s a n t i g o s , e n t r e e l l e s Demócrito — 5 2 0 a 4 6 0 a n t . d e 
C h r i s t o —, a t t r i b u i r a m a o r i g e m d a m u s i c a , á imitação d o c a n t o d o c y s n e e d o 
r o u x i i n o l , a o murmúrio d a s a g u a s , a o s i b i l a r d o s c a n n a v i a e s , e t c , e t c . E s t a i d e i a 
f o i a d m i t t i d a p e l o s h i s t o r i a d o r e s m o d e r n o s e C o o k e S t a f f o r d — 1 8 3 0 —, d i z 
n a s u a " H i s t o r i a d e M u s i c a " , r e p r o d u z i n d o a opinião d e D e o d o r o d e S i c i l i a e 
d e Lucrécio, q u e v i v e r a m n o p r i m e i r o século a n t e s d e C h r i s t o , q u e a invenção 
d o s i n s t r u m e n t o s d e v i a também a s u a o r i g e m á observação d e e f f e i t o s p r o d u z i -
d o s p o r c a u s a s n a t u r a e s . 
O s p o e t a s - p h i l o s o p h o s d a a n t i g a H e l l a d e , m a i s próximos d a s o r i g e n s d a 
m u s i c a q u e Lucrécio e D e o d o r o , a t t r i b u i r a m ás s u a s d i v i n d a d e s a invenção d a 
m u s i c a . 
O r a , suppôr q u e a m u s i c a t e v e a s u a o r i g e m n a imitação, é a d m i t t i r u m 
a d i a n t a d o d e s e n v o l v i m e n t o i n t e l l e c t u a l q u e não e x i s t i a n o s p o v o s p r i m i t i v o s ; 
a c r e d i t a r n a disposição m u s i c a l d o s d e u s e s d a M y t h o l o g i a , é p u e r i l , não o b s t a n t e 
(4) Definição de Boécio, citada na "Historia da Musica" de Riemann. 
(5) Para este ef feito ha um outro instrumento, pequeno, que tem a forma de um tubo cylindrico 
e como o d&apazão dá a nota la : chama-se alamiré. H a ainda um outro •com a mesma fornia d-o 
alamiré dando porem as notas da escala: chama-se chorista. 
s a b e r - s e q u e a l g u n s c T e l l e s f o r a m b e m f e i t o r e s o u h e r o e s q u e e x e r c e r a m s o b r e o 
e s p i r i t o p o p u l a r u m a acção p r o v i d e n c i a l m a i s o u m e n o s p e r f e i t a . 
A o r i g e m d a m u s i c a , está n a s inflexões e l e m e n t a r e s o u p r i m i t i v a s d a l i n -
g u a g e m . ( 6 ) 
A m u s i c a e a l i n g u a g e m n a s c e r a m s i m u l t a n e a m e n t e . 
A l i n g u a g e m , t e v e p o r o r i g e m a n e c e s s i d a d e d a transmissão d o p e n s a m e n t o ; 
e a m u s i c a , a manifestação d y n a m i c a d o s e n t i m e n t o d e s e n v o i v e n d o - s e d a própria 
l i n g u a g e m p e l a s inflexões d a v o z , r e s u l t a n t e s d a s v a r i a s emoções. * 
C a d a inflexão, t r a d u z p h y s i o l o g i c a m e n t e o p r a z e r e a d o r ; e e s t e s e s t a d o s 
p s y c h o l o g i c o s f o r a m e têm s i d o o b s e r v a d o s n o s p o v o s d e t o d o s o s t e m p o s . 
A l i n g u a g e m f a l a d a , constituída d e u m a série c o n t i n u a d e entoações e a c c e n -
tuações, é já u m c a n t o ; além d o s i n t e r v a l l o s v e r d a d e i r a m e n t e m u s i c a e s q u e s e 
n o t a m n o d e c o r r e r d e u m a conversação, f o i o b s e r v a d a p o r D o n d e r s , H e l m o l t z e 
K o e n i g a entoação d a s v o g a e s , c a r a c t e r i z a d a p e l o s s e g u i n t e s s o n s : 
v o g a e s 
s o n s f i x o s característicos 
vibrações s i m p l e s e m números r e d o n d o s 
EÊEÉE 
u o a e 1 
SÍD2 SÍD3 SÍD4 SÍD5 SÍD6 
4 9 0 9 4 0 1 8 8 0 3 7 6 0 7 5 2 0 ( 7 ) 
E s t e s e l e m e n t o s n a t u r a e s e p r i m i t i v o s d a v o z , q u e c o n c o r r e r a m p a r a a m u -
s i c a l i d a d e e h a r m o n i a d a s línguas a n t i g a s , f o r a m l e n t a m e n t e e x a g g e r a d o s p r o -
d u z i n d o inflexões e s t r a n h a s á l i n g u a g e m . O e x a g g e r o n a t u r a l d a s inflexões 
n a s expansões d e a l e g r i a o u s o f f r i m e n t o , n o s t r a b a l h o s e o l l e c t i v o s , n a s o r a -
ções cabalísticas, e t c . e t c , p r o d u z i u u m a l i n g u a g e m c a n t a d a q u e p o r m u i t o s 
séculos f o i a d o p t a d a p e l o s g r a n d e s o r a d o r e s . 
V e i o então a m u s i c a p r o p r i a m e n t e d i t a , r e s u l t a d o d ' u m a elaboração l e n t a , 
p r o g r e s s i v a e m u l t i f o r m e d a l i n g u a g e m n a t u r a l , e q u i l i b r a n d o - s e a m e d o n o s 
s e u s p r i m e i r o s p a s s o s frágeis e i n d e c i s o s . 
P o r m u i t o t e m p o , o canto f o i constituído p e l a repetição c o n s t a n t e d a m e s -
m a n o t a e , d i z - n o s a " H i s t o r i a " q u e , o s c a n t o s a s s o c i a d o s á d a n s a m a i s s e p a -
r e c i a m c o m a l i n g u a g e m ordinária q u e c o m o c a n t o d o s p o v o s c i v i l i s a d o s . 
(6) Spencer, "Origem e funcção da musica". 
(7) Gavarret, affirma que o som destas vogaes se encontra, com pequenas variantes, em todas 
<*s línguas tanto antigas como modernas. 
S e g u n d o D e o d o r o d e S i c i l i a , f o i H e r m e s T r i m e g i s t o , o d e u s s o b e r a n o d a s 
revelações, o p r i m e i r o q u e e n c a d e o u t r e s s o n s , o s q u a e s c o r r e s p o n d i a m ás t r e s 
estações d o a n n o e g y p c i o : o s o m a g u d o c o r r e s p o n d i a a o e s t i o : o g r a v e , a o i n -
v e r n o : e o médio, á p r i m a v e r a . O s g r e g o s c o m p l e t a r a m u m a successão d e q u a -
tro n o t a s á q u a l d e r a m o n o m e d e tètracorde. T e r p a n d r o , — 8.° s e c . a n t . d e 
Chr. — f o r m o u a escala heptacordal — s e t e n o t a s , —, constituída d e d o i s tê-
tracordes conjunctos: — do re mi fa, — fa sol la si, — P y t h a g o r a s , — 5.° s e c . 
a n t . d e Çhr. — j u n t o u a e s s a e s c a l a u m a o i t a v a n o t a , c o n s t i t u i n d o a s s i m a escala 
octocordal d i v i d i d a e m d o i s tetracordes disjunctos: do re mi fa, sol la si do. 
A harmonia, n a s composições c h o r o d i a s o u v o c a e s , ( 8 ) c o n s i s t i a n o m a i o r 
ou m e n o r n u m e r o d e p e s s o a s q u e c a n t a v a m a m e s m a m e l o d i a e m u n i s o n o o u á 
o i t a v a ; n o p r i m e i r o c a s o , c h a m a v a m - l h e homophonia e n o s e g u n d o antiphonia. 
O rythmo, f o i a p r i n c i p a l preoccupação d o s a n t i g o s . N o s sacrifícios h u -
m a n o s , n a s c e r i m o n i a s fúnebres e r e l i g i o s a s o n d e a s s o c i a v a m a d a n s a á m u -
s i c a , e r a m o s a p p l a u s o s r y t h m a d o s a s s i m , c o m o a metrificação d a p o e s i a q u e 
d e t e r m i n a v a m a r e g u l a r i d a d e c a d e n c i a d a d o s s e u s c a n t o s . 
A palavra musica, s i g n i f i c a v a o c o n j u n c t o d e t o d a s a s s c i e n c i a s q u e f o r -
m a m e e d u c a m o e s p i r i t o . 
A s notas f o r a m g e r a l m e n t e i n d i c a d a s p e l o s n o m e s d a s l e t t r a s e e m a l g u n s 
p a i z e s d e n o m i n a r a m - n a s p e l o s a l g a r i s m o i s ; porém, d e s d e o s e x t o século a b a n d o -
n a r a m - s e e s s a s indicações a l p h a b e t i c a s , d ' u m a percepção p r o m p t a e c l a r a p o i s 
c a d a l e t t r a i n d i c a v a u m s o m , p a r a s e a d o p t a r e m o u t r a s denominações q u e i n d i -
c a v a m g r u p o s d e n o t a s . A c o n t e c e , porém, m u i t a s v e z e s q u e n a s e r i e d o s d e -
s e n v o l v i m e n t o s e d a s experiências q u e s o f f r e u m a s c i e n c i a a n t e s d e c h e g a r a 
u m s y s t e m a r a c i o n a l , o s p r i m e i r o s e l e m e n t o s , p o s t o q u e t e n h a m p a r e c i d o d e f e i -
t u o s o s a p r i n c i p i o , r e a p p a r e c e m c o m b i n a d o s c o m a q u e l l e s q u eo e s t u d o p e r s i s -
t e n t e c r e o u , a c a b a n d o m e s m o p o r o c c u p a r e m u m l u g a r i m p o r t a n t e n o c o n j u n c t o 
çeral e d e f i n i t i v o . A s s i m , é q u e n o d e c i m o século v e m o s n o v a m e n t e a s l e t t r a s 
A , B , C , D , E , F , G , i n d i c a r e m r e s p e c t i v a m e n t e a s n o t a s l a , s i , d o , r e , m i , f a , 
s o l . O d o c u m e n t o m a i s a n t i g o o n d e s e e n c o n t r a m e s t a s l e t t r a s , só c o m o f i m 
denomínativo, é u m t r a t a d o d e m u s i c a , a n o n y m o , i n t i t u l a d o " D e h a r m o n i a i n s ' -
t i t u t i o n e " , e q u e E . D a v i d a t t r i b u e a o a b b a d e p r u s s i a n o Réginon, f a l l e c i d o e m 
9 4 5 n a c i d a d e d e T r e v i r e s . O u s o d a s l e t t r a s , c o m o indicação n o m i n a l d a s n o -
t a s f o i g e r a l m e n t e a c c e i t o n a p a r t e O c c i d e n t a l d a E u r o p a . 
(8) A primeira instituição musical do género chorai, foi fundada em Sparta por Terpandro, 
e no século immediatc (6 .° ant. de Christo) o poeta Stesicoro de Metauro desenvolveu a lyrica chorai, 
tendo sidc o primeiro a dar ao hymno chorai a estruictura que depois se tornou normal pelo uso 
da forma composta de tres membros — estrophe, antiestrophe e epodo. 
N o undécimo século, u m b e n e d i c t i n o d e P o m p o z a , G u i d o d ' A r e z z o , ( 9 ) 
c e l e b r e t h e o r i c o m u s i c a l , p r o c u r a n d o u m m e i o d e f a c i l i t a r a o s s e u s a l u m n o s d e 
c a n t o a fixação dos intervallos m u s i c a e s , l e m b r o u - s e d e q u e a m e l o d i a d e u m 
h y m n o então m u i t o p o p u l a r , p o r s e r c o n s i d e r a d o remédio e f f i c a z c o n t r a a s 
doenças d e g a r g a n t a , e q u e s e c a n t a v a e m l o u v o r a S . João, c o n t i n h a o s i n t e r -
v a l l o s n a t u r a e s d a e s c a l a . F a z e n d o então c a n t a r e s s e h y m n o , m a n d a v a a c c e n t u a r 
a s s y l l a b a s o n d e a m e l o d i a s u b i a p o r g r a u c o n j u n c t o ; e c o m a repetição d e t a l 
exercício o b t e v e , p o r e s t e termo de comparação, o r e s u l t a d o q u e t a n t o a m b i c i o -
n a v a . ( 1 0 ) O s a l u m n o s h a b i t u a d o s a e s s e e s t u d o , n u n c a m a i s a b a n d o n a r a m o 
e m p r e g o d e s s a s s y l l a b a s a c c e n t u a d a s , v i s t o q u e e l l a s t r a z i a m f a c i l m e n t e á m e -
m o r i a a entoação d o i n t e r v a l l o q u e d e s e j a s s e m c a n t a r ; e oi b o m r e s u l t a d o d e s t e 
n o v o p r o c e s s o pedagógico, f e z c o m q u e o s contemporâneos d e G u i d o d ' A r e z z o 
l h e s e g u i s s e m o e x e m p l o . A l g u m t e m p o d e p o i s , a denominação a l p h a b e t i c a d e -
s a p p a r e c e u q u a s i t o t a l m e n t e , f i c a n d o e s s a série d e s y l l a b a s , t i r a d a s d o h y m n o 
a S . João, c o m o indicação n o m i n a l d a s n o t a s . 
H Y M N O A S . JOÃO 
(de Warnfried, cognominado Paião Diácono, 7 4 0 - 8 0 1 ) 
Ut q u e a n t l a x i s r ^ s o n a r e f i b r i s . 
M i r a g e s t o r u m / a m u l i t u o r u m , 
Sohe p o l l u t i lahn r e a t u m . 
S a n c t e J o a n n e s . ( 1 1 ) 
(9) D. Germain Morin, dá. na "Revista Benedictina — 1888 — , a nacionalidade francesa a 
Guido d'Arezzo, asseverando, pelas suas investigações, que o benedictino de Pomposa não nasceu 
em Arezzo, na Toscana, mas em St. Maur - des - Fosses, alguns kilometros distante de Paris. Como 
elemento comprobatório da sua asserção, diz que alguns dos seus escriptos são assignados com o 
nome d'e Guido de Sancto Mauro. E ' possível, como diz D . Morin, que o monge de Arezzo tivesse 
nascido em St. Maur - des - Fosses, e iniciasse a sua vida monástica na abbadia dos benedictinos, fun-
dada em 658, tendo apenas a existência de onze séculos. Mas, attendendo a que os biographos de 
Guido lhe dão a nacionalidade italiana e ainda a q%ie alguns dos seus manuscriptos são assignados 
com o nome de Guido de Sanjcto Mauro, por que não admittir que o benedictino tivesse nascido 'em 
Santo Mauro, cidade dos Estados Sardos (em Piemonte) perto de Turim, onde havia também uma 
aíbbadia benedictina? Na falta de documentos mais concludentes, Guido continuará a ser de A r e z z 0 
ou de Sancto Mauro, e portanto de nacionalidade italiana. Guido, fez os seus primeiros 'estudo*; em 
Pomposa, perto de Ferrara, e por dissenções com ">s seus irmãos de habito, retirou-«ie para Arezzo 
onde se recolhleu ao convento benedictino. Mais tarde, o abbade de Pomposa tendo-o encontrado em 
Roma, convidou-o a voltar para o seu antigo convento; porém, Guido não acceitou, e quando fall"ceu 
era prior do convento dos Camaldulos, instituído em princípios de 11.° aeculo, na cidade de Avellano. 
(10) Este systema de fixar a entoação dos intervallos por meio de cantos conhecidos, foi ado-
ptado por Galin — 1760 a 1821 —, no seu "Meloplasto", e é actualmente a bass do "Methodo analyíico 
applicado a musica" de C . A . Cardim. 
(11) Traducção: "Para ique possam os teus servos propalar a largos pulmões o maravilhoso dos 
teus milagres, absolve o crime do lábio impuro oh S. João" (trad. de C. Villalva júnior) . 
Arrigo Boito, compositor e poeta, compoz em 1895, por occasião do jubileu de Guido, uma ode 
saphica calcada na métrica do hymno a S. João, para exaltar a "regra siipreíma da entoação dos 
A s s y l l a b a s i n d i c a d a s c o m u m traço —, e r a m a s q u e o b e n e d i c t i n o m a n d a v a 
a c c e n t u a r ; porém c o m o h o u v e s s e a p e n a s s e i s s y l l a b a s p a r a i n d i c a r s e t e i n t e r v a l -
l o s , p o i s q u e a e s c a l a s e c o m p u n h a d e s e t e n o t a s , c o n v e n c i o n a r a m q u e a s l e t t r a s 
A , B , C , D , E , F , G , i n d i c a s s e m i n v a r i a v e l m e n t e a s n o t a s l a , s i , d o , r e , m i , f a , 
s o l , e q u e a s s y l l a b a s u t r e , m i , f a , s o l , l a , a s únicas u s a d a s n e s s e t e m p o , i n d i -
c a s s e m a p e n a s o s g r a u s d a e s c a l a d e s d e o p r i m e i r o a o s e x t o , e não s o n s d e t e r -
m i n a d o s . P o r e s t e s y s t e m a , a n o t a A , p o d i a s e r i n d i c a d a p e l a s s y l l a b a s l a , m i 
o u r e ; a n o t a B , p e l a s s y l l a b a s m i e f a , e a s s i m s u c c e s s i v a m e n t e . ( 1 2 ) 
DENOMINAÇÃO D A S N O T A S N A ÉPOCA G U I D O N I A N N A 
L A = A , l a , m i , r e . o c c u p a v a o 6.° g r a u ( l a ) , o u o 3.° ( m i ) , o u o 2.° ( r e ) . 
S I = B , f a , m i . o c c u p a v a o 4.° g r a u ( f a ) , o u o 3.° ( m i ) . 
D O = C , s o l , u t , f a . o c c u p a v a o 5.° g r a u ( s o l ) , o u o 3.° ( d o ) , o u o 4.° ( f a ) . 
R E = D , l a , s o l , r e . o c c u p a v a o 6.° g r a u ( l a ) , o u o 5.° ( s o l ) o u o 2.° ( r e ) . 
M I = E , l a , m i . o c c u p a v a o 6.° g r a u ( l a ) , o u o 3.° ( m i ) . 
F A = F , f a , u t . o c c u p a v a o 4.° g r a u ( f a ) , o u o 1.° ( d o ) . 
S O L = G , s o l , r e , u t . o c c u p a v a o 5.° g r a u ( s o l ) , o u *o 2.° ( r e ) , o u o 1.° ( d o ) . 
E s t a s denominações, f o r a m p o u c o a p o u c o s i m p l i f i c a d a s e p o r f i m r e d u z i -
d a s a o s m o n o s y l l a b a s u t , r e , m i , f a , s o l , l a ; e c o m o a n o t a d o sétimo g r a u d a 
e s c a l a d e do não t i v e s s e u m n o m e d e t e r m i n a d o , p r i n c i p i a r a m a i n v e n t a r m o n o s 
s y l l a b o s p a r a i n d i c a r e s s a n o t a . A p p a r e c e r a m então a s s y l l a b a s c i , d i , n i , z a , b i , 
h a , e t c , e t c , q u e não f o r a m g e r a l m e n t e a d m i t t i d a s . B r o s s a r d d i z q u e L e M a i r 
o u L e m a i r , q u e v i ve u n o d e c i m o sétimo século, t e n d o a i d e i a d e j u n t a r a p r i -
m e i r a l e t t r a d e c a d a p a l a v r a d o u l t i m o v e r s o d a e s t r o p h e s a p h i c a " U t q u e a n t 
l a x i s " , o b t e v e o n o m e si p a r a d e s i g n a r a sétima n o t a d a e s c a l a . — 5 a n c t e 
/ o a n n e s . 
A p r i m e i r a n o t a d a e s c a l a , q u e a i n d a h o j e n a França é d e s i g n a d a p e l o 
m o n o s s y l l a b o ut, f o i substituída p o r D o n i , contemporâneo d e L e M a i r , p e l a 
s y l l a b a do, p o r a c o n s i d e r a r m a i s s o n o r a e m a i s favorável á emissão d a v o z . 
T o d o s o s p a i z e s d e s i g n a m a s n o t a s p e l o s m o n o s s y l l a b o s d o o u u t , r e , m i , f a , 
e t c , e x c e p t o o s allemães e i n g l e z e s q u e a s i n d i c a m p e l o s n o m e s d a s s e t e p r i m e i -
r a s l e t t r a s d o a l p h a b e t o . 
sons" dada pêlo benedictino de Pomposa. Na ode de Boiío, abaixo transcripta, cada hemistichio 
yprincipia também pelos nomes das notas, na sua successão natural. 
t/fil di Guido r^gola superna 
Mísuratrici facile dei suoni 
Solenne or tu /aude a te stessa intoni 
.SYllaha eterna. 
•(12) Ver no resumo histórico do cap. I V a theoria das " Mutanças*. 
P l u t a r c h o d i z q u e f o i T e r p a n d r o o p r i m e i r o a e m p r e g a r o i n t e r v a l l o d e 
segunda, t e n d o s i d o p o r t a n t o o p r i m e i r o a d a r á m e l o d i a u m c o n t o r n o m a i s 
c o n f o r m e c o m a exigência d a accentuação poética. A s s i m , p o s t o q u e diatónica, 
a m e l o d i a p e r c o r r i a g r a d a t i v a m e n t e t o d o s o s g r a u s d a e s c a l a , q u e r n a f o r m a 
a s c e n d e n t e c o m o ' d e s c e n d e n t e . N a s m e l o d i a s d o s e g u n d o século d a éra a c t u a l , 
já s e o b s e r v a m o s i n t e r v a l l o s d e t e r c e i r a , q u a r t a e q u i n t a , p r e v a l e c e n d o s e m p r e 
a successão diatónica. M a s , d e s d e P y t h a g o r a s , o p r i m e i r o a d e t e r m i n a r o s i n -
t e r v a l l o s p o r m e i o d o m o n o c o r d i o , i n s t r u m e n t o a t t r i b u i d o a o s e g y p c i o s , c o m e -
çaram o s cálculos e a s especulações geométricas s o b r e a divisão d a e s c a l a e m 
pequeníssimos i n t e r v a l l o s , o s q u a e s , n a opinião d e a l g u n s h i s t o r i a d o r e s a n t i g o s , 
e r a m i n a c c e s s i v e i s a o o u v i d o ; e a s s i m , e s t a b e l e c e r a m u m a t h e o r i a , c o m p o u c a 
applicação n a p r a t i c a , p o i s s e g u n d o o s d o c u m e n t a d o r e s a n t i g o s , o s i n t e r v a l l o s 
m a i s e m p r e g a d o s f o r a m o s i n t e r v a l l o s n a t u r a e s q u e a i n d a h o j e se u s a m . 
O nome diapasão f o i e m p r e g a d o p a r a i n d i c a r o i n t e r v a l l o d e o i t a v a o u m e s -
m o a e s c a l a . 
A ' escala, d a v a m o n o m e d e h a r m o n i a o u l y r a p y t h a g o r i c a o u t e r p a n d r i a n n a , 
s e g u n d o e x e c u t a v a m a e s c a l a o c t o c o r d a l d e P y t h a g o r a s o u h e p t a c o r d a l d e T e r -
p a n d r o . 
* 
E ' p e l o s d o c u m e n t o s a n t i g o s , — medalhões, inseripções, e s t a t u a s , e t c , — 
e p e l a s r e f e r e n c i a s q u e s e e n c o n t r a m n a s o b r a s d o s g r a n d e s p h i l o s o p h o s d a 
a n t i g u i d a d e , q u e * s e s a b e d a existência d a m u s i c a d e s d e o s t e m p o s m a i s longín-
q u o s . 
O d o c u m e n t o m a i s a n t i g o q u e s e c o n h e c e , é u m b a i x o - r e l e v o c h a l d e u r e -
p r e s e n t a n d o u m h a r p i s t a , e n c o n t r a d o p o r S a r z e c n o palácio d e T e l l o n a m a r -
g e m e s q u e r d a d o c a n a l q u e l i g a o r i b T i g r e e o E u p h r a t e s O 1 8 ) . P o t t i e r s , c e l e -
b r e a r c h e o l o g o , suppõe, c o m d a d o s s e g u r o s , q u e e s s e b a i x o - r e l e v o é d o 30.° 
século a n t e s d e C h r i s t o . D e 1 8 7 7 a 1 8 8 7 , f o i e n c o n t r a d a e m D e l o s u m a e s t a t u a 
m o n u m e n t a l d e A p o l l o q u e t i n h a n a mão d i r e i t a u m a r c o , e n a e s q u e r d a a s G r a -
ças, c a d a u m a d a s q u a e s s e g u r a v a u m i n s t r u m e n t o : u m a , t i n h a u m a l y r a : a d o 
m e i o , u m a u l o s : e a t e r c e i r a u m a f l a u t a d e Pã. E s t a e s c u l t u r a é d o a n n o 5 8 0 
a n t e s d e C h r i s t o . B r u c e , d e s c o b r i u n o t u m u l o d e Ramsés I I I , — 1 7 2 9 , a n t . d e 
C h r . — a f i g u r a d e u m a h a r p a d e n o v e c o r d a s : R o s e l l i n e , e n c o n t r o u e m 1 -828 
u m a c o l u m n a d o t e m p l o d e D a k k e b , n a N i b i a , f u n d a d a p e l o s P t o l o m e u s e c o n -
t i n u a d a p e l o s i m p e r a d o r e s r o m a n o s , u m a f i g u r a h o r r e n d a d e u m h o m e m t o -
ei 3) E . de Sarzec, vice-oonsul francez, emprehendeu, de 1876 a 1881, e com a maior reserva, 
escavações num monte de ruinas, elhamado, pelos árabes, Tello, ou Tell - Loh como escrevia o assy-
riologo Rassam quando em 1881 fez uma curta visita a esse lugar. Tello, que não vem mencionado 
em nenhum mappa, fica a um quarto de légua da margem oriental do Shatt -\el - Hai , antigo canal 
de communicação entre o Tigre e o Euphrates. 
— 1 4 — 
A d m i t t i n d o , p o r e x e m p l o , q u e u m a s e m i - b r e v e d e t e r m i n a u m a duração d V 
6 4 s e g u n d o s , a m i n i m a corresponderá á m e t a d e d e s s e t e m p o , i s t o é, a 3 2 s e g u n -
d o s : a s e m i n i m a , a 1 6 s e g u n d o s ; a colchêa, a 8 : a semi-colchêa, a 4 : a f u z a , a 
2 : a s e m i - f u z a , a 1 : d o n d e se c o n c l u e q u e são p r e c i s a s 6 4 s e m i - f u z a s , o u 3 2 f u 
z a s , o u 1 6 semi-colchêas, o u 8 colchêas, o u 4 s e m i n i m a s , o u 2 m i n i m a s p a r a 
g a s t a r e m o s 6 4 s e g u n d o s d e t e r m i n a d o s p e l a s e m i - b r e v e . 
P o r consequência, o t e m p o d i s p e n d i d o n a duração d o s s o n s , d e t e r m i n a d o 
p e l a s f i g u r a s , r e p r e s e n t a - s e p e l a s fracções s e g u i n t e s : 
í 
m i n i m a 
í 
16 
semi-colchêa 
1 
32 
íuza 
1 
64 
s e m i - f u z a 
í 
128 
q u a r t a d e f u i a 
1 , 2 , 4 , 8 , 
s e m i - b r e v e m i n i m a s e m i n i m a colchêa 
C a n c e l l a n d o o s n u m e r a d o r e s d e s t a s fracções, f i c a m o s números: 
1 6 , 3 2 , 6 4 e 1 2 8 , q u e r e p r e s e n t a m a s quantidades proporcionaes d e s d e a semi-
breve á quarta de fuza. 
O Q U A D R O S E G U I N T E , E ' O O O R O L L A R I O D E S T A T H E O R I A . 
A 4 7\ 16 A A 
u 7 r r r 
A 7\ 3 1 A 
r r r r 
A A A 
r r r r r r r r 
A T V 7 V 
r f f 
A 4 A a A AiéA A A h*A A A A A A A A * A A A A A A A^ A A A A A A A A A 
r r r r r r r r r r r r r r r f r r r r f f f r r f f f f f f r r r r r r r r r r r r r r r r r r r r r r r r r r r r r r r r r 
A s l i n h a s h o r i z o n t a e s q u e l i g a m a s f i g u r a s , c h a m a m - s e linhas de união. 
A n e c e s s i d a d e d e r e s p i r a r m o s e a i n d a a d e e x p o r c l a r a m e n t e a s n o s s a s 
i d e i a s , o b r i g a - n o s a i n t e r r o m p e r u m a s t a n t a s v e z e s p o r espaços i n d e t e r m i n a d o s , 
a conversação q u e d e m o m e n t o n o s o c e u p a . N a m u s i c a , dão-se e s s a s m e s m a s 
interrupções; o b e d e c e m , porém, a u m a d e t e r m i n a d a prolongação q u e é i n d i c a d a 
p o r u n s s i g n a e s c h a m a d o s pausas. A s pausas são s e t e , e dá-se a c a d a u m a o 
n o m e d e u m a f i g u r a a q u a l l h e d e t e rm i n a a duração; l o g o , a p a u s a d e u m a 
s e m i - b r e v e , d u m a m i n i m a , d ' u m a s e m i n i m a , e t c , e t c , p e l a m e s m a o r d e m , i n d i -
c a u m s i l e n c i o c o m a duração d e u m a s e m i - b r e v e , d ' u m a m S n i m a , d u m a s e m i n i m a , 
e t c , e t c 
A s figuras q u e r e p r e s e n t a m o s o m , — n o t a s — c h a m a m - s e valores positi-
vos; e a s q u e d e t e r m i n a m o s i l e n c i o — p a u s a s —, c h a m a m - s e valores negativos. 
A s e m i o g r a p h i a s e g u i n t e , a p r e s e n t a a s p a u s a s c o m a duração i n d i c a d a p e l a s , 
f i g u r a s c o r r e s p o n d e n t e s . 
P a u s a s _ - x 7 t f f # 
F i g u r a s c o r r e s p o n d e n t e s ^ p f Ç £ § ^ ^ 
A m u s i c a e s c r e v e - s e n u m p a p e l e s p e c i a l , r i s c a d o e m g r u p o s d e c i n c o l i n h a s -
a c a d a u m d o s q u a e s s e dá o n o m e d e pentagramma; á reunião d e p e n t a g r a m -
m a s , dá-se o n o m e d e pauta. A s l i n h a s q u e f o r m a m a s p e n t a g r a m m a s , c h a m a m -
s e naturaes o u ordinárias. 
S o b r e o u s o b c a d a p e n t a g r a m m a , pôde e s c r e v e r - s e u m n u m e r o q u a l q u e r d e . 
p e q u e n a s l i n h a s s u p p l e m e n t a r e s , ás q u a e s s e dá o n o m e d e falsas p o r não f a -
z e r e m p a r t e i n t e g r a n t e d a p a u t a ; e s t a s l i n h a s s e r v e m p a r a e s c r e v e r a s n o t a s , 
q u e p e l a s u a entoação, u l t r a p a s s a m o s l i m i t e s d a d o s á p e n t a g r a m m a . 
P a r a se c o n h e c e r a posição m a i s o u m e n o s e l e v a d a d a s n o t a s , é p r e c i s o 
s a b e r q u e a s l i n h a s d e c a d a p e n t a g r a m m a e a s s u p p l e m e n t a r e s s u p e r i o r e s s e c o n -
t a m d e b a i x o p a r a c i m a ; a s s u p p l e m e n t a r e s i n f e r i o r e s , d e c i m a p a r a b a i x o ; e 
q u e o s espaços q u e s e e n c o n t r a m e n t r e a s l i n h a s , s e g u e m a o r d e m numérica d a s 
l i n h a s c o r r e s p o n d e n t e s . A s linhas dão o s e u n o m e a o s espaços q u e a s s e p a r a m . 
T o d a s a s l i n h a s q u e f o r m a m â p e n t a g r a m m a , são p a r a l l e l a s , h o r i z o n t a e s , e 
i g u a l m e n t e d i s t a n c i a d a s e n t r e s i . 
E x . l.° 
P e n t a ^ 
5* v y 
espaços n a t u r a e s y 
l i n h a s s u p p l . s u p . \ 
i 1 
l i n h a s s u p p l . i n f . 
r r a m m a 
' Ar* 
- l i n h a s n a t u r a e s 
— 4 espaços s u p p l . s u p . 
• — e s p a ç o s s u p p l . i n f . 
P a r a s e c o n h e c e r e m a s n o t a s e m t o d a s a s c l a v e s , é necessário t e r m o s u m 
p o n t o d e p a r t i d a , e e s s e p o n t o d e p a r t i d a é a nota primordial da clave. O r a , 
p a r t i n d o p o i s d a n o t a p r i m o r d i a l p o r g r a u s c o n j u n c t o s e d i z e n d o o n o m e d a s 
n o t a s s e g u i d a m e n t e até á n o t a e s c r i p t a , c o n h e c e m o s o n o m e d e s s a e d e t o d a s 
a s n o t a s ; e n t r e t a n t o p a r a m a i o r f a c i l i d a d e , é c o n v e n i e n t e d e c o r a r o q u a d r o s e -
g u i n t e o n d e a s n o t a s s e g u e m a o r d e m a s c e n d e n t e e d e s c e n d e n t e d a s l i n h a s p a r -
t i n d o d a s t r e s n o t a s p r i m o r d i a e s d a s c l a v e s . 
P a r t i n d o d a n o t a fa 
P a r t i n d o d a n o t a do 
P a r t i n d o d a n o t a sol 
j s u b i n d o fa — l a — d o — m i — s o l — s i . 
\ d e s c e n d o fa — r e — s i — s o l — m i — d o 
J s u b i n d o do — m i — s o l — s i — r e — f a 
\ d e s c e n d o do — l a — f a — r e — s i — s o l 
{ s u b i n d o sol — s i — r e — f a — l a — d o d e s c e n d o sol — m i — d o — l a — f a — r e 
A g o r a q u e está e x p l i c a d a a m a n e i r a d e s e c o n h e c e r e m a s n o t a s , v a m o s 
a p r e s e n t a r a l g u n s e x e m p l o s a u x i l i a n d o a s u a comprehensão c o m o raciocínio 
s e g u i n t e : 
E x . 5.° 
Raciocinio: A p r i m e i r a n o t a q u e d e s e j o c o n h e c e r , está e s c r i p t a n a p r i m e i -
r a , l i n h a d a c l a v e d e s o l e s c r i p t a n a s e g u n d a l i n h a : p r e c i s o p a r t i r d a nota pri-
mordial da clave de sol, q u e é sol, e d e s c e n d o , d i l z e r : s e g u n d a l i n h a , sol: p r i -
m e i r a l i n h a , mi. A n o t a q u e d e s e j o c o n h e c e r , c h a m a - s e mi. 
P a r a s a b e r o n o m e d a n o t a i m m e d i a t a n o m e s m o e x e m p l o , n.° 1 —, d e v o 
r e p a r a r q u e e s s a nota está n o t e r c e i r o espaço, e p a r t i n d o d a n o t a sol, s u b i n d o , 
d e v o d i z e r : s e g u n d a l i n h a , sol: t e r c e i r a l i n h a , si: a n o t a s e g u i n t e q u e está e n t r e 
a t e r c e i r a e a q u a r t a l i n h a , o n d e têm l u g a r a s n o t a s si e re, d e v e s e r a n o t a doy. 
p o i s q u e é a i n t e r m e d i a r i a d e s s a s d u a s n o t a s . 
R a c i o c i n a n d o d e s t a m a n e i r a , é fácil c o n h e c e r o n o m e d e t o d a s a s n o t a s e m 
t o d a s a s c l a v e s . 
C a d a u m a d a s c l a v e s t e m u m diapazão p a r t i c u l a r . 
E x . 6.° 
A n a l y s a n d o e s t e ; , e x e m p l o , vê-se: 
1.° q u e d i s p o n d o a s n o t a s s o b r e a s l i n h a s , e m o r d e m a s c e n d e n t e o u d e s -
c e n d e n t e , s e obtém p o r m e i o d a substituição d a s c l a v e s , a relação c o r r e s p o n -
d e n t e d a s n o t a s e m t o d a s a s c l a v e s . 
E x . 7.° 
( s e m p r e a m e s m a n o t a ) 
2.° q u e s e e s c r e v e r m o s u m a f i g u r a e m q u a l q u e r d a s l i n h a s o u espaços 
d a p e n t a g r a m m a , e s s a f i g u r a , p o r m e i o d a substituição d a s c l a v e s , p o d e r e p r e -
s e n t a r q u a l q u e r d a s n o t a s d a e s c a l a . 
E x . 8.° 
3.° q u e d e s d e a n o t a m i a i s g r a v e d a c l a v e d e f a n a q u a r t a l i n h a á m a i s 
e l e v a d a d a c l a v e d e s o l n a p r i m e i r a l i n h a , e x i s t e m v i n t e e c i n c o n o t a s e s c r i p t a s 
a p e n a s s o b r e c i n c o l i n h a s e q u a t r o espaços, o q u e não p o d i a ( t e r l u g a r ' s e m o 
a u x i l i o d a s c l a v e s ; p a r a e s c r e v e r e s s e n u m e r o d e n o t a s e r a p r e c i s o u m a p a u t a 
d e d o z e l i n h a s , o q u e d e c e r t o d i f f i c u l t a r i a m u i t o a l e i t u r a m u s i c a l : 
E x . 9.° 
7 ò r j 6 ? rj ^— 
£ rj & ^ 
et 
E n t r e t a n t o s e e s s a extensão f o r d i v i d i d a n o s g r u p o s d e o n z e n o t a s p e r -
t e n c e n t e s a c a d a u m a d a s c l a v e s , ficará s u f f i c i e n t e m e n t e d e m o n s t r a d a a 
g r a n d e v a n t a g e m d a s c l a v e s , p e r m i t t i n d o e s c r e v e r e m c i n c o l i n h a s , m e t a d e d o s 
sons naturaes e m p r e g a d o s n a m u s i c a : 
E x . 10.° 
I 
4.° q u e a elevação n a entoação d a s n o t a s , está n a razão i n v e r s a d a posição 
d a s c l a v e s : 
E x . l i .» 
a o a 
L do 
m 
5.° q u e a clave de do, é a p r i n c i p a l p o r o c c u p a r o c e n t r o d o s y s t e m a d a s 
c l a v e s ; p o r p r e h e n c h e r a l a c u n a e x i s t e n t e e n t r e a q u i n t a l i n h a d a clave de fa 
e a p r i m e i r a d a clave de sol, s e r v i n d o p o r t a n t o d e ligação a e s s a s d u a s c l a v e s ; 
e p o r o s e u dáapazão s e r f o r m a d o c o m a s n o t a s d o s diapazões d a s o u t r a s d u a s 
c l a v e s , o q u e p r o v a q u e s e a p a u t a f o s s e d e d o z e l i n h a s , b a s t a r i a a clave